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Organização do

Trabalho Educativo em
Ambiente Não Escolar
Profª Mônica Conzatti

2014
Copyright © UNIASSELVI 2014

Elaboração:
Prof. Profª Mônica Conzatti

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

370.733
C882o Conzatti, Mônica
Organização do Trabalho Educativo em Ambiente
não Escolar / Mônica Constate. Indaial: Uniasselvi, 2014.

259 p.
ISBN 978-85-7830-852-0

1. Prática de Ensino. 2. Pedagogia. I. Centro


Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!

A educação direcionada aos ambientes não escolares objetiva ampliar


as possibilidades de atuação do pedagogo, visando também desmistificar o
olhar reducionista que a este foi empregado.

Na concepção da pedagogia diferenciada e na busca dos sentidos


relacionados aos conteúdos a serem ministrados, percebemos a importância
do pedagogo, enquanto profissional sensível, mediante as diversidades
apresentadas pelos educandos. Ao tratarmos das diversidades, estamos
nos referindo a uma vasta manifestação cultural que faz parte da formação
de cada sujeito envolvido neste processo, sendo a educação uma espécie
de ponte que liga o indivíduo ao mundo que o cerca em seus campos de
manifestação, como a família, a escola, a comunidade, as organizações, entre
outras, que fazem parte de seu cotidiano. Para tanto, cabe-nos mostrar que o
pedagogo pode desenvolver seu trabalho independentemente da idade dos
que necessitam da mediação dos seus saberes.

Este Caderno de Estudos objetiva ampliar a visão relacionada à


organização do trabalho educativo em ambientes não escolares e estará
acompanhando-o(a) ao longo da sua caminhada por meio das mais diversas
possibilidades que vão desde a educação de jovens e adultos (mediante os
conceitos de andragogia e heutagogia), até a pedagogia aplicada às políticas
públicas, às empresas, aos hospitais e à educação carcerária.

A cada nova unidade de estudo, precisamos estar cientes de que


todos os espaços de atuação lidam com um coletivo individualizado, ou seja,
independentemente do lugar em que o pedagogo atuará, estará carregado de
crenças, metodologia própria e diretrizes norteadoras, além de contar com
uma equipe multiprofissional já instaurada em cada um dos espaços.

Sendo o pedagogo um profissional preparado para o trabalho em


equipe, é válido lembrar que os espaços não escolares, em sua maioria,
contam com profissionais de outras áreas, implicados na busca do bem-estar
e desenvolvimento dos sujeitos que, muitas vezes, fragilizados, possuem
condições de crescimento social.

Acreditando que educar é amar, faço votos que seu amor pela
educação rompa as mais resistentes barreiras, em busca da promoção da
qualidade de vida e cidadania, a todos que a ela têm direito.

Professora Mônica Conzatti

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES
NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS ................................ 1

TÓPICO 1 – A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL .............. 3


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
2 PHILIPPE PERRENOUD: UM NOME DE EXPRESSÃO DA PEDAGOGIA
DIFERENCIADA ............................................................................................................................... 3
3 A PEDAGOGIA DIFERENCIADA ................................................................................................ 5
4 BREVE INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ........................................................ 9
5 CONCEITUANDO A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ................................................................. 12
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 18

TÓPICO 2 – CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES .............................................. 19


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19
2 PEDAGOGIA: TEORIA E PRÁTICA ............................................................................................. 19
3 OUTROS SENTIDOS PARA EDUCAÇÃO .................................................................................. 25
4 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE A EDUCAÇÃO FORMAL, INFORMAL
E NÃO FORMAL ............................................................................................................................... 28
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 32
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 34

TÓPICO 3 – A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO ........................................... 35


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35
2 TODOS POR UM: O GRUPO NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE .................................... 35
3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO PEDAGOGO ......................................................... 41
3.1 O PAPEL DO PEDAGOGO NA ATUALIDADE . .................................................................... 44
4 ÉTICA APLICADA À PEDAGOGIA – UMA BREVE REFLEXÃO .......................................... 46
5 O PROFESSOR NA PÓS-MODERNIDADE ................................................................................ 50
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 55
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 56

TÓPICO 4 – A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA


CONSTRUÇÃO DOS SABERES ................................................................................ 57
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 57
2 A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NO ENSINAR E APRENDER ....................................... 57
3 AS EXPECTATIVAS NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO .................................................... 60
4 O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DA AUTOESTIMA DA CRIANÇA ........... 65
5 A DIDÁTICA ASSERTIVA: UM NOVO CAMINHO PARA O TRABALHO DO
PROFESSOR ....................................................................................................................................... 69
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 73
RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 76
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 77

VII
UNIDADE 2 – ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ........................ 79

TÓPICO 1 – DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ........... 81


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 81
2 A CULTURA E SUAS CULTURAS ................................................................................................. 81
3 EDUCANDO PARA A DIVERSIDADE ........................................................................................ 89
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 95
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 96

TÓPICO 2 – INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO


FORMAL .......................................................................................................................... 97
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97
2 O SIGNIFICADO DO APRENDER E A DEFINIÇÃO DE EDUCADOR ............................... 97
3 O ESTUDO ATIVO E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ............................................................. 99
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 109
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 110

TÓPICO 3 – ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA ............................................................................ 111


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 111
2 A FASE ADULTA DO DESENVOLVIMENTO ............................................................................ 111
3 PEDAGOGIA OU ANDRAGOGIA ............................................................................................... 116
4 HEUTAGOGIA, QUE MODALIDADE DE ENSINO É ESTA? ................................................ 120
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 122
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 125
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 126

TÓPICO 4 – O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO,


ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO ...................................................................... 127
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 127
2 O TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇAO INTEGRAL NO BRASIL ....................... 127
3 O TRABALHO PEDAGÓGICO A PARTIR DA VISÃO HOLÍSTICA ................................... 131
3.1 DEFINIÇÕES, CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES DA EDUCAÇÃO
HOLÍSTICA ................................................................................................................................... 133
4 O TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA HUMANISTA ...................................... 134
5 AS BASES DA METODOLOGIA ANDRAGÓGICA PARA A APRENDIZAGEM ............. 137
6 ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
HEUTAGÓGICO ............................................................................................................................... 140
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 142
RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 150
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 151

UNIDADE 3 – PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES ............. 153

TÓPICO 1 – A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS


PÚBLICAS ....................................................................................................................... 155
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 155
2 UM PANORAMA SOBRE HISTÓRIA E ATUALIDADE DA PEDAGOGIA
SOCIAL ................................................................................................................................................ 155
2.1 A PEDAGOGIA SOCIAL NA ALEMANHA . .......................................................................... 158
2.2 IDENTIDADE E PERSONALIDADE DA PEDAGOGIA SOCIAL ....................................... 161
2.3 A PEDAGOGIA SOCIAL E A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO SOCIAL NO BRASIL . ........ 164
3 A INSERÇÃO DA PEDAGOGIA SOCIAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS ............................ 166

VIII
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 171
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 172

TÓPICO 2 – PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE


FRAGILIDADE .............................................................................................................. 173
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 173
2 A CRIANÇA HOSPITALIZADA .................................................................................................... 173
3 A PEDAGOGIA HOSPITALAR ...................................................................................................... 177
4 A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO HOSPITALAR: POSSIBILIDADES E DESAFIOS ........... 179
5 A BRINQUEDOTECA ....................................................................................................................... 183
5.1 OS BRINQUEDOS ........................................................................................................................ 194
6 A BRINQUEDOTECA HOSPITALAR ........................................................................................... 197
7 COMO FALAR SOBRE A MORTE PARA AS CRIANÇAS? ..................................................... 200
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 207
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 208

TÓPICO 3 – PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL ........................................................................ 209


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 209
2 O PAPEL DO SETOR DE RECURSOS HUMANOS NO TREINAMENTO DE
PESSOAL ............................................................................................................................................. 209
3 O PEDAGOGO NAS ORGANIZAÇÕES ..................................................................................... 216
3.1 TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO: O ESPAÇO DE TRABALHO DO
PEDAGOGO ORGANIZACIONAL .......................................................................................... 220
3.2 A RELAÇÃO ENTRE PESSOAS E ORGANIZAÇÃO ............................................................. 228
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 234
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 236

TÓPICO 4 – PEDAGOGIA CARCERÁRIA ..................................................................................... 237


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 237
2 BREVE HISTÓRICO DAS PRISÕES ............................................................................................. 237
3 LEGISLAÇÃO APLICADA À EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM RECLUSÃO ..................... 238
4 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS APLICADA AO CÁRCERE PRIVADO ............ 244
5 O PEDAGOGO E A EDUCAÇÃO CARCERÁRIA: DESAFIOS APLICADOS A
ESTE CONTEXTO ............................................................................................................................. 247
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 249
RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 251
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 252
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 253

IX
X
UNIDADE 1

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO
ESCOLARES: TRABALHANDO OS
CONCEITOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• conhecer o conceito e a aplicação da Pedagogia Diferenciada de Philippe


Perrenoud;

• identificar os espaços educativos em ambientes não escolares a partir da


compreensão do conceito de educação não formal;

• reafirmar a identidade do pedagogo diante do perfil de atuação direciona-


do à educação não formal;

• traçar a importância do estabelecimento dos vínculos entre aluno e professor.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles,
você encontrará atividades que o(a) ajudarão a internalizar os conhecimentos
estudados.

TÓPICO 1– A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO


FORMAL

TÓPICO 2 – CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

TÓPICO 3 – A IDENTIDADE DO PEDAGOGO EM AMBIENTES NÃO


ESCOLARES

TÓPICO 4 – A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A
EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

1 INTRODUÇÃO
Para iniciarmos o estudo relacionado à educação não formal, faz-se necessário
termos clareza de alguns conceitos básicos, que darão suporte a esta modalidade
educativa. Para tanto, discutiremos, neste primeiro tópico, alguns aspectos que
marcam a importância da educação não formal na atuação do pedagogo, bem como
a contribuição na fortificação das relações entre a escola e a comunidade.

2 PHILIPPE PERRENOUD: UM NOME DE EXPRESSÃO DA


PEDAGOGIA DIFERENCIADA
Para compreendermos o que virá a seguir, passaremos a conhecer um
pouco mais sobre o estudioso Philippe Perrenoud e sua contribuição no que
condiz aos aspectos relevantes da Pedagogia Diferenciada.

FIGURA 1 – PHILIPPE PERRENOUD

FONTE: Disponível em <http://pedagogiaunicidiesdeguaianas.


spaceblog.com.br/624060/PERRENOUD-PHilLIPE-ENSINAR-AGIR-
NA-URGENCIA-DECIDIR-NA-INCERTEZA/>. Acesso em: 13 jan. 2014.

3
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

De acordo com Paula (2011), Philippe Perrenoud é sociólogo e antropólogo


com doutorado nestas duas áreas. Sua atuação concentra-se às relacionadas ao
currículo, práticas pedagógicas e instituições de formação, nas faculdades de
Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Para Perrenoud,
o sucesso e o fracasso escolar não são exclusivos ao ambiente escolar, ou seja,
o estudioso considera que cada aprendizado objetiva preparar os alunos para
enfrentarem as etapas subsequentes ao currículo escolar, tornando o aluno capaz
de mobilizar suas aquisições escolares fora do ambiente escolar, tornando assim
qualquer ambiente pedagógico, independente de quaisquer situações.

Perrenoud, conforme Paula (2011), reforça que o problema da transposição


didática ou da construção das competências, vem de encontro a uma proposta
norteadora em relação ao desenvolvimento significativo do potencial dos alunos,
tanto dentro, quanto fora do ambiente escolar. Para ele, competência significa
capacidade de agir de maneira eficaz em um determinado tipo de situação,
apoiada em conhecimento, mas sem limitar-se a ela; lembrando que o mundo
do trabalho se apoia na noção de competência e que a escola deve seguir estes
passos no intuito de buscar a modernização e a inserção, na corrente de valores
da economia de mercado.

Em suas obras, Perrenoud abarca o conceito de competência, porém


enfoca que não há uma definição clara e objetiva do seu significado. Para este
estudioso existem três aspectos do que pode vir a ser competência: desempenho,
hábito e sucesso.

Perrenoud em sua proposta, enfatiza também, que quando os professores


aceitam a ideia de competência, consideram-se encarregados de dar conhecimentos
básicos aos seus alunos, pensando que antes de mobilizá-los em determinada
situação, devem prestar-lhes informações básicas e metódicas no contexto do saber.
Desta forma o estudioso inicia a discussão sobre uma das suas linhas de trabalho a
transposição didática, assunto que trataremos no decorrer de nossos estudos.

4
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

NOTA

Acadêmico(a)! A fim de esclarecer uma das áreas de formação deste estudioso,


veremos o conceito de Antropologia, que é a ciência que estuda o homem e as implicações
e características de sua evolução física (Antropologia Biológica), social (Antropologia Social),
ou cultural (Antropologia Cultural). A palavra antropologia deriva das palavras gregas antropos
(humano, ou homem) + logos (pensamento ou razão). Esta é uma ciência tardia que surgiu,
ou se constituiu como disciplina científica, em meados do século XIX, a partir das descobertas
de Darwin e sua teoria evolucionista, quando se concentrava na elaboração de teorias sobre
a evolução do homem, sociedade e cultura. O homem não era mais fruto da criação Divina,
então os cientistas começaram a procurar pela sua origem: o chamado “elo perdido”, que
ligaria o homem moderno a seus ancestrais hominídeos. Com o tempo, os estudos sobre
o homem ganharam forma, os cientistas começaram a se interessar pelos grupos humanos
primitivos e seus costumes, cultura e características, passando a entender o homem não
mais como uma criação de Deus, mas da natureza.

FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/ciencias/antropologia/>. Acesso em: 13


jan. 2014.

3 A PEDAGOGIA DIFERENCIADA
Antes de abordarmos a pedagogia aplicada aos ambientes não formais,
vamos concentrar nossos estudos na pedagogia diferenciada como uma maneira
de transpormos nossa visão além dos métodos clássicos.

Para Perrenoud (2000) diferenciar (no aspecto social) significa lutar pelas
desigualdades diante do espaço escolar, objetivando elevar o nível do ensino.
Diante deste pressuposto, nós pedagogos, devemos ir muito além dos conteúdos,
valorizando as experiências vivenciadas pelos alunos, objetivando acrescentar
também estes conhecimentos, inserindo-os no currículo.

O pedagogo que apresenta sensibilidade aos níveis de fracasso escolar,


preocupa-se com a forma de ajustar suas aulas às características individuais dos
alunos, buscando novos métodos de ensino que respeitem a diversidade.

Permanecendo rígido aos métodos tradicionais e posteriormente


aplicando-os da mesma forma a todos os alunos, o pedagogo estará sendo
indiferente às diferenças. Perrenoud (2000) deixa claras as consequências a partir
do momento em que o pedagogo:

a) Evidencia o êxito daqueles que dispõem de maiores condições e acesso a


estímulos culturais, dos códigos, do nível de desenvolvimento, das atitudes,
dos interesses e apoios que permitem um aprendizado mais ágil que refletem
nas notas das provas.
b) Provoca o fracasso nos que não dispõem das mesmas condições, convencendo-
os de que são incapazes de aprender, fazendo-os acreditar que o fracasso é
sinal de insuficiência pessoal mais do que da inadequação da escola.

5
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

Acadêmico(a)! Você já presenciou ou vivenciou estas situações enquanto


frequentava a escola regular? Saiba que a forma como o sucesso e o fracasso escolar é
exposta pelos professores, influenciam diretamente na construção da personalidade
do estudante, principalmente no que tange à sua autoestima. Procure refletir sobre
sua postura em relação a esta problemática enquanto futuro educador.

DICAS

O filme Escola de Rock retrata esta questão do reforçamento realizado pelo


professor referente ao sucesso ou fracasso escolar.

Dewey Finn (Jack Black) é um músico que acaba de ser demitido de sua banda. Cheio de
dívidas para pagar e sem ter o que fazer, ele aceita dar aulas como professor substituto
em uma escola particular de disciplina rígida. Logo Dewey se torna um exemplo para seus
alunos, sendo que alguns deles se juntam ao professor para montar uma banda local, sem o
conhecimento de seus pais. Assista!

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-47016/>. Acesso em: 13


jan. 2014.

Perrenoud (2000) reforça que a pedagogia diferenciada está relacionada à


didática, ao questionamento sobre o sentido do trabalho escolar, à relação com os
outros saberes e à utilização dos conteúdos ministrados.

É bem possível que você já se questionou, no período em que frequentou


a escola regular, sobre a importância de aprender fórmulas matemáticas,
composições químicas, espaços geográficos e até mesmo fatos históricos,
buscando um sentido maior do que as reproduções mecanizadas nas avaliações.

Em relação às dúvidas a respeito da aplicabilidade das informações,


Perrenoud (2000) aponta que é preciso refletir sobre duas questões:

6
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

• A primeira refere-se à finalidade da informação a ser repassada, pois se


considerarmos que o objetivo da escola é influenciar o mundo, os conhecimentos
não transferíveis não despertam interesse. Portanto, para que serve a
democratização do acesso ao saber, se não for mobilizável fora da escola?
• A segunda refere-se à didática, sendo que a falta de sentido relacionado às
aprendizagens origina uma parte das dificuldades deste contexto, pois
traz como consequência uma visão limitada sobre dois campos de grande
significação: as relações entre os saberes escolares e as práticas sociais.

A educação nos provoca a pensarmos nos sentidos relacionados aos


conteúdos escolares e, à consciência do trabalhar objetivando favorecer a
transferência de conhecimentos no intuito de desenvolver competências. Este
posicionamento nos direciona a outra forma de atuarmos, ou seja, buscar e
transferir os significados do que queremos ensinar. Podemos arriscar dizer, que
uma parcela dos alunos em fracasso escolar resiste às aprendizagens escolares,
por não verem sentido nas informações que o educador fornece.

Perrenoud (2000, p. 55) reforça esta questão ao comentar que

O melhor a ser dito é que não se deve esperar dominar um saber para
perguntar-se o que se poderia fazer com ele! Se uma parte dos jovens
adultos oriundos da escolaridade obrigatória lê com muita dificuldade,
se alguns correm o risco de tornarem-se analfabetos funcionais, não é
apenas por não transferir um savoir-faire adquirido, é simplesmente
por não tê-lo realmente construído durante sua escolaridade.

NOTA

Acadêmico(a)! A expressão savoir-faire significa habilidade para executar algo.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioweb.com.br/savoir-faire/>. Acesso em: 21 jan.


2014.

Neste sentido, o educador necessita estar atento ao constatar que o aluno


está aquém do esperado para sua idade ou formação, na execução de alguma
atividade, para que não corra o risco de rotulá-lo precipitadamente, como incapaz.

É interessante questionar o aluno sobre como foram formadas as bases


que sustentam aquela atividade, por exemplo: o aluno com dificuldades em
matemática pode não ter compreendido as operações fundamentais consideradas
simples, como adição, subtração, divisão e multiplicação, sendo esta a causa de sua
dificuldade em avançar nos conteúdos mais complexos em relação à disciplina.

7
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

Um educador comprometido com o processo de aprendizagem, fará


o possível para que este educando possa avançar na aprendizagem, buscando
métodos alternativos como: aulas extras, encaminhamento a outros profissionais,
formulação de uma metodologia mais lúdica e realista etc., evitando movimentar-
se de forma desnecessária na busca de culpados pela condição do aluno.

É neste momento que Perrenoud (2000) traz a importância do conceito de


transferência ao caracterizá-la como a capacidade de um sujeito de reinvestir suas
aquisições cognitivas, ao se fazerem necessárias mediante outras situações (que
fogem do contexto escolar), considerando que sem o mínimo de transferência,
toda aprendizagem seria, portanto, totalmente inútil, visto que corresponderia a
uma situação passada e não reprodutível em outra ocasião.

A transferência traz à tona a necessidade de pensarmos em novas formas


de demonstração, no que condiz a possibilidade de tornamos os conteúdos
menos abstratos e mais próximos da realidade vivenciada naquela comunidade,
constituída pelos alunos e suas famílias. Desta maneira estaremos preparando-
os para que os conhecimentos adquiridos sejam reinvestidos nos mais variados
cenários ao longo do seu desenvolvimento, sendo estes: na vida cotidiana,
política, familiar e pessoal.

FIGURA 2 – TRANSFÊNCIA DE CONHECIMENTO FORA DA ESCOLA

FONTE: Disponível em: <http://paradigmasdapedagogia.blogspot.com.


br/2011_05_01_archive.html>. Acesso em: 22 jan. 2014.

Desta forma, Perrenoud (2000, p. 57) enfatiza que “globalmente, a


importância atribuída à transferência de conhecimentos está ligada à mobilidade
das pessoas e ao ritmo de transformação das sociedades”.

Porém, não significa dizer que as formas tradicionais de aprendizagem


tenham que desaparecer por completo e nem que toda a aquisição precisa ser
transferível a situações diferentes para ser digna de interesse; mas que seja
considerada e valorizada a bagagem cultural e os saberes da criança ou adulto no
decorrer da vida escolar. Pense nisso!
8
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

4 BREVE INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL


Sendo a educação não formal um dos campos de atuação do pedagogo,
torna-se interessante conhecer os momentos mais importantes da construção desta
modalidade educacional. Gohn (2011) coloca que até a década de 80, a educação
não formal era um campo pouco valorizado no Brasil, tanto nas políticas públicas
quanto entre os educadores, pois todas as atenções estavam voltadas à educação
formal. Mesmo que de maneira discreta, alguns estudiosos da época, acreditavam
que se tratava de uma extensão das atividades escolares e enfatizavam esta ideia.

Nesta época, a visão mais otimista lançada à educação não formal, estava
relacionada à educação de jovens e adultos, que além de ter um projeto voltado à
alfabetização, objetivava integrá-los ao contexto urbano-industrial.

Gohn (2011, p. 100) enfatiza que:

Genericamente, a educação não formal era vista como o conjunto de


processos delineados para alcançar a participação de indivíduos e de
grupos em áreas denominadas extensão rural, animação comunitária,
treinamento vocacional técnico, educação básica, planejamento familiar
etc. Os conteúdos a serem adquiridos na aprendizagem via educação
não formal, incluíam: atitudes positivas em relação à cooperação
na família, trabalho, comunidade, colaboração para o crescimento
nacional, progresso etc.; a alfabetização funcional; o conhecimento
de habilidades funcionais para o planejamento familiar, sustentação
econômica e participação cívica, além de uma visão científica para
compreensão elementar de determinadas áreas específicas.

Em 1990, esta modalidade passou a destacar-se devido a mudanças


significativas na economia, na sociedade e no mundo do trabalho, quando houve
uma valorização das questões referentes à aprendizagem em grupos e aos valores
culturais que regiam as comunidades naquela época, considerando que as crenças
e valores sociais eram determinantes na conduta dos indivíduos.

Diante disso, outra forma de pensar a educação não formal estava


surgindo, ou seja, era necessário investir em uma nova cultura organizacional
que apostasse na aprendizagem de habilidades extraescolares.

Gohn (2011) coloca que a instauração desta nova visão foi muito além
de configurar um novo campo para esta modalidade educacional. Houve
organizações importantes posicionando-se em defesa de investimentos nesta
área, sendo estas: agências internacionais como a ONU (Organização das Nações
Unidas) e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura).

9
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 3 – UNESCO

FONTE: Disponível em: <http://www.concursosmuseologia.com.br/2013/08/


unesco-abre-processo-seletivo.html>. Acesso em: 20 jan. 2014.

Em 1990, foi realizada na Tailândia, uma conferência em que dois


documentos de considerável expressão foram elaborados, sendo denominados
“Declaração mundial sobre educação para todos” e “Plano de ação para satisfazer
necessidades básicas da aprendizagem”; particularidades relacionadas à América
Latina juntamente com experiências de ONGs (Organizações não Governamentais)
em programas de educação na região, elencaram novas possibilidades de trabalho
destinadas a esta área.

Assim, Gohn (2011, p. 101-102) considera que:

A partir da definição de necessidades básicas de aprendizagem, vistas


como “ferramentas essenciais para a aprendizagem” e de seus novos
“conteúdos básicos”, abrangendo, além dos conteúdos teóricos e
práticos, valores e atitudes para viver e sobreviver, e a desenvolver
a capacidade humana, os documentos da conferência ampliam o
campo da educação para outras dimensões além da escola. [...] Os
documentos prosseguem preconizando a necessidade de mudanças,
numa visão ampliada da educação, inovando os canais existentes,
fazendo-se alianças e utilizando-se recursos de forma a universalizar o
acesso à educação e fomentar a equidade.

As ONGs ocupam um lugar de grande destaque no cenário educacional


não formal, devido a trabalhos desenvolvidos no âmbito educativo comunitário e
intrafamiliar, na área de educação fundamental junto a comunidades indígenas e
rurais, bem como em programas de educação para o trabalho voltado a entidades
que promovam programas sobre tecnologias apropriadas, autogestão, agricultura
sustentável e preservação do meio ambiente.

Gohn (2011) destaca que as ONGs são agências que possuem know-how
em metodologias, estratégias e programas de ação, tendo se firmado ao longo
das últimas décadas como incentivadoras do trabalho voluntário, bem como
destacam-se no resgate do conhecimento, crenças e costumes das culturas locais,
adotando uma postura de valorização e não de desprezo.

10
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

NOTA

Acadêmico(a)! O termo know-how provém do inglês e significa “saber como”.


Ao ser aplicado a alguém que apresenta know-how em alguma atividade, refere-se à pessoa
que sabe desempenhar essa tarefa com conhecimento de causa e experiência.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/know-how/. Acesso em: 17


jan. 2014.

Gohn (2011) coloca que ainda na década de 90, o Brasil sofreu com um
balanço na economia, provocando uma onda de desemprego motivada por
políticas globalizantes, com características excludentes que desestabilizaram o
mercado de trabalho, criando uma situação de precariedade do trabalhador em
relação a um sistema de direitos. Os trabalhadores perderam seu status, segurança
e, às vezes, a própria identidade, com o findar do sistema salarial.

Esta situação trouxe à tona o novo modelo desenhado pela ONU em


que enfatizava-se o poder do conhecimento e não mais da economia, ou seja,
passava-se a exigir das pessoas o domínio de habilidades consideradas básicas,
como por exemplo, ter fluência em mais de um idioma, bem como das questões
relacionadas à gestão, sejam na carreira profissional, nos conflitos, ou no trabalho
em equipe etc.; visando ao planejamento de todos, na vida pessoal e profissional.

Além disso, passa-se a exigir do trabalhador um perfil criativo e


compreensivo dos processos, além de uma postura flexível às novas ideias,
com capacidades que visem ao raciocínio rápido na tomada de decisões e
responsabilidade com suas atividades e com as outras pessoas, nos campos
relacionados à sociedade e ao meio ambiente.

Gohn (2011) ressalta que para a formação desta nova personalidade


profissional preparada a enfrentar as demandas deste mercado de trabalho, foram
desenvolvidos alguns cursos por certos programas oficiais, a fim de atender
às necessidades básicas do cidadão. Diante do fato do maior problema ser o
desemprego, foi preciso alterar políticas públicas, de forma que se priorizasse
a retomada do desenvolvimento e a expansão do setor produtivo. Estes cursos
fizeram parte das políticas do modelo econômico vigente na época, porém
priorizavam os interesses do capital especulativo internacional em detrimento do
desenvolvimento nacional.

Na prática, a nova organização mundial trouxe benefícios em nível de


capacitação profissional e oportunidade de ampliação dos segmentos relacionados
à indústria, mas como consequência, a sociedade tornou-se mais competitiva,
individualista e violenta, sendo relevante mencionar o aumento considerável de
doenças diretamente ligadas ao trabalho.

11
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

5 CONCEITUANDO A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL


É comum associarmos a educação somente ao ambiente formal (escolar)
com suas normativas e diretrizes, mas é necessário lembrar que seu conceito é
amplo e vai muito além dos muros das escolas, ou seja, está diretamente associado
ao conceito de cultura.

Para Gohn (2011) a cultura é concebida como modos, formas e processos


de atuação na história, onde é construída, passando constantemente por
modificações, sendo diretamente influenciada por valores que se sedimentam
em tradições e são transmitidos de uma geração para outra. Considerando
que a educação de um povo consiste no processo de absorção, reelaboração e
transformação da cultura existente, entende-se que ela é geradora da cultura
política de uma nação.

Nos aspectos relacionados à educação não formal, Gohn (2011, p. 106)


destaca cinco importantes dimensões que designam este processo:

O primeiro envolve a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos


enquanto cidadãos, isto é, o processo que gera a conscientização dos
indivíduos para a compreensão dos seus interesses e do meio social
e da natureza que o cerca, por meio da participação em atividades
grupais. Participar de um Conselho de escola poderá desenvolver
essa aprendizagem. O segundo, a capacitação dos indivíduos
para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou
desenvolvimento de potencialidades. O terceiro, a aprendizagem e
exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem
com os objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas
coletivos cotidianos. [...] O quarto, e não menos importante, é a
aprendizagem de conteúdos da escolarização formal, escolar, em
formas e espaços diferenciados. Aqui, o ato de ensinar se realiza
de forma mais espontânea, e as forças sociais organizadas de uma
comunidade têm o poder de interferir na delimitação do conteúdo
didático ministrado bem como estabelecer as finalidades a que se
destinam àquelas práticas. O quinto é a educação desenvolvida na e
pela mídia, em especial eletrônica.

Vivemos em uma época em que as mídias fazem parte do nosso


cotidiano e o influenciam diretamente, tornando o acesso à informação quase
que instantaneamente no ato do acontecimento. A modernização da sociedade
trouxe uma aceleração da rotina, provocando vários efeitos colaterais entre eles:
frustração, estresse, relações familiares frágeis, ansiedade, doenças de caráter
psicossomático etc.

12
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

NOTA

Acadêmico(a)! A psicossomática é uma doença caracterizada por sinais e


manifestações apresentadas pelo corpo, onde os exames médicos não conseguem descobrir
uma origem orgânica ou biológica para o sintoma.

FONTE: Disponível em: <http://elidioalmeida.com/2011/01/doenca-psicossomatica-o-que-


e-isso/>. Acesso em: 20 jan. 2014.

Diante destes atenuantes, a sociedade busca formas alternativas de lidar


com a fragilidade expressa no corpo, na procura por cursos que visam trabalhar
maneiras de reduzir os impactos da rotina no organismo, como o: autoconhecimento,
o relaxamento, a meditação e os alongamentos etc. Estes recursos vêm crescendo
constantemente, sendo considerados um campo da educação não formal.

Conforme Gohn (2011), a educação transmitida pela família, nas relações


de amizade, clubes, nos teatros, na leitura de jornais, nos livros, nas revistas, entre
outros meios são considerados temas da educação informal. A diferença entre
educação não formal e informal é que na primeira existem dois sujeitos, ou seja,
fazem parte desta modalidade alcançar objetivos e/ou desenvolver competências.
Já a educação informal decorre de processos espontâneos não havendo rigidez
metodológica na sua condução.

Os espaços de educação não formal se desenvolvem: nas associações de


bairro, nos movimentos sociais, nas igrejas, nos sindicatos, nos partidos políticos,
nas ONGs, nos espaços culturais e nas próprias escolas. As escolas fazem parte
desta modalidade de ensino ao serem palco de atividades culturais abertas à
comunidade ou mesmo quando proporcionam aos seus alunos oficinas temáticas
de trabalho como artesanato, teatro etc.

FIGURA 4 – OFICINA DE TEATRO

FONTE: Disponível em: <http://www.spbarueri.com.br/workshop-teatro-


de-rua-em-barueri-%E2%80%93-inscricoes.html>. Acesso em: 20 jan. 2014.

13
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

Nas atividades relacionadas à educação não formal, as questões referentes


às categorias de espaço e tempo recebem outra conotação. Gohn (2011) enfatiza
que o espaço, neste caso, é algo criado e recriado segundo os modos de ação
previstos nos objetivos maiores que dão sentido ao fato de determinado grupo
social estar reunido. Já o tempo não é algo fixado a priori e são respeitadas as
diferenças existentes para a absorção e reelaboração dos conteúdos, implícitos e
explícitos, no processo de ensino-aprendizagem.

A educação não formal busca evitar o enquadramento dos indivíduos que


participam desta forma educativa, procurando flexibilizar o currículo com o objetivo
de atender à demanda da clientela. Considerando que um dos principais objetivos da
educação não formal é o exercício da cidadania, busca, entretanto pensar suas ações
voltadas ao coletivo, sendo estas elaboradas em função destes, nos quais destacamos:
grupos de trabalhadores, grupos de jovens, adultos, mães, terceira idade etc.

Gohn apud Afonso (1992) nos contempla com um quadro comparativo


entre as escolas tradicionais (educação formal) e as associações democráticas para
o desenvolvimento não formal:

QUADRO 1 – COMPARATIVO ENTRE AS ESCOLAS TRADICIONAIS (EDUCAÇÃO FORMAL) E AS


ASSOCIAÇÕES DEMOCRÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO NÃO FORMAL

Tipos de Aprendizagem
Associações democráticas para o
Escolas tradicionais
desenvolvimento
Apresentam um caráter compulsório Apresentam um caráter voluntário

Dão ênfase apenas à instrução Promovem sobretudo a socialização


Favorecem o individualismo e a
Promovem a solidariedade
competição
Visam à manutenção dos status quo Visam ao desenvolvimento

Preocupam-se essencialmente com a Preocupam-se essencialmente com a


reprodução cultural e social mudança social

São hierárquicas e fortemente São pouco formalizadas e pouco ou


formalizadas incipientemente hierarquizadas
Dificultam a participação Favorecem a participação
Utilizam métodos centrados no Proporcionam a investigação-ação e
professor-instrutor projetos de desenvolvimento

Subordinam-se a um poder São, por natureza, formas de


centralizado participação descentralizada
FONTE: AFONSO (1992)

14
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

NOTA

Acadêmico(a)! A expressão “status quo” significa o estado atual das coisas. No


estado que devem estar as coisas.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/status%20quo/>. Acesso em:


20 jan. 2014.

Acadêmico(a)! É importante frisar que as duas modalidades educativas


(não formal e informal) possuem aspectos considerados positivos e negativos,
sendo assim, na prática educativa necessitamos filtrar as possibilidades que cada
uma delas nos oferece.

A aprendizagem relacionada à educação não formal se dá através da


prática social, sendo pautada no pressuposto que por meio das experiências
vivenciadas pelo grupo o aprendizado é originado, considerando que esta prática
educativa é de caráter coletivo.

FIGURA 5 – APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FONTE: Disponível em: <http://www.gthidro.ufsc.br/comunidade-de-aprendizagem-


em-governanca-do-saneamento>. Acesso em: 20 jan. 2014.

A respeito disso Gohn (2011, p. 112) nos enfatiza que:

A maior importância da educação não formal está na possibilidade


de criação de novos conhecimentos, ou seja, a criatividade humana
passa pela educação não formal. O agir comunicativo dos indivíduos,
voltado para o entendimento dos fatos e fenômenos sociais cotidianos,

15
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

baseia-se em convicções práticas, muitas delas advindas da moral,


elaboradas a partir das experiências anteriores, segundo as tradições
e as condições histórico-sociais de determinado tempo e lugar. O
conjunto desses elementos fornece a amálgama para a geração de
soluções novas, construídas em face dos problemas que o dia a dia
coloca nas ações dos homens e das mulheres.

A educação não formal proporciona aos seus participantes um espaço


importante de reflexão e posteriormente, ações que possam vir a beneficiar
diretamente a comunidade no qual estão inseridos. Para que isso seja concreto,
é necessário empenho e determinação dos grupos envolvidos com essa prática
educativa, motivando a participação da comunidade.

Gohn (2011) considera que é importante esclarecer que os processos


metodológicos utilizados na educação não formal estão pouco relacionados à
leitura e à escrita, ou seja, a discussão e a troca de ideias se dão por meio dos
saberes disponíveis, no passado e presente e são consideradas prioridades nesta
modalidade. Estes momentos possibilitam aos participantes a expressão de seus
desejos, emoções e pensamentos, que por algum motivo (carência socioeconômica,
direito individual, demanda não atendida) permaneceram calados.

Acadêmico(a)! A educação não formal exige do pedagogo um pensamento


crítico e aberto às diferentes situações que irão fazer parte do seu cotidiano; pois
como vimos anteriormente, as modalidades educativas estão separadas somente
por conceitos teóricos, porém a realidade as une.

Pensar a escola hoje é reconhecer a existência de demandas individuais e


coletivas, orientando para a liberdade do sujeito, preparando-o para o exercício do
diálogo democrático e para as mudanças sociais. Buscar desenvolver a capacidade
do sujeito em compreender o outro em sua cultura, deve fazer parte do conteúdo
programático das atividades a serem desenvolvidas, quebrando paradigmas.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Para Perrenoud (2000), o sucesso e o fracasso escolar não são exclusivos ao


ambiente escolar, pois o estudioso considera que cada aprendizado objetiva
preparar os alunos para enfrentarem as etapas subsequentes ao currículo
escolar, tornando o aluno capaz de mobilizar suas aquisições escolares fora
do ambiente escolar, tornando qualquer ambiente, um ambiente pedagógico,
independente de quaisquer situações.

• O conceito de competência enfocado por Perrenoud diz que não há uma


definição clara e objetiva do seu significado, sendo que para o estudioso existem
três aspectos do que pode vir a ser competência, como: desempenho, hábitos e
sucesso.

• Perrenoud (2000) nos coloca ainda que a pedagogia diferenciada está relacionada
com: a didática, o questionamento sobre o sentido do trabalho escolar, a relação
com os outros saberes e a utilização dos conteúdos ministrados.

• Um educador comprometido com o processo de aprendizagem, fará o possível


para que este educando possa avançar na aprendizagem, buscando métodos
alternativos como: aulas extras, encaminhamento a outro profissional,
formulação de uma metodologia mais lúdica e realista etc., evitando
movimentar-se de forma desnecessária na busca de culpados pela condição do
aluno.

• A diferença entre educação não formal e informal é que na primeira existem


dois sujeitos, ou seja, fazem parte desta modalidade alcançar objetivos e/
ou desenvolver competências. Já a educação informal decorre de processos
espontâneos não havendo rigidez metodológica na sua condução.

• ONGs são agências que possuem know-how em metodologias, estratégias


e programas de ação, tendo se firmado ao longo das últimas décadas como
incentivadoras do trabalho voluntário. Elas se destacam no resgate do
conhecimento, crenças e costumes das culturas locais, adotando uma postura
de valorização e não de desprezo.

17
AUTOATIVIDADE

1 Para Perrenoud (2000) diferenciar significa lutar pelas desigualdades diante


do espaço escolar, objetivando elevar o nível do ensino. Desta forma, como o
profissional da educação precisa trabalhar este conceito de diferenciar?

2 Como você, acadêmico(a), visualiza a educação não formal e como ela


acontece dentro desta estrutura? Exemplifique.

18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

1 INTRODUÇÃO
Durante seus estudos nesta disciplina, vamos juntos caminhar pelos
espaços não escolares, seus significados e forma como o pedagogo se destaca
neles em seus formatos de atuação.

Inicialmente, faremos um resgate de alguns conceitos importantes,


sendo estes: educação formal, informal e não formal, bem como o conceito de
pedagogia. Posteriormente, veremos alguns dos possíveis ambientes de educação
não formal, nos quais os saberes pedagógicos contribuem de forma significativa
no transcorrer dos processos educativos.

Desejamos, acadêmico(a), que seus estudos sejam produtivos e que


enriqueçam sua visão diante destas possibilidades de trabalho. Bons estudos!

2 PEDAGOGIA: TEORIA E PRÁTICA


Por muito tempo a visão sobre o conceito e missão da Pedagogia,
permaneceu limitada ao modo como se ensina ou o uso de técnicas de ensino,
sendo então restritos ao ambiente escolar. Porém, um novo cenário da educação
inicia-se a partir de novas perspectivas para o profissional, tornando seu
significado mais amplo e complexo.

Libâneo (2010, p. 29) aponta que a Pedagogia

[...] é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa


na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz
orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se às finalidades
da ação educativa, implicando objetivos sociopolíticos a partir dos
quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação
educativa. Nesse entendimento, o fenômeno educativo apresenta-se
como expressão de interesses sociais em conflito com a sociedade. É
por isso que a Pedagogia expressa finalidades sociopolíticas, ou seja,
uma direção explícita da ação educativa.

A pedagogia ensaia novos passos que vão além dos muros das escolas
direcionando o ato educativo a uma prática concreta realizada para a sociedade
como um todo, respondendo aos novos movimentos que estão sendo estabelecidos

19
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

como a globalização, o neoliberalismo, o terceiro setor, e a educação on-line,


exigindo dos profissionais pedagogos maior qualificação e preparo.

Diante destes novos movimentos, Libâneo (2010) nos mostra que a


educação é um conjunto de ações, processos, influências e estruturas, que através
de suas práticas intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos,
estabelecendo uma relação ativa com o meio natural e social, diante de um
determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais.

O campo de atuação da pedagogia é vasto, pois a educação ocorre em


várias instâncias como na família, no trabalho, na rua, nas organizações, nos
meios de comunicação, na política, entre outras.

FIGURA 6 – EDUCAÇÃO NA FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://www.novabrasilfm.com.br/blog/marcio-cruz/


familia-familia-acorda-junto-todo-dia-nunca-perde-essa-mania/>. Acesso em:
6 jan. 2014.

Estas modalidades educativas manifestam-se de diferentes formas e


são classificadas em: educação formal, não formal e informal. Libâneo (2010) as
diferencia da seguinte forma:

a) Educação informal: corresponde às ações e influências exercidas pelo meio, ou


seja, o ambiente sociocultural em que o indivíduo está inserido, por meio das
relações do indivíduo com outros indivíduos ou grupos em vários aspectos,
sejam estes: social, ecológico, físico e cultural. Este envolvimento resulta em
conhecimentos, experiências e práticas que não estão ligadas à uma instituição,
sendo assim, não apresentam uma função intencional ou organizada.

20
TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

FIGURA 7– EDUCAÇÃO INFORMAL

FONTE: Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/03/


fundamentos-historicos-e-filosoficos-da.html>. Acesso em: 6 jan. 2014.

b) Educação não formal: caracteriza-se pela relação educacional realizada em


espaços fora dos marcos institucionais, mas que obedecem a certo grau de
sistematização e estruturação.

FIGURA 8 – EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FONTE: Disponível em: <http://www.sorocaba.sp.gov.br/pagina/230/>. Acesso em:


7 jan. 2014.

c) Educação formal: é composta pelas instâncias de formação, escolares ou não,


em que há objetivos educativos explícitos resultantes de uma ação intencional
institucionalizada, estruturada e sistemática.

21
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 9 – EDUCAÇÃO FORMAL

FONTE: Disponível em: <http://gifrana.blogspot.com.br/2009/12/educacao-


formal.html>. Acesso em: 7 jan. 2014.

Acadêmico(a)! Estas modalidades de educação possuem particularidades,


porém não podem ser consideradas de forma isolada.

Considerando que as práticas educativas fazem-se presentes em muitos


lugares, o pedagogo passa a fazer parte de outros cenários, reconstruindo sua
atuação em novos espaços.

Gadotti (2005) aponta que a educação não formal é mais difusa, menos
hierárquica e menos burocrática, pois os programas desenvolvidos nesta
modalidade educacional não necessitam seguir um sistema sequencial e
hierárquico de progressão. Sua duração pode ser de acordo com a necessidade da
instituição que o desenvolve, podendo fornecer certificados ou não.

Diante do exposto, Gadotti (2005, p. 2) sustenta que:

O tempo da aprendizagem na educação não formal é flexível,


respeitando as diferenças e as capacidades de cada um, de cada uma.
Uma das características da educação não formal é sua flexibilidade
tanto em relação ao tempo quanto à criação e recriação dos seus
múltiplos espaços.

São caracterizados como espaços de atuação do pedagogo para a


educação não formal: empresas, hospitais, ONGs, associações, igrejas, eventos,
emissoras de transmissão (rádio e TV), penitenciárias, agências de viagem, entre
outros lugares em que os saberes pedagógicos façam a diferença. Desta forma o
pedagogo acompanha as transformações sofridas pela sociedade fazendo com
que esta também a perceba de outra forma, deixando de ser visto como um

22
TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

profissional diretamente ligado à educação formal, passando a desenvolver um


trabalho mais amplo e diversificado.

Para Libâneo (2010), a educação está associada aos processos de


comunicação e interação nos quais os membros de uma sociedade assimilam
saberes, habilidades, técnicas, atitudes e valores existentes em um meio
culturalmente organizado, ganhando com isso a importância necessária para
produzir outros saberes, técnicas, valores etc.

Este profissional, que sempre exerceu o papel de transformador do


conhecimento e do comportamento humano, agora acompanha as mudanças
sociais, efetivando sua atuação além dos muros da escola, e que, no entanto,
também objetivam a aprendizagem e a modificação do comportamento humano
dentre a educação não formal.

Libâneo (2010) chama nossa atenção ao afirmar que o pedagogo é o


profissional cuja atuação é ampliada às várias instâncias da prática educativa,
direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e
assimilação de saberes e modos de ação, tendo por objetivo a formação humana
previamente definida em sua contextualização histórica.

