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1211-Texto Do Artigo-1266-1-10-20150128
1211-Texto Do Artigo-1266-1-10-20150128
CDD: 371.33
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é analisar de que forma se deu a
colaboração entre os alunos e os professores para a construção
de um vídeo educativo, em uma escola de ensino fundamental
localizada em Campinas. Organizamos nosso trabalho em três
etapas, sendo a primeira correspondente à criação dos materiais
a serem usados na pesquisa de campo; a segunda diz respeito ao
trabalho de campo, com observações e entrevistas dos sujeitos;
e a terceira relaciona-se à criação de parâmetros para análise
dos dados e à análise propriamente dita. Além disso, a pesquisa
na escola, realizada entre os anos de 2009 e 2010, foi dividida
em duas fases: na primeira trabalhamos com estudantes e
professores do ensino médio e, na segunda, com o ciclo II do
ensino fundamental. Durante a análise dos dados, utilizamos
nossa pesquisa bibliográfica para ajudar na identificação dos
processos encontrados no material coletado, caracterizando-os
como colaborativos ou não. Ao final da pesquisa, notamos que
o processo de colaboração entre alunos e professores requer
uma mudança de postura de ambos.
PALAVRAS-CHAVE
Produção audiovisual colaborativa; Web 2.0; Tecnologias na
educação; Ensino fundamental
1
Pedagoga, Mestre em Educação pelo Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação – Faculdade de
Educação – Unicamp. Pesquisadora da área de Tecnologias Aplicadas para a Educação. E-mail:
monica_garbin@yahoo.com.br – Brasil.
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PESQUISA
Analysis of collaborative audiovisual
production: an innovation experience in
an elementary school
ABSTRACT
The aim of this paper is to examine how the collaboration took
place between students and teachers to build an educational
video in an elementary school located in Campinas. Therefore,
we organize our work into three phases: the first one
correspond to the creation of materials to be used in our field
research, the second relates to the field work (observations and
interviews with the subjects), and the third relates to
establishing parameters for data analysis and the analysis
itself. Furthermore, the school research, conducted during the
years 2009 and 2010, was divided into two phases: the first one
we worked with high school teachers and students and in the
second one we worked with teachers and students from the
second cycle of basic education. During data analysis we used
our literature research to help us to identify the found processes
in our collected material, characterizing them as collaborative
or not. At the end of the study we have noted that the process of
collaboration between students and teachers requires a change
of attitude from them.
KEYWORDS
Collaborative audio-visual production; Web 2.0; Technologies
in education; Elementary education
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INTRODUÇÃO
Neste sentido, Prensky (2001; 2007; 2009) argumenta que, com o advento das
Novas Tecnologias da Comunicação e da Informação e a rápida disseminação do
conhecimento, novas formas de pensar surgiram. Para ele, os sujeitos nascidos num mundo
altamente tecnológico pensam e agem de maneira diferente em relação aos conhecimentos,
utilizam novos mecanismos para resolver um problema, divulgam e compartilham conteúdos,
dentre tantas outras atividades.
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PESQUISA
apontavam Vygotsky e Piaget, ambas favorecem o desenvolvimento do pensamento, de que
maneira poderiam contribuir para o processo de aprendizado?
COLABORAÇÃO E APRENDIZAGEM
Colaboração
Tendo entendido que interação é um processo de relação, que tanto pode ser
humana como entre humanos e objetos, a partir de agora, buscaremos um significado para
colaboração, tendo em vista que a interação é parte do processo de colaboração, como
veremos a seguir.
Para Lan e Jiang (2009), o aprendizado colaborativo envolve uma série de outras
abordagens na educação, que se relacionam com um esforço intelectual conjunto de vários
alunos e professores. Além disso, enumeram seus benefícios: possibilitar o aumento do
envolvimento com o conteúdo trabalhado; desenvolver o pensamento crítico e a capacidade
de resolução de problemas; encorajá-los a aprender a realizar tarefas.
