DISCIPLINA: Teoria da História II DOCENTE: Durval Muniz DISCENTE: Jackson Pedro Da Silva
ÁREAS DE PESQUISA NO CAMPO DA HISTORIOGRAFIA
HISTÓRIA DAS IMAGENS
Uma área da historiografia entre os historiadores, vem de uns tempos pra cá
sendo o motivo de muitas pesquisas e debates. A respeito da importância e legitimação de fontes visuais na historiografia para a construção da história, estabelecendo-se como uma área de pesquisa com inúmeras possibilidades de análise. Utilizando diversos recursos visuais presentes na história para explicar o seu presente não sendo algo originário apenas da atualidade. Dessa forma, percebe-se que desde os tempos pré-históricos os hominídeos nas cavernas já utilizavam esses recursos com as pinturas rupestres feitas nas cavernas, fontes que foram indispensáveis para os historiadores decifrarem como esses povos viviam em determinado período já que a escrita cuneiforme não existia, outro elemento importante que se destaca na contemporaneidade é a indústria do audiovisual, a analise de imagens fílmicas tornaram-se características nesse campo de pesquisa desde o século passado com a revolução tecnocientífica em que tudo hoje pode ser registrado e futuramente virar fonte histórica. Cabe aqui então, analisar todo esse processo de inclusão e a valorização das imagens como fonte de pesquisa no campo da historiografia e alguns autores que escreveram em relação ao uso dessas fontes ressaltando sua relevância para a escrita da história.
Até ganhar um pouco de destaque na historiografia na primeira metade
do século XX como um método de pesquisa, esse recurso imagético passa por muitos desafios. Nesse sentido, as fontes visuais sofreram e ainda sofrem com a desvalorização até mesmo pelos próprios historiadores, muitas vezes. Dessa forma, é importante analisar o desenvolvimento do processo de inclusão das imagens nesse campo de pesquisa, relacionando aos desafios enraizados nessa área, dificultando a utilização de fontes imagéticas, ocorrendo principalmente pela imposição por muito tempo feita do documento escrito como única fonte possível para a escrita da história, o que era comum até esse período do século XX. Primeiramente é importante destacar a influência do positivismo nesse processo, essa corrente historiográfica surgida em meados do século XIX. Apoiando-se no método científico, os historiadores positivistas desse movimento acreditavam em um ideal de neutralidade, ao invés de analisar e criticar os fatos, apenas narravam e observavam os eventos históricos, deixando as fontes se explicarem por elas mesmas. Dois historiadores positivistas, Langlois e Seignnobos afirmaram que “sem documento não há história[...] onde não há documentos não há história” na obra “Introdução aos Estudos Históricos” (1946, p.14) que por muito tempo foi referência para os historiadores e a corrente positivista na época. Essa perspectiva resume bem a essência da primeira corrente historiográfica positivista que surgiu na segunda metade do século XIX, segundo eles a construção da história se daria apenas com documentos escritos, como leis e registros oficiais, essa corrente é conhecida por se limitar apenas a esses documentos, hoje esses métodos de análise não são bem vistos pelos historiadores, mas de maneira nenhuma negando a sua importância para a historiografia Mais tarde, Lucien Febvre afirmou “sem documento, não há história” confrontando diretamente escola metódica, Febvre tinha a intenção de estabelecer que a operação historiográfica fosse baseada em um problema e era nisso que a escola dos Annales em 1930 se preocupava, surgia então entre os historiadores esse conceito da história problema um método de análise de fontes para guiar suas pesquisas. Dessa maneira, rompeu-se esse pensamento positivista quanto a análise limitada de fontes documentais da escola metódica. A noção de documento nesse período amplia-se levando a uma infinidade de interpretações de acordo com o que se perguntava a determinada fonte em determinada época, essa nova noção do conceito de documento determinava que não só documentos oficiais seriam usados como fonte, mas também outros diversos recursos escritos, orais, cultura material ou qualquer tipo de produto do feito no passado e é aqui entra a legitimação da fonte imagética como um meio de adentrar ao passado como qualquer outra fonte. Dessa maneira, a escola dos annales apresenta a capacidade