Partindo do pressuposto de que a evolução social tem inserido o pedagogo


em um mercado de trabalho cada vez mais amplo e diversificado, faz-se importante
compreendermos que muitas foram as mudanças na dinâmica desta sociedade
contemporânea, devido à globalização e às modernizações. Também foram
valorizadas, com mais intensidade, ações como inclusão social, voluntariado,
projetos e pesquisas voltados às várias modalidades educativas (formal, informal
e não formal), reforçando que o processo de ensino-aprendizagem não se restringe
somente ao espaço escolar.

Libâneo (2010) enfatiza que no campo da ação pedagógica extraescolar


encontramos profissionais que exercem sistematicamente atividades pedagógicas
e outros que ocupam apenas parte de seu tempo nestas atividades, dentre eles:

a) Formadores, animadores, instrutores, organizadores, técnicos, consultores,


orientadores, que desenvolvem atividades pedagógicas (não escolares) em
órgãos públicos, privados e públicos não estatais, os ligados às empresas, à
cultura e aos serviços de saúde, alimentação, promoção social etc.

23
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 10 – ORIENTAÇÃO EM SAÚDE

FONTE: Disponível em: <http://linkdigital.ifsc.edu.br/2012/05/21/ifsc-participa-


da-semana-municipal-de-conscientizacao-e-orientacao-sobre-saude-mental-em-
joinville/>. Acesso em: 8 jan. 2014.

b) Formadores que atuam nas empresas com a transmissão de saberes e técnicos


ligados a outras atividades profissionais especializadas. Neste quesito temos,
por exemplo, engenheiros, supervisores de trabalho, técnicos etc., que dedicam
boa parte de seu tempo a supervisionar e ensinar trabalhadores no local de
trabalho, orientar estagiários etc.

FIGURA 11 – ORIENTAÇÃO DE ESTÁGIO

FONTE: Disponível em: <http://economia.terra.com.br/lei-do-estagio-ajuda-


empreendedor-a-descobrir-novos-talentos,857832c35076b310VgnCLD200000bb
cceb0aRCRD.html>. Acesso em: 8 jan. 2014.

24
TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

c) Trabalhadores sociais, monitores e instrutores de recreação e educação física,


bem como profissionais das mais diversas áreas onde ocorre algum tipo de
atividade pedagógica, tais como: administradores de pessoal, redatores de
jornais e revistas, comunicadores sociais e apresentadores de programas de
rádio e TV, criadores de programas de TV, de vídeos educativos, de jogos
e brinquedos, elaboradores de guias urbanos e turísticos, mapas, folhetos
informativos, agentes de difusão cultural e científica etc.

FIGURA 12 – GUIA TURÍSTICO

FONTE: Disponível em: <http://www.tocadacotia.com/turismo/guia-de-turismo>.


Acesso em: 8 jan. 2014.

Acadêmico(a)! Como você pôde observar há uma gama enorme de


atividades pedagógicas desenvolvidas por outros profissionais, que muitas vezes
nem se dão conta de que exercem um papel educativo e influente no cotidiano
de outras pessoas. Neste caso, a intervenção do pedagogo é de grande valia, pois
como profissional habilitado em lidar com questões também referentes à dinâmica
da aprendizagem, tem muito a contribuir com as outras categorias profissionais.

3 OUTROS SENTIDOS PARA EDUCAÇÃO


Veremos a seguir que a educação se apresenta com outros sentidos, além
daqueles que já conhecemos. Para tanto devemos também, enquanto pedagogos
adotar outras posturas tendo como finalidade repensar nossa prática e reconstruir
nossos métodos.

Para Libâneo apud Mialaret (1976) a educação caracteriza-se de três


outras formas: educação-instituição, educação-processo e educação-produto, que
se organizam da seguinte maneira:

25
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

a) Educação-instituição: esta linha corresponde a uma estrutura organizacional


e administrativa, com normas de funcionamento e diretrizes pedagógicas que
se referem ao sistema educacional como um todo, no caso do funcionamento
interno de cada instituição. Neste âmbito estão as escolas e as outras formações
de educação, como: educação brasileira, educação norte-americana e educação
familiar, sendo esta também inclusa como instituição. O autor esclarece
que a multiplicidade de modalidades educativas presentes na sociedade
contemporânea não restringem o sistema educacional ao sistema de ensino,
muito menos o reduzem às formas estritamente institucionais ou oficiais. Na
educação não formal, encontramos outras categorias assim organizadas como
os movimentos sociais e comunitários, as atividades de animação cultural,
equipamentos urbanos etc.

FIGURA 13 – MOVIMENTOS SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <http://feab.wordpress.com/2009/12/03/a-une-as-fraudes-e-a-


criminalizacao-dos-movimentos-sociais/>. Acesso em: 8 jan. 2014.

b) Educação-processo: esta instância é ligada à ação educadora e suas condições/


modos pelos quais os sujeitos incorporam os meios de se educar. Considerando
que toda educação implica uma relação de influência entre os seres humanos,
a educação-processo objetiva formar o sujeito, de modo que o mesmo possa
alcançar propósitos explícitos e intencionais, promovendo aprendizagens
mediante a atividade própria dos sujeitos. É aplicada em ambientes
organizados, objetivos e com conteúdos definidos em função das necessidades
apresentadas pelos sujeitos, visando à utilização de métodos e procedimentos de
intervenção educativa buscando obter determinados resultados distinguindo-
se dos processos educativos informais, que são mais difusos e espontâneos.
O processo educativo opera com três elementos considerados essenciais: um
agente que origina a ação educativa, um modo de atuação que se constitui
de conteúdo ou método e um destinatário que corresponde a um indivíduo,
grupo ou geração.
26
TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

FIGURA 14 – TREINAMENTO

FONTE: Disponível em: <http://www.ines.gov.br/_layouts/mobile/view.


aspx?List=f99d462d-c61d-47a9-b3c9-abf307e38d59&View=2825c49b-0843-
4a8f-8fea-d3e10904a144>. Acesso em: 9 jan. 2014.

c) Educação-produto: este modelo caracteriza-se pelos resultados obtidos na


execução das ações educativas, diante da configuração do sujeito educado
como consequência dos processos educativos ministrados. Configura-se no
aluno educado como produto da oferta de serviços educativos. Ao fazermos
uso de comentários como “o ensino fundamental está deixando a desejar” ou “a
criança está no quinto ano e ainda não sabe ler”, estamos avaliando a educação-
produto. Neste aspecto, estamos questionando os objetivos e conteúdos da
educação, indiferente se esta for escolar ou não escolar, pois ambas refletem as
expectativas sociais. Ao definirmos como projeto a formação de sujeitos com
perfil autônomo, solidário, participativo e/ou profissionalmente capacitados,
estamos nos remetendo ao “aluno educado” como sujeito que se comporta
e se conduz de acordo com estas expectativas. Os educadores precisam ter
clareza dos objetivos e efeitos do processo educativo, sendo necessário avaliar
a educação-produto e, reformular a educação-instituição, visando aprimorar a
educação-processo caso for necessário.

27
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 15 – FRACASSO X SUCESSO ESCOLAR

FONTE: Disponível em: <http://fracassoescolar2012.blogspot.com.br/>.


Acesso em: 9 jan. 2014.

Considerando que a educação é uma ação, a educação-processo é a forma


que norteia as bases para a educação-sistema e para a educação-produto. Neste
ponto cabe verificar se os objetivos estão de acordo com as idades, os vários
agrupamentos sociais e as realidades vividas pelos sujeitos educandos.

4 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE A EDUCAÇÃO


FORMAL, INFORMAL E NÃO FORMAL
Conforme a proposta desta disciplina, passaremos a concentrar e
aprofundar nossos estudos na modalidade de educação não formal. Porém,
como anteriormente vimos, as três modalidades educativas (formal, informal e
não formal) estão de alguma forma interligadas, o que nos obriga a destrinchá-las
para que possamos entender também o que as mantém unidas.

Primeiramente, necessitamos ser visionários de um processo educativo


ligado a várias estruturas sociais, deixando de lado a antiga concepção de que a
educação é restrita aos espaços das escolas, tratando-se de um movimento que
é fruto do desenvolvimento social e que é determinada pelas relações sociais
vigentes em cada sociedade.

A educação transforma-se no mesmo ritmo que a sociedade evolui. Um


exemplo dessa evolução são as tecnologias de informação aplicadas à educação,
com programas específicos que auxiliam na aprendizagem de crianças, adolescentes
e adultos. Lembre-se também de que a educação a distância é uma mostra desse
“pensar educação” diante dos progressos da sociedade.

Libâneo (2010) busca nortear nossos olhares sobre as modalidades


educativas, ao destacar que a concepção do processo educativo leva à ampliação
do significado da educação na sociedade, enfatizando a necessidade da distinção

28
TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

entre a educação não intencional e a educação intencional. Ao tratar da educação


não intencional, o autor nos remete a refletir:

Num sentido mais amplo, a educação abrange o conjunto das


influências do meio natural e social que afetam o desenvolvimento do
homem na sua relação ativa com o meio social. Os fatores naturais
como o clima, a paisagem, os fatores físicos e biológicos, sem dúvida
exercem uma ação educativa. Do mesmo modo, o ambiente social,
político e cultural implicam sempre mais processos educativos,
quanto mais a sociedade se desenvolve. Os valores, os costumes, as
ideias, a religião, a organização social, as leis, o sistema de governo,
os movimentos sociais, as práticas de criação de filhos, os meios de
comunicação social são forças que operam e condicionam a prática
educativa. A despeito desse grande poder dessas influências, boa parte
delas ocorre de modo não intencional, não sistemático, não planejado.
(LIBÂNEO, 2010, p. 87).

No que condiz à educação intencional, Libâneo (2010, p. 87) sustenta que:

Surge, pois, no desenvolvimento histórico da sociedade, a educação


intencional como consequência da complexificação da vida social
e cultural, da modernização das instituições, do progresso técnico
científico, da necessidade de cada vez maior número de pessoas
participarem das decisões que envolvem a coletividade. A sociedade
moderna tem uma necessidade inelutável de processos educacionais
intencionais, implicando objetivos sociopolíticos explícitos, conteúdos,
métodos, lugares e condições específicas de educação, precisamente
para possibilitar aos indivíduos a participação consciente, ativa, crítica
na vida social global.

Deve estar claro ao pedagogo, que há uma distinção entre ambas e que
a totalidade da educação se dá a partir da junção destas duas modalidades,
principalmente no que tange às relações (vínculos) estabelecidos durante o
processo de formação do indivíduo.

A educação intencional e a não intencional unem-se a partir do momento


em que percebemos que o indivíduo não está alheio às mudanças que ocorrem
ao seu redor ou muito menos isolado das diretrizes que organizam os diversos
processos dos quais ele é submetido, ao longo da vida.

Diante disso, vamos procurar esclarecer, acadêmico(a), algumas


prerrogativas pertinentes à educação formal e à não formal, sendo estas: a
educação formal é aplicada exclusivamente aos ambientes escolares? Qual é a
diferença entre a educação formal e a não formal? A educação formal faz parte da
formação dos adultos incluídos em movimentos sociais?

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

Libâneo (2010, p. 88) nos esclarece as diferenças das respectivas


denominações inferidas a estas modalidades educativas, ao sustentar que:

Formal refere-se a tudo que implica uma forma, isto é, algo inteligível,
estruturado, o modo como algo se configura. Educação formal seria,
pois, aquela estruturada, organizada, planejada intencionalmente,
sistemática. Neste sentido, a educação escolar convencional é tipicamente
formal. Mas isso não significa dizer que não ocorra educação formal em
outros tipos de educação intencional. Entende-se assim, que onde haja
ensino (escolar ou não) há educação formal. Neste caso são atividades
educativas formais também a educação de adultos, a educação sindical,
a educação profissional, desde que estejam presentes a intencionalidade,
a sistematicidade e condições previamente preparadas, atributos que
caracterizam um trabalho pedagógico-didático, ainda que realizadas
fora do marco escolar propriamente dito.

FIGURA 16 – ASSEMBLEIA SINDICAL

FONTE: Disponível em: <http://www.bancariosdf.com.br/site/index.


php?option=com_content&view=article&id=7539:bancarios-do-bb-e-da-
caixa-participam-de-reuniao-conjunta-no-trt&catid=40:caixa&Itemid=23>.
Acesso em: 9 jan. 2014.

Acadêmico(a)! Ao aprofundarmos esta definição de educação formal


contemplada pelo autor anteriormente citado, foi possível compreender que esta
modalidade está ligada a outros campos de cunho educativo possibilitando sua
aplicação aos diversos setores da sociedade.

Libâneo (2010, p. 89) nos apresenta o significado de educação não formal ao


enfatizar que:

[...] são aquelas atividades como caráter de intencionalidade, porém


com baixo grau de estruturação e sistematização, implicando
certamente relações pedagógicas, mas não formalizadas. Tal é o
caso dos movimentos sociais organizados na cidade e no campo, os

30
TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

trabalhos comunitários, atividades de animação cultural, os meios


de comunicação social, os equipamentos urbanos culturais e de
lazer (museus, cinemas, praças, áreas de recreação) etc. Na escola
são práticas não formais as atividades extraescolares que provêm
conhecimentos complementares, em conexão com a educação formal
(feiras, visitas etc.). O exemplo da escola mostra que, frequentemente,
haverá intercâmbio entre o formal e o não formal. Uma associação
de bairro de educação não formal poderá reunir mães, durantes três
dias, para um curso sobre a importância do aleitamento materno,
onde se terão objetivos explícitos, conteúdos, métodos de ensino,
procedimentos didáticos que são características da educação formal.

FIGURA 17 – CAPACITAÇÃO DE MULHERES AGRICULTORAS

FONTE: Disponível em: <http://www.asbraer.org.br/noticias,ruraltins-promove-


curso-de-processamento-de-frutas-em-rio-sono,56461>. Acesso em: 9 jan. 2014.

Enquanto educadores, precisamos ter clareza de que as modalidades


formal, não formal e informal de ensino devem ser valorizadas, cada qual em
suas peculiaridades, porém vistas de uma maneira unificada. A educação formal
não deve ser atribuída somente à unidade escolar, pois é neste ambiente que
a formação sistematizada inicia seu percurso e o apresenta às demais formas
educativas. A escola deve buscar estreitar seus vínculos com a educação formal e
a não formal, adotando uma postura consciente, criativa, crítica e realista diante
destes conceitos educacionais.

Libâneo (2010) reforça esta questão quando coloca que a educação não pode
ser dissolvida nos movimentos sociais, ou seja, uma sociologização da educação,
pois tal visão provocaria um empobrecimento da Pedagogia. Em contrapartida, a
educação também não deve ser referenciada somente pela escolarização, negando
a visão contextualizada da prática educativa escolar unida a outras modalidades.

Acadêmico(a)! Ao estudarmos as características de cada modalidade


educativa, passamos a compreender seu entrelaçamento e importância na formação
contínua do indivíduo e o quão o papel do educador consciente destas diferenças e
semelhanças é primordial neste aspecto.
31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou que:

• A pedagogia passa a ter nova roupagem e sai das salas de aula auxiliando
profissionais de várias áreas, exigindo dos pedagogos maior formação e
comprometimento.

• Para Libâneo (2010) as modalidades educacionais subdividem-se em três:


formal, informal e não formal, assim conceituadas:

 Modalidade formal: característica das instâncias de formação, escolares ou


não, em que há objetivos educativos explícitos direcionados para uma ação
intencional institucionalizada, estruturada e sistemática.

 Modalidade informal: corresponde às ações e influências exercidas pelo meio,


ou seja, o ambiente sociocultural em que o indivíduo está inserido.

 Modalidade não formal: caracteriza-se pela relação educacional realizada em


instituições fora dos marcos institucionais, mas que obedecem a certo grau de
sistematização e estruturação.

• São vastas as áreas de atuação do pedagogo; Libâneo (2010) assim os denomina:


a) formadores, animadores, instrutores, organizadores, técnicos, consultores,
orientadores, que desenvolvem atividades pedagógicas (não escolares) em
órgãos públicos, privados e públicos não estatais, ligados às empresas, à
cultura, aos serviços de saúde, alimentação, promoção social etc.; b) formadores
ocasionais que ocupam parte do seu tempo em atividades pedagógicas em
empresas, por exemplo: engenheiros, técnicos, supervisores de trabalho; c)
trabalhadores sociais, monitores e instrutores de recreação e educação física,
bem como profissionais das mais diversas áreas. Exemplo: comunicadores
sociais, administradores de pessoal etc.

• A educação não permanece somente nas modalidades formal, informal


e não formal. Para Libâneo apud Mialaret (1978), a educação possui três
formas: educação-instituição; educação-processo; educação-produto, assim
conceituadas:

 Educação-institucional: ocorre a partir da estrutura organizacional e


administrativa, com normas de funcionamento e diretrizes pedagógicas que se
referem ao sistema educacional.

32
 Educação-processo: opera com três elementos considerados essenciais: um
agente que origina a ação educativa; um modo de atuação que se constitui
de conteúdo ou método e um destinatário que corresponde a um indivíduo,
grupo ou geração.

 Educação-produto: caracteriza-se pelos resultados obtidos na execução das


ações educativas, diante da configuração do sujeito educado como consequência
dos processos educativos ministrados.

33
AUTOATIVIDADE

1 Caro(a) acadêmico(a)! Disserte sobre as novas áreas de atuação do pedagogo.


Mencione suas vantagens e o que este profissional necessita diante das
mudanças que ocorrem dentro da pedagogia.

34
UNIDADE 1
TÓPICO 3

A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO
PEDAGOGO

1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a)! Nesta nova fase de estudos, apresentaremos
alguns conceitos pertinentes à formação de sua identidade, além da influência
que os diversos grupos que fazem parte da sua vida, contribuindo também com
a formação de sua identidade enquanto pedagogo. Além disso, abordaremos
o papel do professor na pós-modernidade e os avanços da pedagogia neste
movimento, enfocando principalmente a postura do educador.

2TODOS POR UM: O GRUPO NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE

Que tal iniciarmos os estudos de uma maneira diferente? Para isto o(a)
convidamos para um desafio: em posse de um papel e lápis, pare por um minuto e
liste todos os grupos dos quais fez ou faz parte. Dos grupos que você listou, pense
agora: qual é a principal razão de fazer parte deles? Certamente você terá mais
claro os motivos que o(a) impulsionaram a participar de alguns grupos e talvez
ficará em dúvida quanto à sua participação em outros, mas não se preocupe,
pois no decorrer desta exposição vamos procurar juntos, as respostas para estas
perguntas.

Para que possamos compreender melhor estas questões, precisamos


inicialmente nos remeter à infância. Toda criança que vem ao mundo adentra
a um cenário pronto, ou seja, construído e organizado anteriormente ao seu
nascimento que farão parte da vida e, consequentemente, das relações sociais
desta criança.

Bock (1995) salienta que essas relações sociais ocorrem num primeiro
momento na família, que é responsável por orientar a criança a fim de prepará-la
para a ampliação do círculo de relações. Ao longo da vida do indivíduo, acontecerá
a internalização da realidade e sua formação psíquica, que são construídos a
partir de suas experiências de vida em um processo contínuo.

35
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 18 – FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://pastorsantos.no.comunidades.net/index.


php?pagina=1135855144>. Acesso em: 15 nov. 2012.

A história de vida de cada um é construída mediante o convívio com os


vários grupos sociais e como esses agem sobre nós. Por exemplo: na escola, a
criança desenvolve várias habilidades, mas poderá apresentar maior desenvoltura
em uma determinada área, destacando-se entre os demais, e com isso terá mais
afinidade com as pessoas que demonstram a mesma habilidade.

Bock (1995) destaca que o grupo social supõe um conjunto de pessoas


relacionando-se mutuamente e de forma organizada, tendo por finalidade atingir
um objetivo a curto ou longo prazo.

Podemos exemplificar este conceito tendo por objetivo imediato (curto


prazo) a elaboração de um projeto social, e a longo prazo, alcançar ampliação do
laboratório de informática de uma escola que será aberta para a comunidade. Para
que os objetivos sejam alcançados, a execução do projeto deverá estar centrado
na distribuição das tarefas, no relacionamento entre as pessoas, na comunicação
entre todos que fazem parte do grupo e no desenvolvimento dos que dele fazem
parte, em prol do alcance do objetivo.

Quando falamos na importância das ações do grupo ao alcance do objetivo,


estamos nos referindo ao processo grupal, no qual Bock (1995, p. 207) define como:

[...] uma rede de relações que pode caracterizar-se por relações


equilibradas de poder entre os participantes ou pela presença de uma
figura ou subgrupo que detém o poder e determina as obrigações e
normas que regulam a vida grupal. As relações de poder no grupo
determinam ou influenciam o grau de participação dos membros nas
decisões grupais, o processo de comunicação interno, o sistema de
normas e punições e suas aplicações.

36
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

Cada grupo tem sua própria história, bem como um sistema de controle
próprio para lidar com seus membros, ou seja, quando alguns deles fogem às
regras instituídas, cabe aos demais estabelecer quais medidas serão aplicadas
a fim de controlar o comportamento dos mesmos. Para que um grupo trabalhe
em harmonia, a cooperação é um fator muito importante pois traz vitalidade à
equipe, e por isso favorece a resolução de conflitos em relação a valores e regras,
entre outros aspectos da vida grupal.

Outro movimento que integra a relação nos grupos são os conflitos, pois os
mesmos consistem em situações que perturbam a ação ou a tomada de decisões,
devido à diversidade de opiniões e crenças dos membros do grupo, porém faz-
se necessário pensar que os conflitos nos momentos de hostilidade, podem ser
caracterizados como crescimento para um grupo que saiba tirar proveito disso.

Ao refletirmos sobre a diversidade, consideramos que o indivíduo faz parte


de diversos grupos como, por exemplo, na igreja, na família, no voluntariado,
no trabalho, entre outros, sendo que o mesmo também acontece, também ocorre
com cada um dos demais participantes e todos trazem consigo as experiências
vivenciadas nos demais grupos dos quais fazem ou fizeram parte.

Bock (1995, p. 208) ressalta que:

Considerar o processo de desenvolvimento grupal significa,


também, que o grupo pode propiciar a seus participantes condições
de desenvolvimento e crescimento pessoal. Ninguém sai de um
grupo igual a quando entrou nele. Participar de um grupo significa
partilhar pontos de vista, representações, crenças, informações,
emoções, desenvolver habilidades, aprender a desempenhar papéis
de estudante, de filho, de profissional etc.

Partilhando suas vivências com o grupo, o indivíduo traz à tona o que


realmente é, ou seja, o que ele pensa, age, e sente, podendo assim influenciar o
grupo de alguma maneira. Assim como influencia também é influenciado pelo
grupo. Em ambos os casos, algumas atitudes ou crenças podem ou não ser aceitas,
mesmo sendo produto da história de vida de seus envolvidos. Neste momento,
estamos falando do processo de socialização.

37
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 19 – GRUPO DE ADOLESCENTES

FONTE: Disponível em: <http://sociologiamelhormateria.blogspot.com.


br/2011/03/tipos-de-agregados-sociais.html>. Acesso em: 15 nov. 2012.

Conforme Bock (1995), a socialização é o processo no qual ocorre a


internalização do mundo social, com suas normas, valores, modos de representar
os objetos e situações que compõe a realidade objetiva; fazendo parte também
do processo de constituição de uma realidade subjetiva, formada a partir das
primeiras relações do indivíduo com o meio social.

É importante destacar que a questão específica que aborda o “que e como” o


indivíduo aprenderá vai depender de que grupo ele faz parte, mediante condições
peculiares como a classe social e cultural resultando em aprendizados diversificados.

Bock (1995) nos chama a atenção para dois processos distintos no que
tange à socialização, são eles:

a) Socialização primária: ocorre a partir do momento em que são passados


à criança os valores referentes às situações vividas pela sua família ou seu
substituto, podendo ser a creche ou o orfanato.

FIGURA 20 – VALORES

FONTE: Disponível em: <http://meustrabalhospedagogicos.blogspot.com.


br/2008/02/abordagens-dos-temas-transversais.html>. Acesso em: 21 nov. 2012.

38
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

b) Socialização secundária: nesta fase, os grupos levados em consideração, são


todos aqueles que vão fazer parte da vida do indivíduo ao longo dos anos, ou
seja, essa socialização irá ocorrer na escola, no grupo de amigos (especialmente
na adolescência, que se torna referência em comportamento, hábitos e valores,
principalmente quando tratar do enfrentamento com o adulto) e adiante no
grupo de trabalho.

Constantemente fazemos parte de algum grupo social, independentemente


da idade, pois a socialização não deixará de fazer parte da vida, mesmo quando um
adolescente torna-se adulto, já que se trata de um processo ininterrupto. Porém,
com a maturidade, as relações passam por mudanças e, consequentemente, o
indivíduo vai interferindo no seu próprio processo de construção subjetiva,
transformando-a. Desta forma, quando o indivíduo passa a transformar, produzir
e interagir no meio que o cerca e, principalmente, em si próprio, ocorre a formação
da identidade.

Acadêmico(a)! Quando alguém o(a) aborda e pede a sua identidade,


certamente você providencia seu documento em que consta uma série de
informações que o diferencia das demais pessoas de um mesmo ambiente.

39
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 21 – CARTEIRA DE IDENTIDADE

FONTE: Disponível em: <http://aevangelista.wordpress.com/2010/03/15/


nossa-identidade/>. Acesso em: 15 nov. 2012.

Porém, o conceito de identidade vai muito além de um documento,


estamos nos referindo a uma apropriação do indivíduo em si mesmo ou a um
autorreconhecimento. Bock (1995, p. 213) bem coloca:
[...] o reconhecimento do eu se dá no momento em que aprendemos
a nos diferenciar do outro. Eu passo a ser alguém quando descubro
o outro e a falta desse reconhecimento do outro não permitiria que
eu soubesse quem sou eu, na medida em que não teria elementos de
comparação que permitissem que o meu eu se destacasse dos outros
eus. Desta forma, podemos dizer que a identidade, o igual a si mesmo,
depende da sua diferenciação em relação ao outro, o que faz da
categoria uma função de interação entre o indivíduo e sua cultura.

A construção da identidade é algo permanente na vida do indivíduo, por


meio de seus sonhos, desejos, anseios, personalidade etc. Outro fator importante
de constituição da identidade é a atividade. Bock (1995) nos expõe que a atividade
constrói a identidade, sendo que o fato de estarmos inseridos nas organizações
torna nossa ação fragmentada.

Para melhor compreender esta afirmação, é preciso perceber que,


dependendo de onde estamos e com quem estamos, desenvolvemos atividades
e ocupamos lugares diferentes. Por exemplo, neste momento você está no lugar
de estudante, a leitura é pertinente aos seus estudos; diante dos seus colegas
de turma, você é visto como um bom estudante, pois é responsável, e tem boas
notas. Já para seus amigos mais íntimos, talvez você seja o extrovertido, que está
sempre alegre contando histórias, ou seja, como pode perceber houve uma troca
de lugares e assim o “bom aluno” foi substituído pelo “amigo extrovertido”.

Bock (1995, p. 216) ressalta:

40
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

A identidade é sempre uma identidade pressuposta, mas ao mesmo


tempo tal pressuposição é negada pela atividade, já que ao fazer eu
me transformo o que faz da identidade um processo em permanente
movimento.

É nesta movimentação que nos identificamos, fazendo parte de vários


grupos durante nossa vida. Nesta conjuntura e tomando como base a sua escolha
pelo Curso de Pedagogia, acadêmico(a), você amplia sua rede de relações e coloca
em movimento sua identidade pessoal, para assim construir sua identidade
profissional enquanto pedagogo, que passará a conhecer melhor a partir de agora.

3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO PEDAGOGO


Vimos que uma das formas de constituição da identidade é a atividade,
ou seja, durante nossa vida desempenhamos várias funções nos grupos dos quais
fazemos parte e isso nos posiciona diante das pessoas.

A escolha profissional é um momento de muitas dúvidas para determinadas


pessoas, considerando que algumas deixam o curso superior para mais tarde, a
fim de adquirirem maturidade.

Acadêmico(a), pare por um momento e pense como foi a sua escolha


pela Pedagogia: foi espelhada em alguém que admirava? Foi o testemunho de
algum pedagogo que o inspirou? Escolheu por que gosta de crianças? Reflita
sobre suas respostas e considere toda a sua caminhada até aqui. Dentre tudo que,
provavelmente, você imaginou antes de envolver-se diretamente com a pedagogia,
o “ser pedagogo” bem como o papel a desempenhar, deve estar mais claro.

Conforme o site Brasil Profissões (2010), o pedagogo é um profissional


especialista em educação, cuja função é produzir e difundir conhecimento no
campo educacional, no qual deve ser capaz de atuar em diversas áreas educativas
e compreender a educação como fenômeno cultural, social e psíquico.

41
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 22 – ESTUDANTE DE PEDAGOGIA

FONTE: Disponível em: <http://saojosedoscampos.olx.com.br/sou-estudante-


de-pedagogia-procuro-um-trabalho-de-baba-iid-116250137>. Acesso em: 21
nov. 2012.

O site ainda sustenta que algumas das características necessárias para


ser pedagogo englobam a capacidade de planejamento e execução de planos,
dinamismo, boa comunicação facilidade em transmitir ideias; criatividade
e competência no enfrentamento dos problemas do cotidiano, assim como
flexibilidade, tolerância e atenção à diversidade cultural da sociedade, também
são atributos exigidos para o exercício da pedagogia.

A partir disso, podemos afirmar que a educação sente diretamente as


mudanças provocadas pelas constantes transformações que ocorrem devido à
globalização, exigindo dos educadores novas posturas, dinâmicas e abordagens
objetivando o preparo dos alunos para que num futuro desenvolvam suas
atividades como profissionais competentes, hábeis e polivalentes, cabendo
também ao educador transmitir os conceitos necessários para que este aluno
entenda e pratique a cidadania em conformidade com a ética e todas as implicações
que a mesma confere.

Conforme Soares (2006) faz-se necessário dominar conhecimentos, para


que seja possível garantir a eficiência e eficácia da ação em prol do resultado,
sendo pertinente buscar formação teórica a fim de se unir aos saberes práticos.

Estes saberes necessitam estar ligados e sustentados no desempenho


do ofício docente desempenhado pelo Pedagogo na construção do processo
educacional, levando a uma reflexão no que tange aos conceitos de identidade
profissional, saberes, competência, valores, crenças e culturas, princípios estes
que contribuem para a caracterização do perfil do pedagogo.

42
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

Diante do exposto, este profissional deve ter clareza do seu papel, pois
sua função faz com que ele experimente constantemente novas possibilidades de
pensar, agir e compreender seu atuar na sociedade, por fazer parte da construção
da história, juntamente com vários outros atores sociais que buscam a mudança
e consequentemente a transformação do meio que os cerca em um espaço mais
humano, mediante ações competentes e participativas. Para que o pedagogo
tenha êxito nesta jornada, faz-se necessário a aquisição de alguns saberes que
fundamentem o seu fazer pedagógico. Tardif (2001) os compreende como:

• Saberes da formação profissional: são transmitidos pelas instituições


responsáveis pela formação (escolas normais ou universidades). O professor
e o ensino constituem objeto de saber para as ciências e para as ciências da
educação.
• Saberes pedagógicos: caracterizam-se como doutrinas ou concepções
provenientes de reflexos da prática educativa no seu mais amplo sentido, no
qual orientam a prática educativa.
• Saberes curriculares: fazem parte deste os objetivos, conteúdos e métodos a
partir dos quais a constituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais.
• Saberes experienciais ou práticos: estes compreendem os saberes produzidos
pelos professores no exercício da função diária e no conhecimento de seu meio,
ou seja, são os saberes validados a partir da experiência.

FIGURA 23 – PEDAGOGO

FONTE: Disponível em: <http://www.trajetoconsultoria.com.br/


acerteorumo/?cat=66>. Acesso em: 21 nov. 2012.

43
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

Todos estes saberes constituem a identidade do pedagogo, diante das


relações que são estabelecidas com os alunos e demais pessoas que fazem parte
daquela realidade. Para a construção deste processo, o profissional deve ter claro
que a formação teórica é algo essencial para o desenvolvimento de suas atividades,
nos quais a ciência, arte e filosofia, fazem parte do trabalho. Conforme Rios (2003),
as ações dos docentes abrangem dimensões importantes, sendo:

• Dimensão técnica: consiste na capacidade em lidar com os conteúdos conceitos e


comportamentos, articulando-os com os alunos em um processo de construção
e reconstrução.
• Dimensões estéticas: diz respeito à presença da sensibilidade e sua orientação
numa perspectiva criadora.
• Dimensão política: refere-se à participação na construção da sociedade bem
como na reivindicação dos direitos e exercício dos deveres.
• Dimensão ética: trata-se do respeito à orientação da ação, tendo como base o
respeito e a solidariedade, na direção de um bem coletivo.

Diante do exposto, a constituição da identidade do pedagogo parte de saberes


teóricos e práticos, para a construção de um trabalho autônomo e competente, na
superação dos obstáculos e desafios que surgem em seu cotidiano escolar.

De acordo com Soares (2006), os dilemas e conflitos enfrentados


diariamente em sua prática o fortalecem nas suas crenças, potencializa suas ações
e compromisso ético, agregando crenças, valores e culturas, traçando assim um
perfil identitário para esse profissional.

Ao desempenhar sua função, o pedagogo contribui diretamente na


construção do ser humano, investindo em sua dedicação e compromisso, para
que o próximo tenha a oportunidade de exercer e ter o seu direito como cidadão
a qualquer momento.

3.1 O PAPEL DO PEDAGOGO NA ATUALIDADE


Neste momento, acadêmico(a), vamos nos aprofundar no que diz respeito
à atuação do pedagogo na atualidade, sua postura e preparo diante das diversas
demandas que a ele se apresentam diariamente. Certamente, em sua época escolar,
você deve ter convivido com professores que mantiveram a mesma estrutura de
ensino ano após ano, ou seja, totalmente previsíveis na metodologia aplicada,
enquanto outros se apresentam criativos e inovadores.

A respeito disso, Rêgo (2009, s/p) nos coloca que:

O professor, enquanto especialista da aprendizagem, adquiriu


formação específica e foi designado pela sociedade através de um
processo de seleção acadêmica, para cuidar da aprendizagem dos
alunos. O perfil desse professor pós-moderno assume alguns aspectos

44
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

sobremodo relevantes; é ele quem constrói os fundamentos de todo


e qualquer perfil profissional. Do ponto de vista do humano é o
profissional mais estratégico.

Para assumir o compromisso pelo direcionamento da vida profissional de


outras pessoas, faz-se necessário que o mesmo adote uma postura articulada e
seja dotado de algumas características importantes.

Assim, Rêgo (2009) nos mostra quais são as ações que devem ser adotadas
pelo professor moderno no ato do seu desenvolvimento profissional:

a) O professor deve ser pesquisador: o ato de pesquisar e estar em busca do


conhecimento é o que mais define o exercício deste profissional, portanto,
lecionar vai além de ministrar aulas e socializar conhecimentos; pois a pesquisa
é compreendida como princípio educativo comprometido com a qualidade do
ensino.
b) O professor precisa saber construir: a aprendizagem tem maior significado a
partir do momento em que direcionamos nossas intenções na construção do que
queremos transmitir, sendo que quando construímos novas formas de transmissão
e aplicação deste conhecimento o conteúdo internalizado é pela via da elaboração.
As informações a serem transmitidas tornam-se energia pessoal se elaboradas
pessoalmente, assim como o alimento se torna energia pessoal se digerido.
Elaborar métodos e estratégias, implicam três aspectos importantes: 1) viabilizar o
projeto pedagógico próprio e coletivo; 2) dar conta do material didático próprio; 3)
introduzir inovações didáticas próprias, no sentido de nos tornarmos sujeitos das
próprias propostas. O professor não pode ser apenas leitor, mas precisa tornar-
se autor, e mostrar o caminho visível da passagem do leitor para o autor, do
observador para o participante, do discípulo para o mestre.
c) O professor precisa teorizar a prática: trata-se de combinar de forma criativa
teoria e prática. Podemos arriscar dizer que o conhecimento tem início a partir
do questionamento da prática. A própria teoria se não for confrontada com a
prática, não é uma teoria socialmente pertinente. Neste aspecto o professor
necessita da autocrítica, no que tange à sua competência, pois o professor
cujo seu próprio aprendizado é deficitário, não desenvolve no seu aluno o
aprendizado de forma eficiente.
d) O professor deve buscar atualização permanente: isso sempre faz parte das
discussões pedagógicas mais aprofundadas, pois o conhecimento imprime
uma coerência assustadora ao processo de inovação, sendo ele próprio objeto
de inovação, pois a velocidade da inovação é proporcional à velocidade do
envelhecimento. Nenhuma profissão envelhece mais rapidamente quanto a
do professor. O desafio na atualização permanente pode ser visualizado sob
dois níveis principais: 1) a socialização do conhecimento: representado por
seminários, encontros, palestras que permitem ao professor manter contato
com pesquisadores, oportunizando momentos de discussão comunicação
e informação; 2) nível de captação permanente: consiste na participação
em cursos que garantam aprendizagem adequada, baseados na pesquisa e
elaboração própria.

45
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

e) O professor deve saber utilizar-se das tecnologias de informação: neste


item estão presentes dois desafios: 1) usar os meios disponíveis para fins de
socialização de conhecimento e informação, pois tais recursos proporcionam
que o aprendizado seja acessível e consequentemente mais atraente,
promovendo ambientes mais motivadores e instigadores de aprendizagem;
e 2) a produção de materiais didáticos através de meios eletrônicos, sendo o
professor autor de propostas criativas. É possível caminhar na direção de uma
informática cada vez mais construtiva, que supere a simples transmissão de
informação e conhecimento; o “educativo” da informática, não provém dela
mesma, mas do educador engajado no processo de aprendizagem do aluno.
Assim a informática assume o papel de insumo da educação, enquanto meio
para levar o aluno a estudar e a pensar.
f) O professor precisa caminhar na direção da interdisciplinaridade: o
conhecimento exige que a posição dos especialistas seja mantida, porém a
interdisciplinaridade de conhecimentos nas áreas afins, não pode ser deixada
de lado. Trata-se de encontrar um meio termo entre o conhecimento profundo e
naturalmente verticalizado, e a capacidade de aprender para além da fronteira
disciplinar, o professor um profissional polivalente.
g) O professor deve revisar o processo de avaliação: cabe ao professor rever sua
teoria prática de avaliação, objetivando aprimorar o processo de aprendizagem
dos alunos. A avaliação faz parte do processo educativo e num primeiro momento
proporciona ao professor a oportunidade de diagnosticar, ou seja, saber em que
situação se encontra o aluno, sobretudo as dificuldades de aprendizagem.

Diante do exposto, acadêmico(a), verificamos que o professor é um


profissional dinâmico que deve caminhar em busca de mudanças, visando ao seu
próprio progresso e o dos que estão sob sua responsabilidade.

O perfil do professor pós-moderno recebe destaque principalmente aos


que elencam a importância a ele merecida e nos que investem em educação,
pois por meio da valorização e respeito a este profissional e ao seu saber nos
juntaremos ao nível dos países que investiram e colheram bons resultados na
qualidade da educação.

4 ÉTICA APLICADA À PEDAGOGIA – UMA BREVE REFLEXÃO


A ética é um tema que permeia a maioria das rodas de discussão entre
profissionais e na pedagogia não poderia ser diferente. Inúmeras são as situações
em que o pedagogo questiona-se sobre o que é certo ou errado, deixando-o em
dúvida sobre o que fazer, dizer ou como portar-se diante de uma situação que o
desafia em relação à moralidade do comportamento a ser adotado.

Em situações cotidianas como chamar a atenção do aluno, avaliar seu


desempenho em sala de aula, analisar seu comportamento indisciplinado, ou sua
insistência em colar na prova, devem ser pautadas numa postura ética respeitando
alunos e instituição, e, sobretudo, valorizando o professor.

46
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

FIGURA 24 – ÉTICA

FONTE: Disponível em:<http://filosofandoehistoriando.blogspot.com.


br/2010_02_01_archive.html>. Acesso em: 21 nov. 2012.

Júnior (2009) afirma que a conduta ética adequada evita a responsabilidade


por danos na relação educacional, danos em relação às pessoas envolvidas, bem
como dano à própria educação, que é o objetivo maior da atividade da docência.

Mas, afinal o que é a ética? Qual seu objeto de estudo? É possível ter um
comportamento ético? Essas questões são pertinentes de reflexão, pois referem-
se ao nosso atuar, não só em sala de aula, mas diante de várias situações. Assim,
Júnior (2009, p. 150) nos coloca que:

A ética não é a própria moral, mas a moral é o objeto de estudo da


ética em caráter científico. Dessa forma, o estudo da ética não tem a
intenção de estabelecer regras fechadas de como se comportar, ou seja,
estabelecer soluções para cada problema prático-moral, e sim criar
uma ciência com princípios gerais voltados para a reflexão de um
comportamento moral e, assim, saber agir e situações problemáticas.
A ética não se preocupa com qualquer comportamento humano, mas
com aqueles que envolvem problemas de moral, bem como a reflexão
sobre estes problemas e a construção de uma ciência, tendo como
objeto o comportamento moral.

A ética não apresenta soluções para qualquer tipo de comportamento, ou


seja, não há regras específicas para cada ação desenvolvida, pois esta tarefa é de
responsabilidade do indivíduo. A ética apresenta algumas regras que nos levam
a refletir sobre este ou aquele comportamento, e organizar princípios a fim de que
o indivíduo possa conduzir suas ações dentro dos padrões éticos.

Assim, Júnior (2009) destaca que:

47
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

A forma para cada campo de comportamento humano devem ser


analisados os problemas morais enfrentados, refletir cuidadosamente
sobre eles, fazer juízo de valor, encontrar soluções, e a teorização destas
reflexões se traduz no significado de ética, que depois, como ciência,
deve manter a investigação dos casos para poder se contextualizar e
se reformular na diversidade de situações de problemas morais dos
relacionamentos humanos.

Nas relações entre professor e aluno, professor e instituição, os problemas


considerados práticos morais sempre acontecerão, pois como cada caso é um
caso, e para que se determine uma conduta ética na busca de uma solução, a
compreensão da condição dos indivíduos envolvidos deve ser considerada.
Nossos comportamentos refletem nos campos sociais e como profissionais
atuamos em um sistema, sendo necessário respeitar a ordem do mesmo, para que
possamos ter sucesso neste campo.

Júnior (2009) nos leva a refletir sobre uma importante questão; o profissional
que trabalha somente pelo salário é imprudente não tem consciência que sua
atuação profissional faz parte de um sistema social, pois ele é um participante
ativo na construção do bem comum, sendo de extrema importância lembrar que o
trabalho dignifica o homem não somente pelo fator econômico, e sim pelo social,
ou seja, por ser instrumento de realização da construção de uma sociedade.

A atuação profissional baseada na ética reforça que o profissional importa-


se com os reflexos sociais da sua profissão, mesmo em tempos onde a cultura
imediatista capitalista, faz com que muitas vezes os profissionais se esqueçam
das implicações sociais da profissão.

A importância da ética do professor é defendida por Júnior (2009, p. 152)


quando ele coloca que:

O comportamento do professor em sala de aula deve ser pensado, pois


existe a necessidade de atender regras de comportamento em relação
aos alunos, à instituição em que trabalha, bem como aos colegas de
classe. Um comportamento antiético atinge não só a harmonia de
uma sala de aula, mas de todo o sistema de educação, pois os reflexos
de um microssistema (sala de aula) influenciam todo o objetivo de
construção social, ainda mais quando este microssistema é relacionado
à educação.

É preciso refletir que algumas virtudes são consideradas indispensáveis


para uma atuação profissional ética. Junior (2009) apud Antônio Lopes de Sá
(2001, p. 175), considera como virtudes básicas profissionais, imprescindíveis a
qualquer profissão:

• Exercício do zelo: o zelo é a responsabilidade do profissional com o objeto do


seu trabalho e como demonstra a qualidade de seu serviço. O zelo requer que
mesmo em situações extremas, em que aparentemente a solução é difícil, o
profissional prime pelo empenho e responsabilidade profissional.

48
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

• Honestidade: o profissional recebe a confiança dos que utilizam seus serviços,


por isso honestidade significa ter a responsabilidade perante o bem e a
satisfação de terceiros.
• Sigilo: a partir do momento em que o profissional tem conhecimento de um
fato, ou é confiado e ele algo importante, por meio de suas atividades, tem o
dever de manter sigilo.

FIGURA 25 – SIGILO

FONTE: Disponível em: <http://morgadodeontologia.blogspot.com.


br/2012/08/5-simuladas-16701674-sigilo-profissional.html>. Acesso em: 21
nov. 2012.

• Competência: significa estar habilitado para a prática de uma determinada


profissão, ou seja, conhecer as técnicas do exercício desta. Tal virtude é
importante para a credibilidade do profissional e evitar que erros sejam
cometidos, podendo causar danos aos envolvidos na atividade desempenhada.

Tais virtudes têm serventia a todas as profissões. Existem virtudes


específicas, em relação à tarefa do educador mediante a relação com os alunos, as
quais estão ligadas ao comportamento ético e adequadas ao modelo de educação
desta sociedade.

