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Aconselhamento Bíblico de

Crianças
A família tem sofrido muito com
o moderno estilo de vida
adotado pela sociedade
contemporânea. A presente
geração de pais cresceu num
vácuo de autoridade, resultado da filosofia de vida dos nascidos no
pós-guerra que criaram seus filhos com pouca ou nenhuma
disciplina, resultando em pais que não sabem ou não querem
exercer autoridade o lar.

O problema é que a sociedade de um modo geral já rejeitou os


valores bíblicos necessários a família. Segundo John MacArthur
uma criança assiste em média trinta horas de TV por semana e
antes que conclua o ensino médio terá sido submetido a vinte mil
horas de programação que em sua maioria pregam valores
contrários a Palavra de Deus. 1
Paul Tripp afirma que muitas pessoas têm filhos mas não querem
agir como pais, muitos preferem ser amigos de seus filhos e se
colocam em condição de igualdade com eles. Além disso, nossa
cultura tem convencido a muitos que ter filhos é uma desvantagem
competitiva na sua busca de auto realização. 2
Nesse contexto muitos pais não têm lidado biblicamente com os
problemas enfrentados por seus filhos. As escolas e, em alguns
casos, as igrejas locais não têm cooperado com os pais na tarefa
de “ensinar o menino no caminho que deve andar” (Pv 22.6).
Tornou-se comum encontrar pais desorientados recorrendo a
profissionais que algumas vezes não têm compromisso com Cristo
e outras vezes não têm uma visão bíblica do problema.

Olhando para este cenário surgem as perguntas:

As Escrituras são suficientes para solucionar os problemas infantis?

Em um tempo em que o modelo de criação de filhos é fortemente


influenciado pela psicologia, podemos recorrer exclusivamente a
Palavra de Deus para nos direcionar na criação de nossos filhos?

Como devem ser tratados biblicamente os problemas das crianças?

Uma vez que a psicologia, a psicanálise e a psicoterapia têm se


tornado cada vez mais populares, é comum ver termos destas
áreas sendo usados por pais, educadores e até crianças para
descrever os comportamentos problemáticos dos últimos. Qual a
terminologia bíblica para os principais problemas infantis? E quais
os mandamentos bíblicos relativos a cada comportamento
observável?

As crianças têm características diferentes dos adolescentes, jovens


e adultos, assim sendo, quais as peculiaridades na prática do
aconselhamento de crianças devem ser adotadas a fim de ajudá-las
a vencerem biblicamente seus problemas? Quanto tempo deve
durar uma sessão de aconselhamento em que uma crianças esteja
presente? Os pais devem participar de todas as sessões? O “set”
de aconselhamento precisa sofrer alguma adaptação para receber
as crianças? Qual linguagem deve ser usada durante a sessão?

Qual o papel dos pais no aconselhamento bíblico de crianças?


Supondo que o conselheiro bíblico realmente seja útil no auxílio a
crianças que passam por dificuldades, até que ponto este ministério
deve ser exercido sem interferir na responsabilidade bíblica dos
pais. O mandamento bíblico de instrução e disciplina dos filhos foi
dado exclusivamente aos pais, assim sendo qual a
responsabilidade destes no processo de aconselhamento?

Como conselheiro bíblico creio que a Bíblia tem a resposta para


todos os problemas do ser humano, inclusive das crianças de
menor idade. E que a verdade Bíblica deve ser apresentada de
forma concreta e relevante às crianças, com uma aplicação direta
aos problemas delas.

Assim, defendo que os princípios de aconselhamento bíblico podem


ser aplicados perfeitamente às crianças, necessitando apenas que
alguns pequenos fatores sejam especificados.

Como conselheiros temos ainda que auxiliar, partindo da Palavra de


Deus, pais que precisam aprender a instruir e tratar biblicamente as
diversas situações-problemas na vida de seus filhos, visando
atingir-lhes o coração.

Embora o modelo atual de criação de filhos seja fortemente


influenciado pela psicologia, as situações problemas apresentadas
pelas crianças podem e devem ser encaradas a luz da Palavra de
Deus. Assim, como crentes que acreditam na Bíblia como Palavra
de Deus, devemos recorrer exclusivamente a ela para nos
direcionar no trato destes óbices.

Os problemas das crianças têm a mesma raiz pecaminosa que os


problemas dos adultos, diferindo destes apenas na sua forma de
apresentação e de realização. As crianças como pecadoras têm
desafios próprios e os problemas enfrentados por elas se
manifestam mais em forma de ira, medo, bullying, desobediência e
inquietação.

É preciso que o conselheiro bíblico adote uma metodologia própria


para aplicação prática dos princípios bíblicos para crianças.

Os modernos termos psicologizados utilizados pelos pais, precisam


ser gradativamente substituídos por termos bíblicos, por exemplo,
as crianças que chegam para aconselhamento com um diagnóstico
de hiperatividade e déficit de atenção, na verdade precisam
aprender o domínio próprio. O pecado e não a baixa autoestima é o
problema básico das crianças. As chamadas fobias, são na verdade
a manifestação do medo que desconfia do amor de Deus e da sua
soberania.

Uma mudança na linguagem do aconselhamento é fundamental


para a eficácia, uma vez que a criança necessita entender a Palavra
de Deus. O uso de técnicas variadas de ensino como, contação de
histórias, desenho e outras possibilitarão uma maior transmissão de
conteúdo, levando a uma maior eficiência no processo de
aconselhamento. Neste ponto conselheiros bíblicos têm muito a
aprender com professores da Escola Dominical.

A sessão de aconselhamento bíblico para uma criança precisa ser


mais curta, com 30 ou 40 minutos no máximo. Também é
importante o trato inicial com os pais e a introdução da criança no
processo de aconselhamento deve ocorrer apenas depois de duas
ou três sessões, sendo que talvez isto nem seja necessário. Na
maioria dos casos, basta que os pais sejam aconselhados para que
os problemas dos filhos sejam resolvidos.

Os conselheiros devem ainda buscar um local de aconselhamento


apropriado as crianças, talvez com alguns temas infantis ou mobília
mais adequada a criança, facilitando assim a aproximação com a
mesma.
Por fim ressalto a necessidade extrema de participação dos pais,
estes nunca devem ser excluídos do processo de aconselhamento,
pois como já disse, na maioria dos casos, serão eles os
aconselhados. Os pais proverão as informações preliminares ao
conselheiro, e em alguns casos o problema estará nos pais e não
nas crianças. Em um segundo momento, caso a criança realmente
apresente dificuldades em agradar a Deus, os pais acompanharão
as sessões como treinandos para eles próprios tornarem-se
conselheiros de seus filhos.

O mandamento bíblico de instrução e disciplina dos filhos foi dado


exclusivamente aos pais, assim sendo os conselheiros poderão
ajudá-los, mas nunca substituí-los.

________________________
1. MACARTHUR, John. Como educar seus filhos segundo a bíblia.
São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 2001. p.106
2. TRIPP, Tedd. Pastoreando o coração da criança. São José dos
Campos: Fiel, 1998, p.5
* Alex Mello é membro da ABCB (Associação Brasileira de
Conselheiros Bíblicos) e Mestre em Ministérios Familiares pelo
SBPV (Seminário Bíblico Palavra da Vida). Serve como pastor
auxiliar na Igreja Batista da Fé em São José dos Campos.

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