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29/11/2015 Pós-graduação ao rés-do-chão — Ciência Hoje

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Pós-graduação ao rés-do-chão
O mest rado profissional em hist ória, que começa a ganhar espaço no Brasil, não deve ser vist o como primo pobre da pós-graduação acadêmica. De
volt a à CH On-line, a hist oriadora Keila Grinberg defende que ele poderá ser um novo polo de inovação da produção em hist ória no país.

Por: Keila Grinberg


Pu blica do em 0 5 /1 2 /2 0 1 4 | A t u a liza do em 0 5 /1 2 /2 0 1 4

‘Desem ba r qu e de Ca br a l em Por t o Seg u r o’, n a v isã o do pin t or Osca r


P. da Silv a . Nos ú lt im os a n os, for a m cr ia dos n o pa ís seis cu r sos de
pós-g r a du a çã o v olt a dos pa r a a pr odu çã o de con h ecim en t o e
for m a çã o de pr ofission a is em en sin o de h ist ór ia .

Queria celebrar meu retorno a este espaço, depois de uma licença bem mais longa do que gostaria, com uma boa-nova, que, apesar de boa, já não
é mais tão nova assim: o início, em agosto passado, das atividades do ProfHistoria – o mestrado profissional em ensino de história, ministrado em
rede nacional e liderado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Mesmo requentada, a comemoração vale a pena. Há dois anos e meio, em uma coluna que deu o que falar, escrevi que, dos 63 cursos de
mestrado e doutorado então existentes no Brasil na área de história, havia apenas dois mestrados profissionais, nenhum dos quais dedicado à
reflexão sobre o ensino da disciplina.

Hoje a situação é outra – e surpreendente. Existem 69 cursos de mestrado e doutorado, dos quais nove, já incluindo o ProfHistoria, são mestrados
profissionais (mais detalhes aqui).

Há dois anos e meio, dos 63 cursos de mestrado e doutorado então existentes no Brasil na área de
história, havia apenas dois mestrados profissionais, nenhum dos quais dedicado à reflexão sobre o
ensino da disciplina. Hoje a situação é outra
Em uma área na qual não havia mais que algumas linhas de pesquisa em programas de pós-graduação acadêmicos, apenas dois anos depois já
haviam sido criados seis cursos voltados especificamente para a produção de conhecimento e formação de profissionais em ensino de história.

Além do ProfHistoria, que congrega 12 universidades no Rio de Janeiro, Tocantins, Rio Grande do Sul e Santa Catarina (outras serão agregadas
em breve), hoje as universidades federais de Goiás, do Rio Grande e do Recôncavo da Bahia (UFRB), a Universidade de Caxias do Sul e a
Universidade Estadual do Maranhão oferecem cursos específicos para profissionais que querem se especializar na área de ensino de história.

Dos demais cursos criados, um é sobre história ibérica e dois se voltam para os estudos no campo do patrimônio. Se incluirmos o do Iphan,
alocado na área interdisciplinar da Capes, são três.

A UFRB, aliás, tem uma proposta de curso bastante original: tendo como área de concentração História da África, da diáspora e dos povos
indígenas, pretende formar profissionais especificamente aptos a aplicar a lei 11.546, de 2008, que torna obrigatório o ensino de história da África,
da cultura afro-brasileira e da história indígena nas escolas da educação básica. Nada mais adequado para um dos estados com maior proporção
de população negra no Brasil.

Como as crônicas, para Antonio Candido

O que mudou nesse intervalo de tempo? A área de história? O modelo de pós-graduação no país? Os dois. No Brasil, o crescimento dos mestrados
profissionais foi tamanho, que a Capes resolveu criar, em 2013, a função de coordenador adjunto de mestrado profissional em todas as áreas de
conhecimento. A da nossa área é exercida atualmente pelo professor Marcelo Magalhães, meu colega na Unirio.

No campo da história, os historiadores finalmente vêm despertando para a realidade criada, em parte, pelo próprio crescimento dos cursos de
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graduação e dos programas de pós-graduação nas duas últimas décadas. Nada contra os estudos estritamente acadêmicos. Nada contra a teoria,
as análises historiográficas. Muito pelo contrário.

Dia n t e da ex pa n sã o dos cu r sos de g r a du a çã o e pós em h ist ór ia n o pa ís,


h ist or ia dor es defen dem cr ia çã o de espa ços de r eflex ã o e pr odu çã o de
con h ecim en t o específico pa r a a pr á t ica pr ofission a l dos qu e est ã o em
sa la de a u la , m u seu s e cen t r os cu lt u r a is. (fot o: Sa m or y Per eir a
Sa n t os/ Flick r – CC BY -SA 2 .0 )

Mas era impossível continuar lançando graduados, mestres e doutores no mercado de trabalho sem criar espaços de reflexão e produção de
conhecimentos específicos para as práticas profissionais daqueles que estão na sala de aula, nos museus, nos centros culturais.

Ainda é cedo para avaliar o impacto dos mestrados profissionais na historiografia brasileira. Mas, a julgar pela experiência de cursos consolidados,
como o da Fundação Getúlio Vargas, e pelas propostas de trabalho de conclusão de curso recebidas no ProfHistoria, vale arriscar que, longe de
serem o primo pobre da pós-graduação acadêmica, os mestrados profissionais poderão se constituir nos novos polos de inovação da produção em
história no Brasil.