A educação também tem por objetivo promover a adequação dos indivíduos


ao convívio social e a manutenção do equilíbrio entre suas várias dimensões, pois
a educação é parte integrante da mesma, tendo por missão reproduzir o modelo
vigente nesta, em seus aspectos econômicos, sociais e políticos, principalmente na
representação da verdade, formando assim indivíduos que perpetuem e atuem
frente a este modelo.

49
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

5 O PROFESSOR NA PÓS-MODERNIDADE
Antes de iniciarmos este assunto, vamos resgatar a história da pós-
modernidade, para que possamos entender seus reflexos na atuação do professor.
Gonçalves (2008) nos coloca que:

O que se chama de pós-modernidade ou pós-modernismo é um


movimento sociocultural que ganhou impulso a partir da segunda
metade do século XX. Este movimento caracteriza-se por uma severa
crítica aos padrões éticos e estéticos que vigoraram no século passado e
é típico das sociedades pós-industriais baseado na informação. Passou
a incorporar uma visão de mundo relacionada ao fim dos conflitos
mundiais e à superação da “guerra-fria”.

O pós-modernismo é caracterizado pelo paradigma sociocultural, com


base nas transformações e avanços da sociedade. Alguns eventos caracterizaram
este movimento como: a ida ao espaço, avanços da saúde e genética, bem como
o aumento do consumo nas sociedades capitalistas. As maiores mudanças do
movimento pós-modernista foram expressas nas artes, conforme demonstra o
quadro a seguir:

QUADRO 2 – MODERNISMO E PÓS-MODERNISMO NAS ARTES

Modernismo e Pós-Modernismo

Modernismo Pós-Modernismo
Cultura elevada Cotidiano banalizado
Arte Antiarte
Estetização Desestetização
Interpretação Apresentação
Obra/originalidade Processo/ pastiche
Forma/abstração Conteúdo/figuração
Hermetismo Fácil compreensão
Conhecimento superior Jogo com a arte
Oposição ao público Participação do público
Crítica cultural Comentário cômico, social
Afirmação da arte Desvalorização obra/autor
FONTE: Santos (1986, p. 41-42)

50
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

Em relação à organização dos conhecimentos, Gonçalves (2008) nos


demonstra que com o pensamento pós-moderno, as formas de conhecer e
de pensar o conhecimento não podem mais seguir uma lógica mecanicista e
determinista, sendo que as repercussões da globalização sobre as maneiras de
pensar e sentir, viver e agir no mundo afetam as concepções filosóficas sobre a
realidade.

Diante das transformações mencionadas acima, a educação também


passou por significativas mudanças e a atuação do professor necessitou ser
repensada. Antunes (2009, p. 17) faz uma breve exposição sobre a atuação do
professor que não acompanhou essas mudanças:

Nessa visão de ensino aplaudia-se o silêncio, e a imobilidade do aluno


e a sapiência do mestre, além de se pensar o conhecimento como
informações pré-organizadas e concluídas que se passavam de uma
pessoa para a outra, portanto, de fora para dentro, do mestre para
o estudante. Ensinar significa difundir o conhecimento, impondo
normas e convenções para que os alunos assimilassem. Estes levavam
a escola à boca – porque da mesma não podia se separar – mas a toda
aprendizagem dependia do ouvido, reforçado pela mão na tarefa de
copiar.

Acadêmico(a)! Esta citação do autor lhe trouxe lembranças de sua época


escolar? Acreditamos que para muitos de vocês, ela fez todo o sentido, pois os
remeteram às lembranças daqueles professores que faziam uso de métodos
rígidos de ensino, em que o diálogo com os alunos era quase inexistente. Se por
acaso, você não conheceu este estilo de professor, pergunte a qualquer adulto que
tenha mais de quarenta anos e a confirmação virá.

FIGURA 26 – O PROFESSOR ANTIGAMENTE

FONTE: Disponível em: <http://evanildopj.blogspot.com.br/>. Acesso em: 21 nov. 2012.

51
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

De acordo com as literaturas consultadas, este estilo de conduzir o ensino


perpetuou por muito tempo e adentrou o século XX. Esta concepção ditava que era
o professor que detinha conhecimento e não aquele que conduzia a aprendizagem
de seus alunos. Nesta versão, a responsabilidade pelo aprender era do aluno que
repetia o ano quantas vezes fossem necessárias, caso não aprendesse.

Com o tempo, a educação necessitou passar por transformações, nos


quais trouxeram outras maneiras de conduzir o aluno ao aprendizado, assim,
foram pensadas e aos poucos, formas de articulação das disciplinas por meio
de novas abordagens como: a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a
transdisciplinaridade, das quais faremos um breve resgate.

FIGURA 27 – INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE

FONTE: Disponível em: <http://andreasmariano.blogspot.com.br/2012/10/va10temas-


transversais.html>. Acesso em: 21 dez. 2012.

Bastos (2006) nos coloca que a partir do momento em que o professor


conduz seus trabalhos disciplinarmente, ele faz uso de situações-padrão que
correspondem a modelos preestabelecidos e assim são identificados aspectos da
situação estudada que permitem enquadrá-la num padrão, ao qual são aplicados
os saberes conhecidos previamente. Para tanto, é preciso conhecer os conceitos
que estruturam a disciplina, as relações entre esses conceitos (leis e teorias) e
a maneira particular de utilizar essas teorias para chegar a compreender as
situações estudadas.

Já a abordagem multidisciplinar, ainda de acordo com o autor


anteriormente citado, corresponde ao agrupamento de diversas disciplinas
objetivando o estudo de um tema em comum, sem identificar uma situação

52
TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

específica. Neste caso, a visão de mundo que está por trás dessa prática pedagógica
é a mesma que apoia a prática disciplinar, ou seja, compreender o todo pela
justaposição de suas partes. Desta maneira, um tema relevante é cuidadosamente
estudado por todas as disciplinas, dentro de suas perspectivas específicas, sem
que ocorra uma articulação explícita entre elas. A articulação é deixada para ser
feita posteriormente, pelos alunos. O trabalho é conduzido sem que sejam criados
modelos mais complexos de situações específicas ligadas ao tema.

A abordagem interdisciplinar, conforme Bastos apud Fourez (2001),


objetiva a construção de representações em situações específicas, utilizando os
conhecimentos das diversas disciplinas. Esta abordagem apoia-se numa visão de
mundo que considera que as partes da realidade interagem entre si, não sendo
possível compreender um sistema complexo com base na compreensão de suas
partes isoladas.

Ainda nesta linha de pensamento, Bastos apud Fourez (2001) nos apresenta
que:
[...] uma abordagem transdisciplinar ocorre quando utilizamos
noções, métodos, competências e abordagens próprios de uma
disciplina dentro da estrutura de uma outra e num contexto novo.
Nesse caso, essas abordagens ou esses conceitos são chamados de
transversais e podem ser considerados segundo duas perspectivas:
numa visão platônica, esses conceitos e essas abordagens existem
independentemente de contextos, devendo ser ensinados de forma
geral ou abstrata; numa visão construtivista, ocorre a transferência de
uma disciplina para outra, através da modelização de um núcleo, que
será transposto, e de uma adaptação posterior ao plano do contexto.

Estas reflexões nos fazem perceber que a interdisciplinaridade, a


multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade necessitam ser pensadas
constantemente na atuação do professor pós-moderno. É necessário saber mais
do que as diferenças entre elas, para o desenvolvimento dos trabalhos, pois sua
aplicação vai além do somente diferenciar destes conceitos. Atualmente busca-se
uma prática baseada na interdisciplinaridade, ou seja, objetiva-se compatibilizar
além de métodos e técnicas, um conhecimento integrado e ativo.

As constantes mudanças nos vários segmentos dentro do cenário político,


econômico e social da coletividade capitalista e globalizada da qual fazemos parte,
nos mostra o quanto vivemos em uma sociedade fragmentada, em que em muitos
momentos deixa-nos desconcertados, no que condiz ao modo como devemos agir e
articular as diversas informações que se fazem presentes, modificadas e atualizadas
a todo instante, o que em várias situações vêm a causar bloqueios referentes à
elaboração de um pensamento crítico diante de tais mudanças.

O papel do professor como agente ativo/crítico no processo educacional


e formador da sociedade, faz sua parte em relação a estas constantes mudanças,
pois por mais sofisticadas que as tecnologias se apresentem ao nosso dispor, nada
poderá substituir a presença desta pessoa que, além de fornecer o testemunho de
sua vivência e saber, é também responsável por abrir os caminhos rumo à verdade.

53
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 28 – MENSAGEM

FONTE: Disponível em: <http://ew-willianlira.blogspot.com.br/2012/10/o-professor-e-


eduacacao-para-um-brasil.html>. Acesso em: 21 nov. 2012.

54
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O processo grupal é uma rede de relações equilibradas de poder entre os


participantes, que determinam e influenciam o indivíduo e este ao grupo, no
que tange à sua participação na tomada de decisão.

• O ser humano constrói sua história de vida através da interação e pertencimento


aos vários grupos sociais, sendo que a socialização é dividida em duas fases:
primária e secundária.

• O pedagogo necessita apropriar-se de alguns saberes para que obtenha êxito


em seus trabalhos, sendo estes: saberes da formação profissional, saberes
pedagógicos, saberes curriculares, saberes experienciais ou práticos.

• Além dos saberes necessários para a sua formação, a constante modernização


dos processos educacionais fazem com que o pedagogo passe a adotar
algumas ações, no desenvolvimento das suas atividades: ser pesquisador,
saber construir, teorizar a prática, buscar atualização permanente, utilizar-se
das tecnologias de informação, caminhar na direção da interdisciplinaridade e
revisar o processo de avaliação.

• O professor que entende a importância da sua profissão, sabe o quão sua


atuação reflete socialmente.

• Para um exercício profissional eficiente, o profissional deve aplicar em seu


cotidiano algumas virtudes, sendo elas: exercício do zelo, honestidade, sigilo e
competência.

55
AUTOATIVIDADE

Agora, acadêmico(a), que você concluiu os estudos referentes a este tópico,


responda às questões a seguir:

1 Mediante os estudos realizados sobre os grupos sociais, discorra sobre a


importância deles na constituição da identidade.

2 Quais são as características necessárias para a atuação do pedagogo?

3 Discorra sobre as dimensões que direcionam as ações do trabalho


pedagógico.

4 Conceitue ética e exemplifique com uma ação ética que necessita fazer-se
presente na atuação do professor.

56
UNIDADE 1
TÓPICO 4

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES


PROFESSOR E ALUNO NA
CONSTRUÇÃO DOS SABERES

1 INTRODUÇÃO
Diariamente praticamos a arte do convívio. Neste momento, você deve
se perguntar, por que é utilizada a palavra arte? Pois bem, conviver com o outro
sempre foi um desafio para a humanidade, ou seja, desde o mais primórdio dos
tempos, o homem precisou relacionar-se com o outro de várias formas.

As relações se estabelecem por vários motivos sejam eles afinidade,


interesses, afirmações e tantos outros, porém precisamos esclarecer que o
relacionamento humano sempre foi um tema de alta complexidade.

No Tópico 1, você estudou as relações sociais como parte constituinte


da identidade, verificando seus processos primários e secundários. Agora
repensaremos as relações de outra forma, ou seja, mediante o processo de
ensino-aprendizagem e principalmente no que condiz ao professor e aluno.
Trabalharemos algumas estruturas e conceitos no que tange às emoções, afeto,
apego e sentimento para assim melhor entender a complexidade desta estrutura.

2 A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NO ENSINAR E APRENDER


Pense um pouco, acadêmico(a), com quantas pessoas você já se relacionou
hoje? Acreditamos que sua rede de relações deve ser ampla. Supomos que
você deva ter mantido contato com sua família, seus colegas de trabalho, da
universidade, com o porteiro do seu prédio, o cobrador do ônibus e muitas outras
pessoas que fazem parte de sua vida. Todos esses atores são relações que você
mantém diariamente, porém o grau de importância e intensidade diferem de um
para o outro.

Que tal fazermos uma viagem no túnel do tempo? O destino é a sua antiga
escola. Certamente, você deve lembrar-se de alguns professores com mais carinho,
essas recordações remetem-se à maneira como eles marcaram significativamente
a sua vida, principalmente em relação ao seu aprendizado.

Conforme coloca Jesus (2006), a importância da relação professor e aluno


para o sucesso é fundamental, as relações afetivas em sala de aula são um desafio

57
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

para o educador pós-moderno, que deve expressar interesse pelo crescimento


dos alunos, respeitando suas individualidades, proporcionando um ambiente
agradável e propício para o aprendizado.

A educação tem como missão formar cidadãos. Para tornar isso possível,
é preciso cativar, envolver e motivar o aluno para que ele desenvolva o interesse
no aprender e estar em sala. Devido à aceleração com que as informações são
propagadas e as exigências curriculares, o professor preocupa-se em cumprir com
a agenda formal, muitas vezes deixando de lado ou delegando aos companheiros
esta formação.

Acadêmico(a)! Pare um instante e pense: as disciplinas que abrangem


as ciências exatas são menos responsáveis pela formação cidadã do aluno? A
escola como um todo, seja dentro, fora ou além dos muros do espaço educativo
formal, deve ser sensível às questões que abrangem este tema, levando os alunos
ao questionamento e à busca por respostas, principalmente no que se refere ao
ambiente que o cerca.

Diante do exposto, Jesus (2006) enfatiza que o professor necessita conscientizar-


se do seu papel, ou seja, de facilitador da aprendizagem, sendo assim, aberto a
novas experiências procurando compreender através de uma relação empática, os
problemas e os sentimentos de seus alunos.

FIGURA 29 – PROFESSOR FACILITADOR

FONTE: Disponível em: <http://ensa.org.br/blog/?p=5132>. Acesso em: 12 dez.


2012.

58
TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

Enquanto educadores, é impensável que o conhecimento possa ser


construído individualmente, pois o conhecimento é o resultado do social unido
ao cultural, e a nós educadores, compete intermediar estes conteúdos para
que uma aprendizagem construtiva se constitua, pois o professor reflete seu
relacionamento com os alunos, bem como seu trabalho, a partir de sua relação
com a sociedade e a cultura.

A empatia é outro fator fundamental que sustenta a relação professor e


aluno, neste caso, ser empático refere-se à sensibilidade de colocar-se no lugar de
quem aprende, objetivando verificar o nível de compreensão dos alunos e assim
criar elos entre o conhecimento de um e do outro.

Porém, ser empático não cabe somente ao professor, é preciso que os dois
estejam abertos para que esta relação se construa. De acordo com Jesus (2006),
existem dois principais estilos de relação entre professores e alunos:

a) Relação de comunicação mais pessoal: nesta situação reconhecer os êxitos,


reforçar a autoconfiança, ter atitudes de cordialidade e respeito faz parte da
prática do professor que está envolvido com os alunos, porém é importante
manter uma aproximação afetiva sem exageros para que se concretize uma
relação didática eficaz.
b) Relação de orientação própria ao estudo: refere-se ao papel exercido pelo
professor, em que consiste o uso da criatividade e a forma de como o conteúdo
será repassado aos alunos, partindo do princípio que afetividade pouco
influenciará nesta relação se a competência e a qualidade de ensino estiverem
aquém do esperado.

Já Morales (1999) considera que são três as principais áreas de atuação do


professor, no que tange ao relacionamento com o aluno:

a) Relações interpessoais: considera que deva dedicar um tempo para conversar


com os alunos, mostrando interesse pelo que dizem, bem como, disposição
na execução das atividades, demonstrando aos alunos que o professor está
próximo. Desta forma, são construídos laços de confiança que permitem à
criança crescimento, no que tange, ao seu desenvolvimento emocional, social,
cultural e cognitivo.
b) Estrutura de aprendizado: refere-se ao conteúdo a ser ministrado aos alunos,
em sua quantidade e qualidade, cabendo ao professor estar atento: tanto às
expectativas quanto ao aprendizado, auxiliando no que for necessário e
procurando sensibilizar-se com a dificuldade do aluno na compreensão do
conteúdo.
c) Autonomia: encontra-se ligada à liberdade no ato do aprender. Ao professor
cabe à missão de buscar motivar seus alunos em relação à aprendizagem,
paralelamente à transmissão de conceitos como: colaboração, respeito e
cooperação, que caracterizam o bom desenvolvimento em sociedade.

59
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 30 – AUTONOMIA

FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/planejamento-e-


avaliacao/interacoes/parceiros-acao-431402.shtml>. Acesso em: 12 dez. 2012.

Os pontos acima citados estão integrados, constituindo a dinâmica


estrutural que conduz o professor preocupado com a qualidade das relações em
sala de aula, a alcançar seus objetivos.

3 AS EXPECTATIVAS NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO


Criar expectativas é natural quando esperamos que algo venha a acontecer,
seja este evento positivo ou negativo. Este é um ato próprio do ser humano. A
ansiedade faz-se presente na vida do professor, principalmente no período que
antecede o encontro com seus futuros alunos.

Durante este tempo, os comentários de outros professores sobre a


turma vão aguçar a sua imaginação e curiosidade. Partindo dos preconceitos a
ele transmitidos, o professor inicia seu contato com a turma, de uma maneira
muitas vezes involuntária, já esperando daqueles que foram pré-determinados
como alunos rentáveis um bom desempenho, bem como outras caraterísticas de
comportamento dos demais.

Tal equívoco traz prejuízos ao trabalho do professor, sendo que ao invés


de investir na turma como um todo, ele acaba por direcionar suas expectativas
somente em certos alunos, o que pode evocar de acordo com Jesus (2006) em
algumas mudanças de comportamento por parte do professor, no que se refere ao:

• Estabelecimento de um clima mais agradável somente com aqueles que


demonstram melhores resultados.
• Modo como se direciona, fornecendo as informações de forma a transparecer
maior empatia.

60
TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

• Fato de passarem a impressão aos demais alunos que dispensam uma atenção
maior aos que mais simpatizam, em relação aos demais.
• Fato de oferecerem aos escolhidos afetivamente, melhores oportunidades de
aprendizado, como maior tempo para desenvolverem respostas às perguntas.

Por mais sutis que estas atitudes sejam aos olhos do professor, para os
demais alunos cuja atenção é dosada, fica evidente que existe uma diferenciação.

Silva (2005) reforça que as situações diferenciadas adotadas com um


determinado aluno, como por exemplo, desenvolver atividades para que o
mesmo melhore a nota e não fique em recuperação, sendo que tal oportunidade
é norteada pelo fator amizade ou empatia, não deveriam fazer parte das atitudes
de um “formador de opiniões”.

O relacionamento entre aluno e professor evoca a manifestação de muitos


sentimentos, pois é importante lembrar que um ambiente considerado hostil não
gera aprendizagem. Um espaço de produção intelectual afetivo, cujo respeito
mútuo é colocado em prática, o aprender flui tranquilamente.

FIGURA 31 – VÍNCULO PROFESSOR/ALUNO

FONTE: Disponível em: <http://anadelfs.blogspot.com.br/2010/07/


comportamento-o-mau-exemplo-da.html>. Acesso em: 28 ago. 2013.

Jesus (2006) reforça que o professor necessita de uma autoavaliação,


pois as atitudes em sala de aula geram consequências para o alunado, quando
as expectativas positivas para uns são dirigidas somente a alguns, dispensando
mais atenção, afeto e cuidado, do que a outros.

61
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

Enquanto educadores, concentrar-se apenas nos conteúdos é ignorar a


gama de relações afetivas que se constroem diariamente. O desejo do indivíduo
em conhecer a si próprio e a razão pelo qual vive, advém de seu desenvolvimento
intelectual, no qual também resulta desta convivência positiva entre professor
e aluno. O reflexo deste movimento expressa-se quando a criança manifesta o
interesse pelo aprender.

Assim, Silva (2005, s/p.) coloca que:

As relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais


na realização comportamental e profissional de um indivíduo.
Dessa forma, a análise dos relacionamentos entre professor/aluno
envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das
consequências, pois a educação é uma das fontes mais importantes
do desenvolvimento comportamental e agregação de valores nos
membros da espécie humana.

FIGURA 32 – EXPECTATIVAS

FONTE: Disponível em: <http://alinerizzo-evs-usp.blogspot.com.br/2011/05/


aula-28-o-professor-nao-pode-estar-so-o.html>. Acesso em: 12 dez. 2012.

A aquisição de informações por parte do aluno, também deve ser uma


preocupação do professor, porém ter por objetivo construir um aluno cidadão
deve caminhar paralelamente ao desenvolvimento do seu trabalho. O professor é
responsável por mediar a aprendizagem, procurando também compreender que
o alunado é dotado de sentimentos, problemas e dificuldades.

62
TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

Tendo o professor consciência de tal, cabe a ele a manutenção de uma


relação empática com seus aprendizes, a partir da sua capacidade de ouvir,
refletir e discutir, bem como estar atento ao nível de compreensão dos alunos a
fim de utilizar-se da criatividade no que tange à construção de pontes entre o seu
conhecimento e o deles.

Pensar na construção do conhecimento como processo individual é negar


que o social e cultural cerca o ser humano. O docente é um intermediário entre os
conteúdos da aprendizagem e a atividade que constrói o processo de assimilação.

DICAS

Consulte o Caderno de Psicologia da Educação e Aprendizagem, você poderá


rever o conceito de assimilação.

Muitas vezes, o aluno que é considerado desinteressado pelos conteúdos


e atividades, deixa de ser atendido de uma forma mais afetuosa, sendo que este
desinteresse pode sinalizar um comportamento tímido, e mediante esta não
leitura da situação, o aluno deixa de ser atendido. A partir disso, a questão da
expectativa deve ser revista e analisada, pois o professor ao mesmo tempo em
que reforça o sucesso de alguns, alimenta o fracasso de outros.

FIGURA 33 – PROFESSOR: SUCESSO X FRACASSO

FONTE: Disponível em: <http://profjabiorritmo.blogspot.com.br/2012/08/o-ensino-


medio-do-seculo-xxi.html>. Acesso em: 28 ago. 2013.

63
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

A afetividade é uma importante aliada na construção da aprendizagem,


porém os professores precisam dar condições para que ela se manifeste, ou seja,
usar da mesma expectativa para com todos seus educandos, dar condições para
a inclusão social realmente ocorra através do processo de ensino, fazendo uso de
uma prática educativa assertiva e criativa. Isto deve fazer parte da prática docente.

O professor deve estar ciente das diferentes realidades encontradas numa


mesma sala de aula, pois conhecer o “mundo” em que seus alunos vivem é o
elemento mais importante para uma boa relação entre eles. O docente que procura
adentrar a realidade dos seus alunos acaba facilitando a verdadeira mediação do
conhecimento na construção do processo ensino-aprendizagem dos mesmos.

A partir do momento em que se é conhecedor da realidade dos alunos, certos


comportamentos podem ser entendidos com maior facilidade, principalmente no
que se refere aos conflitos. Jesus (2006) nos expõe que quando o professor não aceita
imposições, também o aluno será resistente, assim faz-se necessário que novos
caminhos sejam experimentados e argumentos mais consistentes, sejam aplicados.

FIGURA 34 – O PROFESSOR E AS REALIDADES

FONTE: Disponível em: <http://www.estadodotapajos.com/2012/09/diretores-do-


hospital-regional-de.html>. Acesso em: 12 dez. 2012.

Para que tal se concretize, é importante adentrar a realidade do aluno


sem ultrapassar o limite, procurando fazer com que ele desperte para novos
aprendizados. Isso só é possível, quando o professor apresentar ao aluno a sua
realidade de uma maneira compreensível, fazendo-o entender a importância do
que está sendo ensinado.

64
TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

4 O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DAAUTOESTIMA


DA CRIANÇA
A autoestima é construída a partir do momento em que alguém nos trata
de forma afetuosa, ou seja, nos acolhendo e valorizando no que dizemos ou
fazemos. Na relação aluno e professor não poderia ser diferente, pois o progresso
ou fracasso de ambos, está pautado na expressão da afetividade.

Quando colocamos que ambos dependem desta troca, queremos dizer,


que na relação de ensino, a autoestima do professor também é construída, pela
troca estabelecida com os alunos. Jesus (2006) reforça que o professor é motivado
a seguir em frente quando os alunos demonstram interesse no que está sendo
exposto.

Desta forma, o educador ao valorizar o educando também o estimula a


interagir, estabelecendo com ele um vínculo de segurança e confiança, facilitando
que a barreira do medo, insegurança e a falta de interesse seja rompida.

FIGURA 35 – O PROFESSOR É FORMADOR DA AUTOESTIMA

FONTE: Disponível em: <http://vanderlanpedagogo-vanderlan.blogspot.


com.br/2011/05/elogios-e-criticas-e-importante-que-os.html>. Acesso em:
12 dez. 2012.

O docente que se propõe a refletir sobre sua ação, promove o envolvimento


do aluno no processo educacional, torna o movimento de ensinar e aprender,
participativo, dinâmico e reflexivo.

A partir disso, Jesus (2006) nos auxilia a compreender que o professor


comprometido a atuar diante desta concepção, estará percebendo a formação
acontecer e assim passará a dirigir seus ensinamentos de uma forma mais

65
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

dialógica com os alunos, trabalhando pedagogicamente as características de cada


grupo, num engajar crítico de ambas as partes. Partindo do ato de conhecer, esta
forma tem por resultado uma relação horizontal.

Podemos dizer que tanto o professor quanto o aluno, alimentam


expectativas nesta relação, principalmente no que tange ao desempenho um do
outro. Assim, o produto final irá sempre depender do afeto e respeito entre eles.
O professor que cultiva um bom relacionamento diante dos que estão à sua frente
passa a investir nas potencialidades dos alunos, passando a preocupar-se com o
desenvolvimento do aprendizado. Este investimento evoca na preocupação de
tornar as atividades propostas mais atrativas, buscando sempre a participação
dos alunos com o ensino.

Jesus (2006) também destaca por meio da participação, da colaboração,


do incentivo e do estímulo, colocamos a relação professor/aluno como um desafio
para o educador. Boa parte dos professores atuantes em sala de aula sentem
dificuldades em fazer os alunos participarem, pois acredita-se que aprendizagem
se faz mais eficiente quando o discente age e interage no processo ensino-
aprendizagem, desenvolvendo desta forma certa autonomia.

Assim, o professor deve conduzir seu alunado à autorreflexão, auxiliando-


os na construção de seus valores e autonomia. Para que a ação autônoma seja
solidificada, é de grande importância que o professor mantenha estabelecido regras.
Estas regras precisam ser formuladas em comum acordo, em uma relação de respeito
e confiança, cuja construção e responsabilidade aconteçam em sala de aula.

O resultado do trabalho do professor parte dos reflexos expressos pelos


alunos, portanto, cabe também a este, avaliar constantemente utilizando-se de
diferentes métodos, de análise e reflexão, objetivando realizar mudanças em suas
ações sempre que for necessário.

Outro fator que deve ater nossa atenção é o ambiente educativo. Este,
necessita promover o fascínio e a inovação, oferecendo ao aluno todos os
elementos importantes para a aprendizagem, pois ao proporcionar um ambiente
harmônico, ao professor e aluno, o ensinar e o aprender evoluem mutuamente.

66
TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

FIGURA 36 – SALA DE AULA

FONTE: Disponível em: <http://www.prolog-berlin.com/pt/cursos-alemao-standard.


htm>. Acesso em: 28 ago. 2013.

Para Jesus (2006) o papel do educador não se limita apenas em ensinar


conteúdos, mas capacitar alunos a intervir e conhecer o mundo, ensinando-os a
pensar o certo, possibilitando-lhes detectar oportunidades, dando condições a
esse educando de desenvolver as suas habilidades, potencialidades e acima de
tudo suas aptidões.

O educador deve trabalhar em função da coletividade, produzindo


experiências educacionais que enfatizem a integração e a interação do
conhecimento empírico e científico, buscando uma visão prática interdisciplinar.

FIGURA 37 – O PROFESSOR E A PRÁTICA CIENTÍFICA

FONTE: Disponível em: <http://escolaprofgabriel.blogspot.com.br/2010/11/o-


laboratorio-didatico-de-ciencias-ldc.html>. Acesso em: 13 dez. 2012.

67
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

Lembrando sempre que esta prática também deve estar voltada ao


desenvolvimento de uma reflexão crítica e consciente ancorando a formação de um
ser humano autocrítico. Assim, professor e alunos devem buscar aperfeiçoamento
constante.

A sociedade pós-moderna e suas frequentes transformações, nos


obrigam, de certa forma, a buscar constantemente por atualização; as mídias são
um exemplo claro de como isso acontece. Diante disso, o professor deve estar
atualizado, pois o processo de ensino e aprendizagem também se faz presente
através das tecnologias de informação.

Jesus (2006) nos coloca a importância do professor saber fazer uso das redes
eletrônicas buscando equilibrar os currículos e procedimentos metodológicos,
com os estilos de aprendizagem dos alunos, estabelecendo assim, um elo entre
o processo cognitivo e emocional, nos diferentes modos de vida dos estudantes.

Tal movimento nos trará maior ênfase na produção e transmissão do


conhecimento, bem como fortalecerá as relações entre os vários grupos presentes
que fazem educação. O professor que procura gerenciar informações utilizando-
se das redes disponíveis, além da oportunidade de trabalhar pesquisa e produção
de conhecimento, poderá fortalecer o vínculo com seus alunos, proporcionando-
lhes um momento de exposição dos saberes.

FIGURA 38 – O PROFESSOR E AS REDES SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <http://www.agitocampinas.com.br/materias/redes-sociais-x-


professores/3757>. Acesso em: 12 dez. 2012.

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TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

5 A DIDÁTICA ASSERTIVA: UM NOVO CAMINHO PARA O


TRABALHO DO PROFESSOR
A partir deste momento, vamos procurar resgatar alguns pontos
pertinentes ao estudo da didática, porém associados a um conceito muito utilizado
na psicologia: a assertividade.

Libâneo (2001) traz a didática como uma disciplina responsável pelo estudo
do processo de ensino no seu conjunto. Ela inclui objetivos, conteúdos, métodos
e formas organizativas que se relacionam entre si de modo a criar condições que
garantam aos alunos uma aprendizagem significativa; direcionando e orientando
o professor na tarefa do ensino e da aprendizagem, fornecendo-lhe segurança
profissional.

As condições que conduzem o processo de ensino estão diretamente


ligados aos meios didático-pedagógicos, bem como aos objetivos sociopolíticos.
Para haver uma técnica-pedagógica eficiente é necessário ter clareza dos conceitos
de homem e sociedade, para que os alunos sejam preparados para a vida.

Para Libâneo (2001), a atividade docente tem a ver diretamente com a


pergunta “para que educar”, pois a educação se realiza numa sociedade formada
por grupos sociais que têm uma visão distinta de finalidades educativas. Desta
forma, o autor complementa que o ensino é a combinação entre o papel do
professor e a atividade independente, autônoma e criativa do aluno.

Porém, sabemos que existem vários tipos de professores. Entre eles estão
os tradicionais, ou seja, aqueles que geralmente se satisfazem em transmitir os
conteúdos que estão nos livros didáticos, utilizando-se sempre dos mesmos
métodos, pouco se importando com as características sociais e individuais do
alunado à sua frente. As aulas, desta categoria, obedecem normalmente ao mesmo
ritmo: expor a matéria, realizar exercícios e avaliação.

Este tipo de conduta dificilmente leva o aluno a uma aprendizagem


duradoura. Assim, Libâneo (2001) nos coloca que uma aprendizagem de qualidade
é aquela que busca desenvolver no aluno o raciocínio próprio, que faz relações
entre um conceito e outro, aplicando este conhecimento em várias situações,
sendo dentro ou fora da sala de aula, dando condições para que o aluno saiba
explicar uma ideia com suas palavras.

69
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 39 – SOCIALIZAÇÃO DE IDEIAS

FONTE: Disponível em: <http://noticias.universia.pt/destaque/


noticia/2013/02/20/1005955/21-maneiras-simples-motivar-os-alunos.
html>. Acesso em: 28 ago. 2013.

Em contrapartida aos que não fazem uso do método tradicional, Libâneo


(2001) os nomeia como “professores progressistas”, ou seja, professores que
se preocupam com as diferenças individuais e sociais dos alunos, elaborando
atividades como trabalho de grupo, utilizando-se de diálogo e amorosidade no
relacionamento com os alunos.

A forma progressista de lecionar, nos parece a mais eficaz, porém percebe-


se que muito ainda há de mudar, pois presenciamos muitos professores presos às
práticas tradicionais, exigindo no ato da avaliação a memorização e repetição de
seus ensinamentos e não o entendimento deles.

Para que se desenvolva uma prática pedagógica mais humanizada,


o professor necessita saber como auxiliar seu aluno a adquirir métodos de
pensamento, habilidades e capacidades mentais que tornem o aprendiz
independente e criativo com os conhecimentos a serem assimilados.

O papel do professor, portanto, é planejar, selecionar e organizar os


conteúdos, programar tarefas, criar condições de estudo dentro da classe,
incentivar os alunos, ou seja, o professor faz mediação das atividades de
aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria
aprendizagem. Não há ensino verdadeiro se os alunos não desenvolvem suas

70
TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

capacidades e habilidades mentais, se não assimilam pessoal e ativamente os


conhecimentos ou se não dão conta de aplicá-los, seja nos exercícios e verificações
feitos em classe, seja na prática da vida associada à aprendizagem do pensar.

Mediante o exposto, Libâneo (2001) reforça que a didática preocupa-se


com as condições, ou seja, modos pelos quais os alunos melhoram e potencializam
sua aprendizagem trazendo à tona questionamentos de como, qual a forma e de
que maneira, podem ser ajudados a lidar com conceitos, argumentar, raciocinar
logicamente, elaborar ideias e pensar sobre o que aprendem.

Para que possamos conduzir essa estruturação do conhecimento em nossos


alunos, é importante pensarmos na forma de como esse processo é conduzido.
Diante disso, estudar a assertividade, auxiliá-lo(a)-á, acadêmico(a), a pensar em
novos caminhos de condução no que tange à produção de conhecimento.

Assertividade trata-se da habilidade de transmitir ideias, expressar


opiniões e desejos de uma forma transparente, clara e direta, buscando sempre
respeito ao seu interlocutor.

Para enfatizar esse conceito, Portella (2010) nos coloca que assertividade
é a capacidade de expor de maneira objetiva, clara e direta pensamentos e
sentimentos de maneira comedida, ou seja, sem fazer uso de comportamentos
passivos, tampouco agressivos.

Cunha (2010) reforça este conceito quando diz que o comportamento


assertivo é a expressão de sentimentos de maneira socialmente adequada,
perseverando tanto os direitos/interesses do indivíduo que responde assertivamente
quanto os de seu interlocutor.

O indivíduo que desenvolve um comportamento assertivo necessita


apresentar algumas características importantes: ter autorrespeito e respeito pelos
outros; exercer seus direitos sem violar os direitos de outras pessoas; colocar suas
ideias e opiniões sem fazer uso da agressividade, muito menos da passividade.

Antes de nos atermos às características do comportamento assertivo,


vamos relembrar a diferença entre comportamento passivo e agressivo.
Conforme destaca Cunha (2010) apud Hull e Schroeder (1979), as características
do comportamento passivo são: evitar olhar o interlocutor nos olhos; fazer uso
de um tom de voz suave, hesitante, com entonação que transmite vacilação; a
fala é pouco clara; posicionar-se curvadamente perante a pessoa, dificuldade em
encarar o interlocutor.

Um comportamento considerado agressivo envolve as seguintes atitudes:


o indivíduo tem um olhar direto e fulminante; o tom de voz transmite raiva e
ressentimento; fala alto e em alguns momentos chega a gritar; não demonstra
hesitação no que diz; encara o interlocutor e fala imediatamente, quase
interrompendo-o.

71
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

O comportamento assertivo requer do indivíduo uma série de mudanças


no modo de lidar com as pessoas. Ser assertivo significa saber negociar, ou
seja, levar em consideração os interesses de todas as partes envolvidas em uma
determinada situação, buscando uma posição consensual.

Enquanto conduta, a prática da assertividade exige que o indivíduo


adote algumas mudanças consideradas profundas em sua forma de agir, sendo
que uma atitude assertiva solicita como pré-requisito a construção de uma
estrutura psicológica que a sustente. O ser assertivo requer alguns saberes como:
estabelecimento dos objetivos que pretende alcançar; conhecimento de direitos e
deveres; conhecimento dos seus potenciais e limites; facilidade em expressar-se
de forma objetiva; boa argumentação, flexibilidade e empatia.

Portella (2010) destaca algumas características que fazem parte de um


comportamento assertivo:

• Fazer pedidos: ao solicitar alguma ajuda ou favor, o mesmo deve ser feito
de uma forma clara, direta e objetiva, sendo que justificativas e pretextos são
desnecessários.
• Solicitar mudança de comportamento: ao sugerir que uma forma de agir seja
modificada, o solicitante deve descrever o comportamento que necessita ser
suprimido e especificar a mudança desejada.
• Recusar pedidos ou dizer não: é dispensável o uso de justificativas e pretextos
para a negativa, sendo necessário que o indivíduo seja firme na resposta e que
o sentimento de culpa não o acompanhe.
• Expressar amor, agrado e afeto: demonstrar estes sentimentos de uma forma
adequada fortalece e aprofunda as relações.
• Expressar incômodo, desagrado e desgosto de modo justificado: especificar
o incômodo para o outro, procurando destacar as consequências do
comportamento de uma forma positiva, motiva a busca pela mudança.
• Fazer críticas: neste momento é importante lembrar que a crítica deve ser
dirigida ao comportamento e não à pessoa. Deve ser destacado o desagrado ao
comportamento, tendo cuidado para não expressar o que pensamos da pessoa
que o manifestou.
• Receber críticas: o desejável neste caso seria permitir à pessoa que elabora a
crítica concluir seu pensamento, deixando-a expressar o que deseja, para que
posteriormente solicitar justificativa ou mais informações sobre suas colocações.

Muitas pessoas apresentam consideráveis dificuldades em serem


assertivas, pois deixam-se guiar pelo receio de magoar ou afastar as pessoas
que gostam ou dependem. Assim, movem-se de acordo com o desejo do outro,
evitando o enfrentamento e preferindo permanecer passivos aos desejos alheios.

Já as pessoas com maior ênfase no desenvolvimento de comportamentos


agressivos, apresentam grandes dificuldades no que tange a colocar-se no lugar
do outro, forçando-o a aceitar seu ponto de vista a qualquer custo. Essas pessoas

72
TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

partem do pressuposto de que sua linha de pensamento e atitudes são as corretas


e consideram-se no direito de fazer com que as coisas aconteçam conforme
desejam.

O comportamento assertivo, conforme Cunha (2010), caracteriza-se por:


maior contato visual entre o indivíduo assertivo e seu interlocutor; afirmações
utilizadas e manifestadas de forma afetuosa; tom de voz audível; verbalizações
de maior duração; uso adequado de características paralinguísticas da fala (como
fluência, variabilidade de expressões, vivacidade).

A assertividade é uma aliada da prática docente, principalmente no


fortalecimento das relações com o alunado. O professor que adota uma postura
assertiva transmite segurança e equilíbrio, além de motivar seus alunos a
manifestarem esse comportamento em suas relações.

A didática assertiva instiga o professor a buscar relacionar os objetivos a


serem alcançados com a forma de como serão transmitidos aos alunos, levando
sempre em consideração os saberes e a realidade no qual estes alunos, sejam adultos
ou crianças, já manifestem.

LEITURA COMPLEMENTAR

ASSERTIVIDADE

Assertividade é a habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos


e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta
e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas. Ser
assertivo é dizer “sim” e “não” quando for preciso. A postura assertiva é uma
virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados,
um por excesso (agressão), outro por falta (submissão).

A assertividade é a arte de defender o meu espaço vital sem recuar,


desistindo de mim mesmo, e sem agredir, desistindo do outro. Assertividade é
ser transparente e firme sem ser agressivo ou autoritário. É se posicionar com
clareza e de maneira respeitosa com as pessoas que convive.

Parece banal, mas mudar a si mesmo e melhorar sua relação com as outras
pessoas é um desafio que poucos enfrentam com sucesso. Como se tornar mais
confiante e assertivo ensina como você pode se expressar com mais eficiência e
lidar com os obstáculos de maneira direta e honesta.

Inicialmente, os psicólogos Robert E. Alberti e Michael L. Emmons


direcionaram seu foco para as pessoas que não conseguem se impor. Mas logo
perceberam que todo mundo precisa aprender a defender suas posições e fazer as
coisas por iniciativa própria. Veja como você reage quando:

73
UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

- Quer interromper a ligação de alguém.


- Um colega de trabalho tenta humilhá-lo.
- Seu (sua) esposo(a) o censura.
- Um vizinho põe o som a todo volume até as três da manhã.
- Um de seus filhos faz pirraça.

Em ocasiões desse tipo algumas pessoas reprimem os sentimentos e se


calam, contrariadas; outras gritam e reagem de forma agressiva. A assertividade
pode ajudar você a enfrentar esses problemas sem medo.

Ao contrário do que muita gente pensa, a assertividade não é uma técnica


para se conseguir tudo o que se deseja. Não se trata de ensinar truques ou artifícios
para manipular os outros. Os autores, na verdade, escreveram este livro como um
guia para que todas as pessoas possam defender suas opiniões e desejos sem
desrespeitar os direitos dos outros.

A comunicação assertiva eficiente estimula os relacionamentos positivos e


igualitários entre as pessoas. Além disso, pode acelerar a autoestima, enriquecer
a intimidade, aperfeiçoar a capacidade de decisão e de lidar com pessoas
difíceis e melhorar a habilidade de resolver conflitos, sempre estimulando a
responsabilidade social.

Fácil de ler e cheio de exemplos educativos, este livro é feito sob medida
para quem está buscando reduzir a ansiedade nos relacionamentos e se tornar
uma pessoa mais confiante.

Asserção é o “comportamento que capacita a pessoa a atuar em seu melhor


interesse, afirmar-se sem ansiedade indevida, expressar confortavelmente de
forma honesta os sentimentos e exercitar os direitos pessoais sem negar os direitos
dos outros”. (ALBERTI, EMMMONS, 1978, p. 13).

Por exemplo digamos que você se encontra diante alguém que


insistentemente lhe queira vender algo, uma atitude assertiva pode ser através de
um contato visual e expressão facial de firmeza evocando as seguintes palavras:
- Muito obrigada, eu não vou comprar nada, mas espero que o(a) senhor(a) seja
bem-sucedido(a) nas próximas visitas.

Ser assertivo é confrontar no sentido de “se colocar de frente” às pessoas


e situações desafiadoras para eliminar os problemas e ir em direção à solução.

Para saber quando você NÃO é assertivo, olhe para suas atitudes e ações
e saiba que você não é assertivo quando:

* Enfrenta alguém sobre determinado problema e se sente constrangido.


* Perde a cabeça quando se confronta com sarcasmos ou críticas de qualquer
ordem.
* Perde a calma com facilidade diante de situações embaraçosas.

74
TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

* Ao invés de resolver os problemas diretamente, começa a julgar ou culpar os


outros e a si mesmo.
* Sente-se pouco à vontade quando olha os outros nos olhos e vice-versa.
* Não acha certo o que deseja ou expor seus sentimentos.
* Por querer agradar a todos, é injusto consigo mesmo.
* Espera que as pessoas adivinhem o que quer.
* Foge das questões que envolvem confronto com outras pessoas.
* Só aceita seu ponto de vista e perde o respeito pelos outros.
* Perde a paciência e não aceita as diferenças.
* Não fala o que é para ser dito e espera que os outros entendam pela sua cara
fechada.
* É indireto e faz “observações cortantes” ou manifestação de impaciência.
* Usa a expressão corporal para que o outro entenda.
* Passa a agredir ou apontar o dedo para os outros.
* Não sabe dizer não ou não mantém compromissos.

Para Alberti e Emmons (2008) o treino assertivo tem como principal objetivo
mudar a forma como o indivíduo se vê a si próprio, aumentar a sua capacidade
de afirmação, permitir que este expresse de forma adequada os seus sentimentos
e pensamentos e, posteriormente, estabelecer a autoconfiança. Mais detalhados,
Hargie e Dickson (2004) elencaram várias funções do treino, entre as quais destaca-
se: (1) ajudar o indivíduo a assegurar que os seus direitos não serão violados; (2)
reconhecer os direitos dos outros; (3) comunicar a sua opinião de forma confiante;
(4) recusar pedidos irrazoáveis (5) fazer pedidos razoáveis; (6) lidar eficazmente
com recusas irrazoáveis; (7) evitar conflitos agressivos desnecessários e (8)
desenvolver e manter um sentido pessoal de eficácia.

REFERÊNCIAS:

ALBERTI, R. E.; EMMONS, M. L. Comportamento assertativo: um guia de autoexpressão. Belo


Horizonte: Interlivros, 1978. Disponível em: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.
com.br/2013/07/assertividade.htm>. Acesso em: 25 abr. 2014.

75
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você estudou que:

• A relação que o professor estabelece com o aluno, seja adulto ou criança, influi
diretamente no sucesso ou fracasso do processo de ensino e aprendizagem.

• Ser empático é fundamental no que tange à relação professor e aluno, pois


colocar-se no lugar de quem aprende, eleva o nível de compreensão sobre as
dificuldades e a realidade vivida pelo discente.