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Para Vygotsky (1987, p. 17), ―[...] a colaboração entre pares durante a
aprendizagem pode ajudar a desenvolver estratégias e habilidades gerais de solução de
problemas através da internalização do processo cognitivo implícito na interação e na
comunicação‖. Nesse sentido, a colaboração entre os seres pressupõe o desenvolvimento de
um trabalho de parceria, visando um objetivo comum — algo que não poderia ser produzido
de maneira individual.
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de problemas, aprendem com mais facilidade a utilizar ferramentas, melhoram a comunicação
com seus pares etc. (HUANG; LIU, 2009).
Nesse sentido, diante daquilo que foi observado, podemos dizer que colaboração é
um processo de construção conjunta, em que um grupo de pessoas tem um objetivo em
comum a ser alcançado e, de maneira coletiva, deve tomar decisões e atitudes para alcançá-lo.
Disso decorre a importância da interação dentro da colaboração.
Cooperação
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que a aprendizagem pode ser mais rica, se o ensino for proposto de maneira cooperativa, mas,
para tanto, cada aluno deve saber que seu êxito pessoal tem peso para o grupo.
QUADRO 1
Quadro conceitual
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Sabin e Leone (2009)
Mediação Luria (1979) É uma operação cognitiva que está entre o sujeito e a
Oliveira (1997) realidade, sendo que ela pode ser tanto humana,
Vygotsky (1998) quanto material, permitindo ao sujeito troca de
experiências, interpretações e significados.
QUADRO 2
Características
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ambiente escolar. tarefa.
A TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
O autor afirma que esses ―novos‖ estudantes passaram a vida inteira rodeados por
computadores, televisores, filmadoras, celulares e os graduados nos Estados Unidos nessa
época acumularam menos de 5 mil horas em leituras, porém mais de 10 mil horas jogando
video game e 20 mil horas assistindo televisão. Assim, essas tecnologias digitais já faziam
parte de suas vidas (PRENSKY, 2001).
Nesse mesmo sentido, Waycott et al. (2010) mostram em sua pesquisa, realizada
nos Estados Unidos, que as tecnologias mais utilizadas pelos jovens são celulares, tocadores
de MP3, bate-papos ou mensagens instantâneas, enquanto os mais velhos utilizam
computadores e celulares. Muitos dos jovens ainda citaram tecnologias como blogs e redes
sociais. (WAYCOTT et al., 2010, p. 1205)
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Ainda nessa mesma pesquisa, os entrevistados foram questionados sobre os usos
que faziam das tecnologias em seu cotidiano e, a partir dessas respostas, os autores
conseguiram identificar cinco tipos de uso: interesse pessoal ou entretenimento (exemplos:
baixar músicas, acessar informações, assistir a um filme etc.); comunicação social (exemplos:
contatar parentes ou amigos que moram longe, enviar convites de determinado evento para
uma lista de pessoas etc.); uso diário para atividades variadas (exemplos: armazenamento de
dados, acesso a informações, a horários de transportes etc.); uso profissional para trabalho; e
uso para a universidade, como atividades de estudos (WAYCOTT et al., 2010).
Em estudo semelhante, Jones et al. (2010) divulgam uma tabela que mostra os
usos que os estudantes fazem de determinadas tecnologias para a educação. Ali se apresentam
dados como, por exemplo: 44,59% dos entrevistados nunca usam blog e 32, 43% quase nunca
usam; 25,68% dos entrevistados raramente usam bate-papos e 40,54% nunca usam; 31,08%
dos entrevistados quase nunca usam videoconferência para atividades relacionadas a estudo e
51,35% nunca usam; e 20% deles sempre usam enciclopédias on-line (Wikipédia, por
exemplo) e 21,33% usam-nas frequentemente. São dados bastante significativos,
considerando que, para atividades relativas a lazer, todos os entrevistados utilizam tecnologias
e, em sua maioria, aquelas com características da Web 2.0.
