Você está na página 1de 6

Cordel

Do
Sertão
Labuta do Sertanejo

“Marido pega uma espingarda


E vai ao capoeirão
“Pegar uma caça, marido!
Como eu vou pegar caça muié
Se nessa seca só tem gavião?

“Não vou achar nem alma viva


Pra meus filhos alimentar.
O que será de nós muié,
Se essa seca continuar.

“Vou pegar minha enxada


Pra uns trocados ganhar,
Seu João é explorador
E essa humilhação
Eu tenho que agüentar.

“Oh! Meu Deus! O sol ta de torrar


Vou procurar uma sombra
Pra descansar e rezar pro
Patrão no flagra não me pegar.

“Jesus, Maria, José o patrão


No pulo me pegou na hora,
O que eu vou fazer?
Sem trabalho o que será de mim agora?

“Muié, desempregado eu to agora.


O que nos resta fazer é rezar
Pra nossa senhora,
Pra vê se nossa vida melhora.

“Marido, só rezar não vai adiantar


É melhor enfrentar a realidade,
Marido, antes de a fome chegar
E Nossa barriga começar a roncar.

“Vou pegar minha carrocinha


E vamos à estrada pegar,
E arrumar um emprego
Pra comida na mesa não faltar.

“Vou à fazenda de seu João,


Vou ver se ele me empreita
O capoeirão, que ele vai roçar
Pra plantar feijão.
“Seu João tem emprego pra me dá?
Estou desempregado e preciso muito
Trabalhar, pra meus filhos sustentar,
Pra fome não matar.

“Seu José, eu não tenho não,


Aqui já veio gente de montão
Querendo que eu empreite o capoeirão,
Mas, dinheiro eu não tenho não.

“Meu Deus o que eu vou fazer


Vou começar a rezar para
Padrinho Cícero, pro emprego aparecer,
Se não, os meus filhos de fome, vão morrer.

“Muié me dê à cuia de farinha


Seca pra eu comer, por que
Ainda tem muito chão pra percorrer
E o que eu vou fazer sem água pra beber

“Muié, da vontade do sertão deixar,


Mas sem estudo na cidade
Que emprego eu vou arrumar?
Só no lixão ou carregar caminhão...

“Marido e aquele teu primo que


Trabalha em construção?
Acredito que de ajudante de pedreiro
Não se precisa de formação.

“Muié, como poderia com ele falar,


Se nem uma carta sei fazer
Pra no correio botar.
Na escola um dia eu hei de estudar,
Pra aprender pelo menos direito falar.

“Eu quero mesmo é na beira do velho Chico morar.


Lá comida não há de faltar,
Peixe todo dia eu vou pescar,
E umas hortas eu hei de plantar.

“Ouvi dizer que esse rio é bem grandão


Que tem muita embarcação
Mas eu mesmo nunca vi não,
Quem contou foi meus amigos do sertão.

“Se nós formos pra lá nossa vida vai mudar


Com um rio tão grande assim
Deve muita riqueza gerar
Para quem viver lá.
“Pelo menos sede nós não há de passar
Por que esse tio nunca vai secar!
Ele nasce na beira da Canastra
E chove muito por lá.

“O que ta esperando marido


Toca a mula pra lá!
Mas não é tão fácil assim
Tenho que um pedaço de terra comprar.

“Com a pesca da pra um dinheiro ajuntar,


Com o passar do tempo
A terrinha nós consegue comprar,
E em nossa casa, nós há de morar.

“Então! Ta decidido! Vamos à beira do rio morar,


Nós vamos parar de beber lama,
Banho todo dia nós vamos tomar,
Dormir numa cama bem limpinha,
Dormir e descansar
Nordestina

A seca castiga o sertão


É tanta falta de água
Que matou meu gado
E secou a plantação.

Moro numa rocinha


Bem distante da cidade.
Não tenho muita coisa
Mas respiro ar de verdade.

As águas do velho Chico


Podem se acabar
Preserve o meio ambiente
E água não há de faltar.

Vivo no Sertão
Aqui a seca ta de matar
Vou pegar as minhas trouxas
E na cidade vou morar.

Na caatinga a vida é difícil,


Galhos secos eu vou encontrar.
Vou rezar uma ave Maria
Pra chuva, Deus mandar.

Tenho Orgulho de ser nordestina,


Lugar rico em vegetação.
Eu mato um leão por dia,
Mas não saio daqui não!
Castigos da Terra, Benção da Fé

Esse sertão de uma crueldade impossível,


De um calor insuportável que suportamos,
De uma terra que esconde cadáveres
De plantas e animais que criamos.

Nesse sertão, nascemos para sofrer a vida,


Não temos muito além de um pouco de fé,
E os calos na mão parecem herança
De algum pai chamado José.

Um pai que trabalhou a vida inteira,


Mas a vida no sertão não se move,
Uma vida estagnada na pobreza
“Meu Deus, porque aqui não chove?”

Sem água nada vive e tudo morre,


Nem mesmo o chão agüenta mais,
Abre rachaduras como covas
Onde enterramos quem alcança a paz.

Não temos nem terra que seja nossa,


E a escravidão nunca acabou realmente,
Pois somos nós, os pobres, escravos,
De quem no sorrir ainda tem dente.

De quem na mesa ainda tem comida,


E no filtro ainda tem água para beber.
Nossas crianças já nascem velhas,
Nossos velhos morrem sem viver.

Mas só temos a fé e ela nos tem,


Oramos nos dias de romaria,
Para que consigamos sobreviver
No calor da seca de todo dia.

Nossa senhora tenha pena de nós


Como teve de teu próprio filho,
Eu te imploro apenas chuva
Nessa vida seca que eu trilho.

Você também pode gostar