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Belém
2010
O Corpo Escrito e Visto:
reflexões a partir de livros didáticos das séries iniciais
2
Banca Examinadora:
______________________________________________- Orientadora
Profa. Dra. Elizabeth Teixeira
Doutora em Ciências Sócio Ambientais – NAEA (UFPA-PA)
Universidade do Estado do Pará - UEPA
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
A Deus, Nosso criador que abençoa e protege meu corpo e espírito a cada dia.
A Nossa Senhora de Nazaré, como devoto, entrego meu corpo às bênçãos da Mãe
de Jesus, que me guarde e renove minhas energias da alma.
Salis Teixeira de Souza (in memoriam), atleta e companheiro, por ter me ensinado
os valores para um corpo saudável e um cuidado inigualável. Será sempre lembrado
como o “Corpo” da alegria e o entusiasmo pela vida. Obrigado!
Doraceli Valente de Souza (Zuca), atleta, amiga e protetora, por ter gerado em seu
ventre meu corpo, cobrindo de afeto e cuidado necessários até hoje para uma vida
de qualidade e saudável. Serás sempre referência em minha vida, de luta, verdade e
amor. Corpo-Mãe-Mulher, obrigado por sua compreensão em meus momentos de
silêncio e recolhimento para meus estudos. És a combinação perfeita de “corpo e
alma” que sempre embala meu coração!
Aos meus familiares por serem “corpos” presentes e necessários em minha vida, em
especial os “Corpos-irmãos” Anderson e Dagmar (Dadá), que o destino nos
aproximou, tornando-nos confidentes de segredos e vitórias, e a Tia Dinéa (Leila)
um “corpo-coração” que não mede esforços em ajudar e cuidar de todos.
Aos familiares que partiram (Avós, Tios e Irmão), que deixaram aqui a marca de um
“Corpo-saudoso”, alegre e batalhadores, para sempre serão lembrados.
Ao “Corpo docente” do PPGED- UEPA, por acreditar que a educação se faz todos
os dias, pesquisando, tateando e olhando em novos “prismas” a sociedade.
Aos “Corpos-amigos” (que são muitos), saibam todos que gratidão maior não há em
tê-los como amigos verdadeiros. Obrigado!
Ao “Corpo-digital”, Emanuel Gonçalves, que mais uma vez empresta seu dom
artístico-digital há um trabalho meu. Obrigado, pela atenção e colaboração na arte
desta pesquisa.
EPIGRAFE
RESUMO
ABSTRACT
SOUZA, Marcelo Valente .The body of writing and seen: reflections from textbooks of
the initial series. 2010. 130 f. Thesis (MA in Education) - University of Pará, Belém,
2010.
In this soil step the bodies of the Amazonian peoples who work with cassava flour,
chestnut, in the seringal and collectors of açaí, are “wet” bodies of enchantments of
the forest, remainders of the brave warriors who lived here well before the
colonization. The bodies that were prepared for the war, the plantation, hunt, fishing
and to reproduce new knowledge heirs of the forest, descendants of the
Tupinambás villages, Munduruku, Mura, Sataré Maué, Marajoaras and Tapajônicos.