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Tais dados mostram, ainda, que o fogão e a televisão representam os aparelhos
que mais estão presentes nos domicílios brasileiros. Em 2008, 98,2% (56,541 milhões) dos
lares possuíam fogão, enquanto 95,1% (54,753 milhões) possuíam televisão, que em 2001,
aparecia em 89% dos lares (BRASIL, 2008).
Nesse sentido, a pesquisa mostrou que, mesmo com o aumento de acesso a essas
ferramentas, a disparidade de acesso, se analisarmos por estado brasileiro, ainda é
considerável: por exemplo, um dos dados divulgados mostra que a região nordestina tem a
menor proporção de domicílios com essas tecnologias e demonstrou um desempenho menor
que a média nacional (CGI, 2009).
Essa realidade vai ao encontro daquilo que Belloni e Gomes (2008) afirmavam,
no ano anterior ao da pesquisa: a acessibilidade ainda é bem reduzida, por conta das
desigualdades sociais e regionais presentes no país. Entretanto, tal tecnologia ainda é desejo
de praticamente todos os jovens. Nesse sentido, as autoras afirmam que a escola ―deveria e
poderia‖ compensar as desigualdades, integrando os jovens nas culturas digitais, para que não
sejam ciberexcluídos.
Thinyane (2010) aponta que é preciso tomar cuidado com a generalização, para
evitar que todos os estudantes sejam tomados como usuários assíduos de tecnologias.
Primeiramente é preciso analisar quais são os usos que se fazem dessa tecnologia, ou seja, é
necessário realizar um exame do acesso a ela e do aproveitamento obtido pelos alunos quando
a utilizam. A autora revela que em seu estudo notou que muitos estudantes africanos só
tiveram acesso à tecnologia no primeiro ano de Faculdade; ou ainda que, embora muitos
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estudantes australianos sejam experientes no uso, essa não é uma situação homogênea em
toda população estudantil.
Tal contexto nos remete aos dados divulgados pelo PNAD em 2008 (BRASIL,
2008) e citados acima, que nos mostram que 34,8% dos brasileiros a partir dos 10 anos
acessaram a Internet, pelo menos uma vez. Ainda que essa porcentagem tenha aumentado, ela
indica também que mais da metade da população brasileira, naquela faixa etária, nunca usou a
tecnologia em questão.
Waycott et al. (2010) apontam que existe um termo que tem sido usado
tradicionalmente para definir as diferenças entre as nações ou grupos socioeconômicos e seus
acessos às tecnologias, que em inglês é o digital divide, que pode ser entendido como ―divisão
digital‖.
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Belloni e Gomes (2008, p. 722) assinalam que estudos divulgados nos últimos
anos apontam para a importância das mídias na criação dos ―mundos sociais e culturais das
crianças‖, que é onde acontecem os ―processos de socialização‖. As pesquisas das autoras,
realizadas nas últimas décadas e em três capitais brasileiras, mostram evidências de como a
televisão e a Internet estão entre as tecnologias preferidas pelos jovens, que são ―usuários
assíduos‖ quando e sempre que têm acesso a elas.
Para as autoras, sempre serão necessárias ―as mediações dos adultos e das
instituições educativas, de onde decorre a importância da formação dos professores para que
estas mediações se orientem a partir de uma perspectiva de mídia-educação, assegurando
assim sua eficácia‖ (BELLONI; GOMES, 2008, p. 722, grifo do autor).
Como vimos, esses estudantes são diferentes: em sua maioria, chegam à escola
com alguns conhecimentos, sabem pesquisar informações, questionar, fazer anotações
enquanto assistem a um filme, interferir num programa de televisão que dispõe de espaços de
interação, fazer perguntas para animar um bate-papo, entre tantas outras ações (BELLONI,
2009).
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Nesse sentido, como os professores devem agir diante desse cenário, já que, como
afirmam Belloni e Gomes (2008), o papel do professor é fundamental?