de entender tudo como fonte, ou seja todo o tipo de imagem que são produzidas pela sociedade como pinturas rupestres no período pré-histórico, no mundo antigo repleto de figuras gravadas nas paredes das pirâmides e durante toda a história, a maioria das informações que se sabe desse passado é por causa da ajuda dessas fontes, aquilo que foi representado em determinado período e determinado povo, muitos detalhes das antigas civilizações que os escritos não conseguem explicar as fontes imagéticas tentam suprir essa falta. Os recursos visuais podem conter o que não pode ser explicados de forma escrita. Dessa forma, para interpretá-las é preciso familiarizar-se com os símbolos culturais do que está sendo analisado (BURKE, 2004). Nesse sentido pode-se usar esses recursos como qualquer outra fonte, questionando o uso de recursos visuais como fonte, ela nos permite conhecer o modo de pensar de representar de sentir das sociedades, simbolismos, valores, moral e os papéis sociais através dessas representações ao longo da escrita da história. Que durante muito tempo foram ignoradas pela historiografia e resgatadas nessa história recente do século XX. Evoluindo até a contemporaneidade quando nota-se que até o audiovisual como a indústria cinematográfica por exemplo, torna-se um recurso para revisitar o passado sendo utilizado como fonte também. O uso da fonte imagética é fundamental para analisar o que a imagem revela sobre seu tempo, a sociedade que a produziu e consumiu sem ter essa intenção de que aquilo futuramente viraria uma fonte, como por exemplo em uma obra cinematográfica, deve-se analisar com cuidado o que é realmente daquele período comparando com outras fontes, para que assim possa concluir como se vestiam, como se portavam e etc. Pois, uma única fonte, não é capaz de definir como aquela sociedade vivia. Além disso, se atentar também ao discurso do autor sobre o passado que tipos de recursos ele usou, imagem estática, fílmica em movimento, o que a pessoa que produziu aquilo quis mostrar, é papel dos historiadores analisarem essas obras e se preocuparem mais com esses detalhes para chegar a uma conclusão sobre determinada época. Um autor relevante nessa área e foi um dos pilares para a produção desse texto foi Peter Burke, que destaca o uso da imagética como uma fonte importantíssima para a construção da história. Burke é um historiador inglês do século XX nascido na década de 30. Durante sua carreira, lecionou em outras instituições influentes, além de ter sido professor visitante da Universidade de São Paulo na década de 90, foi responsável pela obra “Testemunha Ocular” onde trás esse debate acerca do uso de recursos visuais e segundo Peter Burke as “Imagens, assim como textos e testemunhos orais, são uma forma importante de evidência histórica. Elas apontam os atos do testemunho ocular.” É enfatizado pelo o mesmo que esse campo de pesquisa deveria ser uma área mais valorizada entre os historiadores.
HISTÓRIA DO IMAGINÁRIO
Partindo dessa análise já feita, as ciências humanas do século XX foram
marcadas por alguns aspectos sofrendo transformações se comparada a historiografia do século XIX, relacionado aos objetos de estudo passando daquilo que era concreto para o simbólico e saindo daquela história socioeconômica e se direcionando para uma história das mentalidades e imaginário dentro da historiografia. Essa nova história cultural surge em decorrência da crise dos métodos paradigmáticos no final dos anos 60, utilizando os termos como “mentalidade” marcando a transição para o “imaginário”. Em todos estes casos sempre estará ocorrendo um diálogo interdisciplinar da História do Imaginário com esses outros campos de estudo. Por motivos análogos, sempre tem ligação com a área da História do Imaginário, se ampliando a uma História das Mentalidades e certamente à História Cultural. Dessa forma, a história do imaginário surge da crítica às teorias como modelos de explicação dos fenômenos sociais no final do século XX. Esses acontecimentos influenciaram o caráter imaginativo do conhecimento histórico e é aqui onde nasce o que conhecemos de história do imaginário, ocorrendo o processo de desmaterialização do objeto da historiografia de fatores empíricos. A análise se desloca em tentar compreender conceito de imaginário ampliando esses aspectos verbais, visuais e mentais. A história cultural se popularizou no final