• É normal que o professor tenha expectativas em relação aos seus futuros


alunos, porém não é prudente deixar-se influenciar pelas experiências de
outros docentes em relação à turma.

• Para que se estabeleça uma relação sadia com toda a turma, o professor deve
manter uma postura de igualdade com todos.

• Os conflitos são administrados com maior eficiência a partir do momento que


o professor tem consciência da realidade vivida pelos seus alunos.

• O educador tem um papel importante na construção da autoestima do alunado.


Isso é concretizado no momento em que é dada a oportunidade a este aprendiz
que expresse seu saber.

• O professor que busca a constante atualização vê as diversas mídias como


aliadas na construção do vínculo com a turma.

• A assertividade busca o equilíbrio nas relações, ou seja, caracteriza-se na


habilidade de saber negociar de uma forma que todos os envolvidos saiam
ganhando.

76
AUTOATIVIDADE

Agora, acadêmico(a), que você concluiu os estudos referentes a este tópico,


responda às questões a seguir:

1 Como a relação aluno/professor influencia no processo de ensino e


aprendizagem?

2 Quando colocamos que o professor é facilitador da aprendizagem, o que


realmente isso quer dizer?

3 Qual é a importância do educador desenvolver a autonomia de seus alunos?

4 Disserte sobre a didática assertiva.

77
78
UNIDADE 2

ASPECTOS RELEVANTES DA
EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• conceituar a educação não formal relacionando-a às diversidades culturais;

• relacionar os instrumentos pedagógicos diante de suas aplicações na edu-


cação formal para a educação não formal;

• diferenciar os conceitos de andragogia e heutagogia;

• formular possíveis práticas relacionadas ao trabalho baseados nos precei-


tos andragógicos e heutagógicos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e em cada um deles você encon-
trará atividades que o(a) ajudarão a internalizar os conhecimentos estudados.

TÓPICO 1 – DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO


FORMAL

TÓPICO 2 – INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCA-


ÇÃO NÃO FORMAL

TÓPICO 3 – ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

TÓPICO 4 – O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO,


ANGRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

79
80
UNIDADE 2
TÓPICO 1

DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA


EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico(a)! Para uma atuação eficiente em ambientes não formais, torna-
se fundamental ao pedagogo saber que se trata de movimentos diversificados e
flexíveis, ao contrário de toda rigidez metodológica encontrada nos ambientes
formais. Para tanto faz-se necessária a compreensão de um fator que move esta
modalidade: a cultura.

O senso comum trata a cultura de forma limitada e muitas vezes relacionada


somente a eventos cujo objetivo é o entretenimento. Cultura é um conceito amplo
e fundamental na atuação do pedagogo independentemente do espaço em que
o mesmo desenvolve suas atividades. O entendimento da importância e suas
implicações no cotidiano da sociedade, traça o trabalho do pedagogo sensível às
determinantes que conduzem à realidade em que está inserido. É sobre isto que
falaremos a partir de agora acadêmico(a).

2 A CULTURA E SUAS CULTURAS


Podemos dizer que a educação tem sido proclamada uma das áreas de
destaque no enfretamento dos novos desafios gerados pelo movimento chamado
globalização, principalmente no que condiz aos avanços tecnológicos da era da
informação. Ela é o caminho para a superação das mazelas, promovendo aos
considerados excluídos, uma sociedade mais justa e igualitária, e assim contribui
para novas formas de assistência à população sejam geradas.

De acordo com Gohn (2011, p. 17) afirma que:

[...] observa-se uma ampliação do conceito de Educação, que não se


restringe mais aos processos de ensino-aprendizagem no interior de
unidades escolares formais, transpondo os muros das escolas para os
espaços da casa, do trabalho, do lazer, do associativismo etc. Com isso
um novo campo da educação se estrutura: o da educação não formal.
Ele aborda processos educativos da sociedade civil, ao redor de
ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade, abrangendo
movimentos sociais, organizações não governamentais e outras
entidades sem fins lucrativos que atuam na área social; ou processos
educacionais, frutos da articulação das escolas com a comunidade
educativa, via conselhos, colegiados etc.

81
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

UNI

Acadêmico(a)! Para a leitura deste tópico, tenha clareza de dois significados:


globalização e associativismo. Então vamos a eles:

Globalização: é um conjunto de transformações na ordem política e econômica mundial


visíveis desde o final do século XX. Trata-se de um fenômeno que criou pontos em comum
na vertente econômica, social, cultural e política, e que consequentemente tornou o
mundo interligado, uma Aldeia Global. O processo de globalização é a forma como os
mercados de diferentes países interagem e aproximam pessoas e mercadorias. A quebra de
fronteiras gerou uma expansão capitalista em que foi possível realizar transações financeiras
e expandir os negócios – até então restritos ao mercado interno – para mercados distantes e
emergentes. O complexo fenômeno da globalização teve início na Era dos Descobrimentos
e se desenvolveu a partir da Revolução Industrial. Foi resultado da consolidação do
capitalismo, dos grandes avanços tecnológicos (Revolução Tecnológica) e da necessidade
de expansão do fluxo comercial mundial. As inovações nas áreas das telecomunicações e
da Informática (especialmente com a internet) foram determinantes para a construção de
um mundo globalizado. O surgimento dos blocos econômicos – países que se juntam para
fomentar relações comerciais, por exemplo, Mercosul ou União Europeia – foi resultado desse
processo econômico. O impacto exercido pela globalização no mercado de trabalho, no
comércio internacional, na liberdade de movimentação e na qualidade de vida da população
varia a intensidade de acordo com o nível de desenvolvimento das nações.

FONTE: Disponível em: <http://www.significados.com.br/globalizacao/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

Associativismo: trata-se da cooperação entre as empresas como forma de torná-las mais


competitivas em um mercado muito disputado. Por meio de parcerias, é possível fortalecer o
poder de compras, compartilhar recursos, combinar competências, dividir o ônus de realizar
pesquisas tecnológicas, partilhar riscos e custos para explorar novas oportunidades e oferecer
produtos com qualidade superior e diversificada. Associação é qualquer iniciativa formal ou
informal que reúne pessoas físicas ou outras sociedades jurídicas com objetivos comuns,
visando superar dificuldades e gerar benefícios para os seus associados. Ou seja, é uma forma
jurídica de legalizar a união de pessoas em torno de seus interesses.

FONTE: Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/momento/quero-melhorar-minha-


empresa/entenda-os-caminhos/associativismo/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

FIGURA 40 – GLOBALIZAÇÃO E ASSOCIATIVISMO

FONTE: Disponível em: <http://aglobaliizacao.blogspot.com.br/2011/02/


imagens-da-globalizacao.html>. Acesso em: 25.jan.2014

82
TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Diariamente sentimos os reflexos da globalização quando nos depararmos


com um universo de informações publicadas praticamente em tempo real
nas diferentes mídias eletrônicas. Esse acesso quase que imediato aos últimos
acontecimentos, nos coloca a par das transformações econômicas, tecnológicas,
políticas e culturais, no que contribuem para que possamos nos tornar protagonistas
nos acontecimentos, graças aos meios de comunicação instantânea.

Como GONH (2011) bem denota, os meios de comunicação sofreram


uma revolução tecnológica gerando novas relações sociais, novas linguagens,
alterando estilos e comportamentos sociais, causando transformações culturais e
estabelecendo, assim novos desafios e necessidades à área da educação.

Porém, vale mencionar que a globalização além dos aspectos relativos


aos avanços tecnológicos trouxe incertezas, ou seja, podemos arriscar dizer, que
trouxe certo desrespeito às várias diversidades culturais e às outras formas de
realidade, fazendo com que optassem pelo isolamento como proteção, objetivando
preservar sua integridade. Um exemplo disso é a comunidade Amish localizada
nos Estados Unidos e no Canadá (América do Norte).

FIGURA 41 – COMUNIDADE AMISH

FONTE: Disponível em: <http://www.ibahia.com/a/blogs/


feminina/2013/08/11/comunidade-amish/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

UNI

Os Amish surgiram em 1693 quando um grupo de menonitas suíços liderados


por Jacob Amman separou-se do grupo principal de menonitas por causa das diferenças
em relação à celebração da comunhão. Enfrentando perseguições, tanto dos cristãos
católicos quanto dos protestantes, os Amish, em grande número impulsivamente aceitam
a oferta de William Penn de liberdade religiosa na colônia norte-americana da Pensilvânia. A
imigração para Pensilvânia começou em 1727 e continuou intensa até 1770. As instalações

83
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

concentraram-se na área do condado de Lancaster, nos Estados Unidos. Os Amish vivem


em fazendas, porque este estilo de vida rural torna mais fácil para eles manterem distância
dos não puros, que são chamados simplesmente de “Os Ingleses”. As cidades e vilas,
conforme sua cultura, apresenta muitas distrações que podem desviar a conduta. Enquanto
o seu número crescia, os agrupamentos Amish ficavam em Ohio, Indiana e muitos outros
estados, e também no Canadá.
Os Amish comunicam-se entre si com um dialeto do alemão, parecido ao holandês
da Pensilvânia. O alemão é usado para os serviços religiosos e o inglês é falado com os
estranhos. O modelo dos vestuários, a carroça e o lampião tornaram-se os símbolos dos
Amish e provavelmente não vão mudar. O modelo do vestuário enfatiza que a pessoa
Amish é separada do mundo não Amish, mas é também parte de uma comunidade de
iguais. A carroça, do mesmo modo, promove a igualdade e limita as viagens, mantendo as
comunidades juntas. O lampião, uma luz não elétrica, não necessita de conexões exteriores
da comunidade. 
Os Amish não estão de fato “parados no tempo”. Embora a vida social e caseira permaneça
essencialmente imutável, os Amish adotam novas tecnologias que passam por um exame
rigoroso para serem aceitas. A tecnologia pode ser aceita por razões práticas ou comerciais,
mas nunca por indulgência, desejo ou divertimento. Uma tecnologia é provavelmente
aceita se for uma extensão natural existente e que tenha um impacto social mínimo. Usar
uma corda de náilon poderia ser um exemplo de uma extensão natural.
Uma tecnologia é provavelmente rejeitada se é radicalmente diferente ou tenha implicações
sociais. Ouvir rádio enquanto são feitos os deveres domésticos seria considerado uma
distração desnecessária. Qualquer tecnologia que é vista como degradação da vida espiritual
ou familiar é rejeitada de imediato. A televisão está definitivamente fora de questão, pois traz
valores questionáveis para casa.

FONTE: Disponível em: <http://subculturasecontraculturas.blogspot.com.br/p/amish.html>.


Acesso em: 25 jan 2014.

A área relacionada à cultura é a mais atingida pelos efeitos da globalização


e tem ocupado um espaço importante na agenda de discussões de algumas
importantes organizações como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
A área da saúde também foi atingida severamente pela “evolução”, gerando
descontentamentos e protestos devido a sua degradação, originada pela lógica
mercantil e tecnocrática global.

É comum vermos, quase que diariamente, nas mídias, expressões de


indignação pelo descaso, abandono e sucateamento desta assistência essencial
da sociedade. O mercado de trabalho também sentiu os reflexos da globalização,
obrigando várias classes profissionais a manifestarem sua indignação através
de passeatas e greves, em prol de mais empregos, trabalho, menos demissões,
inclusão e o não corte de vagas.

GONH (2011, p. 20) reforça que


A crise atual tem novas dimensões, pois criou novas categorias de
excluídos, desta vez no próprio acesso ao mercado de trabalho, pelo fato
de, simplesmente deixar de existir certas categorias funcionais devido
à flexibilização/desregulamentação deste mercado ou eliminação de
direitos sociais conquistados por meio de lutas seculares, por parte
dos trabalhadores.

84
TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 42 – GREVE

FONTE: Disponível em: <http://www.casernapapamike.com.br/greve-da-pcdf-ajuda-o-


gdf/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

As manifestações também lançam novos olhares e atitudes à sociedade,


bem como a origem de novas culturas, que por muitas vezes encontram-se
adormecidas pelo descaso e pelo comodismo que a cultura mãe traz como “regra”
intrínseca, provocando mudanças no comportamento de quem dá voz a elas.

Sabemos que o termo cultura, ao longo do tempo, foi interpretado de várias


formas adotando posições diferenciadas que explicam os vários paradigmas
da realidade social. Como vimos no início do tópico, o senso comum abarca o
conceito de cultura para alguém que possui estudo ou para as várias formas de
entretenimento.

GOHN (2011) nos chama a atenção a respeito da etimologia da palavra


cultura, proveniente do latim medieval, a partir do verbo latino colere que
significa cultivo e cuidado – com plantas, animais e tudo que se relaciona à terra
e à agricultura. Já os romanos estenderam ainda o uso do vocábulo aos cuidados
com as crianças e sua educação, aos deuses, ancestrais e seus monumentos, a
cultura do espírito etc.

A cultura foi tema de muitos estudos expressivos realizados por grandes


pensadores, como: Aristóteles, Platão, Hegel, Marx, Kant, entre outros, cada qual
em sua época e até hoje ela norteia pesquisas em várias categorias, dentre elas:
filosofia, antropologia, sociologia, educação, psicologia etc.

Porém cabe-nos destacar três vertentes consideradas essenciais à


compreensão do conceito de cultura, relacionado ao trabalho realizado no
campo educacional: cultura de massa, cultura popular e cultura política. Assim,
acadêmico(a), vamos a eles:

85
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Conforme Gohn apud Wolf (1995), as teorias relacionadas à cultura de


massa correspondem a um dos primeiros momentos nos quais são desenvolvidos
estudos relativos aos meios de comunicação, centrados no entendimento dos
aspectos psicológicos das ações coletivas, tendo como tema central a propaganda.
Esta, atua como estímulo sobre os indivíduos que reagiriam com respostas
cegas e irracionais, gerando assim movimentos reativos ou de consumo, sem
muita expressão crítica. Para que isto acontecesse bastava que fossem expostos
a estímulos perniciosos de certas mensagens, para que produzissem respostas
comportamentais instantâneas.

UNI

Acadêmico(a)! Pernicioso significa maldoso, nocivo, ruidoso.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/pernicioso/>. Acesso em: 25


jan. 2014.

Nas últimas décadas, caracterizadas pelos avanços tecnológicos, as


discussões sobre a cultura de massa tomaram novos rumos, ou seja, outros termos
passaram a fazer parte dos estudos em relação ao tema, sendo reconhecidos como
cultura das mídias ou midiáticas. Este movimento trouxe divisões sociais, ou seja,
de um lado ficavam os que tinham acesso ao consumo, seja este mercadológico
ou informativo, e do outro, os que eram impedidos, de alguma forma, de terem
o mesmo privilégio.

FIGURA 43 – CULTURA DE MASSA

FONTE: Disponível em:< http://industria-cultural-pra-voce.tumblr.com/faq>. Acesso


em: 25 jan. 2014.

86
TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Acadêmico(a)! Os adultos não estão livres da influência da cultura


de massa, porém a maior fragilidade está concentrada no público infantil.
Juntamente com seus colegas, discuta como os meios de comunicação interferem
na formação da personalidade das crianças. Diante desta discussão e enquanto
educadores, reflita a respeito de que estratégias devemos utilizar na construção
de uma visão mais crítica em nossos educandos, mediante este bombardeio de
estímulos consumistas.

Outra vertente aplicada a esta temática, é a cultura popular, que Gohn


(2011, p. 50) expõe.

A categoria cultura popular foi objeto de muitas discussões nos anos


de 1960 e no início dos 1980 na América Latina, principalmente no
Brasil. Vários fatos da conjuntura sociopolítica da época explicam esse
destaque. [...] Nos anos 1980, o tema da cultura popular retorna ao
cenário nacional, dada a difusão de pedagogias de educação popular
no esforço de setores da sociedade civil para se organizar e participar
da política, resultando na luta pela redemocratização do poder do
Estado, então nas mãos dos militares. Deve-se destacar também a
crença na força da criatividade dos grupos populares, por parte de um
conjunto significativo de intelectuais da academia e do clero cristão; a
crítica feita pelas lideranças articuladas pela Igreja Católica às formas
centralizadoras de organizar a população por partes dos partidos
tradicionais da esquerda; o surgimento de inúmeras experiências
novas para a solução de problemas socioeconômicos na área da
habitação, geração de renda e condições de inserção da mulher no
mercado de trabalho (por exemplo, as casas construídas por mutirões
populares, a produção de pães caseiros, tapetes e “panos de prato”
artesanais, as creches comunitárias etc.).

Nesta categoria, a cultura popular objetiva buscar formas de sensibilização


coletiva em função de mudanças sociais significativas direcionadas aos menos
favorecidos e às pessoas das classes excluídas. Vale ressaltar, que todos esses
movimentos não se originaram instantaneamente, sendo necessária a intervenção
de outras instâncias, tais como: a popular, o ministério público, as políticas
públicas etc., o que levou certo tempo para sua efetivação.

Ao tratarmos sobre o tempo utilizado na instauração das mudanças


relativas à cultura, estamos nos referindo também à cultura política que conforme
Gohn (2011), está relacionada a alguns indicadores sociais, tais quais as atitudes
políticas, envolvendo valores como: confiança e desconfiança, liberdade e coerção,
igualdade e hierarquia, interesses universais e paroquiais.

Existem quatro fontes de mudança na cultura política: 1) a própria


configuração da população de um país; 2) as mudanças de uma geração para outra;
3) as alterações no estilo de vida das pessoas decorrentes das fases e situações
diferentes que vivenciam; 4) as mudanças na estrutura política e econômica do país.

87
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Acadêmico(a)! Todas essas atenuantes influenciam diretamente no


sistema educacional formal, informal e não formal, por exigirem adequações
diante das transformações sofridas pela sociedade, que refletem diretamente no
pensar e agir da população.

Portanto Gohn (2011, p. 67) enfatiza:


[...] falar da cultura política é tratar do comportamento de indivíduos
nas ações coletivas, os conhecimentos que os indivíduos têm a respeito
de si próprios e de seu contexto, os símbolos e a linguagem utilizadas,
bem como as principais correntes do pensamento existentes.

DICAS

Acadêmico(a)! Recomendamos o filme A Onda para que você possa visualizar


os três conceitos aqui citados e sua correlação. Fica a dica!

Em uma escola da Alemanha, alunos têm de escolher entre


duas disciplinas eletivas, uma sobre anarquia e a outra
sobre autocracia. O professor Rainer Wenger é colocado
para dar aulas sobre autocracia, mesmo sendo contra
sua vontade. Após alguns minutos da primeira aula, ele
decide, para exemplificar melhor aos alunos, formar um
governo fascista dentro da sala de aula. Eles dão o nome
de “A Onda” ao movimento, e escolhem um uniforme
e até mesmo uma saudação. Só que o professor acaba
perdendo o controle da situação, e os alunos começam
a propagar “A Onda” pela cidade, tornando o projeto da
escola um movimento real. Quando as coisas começam a
ficar sérias e fanáticas demais, Wenger tenta acabar com “A
Onda”, mas aí já é tarde demais.

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-134390/>. Acesso em:


27 jan. 2014.

Diante do contexto apresentado, é necessário frisar que a cultura de


massa, popular e política só estão separadas em nível conceitual, pois na prática
elas caminham entrelaçadas influenciando uma à outra diretamente.

88
TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

3 EDUCANDO PARA A DIVERSIDADE


Atualmente, acompanhamos e vivenciamos os impactos das transformações
que ocorrem em nível econômico, trabalhista e social, pois eles estão presentes
em diversas manifestações como na degradação do meio ambiente, no caos do
trânsito, na poluição, na violência, no desemprego etc. Em contrapartida, estamos
presenciando avanços consideráveis relativos à medicina e às tecnologias de
informação e comunicação.

No que tange à educação, Paula (2013, p. 16) aponta que


Diante desse quadro de progressos e regressos, retornamos ao contexto
da escola e nos questionamos: Esta instituição tem acompanhado as
mudanças planetárias? Imagino que sim e que não: sim, porque a escola
é feita de pessoas que sentem e que vivem as mudanças; não, porque
muitas dessas pessoas resistem às mudanças. Temos vários exemplos
de resistências no dia a dia da escola: não conseguimos romper com
pedagogias tradicionais, com a gestão pouco democrática, centralizada,
nem incorporar novas tecnologias em sala de aula. Os currículos
ainda operam de forma restritiva, que corroboram com a construção
de estereótipos e legitimam a hegemonia cultural. Essas questões
correspondem às relações sociais e valores dominantes no seio da
sociedade capitalista, reproduzidos também nas instituições escolares.

As transformações decorrentes do processo de industrialização e


desenvolvimento, advindas das mudanças econômicas, tem acelerado o
crescimento da escolarização básica, como podemos observar atualmente, um
exemplo disso é o aumento no ensino fundamental de oito para anos.

No entanto, percebe-se que a sociedade ainda remete à escola um olhar


romantizado ao delegar a esta à “responsabilidade” pela resolução de grande
parte dos dilemas sociais. Realmente, que a escola tem um papel fundamental
neste trabalho é algo que precisamos admitir, pois seus conteúdos também devem
abordar questões que auxiliam na formação e restauração de valores, perdidos ou
afetados pela modernidade. Porém, ela também experimenta e vivencia crises, seja
de paradigmas, seja de visão de mundo ou de seu papel social.

A educação sempre foi vista como uma instituição que promove a unidade
nacional por meio da propagação de conteúdos, valores culturais e morais. O
poder público vê e deposita na educação a responsabilidade de civilizar, visando
à construção do Estado, colocando a educação como um direito.

DICAS

Acadêmico(a)! Aprofunde seu conhecimento fazendo a leitura da seguinte obra:


FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Editora Cortez, 1991.

89
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Considerando que a educação é um direito de todos, implica-nos trabalhar


as questões relacionadas à cidadania que nos remete ao direito de ter direito. Nesse
sentido, cabe-nos buscar trabalhar o tema diversidade, tema de total relevância
desde os tempos mais remotos.

Para Paula apud Abramowicz (2006, p. 25) “diversidade pode significar


variedade, diferença e multiplicidade, sendo esta a qualidade do que é diferente,
o que distingue uma coisa da outra, a falta de igualdade ou de semelhança”.

Ser sensível às questões relacionadas à diversidade é utilizar todo o


aparato que este tema nos fornece para trabalharmos em paralelo aos conteúdos
programáticos, pois o ambiente formal e não formal fornecem o espaço necessário
para que temas relativos à diversidade sejam trabalhados.

Paula (2013, p. 20) reforça esta possibilidade ao comentar que:


Atualmente, podemos perceber que a diversidade está na ordem do
dia, em pauta. [...] As diferenças agregam múltiplos processos de
pertencimento – étnico, de gênero, geracional, geográfico, religioso
etc. – que têm sido hierarquizados e convertidos, inadvertidamente,
em desigualdades. A ruptura desse ciclo implica em compreendermos
a multiplicidade e a complexidade das relações.

Educar para a diversidade exige que se caminhe paralelamente às


atividades pedagógicas, de maneira dialógica, emergente e interpretativa, sendo
necessários elaborar mecanismos de intervenção, de revisão de valores e atitudes
para a superação de injustiças, preconceitos e estereótipos.

Precisamos lembrar que todos descenderam de um tronco comum, porém


diferimos nas realizações e construções históricas, culturais e sociais. Somos,
portanto, constantemente desafiados pela experiência humana a buscar superação
no sentido de não ignorá-las. Um exemplo disso é quando projetamos numa
criança que vende ou pede algo no sinal de trânsito alguma denominação que a
caracteriza como um incômodo à sociedade, esquecendo-nos completamente que
esta criança está perdendo sua dimensão de infância.

90
TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 44 – CRIANÇA MARGINALIZADA

FONTE: Disponível em: <http://gargantaweb.blogspot.com.br/2009/11/criancas-


na-rua-problema-meu-e-seu.html>. Acesso em: 27 jan. 2014.

Paula (2013) menciona que normalmente consideramos os problemas


sociais da alçada do governo e de outras instituições, manifestando com isso uma
atitude alheia à nossa responsabilidade. Neste sentido ao mencionarmos que
“essa sociedade está muito violenta” deveríamos refletir que na verdade todos
nós estamos nos comportando de forma violenta, bruta e desumanizada.

Outra condição que grande parte da população parece ignorar é a pobreza.


Esta, é geralmente vista como a ausência de recursos materiais para a sustentação
da vida humana. Contudo, ela não se estende apenas a este conceito restrito,
conforme Paula (2011, p. 27) nos aponta:
[...] a pobreza humana é multidimensional, ao invés de unidimensional
e centrada nas pessoas, privilegiando a qualidade da vida humana
e não as posses materiais. Pode ser classificada de duas formas:
pobreza intelectual, que determina o desenvolvimento cultural,
ideológico, científico e político do ser humano; pobreza social, que
nega a integração do coletivo com direitos plenos, a participação na
sociedade e o respeito dentro do coletivo.

91
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 45 – POBREZA

FONTE: Disponível em: <http://uipi.com.br/noticias/politica/2013/04/30/brasil-


conseguira-eliminar-pobreza-extrema-diz-representante-do-pnud/>. Acesso em:
27 jan. 2014.

Numa sociedade que ainda necessita evoluir, principalmente no que se


refere a deixar de ignorar problemas referentes às ordens sociais e ambientais, as
modalidades educativas devem posicionar-se a respeito disto, visando realizar
um trabalho em que busque o desenvolvimento, tanto do pensamento, quanto
da ação crítica e realmente cidadã. Para Paula apud Carvalho (2011), a ausência
de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à
construção da cidadania civil e política.

Acadêmico(a)! Precisamos estar cientes que a cidadania é exercida


de maneiras diferentes, pois suas condições dependem da comunidade no
qual estamos inseridos, ou seja, a cidadania exercida no Japão é diferente da
brasileira, pois está condicionada a uma série de valores morais, éticos, religiosos,
contextualizados naquele tempo e espaço.

Conforme Paula (2013, p. 46),


O conceito de cidadania, em sua origem, vem da Grécia antiga, que
significa vivência política ativa na comunidade, na cidade (polis).
Durante muito tempo, a ideia de cidadania esteve ligada aos
privilégios, pois os direitos dos cidadãos eram restritos a determinadas
classes e grupos, às elites. Só eram cidadãos os que correspondiam
a, pelo menos, três critérios: homens, brancos, proprietários. Essa
configuração excluía a maioria da população: mulheres, negros e
pobres.

92
TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Muitos foram os avanços em relação às práticas cidadãs, exemplo disso


são as ações sociais realizadas por empresas e a formação de um grande número
de ONGs que perseguem o mesmo objetivo, cada qual querendo fazer sua parte,
sejam elas: voltadas ao meio ambiente, à assistência de saúde, a defesa das vítimas
de violência contra seres humanos ou animais etc.

Enquanto seres implicados com o futuro da educação, precisamos


engendrar novas maneiras de trazer à tona tais temáticas, fornecendo aos
educandos o porquê conhecê-las e o porquê agir perante estas é tão importante.

FIGURA 46 – ONG EM DEFESA DOS ANIMAIS

FONTE: Disponível em: <http://ongdefesanimal.blogspot.com.br/>. Acesso em: 27 jan. 2014.

É comum nas unidades educacionais comemorarem datas alusivas ao “Dia


das Mães” e ao “Dia dos Pais”, mas qual é a importância destas comemorações?
Como se originaram? Essas são perguntas que interessam ser respondidas, para
que estas datas não sejam apenas como entretenimento nos calendários escolares.

As bases que sustentam as razões que visam ao sentido social destes eventos,
são então denominados multiculturalismo crítico ou perspectiva intercultural
crítica, que, conforme Paula (2013), buscam articular as visões folclóricas e
as discussões sobre as relações desiguais de poder entre as culturas diversas,
questionando a construção histórica dos preconceitos, das discriminações e da
hierarquização cultural.

A realidade brasileira é culturalmente heterogênea. Sabemos que a


instauração dessas diversidades fixou-se através de conflitos econômicos e por
meio de manifestações violentas que originaram a construção identitária desses
povos imigrantes. Um exemplo disso é a capoeira, uma dança praticada pelos
escravos e que hoje é reconhecida como prática cultural.

93
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

DICAS

Acadêmico(a)! Aprofunde este assunto fazendo a leitura da seguinte obra:


FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez Editora, 1991.

A questão da pluralidade cultural está prevista, de acordo com Paula (2013),


nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como um dos temas transversais que
expandiu o debate acadêmico e a trouxe para o cotidiano das escolas.

Proporcionar ao educando informações que norteiem seu conhecimento


sobre as diversas manifestações culturais presentes na sua comunidade e no
seu país, contribuem para a construção de uma sociedade mais livre em relação
ao preconceito, e mais culta em relação à abertura de novas manifestações
comportamentais. Façamos a nossa parte educadores!

94
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você estudou que:

• Gohn (2011) nos chama a atenção a respeito da etimologia da palavra cultura,


proveniente do latim medieval, a partir do verbo latino colere que significa
cultivo e cuidado – com plantas, animais e tudo que se relaciona à terra e à
agricultura; já os romanos estenderam ainda o uso do vocábulo aos cuidados
com as crianças e sua educação, aos deuses, ancestrais e seus monumentos, a
cultura do espírito etc.

• A cultura foi tema de muitos estudos expressivos realizados por grandes


pensadores, como: Aristóteles, Platão, Hegel, Marx, Kant, entre outros (cada
qual em sua época) e até hoje norteia pesquisas em várias categorias como:
filosofia, antropologia, sociologia, educação, psicologia etc.

• A cultura possui três vertentes relacionadas aos trabalhos realizados na


educação: cultura de massa, cultura popular e cultura política, Vamos a elas:

 Cultura de Massa: caracteriza-se nas últimas décadas pelo avanço tecnológico.


As discussões sobre a cultura de massa tomaram novos rumos, ou seja, outros
termos passaram a fazer parte dos que direcionam seus estudos em relação ao
tema, passando a ser conhecidos por cultura das mídias ou midiáticas.

 Cultura Popular: objetiva buscar formas de sensibilização coletiva em função


de mudanças sociais significativas aos menos favorecidos e das classes
excluídas. Vale ressaltar, que todos esses movimentos não se originaram
instantaneamente, sendo necessária a intervenção de outras instâncias
(popular, ministério público, políticas públicas etc.), o que levou tempo para a
efetivação.

 Cultura Política: esta relaciona-se aos seguintes indicadores sociais: atitudes


políticas, envolvendo valores como confiança e desconfiança, liberdade e
coerção, igualdade e hierarquia, interesses universais e paroquiais.

• Para Paula, apud Abramowicz (2006), “diversidade pode significar variedade,


diferença e multiplicidade, sendo esta a qualidade do que é diferente; o que
distingue uma coisa da outra, a falta de igualdade ou de semelhança”.

• Para Paula (2011), a pobreza humana pode ser classificada em: pobreza
intelectual e social.

95
AUTOATIVIDADE

1 Paula (2011) comenta sobre a pobreza humana, classificando-a em dois


tipos: pobreza intelectual e pobreza social. Discorra sobre estes dois tipos
de pobreza.

2 A sociedade vive num movimento de globalização, o que não pode mais


retroceder. Desta forma, como você percebe esta globalização? Ela está
influenciando sua vida? Comente quais são as vantagens e as desvantagens.

96
UNIDADE 2 TÓPICO 2

INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS
APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO
FORMAL
1 INTRODUÇÃO
A educação não formal é considerada uma modalidade educacional
diferenciada, pois enfatiza aspectos importantes como a comunidade e as crenças
na qual se encontra inserida. Porém, isso não quer dizer que alguns instrumentos
pedagógicos deixem de fazer parte deste movimento educacional, muito pelo
contrário, eles contribuem consideravelmente ao processo. E sobre isto que
trataremos no presente tópico.

Veremos sobre a importância do planejamento, letramento, alfabetização,


didática, avaliação e formação do docente, voltadas à educação não formal e
como o educador deve manejar estas ferramentas essenciais à condução do seu
trabalho, mediante o conceito de estudo ativo.

2 O SIGNIFICADO DO APRENDER E A DEFINIÇÃO DE


EDUCADOR
Aprender não se restringe apenas ao ambiente escolar, mas sim a todos
os espaços e momentos da vida em que algo vem para agregar a nossa dinâmica
pessoal. A escola é mediadora de muitas aprendizagens, mas em outros lugares
os ensinamentos absorvidos também são colocados em prática.

Antunes (2009), destaca que aprender é um processo que tem início a


partir do confronto com a realidade objetiva e os diferentes significados que cada
um de nós constrói acerca da realidade que nos envolve, tendo por consideração
as experiências individuais e as regras sociais existentes.

Ao entrelaçar a realidade com os conteúdos, o pedagogo proporciona ao


educando novas formas de fixação das informações que estão sendo passadas,
de maneira que métodos ultrapassados, como a memorização mecânica, não se
façam presentes na hora da avaliação.

Antunes (2009, p. 32) enfatiza que o professor terá certeza sobre a aquisição
da aprendizagem quando:

97
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

• Considera a realidade objetiva ou as circunstâncias que envolvem


seu aluno; isto é, quem este aluno é, o que sabe, o que busca saber,
onde se pretende levá-lo com a aprendizagem;
• Confronta essa realidade com alguns saberes escolares da disciplina
trabalhada;
• Observa que associação seu aluno pode fazer, relacionando suas
circunstâncias e os saberes acessados, além de suas experiências
individuais e as regras sociais existentes.

Estas observações destacadas pelo autor não se limitam apenas aos espaços
formais, o pedagogo deve questionar-se sobre trabalhar conteúdos também
relacionados a modalidade não formal. Ao analisar que objetivos queremos
alcançar, precisamos nos remeter a responsabilidade que teremos mediante os
educandos e a sociedade, pois neste momento assumimos a postura de educador,
nos quais Almeida (2009, p. 47) nos faz refletir mediante o seguinte acróstico:

E – Possuo “empatia”. Sou capaz de sentir o aluno em mim,


percebendo-o não como cliente, mas como um ser em construção
que precisa do meu auxílio para aprender a aprender, descobrir-se e
aprender a ser?
D – Busco crescer em minha capacidade “didática”. Estou seriamente
empenhado em descobrir meios para fazer a minha aula um efetivo
instrumento de construção de saberes, de aflorar de competências?
Ensino, realmente, meu aluno a fazer?
U – Procuro perceber minha responsabilidade como membro de uma
equipe. Percebo que a “união” constitui ferramenta essencial para
um ensino eficiente. Não apenas ajudo meus alunos, mas aprimoro
sempre na busca cada vez mais aprender a viver junto?
C – Tenho plena “confiança” em meu aluno. Sou capaz de perceber
que suas dificuldades e suas limitações decorrem menos sua, mas da
minha condição de educador. Se algum aluno não aprende com meu
jeito de ensinar, sou criativo para ajudá-lo em seu jeito de aprender?
A – Assumo plenamente meu papel de um “administrador” de
competências. Efetivamente minha aula ensina o aluno a perguntar,
investigar, comparar, analisar, sintetizar, classificar, aplicar. Enfim, a
exercer a plenitude de sua capacidade de aprender?
D – Estudo sempre os conteúdos que ensino. Tenho “domínio” sobre
os saberes que envolvem as matérias transmitidas em minhas aulas.
Sei não apenas o informo, mas descubro estratégias para transformar
informações em conhecimento?
O – Sou realmente “otimista. Creio que não existe educação sem
transformação, mas acredito no poder transformador de meus alunos,
não apenas pelos saberes da disciplina que aprendem a contextualizar,
mas pelos valores que exercitam?
R – Domínio de estratégias de “relações interpessoais”? O educador
jamais pode abdicar de sua responsabilidade de ajudar seus alunos a
fazerem-se amigos de si mesmos e a construírem relações de amizade
com outros e, para que isso ocorra, não basta à intenção, é essencial
saber “quando” e saber “como fazer”, e esse fazer implica conhecer
procedimentos para promover relações sólidas e significativas entre
o alunado.

98
TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Precisamos entender que o educador não nasce pronto, mas se constrói


na formação contínua, ao longo da sua própria caminhada e das experiências
adquiridas com o tempo. Pensar e repensar a prática pedagógica utilizando-se
dos questionamentos propostos pelo autor, anteriormente citado norteará quais
pontos necessitam ser aperfeiçoados e agregará, à sua ação, outros procedimentos.
É muito significativo, ao pedagogo, identificá-los e incorporá-los, distanciando-se
cada vez mais das rotinas caracterizadas como primitivas.

FIGURA 47 – EDUCADOR

FONTE: Disponível em: <http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-12--267-


20131028&tit=prefeitura+de+ibipora+seleciona+professor+e+educador+infantil>.
Acesso em: 31 jan. 2014.

3 O ESTUDO ATIVO E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL


Para que as informações fornecidas na escola façam a diferença na vida
dos educandos, é necessário que estejam conectadas com à realidade, permitindo
aos educandos que possam utilizá-las na condução de suas vidas.

Conforme abordamos no tópico anterior, em relação às várias faces


culturais, é preciso ter clareza de que os conhecimentos e habilidades ensinadas
na escola são frutos da experiência cultural e social da humanidade e precisam
ser transmitidos como condição para a formação das novas gerações.

Mediante o pressuposto LIBÂNEO (2013, p. 113), reforça que:


[...] a aprendizagem é um processo de assimilação de conhecimentos
escolares por meio da atividade própria dos alunos. [...] essa atividade
é o estudo dos conteúdos das matérias e dos modos de resolver as
tarefas práticas que lhes correspondem. Os conteúdos representam
o elemento determinante em torno do qual se realiza a atividade

99
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

de estudo. A aprendizagem não resulta apenas de necessidades


e interesses internos da criança, nem é um processo no qual as
crianças escolhem o que querem fazer; é, antes, um processo no qual
elas vão desenvolvendo e modificando suas forças físicas e mentais
por influência de conhecimentos e atividades vindos de fora, da
experiência humana acumulada pelas gerações ao longo da História.

A aprendizagem é suscitada, principalmente, pelas necessidades e


interesses dos educandos. Nós, enquanto educadores precisamos ir além, dos
meios tradicionais estimulando nossos aprendizes a dominar conhecimentos
sistematizados, habilidades e hábitos para que, por meio deles, desenvolvam
e ampliem suas capacidades mentais. Para tanto, a atividade de estudo deve
seguir uma programação para que não transmita uma mensagem de dispersão e
desorientação do educador, ou seja, toda atividade deve ser planejada.

O planejamento é um recurso indispensável na educação não formal,


principalmente quando o pedagogo identifica as necessidades a serem trabalhadas,
tornando o estudo algo vivo e ativo, Libâneo (2013) considera que o estudo ativo
consiste em direcionar as atividades dos educandos nas tarefas que condizem
à observação e compreensão dos fatos da vida diária, ligados as questões que
estão sendo abordadas, no comportamento de atenção à explicação fornecida, na
conversação entre alunos e educador, nos exercícios, no trabalho de discussão em
grupo, no estudo dirigido individual, nas tarefas do contra turno etc.

FIGURA 48 – ESTUDO DIRIGIDO INDIVIDUALIZADO

FONTE: Disponível em: <http://www.rioeduca.net/blogViewsphp?bid=20&id=


4025>. Acesso em: 31 jan. 2014.

Estas atividades auxiliam na assimilação de conhecimentos e habilidades


e, por meio destes, o desenvolvimento das capacidades cognitivas como a
percepção das coisas, o pensamento, a expressão do pensamento através das
palavras, o reconhecimento das propriedades e as relações entre fatos e fenômenos
da realidade.

100
TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

O pedagogo tem um papel essencial no que condiz ao estudo ativo,


conforme Libâneo (2013) pois lhe cabe: incentivar o estudo, explicar o conteúdo,
orientar os procedimentos para a efetivação das tarefas e problemáticas abordadas,
exigir e aprofundar o conteúdo etc.

Além de tudo isso, é preciso estar atento também ao que condiz a


autossatisfação do aprendiz em relação a estes procedimentos, de modo que ele
se sinta progredindo e motivado para novas aprendizagens. Ao sentir-se desta
forma, o educando mostra-se desejoso em buscar por novos conhecimentos.

Para que, de fato, isso aconteça é preciso antes de tudo, que o educando
domine os conhecimentos exigidos e compreenda os objetivos determinados pelo
professor, cabendo a ele acompanhar de perto o desenvolvimento das atividades
propostas, utilizando os erros cometidos pelos alunos para aprimorar os
conhecimentos, indicando exercícios adicionais que respeitem a realidade vivida
pelos alunos para uma melhor assimilação e sustentação da resposta correta.

O estudo ativo envolve uma série de procedimentos que visam despertar


nos alunos habilidades e hábitos de caráter permanente, sendo estes expostos por
Libâneo (2013), da seguinte forma:

• Exercícios de reprodução: visam à aplicação de testes rápidos que objetivam


a verificação da assimilação e domínio das habilidades como: repetição de
experimentos; treino ortográfico; solução de exercícios do material didático;
com orientação.

FIGURA 49 – REPETIÇÃO DE EXPERIMENTOS

FONTE: Disponível em: <http://oglobo.globo.com/educacao/dados-de-11-


paises-da-america-latina-revelam-que-evasao-baixo-aprendizado-sao-maiores-
no-ensino-medio-2755445>. Acesso em: 31 jan. 2014.

101
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

• Tarefas de preparação para o estudo: trata-se do diálogo estabelecido entre


o professor e os educandos, bem como os alunos entre si, em que relatam
experiências, opiniões, questionamentos, observação de outros materiais (por
exemplo: ilustrações, materiais alternativos, objetos e/ou animais), em que
manifestam suas conclusões, além de revisarem a matéria anterior.

FIGURA 50 – TAREFAS DE PREPARAÇÃO PARA O ESTUDO

FONTE: Disponível em: <http://www.a2fotografia.com.br/foto.php?f=850>. Acesso


em: 31 jan. 2014.

• Tarefas na fase de assimilação da matéria: conversação sobre os conhecimentos


e experiências que os alunos trazem para a aula; confronto entre os
conhecimentos sistematizados e os acontecimentos da realidade e do cotidiano
dos alunos; verbalização do entendimento dos alunos em relação aos conceitos
que estão sendo explicados pelo professor e suas conclusões parciais;
formulação de perguntas ou de problemas práticos, de modo que os alunos
deem respostas individualmente ou em grupo e aproximação máxima possível
entre a explicação do conteúdo e o raciocínio dos alunos, dos conceitos que já
dominam, da sua experiência prática cotidiana para que, pela sua atividade
mental, possam acompanhar a lógica da explicação, adquirindo a sua própria
compreensão do conteúdo.

102
TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 51 – TAREFAS NA FASE DE ASSIMILAÇÃO DA MATÉRIA

FONTE: Disponível em:<http://diariodeiguape.com/2009/06/26/aulas-em-


campo-da-etec-eng-narciso-e-motivacao-para-alunos/aula-etec/>. Acesso em: 31
jan. 2014.

• Tarefas na fase de consolidação e aplicação: nesta etapa encontra-se a revisão e


os exercícios de fixação; a aplicação em problemas suscitados na prática, com
dados da experiência cotidiana e as tarefas de casa.

FIGURA 52 – LIÇÃO DE CASA

FONTE: Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/


como-ajudar-licao-historia-geografia-736665.shtml>. Acesso em: 31 jan. 2014.

103
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Para a consolidação dessas práticas relacionadas à aprendizagem, o


pedagogo deve assumir uma postura criativa, proporcionando uma resposta do
educando em relação à expectativa as atividades a serem desenvolvidas.

Sabemos que a repetição contínua dos métodos, ou seja, atividades que


não provoquem a curiosidade, apresentam por consequência, comportamentos
tediosos por parte dos alunos, pois não lhes é despertada a ansiedade necessária
para a execução dos trabalhos.

A partir do momento que o professor compreende isto e passa aplicar


métodos ativos de ensino, os resultados aparecem. Dentre estes métodos ativos
podemos citar: solução de problemas, pesquisas, estudo dirigido, manipulação
de objetos, entre outros. O educador deve ter clareza dos objetivos a serem
alcançados para que o resultado desta ação estimule a atividade mental dos
alunos, definida por Libâneo (2009, p. 174), como o: “aprender pensando naquilo
que se faz”.

Libâneo (2009, p. 174), também nos traz algumas recomendações práticas


em relação a este princípio, vejamos:
• Esclarecer aos alunos sobre os objetivos da aula e sobre a importância
dos novos conhecimentos para a sequência dos estudos, ou para
atender às necessidades futuras;
• Provocar a explicação da contradição entre ideias e experiências que
os alunos possuem entre um fato ou objeto de estudo e o conhecimento
científico sobre esse fato ou objeto de estudo;
• Criar condições didáticas nas quais os alunos possam desenvolver
métodos próprios de compreensão e assimilação de conceitos e
habilidades (explicar como resolveu um problema, tirar conclusões
sobre dados da realidade, fundamentar uma opinião, seguir regras
para desempenhar uma tarefa, etc.);
• Estimular os alunos a expor e defender pontos de vista, conclusões
sobre uma observação ou experimento e a confrontá-los com outras
opiniões;
• Formular perguntas ou propor tarefas que requeiram a exercitação
do pensamento e soluções criativas;
• Criar situações didáticas (discussões, exercícios, conversação
dirigida etc.) em que os alunos possam aplicar conteúdos a situações
novas ou a problemas do meio social;
• Desenvolver formas didáticas variadas de aplicação do método de
solução de problemas.