Freire, em 1980, escreveu que o professor deve olhar para os estudantes como
―corpos conscientes‖ e não como ―depósitos de conteúdos‖ ou como ―seres vazios‖ que o
mundo enche de conhecimentos; assim, é possível problematizar a relação dialética que os
jovens estabelecem com o mundo. Embora os meios de comunicação da época fossem
diferentes e os nativos digitais nem existissem, a ideia de não encarar os estudantes como
vazios faz sentido até os dias de hoje.
2
Contextualizamos neste trabalho o termo ―vídeo educativo‖ como um material audiovisual construído pelo
professor e seus alunos, tendo como orientação de mensagem aqueles conteúdos relativos ao currículo
programático escolar. É, portanto, o vídeo educativo um material didático.
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Nesse sentido, Belloni (2009) sugere que a postura que o professor deve tomar é a
de coletividade: transitar entre várias áreas do conhecimento, quebrar o isolamento da sala de
aula convencional, e finalmente, aprender a ensinar a aprender.
MÉTODO
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O cenário para realização do trabalho foi o de uma escola estadual localizada em
Campinas, que possuísse o ensino médio. A escolha de alunos provenientes desse nível de
ensino justifica-se pela ideia de que os alunos dessa faixa etária são ―nativos digitais‖
(PRENSKY, 2001); partimos, então, do pressuposto de que os alunos selecionados teriam
certo engajamento com as tecnologias. Assim, os perfis dos participantes foram estabelecidos,
levando em consideração aspectos relativos ao contato dos estudantes e dos professores com a
tecnologia comunicacional atual. Desse modo, para participarem na construção do vídeo,
foram selecionados oito estudantes, de maneira aleatória, e seis professores.
É importante, ainda, ressaltar que a primeira fase do projeto contou com alunos e
professores do ensino médio, enquanto a segunda fase compreende a participação de alunos e
professores do ciclo II do ensino fundamental da mesma escola.
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Sentimos certa resistência por parte dos membros da escola, pois a maioria dos
estudantes do ensino médio trabalha e não tem tempo de folga durante o dia, período em que
as filmagens deveriam ocorrer. O mesmo problema ocorreu com os professores, pois a
maioria deles cumpria, por vezes, até três turnos de trabalho e, portanto, não conseguiram
acompanhar as atividades desenvolvidas no período da tarde ou da manhã. À noite era
impossível realizar filmagens pelo bairro, em virtude da escuridão e dos problemas de
violência.
A solução encontrada foi realizar uma série de atividades, tais como oficinas e
entrevistas com moradores, aos sábados durante o dia, já que, nesse período, a disponibilidade
de todos era maior. A partir daí conseguimos maior adesão de alunos e professores do ensino
médio. No começo de 2010, conseguimos finalizar o vídeo e desenvolvemos algumas
atividades pedagógicas oriundas daquelas realizadas para captura de materiais para o vídeo.
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o projeto por conta de novos empregos ou cursos de formação. Sendo assim, este é o cenário
geral de cada fase do projeto.
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Processos de interação — virtuais ou não — puderam ser vistos quando os
estudantes buscavam comunicação com a pesquisadora para marcar a data de uma reunião.
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Ficou claro que, de acordo com as professoras, para um processo colaborativo, é
preciso certas habilidades sociais, tais como: possuir certo grau de tolerância, saber articular
seu ponto de vista e dispor de tempo para organização dos participantes, consolidando,
portanto, aquilo que Borges (2003) defende em seu trabalho.
Outro ponto relevante a ser destacado com relação à colaboração foi o uso das
tecnologias para a construção do vídeo. Tal processo envolveu a colaboração não só para
chegar ao objetivo final, como vimos, mas também para construir a coautoria entre
professores e alunos. Nesse sentido, confirmamos aquilo que Souza e Garcia Fernández
(2008) apontam como importante: o uso de tecnologias sem a participação dos estudantes é
um uso limitado.