Here the body is distinguished while one of representation objects, with which the
students if find in the school; e in turn the exchanges that through the “school culture”
are marked, in our opinion, for what it is propagated on the body in textbooks. It is
given credit that to teach health in the school it has been a very great challenge, until
why still we are taken root to a sanitarian resume and hygienist in the schools,
prioritizing the practical ones of the personal hygiene, the organic and biological
functioning of the body as was presented in century XIX in the institutions of
education and pertaining to school groups. It was objectified to analyze the
perspectives on the body propagated in textbooks of the used initial series in schools
of Belém-Pará. It was verified if the texts, figures, pictures, exercises and contained
topics of content in textbooks are propagating the contents on the body in a
perspective disciplinarian or emancipatory, oppressor or liberator. It concludes that it
is important to select textbooks that present contents on the body, demanded in the
resume/series of educating in accordance with the National Curricular Parameters,
but it has to choose books that also present the body with its multiple possibilities as
well as they give emphasis to the alive being in a dynamic perspective, that have a
regional place and space with peculiar and diversified characteristics. It must to
consider itself that the body is communicated and developed with the language, the
art, the medicine and cultural conditions.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1.1 A cultura, os corpos e os saberes se encontram na escola ................................ 11
1.2 Questões e objetivos do estudo .......................................................................... 19
2 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................ 20
2.1 Abordagem e tipo de estudo ............................................................................... 21
2.2 Fontes documentais ............................................................................................ 22
2.3 Passos para a produção dos dados .................................................................... 25
3 CURRÍCULO E LIVROS DIDÁTICOS: DO CONTEXTO TEÓRICO DE
ONDE REFLETIMOS ................................................................................................ 29
3.1 Currículos e saberes escolares ........................................................................... 30
3.2 Dos parâmetros curriculares nacionais (PCN) e temas transversais .................. 35
3.2.1 Os PCN na prática escolar ............................................................................... 35
3.2.2 Os temas transversais ..................................................................................... 40
3.3 Dos Livros Didáticos como artefatos curriculares................................................ 44
3.3.1 Os Livros Didáticos no Brasil............................................................................ 51
4 EDUCAÇÃO E SAÚDE NA ESCOLA E CORPO: DOS CONCEITOS E
SOBRE OS QUAIS DISCUTIMOS ............................................................................ 56
4.1 Arqueologia da educação em saúde ................................................................... 57
4.2 A Prática da educação em saúde nas Escolas ................................................... 59
4.3 Corpo: escrito e visto ao longo do tempo ............................................................ 62
5 CORPO: TEMAS E ENFOQUES ADOTADOS NOS LIVROS DIDÁTICOS
DAS SÉRIES INICIAIS ............................................................................................. 77
5.1 As formas de apresentação do conteúdo corpo nos capítulos
/unidades/lições......................................................................................................... 78
5.2 Os tópicos/temas do conteúdo corpo nos capítulos/unidades/lições. ................. 99
5.3 Sobre a contextualização do conteúdo corpo nos capítulos/unidades/lições ......... 109
1
Programa de Extensão Universitária – UEPA, desenvolvido semanalmente com mulheres e crianças
na Ilha de Caratateua – PA, pautado na Educação Popular em Saúde.
2
Grupo de Pesquisa vinculado ao Programa de Pós-graduação em Educação– UEPA.
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Assim, o autor nos apresenta a idéia de fazer uma educação "para a vida",
para conhecermos nossos valores e definições sociais, enfim, nossa cultura.
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sociais, onde nascem, vivem e morrem, bem como ampliamos nossas vivências em
temas e conteúdos relacionados à saúde-doença e o corpo. Apreendemos que
inúmeros condicionantes refletem na qualidade vida e de um corpo saudável, como
o biológico, o meio físico, o meio socioeconômico e cultural, que envolve questões
de gênero, raça, alimentação, relações interpessoais, condições de habitação,
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partir de alguns critérios: coleções lançadas entre os anos de 1998 a 2008, isto é, na
década do Plano Nacional de Educação- PNE, em consonância com os Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCN; coleções adotadas em escolas particulares e públicas
de Belém e autorizadas pelo Ministério da Educação – MEC, por meio do Plano
Nacional do Livro Didático - PNLD. Atendendo aos critérios, selecionamos 2
coleções: uma coleção de caráter “disciplinar”, devido ser organizada por disciplinas,
no caso selecionamos os livros da disciplina Ciências (apenas o livro do 1º Ano é
integrado), sendo composta por cinco livros - a) Coleção Projeto prosa, Maria Rosa
Cavernalle, Editora Saraiva, 2008.
O primeiro passo para a constituição do corpus inicial foi uma análise global
de cada um dos livros das duas coleções selecionadas por meio de um instrumento
elaborado para esse fim (Apêndice A).