O trabalho extraclasse também é considerado, mesmo que indiretamente,


um estudo ativo, diante deste seguem algumas sugestões: jornal mural, visitas à
comunidade ou instituições, teatro, biblioteca etc.

104
TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 53 – JORNAL MURAL

FONTE: Disponível em: <http://bethmatias.wordpress.com/2008/09/09/


comunicacao-interna-um-passo-antes-da-fama/>. Acesso em: 31 jan. 2014.

Precisamos levar em consideração a efetiva combinação entre os


conhecimentos sistematizados e o desenvolvimento intelectual autônomo dos
aprendizes. Para tanto, Libâneo (2013), nos chama a atenção de alguns fatores
essenciais que influenciam na aprendizagem:

1. A estimulação para o estudo: caracterizado por um conjunto de estímulos


que despertam nos alunos a motivação para o aprender, de forma que as
necessidades, interesses, e desejos, sejam canalizados para as tarefas de estudo.
É importante salientar que para o alcance dos objetivos sejam efetivados,
precisam satisfazer nossas necessidades fisiológicas, emocionais, sociais e
autorrealizadoras.

DICAS

Acadêmico(a)! Retome o Caderno de Estudos da disciplina de Psicologia da


Educação e Aprendizagem e revise o conteúdo relativo à motivação intrínseca e extrínseca
para ampliar este conceito.

105
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Vale lembrar que quando o ensino se baseia apenas no interesse do


educando, fica difícil conseguir que ele estude o que não lhe agrada, pois boa
parte dos conteúdos sistematizados não são atrativos por si mesmos, embora
sejam necessários. Para tanto, precisamos destacar a importância da organização
do trabalho do professor na direção e no provimento das condições e modos de
incentivar o estudo ativo, tais como:

a) Esclarecer a importância do conteúdo a ser ministrado, interligando-o com os


conhecimento anteriores e assim, revelando aos educandos sua importância
para a vida prática, comprovando a diferença entre um conhecimento não
sistematizado e o conhecimento sistematizado.
b) Vincular o estudo ativo do conteúdo à experiência e ao conhecimento já
disponível anteriormente, sendo que, conhecimentos bem assimilados
atraem os alunos para conhecimentos novos, utilizando-se de estratégias que
consistem em: perguntas, tarefas individuais ou em grupo, exercícios e busca
da verbalização, por parte do aprendiz, no que condiz aos conhecimentos
elaborados.
c) Auxiliar nas habilidades e desenvolvimento de métodos próprios no que
tange à resolução de exercícios e execução de tarefas, desenvolvendo-os
intelectualmente através do pensamento independente e criativo e, adquirindo
métodos próprios de assimilação dos conteúdos.
d) Estimular também depende de reforçar positivamente as iniciativas, ou seja,
elogiar. Por meio disso o educador valoriza o bom desempenho dos alunos,
contribuindo para o cultivo positivo da boa autoimagem.

FIGURA 54 – VALORIZAÇÃO DA AUTOIMAGEM DO APRENDIZ

FONTE: Disponível em: <http://educareisograndedesafio.blogspot.com.


br/2011_02_01_archive.html>. Acesso em: 31 jan. 2014.

106
TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

1. O conhecimento das condições de aprendizagem do aluno: a prática de vida


influencia na questão da aprendizagem, por este motivo o educador precisa
valorizar a comunidade, a família (independentemente de qual constituição:
nuclear, institucionalizada etc.) e a cultura nos quais o educando está inserido.
Sendo assim, o educador deve conhecer as experiências sociais e culturais dos
alunos, o meio em que vivem, as relações familiares, a educação familiar, as
motivações e expectativas em relação à escola e ao futuro de sua vida. Estas
características vão determinar, inclusive, sua percepção da escola, da matéria,
do professor e principalmente no modo de aprender.

2. A influência do educador e do ambiente educativo: a personalidade e as


atitudes profissionais do educador são fatores que necessitam ser levados
em consideração no processo de ensino-aprendizagem. É necessário que o
educador tenha clareza dos objetivos profissionais que pretende alcançar e o
que deve buscar para que tais objetivos se concretizem. A seriedade profissional
manifesta-se quando o mesmo compreende seu papel de instrumentalizar os
educandos para a conquista dos conhecimentos e sua aplicação na vida prática.
Ao incutir no educando a importância do estudo na superação da condição de
vida, mostrando a importância do conhecimento para as tarefas da vida adulta.

DICAS

Acadêmico(a)! Visualize o conteúdo estudado anteriormente assistindo a este filme.

Uma jovem e idealista professora chega a uma escola de


um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade
e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade
de aprender, e há entre eles uma constante tensão racial.
Assim, para fazer com que os alunos aprendam e também
falem mais de suas complicadas vidas, a professora Gruwell
(Hilary Swank) lança mão de métodos diferentes de ensino.
Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança em si
mesmos, aceitando mais o conhecimento, e reconhecendo
valores como a tolerância e o respeito ao próximo.

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-60975/>. Acesso em: 31


jan. 2014.

107
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Mediante a importância dos fatores expostos por Libâneo (2009), outra


condição de valor inestimável é a questão da formação continuada. Enquanto
educadores, precisamos buscar e aprender constantemente, a atualização no que
condiz às técnicas, teorias e formas alternativas de semear a necessidade na busca
pelo conhecimento.

O conteúdo aqui exposto, acadêmico(a), por muitas vezes mencionou


a escola como cenário principal da aplicação destas metodologias, porém é
importante ressaltar que todas as informações aqui expostas não são exclusivas
deste ambiente, elas podem ser aplicadas a qualquer espaço que vise à pulverização
do conhecimento.

108
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou:

• O acróstico referente à palavra EDUCADOR e quais os principais


questionamentos a serem feitos para a efetivação dos saberes a serem
transmitidos ao educando.

• O conceito de estudo ativo e os procedimentos que visam despertar nos alunos


habilidades e hábitos de caráter permanente.

• A aplicação de métodos ativos de aprendizagem visando estabelecer uma


ponte entre a cultura e as experiências vivenciadas pelos educandos.

• Que os instrumentos pedagógicos não são exclusivos ao ambiente escolar, mas


que necessitam fazer parte de toda intenção educacional.

• O quão a busca por constante atualização deve fazer parte da rotina do educador,
visando a sua qualidade profissional e como este reflete positivamente na sua
autorrealização.

109
AUTOATIVIDADE

Fazendo uso do esquema a seguir, relacione características do estudo ativo:


reprodução de exercícios, tarefas de preparação para os estudos, assimilações
reais com a disciplina.

110
UNIDADE 2
TÓPICO 3

ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

1 INTRODUÇÃO
Caro(a) Acadêmico(a)! Você já deve ter estudado anteriormente o
desenvolvimento infantil e seus estágios, a partir da visão de alguns importantes
estudiosos desta área. Neste tópico, você conhecerá as particularidades do
desenvolvimento adulto, como o pensamento pós-formal e o modelo Schaie, que
observa o desenvolvimento dos adultos a partir do uso do intelecto, inserido em
um contexto social.

Sabemos que a inserção no mercado de trabalho, faz parte do mundo


adulto. Assim, as exigências do mundo corporativo tem nos obrigado a voltar aos
bancos da sala de aula a fim de que permaneçamos competitivos, diante da gama
de profissionais que entram neste nicho diariamente.

Levando este aspecto em consideração, conheceremos a andragogia que


se refere ao estudo da aprendizagem dos adultos, e na sequência, a heutagogia
que estuda a aprendizagem autodirecionada.

A partir de agora, prezado(a) acadêmico(a), você inicia sua leitura por este
tópico já colocando em prática um desses conceitos. Qual deles será? Andragogia
ou heutagogia? Descubra conosco! Bons estudos!

2 A FASE ADULTA DO DESENVOLVIMENTO


Para que possamos entender como o adulto aprende e compreendermos
melhor os conceitos de andragogia e heutagogia, é importante estudarmos como
a fase adulta se desenvolve, bem como suas etapas e implicações.

Sabemos que o desenvolvimento humano é contínuo e ininterrupto, ou


seja, refere-se a um conjunto de mudanças (físicas e cognitivas) que acontece no
indivíduo desde a sua concepção até a morte. Schaffer (2009) explica que essas
contínuas e sistemáticas mudanças, acontecem de maneira ordenada, padronizada
e relativamente permanente; porém neste contexto estão excluídas as mudanças
ocasionais de humor, aparência, pensamento e comportamento.

Objetivando um melhor entendimento do significado do desenvolvimento,


faz-se necessário precisamos recapitular dois conceitos importantes: maturação e
aprendizagem.
111
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Conforme Schaffer (2009) a maturação corresponde ao desenvolvimento


biológico do indivíduo contido em seu plano genético, considerando que os
primeiros passos são dados por volta de um ano de idade, a maturação sexual
acontece dos 11 aos 15 anos, e assim sucessivamente. Além disso, a maturação é
em parte responsável por mudanças psicológicas como a crescente capacidade
de concentração, resolução de problemas, bem como o entendimento dos
pensamentos e sentimentos de outra pessoa. Sendo assim, uma razão pela qual
nós humanos somos semelhantes em muitos aspectos importantes, se deve a
nossa carga genética, que nos conduz a várias mudanças desenvolvimentais
sobre os mesmos aspectos de nossas vidas.

Ainda de acordo com a autora anteriormente citada, a aprendizagem


acontece devido às experiências vivenciadas que refletem em mudanças
significativas em nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos, sendo
a partir da interação com pessoas de grande significação em nossa vida (pais,
professores etc.), que nos impulsionam na busca de algo que almejamos, tendo-os
como fonte de inspiração.

Sabemos que o desenvolvimento é um processo contínuo, assim as


mudanças que ocorrem em cada fase da vida apresentam implicações importantes
no futuro. Diante disto, outro conceito que nos ajudará a compreender melhor o
conteúdo que vamos estudar é chamado de plasticidade.

Shaffer (2009) define plasticidade como a capacidade de mudanças


em respostas a experiências de vida positivas e negativas. Como descrevemos
anteriormente, o desenvolvimento é processo contínuo de eventos passados que
implicam o futuro. Os estudiosos do desenvolvimento sabem há algum tempo
que o curso do desenvolvimento pode se alterar de maneira abrupta, caso algum
aspecto importante da vida do indivíduo mudar.

Além das mudanças físicas, o início da fase adulta é caracterizado pela


saída da casa dos pais, pela oportunidade do primeiro emprego, pelo casamento
ou pelo estabelecimento outros relacionamentos importantes, como ter e criar
filhos. Estas decisões irão afetar o resto da vida do indivíduo, bem como a saúde,
a felicidade e o sucesso. Juntamente a estas mudanças é possível verificar que o
pensamento passa por significativas transformações, tornando-se mais flexível,
aberto, adaptativo e individualista.

Papalia (2006) aponta que o adulto faz uso da intuição e da emoção,


paralelo a lógica para auxiliar as pessoas a enfrentarem um mundo aparentemente
caótico, utilizando-se de suas experiências vividas para lidar com a incerteza,
a inconsistência, a contradição, a imperfeição e a conciliação. Este estágio de
cognição adulta é chamado de pensamento pós-formal.

O pensamento pós-formal nos desafia a ver os acontecimentos de uma forma


não simplista, ou seja, tomando uma única resposta como verdade absoluta, mas sim,
de uma maneira crítica e reflexiva observando a mesma situação por vários ângulos.

112
TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

Papalia (2006) coloca que o pesquisador Jan Sinnott (1984, 1998) propôs
alguns critérios para o pensamento pós-formal:

• Câmbio de marchas: capacidade do indivíduo de transitar entre o raciocínio


abstrato e as considerações práticas e concretas. (“Isso pode funcionar no
papel, mas não na vida real”).
• Múltipla causalidade, múltiplas soluções: consciência que a maioria dos problemas
possui mais de uma causa e mais de uma solução, considerando que algumas
soluções apresentam mais chances de funcionar do que outras. (“Tentaremos
ao seu modo, caso não der certo, faremos do meu jeito”).
• Pragmatismo: seleciona a melhor dentre diversas soluções possíveis e de
reconhecer critérios para escolher. (“Se você quiser uma solução mais prática
faça isso; se quiser uma solução mais rápida, faça aquilo”).
• Consciência do paradoxo: reconhece que um problema ou uma solução originará
um conflito intrínseco. (“Fazer isso lhe dará o que ele quer porém, o fará infeliz”).

O pensamento pós-formal lida com a informação em seu contexto


social, é importante considerar que os dilemas sociais são menos estruturados e
frequentemente carregados de emoção.

Outro pesquisador, citado por Papalia (2006) que propôs um modelo


completo de estágios do desenvolvimento cognitivo da infância à velhice foi K.
Warner Schaie. O modelo Schaie como é chamado, observa o desenvolvimento dos
usos do intelecto, inseridos dentro de um contexto social, e que giram em torno de
objetivos que passam para o primeiro plano nos diversos estágios da vida, sendo:

1. Estágio aquisitivo (infância e adolescência): crianças e adolescentes adquirem


informações e habilidades principalmente por seu próprio valor ou como
preparação para a participação na sociedade.

FIGURA 55 – INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

FONTE: Disponível em: <http://tvbrasil.org.br/novidades/?p=13070 >.


Acesso em: 18 out. 2013.

113
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

2. Estágio realizador (final da segunda década de vida ou início dos 20 até o início
dos 30 anos): os jovens adultos não adquirem mais o conhecimento por seu
próprio valor; utilizam o que sabem para perseguir objetivos, como a carreira
profissional e a família.

FIGURA 56 – JOVENS

FONTE: Disponível em: <http://www.viadeacesso.org.br/cadastrovia/Artigo.


aspx?CCO=712>. Acesso em: 18 out. 2013.

3. Estágio responsável (final dos 30 ao início dos 60 anos): pessoas de meia


idade utilizam suas mentes para resolver problemas práticos associados às
responsabilidades com os outros, como membros da família ou empregados.

FIGURA 57 – FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://mdemulher.abril.com.br/familia/reportagem/


comportamento/reuna-familia-refeicoes-bom-todo-mundo-598100.shtml>. Acesso
em: 18 out. 2013.

114
TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

4. Estágio executivo (dos 30 aos 40 à meia-idade): pessoas neste estágio, podem


se sobrepor aos estágios realizador e responsável, sendo então atribuídos a
estes, sistemas sociais (como organizações governamentais ou comerciais) e
até movimentos sociais. Lidam com relacionamentos complexos em múltiplos
níveis.
5. Estágio reorganizacional (fim da meia-idade, início da idade adulta tardia): as
pessoas que se aposentam reorganizam suas vidas e energias intelectuais em
torno de interesses significativos que substituem o trabalho remunerado.
6. Estágio reintegrativo (idade adulta tardia): adultos mais velhos, que podem
ter perdido parte do envolvimento social e cujo funcionamento cognitivo pode
estar limitado por mudanças biológicas, muitas vezes, são mais seletivos em
relação a que tarefas despendem esforço. Eles se concentram no propósito do
que fazem e nas tarefas que produzem maior significado.
7. Estágio de criação de herança (final da velhice): perto do fim da vida, depois de
concluída a reintegração, os idosos podem criar instruções para a disposição
de posses valorizadas, fazer preparativos fúnebres, contar histórias ou escrevê-
las como herança para seus entes queridos. Todas essas tarefas envolvem o
exercício de competências cognitivas dentro de um contexto social e emocional.

FIGURA 58 – TERCEIRA IDADE

FONTE: Disponível em: <http://nadafragil.com.br/fonte-da-juventude-atividade-fisica-


na-terceira-idade/>. Acesso em: 18 out. 2013.

É preciso levar em consideração que nem todos os adultos passam


por todos os estágios nas idades acima sugeridas. Perceba que os estágios
realizador e responsável, lidam direta ou indiretamente com a vida acadêmica
e/ou profissional. Para tanto, o processo de ensino para este momento deve ser
diferenciado.

115
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 59 – FASES DO DESENVOLVIMENTO

FONTE: Disponível em: <http://grupopapeando.files.wordpress.com/2008


/12/desenvolvimento-e-casamento.jpg?w=780>. Acesso em: 21 maio 2011.

Neste primeiro momento, explanamos a respeito da pedagogia e a partir


de agora, acadêmico(a), passaremos a estudar as diferenças entre pedagogia
e andragogia e como tais teorias refletem na aprendizagem dos adultos,
acompanhe-nos!

3 PEDAGOGIA OU ANDRAGOGIA
Durante muito tempo, o ensino e a aprendizagem eram pensados como
ações inseparáveis, ou seja, para que a aprendizagem acontecesse fazia-se
necessário que houvesse ensino ou vice-versa. Essa interpretação originou-se
em função da aprendizagem ser centrada na figura do professor, que assumia
toda responsabilidade e controle por esse processo. Para muitas pessoas, esse
significado, caracterizava a pedagogia.

Nessa concepção caberia aos professores a responsabilidade de tomar


todas as decisões sobre “o que” seria aprendido e, “como e quando” aconteceria.
Tais responsabilidades foram designadas ao professor, por considerar que a
criança é desprovida de maturidade para tomar decisões corretas e, portanto,
deveria aprender somente o que fosse decidido e ensinado pelos professores.

Os estudos referentes à aprendizagem que conhecemos, geralmente


referem-se ao público infantil. Neste momento, você conhecerá como este processo
se desenvolve nos adultos, mediante o entendimento do conceito de andragogia e
como este surgiu ao longo da história.

116
TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

Almeida (apud LITTO, 2009) menciona que o termo andragogia foi


utilizado pela primeira vez por Alexander Kapp, professor alemão, em 1833, para
descrever elementos da teoria da educação de Platão, que exercitava a indagação,
a interpretação e a dialética, com pequenos grupos de jovens e adultos. Em 1921,
o professor Eugen Rosenstock, também alemão, utilizou o termo andragogia para
indicar a atuação de professores envolvidos com a educação de adultos e suas
bases filosóficas e metodológicas.

Em 1926, Eduard C. Lindermann publicou o resultado de sua pesquisa sobre


a educação de adultos, intitulada The meaning of adult education, em que revelou a
influência de John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, que defendia a
ideia de que uma escola comprometida é aquela em que a atuação do professor
proporciona a conexão das disciplinas escolares com o interesse dos alunos, onde
prática e teoria levariam o aluno ao desenvolvimento do pensamento científico.

FIGURA 60 – EDUARD C. LINDERMANN

FONTE: Disponível em: <http://www.harvardsquarelibrary.org/ware/


eduard_lindeman.php>. Acesso em: 8 maio 2012.

Almeida (apud LITTO, 2009) aponta que as ideias de Linderman


são similares em muitos aspectos, com a pedagogia de Dewey em relação à
motivação intrínseca, experiência como fonte de aprendizagem, a autodireção e o
engajamento em processos de investigação que levam em conta as diferenças de
estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.

Aquino (2007) coloca que em 1970, o estadunidense Malcolm Shepherd


Knowles (1913-1997) foi o mais importante representante da área de educação
de adultos, referente à segunda metade do século XX, sendo autor dos principais
trabalhos no que condiz a esta temática. Seus estudos orientaram, e podemos
dizer que continuam orientando, educadores de jovens e adultos a tomarem uma
postura de “auxiliar as pessoas a aprenderem ao invés de ensiná-las”.
117
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Diante deste conceito, Aquino (2007) expôs que o modelo andragógico estaria
se sustentado sob quatro proposições básicas para os aprendizes. Tais proposições
estariam ligadas ao que competem às capacidades, desejos e necessidades dos
próprios aprendizes em assumirem o rumo pela sua aprendizagem:

a) Seu posicionamento muda da dependência para independência ou


autodirecionamento.
b) As pessoas acumulam um ‘reservatório’ de experiências que pode ser usado
como base sobre a qual será construída a aprendizagem.
c) Sua prontidão para aprender torna-se cada vez mais associada com as tarefas
de desenvolvimento de papéis sociais.
d) Suas perspectivas de tempo e de currículo mudam do adiamento para o
imediatismo da aplicação do que é aprendido e de uma aprendizagem centrada
em assuntos para outra, focada no desempenho.

No quadro a seguir, Aquino (2007) compara a andragogia e a pedagogia,


no que condiz ao abordar o aprendiz, o ambiente de aprendizagem e a forma
como ocorre a interação professor-aluno. Acompanhe:

QUADRO 3 – PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE ANDRAGOGIA E PEDAGOGIA

Pedagogia Andragogia
(aprendizagem centrada no (aprendizagem centrada no
professor) aprendiz)
Os aprendizes são independentes
Os aprendizes são dependentes.
e autodirecionados.
Os aprendizes são motivados de forma Os aprendizes são motivados de
extrínseca (recompensa, competição forma intrínseca (satisfação gerada
etc.). pelo aprendizado).
A aprendizagem é caracterizada por A aprendizagem é caracterizada por
técnicas de transmissão de conhecimento projetos inquisitivos, experimentação,
(aulas, leituras designadas). estudos independentes.
O ambiente de aprendizagem
O ambiente de aprendizagem é formal
é mais informal e caracterizado
e caracterizado pela competitividade
pela equidade, respeito mútuo e
e por julgamentos de valor.
cooperação.
O planejamento e a avaliação são A aprendizagem deve ser baseada
conduzidos pelo professor. em experiências.
A avaliação é realizada basicamente As pessoas são centradas no
por meio de métodos externos (notas, desempenho em seus processos de
testes e provas). aprendizagem.

FONTE: Adaptado de JARVIS, P. The sociology of adult and continuing education. Beckenham:
Croom Helm, 1985.

118
TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

As exigências do mundo corporativista são refletidas através da constante


necessidade de buscar mais conhecimento, desenvolver habilidades e tomar
atitudes que visem demonstrar que o profissional está atento às necessidades
do mercado de trabalho. As instituições educacionais (universidades, escolas
técnicas etc.), responsáveis pela formação inicial ou continuada de profissionais,
precisam rever e discutir sobre os métodos de aprendizagem utilizados.

Aquino (2007) nos provoca à reflexão quando coloca em questão se a


pedagogia é uma forma adequada para o ensino e aprendizagem dos adultos ou
se a andragogia, como abordagem que considera a postura crítica e a necessidade
de experimentação, seria capaz de trazer melhores resultados para esse grupo
particular de aprendizes. O autor sustenta um contínuo andragógico-pedagógico,
visando que professores e organizações sejam capazes de se mover em busca de
uma combinação entre as duas abordagens.

FIGURA 61 – ANDRAGOGIA

FONTE: Disponível em: <http://farm5.static.flickr.com/4030/4297568720_


e2dc4475e5.jpg>. Acesso em: 22 maio 2012.

Cada indivíduo responde de uma forma particular aos estímulos


apresentados. Quando falamos em aprendizagem, precisamos entender que nem
todos os adultos responderão de maneira positiva a metodologia andragógica,
ou seja, muitos deles não estarão dispostos ou não serão capazes de assumir pelo
menos parte da responsabilidade de seu aprendizado.

O contínuo andragógico-pedagógico pode ser aplicado a qualquer situação


de aprendizagem, independentemente da idade e maturidade do aprendiz. Na
prática, encontraremos adultos cujo metodologia pedagógica, ainda será a melhor
forma de aprendizagem. Por outro lado, algumas crianças, que já apresentarem
a maturidade necessária para aprenderem por um modelo facilitado, estarão
aplicando em seus estudos a prática andragógica.

119
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

4 HEUTAGOGIA, QUE MODALIDADE DE ENSINO É ESTA?


Em pleno século XXI a educação também avança na busca de novas formas
de gerar conhecimento. Atualmente a internet, juntamente com as demais TICs
(tecnologias de informação e comunicação) proporciona o acesso à informação
de forma interativa, rápida, a qualquer hora e lugar, nos mantendo atualizados.

Todo este progresso incentivou o indivíduo a ser mais autônomo, no que


tange buscar conhecimentos do seu interesse e, a partir disso, inicia-se uma nova
modalidade educativa, a heutagogia.

UNI

Amaral (2010) explica que o termo HEUTAGOGIA (heuta – auto, próprio


– e agogus – guiar) foi criado em 2000 por Stewart Hase e Kenyon, em contraposição à
Andragogia [Andros (homem), agein (conduzir) e logos (tratado)] e a Pedagogia [paidós (criança)
e agodé (condução)].

Neste processo de ensino não há professor e o aluno é o único responsável


pela aprendizagem. O modelo é alinhado à Tecnologia da Informação e
Comunicação – TICs e às inovações de  e-learning  (onde o estudo se dá sem a
presença intensiva do professor, necessitando da autonomia de quem aprende).

A heutagogia é aplicada quando há necessidade de rapidez no ensino,


pois nos encontramos em um momento de importantes mudanças sociais,
principalmente quando se trata do acesso à informação. Bellan (2008) nos coloca
que para acompanhar este tempo de mudanças significativas, é recomendável
um conjunto de princípios e práticas que tragam maior rendimento e qualidade
de retenção de informações, por meio de um trabalho didático que possibilite o
alinhamento da aprendizagem com a prática.

Instituições educacionais e corporativas muitas vezes exigem que


colaboradores ou aprendizes, sejam capazes de aprimorar suas habilidades
e desenvolver sua aprendizagem, de forma rápida e flexível. Uma prova da
mudança dos conceitos sobre a eficiência do ensino e da aprendizagem é a
multiplicação dos cursos de ensino a distância.

120
TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

FIGURA 62 – HEUTAGOGIA

FONTE: Disponível em: <http://www.portalexamedeordem.com.br/blog/wp-


content/uploads/2011/11/estudar-computador-Thinkstock.jpg>. Acesso em: 21
maio 2012.

Amaral (2010) aponta a importância deste movimento, quando menciona


que a crescente difusão da educação a distância e os recursos como a teleconferência,
geraram a heutagogia empresarial, ou seja, uma educação voltada ao mundo
corporativo, objetivando a capacitação, o treinamento, a formação continuada e
a universidade corporativa. Neste tipo de educação, os colaboradores recebem
assistência de tutores, que interagem com sistemas e programas específicos,
sendo então condutores de seu aprendizado.

É importante lembrar, que a heutagogia não propõe a eliminação do


educador no processo de aprendizagem do educando. Para este modelo o
importante é o que o aluno realmente aprenda, diante da reflexão pessoal, da
interação com os outros e da valorização das experiências.

A heutagogia representa e reforça a busca da autonomia do aprendiz e a


liberdade de escolha em “o que e como” aprender aliado aos objetivos, desejos,
possibilidades e metas pessoais. Cabe ao professor a ação de mediador e orientador
nas escolhas dos aprendizes, buscando disponibilizar meios e instrumentos que
contribuirão para a eficácia desse processo. A aprendizagem autodeterminada
promove ao aprendiz a autoafirmação e autorrealização, buscando colocá-lo
sempre como responsável pelo processo de construção do conhecimento

121
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

LEITURA COMPLEMENTAR

CARACTERÍSTICAS DO APRENDIZADO DO ADULTO

Antonio Pazin Filho

O ensino de adultos difere em muitos aspectos dos princípios difundidos


para o ensino de crianças e adolescentes. O conhecimento destes princípios é
fundamental no desenvolvimento de qualquer atividade didática, haja vista
que esta deve ser direcionada e adaptada às necessidades da população na qual
será aplicada. Excelentes apresentações, compostas por grandes especialistas
em qualquer área de atuação, são muitas vezes grandes fracassos, por estarem
direcionadas para o público errado.

Levar em consideração o público-alvo compreende não somente


adequação do conteúdo, mas o respeito às características de aprendizado que
esta população requisita.
[...]

Talvez o mais importante conceito que se deve ter em mente ao se lidar


com o adulto é o conhecimento de que todos trazemos uma série de experiências
previamente adquiridas, muitas vezes relacionadas ao assunto em questão, e
que temos a necessidade de concatenar a nova informação apresentada comeste
repertório prévio. A incapacidade de se realizar esta concatenação torna o adulto
refratário a novas informações.

Qualquer que seja a atividade desenvolvida, a primeira reação do adulto


é tentar integrar a informação nova com o conteúdo que ele possui. Ele necessita
fazer isto para não sentir que tudo o que aprendeu até agora foi em vão ou está
errado. Algumas vezes nosso objetivo como palestrante será realmente mostrar
que o conteúdo anteriormente adquirido foi modificado ou estava errado, o que
se constitui num dos pontos mais difíceis de qualquer atividade didática.

De qualquer forma, deve-se ter em mente que por mais radical que seja a
mudança, ela sempre parte de princípios conhecidos e que podem ser utilizados
como ponto inicial de aproximação.

O repertório prévio estará presente mesmo quando o aluno alegue


desconhecer o assunto em questão. Esta é uma reação comum de vários alunos
frente a situações de estresse. Vale o mesmo princípio de se tentar a concatenação
com experiências prévias, mas aqui o aluno deve ser lembrado que conhece o
assunto. Técnicas expositivas como aquela em que se lista no quadro negro os
conhecimentos prévios, ajudando o aluno a resgatar o conhecimento que afirma
não ter, são exemplos apropriados. Mesmo que o aluno não resgate o conhecimento
necessário em toda a sua magnitude, estas informações serão importantes para
que ele contextualize o assunto ao estudar posteriormente à aula.

122
TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

É difícil aceitar, em princípio, que sejamos todos tão refratários à aquisição


de novos conhecimentos. Mas trata-se de uma atitude concreta e não totalmente
descabida. Diariamente somos bombardeados por quantidades incríveis de
informação e temos que filtrar, pois nossa capacidade de apreensão e compreensão
é muito menor.

Este repertório prévio também implica que o aluno busque a atividade


didática com expectativas e objetivos próprios. As experiências prévias geraram
dúvidas e necessidades que ele busca sanar nesta nova oportunidade. Muitas
vezes a atividade didática pode não estar direcionada para as expectativas do
aluno e este desencontro pode ser extremamente frustrante e impossibilitar
qualquer tipo de comunicação.

Contornar estas expectativas deve ser o primeiro ponto ao se preparar


qualquer atividade didática para adultos. Existem várias formas de se realizar
isto. Ao se lidar com pequenos grupos, por exemplo, podemos solicitar que cada
aluno expresse suas expectativas frente à atividade e, no final, podemos esclarecer
se estas expectativas serão ou não atendidas. Ao se lidar com grupos maiores, ou
quando não se dispõe de tempo para maior integração, podemos esclarecer qual
é o objetivo da atividade, dizendo o que nos propomos a fazer.

Qualquer que seja a técnica empregada, esclarecer quais são os objetivos


dá ao aluno uma orientação que é importante por vários outros motivos, mas antes
de tudo, tira aquela sensação de frustração de perceber que o conteúdo ao qual
está sendo exposto não é aquele que ele esperava. Dá um senso de honestidade e
confiança ao que está sendo transmitido, o que é fundamental para se estabelecer
um “contrato de aprendizado”.

A consciência desta necessidade de integração como reação a ser esperada


pode ser muito útil ao impedir que o palestrante se encontre em conflito com a
plateia. Ao nos depararmos com uma plateia refratária à mensagem que estamos
tentando entregar, nossa primeira reação será de nos sentirmos agredidos e
a resposta mais comum para esta situação é o desinteresse e, muitas vezes, o
conflito.

Deve-se deixar claro que estamos tratando daquele tipo de refratariedade


espontânea, não relacionada à qualquer conhecimento prévio do palestrante por
parte da plateia. Existem situações nas quais a “fama” da matéria ou do palestrante
pode desmotivar a plateia, entendido por muitos como refratariedade.

O tipo de refratariedade aqui discutido não é desta natureza, mas sim


daquela inerente a qualquer adulto que se constitua parte de uma plateia pelo
simples fato de estar sendo exposto a uma nova experiência, a um território
desconhecido e não estar sendo capaz de integrar estas novas percepções ao seu
repertório prévio.

123
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Quanto maior o grau de diferenciação da população, maior será a


refratariedade apresentada. Imagine a situação de se apresentar um tópico de
ponta em alguma área de conhecimento para uma plateia especializada no
assunto, como por exemplo, professores titulares. Se o assunto for controverso
e passível de discussão, esta é uma situação que pode exacerbar ao máximo este
grau de refratariedade.

Outro aspecto deve ser compreendido. O adulto se concentra num


determinado conteúdo por vez e só se desloca para um novo conceito, quando ele
se sente seguro que compreendeu e integrou o ponto anterior. Durante uma aula
expositiva, geralmente abordamos vários tópicos de alguma forma relacionados
entre si e dispostos em sequência de complexidade.

Para que possamos desenvolver nossos objetivos, necessitamos que o


aluno compreenda cada um dos passos que estamos ilustrando para podermos
“amarrar” no final. Pois bem, caso o aluno não tenha compreendido o passo 1,
por exemplo, ele não consegue se deslocar para o próximo passo. São nestes
momentos que geralmente perdemos a atenção da plateia e o fluxo da aula se
degenera. Um exemplo mais concreto desta situação são aquelas aulas em que
o aluno está copiando os diapositivos apresentados. Caso ele perca um dos
diapositivos, ao invés de prestar atenção nos próximos e ter uma noção geral do
que está acontecendo, a tendência mais provável é que ele vá buscar a informação
que faltou com o colega ao lado, desviando a atenção necessária.

O conhecimento desta forma de refratariedade implica algumas medidas


básicas de estruturação e condução de uma aula. Assim, por exemplo, está
correto estruturar a aula em tópicos de complexidade progressiva, mas para que
esta técnica seja efetiva devemos garantir que a cada ponto ensinado a plateia
esteja acompanhando nosso raciocínio. Um dos métodos para isto é ilustração
ou exemplos ao final de cada ponto ou sumarizar o que foi dito até o momento
em pontos estratégicos da aula, dando oportunidade ao aluno para se localizar e
tempo para processar as informações.

Devemos também garantir que os recursos auxiliares que estamos


empregando não sejam fatores que maximizem a refratariedade, como por
exemplo, colocando informação excessiva e desnecessária em diapositivos.
Caso isto seja absolutamente necessário, devemos garantir tempo para que esta
informação seja corretamente processada.
FONTE: Disponível em: <www.fmrp.usp.br/revista/2007/vol40n1/2_caracteristicas_do_
aprendizado_do_adulto.pdf>. Acesso em: 24 maio 2012.

124
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você estudou:

• O conceito de plasticidade que consta na capacidade do indivíduo de mudanças


em resposta a experiências positivas e negativas.

• Os critérios relacionados ao pensamento pós-formal.

• O modelo completo de estágios do desenvolvimento cognitivo da infância à


velhice foi K. Warner Schaie.

• Como surgiu e quais são os conceitos de andragogia e heutagogia.

125
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Agora que você estudou sobre o desenvolvimento


adulto e as novas modalidades de ensino, como a andragogia e a heutagogia,
é hora de responder às atividades:

1 Diante do que foi estudado, conceitue andragogia e heutagogia.

2 O pensamento pós-formal é o estágio em que o adulto usa a intuição e a


emoção paralelos a lógica, com o objetivo de auxiliar as pessoas a enfrentarem
as turbulências do dia a dia. Neste sentido, cite os critérios do pensamento
pós-formal.

126
UNIDADE 2
TÓPICO 4

O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO,


ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

1 INTRODUÇÃO
No que se refere ao desenvolvimento do trabalho pedagógico,
apresentaremos a você, acadêmico (a), visões educacionais que poderão levá-lo à
reflexão e à discussão. Tais correntes pedagógicas têm em comum a totalidade e a
busca da autonomia do ser humano, levando em consideração a comunidade, as
crenças e valores em que se encontra inserido.

A autonomia também é a base do trabalho andragógico e heutagógico. No


estudo dessas duas correntes traremos ao seu conhecimento como elas acontecem,
além de alguns trabalhos que foram desenvolvidos pelos estudiosos destas áreas.
Desejamos-lhe bons estudos.

2 O TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇAO INTEGRAL


NO BRASIL
Iniciaremos nossa caminhada pelo desenvolvimento do trabalho
pedagógico, traçando uma linha histórica da educação integral no Brasil, além de
explorar seu conceito e a participação das diversas instâncias que dela fazem parte.

A partir da primeira metade do século XX, aconteceram às manifestações


iniciais, tanto em pensamento quanto em ações, em prol da educação integral.
Alguns grupos, entre eles católicos, anarquistas e integralistas, manifestaram suas
ideias em relação a esta nova forma de ação educacional, cada uma defendendo
suas matrizes ideológicas.

Conforme o MEC (2009), em 1930, o Movimento Integralista,


representado por Plínio Salgado, denotava como base uma educação voltada
para a espiritualidade, o nacionalismo cívico e a disciplina. Já os anarquistas
evidenciavam como alicerce educativo princípios como a igualdade, a autonomia
e a liberdade humana.

127
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 63 – PLÍNIO SALGADO

FONTE: Disponível em: <http://almanaque.folha.uol.com.br/


memoria_4.htm>. Acesso em: 18 nov. 2013.

O educador e escritor Anísio Spínola Teixeira, foi um nome de destaque


neste movimento educacional. De acordo com o MEC (2009) o mentor intelectual
do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, trabalhava para que o sistema
de ensino público possibilitasse a criança um programa completo de leitura,
aritmética, escrita, ciências físicas e sociais, artes, saúde e alimentação.

FIGURA 64 – ANÍSIO TEIXEIRA

FONTE: Disponível em: <http://anisio-teixeira.blogspot.com.


br/2009/04/teste.html>. Acesso em: 24 abr. 2012.

128
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

Em 1950, Anísio Teixeira iniciou os trabalhos do primeiro projeto de


educação integral brasileiro, em Salvador, no estado da Bahia, chamado de Centro
Educacional Carneiro Ribeiro.

Conforme informações do MEC (2009), no Centro desenvolviam-se


atividades escolares, que eram trabalhadas nas escolas-classe e outras atividades
aconteciam no contraturno, em um espaço denominado pelo educador de escola-
parque.

A convite do presidente Juscelino Kubitscheck, Anísio Teixeira deu


continuidade ao seu projeto em Brasília nos anos 60. Na época, de acordo com
o MEC (2009), o então presidente pretendia formar um modelo educacional
que fosse aplicado em todo território nacional. Na construção da nova capital,
projetada pelo arquiteto Oscar Niemayer, foram erguidas superquadras, que
contavam com quatro escolas-classe, em que eram oferecidos aos alunos aulas de
educação formal clássica e uma escola-parque. Nestes ambientes eram oferecidas
atividades culturais, esportivas e artísticas.

Na década de 80, o Rio de Janeiro tendo como governador Leonel Brizola,


foram construídos 500 CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) com
a proposta de Educação Integral. Com o passar do tempo, entre 2000 a 2004,
a prefeitura de São Paulo, também iniciou seus trabalhos nesta proposta da
Educação Integral, com atividades nos Centros de Educação Unificada, visando à
promoção de diversos níveis de ensino e atividades curriculares e extracurriculares
concentradas num mesmo espaço.

Diante das compreensões e experiências, a Educação Integral parte


de uma proposta de formação completa para o ser humano, porém é preciso
considerar que cada concepção fundamenta seus trabalhos em princípios políticos
ideológicos particulares, mas mantém naturezas semelhantes no que tange às
atividades educativas.

Em todo território nacional, somam-se a realização de vários trabalhos


direcionados à Educação Integral, fruto de iniciativas de governos municipais
e estaduais bem como do governo federal, juntamente com a participação da
sociedade civil, objetivando melhorar a qualidade da educação. Muitas ações
desenvolvidas na escola tornam-se mais amplas no momento que vão além dos
muros da instituição. Contudo, conforme o MEC (2009) para que a educação
integral seja compreendida, a principal condição é a atenção irrestrita e o diálogo
com o projeto político pedagógico (PPP) da instituição escolar.

Sabemos que o projeto político pedagógico (PPP), além de abordar


assuntos relativos à educação formal, deve ser construído com a participação de
todos os membros constituintes do meio escolar, para que a criança seja vista em
sua integralidade.

129
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Assim, vamos pensar a totalidade a partir da comunidade em que esta criança


está inserida. A escola situada em meio a uma comunidade, automaticamente,
passa a fazer parte das diversas culturas, valores, práticas e crenças que a mesma
apresenta. Conforme o MEC (2009), a educação caracteriza-se por um ambiente
marcado pela reconstrução de conhecimentos, tecnologias, saberes e práticas, no
qual independe da formação de seus professores, mas que seus trabalhos sejam
realizados em territórios culturais nos quais os estudantes se encontram

FIGURA 65 – ESCOLA INTEGRAL

FONTE: Disponível em: <http://portalintegracao.com/portal/2012/08/20/em-todo-


o-pais-32-mil-escolas-publicas-tem-ensino-integral/>. Acesso em: 24 ago. 2012.

A relação entre a escola e a comunidade deve ser marcada pelo diálogo,


troca e construção de saberes e possibilidades, objetivando a união de forças
no combate e na superação dos vários preconceitos nela cristalizados. Para que
isso seja concretizado, o professor é um dos principais atores neste cenário, pois
diariamente seu trabalho é pautado na relação entre o conteúdo a ser ensinado, a
sala de aula e os alunos. O professor busca por maio da criatividade, proporcionar
aos alunos a melhor forma de aprender, refletir, relacionar e questionar.

O Ministério da Educação (2009) propõe que para implementar o projeto


de Educação Integral e de tempo integral, é preciso superar grande parte dos
modelos educacionais vigentes. A proposta é construir novos conteúdos
relacionando-os com a sustentabilidade ambiental, com os direitos humanos, o
respeito, a valorização das diferenças e com a complexidade das relações entre a
escola e a sociedade.

Desta forma compreende-se que, a educação desempenha um papel


fundamental na vida do ser humano e não se limita apenas aos muros da escola,
tampouco as suas quatro horas diárias ou vinte horas semanais. Crianças e
adolescentes são sujeitos de vivência que dependem de uma orientação formal
e informal de qualidade. Neste sentido, a Educação Integral propõe que a escola
adentre à comunidade tão quanto a comunidade esteja presente no meio escolar.

130
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

3OTRABALHOPEDAGÓGICOAPARTIRDAVISÃOHOLÍSTICA
A visão holística de educação, em nada se remete ao que estamos
acostumados a interpretar quando nos deparamos com o termo no sentido
esotérico. Este olhar sobre o método educacional busca chamar a atenção dos
educadores para a denotação de holismo, originado do grego holos, que tem por
significado o que é inteiro, integral, totalidade, realidade, que faz referência a um
universo feito de conjuntos integrados que não pode ser reduzido a simples soma
de suas partes.

Esta visão transformadora tem suas raízes em filósofos e pedagogos do


século XVIII, como Rousseau, Pestalozzi, entre outros. Influentes estudiosos na
área da pedagogia, do início do século XX, como Maria Montessori e Rudolf
Steiner também contribuíram valiosamente na direção de um trabalho visando à
totalidade do ser humano.

A educação holística passou a ser mais presente no cenário educacional


a partir dos estudos realizados pelo americano Ron Miller, fundador do
jornal Holistic Education Review (atualmente nomeado como Encounter: Education
for Meaning and Social Justice). O canadense J. P. Miller também contribui para os
estudos relativos a este novo olhar sobre a educação. Poucas são as informações
sobre esses estudiosos, o importante é que ambos motivaram outros a disseminar
esta abordagem.

Os educadores holísticos partem do pressuposto da existência de uma


fragmentação de todas as esferas da vida humana. J. Miller (1996 apud YUS,
2002) coloca que a Revolução Industrial serviu de estímulo à padronização, que
resultou na fragmentação da vida, sendo seus reflexos sentidos em seus vários
âmbitos:

a) Vida econômica: a fragmentação econômica resultou na devastação ecológica,


trazendo sérios prejuízos ao meio ambiente, como a poluição do ar e dos mares,
pois não vemos como parte separada do processo orgânico que nos rodeia.
b) Vida social: as sociedades industrializadas têm contribuído para o aumento do
sentimento de insegurança e isolamento dos demais, sendo a violência urbana
um dos temas mais discutidos atualmente. Esta fragmentação traz à tona os
abusos que cometemos (uso de álcool e drogas) e testemunhamos (injustiças
cometidas contra idosos, mulheres e crianças), derivado da desconexão que
sentimos em relação ao outro.
c) Vida pessoal: originária da fragmentação intrapessoal e a dificuldade do
autocontato. Estarmos desligados do outro decorre do não conhecimento
de si próprio. A educação de certa forma contribuiu para que isso ocorresse,
pois o saber acadêmico ignora a relação cabeça e coração. O resultado disto
é o quanto estamos voltados ao consumismo que o capitalismo proporciona,
sendo uma das consequências desta valorização do ter, a sensação de “vazio”,
que podemos chamar talvez de espiritualidade.

131
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

d) Vida cultural: neste âmbito, a fragmentação é percebida por uma falta de sentido
compartilhado de significado ou de mitologia. Essa falta de consenso chega a
ser latente quando procuramos abordar temas de interesse social e humano. A
visão materialista é a única que é aceita e compartilhada, dando a entender a
existência de uma realidade somente física e controlada pelo método científico.

Nas escolas a fragmentação apresenta-se diante da organização


hierarquizada, profissionais especializados e desconectados, o conhecimento
fragmentando em disciplinas, unidades e lições isoladas, em que não há
possibilidade de ver a relação dentre e entre elas principalmente diante da
realidade vivida pelas crianças.

