Você está na página 1de 3

Escola Básica e Secundária Anselmo de Andrade

Disciplina: História A

O Populismo:- análise de um artigo do Jornal Expresso

Atualmente, o populismo é um tema que tem vindo a suscitar debates


devido ao aparecimento de alguns líderes mundiais e partidos, sejam eles de
esquerda ou direita, que se apresentam como populistas, ou seja, líderes
com boas intenções junto do povo, que dizem o que todos querem ouvir.
Originalmente, o conceito de populismo surgiu nas primeiras décadas
do século XX após a 1ª Guerra Mundial como resposta ao fracasso das
democracias liberais por não terem conseguido evitar a guerra e ao
alargamento da União Soviética e da sua influência na Europa. O populismo
fomenta tanto democracias como ditaduras, e é característico não só pelos
seus líderes carismáticos e ‘’do povo’’, como também pela metodologia
demagógica e maniqueísta que assume, além das estratégias de apelo às
massas. A retórica demagógica resume-se, no fundo, pela forma de como os
líderes abusam da democracia e sobrevalorizam a preponderância do poder
popular nela. Muito associada a isto, o apelo às massas surge da necessidade
destes líderes de planear e fazer os seus discursos e campanhas de
propaganda em função das coisas que a grande parte da população quer
ouvir. Por fim, o caráter maniqueísta destes governos populistas diz respeito
a como muitos deles recorrem a estratégias em que unem maiorias ao
utilizar como bode expiatório minorias geralmente problemáticas ou não tão
bem aceites perante uma sociedade de valores tradicionais e conservadores.
Ou seja, insinuam um conflito constante entre dois ou mais grupos sociais
antagónicos, que nunca poderão se entender. Estes políticos populistas
atribuem toda a culpa dos males da sociedade ao lado e aos grupos que se
opõe, com o intuito de unir a população contra um ‘’inimigo invisível’’ em
comum. Esses líderes normalmente recorrem a generalizações redutoras do
tal inimigo como ‘’eles são todos uns ladrões” e “eles são todos traidores e
corruptos”.
O populismo, segundo os professores Cas Mudde e Cristobal Rovira
Kaltwasser é uma ideologia de baixa densidade que por si só não é suficiente
para que seja criado um partido em cima dele, pelo que então precisa de ser
acompanhado de outras ideologias e teorias políticas como o fascismo e o
marxismo. Em oposição, autores como o do artigo do Expresso em causa,
defendem que o populismo por si só não tem unidade nem densidade o
suficiente para ser considerado uma ideologia sequer. Para o autor o
populismo é, portanto, uma estratégia política dos líderes populistas que
enquadra um conjunto de práticas políticas que têm por base os valores e
ideologias dos líderes e respetivos movimentos.
A doutrina política populista desenvolveu-se através de várias fases.
Como já mencionado anteriormente, começou a ganhar terreno após a
Primeira Guerra Mundial com o surgimento de regimes fascistas e
comunistas que assentavam em noções distorcidas de nacionalismo e
recorriam à censura e máquina de propaganda, a milícias paramilitares e
medidas repressivas. Após a Segunda Guerra Mundial, ou seja, durante o
período da Guerra Fria, as ideologias e partidos populistas tanto de esquerda
como de direita vulgarizaram-se no continente americano, e espalharam-se
ainda um pouco pela África e a Ásia. Na última metade do século XX,
surgiram populistas esquerdistas com inspirações marxistas como, Hugo
Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia assim como também o Coronel
Perón na Argentina, os quais declararam-se inimigos dos imperialistas e das
elites corruptas. A maior parte dos regimes baseados no populismo surgem
e desenvolvem-se justamente em contexto de crise e democracia, pelo que
esta garante liberdade de expressão que é aproveitada pelos líderes e
respectivos partidos para propagar as suas ideias.
Agora no século XXI com o agravamento da crise económica os
populismos voltaram a surgir, apesar de já não estarem associados a forças
paramilitares e objetivos de eliminação racial.
Desta vez esses regimes populistas estão também restringidos a se
dirigirem não a massas ignorantes mas sim a cidadãos com direitos políticos.
Dentro dos líderes populistas mundiais que surgiram nos últimos anos,
destacam-se Donald Trump, ex-presidente dos EUA e Jair Bolsonaro, o atual
presidente do Brasil. Ambos são políticos da ala de direita e destacam-se
pela sua forma de governo e personalidades impulsivas, em detrimento da
reflexão. Ambos bebem inspiração do darwinismo social com a lei do mais
forte e são apoiados pelas massas e venerados por estas como se fossem os
salvadores dos ‘’cidadãos de bem’’ ou ‘’good americans’’. Estes cidadãos
veriam-se ameaçados perante um ou mais grupos minoritários
denominados de ''inimigos’’ que colocariam em causa a sociedade
tradicional perfeita. Ressalta-se ainda a ideia que ambos utilizam de forma
consciente e estratégica, um linguajar anti-democrático, misógino (tendo
como exemplo o episódio em que Donald Trump afirmou ‘“Se a Hillary
Clinton não consegue satisfazer o seu marido, o que a faz pensar que
consegue satisfazer a América?”), de desrespeito às minorias étnicas e a
recorrência ao discurso de ódio para chamar a atenção tanto da mídia como
dos seus apoiantes. Na sua prática política, os dois ofendem as tradições
institucionais da democracia, são anti-globalistas, investem no uso de armas
e glorificam fortemente o passado, ilustrado no facto do slogan principal de
Trump ser “Make America Great Again”.
Por fim, ambos utilizam as redes sociais, principalmente o Twitter,
como modo de difusão das suas opiniões e planos de governo, sem refletir
antes sobre o seu alcance, influência e papel como representantes da
democracia do próprio país. Desta forma, uma boa parte das publicações e
dos discursos destes políticos que mais ganham repercussão passam a ser
percebidos como bastante ignorantes perante a comunidade internacional
e a própria camada mais elucidada da população. “Infelizmente, o Obama
fez um trabalho tão pobre enquanto presidente, que vocês não verão outro
presidente negro durante gerações!”. Este é um exemplo entre muitos
outros que existem de um tweet de teor racista publicado por Donald
Trump, o qual deveria agir como representante dos Estados Unidos que,
historicamente, é a mãe das democracias liberais e do progresso social, pelo
menos na luta contra o racismo.
Regimes populistas que se consumam em ditaduras fazem-se
acompanhar de repressão e controlo político, militar e social, além de uma
máquina de propaganda e por um culto à figura do líder ou chefe. Quando o
populismo se torna institucionalizado pelo seu líder, o conceito desaparece
e ganha um outro nome como fascismo ou marxismo, mantendo-se ainda
assim práticas a que se podem denominar de populista.
Assim, os partidos e facções com bases populistas servem de obstáculo
à democracia pelo que suscitam conflitos com os seus valores institucionais
e colocam em causa o direito à liberdade de expressão, à dignidade, à
separação dos poderes políticos e à participação do cidadão na vida política,
entre outros.
Conclui-se então que a democracia mesmo sendo um aparelho político
imperfeito e vulnerável à corrupção (assim como todos os outros), é aquele
que mais se aproxima daquilo que a maioria dos cidadãos considera como
desejável e que melhor preserva as suas liberdades individuais.

12ºD
Andreia Croitoru nº.5
João Santos nº.13

Você também pode gostar