Aplicamos o instrumento a cada um dos livros e identificamos capítulos
relacionados à educação em saúde-doença das duas coleções, o que apresentamos
no Quadro 1. Os livros da Coleção Disciplinar – LDC (Livro Didático de Ciências)
foram codificados como LDC1, LDC2, LDC3 e LDC4. Nesta coleção, o primeiro
número, voltado ao 1º ano, por ter características do livro integrado, foi codificado
como LI1. Os livros da Coleção Integrada – LI (Livro Integrado) foram codificados
como LI2, LI3, LI4, LI5 e LI6, totalizando 10 exemplares.
QUADRO 1
Unidade / Capítulos / Lições de educação em saúde-doença
CÓDIGO Nº Títulos Número de Páginas
LDC1 01 - Por que ficamos doentes 04
02 - Higiene é saúde 07
03 - Por que precisamos comer? 08
LDC2 04 - Dieta saudável 10
05 - Os movimentos: ossos e músculos 06
06 - Os sentidos humanos 10
07 - Os alimentos 08
LDC3 08 - O sistema respiratório 14
09 - O sistema circulatório 08
10 - O sistema urinário 12
11 - Os sentidos 09
12 - O sistema nervoso 15
LDC4 13 - A adolescência e suas mudanças 08
14 - A gestação 14
15 - Como o corpo humano está organizado 08
16 - Processos vitais do corpo humano 13
3
Temos atuado desde 2004 em Cursos de atualização e aperfeiçoamento de professores e gestores de escolas
públicas e privadas, o que nos viabilizou tal levantamento das coleções que são utilizadas nas escolas de Belém.
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QUADRO 2
9 Unidades/Capítulos/Lições com títulos sobre o conteúdo corpo e higiene
CÓDIGO Nº Títulos Número de Páginas
LDC1 02 - Higiene é saúde 07
15 - Como o corpo humano está 08
LDC4 organizado
16 - Processos vitais do corpo 13
humano
LI1 18 -Cuidando da saúde do corpo 08
30 - O corpo humano 06
LI4 32 - A higiene e outros hábitos 05
saudáveis
Desta forma devemos entender que as teorias são subjacentes aos conceitos
estudados, pesquisados e redefinidos em tempos e espaços, contribuindo para
novas reflexões e análises no contexto sócio-educativo, e em nossa prática escolar,
bem como, repensar nossas possibilidades de avanços nas pesquisas e
compreensão dos currículos escolares. O debate não se esgota aqui, o currículo da
escola brasileira incorporou muitas contribuições de teóricos e fatos históricos para
sua organização, a destacar as Tendências Pedagógicas, os Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN, as Diretrizes Curriculares Nacionais, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96) e o Plano Nacional de
Educação – PNE. Por isso, para compreendermos melhor as teorias do currículo,
Silva (2002, p. 17) nos apresenta um quadro com as categorias das teorias
curriculares anunciadas,
QUADRO 3
Teorias do Currículo
É claro que a proposição dos PCN pressupõe que não valeria a pena uma
atuação corretiva e reorientadora das várias tentativas estaduais e municipais que há
anos se esforçam para consolidar orientações pedagógicas de seus respectivos
sistemas. A opção foi a de substituí-las por uma referência curricular para todo o país.
O texto introdutório dos PCN (BRASIL, 1997a) reconhece o caráter redutivista
de suas descrições das tendências prevalecentes nas orientações das práticas
pedagógicas brasileiras, mas esse reconhecimento é meramente formal, pois o que se
propõe é uma substituição radical do que existe por uma nova ordenação curricular.
Nessas condições, com a adoção dos PCN, percebemos o risco de que
novamente se faça uma reforma de uma realidade educacional da qual temos
apenas uma visão em grande parte impressionista. É claro que, muitas vezes, uma
reforma de aspectos da realidade educacional pode se justificar a partir de decisões
políticas, mesmo na ausência de investigações empíricas extensas e exaustivas.
