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suprincípio da adequação58, uma vez que a medida (ou sanção) aplicada pela legislação não

seria apta a produzir os efeitos que pretenderia alcançar, ou seja, evitar o desrespeito à honra,
dignidade e intimidade das crianças e adolescentes objeto da notícia59.

Em segundo lugar, sublinha-se recente e célebre julgamento do Supremo


Tribunal Federal quanto à validade da Lei nº 5.250 de 1967 (conhecida como “Lei de
Imprensa”), que versava sobre as limitações à liberdade de informação jornalística. Cuidava-
se, em verdade, de Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental proposta pelo
Partido Democrático Trabalhista – PDT, em que se discutia o regime constitucional da
liberdade de imprensa60.

Alegava-se uma incompatibilidade entre a legislação infraconstitucional


supracitada – anterior ao advento da Constituição Federal de 1988, daí o cabimento da via
eleita – e os dispositivos constitucionais da liberdade de manifestação do pensamento, de
informação, de expressão artística, científica, intelectual e comunicacional, que, por
emanarem do princípio da dignidade da pessoa humana, seriam superiores aos bens de
personalidade.

O acórdão, da lavra do Eminente Ministro Relator Carlos Ayres Britto,


abordava inicialmente – e essa a parte que ora nos interessa - o direito à plena liberdade de
imprensa como categoria jurídica proibitiva de qualquer espécie de censura prévia.
Tangenciando, pois, a relação de inerência entre a liberdade de imprensa e o chamado
“pensamento crítico”, admitiu-se que o exercício concreto da primeira asseguraria ao
profissional de jornalismo o direito de criticar qualquer pessoa, ainda que em tom severo,
notadamente em se tratando de agentes governamentais. Seria, portanto, inválida eventual

58
Do ponto de vista acadêmico, parte da doutrina publicista utiliza a terminologia “subprincípio da idoneidade”
para designar essa primeira parte do exame da proporcionalidade. V. sobre o ponto, NOVAIS, Jorge Reis. As
restrições aos direitos fundamentais não autorizadas pela constituição. Coimbra: Coimbra, 2003, pp. 738 e
seguintes.
59
SCHREIBER, Simone. A Publicidade Opressiva de Julgamentos Criminais. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.
127: “(...) Ilmar Galvão acolheu a argüição de inconstitucionalidade do dispositivo, por entender que a medida
restritiva não se prestava ao propósito de assegurar às crianças e aos adolescentes o direito à dignidade e à não-
exploração, pois seria adotada apenas após o fato, e permitiria a vedação de veiculação de programas não
ofensivos, que não possuíssem nenhuma relação com o propósito alegado (ou seja, o Ministro fez um exame de
adequação – primeira etapa do teste de proporcionalidade – para constatar que a restrição à liberdade de
expressão não era adequada para realizar o direito contraposto) (...)”.
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ADPF 130 – DF (Distrito Federal) – Relator Ministro Carlos Britto, julgamento em 30 de abril de 2009.

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