J. Miller (1996 apud YUS, 2002) coloca que a educação holística está
centralizada nas relações:

a) Entre pensamento linear e intuição: um currículo voltado à educação holística


tenta estabelecer um equilíbrio entre o pensamento linear e a intuição. Fazendo
uso de técnicas, objetiva buscar integrar os pensamentos mais tradicionais, de
forma que se consiga uma síntese entre a análise a intuição.
b) Entre mente e corpo: estimular o estudante a explorar a conexão entre a mente
e o corpo, faz parte do currículo holístico. Para isso são utilizadas técnicas como
dança, dramatização, relaxamento e exercícios de concentração.
c) Entre domínios de conhecimento: para a educação holística, existem várias
formas de unir as disciplinas acadêmicas e os temas escolares. Por exemplo,
as abordagens interdisciplinares do pensamento e as centradas no tema, na
linguagem global etc., podem ser unidas a várias disciplinas.
d) Entre o eu e a comunidade: o currículo holístico vê o estudante em relação
com a comunidade, considerando que para a educação holística a expressão
comunidade toma um sentindo abrangente sendo: escolar, vizinhança, cidade,
nação e planetária. Busca desenvolver na criança habilidades interpessoais, de
serviço à comunidade e de ação social.
e) Entre o eu e o Eu: o currículo holístico preocupa-se em nos levar à uma conexão
com a parte mais profunda de nós mesmos, o qual nomeamos Eu (eu superior,
superconsciente etc.). Um veículo de aproximação intrapessoal pode se dar
através da arte como dança, música, poesia, pintura e teatro ou as mitologias
que abordam os interesses universais dos seres humanos.

132
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

FIGURA 66 – EDUCAÇÃO HOLÍSTICA

FONTE: Disponível em: <http://www.yogapelapaz.com.br/blog/?p=3799>.


Acesso em: 24 ago. 2012.

Para a educação holística é importante que o estudante analise essas


relações, a fim de que ele tome consciência delas, assim como das habilidades
necessárias para transformar as relações em que for necessário.

3.1 DEFINIÇÕES, CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES DA


EDUCAÇÃO HOLÍSTICA
Como mencionamos anteriormente, holos vem do grego e significa todo.
O americano R. Miller (1997 apud YUS, 2002) propôs o termo Educação Holística
para designar o trabalho de um conjunto de pensadores liberais, humanistas e
românticos que têm em comum a convicção de que a personalidade global da
criança deve ser considerada na educação, ou seja, os aspectos físicos, emocionais,
criativos, intuitivos e espirituais inatos da natureza do ser humano.

A partir de uma visão globalizada, em que a criança é vista como corpo,


mente, emoções e espírito, Yus (2002) expõe que a aprendizagem holística objetiva
desenvolver o ensino e a aprendizagem estimulando a formação de conexões
entre os temas e entre a forma como as crianças vivem em suas comunidades.

Yus (2002) também coloca que para a Educação Holística, a aprendizagem


é vista como um processo experimental e orgânico, buscando sempre estabelecer
conexões com um assunto central para os processos curriculares. Este modelo
procura equilibrar os vários elementos de aprendizagem como: conteúdos
e processos; aprendizagem e avaliação, o pensamento analítico e criativo;
trabalhando em prol da inclusão e objetivando suprir as diferentes necessidades.

133
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Vejamos as diferenças entre um currículo tradicional e um currículo


holístico a partir de alguns indicadores:

QUADRO 4 – CURRÍCULO TRADICIONAL X CURRÍCULO HOLÍSTICO

Indicador Currículo tradicional Currículo holístico


Equilíbrio entre indivíduo Enfatizam a competição Aprendizagem
e grupo individual colaborativa
Qualidade de
Equilíbrio entre conteúdo Aprendizagem na
aprendizagem, aprender
e processo memorização
a aprender
Equilíbrio entre Conhecimento como Conhecimento e
conhecimento e imaginação único processo mental imaginação
Equilíbrio entre razão e Abordagens racionais e Equilíbrio entre razão e
intuição lineares dos problemas intuição
Métodos qualitativos
Equilíbrio entre avaliação Métodos quantitativos
avaliação de
quantitativa e qualitativa de avaliação
desempenho
Centrar mais na Centrar mais na
Equilíbrio entre avaliação e
avaliação do que na aprendizagem do que
aprendizagem
aprendizagem na avaliação contínua
FONTE: Disponível em: <http://textolivre.com.br/livre/7804-educacao-holistica.> Acesso em: 12
jun. 2012.

A educação holística visa ao desenvolvimento da pessoa em sua


globalidade, analisando que a aprendizagem desenvolve-se entre pessoas de
várias idades, pois considera importante a experiência vital.

4 OTRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA HUMANISTA


O humanismo marcou um período de transição entre a Idade Média e
o Renascimento. Este movimento passou a direcionar um novo olhar sobre o
ser humano, ou seja, a busca da valorização enquanto ser pensante e detentor
de conhecimento. É importante lembrar que para chegar a este feito, muitos
obstáculos foram enfrentados, pois, naquela época os poderes eclesiásticos
detinham o controle sobre as ciências e a filosofia.

Paz (2010) coloca que os pensadores da época começaram a reaver uma


compreensão de mundo baseado no homem, e este pensamento é atribuído a
Cícero (106-43 a. C.) na Grécia antiga.

134
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

Após um longo tempo em que tudo era interpretado de acordo com os


olhares da igreja, o homem volta a ser o centro das discussões, sendo então o
humanismo conceituado de acordo com Paz (2010) o fato de que todas as pessoas
têm dignidade e valor, portanto, devem respeitar seus semelhantes. O homem é
parte integrante da natureza, porém diferente dos demais por ser racional, livre,
agente ético, político, técnico e artístico.

Para muitos, a linha humanista foi responsável pelo nascimento do


pensamento moderno quando se direcionou a elaborar uma concepção em que o
homem era o centro. A Itália foi o berço deste movimento que ocorreu nos séculos
XIV ao XVI, posteriormente as sementes do pensamento humanista germinaram
por grande parte da Europa.

O humanismo enquanto pensamento reflexivo centralizado no homem,


sempre fez parte da história, porém neste período, em que o movimento obteve
maior força, Paz (2010) destaca três pontos importantes: 1) o objetivo básico do
conhecimento é o homem e o significado da vida; 2) não há filósofo que seja detentor
da verdade; e 3) a cultura clássica pagã e o cristianismo possuem afinidades,
considerando que os ensinamentos sobre o homem, a vida e a virtude, através
das manifestações dos autores clássicos podem ser integrados ao cristianismo.

Com o passar do tempo, o humanismo sofreu as influências das reformas


religiosas, porém seus ideais como, a noção de racionalidade e a nova visão de
mundo, permaneceram vivos entre os pensadores.

Mesmo assim, o movimento humanista avançou tanto quanto a burguesia


urbana na Itália nos últimos séculos da Idade Medieval. Esta nova classe rica
passou a dar ênfase à cultura, o que antes era apenas frequentada e dirigida
pela igreja e os grandes nobres, assim esta nova classe buscou uma educação
direcionada à manutenção e gestão de seus recursos, tendo em vista que a linha
educacional teológica não supria mais as necessidades da época.

Paz (2010) menciona que devido às novas necessidades da época, os


ensinamentos foram adaptados e deram início a programas de estudo com
o objetivo de orientar a aquisição de conhecimentos profissionais e atitudes
mundanas por meio de leituras de autores antigos ou estudos referentes à
gramática, retórica, história e filosofia moral. A partir do século XV esses
cursos receberam o nome de studia humanitatis ou humanidades, e as pessoas
encarregadas de ministrá-los ficaram conhecidas como humanistas.

Esse novo movimento pedagógico buscava valorizar a infância e a


juventude, em sua autonomia e diferença em relação à idade adulta, porém não
deixando de lado a inocência e ingenuidade, características deste período do
desenvolvimento.

Avançando na linha do tempo, no findar do século XX, muitos


acontecimentos tiveram influência nos rumos da educação, dentre os muitos

135
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

que poderíamos destacar estão: guerras, diferenças sociais, discriminação racial,


mudanças constantes no cenário político-econômico mundial; e fatores que
levaram a educação a buscar e acompanhar essas transformações, surgindo
assim novos movimentos educacionais como a Escola nova, o Construtivismo, o
Tecnicismo, entre outros.

Paz (2010) afirma que nos últimos tempos não houve destaque a uma
corrente pedagógica humanista propriamente dita, mas o humanismo através
da valorização do homem, na busca de métodos práticos e desenvolvimento do
raciocínio fez-se presente na maioria das concepções pedagógicas do século XX.

O autor, acima citado, complementa o pensamento, destacando que esta


abordagem é totalmente centrada no aluno, como pessoa inserida no mundo e em
processo de constantes descobertas. Para tanto, considera a pessoa muito mais
do que um organismo biológico, ou seja, como alguém que pensa, sente, escolhe,
decide e é capaz de mudar.

Dentre os estudiosos do humanismo, o psicólogo norte-americano,


nascido em Oak Park nos Estados Unidos, Carl Ransom Rogers, destacou-se por
desenvolver um método psicoterapêutico centrado no próprio cliente, sendo essa
teoria aplicada também à educação

FIGURA 68 – CARL ROGERS

FONTE: Disponível em: <http://onedayatatimebroward.blogspot.com.


br/2010/05/just-as-i-am.html>. Acesso em: 24 ago. 2012.

136
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

De acordo com Ferrari (2011), Rogers via o professor como alguém


que exerce uma tarefa de facilitador do aprendizado, enquanto ao aluno cabe
conduzir o modo de como aprende. Sua corrente de pensamento ficou conhecida
como humanista por se basear em uma visão otimista do homem.

Conforme Ferrari (2011), para Rogers o organismo humano apresenta


a tendência à atualização, tendo por finalidade a autonomia. O processo de
atualização constante gera a abertura a novas experiências, a capacidade de
vivermos o presente, desenvolver confiança nos próprios desejos e intuições,
liberdade e responsabilidade de agir e a disponibilidade de criar. Assim, Ferrari
(2011) também nos destaca que Rogers considerava que três qualidades são
essenciais ao professor no exercício do seu papel. Vamos a elas:

1) congruência: significa ser autêntico com o aluno;


2) empatia: compreender os sentimentos;
3) respeito: consideração positiva incondicional.

No que tange ao conteúdo a ser ensinado, Paz (2010) aponta que Rogers
propunha uma aprendizagem significativa, ou seja, que aquilo que for ensinado
torne-se relevante ao aluno, causando interesse e estando de acordo com seus
ideais e propósitos, favorecendo o crescimento da pessoa e motivando-a a
aprender.

Além de Carl Rogers, o desenvolvimento do pensamento humanista


contou com nomes de grande importância como Célestin Freinet, Maria
Montessori e Paulo Freire, integrando suas ideias.

A prática direcionada pela visão humanista é desafiadora mediante toda


estrutura educacional rígida a qual somos submetidos, quase que diariamente.
Para Paz (2010) a educação do novo milênio deve incentivar as crianças e
adolescentes a lutarem por uma vida mais digna e justa, buscando libertar os
alunos da ignorância, preconceito, alienação e das falsas consciências, buscando
assim desenvolver as potencialidades de cada um.

5 AS BASES DA METODOLOGIA ANDRAGÓGICA PARA A


APRENDIZAGEM
Como você já viu anteriormente, a andragogia estuda o processo
de aprendizagem no adulto. O desenvolvimento desta nova corrente de
aprendizagem partiu das exigências do mundo corporativo, das experiências
prévias, objetivos particulares de aprendizagem e as necessidades pessoais.

Para compreendermos a metodologia utilizada pelo movimento


andragógico, primeiramente, você conhecerá as diferenças entre a aprendizagem
direcionada e a aprendizagem facilitada. A primeira é centrada no professor,
contudo a segunda é centrada no aprendiz.

137
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Aquino (2007) expõe que a aprendizagem direcionada corresponde ao


método tradicional de ensino, ou seja, a participação dos alunos é restrita no que
tange à tomada de decisões, no conteúdo a ser aprendido, bem como na aplicação
dos conhecimentos transmitidos.

A prática da aprendizagem direcionada ainda é muito forte na atuação dos


professores, pois os colocam no lugar de detentores do conhecimento em relação
aos alunos, que muitas vezes, diante desta postura acabam inibidos, deixando de
participar do assunto que está sendo exposto.

Aquino (2007) coloca que na aprendizagem facilitada, o educador


considera as características, objetivos, expectativas e experiências pessoais de
cada membro do grupo de alunos.

O professor que busca fazer uma leitura da turma baseada nestes aspectos,
acaba influenciando no processo de aprendizagem do grupo. O profissional
que apresenta familiaridade com essa abordagem, ou seja, a que é centrada
no aprendiz, consegue aproximar-se do extremo andragógico do contínuo de
aprendizagem.

Aquino (2007) destaca quatro abordagens para a implantação de uma


aprendizagem facilitada:

a) Aprendizagem autodirecionada: em meados da década de 1970, Malcon


Knowles e Carl Rogers dão início a um movimento educativo, cujo professor
não estaria mais ocupando o lugar de detentor do conhecimento. Nesta nova
perspectiva, os alunos se tornariam mais envolvidos e capazes de autodirecionar
seu aprendizado. O autodirecionamento na aprendizagem é baseado na
filosofia humanista, cuja suposição fundamental é de que a educação deve
ter seu foco no desenvolvimento do indivíduo, ou seja, a aprendizagem
autodirecionada objetiva desenvolver o pensamento crítico e o crescimento do
indivíduo enquanto pessoa e cidadão.
b) Aprendizagem transformadora: surgiu na década de 1970, a partir das
pesquisas de Jack Mezirow da Universidade de Columbia. Esta aprendizagem
objetivava guiar os alunos para uma transformação pessoal e amadurecimento
intelectual, tornando-os pessoas completas, ou seja, provocando-os à reflexão
crítica sobre suposições, crenças e valores próprios. Neste modelo, os alunos são
constantemente incentivados a desafiar, defender e prestar explicações sobre
suas crenças, avaliando as evidências, justificando e julgando seus próprios
argumentos a fim de atingir o máximo do crescimento pessoal, independência
e pensamento crítico. A responsabilidade do educador nesta abordagem é
prestar auxílio aos alunos para que atinjam seus objetivos, para que ajam de
maneira autônoma e socialmente responsável.
c) Aprendizagem vivencial: nos anos 80, o professor David Kolb, da Case Western
University, propôs que a aprendizagem nos adultos seria mais significativa a partir
do momento que o objeto da aprendizagem fosse mais direta e profundamente
vivenciado do que simplesmente recebido de maneira passiva, ou seja, quando

138
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

o professor explica o aluno faz anotações. Partindo desta suposição, David Kolb
desenvolveu o que foi chamado de ‘ciclo de aprendizagem vivencial’, sendo que
este ciclo conta com quatro estágios de aprendizagem: a) experiência concreta:
o tema é apresentado ao aluno de forma que possa ser vivenciado, ou seja, a
partir do envolvimento direto com o material ao invés de simplesmente somar
conhecimento. b) observação reflexiva: estimular o pensamento crítico sobre a
experiência vivenciada. c) conceitualização abstrata: neste momento a experiência
é conectada a teoria e aos conceitos que a fundamentam. d) Experimentação
ativa: nesta fase, o aluno deverá ser capaz de aplicar o que foi aprendido a novos
desafios e situações enfrentados na vida real.
d) Pensamento complexo e a transdisciplinaridade: esta linha defende a posição
de que, no mundo contemporâneo, é imprescindível saber quando usar o
raciocínio cartesiano e o pensamento sistêmico. Aplicado à aprendizagem, este
processo é transdisciplinar, ou seja, é preciso conhecer o todo e criá-lo por meio
de uma estreita inter-relação das partes (vertente sistêmica), porém buscando
respeitar a ordem mais favorável de ocorrência delas (vertente cartesiana) de
acordo com as características pessoais.

Aquino (2007) exemplifica este modelo comparando-o a um programa


de graduação com um grande quebra-cabeça a ser montado, considerando que
as disciplinas e as atividades a serem realizadas são as peças de um jogo. Num
primeiro momento, as peças são apresentadas aos alunos, afim de que visualizem
e compreendam o processo como um todo e aonde deveriam chegar após
concluírem o programa.

FIGURA 68 – ANDRAGOGIA

FONTE: Disponível em: <http://saladosprofessores.ning.com/page/wiki-e-o-sistema-


de>. Acesso em: 24 ago. 2012.

139
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Tal ação representa duas vantagens: a primeira proporciona ao aluno uma


visão de futuro e o estimula a construir uma estratégia pessoal para atingir seu
objetivo, a segunda possibilita uma ideia do resultado final esperado, fazendo
com que o aluno possa avaliar e ter a certeza do seu real objetivo e caso não for,
ele terá tempo de mudar.

Após a apresentação e visualização dos alunos, sobre o que os aguarda


é a hora de “desmontar e espalhar” as peças deste quebra-cabeça. As peças são
as disciplinas, atividades e avaliações que deverão ser realizadas para montar o
quebra-cabeça novamente. Cada peça tem seu lugar correto e único, porém, cada
aluno terá liberdade de escolher a forma e o ritmo de montar o quadro final, de
acordo com suas aptidões e preferências.

Acadêmico(a)! Vários pensadores direcionaram seus estudos com a


intenção de tornar os conhecimentos e experiências dos adultos uma forma de
aprimorar a aprendizagem. Quer saber mais sobre isso? Prossiga em sua leitura!

6 ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO


HEUTAGÓGICO
Como já estudamos anteriormente, a andragogia é uma prática aplicada
a um grupo, enquanto isso, a heutagogia é o autocompromisso, ou seja, o
compromisso com a própria aprendizagem. A corrente heutagógica apresenta
uma proposta para a autoaprendizagem direcionada, que vai além do aprender
sozinho, ou seja, a metodologia heutagógica propõe flexibilidade ao modo como
cada pessoa aprende. Para uma autoaprendizagem eficaz, faz-se necessário
utilizar recursos diversos a fim de alcançar um determinado objetivo.

Bellan (2008) propõe que deva ser feito um trabalho personalizado de


processo de ensino-aprendizagem, respeitando o estilo individual da aquisição
de conhecimento e; e para tanto, sugere que seja definida uma estratégia, levando
em consideração o perfil do aprendiz. Diante disso, a autora enfatiza a teoria das
inteligências múltiplas.

O psicólogo Howrad Gardner, da Universidade de Harvard nos


Estados Unidos, baseou-se em pesquisas sobre o desenvolvimento cognitivo
e neuropsicologia para formular sua teoria. De acordo com Gama (1998), as
pesquisas sugeriam que as habilidades cognitivas são bem mais diferenciadas e
específicas do que se acreditava, pois conforme documentando por neurologistas,
o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito único, nem tão pouco
é infinitamente plástico.

Gama (1998) coloca que Gardner questionava a tradicional visão de


inteligência, pois enfatizava as habilidades linguísticas e lógico-matemáticas.
Ainda de acordo com a autora, para Gardner todos os indivíduos normais têm

140
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

capacidade de atuar em sete diferentes inteligências e, até certo ponto áreas


intelectuais, definindo inteligência como a habilidade de resolver problemas ou
criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais.

A identificação dessas áreas originou a Teoria das Inteligências Múltiplas


definidas por Gardner, sendo elas: inteligência linguística, musical, lógico-
matemática, espacial, cinestésica, interpessoal e intrapessoal.

UNI

Prezado(a) acadêmico(a)! Caso você queira se aprofundar na teoria de Gardner,


retome este assunto consultando o Caderno de Psicologia da Educação e Aprendizagem.

Bellan (2008) propõe uma série de atividades destinadas a cada


inteligência, com o objetivo de personalizar um modo de estudo que beneficie a
aprendizagem, vamos a eles:

• Inteligência Cinestésica: interprete as ideias propostas relacionando-as com


um gesto, monte um painel colocando imagens referentes ao tema, modifique
o modo de enxergar o problema apresentando.
• Inteligência Espacial: estude construindo um fluxograma, coloque num
diagrama a ideia apresentada, faça um desenho da estrutura do pensamento,
exponha a matéria através de imagens.
• Inteligência Interpessoal: crie um grupo de estudos, proponha um debate sobre
as ideias apresentadas, faça um jogo sobre o conteúdo, troque mensagens com
os colegas que dominam o assunto estudado.
• Inteligência Intrapessoal: leia silenciosamente o conteúdo grifando as palavras
e expressões principais, reflita sobre o tópico selecionado, pesquise livros e
textos sobre o assunto, liste o que aprendeu e descreva sua praticidade.
• Inteligência linguística: elabore textos para um mural, fale sobre o assunto
estudado com colegas, escreva um poema sobre o assunto, faça uma atividade
com perguntas e respostas.
• Inteligência lógico-matemática: elabore uma tabela comparativa entre os
conceitos elaborados, construa uma lógica para a nova teoria aprendida,
sequencie ou padronize todos os aspectos encontrados no conteúdo, apresente
ao grupo as questões que entende que precisam de nova análise e diga por quê.
• Inteligência musical: faça uma música com o conteúdo apresentado, determine
códigos para os tópicos principais da matéria, escolha uma palavra chave do
texto e relacione seu som com uma palavra já conhecida, procure poemas e
músicas que se relacionem com o assunto.

141
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

As atividades aqui sugeridas podem ser aplicadas em várias ocasiões,


potencializando seus momentos de estudo.

Então, acadêmico(a), você lembra que ao iniciar a leitura do Tópico 2, nós


o desafiamos a descobrir qual estilo de aprendizagem você estaria colocando em
prática? Ao final do Tópico 3, a heutagogia fez parte deste momento de dedicação.

LEITURA COMPLEMENTAR

OS HIPERESPAÇOS PARA A EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E


INFORMAL

Teresa Küffer

INTRODUÇÃO

Traditional ways of organizing education need to be reinforced by innovative


methods, if the fundamental right of all people to learning is to be realized.
John Daniel (Diretor Geral Assistente para a Educação) Unesco, 2002

Os espaços de aprendizagem ampliaram-se com o aparecimento da WWW,


especialmente da Web  2.0. Esta mudança trouxe alterações tanto nos espaços
de educação formal como na educação não formal e na educação informal.
Entende-se por educação formal todas as práticas pedagógicas levadas a cabo por
instituições escolares e acadêmicas, com uma estrutura hierárquica e organizado
cronologicamente. A educação informal é o conjunto de todas as aprendizagens
adquiridas e desenvolvidas nos contextos pessoais e sociais, fora das instituições
e sem seguir objetivos educativos. Por seu lado a educação não formal tem
objetivos de aprendizagem, mas acontece fora das instituições formais, não tem
uma hierarquia rígida, nem uma estrutura cronológica estática.

No contexto da educação formal, as escolas e a sala de aula deixaram de


estar circunscritas ao espaço físico e às limitações presenciais. Já não é necessário
que professores e alunos partilhem o mesmo espaço à mesma hora para que o
diálogo educativo aconteça. Este espaço físico continua a existir, mas existe uma
extensão, um hiperespaço virtual que cria novos ambientes, relações e dinâmicas
de aprendizagem. Este novo hiperespaço educativo, no âmbito da educação
formal, exige novos métodos e novas competências aos professores e uma nova
organização curricular.

Contextos de Aprendizagem

Nos contextos informais e não formais novas possibilidades de


aprendizagem emergem constantemente. As comunidades on-line, centradas em
interesses e partilha de conhecimentos, recursos e aprendizagens comuns adquiriu

142
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

uma importância crescente nos últimos anos. Cada vez mais, os ambientes
pessoais de aprendizagem e os portfólios individuais ganham reconhecimento
acadêmico e institucional. A aprendizagem ao longo da vida ganha novo espaço
e reconhecimento.

O virtual e os espaços de aprendizagem. Qual é a nova realidade?

Atualmente, os avanços tecnológicos em todas as áreas da sociedade,


tendem a aumentar, uma vez que a existência de uma rede de informação
e conhecimento composta por uma imensa capacidade de transformação e
multiplicação, interfere diretamente no nosso quotidiano, chegando às redes
virtuais e levando à expansão da informação e do conhecimento, eliminando
barreiras geográficas e diminuindo as distâncias.

A internet trouxe o termo virtual. Podemos encontrá-lo em diversas áreas


da sociedade atual (comércio, biblioteca, bancos etc.). A virtualização é um fator
que dá lugar a novas realidades particulares, não se opõe ao real. Em termos de
ensino, permite uma maior liberdade, concretizando-se no espaço, deixando de
ter um lugar físico exato. Lévy, descreveu o virtual, dando o exemplo de uma
empresa com departamentos diferenciados da matriz habitual da seguinte forma:

A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da


atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma
‘elevação à potência’ da entidade considerada. A virtualização não é
uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto
de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento
do centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em vez
de se definir principalmente por sua atualidade (‘uma solução’), a
entidade passa a encontrar sua consistência essencial num corpo
problemático. (LÉVY, 1996, p. 17).

Tradicionalmente, espaço de aprendizagem referia-se à sala de aula,


laboratório, pavilhão, biblioteca, ou seja, o espaço físico, mas com o virtual
passamos a ter um espaço virtual de aprendizagem, indo este conceito além dos
limites de tempo e de espaço, passando a uma aprendizagem baseada numa
sociedade em rede, através da utilização criativa das novas tecnologias e da
informação.

Definindo concretamente o que é o espaço virtual de aprendizagem,


podemos dizer que se trata de um espaço sem local geográfico específico, onde o
processo de ensino-aprendizagem decorre, seja nos contextos formais, informais
ou não formais. As plataformas da Web 2.0, em regra geral, promovem interação e
comunicação (síncrona e assincrônica), apoiada na rede utilizadores (nos espaços
de aprendizagem formal e informal) ou por pessoal especializado, como docentes
(nos espaços de aprendizagem formal).

O espaço virtual trouxe uma nova realidade ao ensino aprendizagem,


mas como não foi inicialmente construído para ser utilizado exclusivamente

143
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

na educação, teve de ser transformado e adaptado em novas possibilidades


pedagógicas para se poder utilizar no contexto educativo. Alguns exemplos da
sua aplicação:

● Apresentações de textos, diagramas, gráficos e imagens para aprendizagem.


● Pesquisa e recolha de dados e informações.
● Comunicação com outros alunos e docentes.
● Colaboração em projetos de aprendizagem.
● Apresentação e recepção de conteúdos do aluno através da multimídia.
● Apresentação informática dos resultados da aprendizagem.
● Aprendizagem usando simulações.
● Aprendizagem mediante inclusão em espaços virtuais.

Assistimos a uma nova realidade na educação, onde cada espaço tem


características únicas, podendo ser utilizadas de forma conjunta ou isolada no
contexto educacional, aumentando de forma exponencial as capacidades do
ensino aprendizagem.

Novas formas de aprender e ensinar surgiram com a inovação tecnológica


e o paradigma virtual. Presentemente podemos ter vários tipos de aprendizagem,
nomeadamente por  exposição  (seja no ensino real ou virtual),  autônoma  (aluno
como centro de decisão), exploração (alunos escolhem o caminho a seguir).

Todas estas alterações do  status quo  vigente, em termos de paradigma


educacional estão a suceder à mesma velocidade que os avanços tecnológicos,
sendo notória a necessidade de se adaptar rapidamente à estrutura de ensino, que
se baseie na autonomia e flexibilidade do aluno. Tendo estes fatores em mente,
constroem-se e construíram-se plataformas virtuais que permitem a colaboração
e a interação entre os intervenientes no processo educativo que o favorecem,
esbatendo barreiras espaciotemporais. Os ambientes virtuais de aprendizagem
facilitam a transição para um novo sistema de educação, destacando-se as
plataformas destinadas à educação  e-learning. Estarão os professores prontos
para o mundo virtual e aquilo que ele tem que oferecer à educação?

Os hiperespaços atuais

Presentemente existe um número imenso de páginas, portais, aplicações


e ferramentas  on-line que permitem aos professores, alunos e autodidatas
explorar as suas potencialidades. Falamos de blogues, wikis, podcasts e portfólios,
comunicação pela internet (Skype, VoIP), social networking (Facebook,  Twitter),
social bookmarking (Delicious, Digg), mundos virtuais 3D (Second Life), partilha de
imagens (Flickr), partilha de vídeos (YouTube), fóruns, e-Books, chat (Gtalk, MSN),
jogos on-line, mashups, mobile learning, RSS feeds, sites (Google sites), apresentações
(Prezi, Slideshare), ferramentas de colaboração (Google Docs, Yahoo Groups), entre
outros tantos mais.

144
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

Potencialidades e desafios

A questão é conhecer as potencialidades e desafios que todas estas aplicações


e ferramentas podem trazer para o contexto educativo. Siemens & Tittenberger
(2009), Mason & Rennie (2008), Carvalho (2008), Marygrace (2008), bem como outros
estudiosos preocupam-se com esta temática referindo caraterísticas e possibilidades
de uso destas ferramentas na educação.

As vantagens do uso de ferramentas  Web  2.0 são o fácil acesso, custo


reduzido, acesso permanente e em qualquer lado, variedade de escolha, inúmeras
fontes de informação a recorrer. Por outro lado, as desvantagens mais referidas
são o fluxo de informação demasiado acelerado, qualidade da informação passada
por vezes dúbia, lacuna de tutoriais/formação das ferramentas.

Uma ferramenta e estratégia já bastante disseminada entre professores,


formadores, empresas, indivíduos é o blogue (SIEMENS, 2002). Nos últimos anos
registou-se um aumento exponencial de blogues (Blogger, Wordpress, Edublogs) em
praticamente todos os campos de estudo. O facto desta ferramenta ser bastante
utilizada, em todas as vertentes educativas (formal, não formal e informal)
prende-se com diversos motivos, mas sobretudo, segundo Siemens (2002), por
reunir os meios corretos de fácil uso. No contexto da educação formal, os motivos
prendem-se normalmente com o fato destes permitirem a partilha de forma rápida
e permanente dos conteúdos com alunos, pais, comunidade em geral; facilitarem
a discussão  on-line  e a colaboração entre alunos, professores e comunidade
educativa, estenderem o espaço da sala de aula, ocasionarem a participação ativa
dos alunos, consentirem o hipertexto e o uso de diversos média (vídeos, imagens,
áudio...), possibilitarem propostas conjuntas, entre outros.

Ao professor recai a responsabilidade de dominar estas ferramentas


abertas, flexíveis e interativas, recorrendo a abordagem multidisciplinares que
o preparem para o futuro (COUTINHO & BOTTENTUIT JUNIOR, 2007). A
formação para o domínio e implementação de estratégias eficazes é um tremendo
desafio, numa rede que está constantemente em mutação. Estar a par e passo com
o que se passa no virtual requer um enorme esforço por parte do educador a nível
de tempo profissional e pessoal.

Papel do docente e das instituições de ensino formal

Vive-se um tempo de grande prosperidade no que se refere às


tecnologias, nomeadamente na utilização de hiperespaços na aprendizagem.
Progressivamente, a escola tem vindo a incorporar a utilização de hiperespaços
tanto na sua atividade diária como na utilização dos mesmos na prática letiva.

Os hiperespaços constituem uma linguagem e um instrumento de trabalho


essencial do mundo de hoje. Cada vez mais desempenham um papel importante
na educação constituindo um meio privilegiado de acesso à informação na medida

145
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

que são instrumentos fundamentais para pensar, criar, comunicar e intervir sobre
numerosas situações fomentando aprendizagem formal, informal e não formal.
São ferramentas de grande proveito para o trabalho colaborativo e representam
um suporte do desenvolvimento humano nas dimensões pessoal, social, cultural,
lúdica, cívica e profissional. Neste sentido, o professor deve proporcionar uma
nova forma de ensinar, mais motivadora e desafiante (SILVA & MARTINS, 2000).
O professor passará a desempenhar o seu papel de forma facetada, desenvolvendo
competências 2.0. Segundo Auilo (2009, apud WITHAM, s/d.), a relação professor/
aluno deve ser cultivada a cada dia, pois um depende do outro e assim os dois
crescem e caminham juntos. É nessa relação madura que o professor deve ensinar
que a aprendizagem não ocorre somente em sala de aula, mas a todo momento.

Aprendizagem centrada no aluno

Segundo Siemens (2005), a aprendizagem deve ser centrada no aluno


criando novas metodologias de ensino adaptadas às novas realidades de
desenvolvimento tecnológico e a sociedade organizada em rede. Segundo a
Fundação MacArthur (2011), os jovens passam grande parte do seu tempo em
volta dos média. Estudando como eles usam esses média, poderemos como
educadores saber como incentivá-los a usar essas capacidades para adquirir
conhecimentos que são esperados deles no ensino formal, nomeadamente em
nível de criatividade, civismo e socialização, conhecimento esse que deverá ser
igualmente usado na sua vida futura (Jenkins em The 21st Century Learner).

Educação formal

Como o próprio nome indica, é o tipo de educação que podemos encontrar


no ensino escolar institucionalizado e estruturado. A plataforma Moodle e os sites
das escolas/universidades, representam a educação formal.

O Moodle é um exemplo deste tipo de educação aplicada no hiperespaço.


Significa “Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment” e é
um software livre que serve como apoio à aprendizagem. A sua principal utilização
dá-se no contexto de e-learning ou b-learning, pois através deles consegue-se
promover a criação de comunidades de aprendizagem.

Educação não formal

Baseia-se num sistema sem necessidade de burocracia hierárquica em


termos de progressão, podendo no seu final atribuir ou não, certificados.

Exemplos desta educação são os diversos tutoriais disponíveis on-line, tal


como todo o tipo de formação e-learning disponibilizada pelas empresas das mais
variadas áreas do conhecimento.

146
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

Considerações finais

Segundo Pinto (2005), “No futuro, devido ao ritmo e dinâmica dos processos


sociais, a formação dos indivíduos tem de se assumir como processos de construção, cuja
prossecução ultrapassa, necessariamente, os limites dos sistemas formais de ensino.” Neste
sentido estamos perante uma nova era educacional onde predominam a utilização
de novos espaços de aprendizagem colaborativa e interativa. As mudanças
educacionais desenham um novo modelo pedagógico centrado na autonomia,
na flexibilidade e no aluno através dos hiperespaços de aprendizagem, sendo o
aluno o sujeito ativo e construtivo de seu próprio conhecimento.

Os hiperespaços para a educação formal, não formal e informal abrem


novas possibilidades na aprendizagem ao longo da vida, mas ao mesmo
tempo, apresentam desafios. Os contextos de educação formal devem ser mais
flexíveis, de forma a acompanhar as novas mudanças vividas nos contextos
educacionais. Segundo Siemens, “E-learning and flexible learning are closely linked.
Essentially, e-learning is the realization of the theoritial/conceptual components of flexible
learning”. Para este novo paradigma de aprendizagem é importante proporcionar
formação que envolvam experiências pedagógicas diferenciadas de acordo com
a formação inicial de cada educador. Não basta criar ferramentas com inúmeras
vantagens na educação formal se não existir o suporte necessário para que o
educador as utilize em sala de aula e para que desenvolvam as competências
necessárias para a vivência plena da cidadania do século XXI.

Por outro lado, as competências adquiridas ao longo da vida, fora dos


contextos formais, necessitam de um reconhecimento acadêmico e social. O
mercado de trabalho e a sociedade em geral devem valorizar e reconhecer
trabalhadores bem formados e capazes de competir num mercado de trabalho
cada vez mais exigente, tornando o tecido empresarial bem formado e com a
possibilidade de melhorar os níveis de qualidade de vida, esbatendo as diferenças
sociais, rumo a uma sociedade mais justa, tendo como centro de mudança a
educação e os hiperespaços que a nova realidade virtual permite.

147
UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Referências

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DGIDC, Ed.). Disponível em: <http://www.crie.min-edu.pt/publico/web20/
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Futuros Professores e as Ferramentas Web 2.0. SIE’2007 no Repositório da
Universidade do Minho. Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/
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Educar. Disponível em: <http://animarparaeducar.blogspot.com/2007/03/
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Klingensmith, K. (5 de 5 de 2009). PLN: Your Personal Learning Network Made


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08 do 12 de 2011 em
Disponível em: <http://www.youtube.com/

148
TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

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em: 8 dez. 2011.
Fonte: Disponível em: <http://www.sophia.org/tutorials/os-hiperespacos-para-a-educacao-
formal-nao-formal>. Acesso em: 17 maio 2014.

149
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você estudou:

• O surgimento da escola integral no Brasil e conheceu o trabalho do seu


principal mentor Anísio Teixeira, bem como seu trabalho e princípios, em prol
da formação de um ser humano completo.

• A educação holística busca trabalhar o ser humano em sua totalidade sem


reduzi-lo a soma das suas partes, ou seja, sem a fragmentação da vida e
centralizada nas relações.

• A corrente holística aplicada à educação une o ensino e a aprendizagem as


vivências da criança sem desmerecer o ambiente que a cerca.

• O psicólogo americano Carl Rogers é um nome de referência no estudo do


humanismo; para ele o professor ocupa um papel de facilitador em relação ao
aprendizado; e ao aluno cabe a condução de como aprende.

• A metodologia andragógica preza que o adulto deva ser conduzido no seu


processo de aquisição de conhecimento através uso da aprendizagem facilitada.

• A heutagogia proporciona que o estudante personalize seu ensino e


aprendizagem, respeitando o modo individual de organização para a aquisição
do conhecimento.

150
AUTOATIVIDADE

Agora, acadêmico(a), que você concluiu os estudos referentes a este tópico,


responda às questões a seguir:

1 A educação holística pressupõe que a Revolução Industrial serviu de


estímulo à padronização, o que contribuiu para a fragmentação da vida. Cite
em quais âmbitos da vida os reflexos da fragmentação foram sentidos.

2 Em que o currículo da escola holística se diferencia dos demais?

151
152
UNIDADE 3

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM
AMBIENTES NÃO ESCOLARES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• identificar possibilidades de atuação do pedagogo nos ambientes não for-


mais;

• conhecer o conceito e o trabalho do pedagogo relacionado à pedagogia


social e às políticas públicas;

• identificar as principais ações relacionadas à pedagogia hospitalar;

• desmistificar aspectos relevantes à educação carcerária.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, em cada um deles, você en-
contrará atividades que o(a) ajudarão a internalizar os conhecimentos estu-
dados.

TÓPICO 1 – A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS


POLÍTICAS PÚBLICAS

TÓPICO 2 – PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE


DE FRAGILIDADE

TÓPICO 3 – PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

TÓPICO 4 – EDUCAÇÃO CARCERÁRIA

153
154
UNIDADE 3
TÓPICO 1

A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL


DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS
PÚBLICAS

1 INTRODUÇÃO

Caro(a) acadêmico(a)! Este tópico possibilitará que você tenha um


conhecimento mais amplo sobre a pedagogia social, uma área de atuação pouco
explorada, porém muito solicitada e de grande importância diante das várias questões
que afligem nosso cotidiano, como a violência e a perda dos valores familiares.

Você também verá que o papel do pedagogo nas equipes de trabalho como
programas sociais de instituições públicas ou privadas, vem se tornando cada vez
mais requisitado, principalmente pelo olhar diferenciado que este profissional
abarca. Como pode ver, prezado(a) pedagogo(a), é grande a nossa missão.

2 UM PANORAMA SOBRE HISTÓRIA E ATUALIDADE DA


PEDAGOGIA SOCIAL
Seria importante que se compreendesse a construção histórica da
pedagogia social mediante a conceitualização, os conflitos e as intervenções
socioeducativas, que nos mostram porque refletem nas perspectivas atuais.

A pedagogia social iniciou conforme Moura (2011) com um encontro


internacional, realizado na Alemanha, para discussão “dos problemas da instrução
de crianças e adolescentes inadaptados”, organizada pela Seção Cultural do Alto
Comissariado da República Francesa, na cidade de Spire, de 9 a 15 de abril de
1949. O objetivo era discutir os rumos da educação das crianças órfãs do período
pós-guerra. Outros dois encontros foram realizados, em 1950, na cidade de Bad
Durckheim e no ano de 1951, na cidade de Freiburg-in-Breisgau. O empenho
da Associação Francesa dos Educadores de Jovens Inadaptados empolgou os
participantes estrangeiros nas reuniões realizadas na Alemanha, motivando-os a
fundarem em seu próprio país uma associação semelhante.

Em 1951, durante a quarta conferência realizada em 19 de março de 1951,


foi fundada oficialmente na cidade de Scluchsee, na Alemanha, a Associação
Internacional de Educadores de Jovens Inadaptados. Atualmente, este órgão
responde pelo nome de Asociación Internacional de Educadores Sociales (AIEJI),
com sede no Uruguai.

155
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Muitos outros encontros foram realizados, com o intuito de fortificar


as discussões, traçar demandas, configurar o campo de atuação, bem como,
estabelecer o perfil deste profissional. Acompanhe a seguir, caro(a) acadêmico(a),
os encontros que permearam esta longa caminhada na solidificação desta
modalidade de atuação do pedagogo, conforme Moura (2011):

• I Congresso Internacional da AIEJI – Amersfoort (Holanda, 1952).


• II Congresso Internacional da AIEJI – Bruxelas (Bélgica, 1954).
• III Congresso Internacional da AIEJI – (França, 1956).
• IV Congresso Internacional da AIEJI – Lauzane (Suíça, 1958).
• V Congresso Internacional da AIEJI – Roma (Itália, 1960).
• VI Congresso Internacional da AIEJI – Freiburg-im-Breisgau
(Alemanha, 1963).
• VII Congresso Internacional da AIEJI – Versalhes (França, 1970).
• VIII Congresso Internacional da AIEJI – Genebra (Suíça, 1974).
• IX Congresso Internacional da AIEJI – Montreal (Canadá, 1978).
• X Congresso Internacional da AIEJI – Copenhague (Dinamarca, 1982).
• XI Congresso Internacional da AIEJI – Jerusalém (Israel, 1986).
• XII Congresso Internacional da AIEJI – New York (EUA, 1990).
Promulgada a Declaração de New York.
• XIII Congresso Internacional da AIEJI – Postdan (Alemanha, 1994).
• XIV Congresso Internacional da AIEJI – Brescia (Itália, 1997).
• XV Congresso Internacional da AIEJI – Barcelona (Espanha, 2001).
Promulgada a Declaração de Barcelona.
• XVI Congresso Internacional da AIEJI – Montevidéu (Uruguai, 2005)
Promulgada a Declaração de Montevidéu.
• XVII Congresso Internacional da AIEJI – Copenhague (Dinamarca,
2009).

Perceba como este movimento tomou força com o passar dos anos
e manteve-se com encontros periódicos, objetivando discutir as demandas
pertinentes de cada momento. Atualmente, a Alemanha é reconhecida como
a pátria-mãe da Pedagogia Social, sendo que países como a Áustria, Espanha,
Finlândia, França, Luxemburgo, Grécia, Portugal, Noruega, Rússia, Suécia, Suíça
e Ucrânia, possuem modelos particulares de atuação.

Moura (2011) reforça que na América do Sul, o país referência em


Pedagogia Social é o Uruguai, onde está sediada a Asociación Mundial de
Educadores Sociales. No Brasil, a única referência nesta categoria é a Associação
de Pedagogia Social de Base Antroposófica, fundada em 2001, tendo por base os
preceitos de Rudolf Steiner.

156
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 69 – RUDOLF STEINER

FONTE: Disponível em: <http://vaccineliberationarmy. com/2010/08


/14/rudolf-steiner-quotes-innoculations-against-the-inclination-to-
entertain-spiritual-ideas/>. Acesso em: 16 ago. 2013.

E
IMPORTANT

Paulo Freire é considerado o grande inspirador da Pedagogia Social no Brasil,


principalmente pela grande importância de suas obras, “ainda que ele nunca tenha usado
exatamente este termo em seus escritos”. (MOURA, p. 29, 2011).

Em 1999, nomes como Geraldo Caliman, Antônio Carlos Gomes da Costa


e Maria Stela Santos Graciani foram expressivos na construção da pedagogia
social no Brasil. Estes autores fizeram-se presentes no I Congresso Internacional
de Pedagogia Social, “confrontando a experiência brasileira com a experiência
germânica, defendida por Hans-Uwe Otto, diretor de um dos grandes centros de
formação em Pedagogia Social na Alemanha”. (MOURA, p. 30, 2011).

Diante do exposto o congresso brasileiro trouxe que:

[...] Educação Indígena, Educação em Saúde, Educação em Cidadania


e Direitos Humanos, Educação Ambiental, Educação no Campo,
Educação Rural, Educação em Valores, Educação para a Paz,
Educação para o Trabalho, Educação Política, Educação de Trânsito,
Educação Hospitalar e Educação Alimentar eram percebidas por seu
protagonista e por seus pesquisadores como práticas de Pedagogia
Social. (MOURA, 2011, p. 30).

157
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Diferentemente dos países europeus, o Brasil apresenta um cenário


diversificado, com realidades frágeis que necessitam de atenção contínua.

2.1 A PEDAGOGIA SOCIAL NA ALEMANHA


Como vimos anteriormente, a Alemanha é considerada o país referência
em pedagogia social, Machado (2008) apud Fermoso (1994) coloca que o conceito
de “Pedagogia Social” foi usado pela primeira vez pelo pedagogo alemão
Deisterweg, na obra “Bibliografia para Formação dos Mestres Alemães”.