Mas esse não é o caso dos PCN, nos quais são preconizadas alterações das
próprias práticas escolares em todas as suas dimensões (objetivos, métodos,
recursos e avaliação).
Os autores do texto dos PCN (BRASIL, 1997a) assumiram um claro
compromisso com a concepção construtivista de aprendizagem e ensino, mas o
caráter sintético da exposição dificulta, algumas vezes, a percepção de importantes
implicações desse comprometimento.
Embora o texto dos PCN refira-se a uma integração com a experiência
educacional já realizada pelos Estados e Municípios e à possibilidade de adaptações
pelas Secretarias de Educação, é claro que a própria iniciativa ministerial implica a
expectativa de uma profunda alteração da situação atual, com a adoção de novas
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incentivou a prensa de tipos móveis; essa invenção foi uma verdadeira revolução
(BELO, 2008). Pelo fato de ser mais barato, muitas pessoas tiveram acesso ao livro
impresso em todas as partes do mundo. O livro popularizado modificou a educação,
democratizou a informação e o conhecimento; o livro abalou o status quo da Idade
Média, devido à acessibilidade do povo a algumas leituras, possibilitando
conhecimento e indagações políticas e sociais.
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Fig. 31 – Primeiros
impressos nas
máquinas de prensa
inventadas por
Gutenberg. Google
Imagens
dos livros, apesar de ser um material caríssimo (devido a sua matéria-prima: peles
de carneiro); resultava em um livro maleável e com tamanho adequado para guardar
em estantes (BURKE, 1992).
Na Idade Média poucos sabiam ler e escrever, já os monges liam e escreviam
e também copiavam os livros um a um, letra por letra. Aliás, os monges tinham que
ter a mesma caligrafia, para que um pedaço de livro não ficasse diferente do outro;
esses livros recebiam ilustrações muito ricas e coloridas. Levavam, por isso, muito
tempo para serem feitos (LE GOFF, 2006). Quando Gutemberg inventou a imprensa
de tipos móveis, por volta de 1440, já existiam outros processos de impressão. No
Japão há registros de que no ano de 700 houve uma grande impressão de uma
oração budista para ser distribuída a população. Os chineses conheciam o papel
desde o primeiro século da era cristã; mil anos antes de Gutemberg já se faziam na
China livros impressos em papel.
Mas foi a invenção de Gutemberg que realmente abriu o caminho para a
popularização do livro, para o desenvolvimento da imprensa e para a
democratização da educação. O livro tem sido durante os últimos séculos o
instrumento mais importante do desenvolvimento intelectual e espiritual do homem e
da sua possibilidade de aprender e progredir; por meio do livro viajamos para o
passado e para o futuro, conhecemos o pensamento e a fantasia de outras pessoas
e culturas, aprendemos por meio dos livros a conhecer a ciência, a apreciar a arte e
avaliar o que é valorativo para a constituição de nosso saber. De fato, pelo seu
tamanho e formato, o livro pode ser transportado para muitos lugares e nos
transportar para o mundo do saber a qualquer momento. Estamos atravessando
atualmente um período de novas revoluções tecnológicas, podendo ser maior que a
de Gutemberg, em que notebooks, laptops, pendrives, i-pod, MP-9 e outros
mecanismos tendem substituir o livro (STEPHANOU; BASTOS, 2005). A meu ver, no
entanto só ele possui a materialidade do imaginário e do conhecimento
sistematizados pelo homem.
Os regimentos mandavam que as aulas do Colégio Pedro II começassem
no primeiro dia útil de abril e que o período letivo durasse até 15 de
novembro. [...] Nas primeiras horas da segunda-feira fomos conduzidos à
Biblioteca do Colégio para o cerimonial de receber livros. [...] não riscá-los,
não sujá-los, ... porque frágeis como são assim de papel, papelão e tinta
cola – vão durar mais que eu [...] são meus e não são meus (NAVA apud
BENCOSTTA, 2007, p. 79).