Que os mestrados profissionais sejam como as crônicas para o professor e crítico Antonio Candido: boas
porque mais perto de nós; porque “sua perspectiva não é a dos que escrevem do alto da montanha, mas
do simples rés-do-chão”
Se os mestrados profissionais forem gênero menor, que sejam como as crônicas para o professor e crítico Antonio Candido: boas porque mais
perto de nós; porque “sua perspectiva não é a dos que escrevem do alto da montanha, mas do simples rés-do-chão”.

“A crônica”, prossegue Antonio Candido, “está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de
oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma
singularidade insuspeitadas.”

Em tempo: no dia 11 de dezembro, para comemorar 10 anos de dedicação à reflexão sobre ensino de história, o grupo de pesquisa Oficinas da
História irá realizar, na Unirio, o seminário ‘Ensino de história: usos do passado, memória e mídia’. Para quem mora longe, ele será transmitido
ao vivo pelo Hangout do Google. O link estará disponível na página oficial do ProfHistoria no Facebook às 9:45h.

Keila Grinberg
Departamento de História
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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Historiadores pra quê?

9 Comentários Ciência Hoje On-line 


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Participe da discussão...

Cris Meneguello • um ano atrás


Olá Keila! Que bom que voltou ao CH-online.
A discussão sobre o mestrado profissional em história é mais do que bem-vinda e necessária em nossa sociedade, mas não vejo boa parte
dos departamentos de história disposta a levá-la adiante. No geral, todos falam muito contritos sobre "o problema do ensino básico" no
país... mas quando chega o momento de pensar nos professores, suas realidades e formações, e auxiliar a universidade a incidir sobre
esta realidade, o ânimo arrefece. Será mesmo que as pós-graduações acadêmicas e voltadas para a teoria e a historiografia não tem
também uma contribuição a oferecer? E será que chamar a estes mestrados de "gênero menor", mesmo com as ressalvas que você traz,
não contribui para perpetuar velhos preconceitos sobre as diferenças entre "pesquisadores" e professores? Abraços!
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Keila Grinberg > Cris Meneguello • um ano atrás

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29/11/2015 Pós-graduação ao rés-do-chão — Ciência Hoje
Oi Cris, obrigada pelo comentário! Acho que você tem toda razão, esta discussão sobre as diferenças e as possibilidades de
diálogo entre os mestrados profissional e acadêmico é mais do que oportuna. abraços!
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Patrimônio Paisagens Cidadania • 3 meses atrás


Olá. Caso queiram mais informações sobre o Mestrado Profissional em Patrimônio Cultural, Paisagens e Cidadania da Universidade
Federal de Viçosa (MG) acessem a página: www.poshistoria.ufv.br. O Edital para ingresso em 2016 já está disponível lá e as inscrições irão
de 17 de agosto a 25 de setembro de 2015.
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Edson João • 9 meses atrás


Acho interessante a questão. Porém, fica uma pergunta para reflexão: será que as universidades públicas não poderiam oferecer o
Mestrado em Ensino de História sem ser na modalidade "Mestrado Profissionalizante"?
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cristiane • um ano atrás


como faço para estar realizando um curso de mestrado profissional
?
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leticia • um ano atrás


a muitos anos a demanda por mestrado profissional especificamente ao ensino de história é grande. pena que as vagas foram pequenas
aqui no RS em 2014. nós profs. da rede pública necessitamos continuar estudando, na maior parte das vezes só ficamos conseguimos
fazer especializações ou cursos de extensão. durante um par de anos a faculdade de educação da ufrgs não realizou seleção, qdo realizou
eram pouquíssimas vagas, e dependemos da linha de pesquisa da educação...
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Gabriel Neto • um ano atrás


Olá,

Gostei muito do artigo de opinião. Embora historiador, fiz mestrado em Educação (trabalhando com ensino de história/formação de
professores) e é realmente muito bom ver que as discussões sobre o ensino vem exercendo papel cada vez mais significativo nos
trabalhos e pesquisas dos historiadores Brasil afora.

Penso que existem ainda lacunas a serem preenchidas e uma delas é tentar mostrar que o mestrado profissional não é menor ou menos
científico que o acadêmico. E essa é uma discussão que está nos fóruns de pós-graduação. Por que o conhecimento produzido em um
seria menos importante que o outro? Realmente existem hoje vários programas (UFPB, UERJ-FFP, etc) com linhas já voltadas
exclusivamente para o ensino de história, mas acho que pode existir uma integração entre as duas comunidades para a elaboração de uma
historiografia que realmente reflita e discuta o papel do ensino de história na formação e prática do historiador.
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Jose Zago de Souza • um ano atrás


Boa tarde Keila!
O que me entristece é a resistência dos cursos de História da USP/Unicamp/Unesp em participar do Prof História. Aqui em SP que já foi o
mais importante centro de pesquisas históricas do País está anos luz atrasados em relação ao ensino de História
Abraços
José
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Juliana Ferraro • um ano atrás


Boa Tarde, Keila Grinberg, adorei a reportagem, pois estamos no Tocantins (UFT- Porto Nacional), batalhando para um mestrado
profissional em História, visualizando sua importância para nosso estado, para nossa universidade e nosso campus. Ainda estamos
descobrindo os caminhos para, quem sabe, conquistá-lo em futuro próximo. Temos uma federal nascida em 2003, mas um curso de
História (licenciatura) com 20 anos de existência, sem contrapartida e suporte de "pós formação" aos profissionais lançados no mercado de
trabalho, que são professores e atuam em sala de aula no ensino básico. Chega o momento que precisamos reavaliar nossas convicções
e certezas quanto às formações ofertadas no país para professores. Abraços Juliana
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