Para Machado (2008) apud Quintana, (1997) a primeira obra que menciona
literalmente a pedagogia social é publicada em 1898, escrita pelo filósofo
Paul Natorp, intitulada a “Pedagogia Social: teoria da educação e da vontade
sobre a base da comunidade”. Nesta obra, Paul Natorp defende como um dos
conceitos básicos, a comunidade, mostrando-se contra o individualismo, sendo
assim considerado origem e causa dos conflitos sociopolíticos da Alemanha, por
acreditar, que a educação vincula-se à comunidade e não aos indivíduos. O autor
procura elaborar uma teoria sobre educação social, concebendo a pedagogia
social como saber prático além de um saber teórico. Machado (2008) enfatiza
que “Natorp é o criador de uma tendência, a da Pedagogia Sociológica, parte da
Pedagogia Social, uma ciência com múltiplas concepções”.

O surgimento da PEDAGOGIA SOCIAL na Alemanha torna este país o


mais importante nesta linha de trabalho em educação. Vem ao encontro disso
o crescimento e a consolidação das Ciências Sociais, com a racionalização e a
análise objetiva da vida social.

Machado (2008) reforça que isto:


Reflete também os efeitos da Revolução Industrial e Francesa, com o
reconhecimento dos movimentos populares que reivindicam liberdade
e direitos humanos. A crise econômico-industrial da Alemanha,
acentuada no final do século XIX, leva a Pedagogia a atender à
necessidade de intervenção socioeducacional. A partir desse período,
pressionados pela realidade, educadores avançam na conceituação da
pedagogia social ao mesmo tempo em que ampliam as ações práticas.

Este aspecto também é comentado por Fichtner (2011, p. 34) ao destacar que:
Numa perspectiva histórica, encontramos na Idade Média e início
da modernidade uma preocupação social mais relacionada com
atividades beneficentes, filantrópicas e altruístas, orientadas
fundamentalmente para as camadas mais pobres da sociedade. Com
o processo de industrialização da sociedade, se produz um corte
abrupto na Alemanha do século XIX, originando para a pedagogia
e o Trabalho Social diferentes raízes históricas, enunciando, dentre
outros: a) Sistema de proteção de caráter assistencial; b) Educação
Infantil com a implantação de creches e jardins de infância baseadas

158
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

na concepção de Froebel; c) Movimento denominado Pedagogia da


Reforma, ocorrido no final do Século XIX e início do século XX, com
uma nova perspectiva para a Educação e proteção dos jovens.

Observe, acadêmico(a), que o olhar da pedagogia social não estava


apenas direcionado à educação e à proteção dos jovens, tal estendeu-se a:
atendimentos relacionados à infância, grupos marginalizados, terceira idade e
a educação permanente.

FIGURA 70 – ATENDIMENTO À TERCEIRA IDADE

FONTE: Disponível em: <http://tvufg.org.br/fazoque/?p=321>. Acesso em:


16 ago. 2013.

A pedagogia social alemã pode ser associada ao trabalho social, outra


modalidade de assistência no país, caracterizada por uma área complexa
relacionada com a reprodução da sociedade como um todo, ou seja, não se limita
apenas à educação escolar, mas às diversas demandas sociais.

Diante disto, Fichtner (2011, p. 33) aponta que a pedagogia social e o


trabalho social na Alemanha estendem-se:
1. Ao sistema de ajuda nacional cuja base jurídica se constitui a partir
das leis de Ajuda Social Nacional;
2. À área psicoterapêutica que faz parte do Sistema de Saúde;
3. Aos sistemas penitenciários e de Justiça (aqui a Pedagogia Social
colabora com o equivalente à FEBEM brasileira);
4. Às áreas que se ocupam na educação Especial, Criminalidade,
Dependência de Drogas etc.;
5. À área pertencente à Educação, na qual os pedagogos sociais
trabalham fundamentalmente na ajuda às crianças não como
professores, mas um equivalente ao psicopedagogo;
6. A outras áreas de atuação do profissional da Pedagogia
Social e Trabalho Social existentes também, tais como a ajuda ao
desenvolvimento de associações de grupos de terceira idade, Ecologia,
Cultura, etc.

159
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Como anteriormente mencionado, a pedagogia social e o trabalho social


parecem sinônimos, porém dada a sua complexidade e por estes profissionais
atuares em setores semelhantes, podemos diferenciá-los pelo seguinte: o
trabalhador social direciona seu compromisso em ajudar a cuidar, sendo que o
pedagogo social atua mediante a perspectiva pedagógica, educativa.

Considerando que os trabalhos desenvolvidos por estas áreas passaram


por diversas etapas históricas, sendo o pós guerra, a industrialização e a
globalização, Fichtner (2011) aponta que estas mesmas etapas impulsionaram e
determinaram formas de desenvolvimento específicos para a pedagogia social e
trabalho social, tendo estas dimensões teóricas:

• O cotidiano e as condições de vida.


• O desenvolvimento das organizações da pedagogia social e do trabalho social,
bem como dos seus fundamentos jurídicos.
• A história da profissão.
• A história e a construção das disciplinas científicas da pedagogia social e do
trabalho social;
• A construção e definição das diferentes áreas de atuação.

Tendo por base as dimensões teóricas destacadas acima, que possibilitam


nortear os trabalhos desenvolvidos, o autor acima citado, coloca como áreas de
atuação do pedagogo social e do trabalhador social:

• Apoio e atendimento a crianças e adolescentes dentro e fora da escola.


• Apoio e atendimento no sistema de saúde.
• Apoio e atendimento à família.
• Apoio e atendimento para habitação, moradia e comunidade.
• Apoio e atendimento nos locais de trabalho.
• Apoio e atendimento para o desenvolvimento da expressão cultural, ecológica
e relações comunitárias.

160
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 71 – ATENDIMENTO À FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://naahsrecife2011.blogspot.com.br/p/


atendimento.html>. Acesso em: 16 ago. 2013.

Caro(a) acadêmico(a)! Perceba que a pedagogia social tomou grandes


proporções no que tange às áreas de atuação deste profissional, por meio de
um sistema profissional qualificado. O objetivo desta forma de atendimento
não é paternalizar ou assistenciar os indivíduos atendidos, mas proporcionar
capacitação às organizações, instituições e à sociedade como sujeitos.

2.2 IDENTIDADE E PERSONALIDADE DA PEDAGOGIA SOCIAL


Anteriormente, acadêmico(a), vimos como a pedagogia social nasceu
e quais foram seus rumos no país de origem: Alemanha. Agora, passaremos a
estudar o que a caracteriza e como esta ramificação da pedagogia se constitui.

Caliman (2011) salienta que a pedagogia social está ligada a objetivos,


objetos de pesquisa, finalidade e métodos característicos, não confundíveis com
os outros campos da ciência social e pedagógica, porém, três fatores a tornam
única: a) construção de identidades e limites; b) diferenciação entre a dimensão
formal e não formal; c) distinção entre a pedagogia social e pedagogia escolar.

A pedagogia social tem como campo de atuação instituições não formais


e é uma área recente. Ela visa ao atendimento de crianças, adolescentes e adultos
que vivem em condições de fragilidade social e objetiva agir na prevenção e
recuperação das deficiências sociais, desenvolvendo seus trabalhos in loco, ou
seja, intervindo diretamente no ambiente.

161
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

FIGURA 72 – ATENDIMENTO A ADOLESCENTES

FONTE: Disponível em: <http://www.maisplics.com.br/ajude/fenix/>. Acesso em 16


ago. 2013.

Conforme Caliman (2011) p. 47):

[...] existem alguns âmbitos de atuação que atualmente correspondem


a tais critérios: a Educação de adultos; a Educação de adolescentes
em situação de risco; a recuperação reinserção social de sujeitos
toxicodependentes; a orientação escolar de alunos atingidos por fortes
condicionamentos sociais (pobreza, exclusão social, desagregação
familiar); a ação educativa dentro dos ambientes familiares; a
influência dos meios de comunicação social e das associações e grupos
juvenis (grupos de pares, gangues etc.).

Percebemos que a pedagogia social vai criando uma identidade própria


e assim, solidificando seu ser e fazer. Diante do que caracteriza o ser, Ryynanem
(2001) esclarece que a pedagogia social é a educação que visa provocar e fortalecer
os processos de autoconhecimento, de autoeducação, de conscientização e
transformação, na vida do indivíduo, nos grupos em que este faz parte, bem
como frente à comunidade em que está inserido.

Assim, os interesses da pedagogia social estão voltados à educação e


à participação social, que buscam o entendimento do indivíduo a partir do
conhecimento e desenvolvimento da personalidade (singular) deste e do mundo
que o cerca (coletivo).

No que tange ao fazer, Caliman (2011) coloca como finalidade da pedagogia


social a pesquisa e a promoção de condições de bem-estar social, de convivência,
de exercício de cidadania, de promoção social e desenvolvimento, de superação, de
condições, de sofrimento e marginalidade direcionando seus trabalhos à construção,
aplicação e avaliação de metodologias de prevenção e recuperação.

162
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Para isso, o pedagogo social precisa de um entendimento amplo de como


as relações sociais interferem neste processo e, além disso, de como o indivíduo
age e reage frente às influências dos grupos nos quais convive.

É preciso salientar o que Ryynanen (2011, p. 51) tem a nos colocar sobre
esta ação do indivíduo no ambiente, no qual este “é ator ativo, sujeito que
cria e recria a realidade social na convivência com ela”, influenciando e sendo
influenciado pelo meio.

Para um melhor entendimento do trabalho sociopedagógico, dois


conceitos precisam estar claros para o pedagogo que decide atuar neste campo,
são eles, autoestima e cidadania.

Autoestima não se refere somente aos cuidados que o indivíduo tem em


relação ao seu corpo, saúde e bem-estar, mas conforme Ryynanen (2011) p. 51,
“autoestima se refere, no sentido sociopedagógico, ao crescimento do indivíduo
na sua singularidade para que seja o protagonista de sua vida; à sua capacidade
de agir com outros indivíduos e de participar da sociedade de uma maneira igual
e com direitos plenos”.

Trabalhar a autoestima do indivíduo é provocá-lo a sair da zona de


conforto e buscar desenvolver nele a autenticidade e a liberdade, fornecendo os
instrumentos necessários para a construção ou reconstrução de sua singularidade,
sustentando suas diferenças e respeitando as diferenças dos outros.

Em contrapartida, cidadania refere-se à “maturidade social do indivíduo; à


postura consciente e crítica [...] ao conhecimento dos direitos e deveres, quanto ao
crescimento para uma melhor convivência coletiva”. (Ryynanen (2011) p. 51).

FIGURA 73 – CIDADANIA

FONTE: Disponível em: <http://unisinos.br/blogs/cidadania/2013/07/01/1o-


de-julho-dia-da-cidadania/>. Acesso em: 13 ago. 2013.

163
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

O entendimento destes dois conceitos fundamenta o trabalho do pedagogo


social e o guiam em busca do desenvolvimento de uma atuação mais consciente
e sensível as demandas que se apresentarem.

2.3 A PEDAGOGIA SOCIAL E A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO


SOCIAL NO BRASIL
A história da pedagogia social tem como referência a Alemanha, porém,
outros países como Itália, Portugal e Finlândia, também destacaram-se neste
cenário. No Brasil, esta modalidade é recente, sendo que alguns consideram Paulo
Freire um nome expressivo nesta área.

Quando tratamos a pedagogia social como uma referência de atuação


recente, lembramos Silva (2011) que nos coloca que a produção acadêmica
específica sobre o tema inicia-se com a publicação do livro Desafio, riscos e desvios,
em 1998, por Geraldo Caliman, pedagogo brasileiro que concluiu mestrado e
doutorado em pedagogia social na Universitá Pontificia Salesiana, em Roma, na
Itália.

UNI

No site <www.pedagogiasocial.net>, você encontrará mais informações sobre


a história de Geraldo Caliman, bem como os principais eventos realizados nesta área.

Como você pode perceber, diante do ano da publicação sobre esse tema,
podemos dizer que a pedagogia social é uma adolescente, com um campo vasto
de possibilidades a ser explorado.

Neste momento, trataremos de nos aprofundar na formação do pedagogo


social e como os cursos de nível superior estão se comportando, em relação a esta
nova demanda que surge com mais intensidade no Brasil.

Até pouco tempo atrás, a formação em pedagogia elegia, (este movimento


ainda é forte nas instituições de ensino superior) a docência como objetivo
principal. Além disso, outras áreas em que são necessários conhecimentos
próprios do pedagogo como orientação educacional, coordenação e supervisão
pedagógica, continuam sendo reforçadas.

Silva (2011) expõe que nos cursos de graduação, a maioria das disciplinas
oferecidas na grade curricular valoriza a integração dos pedagogos no ambiente

164
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

escolar, sendo este um requisito para a formação docente, porém a atuação dos
pedagogos em outras práticas educativas necessita de conhecimentos científicos
que embasem esta prática.

A formação de um profissional que tenha um olhar além dos muros da


escola demonstra o quão é importante estudar as possibilidades de desenvolver
trabalhos em diversos setores das políticas públicas, ou seja, na assistência social,
na saúde, no ministério público e demais setores na educação não formal.

UNI

Políticas públicas referem-se a todos os programas desenvolvidos pelas instituições


governamentais para a população. Por exemplo: Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
Sistema Único de Saúde (SUS), Programas de Orientação e Apoio Sociofamiliar, Bolsa Família
etc.

Silva (2011) reforça esta questão quando aponta que o pedagogo se torna
um profissional, cujos trabalhos são ilimitados, principalmente na formação de
indivíduos que, de alguma forma, tiveram seus direitos violados ou se encontram
em situações que caracterizam vulnerabilidade social.

Acadêmico(a)! Perceba que há uma necessidade constante e porque não


dizer quase infinita, de construirmos saberes sólidos que objetivem sustentar esta
prática, sendo estes pautados nas condições sociais construídas sobre os moldes
das desigualdades, que constantemente afligem nosso país.

Neste sentido, a pedagogia social ocupa um lugar importante na análise


das condições pertinentes a desigualdade, porém com intuito educativo para
que os indivíduos que se encontram em uma situação de vulnerabilidade social
superem estes momentos difíceis.

Anteriormente, usamos a expressão “além muros” para enfatizar como


é fundamental que o pedagogo seja sensível, no que tange aos aspectos sociais
influentes no comportamento e no conhecimento manifestado pelas pessoas que
com ele convivem.

Acadêmico(a)! Reflita sobre o que Silva (2011) tem a nos colocar sobre isso:

O identitário da questão social no Brasil é definido pela imagem de


pessoas em situação de privação alimentar, pessoas que de alguma
forma necessitam constantemente de tutela do Estado para dar
continuidade na vida. A realidade destas pessoas pode ser analisada
sobre diversos olhares, mas chama-se a atenção para um olhar sobre a

165
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

ótica da existência, ou seja, deslocar o olhar sobre mim para se colocar


no lugar do outro. Por esta razão, a questão das carências de alimentos,
remédios, empregos e demais questões dão aos problemas sociais a
necessidade prioritária para não perdermos milhares de brasileiros
vítimas da pobreza extrema, e demais condições de desigualdade.

Acompanhamos diariamente pelos meios de comunicação, a situação de


várias pessoas passando por dificuldades, no que se refere à alimentação, saúde,
moradia etc. Geralmente estas notícias mostram as reações deste povo sofrido, ou
seja, roubando para se alimentar, invade prédios públicos a fim de terem um teto
sobre suas cabeças, reagindo assim ao descaso.

Os cursos de formação não podem permanecer alheios a todas estas


situações, para tanto é preciso preparar profissionais qualificados, efetivando
a pedagogia social enquanto área de conhecimento capaz de intervir a nível
educativo diante deste contexto.

3 A INSERÇÃO DA PEDAGOGIA SOCIAL NAS POLÍTICAS


PÚBLICAS
Neste momento, acadêmico(a), iremos concentrar nossas reflexões acerca
da importância do pedagogo social nas diversas políticas públicas. Seu campo
de atuação é vasto e desafiador, pois há muito a ser construído, desmistificado e
solidificado. Para que possamos trabalhar a realidade, é preciso resgatar a história
para compreendermos como chegamos a atual conjuntura social.

Neto (2011) faz um breve resgate sobre a construção das práticas sociais
que permeavam até poucos anos atrás, salientando que na realidade brasileira
do século passado, em específico na década de oitenta e início dos anos noventa,
a sociedade conquistou um reordenamento jurídico que contribuiu para a
construção de uma cultura de direitos.

Porém as legislações anteriores a este período encontravam-se


fundamentadas na doutrina da situação irregular, que objetivava legitimar a
ação judicial privilegiando a institucionalização do indivíduo. Os programas
e políticas sociais, que mantinham esta fundamentação, caminharam para o
fracasso, pois baseavam suas ações na ressocialização dos menores supostamente
abandonados e nos chamados delinquentes (neste meio estavam jovens e adultos)
ao confinamento em instituições, sendo que estes eram vítimas do descrédito da
sociedade.

De acordo com Neto (2011, p. 233-234):

As instituições, as autoridades e os violadores de direitos aparecem


como bondosos e virtuosos, e, no caso dos supostamente abandonados
e delinquentes, o juiz aparece como um pai bondoso, que corrige
os desvios e as injustiças. Este fato ajudou a fortalecer as ciências

166
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

sociojurídicas, em detrimento das ciências educacionais. No Brasil,


o desenho da doutrina de situação irregular está na Constituição de
1969 e, principalmente do Código de Menor, Lei Federal 6.697, de
1º de outubro de 1979. [...] A tônica dessa legislação era responder,
com a institucionalização, à complexidade da questão do menor,
responsabilizando-o, de alguma forma, por sua sina e classificado
pelos rótulos de marginal, trombadinha, delinquente, abandonado, desviado.
O escopo pedagógico do Código de Menor era mais punitivo do que
educativo e não visava à melhoria de condições de vida.

Neste contexto, as instituições responsabilizavam-se pela reabilitação do


menor desprovido de condições econômicas familiares, atestando a família como
incapaz de sustentar, financeira e emocionalmente esta criança ou adolescente.

É preciso refletir sobre isso, caro(a) acadêmico(a), pois existem ricos


se houver pobres; assim a criança ou adolescente ao ser encontrado em uma
situação desviante dos princípios legais, por exemplo, furtando um objeto, não
deixa de ser criança ou adolescente, naquele instante o mesmo encontra-se fora
do contexto considerado correto pela maioria da sociedade e diante do fato passa
a ser julgado de forma integral, desvalorizando a atual condição em que vive.

Neto (2011) nos coloca que a criança ou adolescente em situação de


desigualdade social, classificados como carentes, abandonados ou delinquentes
por ocuparem uma condição social desfavorecida, não são o que são, apenas por
um fato de vontade pessoal, mas por estarem num lugar já marginalizado aos
olhos da sociedade.

Os anos 90 trazem um reordenamento político, fundado na Constituição


Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), passando
as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e em desenvolvimento,
conferindo a eles prioridade absoluta na destinação de recursos públicos e na
formação de políticas de atendimento e assistência.

A filosofia que sustenta o ECA, conforme Neto (2011), busca fortalecer


a convivência familiar e comunitária, do reconhecimento do protagonismo na
ruptura das práticas de confinamento e de desvalorização do saber adquirido e
construído; considerando que as violações de direitos, os conflitos com a lei e as
práticas desviantes não são hereditárias, mas socioculturais.

Assim, a pedagogia social busca encontrar as razões que conduzem


determinadas crianças e adolescentes a transformarem em vantagens
suas fragilidades do cotidiano, por meio de momentos de acolhimento e
encaminhamento a outros setores que possam conduzi-lo a um caminho de
menor sofrimento.

167
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

FIGURA 74 – OPORTUNIDADES

FONTE: Disponível em: <http://www.mundoleitura.com.br/2013/01/dona-de-casa-


faz-campanha-para-ampliar-biblioteca/>. Acesso em: 29 nov. 2013.

Acreditamos que o conteúdo central guia a criança e o adolescente num


formato baseado na ética da amizade ou na política da vida, fortalecendo as
relações de solidariedade, amizade, justiça e confiança (mediante um cenário
de tragédia), promovendo a subjetividade, ou seja, reformulando a constituição
deste sujeito.

Neto (2011, p. 237) aprofunda esta colocação focando na formação deste


sujeito, quando nos leva a acreditar que:

[...] é possível observar que a formação da subjetividade lança raízes


no entrelaçamento de diferentes acontecimentos ou territórios da
dinâmica da cidade e das relações cotidianas e culturais. Neste
sentido, concebemos o sujeito como aquele que é capaz de conduzir
uma reação que altera os padrões sociais; que busca resistir e encontrar
linhas de fuga, ou ainda, que consegue responder a uma realidade
social e cultural cotidiana em mudança. A pessoa humana necessita
da garantia dos direitos sociais, bem como de relações humanas
saudáveis, fundadas na experiência do amor, amizade e da ética.

Faz-se necessário propor a construção de uma rede de proteção pedagógica,


objetivando a este sujeito uma alternativa de conquista na formulação de um
espaço propício à cidadania, permitindo-lhe um lugar de protagonista, ou seja,
responsabilizando-o por sua formação e tornando-o apto a interferir na cultura
que o cerca, utilizando-se de instrumentos pedagógicos.

A pedagogia social, de acordo com Neto (2011), pautada na política da


vida, tende a desenvolver laços humanos saudáveis objetivando que o indivíduo,
desde criança, perceba que a felicidade do outro também é a sua.

168
TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

O Estatuto da Criança e do Adolescente é um instrumento ativo neste


cenário, escrito por várias mãos e pensado por diversos segmentos que visam
envolver o maior número possível de pessoas nesta reflexão.

Esta conquista da sociedade evoca legalmente


[...] com a promulgação da Constituição de 1988, um reordenamento
jurídico que preconiza que a criança e o adolescente são sujeitos
de direitos. A partir da constituição, as leis orgânicas, como as da
assistência, da Educação, da saúde e o ECA, oferecem condições
jurídicas para a passagem do mal ao bem-estar social. É preciso
construir outra Pedagogia, que respeite os direitos da criança e do
adolescente e um ordenamento jurídico que possa oferecer bases para
garantir outra qualidade de vida, por meio da Educação. Do lazer,
da proteção, da garantia de liberdade e da convivência familiar e
comunitária. (NETO, 2011, p. 243).

Ao tratarmos da convivência familiar e comunitária como um dos focos


da atuação do pedagogo social, um projeto atual vem sendo instaurado em
várias cidades brasileiras. O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS),
cujo objetivo está centrando em proporcionar este espaço fundamentado no
fortalecimento do vínculo familiar.

FIGURA 75 – CENTRO DE REFERÊNCIA EM ASSISTÊNCIA SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://crasseara.blogspot.com.br/>. Acesso em: 29


nov. 2013.

Conforme o Ministério do Desenvolvimento Social (2012, p. 1),

169
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

O CRAS é uma unidade pública estatal localizada em áreas com maiores


índices de vulnerabilidade e risco social, destinada ao atendimento
socioassistencial de famílias. O CRAS é o principal equipamento de
desenvolvimento dos serviços socioassistenciais da Proteção Social
Básica. Constitui espaço de concretização dos direitos socioassistenciais
nos territórios, materializando a política de assistência social.

Este lugar é destinado a promover o primeiro acesso das famílias a serviços


socioassistenciais e à proteção social, proporcionando aos seus usuários acesso
às políticas de proteção básica; esta estrutura conta com localização própria que
garante um espaço físico compatível aos trabalhos sociais desenvolvidos neste
território. Suas ações são destinadas a famílias referenciadas que habitam neste
território considerado vulnerável.

O MDS (2012, p. 1) preconiza como funções destinadas ao CRAS:

• Prestar serviços continuados de Proteção Social Básica de Assistência


Social para famílias, seus membros e indivíduos em situação de
vulnerabilidade social, por meio do PAIF tais como: acolhimento,
acompanhamento em serviços socioeducativos e de convivência
ou por ações socioassistenciais, encaminhamentos para a rede de
proteção social existente no lugar onde vivem e para os demais
serviços das outras políticas sociais, orientação e apoio na garantia
dos seus direitos de cidadania e de convivência familiar e comunitária;
• Articular e fortalece a rede de Proteção Social Básica local;
• Prevenir as situações de risco no território onde vivem famílias em
situação de vulnerabilidade social apoiando famílias e indivíduos
em suas demandas sociais, inserindo-os na rede de proteção social
e promover os meios necessários para que fortaleçam seus vínculos
familiares e comunitários e acessem seus direitos de cidadania.

A existência do CRAS está diretamente vinculada ao Programa de


Atenção Integral à Família (PAIF), sendo esta a condição primordial para o seu
funcionamento, tendo em vista, que cabe ao poder público oferecer condições de
trabalho social com as famílias que abrangem aquele território.

O MDS (2012) destaca que o CRAS deve necessariamente oferecer este


programa, porém não será o único, ou seja, outros serviços de assistência,
programas e projetos podem ser vinculados a este espaço, desde que não
prejudiquem os serviços oferecidos.

A multidisciplinaridade faz parte da constituição da equipe que atuará


neste local, sendo que o pedagogo também faz parte, contribuindo com seus
saberes e projetos. A equipe de trabalho é formada por: assistente social, psicólogo,
pedagogo, auxiliar administrativo e auxiliar de serviços gerais.

Diante disto, acadêmico(a), a Pedagogia Social é uma modalidade que


necessita avançar neste espaço e tornar-se conhecida, devendo ser abraçada como
um desafio à construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Se você acredita nisso, abrace fortemente esta causa!


170
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você estudou:

• As origens da pedagogia social e os trabalhos realizados em alguns países.

• O foco da pedagogia social em disponibilizar atendimentos a crianças,


adolescentes e adultos em situação de fragilidade social.

• A inserção do pedagogo nas políticas públicas de atendimento como o Centro


de Referência em Assistência Social (CRAS).

171
AUTOATIVIDADE

Acadêmico(a)! Agora que você já concluiu os estudos referentes a este tópico,


responda às questões a seguir:

1 Diante do conteúdo exposto, que trabalhos você buscaria desenvolver como


pedagogo social?

2 O Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) é um projeto que visa


atender às famílias que se encontram em situação de fragilidade. Diante do
que vimos sobre o CRAS, assinale V para as alternativas verdadeiras e F
para as falsas:

( ) Tem por finalidade apenas orientar as famílias.


( ) Pouco trabalha na prevenção de situações de risco na comunidade.
( ) A condição para o funcionamento do CRAS é estar vinculado ao PAIF.
( ) A equipe atuante no CRAS é multidisciplinar.

( ) F – F – V – V.
( ) F – V – V – F.
( ) V – V – F – F.
( ) V – V – V – F.

172
UNIDADE 3
TÓPICO 2

PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR


EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico(a)! Neste momento de seus estudos, você conhecerá mais
sobre a pedagogia hospitalar. Uma modalidade pouco colocada em prática,
porém um direito das crianças e adolescentes que estão impossibilitadas de
frequentar a escola regular, necessitando de uma atenção especial. Você também
compreenderá a importância da conscientização dos pais sobre esta garantia (a
de aprender mesmo que seu filho esteja hospitalizado ou impossibilitado de ir
à escola) e os instrumentos necessários (como a brinquedoteca hospitalar), para
que a criança possa aprender mediante condições tão frágeis.

2 A CRIANÇA HOSPITALIZADA
Para os adultos o processo de hospitalização gera ansiedade e medo em
relação ao desconhecido, principalmente por originar-se de um momento de
fragilidade, mesmo estando na maioria das vezes, conscientes e aptos de tomarem
a decisões referentes à internação.

Para a criança o fato de estar em um hospital, ou seja, fora de casa, da


escola e do convívio com os familiares e amigos torna-se ainda mais doloroso,
pois os pequenos pouco entendem o motivo de estarem em um lugar tão grande
e com tantas pessoas desconhecidas

173
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

FIGURA 76 – CRIANÇA HOSPITALIZADA

FONTE: Disponível em: <http://crisete.bebeblog.com.br/21342/CRIANCA-


HOSPITALIZADA-NECESSITA-Manual-de-Orientacao-aos-Pais/>. Acesso
em: 21 nov. 2013.

Sendo assim, as reações das crianças em relação à doença e hospitalização


dependem do nível de desenvolvimento cognitivo e psíquico na ocasião da
internação, a intensidade do apoio familiar, a patologia e o vínculo que o médico,
juntamente com a equipe de enfermagem, procuram estabelecer com a criança.

Baldini (1999, p.182) relaciona algumas reações das crianças à internação


hospitalar, conforme a faixa etária:

Dos quatro meses aos dois anos de vida a separação da mãe estimula
protesto, aflição e desespero. São essenciais as visitas frequentes ou
rooming-in. Deve-se respeitar o vínculo mãe-filho.
Dos dois aos cinco anos as preocupações acerca da separação ainda
são muito importantes, mas aumenta o medo ao dano corporal,
havendo uma sensibilidade aumentada e especial à dor, feridas,
sangue e aos procedimentos médicos e de enfermagem. A presença do
pensamento mágico, de uma vida de fantasia florida e de pesadelos
tornam essenciais a informação e a preparação.
Dos cinco aos sete anos são evidentes as preocupações acerca da morte,
desaparecimento, pessoas que não voltam, ou temor de se perder para
sempre desenvolve-se uma vigilância especial por seu destino, de seus
entes queridos e de outros pacientes.
Dos sete aos nove anos preocupa-se em perder seu lugar na enfermaria,
em ficar inválido para sempre, longe de casa, amigos e medo de ser
abandonado.
Dos nove aos dez anos mostra preocupação própria da idade escolar
acerca da capacidade intelectual, social e física (ficar para trás na
competição com os colegas.
Dos onze aos treze anos apresenta preocupação pré-puberal acerca
das funções corporais, dos produtos orgânicos, da exposição do corpo
frente ao pessoal da equipe hospitalar e aos demais pacientes e acerca

174
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

da futura humilhação com amigos.


Dos treze aos dezoito anos preocupações acerca da incapacidade, dor
e desgraça ainda estão presentes.

Conhecer essas reações das crianças e adolescentes, em relação à internação,


possibilita ao pedagogo hospitalar uma ação compreensiva para com a conduta
adotada com a criança. Baldini (1999) destaca outros sintomas e comportamentos
relativos à internação como:

• Sintomas psicofísicos: mal-estar, dores, irritabilidade, distúrbios do apetite,


sono e estresse.
• Comportamentos regressivos: reativação da ansiedade de separação, sucção
do polegar, fala infantilizada, enurese e encoprese.

UNI

Enurese: é o termo médico utilizado para definir a emissão involuntária de


urina, a maior parte das vezes noturna e que ocorre com maior frequência em crianças.
Normalmente sua causa é de ordem psicológica.
Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/enurese/>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Encoprese: é definida como repetidas evacuações, voluntárias ou não, de fezes nas roupas,
resultantes de fatores emocionais ou fisiológicos.
Disponível em: <http://www.infoescola.com/doencas/encoprese/>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Outros sintomas podem fazer do processo de internação, fantasias


assustadoras acerca da doença e do tratamento, sendo elas: ansiedade,
desesperança, insegurança, negação, fobia, hipocondria e alucinação.

UNI

Alucinações são distúrbios da sensopercepção que consistem na percepção


de objetos inexistentes, acompanhados da convicção inabalável da existência dos mesmos.
As alucinações guardam as mesmas características das percepções verdadeiras:
• Constância: o objeto percebido mantém sua forma invariável.
• Contornos nítidos: os objetos aparecem com bordas nítidas.
• Exterioridade: os objetos são percebidos como exteriores ao indivíduo.
• Corporeidade: o objeto aparece em três dimensões e não como projetado sobre uma
superfície.
• Opacidade: o objeto “encobre” aquilo a que se sobrepõe.

Disponívelem:<http://www.abc.med.br/p/psicologia..47.psiquiatria/355369/alucinacoes
+o+que+sao+quais+os+tipos.htm>. Acesso em: 21 nov. 2013.

175
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Diante de uma manifestação alucinatória, é importante não confrontar a


criança com falas do tipo “isso não é nada”, “é só sua imaginação”, entre outras
frases do senso comum. O pedagogo hospitalar deve tranquilizar a criança, com
manifestações de proteção e aceitação perante o estado que se manifesta naquele
momento.

FIGURA 77 – ALUCINAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://mundocuriosomg.blogspot.com.br/2011/04/


alucinacao-chave-de-muitos-misterios.html>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Acadêmico(a)! Ao receber uma criança, é necessário que o pedagogo


hospitalar tenha claro qual é o diagnóstico e o prognóstico dela, para que possa
planejar as atividades que irá desenvolver. Para sua melhor compreensão vamos
esclarecer o significado de diagnóstico e prognóstico, dois termos técnicos muito
utilizados no ambiente hospitalar. Acompanhe:

Diagnóstico consiste em uma resposta médica aos sintomas apresentados


pelo paciente, tendo por base exames clínicos e laboratoriais, objetivando verificar
qual doença está se manifestando.

Prognóstico refere-se ao conhecimento sobre o curso provável da doença


baseado pelo diagnóstico.

A compreensão, mesmo que de modo superficial, da doença manifestada


pela criança no ato da internação é de suma importância, não só para o
planejamento pedagógico a ser adotado, mas também pelo conhecimento das
fragilidades geradas pelo diagnóstico. As informações obtidas sobre a doença
auxiliarão o pedagogo hospitalar, principalmente na escolha dos brinquedos

176
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

FIGURA 78 – INTERAÇÃO ENTRE PEDAGOGO E CRIANÇA

FONTE: Disponível em: <http://www.unochapeco.edu.br/en/pedagogia/noticias/


pezinho-na-uno-promove-brincadeiras-e-novidades>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Ao utilizar os brinquedos, o pedagogo hospitalar permite à criança


expressar seus sentimentos, por meio dos personagens da brincadeira, sendo
recomendado utilizá-los em situações estressantes. Conforme Baldini (1999) o
brinquedo possibilita:

a) A compreensão por parte do profissional sobre as necessidades e sentimentos


manifestados pela criança.
b) A assimilação da criança novas situações e a entendimento do que se passa ao
seu redor.
c) O desenvolvimento da autoconfiança.
d) O domínio do seu corpo, bem como de suas funções corporais e a ampliação de
seu comportamento social e funções e das intelectuais.
e) Comunicar à criança informações e aceitação de seus sentimentos.
f) Preparar a criança para as novas experiências que irá enfrentar.
g) Detectar adversidades como violência física, psicológica ou abuso sexual.

Ao detectar algum indício de qualquer violência, o pedagogo deve


comunicar a outro profissional, em especial ao psicólogo, para que ambos avaliem
a situação conjuntamente, a fim de que sejam evitadas conclusões precipitadas.

3 A PEDAGOGIA HOSPITALAR
O hospital configura-se um ambiente importante para a aprendizagem
de todo, porém percebemos que os pais e professorem procuram poupar as
crianças da dor, das experiências de sofrimento e do contato com colegas doentes
da mesma idade. É importante dizer que o hospital, em parceria com a escola,

177
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

proporciona um espaço de aprendizagem formal e informal, não apenas para as


crianças doentes, mas abrangendo também a comunidade escolar.

De uma forma específica, a educação hospitalar, formal e informal, busca


empenhar-se no desenvolvimento de um ambiente de acolhimento e comunicação,
favorecendo a confiança e a colaboração de todas as partes envolvidas.

Atualmente com os avanços tecnológicos na área de comunicação, a


internet é um instrumento importante, no que tange à interação e a troca entre
crianças de vários hospitais e escolas, bem como entre professores e alunos.

Este movimento não é um fato recente, conforme Paula (1999, p. 28), esta
modalidade educacional, no Brasil, originou-se em meados dos anos de 1950,
com a primeira Classe Hospitalar no Hospital Jesus, no Rio de Janeiro, porém só
foi reconhecida em 1994, pelo Ministério da Educação e Desporto (MEC), através
da Política da Educação Especial.

Porém, o que deve ficar claro e precisamos compreender que o atendimento


pedagógico-educacional não é uma opção do hospital, é um direito da criança
amparado por legislação específica.

A Constituição Federal de 1988, no Título VIII – Da Ordem Social,


Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I, prescreve em seu
artigo 25 que: “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho”.

Behrens (2011) nos apresenta a fundamentação deste direito, conforme


as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, que
determina a educação como direito de todos, destacando o Título II – Dos Princípios
e Fins da Educação Nacional, sendo:

Art. 2° A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos


princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 3° O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

Acadêmico(a)! Outras diretrizes legais amparam a criança hospitalizada


quanto ao seu direito de aprender orientado por um profissional específico para
este fim. Porém rever a legislação não é nosso objetivo. Fique à vontade para ir
em busca de mais informações.

178
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

As classes hospitalares também são um direito da criança, mas Behrens


(2011, p. 24-25) nos coloca que

[...] as classes hospitalares têm recebido críticas, pois aparenta uma


situação paralela à escolarização nesta modalidade, mas, na realidade,
trata-se da escola propriamente dita no hospital. Para tanto, exige
matrícula regular dos alunos e alunas em suas respectivas séries de
ensino e o encaminhamento da Secretaria Municipal ou Estadual de
Educação de avaliações para que os alunos ou alunas possam lograr
avanço em seus estudos.

Diante disso, é preciso esclarecer que após o período de internação a criança


precisa dar continuidade aos seus estudos, mesmo que tal requeira o atendimento
pedagógico domiciliar, objetivando garantir sua reintegração na escola regular de
origem, visando que ela possa acompanhar a classe em que estuda.

FIGURA 79 – CLASSE HOSPITALAR

FONTE: Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?article-


id=2346269>. Acesso em: 26 nov. 2013.

4AATUAÇÃODOPEDAGOGOHOSPITALAR:POSSIBILIDADES
E DESAFIOS

O hospital é um ambiente complexo e contínuo, ou seja, não fecha


para feriados, fim de semana ou datas festivas, permanece em funcionamento
durante 24 horas. Os profissionais que atuam no local, além da rotina cansativa e
desgastante, necessitam de um preparo emocional para lidar com as questões que
se fazem presentes. Seus setores comportam pessoas fragilizadas que requerem
atenção e cuidados, dos quadros clínicos, mais simples como gripes e viroses aos
que necessitam de cuidados mais intensivos.

179
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Para o pedagogo o hospital não é um local usual de trabalho, portanto,


como bem coloca Silva e Farenzena (2011) tanto o profissional como a instituição
necessitam de um período de adaptação e reconhecimento para o engendramento
das trocas possíveis. Mesmo que o pedagogo hospitalar tenha uma sala específica
para o atendimento, o espaço difere em muito daquele que os pedagogos estão
habituados, ou seja, as salas de aula.

A função do pedagogo hospitalar não é a de proporcionar entretenimento


às crianças internadas, mas ir além. Silva e Farenzena (2011, p. 114) definem
o atuar do pedagogo hospitalar ao destacarem que o atendimento às crianças
hospitalizadas consiste em um contexto lúdico capaz de:

[...] através de um contexto lúdico, mobilizar os recursos delas e de


seus familiares, para o melhor enfretamento da situação adversa,
[...]. Afinal, em tal contexto não se fazem suficientes conhecimentos
sobre o desenvolvimento infantil. É preciso ir além, lançando mão aos
saberes pedagógicos que nos permitem não só uma escuta atenta de
cada criança, de cada família, mas uma capacidade de planejamento,
execução e avaliação de um projeto educativo no contexto do hospital.

Para o desenvolvimento de um trabalho que supra as necessidades


latentes deste local, além dos instrumentos específicos utilizados pelo pedagogo
hospitalar, elos de cumplicidade e troca precisam ser firmados, sempre objetivando
a recuperação da criança.

FIGURA 80 – VÍNCULO PEDAGOGO CRIANÇA

FONTE: Disponível em: <http://www.fiocruz.br/portaliff/cgi/cgilua.exe/sys/


start.htm?infoid=293&sid=74>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Parcerias precisam ser firmadas em busca deste objetivo, pois a criança


é única, mas por trás dela outras muitas outras pessoas estão envolvidas neste
processo: familiares, médicos, equipe de enfermagem, nutricionista, psicólogo,
áreas de prestação de serviços gerais (cozinheiras, copeiras, lavadeiras,
marceneiros), entre outros.
180
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

O hospital é um espaço marcado pela diversidade, e neste sentido é sendo


importante para a execução e manutenção de um bom trabalho firmar vínculos
afetivos e profissionais, por meio do acolhimento, da inclusão e da efetivação da
marca educativa.

Para Silva e Farenzena (2011 p. 115) “o educar se constitui no processo em


que a criança ou o adulto convive com o outro e, nesse convívio, se transforma
espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente
mais congruente com o do outro no espaço de convivência”.

Este processo proporciona uma transformação estrutural e gradativa a


partir do convívio e da familiarização com as pessoas que por lá circulam, tendo
por resultado o aprender a conviver com o outro e com a comunidade que o cerca.

A palavra “rotina” faz pouco sentido quando nos remetemos a falar


do hospital, pois o imprevisível e inusitado circulam diariamente pelo local.
O pedagogo hospitalar pode ser requisitado a atender em diversos setores
como: enfermarias, quartos, CTI (Centro de Tratamento Intensivo), oncologia e
emergência.

Nestes setores cabe ao pedagogo hospitalar garantir à criança hospitalizada,


conforme Silva e Farenzena (2011) o vínculo ao universo infantil, reconhecendo
esta condição como um direito social, identificando contextos percorridos por
cada paciente, intervindo pedagogicamente de forma ativa, sendo este, resultado
de uma sólida formação.

Ao atuar no hospital, precisamos compreender que as reações tanto da


criança quanto dos familiares são as mais diversas diante da doença manifestada,
considerando que em muitos casos os cuidados e os esforços efetivados pela
equipe nem sempre surtem os efeitos desejados.

Estabelecer uma posição ativa de intervenção e mediação exige que


o pedagogo hospitalar esteja preparado para se deparar com sentimentos de
angústia, raiva, frustração, dor e luto. Para tanto, é preciso assegurar que a equipe
esteja integrada, afinada e apta para que a proposta pedagógica se mantenha
firme e atuante.

Diante disso, Silva e Farenzena (2011) ressaltam que o pedagogo atuante


no ambiente hospitalar necessita facilitar as condições para que a criança
hospitalizada se mantenha ativa e se assuma como protagonista da própria
história, proporcionando uma abertura real que reforce a recuperação ou um
melhor desenvolvimento dos esforços de saúde.

Infelizmente, esta garantia é desconhecida por muitas instâncias educativas


e sociais. Ao pedagogo hospitalar cabe, através de suas ações, estabelecer
uma ligação entre os familiares responsáveis pelas crianças e escolas. Quando
necessário, será preciso exercer uma tarefa educativa a partir dos materiais e

181
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

orientações enviados pelos professores. Porém, devido à não existência dessa


possibilidade é comum que a criança permaneça totalmente afastada da escola
enquanto estiver doente.

A escola pode e deve manter contato com o pequeno paciente, sendo que
este pode se manifestar conforme Silva e Farenzena (2011) por meio de bilhetes,
cartazes, mensagens e objetos, e também pela visita de professores e colegas de
classe, visando fazer com que a criança vivencie momentos de alegria, melhora
da autoestima, aumento da confiança e fortalecimento dos vínculos afetivos.

Da mesma forma que tais ações são consideradas benéficas, é preciso


preparar tanto a criança hospitalizada quanto os colegas que vão visitá-
la, orientando-os, de forma simples, por meio de uma linguagem de fácil
entendimento sobre o que vão encontrar, as condições do colega hospitalizado e
as possíveis reações como manifestação de emoção, negação ou intensa alegria,
pois o mesmo processo que visa saúde pode gerar reações de dor e impotência.

Para tanto sugerimos que, quando o quadro clínico da criança oferecer


condições, se receba as visitas na brinquedoteca hospitalar no intuito de amenizar
os impactos da hospitalização, e oferecer ao pequeno e seus visitantes momentos
ricos em descontração, e que será de grande valia para o pedagogo hospitalar no
que condiz a observação dos vínculos estabelecidos por eles.

Silva e Farenzena (2011, p. 123) referem-se ao brincar como

[...] um potente desbloqueador de vias por onde transita a criança,


munindo-a de ferramentas internas para lidar com sua doença, de
uma maneira que não seja exclusivamente através do sofrimento.
Recuperação acelerada, redução de permanência no hospital e no
custo da hospitalização são alguns dos resultados derivados dessa
possibilidade de ser e conviver num hospital cuja identidade está
fundada nos objetivos e saúde e educação.

Este período de hospitalização, partindo de um contexto lúdico, pode


ser vivenciado através de um processo educativo e de humanização, oferecendo
condições para que ela desenvolva ações criativas diante de sua doença e da
situação adversa, tais como: 1) mobilizando as fantasias e representações, 2)
utilizando-se das brincadeiras para manifestar e manter suas ligações com o
saber, 3) expressando suas angústias e 4) expandindo suas estruturas humanas.

182
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

FIGURA 81 – MOMENTOS CRIATIVOS

FONTE: Disponível em: <http://infopediespes.blogspot.com.br/2011/04/


pedagogia-hospitalar-e-de-extrema.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Neste ínterim, a ação pedagógica desenvolvida permite dar liberdade


para que a criança expresse o que acontece com ela naquele momento, bem como
traz subsídios para que quando necessário for, o pedagogo hospitalar acione o
atendimento de outras equipes profissionais objetivando atendimento de demanda
específica, sendo estes: psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, assistente social
etc., objetivando desenvolver de forma multidisciplinar estratégias conjuntas de
atendimento, contribuindo para que o hospital seja visto como uma entidade
educativa.