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coleção Literatura em Minha Casa. Em 2003, dicionários são entregues aos alunos
da 1ª, 7ª e 8ª séries. Em 2004, o Ministério da Educação cria o Programa Nacional
do Livro para o Ensino Médio (PNLEM), para distribuir, livros de Matemática e de
Português para todos os alunos matriculados na 1ª série do ensino médio das
escolas públicas.
O governo federal executa três programas voltados ao livro didático: o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o Programa Nacional do Livro Didático
para o Ensino Médio (PNLEM) e o Programa Nacional do Livro Didático para a
Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA). Seu objetivo é prover as escolas das
redes federal, estadual e municipal e as entidades parceiras do programa Brasil
Alfabetizado com obras didáticas de qualidade.
Os livros didáticos são distribuídos gratuitamente para os alunos de todas as
séries da educação básica da rede pública e para os matriculados em classes do
programa Brasil Alfabetizado. Também são beneficiados, por meio do programa do
livro didático em braille, os estudantes cegos ou com deficiência visual, os alunos
das escolas de educação especial públicas e das instituições privadas definidas pelo
censo escolar como comunitárias e filantrópicas. Cada aluno do ensino fundamental
tem direito a um exemplar das disciplinas de língua portuguesa, matemática,
ciências, história e geografia, que serão estudadas durante o ano letivo
(FRACALANZA; NETO, 2006).
A definição do quantitativo de exemplares a ser adquirido para as escolas
estaduais, municipais e do Distrito Federal é feita com base no censo escolar
realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep/MEC), que serve de parâmetro para todas as ações do Fundo
Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB. Os resultados
do processo de escolha são publicados no Diário Oficial da União, para
conhecimento dos estados e municípios. Em caso de desconformidade, os estados
e municípios podem solicitar alterações, desde que devidamente comprovada à
ocorrência de erro. Todos os programas de livros didáticos são mantidos pelo
FUNDEB com recursos financeiros do Orçamento Geral da União, sendo a maior
parte da arrecadação do salário-educação.
Hoje o livro didático possui uma importância no cenário da educação, aqui
compreendida em termos históricos, através da relação entre este material educativo
e as práticas construtivas da escola e do ensino escolar. Esta importância é
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O autor nos leva a crer, que a pedagogia como ciência da educação está
articulada ao conhecimento cultural da sociedade e vislumbra o fazer dinâmico
desse indivíduo.
Ao valorizarmos o encontro da educação com a cultura do educando, no
refletir e aplicar conhecimentos a partir dos livros didáticos, tornamos o trabalho
enriquecedor no que se refere ao aprendizado do educando, bem como, ao
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55
Não teremos pretensão aqui que contar a história do corpo desde a criação
do homem por Deus, nem mesmo apresentar os estudos da ciência sobre a
evolução da espécie humana. Conseguir compreender a relação do corpo com as
grandes construções, força, beleza, prazer e exibicionismo em algumas civilizações
antigas (Egito, Grécia, China e Roma), refletir sim, sobre o corpo quanto elemento
social e cultural, para podermos trilhar o estudo, partimos do período histórico-
artístico em que o corpo humano teve grande importância e significação na
sociedade, a Renascença.
Retrataremos a história do corpo a partir da Renascença (séculos XIV e XVI)
até o século XX em que atravessou por diversas concepções ligadas ao sagrado, ao
uso comum dos corpos, a sexualidade, ao esporte, a anatomia, a saúde-doença,
dentre outras, que, obviamente, reflete o olhar da igreja, do artista, do médico, da
nobreza e do homem e que representa, portanto, a condição do corpo num
determinado contexto sócio-cultural datado.
científica, sua relação com a dor, com os cuidados terapêuticos, sua psiquê etc.,
outros olhares se fazem presente na modernidade, sejam eles, o olhar da religião,
do artista, etc.
Quanto a medicina, a relação com o corpo também se estabelece através
dos aparelhos resultantes dos avanços científicos e ligados a examinar partes do
corpo humano, isso porque “cada vez mais profundamente explorado pelos
aparelhos, o corpo vai sendo apreendido de maneiras sempre mais refinadas e
especializadas” Faure (2008, p.13).
