Introdução

Antes de comentar em relação ao soaking é necessário abordar alguns outros

parâmetros importantes da produção das baterias chumbo-ácido. Primeiramente
deve-se comentar em relação aos materiais precursores da pasta, sendo que
seguindo a ordem de produção deve-se primeiro citar o PbO.

Produção do PbO

A produção do PbO é feita através da reação entre lingotes de chumbo com o

ar em um moinho de bolas ou reagindo em um forno chumbo fundido com o ar. O pó
resultante desses processos é formado de partículas de PbO e de chumbo que não
reagiu.

Produção da pasta

Após isso, é produzida a pasta, através da adição de água e Ácido Sulfúrico

ao óxido de chumbo, inicialmente, a solução hidrata as partículas de PbO e essas
partículas têm as suas superfícies parcialmente cobertas com água adsorvida,
chamada de “água de adesão”. Nas áreas de contato entre as partículas, a “água de
cunha” é acumulada e essa forma anéis de água nos agregados das partículas
parcialmente cobertas com água nas suas superfícies. Esses anéis exercem forças
de coesão que mantém as partículas unidas, e o poro presente no centro da
partícula irá gerar a porosidade da placa pós cura.

Cura

A cura seria um processo de controle de umidade e temperatura que contém

como objetivo a oxidação do chumbo livre a uma fração inferior da 2%, secagem e
diminuição do volume das placas, adesão da massa e grade através da corrosão e
formação dos cristais de sulfato básico. Na cura também ocorre a definição da
porosidade do material precursor, aspecto muito importante na taxa de absorção do
eletrolíto durante o soaking. O mergulho seria o processo no qual as placas pós cura
são imersas em uma solução de Ácido Sulfúrico para sulfatação dos componentes
das placas curadas.

Soaking

Depois do processo de cura das placas, essas são mergulhadas em solução

de Ácido Sulfúrico, antes que ocorra a formação. Esse processo é conhecido como
soaking (mergulho). O ácido sulfúrico reage com a pasta curada resultando em
reações de Sulfatação e hidratação, afetando diretamente formação.

O mergulho das baterias em Ácido pode ser feito pelos processos de tanque e
contêiner. No tanque de formação, as placas positivas e negativas são colocadas,
alternadamente, em um tanque de formação, contendo uma solução de H2SO4. As
placas de polaridades iguais são conectadas umas às outras e são deixadas em
soaking nessa solução de H2SO4 de 1h até 2h e, então, uma corrente de formação
(If) é aplicada às placas, por um período de 18h até 72h, dependendo do tipo de
aplicabilidade da bateria em formação.

No Contêiner de Formação, as placas curadas, tanto positivas quanto

negativas, espaçadas entre si por separadores microporosos, são montadas em
grupos de placas, os quais são colocados em contêineres, dentro da bateria. Esses
contêineres são preenchidos com eletrólito e depois de um período de 1h até 2h em
soaking, a bateria é conectada a uma fonte externa, que libera uma corrente de
formação às placas. A escolha do processo a ser usado depende do custo e da
performance da bateria, no caso de baterias de alta performance e alto tempo de
descarga o processo mais indicado seria o Tanque de Formação.

3BS

A Reação entre Ácido Sulfúrico e a pasta curada ocorre com maior

intensidade na superfície da placa e com o tempo de soaking, essa camada de
reação avança para dentro do volume da pasta curada, diminuindo o volume e
aumentando a região sulfatada.
 Durante o soaking o resultado final é influenciado pelo tempo de reação e
concentração do ácido, em geral concentrações menores geram placas mais ricas
em 1BS e 4BS e com menos PbSO4, porém, em concentrações mais altas e maiores
tempos temos uma maior formação de sulfato de chumbo. As reações envolvidas
nessa etapa estão apresentadas abaixo.

4 PbO + SO42- + 2H+  3PbO.PbSO4.H2O

3PbO.PbSO4.H2O + SO42- + 2H+  2(PbO.PbSO4) + 2H2O

PbO.PbSO4 + SO42- + 2H+  2PbSO4 + 2H2O

4PbO.PbSO4 + 4SO42- + 8H+  5PbSO4 + 4H2O

Durante o tempo de soaking, a área superficial das partículas e o raio médio

dos macroporos diminui, pois, o efeito da sulfatação nas placas curadas é a
diminuição do volume total de poros nas placas, efeito decorrente do maior volume
molar do PbSO4 em relação aos compostos presentes na pasta antes do soaking
(3BS, 4BS, PbO). Dessa forma, com a redução dos macroporos, temos uma
superfície de contato menor em relação aos componentes ativos e o Ácido Sulfúrico,
gerando assim zonas de sulfatação que apresentam cada vez menos PbSO 4 no
interior das placas e mais materiais percursores e produtos de reações paralelas
(hidróxidos de chumbo, bastante volumosos).

1. 2.

3. 4.
 Deve ser esclarecido que para formação dos cristais 4BS as condições ideais
são soluções com concentrações mais baixas (para a formação do alfa-PbO2) e com
maiores tempos reacionais.

4BS

Os cristais 4BS são grandes e volumosos, com estruturas bem definidas,

sendo que a formação do cristal se dá pelo mecanismo de
dissolução/recristalização. Quando o cristal 4BS entra em contato com a solução de
H2SO4, formando um filme de partículas de PbSO4 em sua superfície, após isso
"moléculas" de PbSO4 deste filme se dissolvem e precipitam nós nucleos PbSO4 já
formados nesta superfície. Assim, os núcleos crescem com o tempo de imersão,
formando grandes cristais com paredes e bordas bem pronunciadas, diminuindo o
espaço entre os cristais.

Deve ser esclarecido que para formação dos cristais 4BS as condições ideais
são soluções com concentrações mais baixas e tempos reacionais mais longos,
levando assim a formação de alfa-PbO2.

Desempenho da Bateria

Portanto a descarga de uma bateria utilizando como precursor o 4BS tem seu
desempenho afetado principalmente pelo tempo de soaking e no caso do 3 BS, a
concentração de H2SO4 tem maior influência sobre a capacidade da bateria. O
Gráfico abaixo apresenta o número de ciclos suportados por uma bateria e sua
relação com o tempo de soaking.
 A partir dessa análise é possível notar que no caso de baterias tracionárias e
estacionárias a sua alta performance exige um maior investimento de tempo em
soaking para garantir a formação de mais material ativo.