do século XX mais precisamente na década de 80 e de um modo panorâmico esse eixo historiográfico gera muitos debates entre os historiadores por uma parte acreditar em suas raízes antigas e outra parte em raízes recentes, mas concordam que a história cultural acaba sendo originada de diferentes heranças e tradições, essa nova história privilegiou métodos, objetos e domínios diferentes sendo possível abordar a história de diversas maneiras. A história das mentalidades e a história do imaginário apesar de serem conceitos parecidos e dialogando umas com as outras, deve-se ter em mente que cada uma possui características próprias sendo possível distingui-las. Exemplo dessa interdisciplinaridade é a historiografia marxista no campo da história social que destacaram em suas pesquisas não as estruturas sociais e sim o modo de representações, de agir e de pensar da sociedade de uma maneira coletiva. Para José D’Assunção Barros “a história das mentalidades corresponde a processos de longa duração, podendo se expressar ou não em imagens mentais, verbais ou visuais. Já a história do imaginário, traz padrões de representação e as potências de imaginação que se concretizam em imagens verbais, visuais ou mentais e diferente da história das mentalidades, necessariamente não se formam em processos de longa duração”. Dessa forma, o imaginário pode ser formado rapidamente através dessas representações simbólicas que são construídas a partir de um alicerce naquilo que é real. Em linhas gerais, esse imaginário seria a representação instantânea das imagens que vem à mente quando se tem contato com aquele objeto sendo um pensamento coletivo ou individual, podendo remeter-se a outros tipos de imagem em diferentes tempos. Quando se ouve o nome de alguém e dependendo da sua relação com essa pessoa, há uma imagem rapidamente que vem à sua mente, então você criou uma imagem daquela pessoa que pode ser individual ou coletiva e positiva ou negativa, se torna individual por ser algo relativo já que outras pessoas que tiveram contato com essa pessoa talvez tenham uma imagem ruim dela e se torna coletivo quando aquilo faz parte do senso comum se enquadra nesse contexto também aquele conceito de cordialidade brasileira Existe no imaginário social brasileiro uma certa representação genérica que idealiza o país como hospitaleiro, e do brasileiro como um povo acolhedor discorrida por Sérgio Buarque de Holanda na obra “Raízes do Brasil” e esse é apenas um dos vários exemplos que podem explicar essa área dependendo da abordagem. A história do imaginário vai analisar esses produtos da imaginação humana, sendo um conjunto de idéias que prevalecem e explicam a sociedade podendo criar imagens até mesmo do que não existem. Esse imaginário engloba a interdisciplinaridade dessas conexões, esse despertar mental acontece pela imagem ser detentora de memória e tendo o contado com esse objeto ocorre o despertamento dos sentidos podendo associa-lo ao som, cheiro ou uma cor e vice-versa já que ao ter contato com esses sentidos pode nos remeter a uma imagem. Desse modo esse campo de estudo da historiografia é muito vasto podendo ser abordado de inúmeras maneiras. Um dos autores relevantes nessa área e precisa ser enaltecido aqui é o historiador José D’Assunção Barros, com um vasto acervo de pesquisa em diversas áreas da Teoria da História, Filosofia da História, Metodologia e Historiografia, relacionando a História e as diversas formas de expressão artísticas ele foi responsável pelo artigo “Imaginário, Mentalidades e Psico- história – uma discussão historiográfica” onde de maneira super didática aborda esses diferentes campos da historiografia e foi fundamental para a produção desse texto, na pesquisa o autor traça linhas diferentes e não tão distantes principalmente entre a mentalidade e o imaginário e como elas se mostram na sociedade, tornando mais fácil a compreensão do tema.
REFERÊNCIAS
SEIGNOBOS, Charles; LANGLOIS, C. Introdução aos Estudos Históricos.
Colaboração com, 1946. BURKE, Peter. Testemunha ocular: o uso de imagens como evidência histórica. SciELO-Editora UNESP, 2017. BARROS, José D.’Assunção. Imaginário, Mentalidades e Psico-História– uma discussão historiográfica. Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário. Labirinto. UFR, 2005. DE HOLANDA, Sérgio Buarque; CÂNDIDO, Antônio; DE MELLO, Evaldo Cabral. Raízes do brasil. J. Olympio, 1936.