Em linhas gerais podemos dizer que “a medicina do século XIX mais abriu
os campos das possibilidades do que tentou definir-lhes uma orientação unívoca”
Faure (2008, p.55) para as questões referentes ao corpo, isso porque:
O corpo descrito pelos médicos continuou sendo um corpo social, em parte
modelado por sua pertença a uma genealogia familiar, modificada pelas
condições de sua existência, tanto físicas quanto sociais e, por fim,
influenciado por seu psiquismo. Sendo esta última, uma constatação tardia
e apenas esboçada no final do século XIX (FAURE 2008, p.55).
Diante do que foi dito até aqui, nos resta pergunta: É possível olhar a
história do corpo por outros vieses? A este questionamento Peter Burke através da
sua obra A Escrita da História responde o seguinte:
Até há pouco tempo, a história do corpo tem sido, em geral, negligenciada,
não sendo difícil se perceber o porquê. Por lado, os componentes
clássicos, e por outro, os judaico-cristãos, de nossa herança cultural,
avançaram ambos para uma visão fundamentalmente dualista do homem,
entendida como uma aliança muitas vezes ansiosa da mente e do corpo,
da psiquê e do soma; e ambas as tradições, em seus caminhos diferentes,
elevaram a mente ou a alma e denegriram o corpo (BURKE, 2002, p.292).
Além dos pontos tocados pelo autor, uma história que se pretende,
teoricamente, construir sobre o corpo reflete as concepções criadas em torno dele.
Se “os estudiosos operaram tipicamente dentro de tradições interpretativas, para as
quais os significados que são mentais, espirituais e ideais assumem uma automática
prioridade sobre as questões puramente materiais, corpóreas e sensuais” (Burke
2002, p.292), isso significa dizer que o silenciamento do corpo não está relacionado
exclusivamente as questões religiosas, num primeiro momento da sua história, mas
também as próprias produções teóricas, que a julgar pelo que diz o autor,
representam concepções sociais intrínsecas aos autores que se aventuram
historicizar o corpo da sua época ou de épocas anteriores.
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Assim sendo, Burke (2002) nos leva em direção de uma nova história que
privilegia a cultura material como objetos de estudos, na qual está incluída o corpo.
Essa nova perspectiva busca, dentre outras coisas, quebrar com conceitos que
privilegiam a mente em detrimento do corpo.
Considerando que nenhuma história, da natureza que for, se inscreve no
vazio, Burke (2002, p.294) nos faz ver a importância da antropologia cultural, da
sociologia e da sociologia médica no redirecionamento do trato do corpo que os
historiadores puderam engendrar em seus trabalhos.
A antropologia cultural tanto na teoria quanto na prática, proporcionou [...] a
discussão dos significados simbólicos do corpo, em particular como
contextualizados no interior de sistemas de mudança social; e de uma
maneira bem similar, a sociologia,e a sociologia médica acima de tudo ,
encorajou os historiadores a tratarem o corpo como encruzilhada entre o
ego e a sociedade.
não como um objeto de “carne e osso”, mas como uma “construção simbólica” Burke
(2002, p. 297), isso representa, dentre outras coisas, que a racionalidade está
dividindo espaço com aquilo que a modernidade desprezou no âmbito das suas
QUADRO 4
Formas de Apresentação – Tipos de Textos
A - Textos – Histórias em quadrinhos
B - Textos-Tópicos
C - Textos-Narrativos
D - Textos-Box
E - Textos-Descritivos
F - Outros
GRÁFICO 1
Formas de Apresentação – Textos nos Capítulos/Unidades/Lições
Esse resultado, a nosso ver, indica que a organização dos conteúdos nos
livros didáticos analisados, poderão atender aos interesses e às necessidades dos
educandos e serem articulados às suas experiências de aprendizagem anteriores e
atuais.