Nesse sentido, é possível verificar que os tipos de usos que os sujeitos desta
pesquisa fazem da tecnologia estão de acordo com aqueles identificados por Waycott et al.
(2010): interesse pessoal; comunicação social; acesso a informações variadas; uso profissional
ou escolar.
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PESQUISA
Além disso, a partir dos dados que obtivemos durante a realização das entrevistas
e das observações, percebemos que a tecnologia para nossos estudantes-sujeitos está
vinculada a seus momentos de lazer, ficando difícil quebrar a barreira entre sua utilização para
o trabalho ou estudo e seu uso para o lazer.
Isso se comprova até mesmo pela visão que os alunos assumiram ter sobre
algumas ferramentas: elas são para lazer e, por isso, devem ser segregadas da vida escolar ou
do trabalho. Tal afirmação vai em direção a um dos dados apresentados na pesquisa apontada
por Jones et al. (2010), quando nos revelam os motivos pelos quais os estudantes não são
favoráveis à utilização das tecnologias de lazer para o trabalho: separação da vida social do
estudo. Este foi até mesmo um dos argumentos de uma estudante, quando a questionamos
sobre o porquê da restrição de uso da tecnologia para o projeto.
Outro argumento que pode ser encontrado na fala dos sujeitos da presente
pesquisa e que foi também obtido por Jones et al. (2010) refere-se ao grande fluxo de
informações e à pouca experiência dos professores. Tomando a ideia de que há muita
informação na rede, as professoras afirmam que isso não garante o aprendizado dos
estudantes, pois estes não sabem utilizar-se deles: sabem de tudo um pouco e tudo
superficialmente.
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PESQUISA
É importante destacar também que todos os professores, quando questionados
sobre os usos da tecnologia em atividades pedagógicas, assinalam positivamente a respeito. A
professora de Biologia, por exemplo, fala sobre o trabalho com conhecimentos concretos:
assim, em vez de falar sobre um processo que acontece no corpo humano, pode mostrar um
vídeo sobre ele.
Nessa direção, Amaral (2009), no mesmo sentido que Souza e Garcia Fernández
(2008), aponta para um fenômeno importante atualmente, que é a construção do material
didático pelo professor. Assim, durante as reuniões com professores e alunos, nosso objetivo
era justamente incluir a todos nas atividades relativas ao projeto e, portanto, criar recursos e
materiais que fossem coerentes com a realidade dos sujeitos. É possível perceber a autonomia
gerada em alguns professores quanto ao uso da tecnologia, quando analisamos a fala da
professora de Biologia no momento em que afirma que, no início do projeto, quem fazia as
oficinas, com relação à parte tecnológica, era a pesquisadora, porém, depois, ela, professora,
sozinha, ofereceu essa mesma oficina aos seus alunos. Assim, criou-se a noção da autonomia
de produção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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PESQUISA
Com relação, ainda, ao uso da tecnologia, sendo este projeto desenvolvido em
uma escola pública, com recursos materiais restritos, as conversas virtuais com os estudantes
aconteciam quando estavam em casa, já que não havia um laboratório de informática na
escola. Portanto, já estava implícito seu momento de lazer, pós-escola. Se tivéssemos
realizado esses encontros virtuais (pesquisadora–sujeitos) em ambiente escolar, poderíamos
notar alguma diferença comportamental.
Por fim, esperamos que as questões levantadas neste trabalho possam clarear um
pouco mais sobre questões como a importância da colaboração no processo de ensino e
aprendizagem, não só como recurso que ajuda no processo cognitivo do estudante, mas
também como facilitador do trabalho do professor; e possam também tornar mais visíveis os
possíveis usos das tecnologias pelos professores. Para tanto, é preciso vê-las como
ferramentas que podem auxiliar o dia a dia em sala de aula, lembrando que, em relatos de
algumas situações de uso na presente pesquisa, o professor algumas vezes foi ajudado pelos
estudantes, o que propiciou um aprendizado muito mais significativo. Daí a importância da
colaboração nas situações de ensino.
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