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DIREITO PENAL

Interpretação da Lei Penal


Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online

INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

A interpretação da lei penal pode ser:


1. Quanto ao sujeito;
2. Quanto aos meios ou métodos;
3. Quanto ao resultado.

QUANTO AO SUJEITO

Autêntica: quando a interpretação é realizada pela própria lei.


Exemplo: conceito de funcionário público.

CP, Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

Judicial: é a interpretação feita pelo juiz dentro do processo. Caso essa inter-
pretação seja feita pelo juiz fora do processo, ela não é judicial, mas sim doutrinária.
Exemplo: uma entrevista de um juiz do Supremo que dá sua opinião sobre
determinado caso.

Doutrinária: interpretação realizada pelos doutores do direito penal.

Exposição de motivos e Lei de Introdução:


A exposição de motivos é interpretação doutrinária, pois não tem força de lei. Nor-
malmente quem escreve a lei realiza uma exposição de motivos sobre essa lei (uma
explicação sobre ela). A Lei de Introdução é aquela que interpreta uma lei posterior.

Quanto aos meios/métodos a interpretação pode ser:


• Literal: quando a interpretação segue a letra da lei;
• Finalística/teleológica: a própria lei dispõe que ela deve ser interpretada
de acordo com os fins a que ela se destina. Um exemplo dessa situação
encontra-se no Estatuto do Idoso:
ANOTAÇÕES

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Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade
não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei n. 9.099,
de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do
Código Penal e do Código de Processo Penal. (Vide ADI 3.096-5 - STF)

 Obs.: se o crime possui pena de até dois anos, há uma série de benefícios que
podem ser aplicados ao autor do crime. Entretanto, conforme dispõe o
Estatuto do Idoso, se o crime é contra o idoso, o benefício para o autor
será se a pena for até quatro anos. Sobre esse assunto, o STF dispôs
que somente o procedimento (que é mais célere) se aplica nos casos dos
crimes contra o idoso e não os benefícios previstos na Lei n. 9.099/1995.

• Histórica: busca o porquê de a lei ter sido feita, ou seja, a história da lei.
De acordo com os parâmetros de criação dessa lei é feita interpretação;
• Sistemática: é aquela que interpreta o sistema no qual a norma está inse-
rida, e não a norma de forma isolada. Um exemplo que pode ser cobrado
em prova é o art. 159 do CP: ao observar o art. 158 (crime de extorsão),
percebe-se que a lei versa que o crime de extorsão depende da obtenção
de vantagem econômica. Contudo, o art. 159 traz a seguinte redação:

Art. 159. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena – reclusão, de oito a quinze anos.

Assim, é possível ter como primeira interpretação que a vantagem descrita


no art. 159 pode incluir até mesmo a vantagem não econômica. Tal interpretação
não é a majoritária. De acordo com a maioria, apesar de o art. 159 prever qual-
quer vantagem, esse crime está previsto no capítulo dos crimes contra o patri-
mônio; logo, “qualquer vantagem” deve ser de ordem econômica.

INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO

Exemplo: uma norma pode ser interpretada de duas formas: A e B. Nesse caso,
se por meio de uma ADI a interpretação B é considerada inconstitucional, é possível
realizar uma interpretação conforme para considerar válida somente a interpretação A.
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Assim, diz-se que uma determinada norma só é válida se interpretada con-


forme a Constituição Federal.

INTEPRETAÇÃO PROGRESSIVA

É interpretação que se altera de acordo com as mudanças fáticas ocorridas na


sociedade. Um exemplo é o controle constitucional difuso (mutação constitucional).

INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA/AMPLIATIVA/EXTENSIVA

No direito penal incriminador, em regra, interpreta-se restritivamente. Um


exemplo de interpretação ampliativa é quando a doutrina entende que, nos crimes
de ação penal privada, além do cônjuge, é possível considerar o companheiro.
Um exemplo de interpretação restritiva está no art. 1º, parágrafo único, da Lei
n. 8.072/1990: consideram-se também hediondos o crime de (...) posse ou porte
ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 da Lei n. 10.826, de 22
de dezembro de 2003. Contudo, o art. 16 caput dispõe o crime e o seu parágrafo
único dispõe as condutas equiparadas. Assim, em uma interpretação restritiva,
seria considerado crime hediondo somente o que é previsto no caput.

CPP, Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA X ANALOGIA

 Obs.: a interpretação analógica não possui sinônimo, já a analogia possui sinô-


nimos. A interpretação analógica é forma de interpretação, já a analogia
é forma de integração (suplemento). Na interpretação analógica existe lei
para ser interpretada, já na analogia não existe lei a ser interpretada, mas
aplica-se uma lei semelhante (trata-se de uma lacuna legislativa).

Exemplo de interpretação analógica:

CP, Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:


I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
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No inciso I (acima), pode-se inferir que paga ou promessa de recompensa


são motivos torpes. Para se chegar aos demais motivos torpes, é preciso inter-
pretar a lei.

CP, Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:


III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insi-
dioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

No inciso III, a lei dispõe vários casos e, por fim, uma fórmula genérica. Isso
é uma interpretação analógica.

 Obs.: de acordo com o STF, o homicídio só é qualificado mediante paga ou pro-


messa de pagamento para aquele que recebeu ou receberia valores para
cometer o crime. Já aquele que paga (mandante) responde por outro tipo
de qualificadora.

A interpretação analógica não possui sinônimo, logo a integração analógica,


o suplemento analógico e a aplicação analógica são sinônimos de analogia.
No direito penal, a analogia in malam partem é vedada, mas admite-se a ana-
logia in bonam partem. A aplicação analógica pode ser in malam partem ou in
bonam partem.

CPP, Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Analogia é utilizar algo onde falta uma lei. Se for utilizada uma lei semelhante,
tem-se analogia legis. Caso sejam utilizados os princípios gerais do direito,
tem-se a analogia iuris. No direito processual penal, admitem-se as duas formas
de analogia. Além disso, admitem-se tanto a analogia in malam partem quanto
in bonam partem.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1. Pela analogia, meio de interpretação extensiva, busca-se alcançar o sentido


exato do texto de lei obscura ou incerta, admitindo-se, em matéria penal,
apenas a analogia in bonam partem.
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Comentário
A analogia não é a interpretação, muito menos extensiva. Trata-se de um meio
de integração (suplemento na ausência de lei).

GABARITO

1. E

Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a
aula preparada e ministrada pelo professor Wallace França.

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