O Corpo Escrito e Visto:
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Nos livros pode então emergir um debate acerca das “idades do corpo”,
mediados por um discurso pós-moderno, em que o multiculturalismo ganha força e
percepção, no que se refere a diferença, diversidade, alteridade e identidade. Para
Veiga-Neto (apud GARCIA, 2002), o corpo apresenta suas idades não com o
envelhecimento e sim por movimentos culturais da sociedade, movido pelos Estudos
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QUADRO 5
Formas de Apresentação: Figuras/Imagens
A - Para ilustrar alguma modalidade de texto
B - Para ilustrar, mas sem relação direta com os textos
C - Para propor exercícios
D - Outros
GRÁFICO 2
Formas de Apresentação – Figuras/Imagens nos Capítulos/Unidades/Lições
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QUADRO 6
Formas de apresentação – Exercícios
A - Caça-palavras
B - Lacunas
C - Perguntas abertas
D - Completar
E - Interpretação de texto/imagem
F - Correspondência entre colunas
G - Perguntas fechadas
H - Perguntas abertas com complemento (exemplo, justificativa, etc.)
I - Marcar F ou V ou outra marcação
J - Pesquise, recorte e cole nos espaços
K - Observar figuras e responder
L - Faça uma pesquisa sobre...
M - Outros
GRÁFICO 3
Formas de Apresentação – Exercícios dos Capítulos/Unidades/Lições
1 - Perguntas abertas
GRÁFICO 4
Com base no exposto, no que tange aos Tópicos – Temas sobre o Corpo,
constatamos que falta nos conteúdos escolares, apresentar os limites do “eu” corpo
e do corpo do “outro” e suas possibilidades, principalmente sobre os corpos dos
portadores de deficiência, que antes não sentiam-se atletas por não terem um corpo
“perfeito”, mas que hoje em suas potencialidades psicológicas e avanços da ciência,
puderam mostrar ao mundo que o corpo também esmera superação. Há que
respeitar o corpo do outro como segredo íntimo, inigualável e incomparável; cada
um de nós segue uma ordem genética, social e biologica que influencia no
desenvolvimento de nosso corpo (GARCIA, 2002); assim, podemos refletir quanto
nossas aflições e re-significamos os valores do corpo e sua complexidade.
GRÁFICO 5
Formas de Contextualização do Conteúdo Corpo nos Capítulos/Unidades/Lições
que refletir sobre as relações corpo e afeto, corpo e intelecto, corpo e estética e
corpo e diferença (GARCIA, 2002). São tantas relações e contextos, que a escola
necessita provocar um olhar mais significativo aos corpos dos educandos,
sensibilizando e humanizando a convivência adequada do cidadão.
ABRIL, Cultural. Coleção dos grandes artistas. Michelangelo. São Paulo: Abril
Cultural, 1967.
BELO, André. História & livro e leitura. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
CANDAU, Vera Maria (Org.). A didática em questão. 30 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2010.
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 2006.
GARCIA, Regina Leite. O corpo que fala dentro e fora da escola. Rio de janeiro:
DP&A, 2002.
GAZZINELLI, Maria Flávia; REIS, Dener Carlos; MARQUES, Rita de Cássia (Orgs.),
Educação em saúde: teoria, método e imaginação. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2006.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. 2 ed. Petrópolis: RJ:
Vozes, 2008.
PEREIRA, Luiz Carlos de A. Curso prático de redação. São Paulo, SP: Meca,
2004.
APÊNDICE A
3- Demais sessões:
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133
APÊNDICE B
FICHA DE ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DOS CAPÍTULOS/UNIDADES/LIÇÕES
1. Sobre a Unidade/Capítulo/ Lição
- Código: _________________________
- Título: ______________________________________________
- Sub-Títulos:
- __________________________________________
- __________________________________________
- __________________________________________
- __________________________________________
- __________________________________________
- __________________________________________
- Nº de pág. Total: _____
4. Sobre a contextualização:
FORMAS DE CONTEXTUALIZAÇÃO SIM NÃO Observações
A - Relação com o bairro/distrito onde o aluno mora