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JOÃO DO SERTÃO

O MENINO DO PÉ DE FEIJÃO

Num pedaço aprumado do mapa

Em algum lugar do nordeste

Morava um menino arretado

O moleque era cabra da peste

João é um piá arrochado

Que tira do couro a roupa que veste

Nu tempo ferrado de seca

Que rachava o chão do sertão

Não se via nem bicho nem mata

E água só no caminhão

É difícil a vida na lona

Pra quem mora nesta região

Quem já foi sertanejo sabe

É difícil a vida desta gente


Quem não foi do sertão também sabe Aos pouco o menino foi entendendo

Ou no menino se tem em mente O papel na mão do velho era sua oração

E se não tava bom pra ninguém Aquele homem era São Pedro

Pra João que não é diferente Um dos braços de Deus que guarda o portão

Seu corpo não agüentou tanta sede e fome

Liso, sem ter o que comer De tão dura a vida em sua região.

Sugere sua mãe, que venda teu gado

Sem outra moeda de troca

João se sente obrigado

Se desfazer do seu único bem

Levando o animal arrastado

Na estrada a caminho da venda

O menino encontra um senhor

Do lado de um pé de arvore

Do outro lado um ramo de flor

Pediu-lhe que sentasse a sua frente


Tudo ali era belo e tranqüilo No banco que ali na acabava de por

Tudo ali era pleno e sereno

Aceitando o convite do velho

A sua frente havia um caminho No banco se sentou João

Que levava a um enorme portão Lembrando o que disse sua mãe

Em um dos lados estava um homem Enquanto ainda tinha pão

Segurando na mão um cartão Deus às vezes se veste de homem

Parecia que estava sozinho E vem a terra ouvir nossa oração

Era como se fosse algum ermitão

Com os olhos vidrados no velho

Pensando ser nosso senhor

Com a voz quase cochichando

“O que faz o senhor ai sem ninguém?” O velho começa a propor

“Te esperava João do sertão! Sugere que lhe deixe o gado

Estou aqui pra matar sua fome e sede Se arretado o menino for

Como a ti prometi meu irmão

Sou aquele que lhe deu sementes “O que eu ganho em troca?”

E agora lhe estendo a mão” Ao velho o menino disse

Com a mão fechada, responde o senhor


- “Tem algo que eu queria que visse!

Te daria em troca do gado Ao ver que o pé ia para cima das nuvens

Estes feijões mágicos caso me pedisse” Quis saber como era a terra do alto

De pressa correu até a planta

E começou a subir com um salto

“O que é que de tão diferente Subindo o mais rápido que pode

Tem estes feijões em sua mão? Lá em cima avistou um planalto

Só isso não mata minha fome

Que é mais forte que o próprio cão Era uma terra no céu

E o que eu faria com isso? Nada era tão empolgante

Se nem água eu tenho pra cozinhar o feijão” Seria a casa de Deus?

Sua alegria era contagiante

“A mágica desde feijões Olhava para todos os lados

Não são só para matar sua fome E sempre dava um passo à diante

Plante na terra um só grão

E deixe que o solo o consome Ele olhava lá de cima pra terra

Te trará tanta riqueza E tudo o que via era muito pequeno

Que terá bem mais do que come O garoto se sentia um gigante

Quando andava naquele terreno


E a Deus começa a pedir Não se preocupe com a água

“Me de força pra poder levantar, Não vai precisar nem regar

Se mais uma vez ao chão eu cair.’’ Escolha um pedaço de terra

Que for dura até pra cavoucar

Enquanto o menino dormia Quando achar o pior terreno

Uma coisa começou a acontecer É ali que você vai plantar”

Aqueles feijões no terreiro

De repente começaram a crescer João o olhava inseguro

E cresceram muito além da conta Mas decidiu aceitar a proposta

Até no céu desaparecer Despediu-se do gado cansado

Investindo naquela aposta

Quando acordou no dia seguinte Não perguntou nem o nome do velho

Sentiu que algo tinha acontecido Temendo ouvir a resposta

Correu pra janela do quarto

E viu que Deus lhe tinha atendido

Ao ver aquele pé de feijão

Creu que o velho não tinha mentido


Caminhando de volta pra casa

O menino começa a tremer


“E se fui enganado por ele? Com fé no que ouviu do senhor

O que minha mãe vai fazer?” João contou o acontecido

Foi embora esperando o pior A mãe tentando entender

E no que ia lhe acontecer Perguntou se era algum conhecido

Quando viu que havia sido enganado

O caminho de volta foi longo Aquele menino arretado ficou entristecido

A estrada nunca foi tão comprida

“Se estes feijões não vingar,

Onde vou arrumar comida?’’

Quando avista a mãe em sua casa De inicio ficou tão zangada

Passa pela porta com a mão encolhida Que a mãe abriu um berreiro

Conforme a raiva foi passando

“O que cê ta escondendo ai?’’ Deu lugar ao desespero

Diz a mãe procurando o alimento Jogou pela janela os feijões

‘’Num to vendo nada de comida Que lá fora caíram no terreiro

O que você fez com o jumento?

Se fez coisa errada já sabe, Cansado de tanto chorar

Hoje vai dormir no relento!’’ João vai ao quarto dormir

Se ajoelha diante da cama

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