O convívio diário com a possibilidade de vida ou de morte de crianças de


diversas idades vai além da manifestação de sentimentos de angústia, lágrimas
declaradas ou escondidas; possibilitando reconfigurar à infância, que até pouco
tempo não era vista desta forma.

A hospitalização não pode configurar o silenciamento de um protagonismo


que se refere à condição de ser da criança enquanto sujeito, deve auxiliar na
construção de uma experiência de vida inserido em um espaço planejado e
preparado especialmente para buscar, além do restabelecimento da saúde,
assegurar e dar qualidade a uma trajetória mais digna e humana.

5 A BRINQUEDOTECA
Certamente, acadêmico(a)! Nesta etapa do curso, você deve estar
familiarizado com a brinquedoteca, pois durante sua caminhada acadêmica na
pedagogia, você utilizou este recurso pedagógico, em sua prática, ao longo dos
módulos. Porém, para entendermos a função deste recurso ludopedagógico
utilizado pelo pedagogo, inserido no ambiente hospitalar, necessitamos rever
alguns conceitos.

183
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Para a criança, o brincar traz satisfação e felicidade, mas o lúdico vai


além disso, acompanhe: 1) proporciona a transformação da realidade em algo
imaginário; 2) auxilia no desenvolvimento e nas potencialidades; 3) amplia
o círculo de amizades; 4) coloca em prática regras; 5) aprende a conviver e 6)
compreende a importância de respeitar o direito dos outros.

Para Cunha (2007) quando brinca a criança nutre sua vida interior,
descobre sua vocação e busca um sentido para sua vida.

Sabemos que todas as crianças precisam brincar, porém não são todas que
têm a oportunidade de colocar em prática esta atividade devido aos seguintes
fatores: 1) necessitam trabalhar para auxiliar no sustento da família; 2) precisam
estudar e conseguir notas altas; 3) são condicionadas a agirem como adultos em
miniatura; 4) não podem atrapalhar os adultos; 5) não têm com o que brincar,
entre outros.

Atualmente, a maioria dos adultos vivem em função do tempo e do


imediatismo, buscando constantemente chegar mais rápido, seja no trabalho ou
em casa, pois estão sempre atrasados, trabalhando cada vez mais e buscando
envolvimento com a tecnologia diariamente. Diante desta situação, muitos pais
e professores envolvem as crianças nesta rotina frenética, esquecendo que elas
necessitam do momento do brincar.

Diante disso, em muitas ocasiões, as crianças fazem uso da imaginação


para que suas brincadeiras tenham vida e assim colocam em prática este direito
tão fundamental.

Acadêmico(a)! Quando criança você olhou para o céu e imaginou que as


nuvens tivessem formato de animais e objetos? Utilize este espaço para relacionar
outras brincadeiras que necessitassem apenas da imaginação.
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A imaginação também é projetada nos objetos, que nas mãos de uma


criança ganham vida e significado, sendo denominados de brinquedos. Cunha
(2011, p. 12) define que

Os brinquedos são parceiros silenciosos que desafiam a criança


possibilitando descobertas e estimulando a auto expressão. É preciso
haver tempo para eles, e espaço que assegure o sossego suficiente para
que a criança brinque e solte a imaginação, inventando, sem medo de
desgostar alguém ou ser punida. Onde possa brincar com seriedade.

184
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

Podemos dizer que um ambiente propício para a criança brincar com


seriedade é a brinquedoteca, sendo este, conforme Cunha (2011, p. 13),

[...] um espaço onde as crianças (e os adultos) brincam livremente, com


todo o estímulo à manifestação de suas potencialidades e necessidades
lúdicas. Muitos brinquedos, jogos variados e diversos materiais
permitem expressão da criatividade, mas a brinquedoteca pode existir
também sem brinquedos, desde que outros estímulos às atividades
lúdicas sejam proporcionados.

Diante do exposto pela autora, perceba acadêmico(a) que o brincar


engloba além de objetos a serem manipulados, a função do imaginar e interagir
colocado em ação. Pense o quão interessante e divertido seria uma brinquedoteca
só com atividades lúdicas imaginárias, com brincadeiras como pique-esconde,
pega-pega e teatro? Fica a dica!

FIGURA 82 – BRINQUEDOTECA

FONTE: Disponível em: <http://assimeugosto.com/tag/brinquedoteca/>. Acesso em:


26 nov. 2013.

Cunha (2007) nos traz que na Europa existem milhares de toy libraries –
biblioteca de brinquedos, cujo método de funcionamento consiste no empréstimo
de brinquedos para as crianças levarem às suas casas. Já na Suécia, as Lekoteks
direcionam o atendimento às crianças com necessidades especiais e orientam as
famílias a brincar com elas, objetivando a estimulação. Já na Itália, França, Suíça
e Bélgica as ludotecas, além de emprestarem os brinquedos, recebem a visita das
crianças.

185
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

UNI

Acadêmico(a)! Você sabia? Que existe uma associação internacional de


brinquedotecas, na qual o Brasil é membro juntamente com muitos outros países? E que em
1984 foi fundada a Associação Brasileira de Brinquedotecas? Para saber mais acesse o site:
<http://brinquedoteca.net.br/>.

No Brasil, a brinquedoteca apresenta uma característica peculiar,


enquanto as demais, espalhadas pelo mundo, concentram-se em proporcionar o
empréstimo de brinquedos às crianças, a nossa brinquedoteca tem por objetivo o
brincar, propriamente dito.

E por falar em brincar, acadêmico(a), você lembra quais são os objetivos


da brinquedoteca para as crianças? Vamos relembrar, a partir do que Cunha
(2007, p. 15) nos coloca:

1) Proporcionar um espaço onde a criança possa brincar tranquila, sem


cobranças e onde sinta que não atrapalha ou perde tempo;
2) Estimular o desenvolvimento de uma vida interior rica e a
capacidade de concentrar a atenção;
3) Estimular a operatividade das crianças;
4) Favorecer o equilíbrio emocional;
5) Dar oportunidade a à expansão de potencialidades;
6) Desenvolver a inteligência, a criatividade e a sociabilidade;
7) Proporcionar acesso a um número maior de brinquedos, de
experiências e de descobertas;
8) Dar oportunidade para que a criança aprenda a jogar e participar;
9) Incentivar a valorização do brinquedo como atividade geradora de
desenvolvimento intelectual, social e emocional;
10) Enriquecer o relacionamento entre as crianças e suas famílias;
11) Valorizar os sentimentos afetivos e cultivar a sensibilidade.
E, obviamente, proporcionar aprendizagem, aquisição de
conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, de forma natural
e agradável.

A brinquedoteca é para as crianças, e porque não dizer também para


aos adultos, um espaço de construção do conhecimento em que se desenvolve
habilidades de forma prazerosa, sendo um ambiente de criatividade, afeto e
apreciação da infância.

O espaço da brinquedoteca deve ser aconchegante e estimulante,


proporcionando aos seus frequentadores que se sintam livres para deixar a
imaginação fluir. Um profissional que deve fazer presente neste espaço é o
brinquedista, considerado por Cunha (2011) um parceiro de aventura, que
tem por função descobrir as necessidades e subsidiar as manifestações das
potencialidades da criança.

186
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

FIGURA 83 – BRINQUEDOTECA

FONTE: Disponível em: <http://www.feati.com.br/interna.php?pg=brinquedoteca.


php>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Vários são os espaços que compõem a brinquedoteca chamados de


cantos, sendo do brinquedista a função de organizá-los, Cunha (2007) os expõe
da seguinte forma:

• Canto do faz-de-conta: constituído de mobílias infantis como: dormitório com


berço, cama, guarda roupas, roupas de boneca, bonecas, cozinha, fantasias etc.
• Canto da leitura: deve ser um lugar com tapete e almofadas, neste espaço os
livros são manuseados como brinquedos, ou seja, sem a seriedade com que
seriam usados em uma biblioteca.
• Canto das invenções: o objetivo deste espaço é o de fazer com que a criança
invente coisas, fazendo uso de jogos de construção ou com material de sucata.
• Sucatoteca: neste espaço são guardados todos aqueles objetos que podem
servir para fazer coisas diferentes, sendo materiais descartados lavados e
classificados, que devem ser agrupados em caixas de plástico ou papelão com
etiqueta que identifiquem seu conteúdo.

187
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

FIGURA 84 – SUCATOTECA

FONTE: Disponível em: <http://emrochapombo.blogspot.com.br/2012_04_01_


archive.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

• Teatro: para poderem criar histórias e manusear fantoches.


• Mesa de atividades: em torno da qual poderão reunir-se para jogar ou para
fazer qualquer trabalho coletivo.
• Estantes com brinquedos: para serem manuseados livremente, sugerindo
diferentes formas de brincar.
• Oficina: de construção de brinquedos e de restauração dos que estão quebrados.
• Acervo: local equipado com estantes contendo jogos e quebra-cabeças
guardados, mas que estão à disposição das crianças.

É importante salientar que os adultos visitantes também necessitam de


um espaço, que não seja o mesmo das crianças, pois a presença de adultos no
ambiente (que não seja a do brinquedista) poderá inibir o processo de criatividade
das mesmas.

O brincar deve ser observado constantemente, não de forma única, mas


nas diferentes formas de explorar e interagir com o mundo e o com outro. Conheça
as várias formas de brincar, de acordo com Cunha (2007):

Explorar, descobrir, xeretar e manipular: quando pequenos passamos


a conhecer o que nos rodeava a partir do que exploramos. As atividades
exploratórias são extremamente importantes para o processo de construção do
conhecimento da criança. Ao manipular objetos ela experimenta o mundo ao seu
redor pelo prazer de descobrir satisfazendo assim, a sua curiosidade de conhecer.
As crianças pequenas necessitam manipular os objetos, ou seja, mexem em tudo e
adoram jogar as coisas no chão, por este motivo precisamos oferecer objetos que
possam ser manipulados com segurança e ensinar-lhes que tão divertido quanto
tirar das caixas ou jogar no chão é guardar os objetos novamente.

188
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

Brincar sozinho: esta modalidade de brincadeira é importante para a


criança devido à possibilidade que ela tem de mergulhar na própria fantasia
e alimentar a sua vida interior. Quanto mais profundo for este mergulho
mais, a criança estará exercitando a capacidade de focar a atenção, inventar e,
principalmente, permanecer concentrada na atividade. Este momento precisa ser
respeitado, pois nele são cultivadas qualidades importantes para a formação de
hábitos que irão fluir na qualidade do seu futuro.

FIGURA 85 – BRINCAR SOZINHO

FONTE: Disponível em:<http://paposozinha.blogspot.com.br/2012_09_01_


archive.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Brincar de faz de conta: a criança traduz o mundo dos adultos neste estilo
de brincadeira, sendo que, às vezes o faz de conta não imita a realidade mas, é um
meio de sair dela assumindo um novo estado. Na existência de uma determinada
situação, a imaginação é desafiada a buscar soluções para os problemas criados
pela vivência dos papéis assumidos.

FIGURA 86 – BRINCAR DE FAZ DE CONTA

FONTE: Disponível em: <http://crechecarmen.blogspot.com.br/2013/09/


pre-escola-no-mundo-do-faz-de-conta.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

189
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Brincar com outras pessoas: brincar com o outro é proporcionar à criança


estímulo colocando-a apta para receber críticas, que são importantes para a
socialização. Mesmo que a criança não saiba brincar com outra, mas esteja ao lado
a lado, cada um com sua brincadeira, começará a ter vontade de participar. Este
processo inicia nos primeiros meses de vida, na interação dos pais com o bebê.
Com o avançar do desenvolvimento cronológico e cognitivo, o brincar com outras
pessoas auxilia no aprendizado e na vivência das regras sociais, no respeito às
regras, no cumprimento das normas, no esperar a sua vez e no interagir de forma
organizada.

Brincar em grupo: participar de brincadeiras em grupo é indispensável


para a manutenção e ampliação das relações sociais. Nas competições, a vitória
depende de todos; o “mais forte” dependerá também do “mais fraco” para
conseguir a vitória. Portanto, cabe aos adultos a mediação com as crianças neste
aspecto, para que compreendam o sentido da competição.

FIGURA 87 – BRINCAR EM GRUPO

FONTE: Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/comportamento/a-


importancia-brincar.htm>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Brincar correndo, saltando, pulando: uma coisa é certa, as crianças


não resistem à oportunidade de saírem correndo pelos corredores, nas praças
ou em qualquer lugar que dê o mínimo de chance para que isso aconteça. A
atividade física gera entusiasmo e satisfação, além de ser um ótimo estímulo ao
desenvolvimento da coordenação motora. Caso o espaço da brinquedoteca seja
viável para que as crianças possam participar de atividades mais dinâmicas neste
sentido (que envolvem), tal espaço é oportuno para o controle da ansiedade.

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TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

FIGURA 88 – BRINCAR CORRENDO, SALTANDO E PULANDO

FONTE: Disponível em: <http://ruthapinkbarumluna.blogspot.com.br/2011/04/os-


parentes-distantes-sao-os-melhores-e.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Brincar experimentando e desenvolvendo habilidades: encaixar,


empilhar, construir, montar quebra-cabeça, entre outros, são atividades que
auxiliam na ampliação das habilidades, desde que a criança, ao envolver-se com
a atividade, sinta satisfação. Estes jogos que provocam as crianças a reflexão para
chegar ao objetivo, as tornam aptas a desempenharem tarefas que por algum
motivo não conseguiriam realizar se não estivessem em situação lúdica, livre de
cobranças e de obrigatoriedade.

FIGURA 89 – BRINCAR EXPERIMENTANDO E DESENVOLVENDO HABILIDADES

FONTE: Disponível em: <http://inclusaobrasil.blogspot.com.br/2011_01_01_


archive.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

191
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Brincar inventando: para criar é preciso estar motivado, quer seja por um
desafio, situação-problema ou vontade de expressar uma emoção. Porém, para
que o ato criativo aconteça, é necessário haver confiança na própria capacidade
de criar, mesmo que o resultado não seja o esperado, desde que seja aceito pela
criança.

FIGURA 90 – BRINCAR INVENTANDO

FONTE: Disponível em: <http://blogdati.com/vamos-brincar-de-cabana-e-de-cavalinho-


baudediversoes/>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Brincar aprendendo: a curiosidade é uma característica dos seres


humanos e também de outras espécies. Quando crianças somos muito curiosos,
devido a todos os estímulos que nos são oferecidos. Quando nos tornamos
adultos perdemos um pouco da curiosidade ao longo do tempo e devido a esta
perda, acabamos transmitindo para as crianças a mensagem de que aprender é
obrigatório e sistemático. O processo de construção do conhecimento não deve
ser transformado em tarefas desinteressantes que cansem e aborreçam, muito
pelo contrário, deve dar-se de forma lúdica e prazerosa. Quando a pré-escola foi
transformada em escola, percebemos as crianças de três anos de idade já fazendo
exercícios preparatórios para a alfabetização. Assim, o brincar foi substituído pela
necessidade de aprender o quanto antes, a escrever, a ler, a falar outros idiomas,
a dançar ou praticar judô. Devemos entender que a criança não é um adulto em
miniatura, e nem deve crescer atendendo apenas às solicitações dos adultos, pois
assim não desenvolverá autonomia, nem senso de responsabilidade.

192
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

FIGURA 91 – BRINCAR APRENDENDO

FONTE: Disponível em: <http://uj.novaprolink.com.br/noticias/667568/


brinquedoteca_da_defensoria_publica_em_araguaina_desenvolve_projeto_
aprendendo_brincando>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Brincar jogando e competindo: para jogar precisa-se de um parceiro, mesmo


que seja opositor, pois ambos estabelecem uma relação de cumplicidade diante do
objetivo do jogo. Esta relação expõe as potencialidades dos participantes, afeta suas
emoções, põe à prova suas aptidões e testa seus limites. A competitividade de uma
situação de jogo pode ocasionar sentimentos de oposição causados pela frustração do
perdedor ou, até mesmo, pelo estresse de quem teve que lutar muito para conseguir
vencer. Neste movimento, há um aspecto positivo importante que é a motivação, que
origina o prazer em participar e o desafio existente na possibilidade de vencer.

FIGURA 92 – BRINCAR JOGANDO E COMPETINDO

FONTE: Disponível em: <http://www.fitfutures.com.au/top-nav/fit-kids/


soccer-stars.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

193
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Brincar/trabalhar: é brincando que a criança aprende a gostar de


trabalhar, pois estando em atividade, ela descobre o prazer de estar ocupada,
operando e envolvendo-se por livre e espontânea vontade. Para que a riqueza
deste momento não se perca, o educador deve comportar-se de modo respeitoso
e ao mesmo tempo nutrir o interesse manifestado pela criança. O hábito de se
ocupar utilizando a criatividade, quando bem cultivado, proporciona satisfação
pessoal que com a maturidade, pode transformar-se em predisposição para uma
determinada área de trabalho.

FIGURA 93 – BRINCAR/TRABALHAR

FONTE: Disponível em: <http://br.pixersize.com/fotomurais/criancas-brincando-em-


profiss-es-46222881>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Acadêmico(a)! É importante que, enquanto futuros pedagogos(as),


busquemos estar atentos às questões que correspondam às formas de brincar,
para que possamos mediar estas atividades conforme se manifestem nas crianças.

A brinquedoteca é um local de muita brincadeira e aprendizagem. Para


tanto, precisamos deixar que as crianças manifestem seus desejos, utilizando-os
em prol da ampliação das habilidades e no trabalho de conceitos como respeito e
solidariedade, princípios fundamentais para a formação do ser humano.

5.1 OS BRINQUEDOS
Podemos dizer que, na mão de uma criança quase tudo vira brinquedo,
porém muitos objetos são impróprios, às crianças nas diferentes faixas etárias.
Conforme você já deve ter estudado, Jean Piaget é um dos principais estudiosos
do comportamento e aprendizagem infantil. A partir dos períodos, determinado
por Piaget você conhecerá então, como Cunha (2007) classifica os brinquedos
conforme a idade da criança:

194
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

I- Período sensório (0 a 2 anos)

• Primeiro mês: neste período o comportamento do bebê se apresenta através de


reflexos.
• Segundo mês: móbiles coloridos; mobiles que se movimentam; móbiles
sonoros; móbiles improvisados (por exemplo, com panos coloridos).
• Quatro meses: nesta fase a criança manifesta algumas ações intencionais como
estender os bracinhos e conhecimento de mundo se dá através de qualquer
objeto que puder levar à boca.
• Seis meses: móbiles colocados ao alcance da mão da criança; chocalhos
pequenos; brinquedos para morder; bichinhos de vinil; bola-bebê de diferentes
texturas, martelos de borracha.
• Oito a doze meses: brinquedos de puxar e empurrar livros de pano; argolas de
plástico para encaixar; cubos de pano; João bobo, caixa com vários objetos para
pôr e tirar; caixa de música; vasilhas para encaixar umas nas outras; bonecas de
pano; cavalinho de pau.
• Doze a dezoito meses: nesta fase são interessantes os chamados brinquedos
pedagógicos, aqueles que oferecem oportunidade de manipulação visando a
alguma proposta, como encaixar argolas; ou brinquedos que a criança precisa
apertar botões; abrir e fechar portinhas etc.
• Dezoito a vinte e quatro meses: brinquedos de empurrar; carrinhos ou outros
brinquedos de puxar; blocos de construção; bate-estacas; brinquedos de
desmontar (grandes); degraus e pequenos escorregadores; túneis para passar
por dentro; carro ou bicicleta sem pedal.

FIGURA 94 – BRINQUEDOS PARA CRIANÇAS ATÉ DOIS ANOS

FONTE: Disponível em: <http://www.estimulakids.com.br/2011/10/vamos-


brincar-como-escolher-o-brinquedo.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

195
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

II – Período das operações concretas (2 a 12 anos)

• Período pré-operacional (2 a 7 anos): neste estágio o pensamento apresenta


características marcantes como relacionar tudo o que acontece ao seu redor com
seus sentimentos e ações; ser incapaz de perceber o ponto de vista dos outros;
considerar só um aspecto das situações e tirar conclusões baseadas em um único
aspecto perceptivo, ou seja, com frases do tipo “meu pai disse” ou “a professora
disse que é assim”. A seguir, você verá quais brinquedos são considerados ideais
para as crianças no que condiz às categorias do desenvolvimento:
• Período pré-conceitual: 2 a 4 anos: livros de pano com figuras; telefone;
panelinhas do tipo utensílios de cozinha; mobílias e objetos domésticos;
bonecas; máscaras, chapéus, fantasias e capas; fantoches; bichinhos de plástico
e de pelúcia; massa de modelar; quebra-cabeças simples; tambor, pandeiro e
corneta; carros, caminhões, trenzinhos e aviões; pianinho ou xilofone; cabanas
e casinhas; balde e pazinhas; triciclo; material para fazer bolas de sabão.
• Período intuitivo (4 a 7 anos): blocos de construção; material para pintura e
desenho; jogos como dominó, loto, damas, jogos de circuito, carrinho de
boneca, livros de história.
• Período das operações concretas (7 a 12 anos): bolas e raquetes, boliche, futebol de
botão, peteca, jogos de montar (que provoquem a criança a criar) construção, de
circuito, de perguntas e respostas, damas, xadrez, minilaboratórios, quebra-cabeças
com maior grau de dificuldade; ferramentas para a construção de brinquedos.

FIGURA 95 – BRINQUEDOS PARA CRIANÇAS ATÉ 12 ANOS

FONTE: Disponível em: <http://mosca-branca.blogspot.com.br/2013/05/e-se-


voce-alugasse-os-brinquedos-dos.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

III – Período das operações formais (12 anos em diante)


Os pré-adolescentes também necessitam de um espaço e cabe aos
adultos proporcionarem um ambiente agradável para o desenvolvimento destas
atividades, sendo assim, um ponto de encontro com alguns jogos divertidos.
Os chamados jogos de adultos, ou jogos sociais proporcionam informações e
diversão, além de poderem tratar de temas atuais.

196
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

FIGURA 96 – JOGOS PARA PRÉ-ADOLESCENTES

FONTE: Disponível em: <http://blogdebrinquedo.com.br/2008/05/08/replica-de-


luxo-do-banco-imobiliario-de-1935/>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Os brinquedos são instrumentos que proporcionam à criança expressar


seus sentimentos e até mesmo de externar uma situação pela qual está passando,
portanto, os brinquedos não devem ser utilizados com o intuito de distrair ou
manter a criança ocupada. Vale ressaltar que enquanto futuros profissionais da
educação, o brinquedo e a brincadeira podem nos mostrar várias possibilidades
de atuação com a criança, bem como, fornecer subsídios de suas necessidades,
portanto, façamos uso inteligente destes recursos!

UNI

Acadêmico(a)! Retome os cadernos das disciplinas de Psicologia Geral e do


Desenvolvimento e Psicologia da Educação e Aprendizagem, para revisar os conteúdos
referentes à teoria de Piaget e estabeleça uma relação dos estágios do desenvolvimento e os
brinquedos pertinentes a cada um deles.

6 A BRINQUEDOTECA HOSPITALAR
Se para os adultos, permanecer em um hospital não é uma das experiências
mais agradáveis, imagine então quando esta situação é vivenciada por uma
criança. Neste sentido, a brinquedoteca objetiva que esta estadia seja alegre e
prazerosa, tornando-a menos traumatizante possível, possibilitando melhores
condições para a recuperação da criança.

197
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Cunha (2007, p. 95) nos esclarece os impactos na rotina da criança em relação


a internação:

A internação num hospital, além de provocar uma interrupção na


rotina da vida da criança, favorece a sua insegurança porque a prova
de seus parentes e amigos, seus brinquedos e tudo o que lhe é familiar.
Ela fica, portanto sujeita a deixar-se envolver pelo pânico ou pela
tristeza, o que certamente dificultará tanto a aceitação do tratamento
como sua recuperação.

A brinquedoteca hospitalar propicia à criança momentos de alegria


durante sua permanência no hospital. Neste ambiente lúdico, a criança que estiver
em condições de locomover-se encontrará brinquedos que lhe proporcionarão
momentos agradáveis e felizes; já para aquelas que não apresentam condições de
sair do leito, os brinquedos deverão ser levados até elas.

FIGURA 97 – BRINQUEDOTECA HOSPITALAR

FONTE: Disponível em: <http://blog.herv.org.br/2011/03/brinquedoteca-do-hpdg-e-


inaugurada.html>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Sendo o hospital um local que necessita de cuidados especiais em relação


à limpeza dos brinquedos, Cunha (2007, p. 95) nos lembra que:

Os cuidados tomados habitualmente com relação à higiene e


esterilização precisam ser mantidos em relação aos brinquedos. Nos
setores em que atendem moléstias infecciosas, os brinquedos deverão
ser descartáveis. Se houver voluntários no hospital, eles poderão fazer
brinquedos de sucata, que serão jogados fora após a utilização. Nos
hospitais existem muitos materiais descartáveis que, se não tiverem
sido expostos à contaminação, poderão ser utilizados na confecção de
brinquedos ou ser entregues às crianças para que elas criem com eles.

198
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

Diante disto, o pedagogo(a) que atuará neste segmento, deverá ter


uma preparação especial, com orientação do setor de vigilância sanitária e
epidemiológica do hospital, para que possa seguir as normativas específicas
que estabelecem os cuidados a serem tomados e, principalmente a seleção dos
brinquedos para que não haja risco de contaminação entre as crianças.

É preciso salientar, que os objetos utilizados na brinquedoteca, após a


manipulação pelas crianças, devem ser higienizados conforme as orientações
estabelecidas pelo hospital, considerando que alguns brinquedos (mesmo que
façam parte da brinquedoteca, conforme citados anteriormente) talvez não
possam fazer parte do acervo devido às normas de prevenção estabelecidas pela
instituição ou órgão responsável.

Cunha (2007) nos enfatiza os objetivos da brinquedoteca hospitalar:

1) Preparar a criança para as situações novas que irá enfrentar: o brinquedista


poderá sugerir à criança fantasiar-se de médico ou enfermeiro, brincar com
instrumentos cirúrgicos de brinquedo, fazendo com que as situações lúdicas
sirvam para que a criança tome conhecimento dos detalhes da rotina do
hospital e sobre seu próprio tratamento. Neste momento é preciso estimular a
criança a questionar sobre seus medos para que possam ser esclarecidos.
2) Preservar a saúde emocional: proporcionar momentos lúdicos com outras
crianças que estão na instituição, e fortalecer a criança diante de sua fragilidade,
objetivando fazê-la superar este momento de adversidade.
3) Dar continuidade ao processo de estimulação de seu desenvolvimento: uma
internação prolongada gera uma grade interrupção das atividades em que a
criança processa o seu desenvolvimento, vive experiências e aprende. Para
que ela não seja prejudicada, o hospital precisa oferecer oportunidades de
interação.
4) Tornar o ambiente agradável: o ambiente da brinquedoteca pode servir como
um ponto de encontro da criança com a família ou outras visitas, para que ela
não seja colocada na posição de vítima pelas pessoas que a cercam naquele
momento, evitando que a criança passe por experiências desnecessárias e
desgastantes diante da condição de paciente.
5) Preparar a criança para a volta ao lar: a longa permanência pode acarretar
à criança, como consequência, a quebra de alguns vínculos familiares e de
amizades, necessitando de auxílio para reatá-los. Dependendo das condições
nas quais a criança foi hospitalizada, um vínculo familiar poderá ter sido
firmado com a equipe e com a própria instituição, principalmente quando o
processo de internação foi originado pela carência de alimento ou condições de
higiene.

A atuação do pedagogo hospitalar, além do vínculo afetivo com a criança,


consiste em estar em contato direto com a equipe médica e de enfermagem
responsáveis pelo cuidado da mesma, objetivando ter conhecimento sobre o
quadro clínico, procedimentos e o tempo de permanência da criança no hospital.

199
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

O contato com a família deve ser harmonioso enfatizando a aproximação e


o fortalecimento das relações com a criança, considerando o momento de
fragilidade vivenciado por ambos. Também cabe ao pedagogo hospitalar evitar
repassar qualquer informação à família que possa gerar dúvidas ou desencontro
de informações. Cabe a ele também, orientar para que os familiares procurem a
equipe responsável para obter qualquer informação referente ao quadro clínico
ou tratamento.

FIGURA 98 – FAMÍLIA NA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR

FONTE: Disponível em: <http://wwwluciaandradebloggercom.blogspot.com.


br/2010/10/curso-de-brinquedista-hospitalar-uerj.html>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Outro aspecto também muito importante é ter consciência de que num


ambiente de dor e fragilidade, certas situações podem gerar desconforto e
sentimentos diversos, portanto, é importante procurar um profissional para troca
de informações ou suporte emocional, evitando comentários com pessoas que
não sejam do meio hospitalar.

Diante disso, acadêmico(a), é praticamente impossível deixar de abordar


um assunto que diariamente ronda os corredores de um hospital, motivo de
tristeza, frustração e sentimento de impotência por parte dos familiares e da
equipe técnica. A partir de agora abordaremos um tema bem complexo para
todos nós: a morte!

7 COMO FALAR SOBRE A MORTE PARA AS CRIANÇAS?


Como já vimos anteriormente, acadêmico(a), o hospital é um local em
que a vida e a morte caminham lado a lado e tratar deste tema é de extrema
importância, especialmente ao pedagogo que escolher esta vertente para
consolidar sua carreira.

200
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

A morte é um assunto delicado e, muitas pessoas evitam falar, pensar ou


ler a respeito dela, por uma série de questões pessoais ou por se entregarem à
ilusão que tal acontecimento nunca baterá à sua porta.

Para muitos adultos discutir sobre este assunto traz à tona os medos e
inseguranças, que talvez estejam disfarçados ou adormecidos; e que se manifestam
de alguma forma através de comportamentos destrutivos como: a pessoa diabética
que não segue a dieta recomendada, o motorista que guia seu carro de forma
imprudente, o pai que guarda uma arma de fogo ao alcance do filho etc.

FIGURA 99 – ARMAS E CRIANÇAS

FONTE: Disponível em: <http://www.casernapapamike.com.br/seguranca-na-


guarda-de-armas-de-fogo-em-casa/>. Acesso em: 26 nov. 2013.

A morte e os acontecimentos que a antecedem sempre estarão presentes


em nosso cotidiano, ligado aos amigos, parentes ou colegas de trabalho. A morte
amedronta os seres humanos desde o primórdio dos tempos, pois é associada às
guerras, epidemias, desastres naturais ou acidentes, que dizimaram e dizimam
vidas até hoje.

Até pouco tempo atrás a maioria das famílias já havia perdido um parente
de pouca idade, porém, com o avançar da tecnologia na área da saúde e a melhora
nas condições de vida, estas mortes tornaram-se menos comuns, embora o ideal
na saúde ainda esteja longe de acontecer.

A morte é um assunto que assusta a todos (pais, educadores, profissionais


da saúde, velhos, jovens, crianças), pois nos afeta em nossa fragilidade e ignorância
de como lidar com o fim e com a incapacidade de controlar os acontecimentos.
Klüber-Ross (2008, p. 7) nos faz refletir:

201
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Quando crescemos e começamos a perceber que nossa onipotência não


é tão onipotente assim, que nossos desejos mais fortes não têm força
suficiente para tornar possível o impossível, desaparece o mesmo de
se ter contribuído para a morte de um ente querido e, por conseguinte,
some a culpa; o medo permanece subjacente, mas só enquanto não for
fortemente despertado.

Morrer é parte do processo de viver, embora poucos estejam preparados


para isso, desejando saber mais sobre o assunto e preferindo manter distância
deste momento. Porém, diariamente ocupa espaço nos diferentes meios de
comunicação, especialmente nos noticiários.

Ao falarmos sobre a morte, Paiva (2011) nos propõe uma reflexão


importante, levando-nos à compreensão de que necessitamos deste processo
de conscientização de nossa finitude, de nossa condição humana, de nossas
singularidades como mortais, abrindo-nos para a possibilidade de pensarmos em
humanização.

Ao possibilitarmos um espaço, objetivando facilitar à exposição do


tema, a escuta, os relatos das dificuldades e dos medos, a troca de opiniões e
de experiências; percebemos que, este momento surge de forma a potencializar
transformações e ressignificações da vida, nos tornando mais humanos.

No que condiz à criança, por ser nosso foco principal enquanto pedagogos,
percebe-se que, os adultos subestimam a capacidade dos pequenos sem lidar com
o assunto, com a desculpa de protegê-los, impedindo-os assim de olhar para a
realidade e suas perdas. Paiva (2011, p. 37) reforça tal preocupação de forma
simples:

Os ganhos são valorizados, e as perdas, muitas vezes, negadas.


E, por causa disso, reforçamos a dificuldade de lidar com várias
perdas vivenciadas ao longo da vida, com os valores mais diversos: o
brinquedo quebrado, o animal de estimação que morre, o amiguinho
que se mudou, a morte de alguém... É preciso lembrar que não
podemos quantificar a dor, pois é individual, singular e subjetiva.

Os adultos envolvidos pelos seus próprios mecanismos de defesa


emocional, costumam dizer, que a morte é um assunto a ser evitado com as
crianças, fazendo uso de um falso pretexto de não perturbá-las com preocupações
desnecessárias. Tal comportamento manifestado pelos adultos, só condiz à
própria incompreensão e dificuldade de não saber como tratar disso com as
crianças, fazendo parecer que a morte seja um assunto alheio e distante do
universo infantil.

Paiva (2011) reforça que a morte é a única situação da qual não temos
controle, e que um dia acontecerá fatalmente, portanto evitar falar sobre este
assunto poderá dificultar o entendimento da criança sobre o ciclo da vida.

202
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

FIGURA 100 – CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A MORTE

FONTE: Disponível em: <http://thedamneds.blogspot.com.br/2010/06/criancas-


da-sepultura.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

As crianças apresentam um comportamento naturalmente curioso e por


isso querem descobrir a vida e seus mistérios. Para tudo, elas buscam um porquê.
Conforme crescem adquirem novos conhecimentos e aprendem por meio da
exploração do seu mundo. Desde cedo a criança passa por experiências que lhe
permitem ter uma noção da morte e, evitar esta questão é negar uma realidade.
Paiva (2011) apud Torres (1999), nos lembra que “para a criança, a morte não
é apenas um desafio cognitivo para seu pensamento, mas também um desafio
afetivo”.

Diante disto, Paiva (2011) nos traz um estudo sobre a aquisição do conceito
da morte pelas crianças, de acordo com os estágios estabelecidos por Jean Piaget,
apontando diferenças para cada estágio:

• Período sensório-motor (0 a 2 anos, antes da aquisição da linguagem): o


conceito de morte é inexistente; a morte é percebida como ausência e falta; a
morte corresponde à experiência do dormir e acordar: percepção do ser e não
ser.
• Período pré-operacional (3 a 5 anos): as crianças compreendem a morte como um
fenômeno temporário e reversível, não a compreendendo como uma ausência
sem retorno; atribuem vida à morte, ou seja, não separam a vida da morte;
entendem a morte ligada à imobilidade; apresentam um pensamento mágico
e egocêntrico; são autorreferentes e para elas tudo é possível; compreendem a
linguagem de modo literal e concreto.
• Período operacional (6 a 9 anos): apresentam uma organização em relação
ao espaço e tempo; distinguem melhor os seres animados dos inanimados;
entendem a oposição entre a vida e a morte, compreendendo a morte como um
processo definitivo e permanente; compreendem e irreversibilidade da morte;

203
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

há uma diminuição do pensamento mágico, predominando o pensamento


concreto; ainda não são capazes de explicar adequadamente as causas da
morte; conseguem aprender o conceito de morte em sua totalidade em relação
a não funcionalidade, à irreversibilidade e à inevitabilidade.
• Período de operações formais (10 anos até a adolescência): o conceito de morte,
devido ao pensamento formal, torna-se mais abstrato; já compreendem a morte
como inevitável e universal, irreversível e pessoal; as explicações são de ordem
natural, fisiológica e teológica.

O luto estende-se à criança da mesma forma que é manifestada pelo adulto,


diante disso, Paiva (2011) apud Torres (1999) identifica três etapas principais no
processo natural do luto infantil:

1. Protesto: a criança não acredita que a pessoa esteja morta e luta para recuperá-
la; chora, agita-se e busca qualquer imagem ou som que personifique a pessoa
ausente.

FIGURA 101 – PROTESTO

FONTE: Disponível em: <http://www.diariodearaxa.com.br/Materia/Colunista/


Thiago-Melo/2011/8/As-criancas-e-a-morte/509.aspx>. Acesso em: 26 nov. 2013.

1. Desespero e desorganização da personalidade: a criança começa a aceitar o fato


de que a pessoa amada realmente morreu; o anseio por sua volta não diminui,
mas a esperança de sua satisfação esmorece. Não grita mais, torna-se apática e
retraída, porém isso não significa que tenha esquecida a pessoa que morreu.
2. Esperança: a criança começa a buscar novas relações e a organizar a vida sem a
presença da pessoa falecida.

204
TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

Acadêmico(a)! Perceba a importância de se ter conhecimento sobre essas


fases do luto, principalmente como acontecem em relação à idade da criança,
não somente ao pedagogo hospitalar, mas a todos os profissionais das áreas de
atuação da pedagogia, pois a morte está ligada a todas elas. Portanto, é necessário
sabermos quais são as reações das crianças diante das situações de crise ao longo
da vida, Paiva (2011, p. 47-48) orienta em relação a como podemos auxiliar a
criança diante do processo de luto, vejamos:

1. Promover comunicação aberta e segura dentro da família,


informando a criança sobre o que aconteceu.
2. Garantir que terá tempo necessário para elaborar o luto.
3. Disponibilizar um ouvinte compreensivo toda vez que sentir
saudade, tristeza, culpa e raiva.
4. Assegurar que continuará tendo proteção.

Paiva (2011) apud Velasques-Cordero (1996) enumera dez maneiras de


auxiliar a criança no enfrentamento da perda e do luto:

1. Encorajar a criança a expressar seus sentimentos.


2. Responder às perguntas com sinceridade e expressar suas emoções
honestamente.
3. Discutir sobre a morte de forma que a criança possa entender.
4. Falar com a criança respeitando seu nível de compreensão.
5. Ser paciente e permitir que ela repita a mesma pergunta, oportunizando que
expresse sua confusão e medo.
6. Evitar fomentar expectativas.
7. Sugerir caminhos para que a criança possa lembrar-se da pessoa, através de
desenhos e cartas.
8. Aceitar os sentimentos, percepções e reações das crianças, bem como diferenças
de opiniões, dúvidas e questões.
9. Indicar serviços especializados, caso identificar a necessidade.
10. Preparar a criança para continuar a vida, reforçando que isso lhe causará
bem-estar após algum tempo (lembrando que o tempo difere de criança para
criança).

Para a criança, enfrentar a perda de um dos pais, é considerada a maior


crise na vida. Diante de tal acontecimento dificilmente o mundo será o mesmo
lugar seguro de antes. Paiva (2011) nos orienta a respeito do que pode acontecer
com a criança desse fato:

1. A criança pode permanecer na fantasia ligada ao progenitor morto.


2. Investir a libido em atividades.
3. Ter medo de amar as pessoas.
4. Aceitar a perda e substituí-la por outra pessoa que possa amar.

205
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Acadêmico(a)! Considerando os pontos abordados, é seguro afirmar que


as condições de funcionamento da família influem diretamente na qualidade
de elaboração do luto, e é importante pensar em alternativas de como será o
enfrentamento de suas perdas diante das pessoas que cuidam desta criança. Isso
envolve a família, a escola e também no ambiente de saúde.

No contexto hospitalar, comunicar a morte de um parente a uma criança é


tarefa do médico ou psicólogo, em alguns casos pode-se requisitar a presença do
pedagogo hospitalar. Nesta situação, é importante informá-la de maneira clara,
porém carinhosa, utilizando analogias para que ela assimile o acontecimento e,
buscando sempre situá-la da realidade. Além disso, deve-se procurar estar sempre
acompanhado de um familiar, para que possa lhe proporcionar aconchego e
carinho.

O pedagogo hospitalar pode não se sentir apto a acompanhar o momento


em que a notícia será dada à criança e, isso não significará despreparo profissional
ou fraqueza de sua parte. Vale lembrar que somos dotados de sentimentos e é
importante conhecê-los para o estabelecimento de nossos próprios limites.

Assim, acadêmico(a), busque tomar conhecimento se na sua região há


atuação do pedagogo nos hospitais e faça uma visita para conhecer de perto seu
trabalho. Caso não exista a atuação deste profissional nos hospitais perto de você,
busque saber mais por meio de leituras!

Bons estudos!

206
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• As crianças reagem à hospitalização e as fantasias elaboradas em relação a este


momento nas diferentes fases do desenvolvimento.

• O papel do pedagogo hospitalar e de que forma é a atuação deste profissional


num ambiente de fragilidade.

• A brinquedoteca hospitalar, bem como, seus benefícios na conduta do


tratamento das crianças hospitalizadas e a condição que este ambiente traz no
fortalecimento do vínculo entre a criança e seus familiares.

• As dificuldades enfrentadas pela criança em relação à morte e como desenvolver


trabalhos relativos e este tema tão delicado.

207
AUTOATIVIDADE

Agora que você concluiu os estudos referentes a este tópico, responda às


questões a seguir:

1 A maioria das pessoas apresenta resistência ao tratar de um assunto tão


delicado quanto à morte, principalmente quando este tema deve ser tratado
com uma criança. Diante do pressuposto, assinale V para as alternativas
verdadeiras e F para as falsas:

( ) É função do pedagogo hospitalar comunicar à criança o falecimento de


um ente querido.
( ) A notícia deve ser transmitida de forma breve, sendo desnecessário
importar-se com a reação da criança.
( ) Deve ser permitido à criança que questione sobre os acontecimentos,
respondendo a ela conforme seu nível de compreensão.
( ) Os adultos precisam ter consciência que é preciso omitir o falecimento de
um ente querido até que a criança tenha idade para entender.

Agora, assinale a sequência CORRETA:


( ) F – F – V – F.
( ) F – V – V – F.
( ) V – V – F – F.
( ) V – V – V – F.

208
UNIDADE 3
TÓPICO 3

PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico(a)! Neste momento, você vai conhecer um campo de trabalho,
em que a contribuição do pedagogo é de grande valia: a pedagogia organizacional.
Um campo relativamente novo para esta categoria profissional junto ao setor
de Recursos Humanos (RH), especialmente no contexto brasileiro. Porém, seus
saberes são fundamentais para o desenvolvimento de atividades que dirigem o
aperfeiçoamento dos trabalhadores que constituem uma organização.

2 O PAPEL DO SETOR DE RECURSOS HUMANOS NO


TREINAMENTO DE PESSOAL
A partir deste momento você acompanhará em seus estudos alguns
conceitos e instrumentos referentes ao setor de recursos humanos. O pedagogo
atuará diretamente ao ser inserido neste departamento de uma organização; para
tanto, é importante que esteja familiarizado com uma atividade diretamente
ligada a sua atuação: o treinamento.

O treinamento é uma das inúmeras atividades pertinentes ao setor de recursos


humanos, sendo primordial na formação profissional, por meio do repasse de
informações e interiorização de conhecimentos aos colaboradores. Este movimento
está voltado ao aumento e aprimoramento das habilidades dos envolvidos.

FIGURA 102 – TREINAMENTO

FONTE: Disponível em: <http://www.acil.com.br/treinamentos-e-palestras>. Acesso


em: 29 dez. 2013.

209
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Carvalho (2006) afirma que as ações de treinamento profissional necessitam


incorporar um caráter de aprendizagem ativa ou aprendizagem viva, ou seja,
caracterizam-se pelo grau de interesse, vibração e entusiasmo dos participantes;
para isso, seus conteúdos programáticos devem trazer informações apropriadas,
que prendam a atenção, cativem e atraiam o interesse dos participantes.

O treinamento está de várias formas ligado à educação, visando que este


movimento implica despertar dons, aptidões e capacidades que, na maioria das
vezes encontram-se adormecidos.

Carvalho (2006, p. 15) considera que:

O processo educativo tem como função estruturar o homem na sua


condição subjetiva. O ambiente em que vive é um dos meios que
contribuem para a sua constituição. Desse modo, entendemos que a
educação se dá desde o nascimento do ser humano, que precisa de
amparo e referencial. Esse é o sustentáculo para que possa ao longo
de sua existência, ter condições de enfrentar dificuldades e obstáculos
naturais que a vida impõe. Esse período no qual ele vai adquirir
defesas, aptidões, dons, entre outras características. Além da família,
outros ambientes também vão contribuir para seu convívio social,
sendo a escola um dos universos favoráveis para esse aprendizado.

A inserção na vida laboral possibilita ao indivíduo demonstrar, mesmo


que for de forma velada, sua dinâmica pessoal e a maneira com que lida com as
dificuldades que o cotidiano lhe impõe. O treinamento, articulado à educação,
estimula o crescimento e o desenvolvimento do ser humano, preparando-o
profissionalmente e levando em conta sua capacidade física, intelectual e moral,
na intenção de integrá-lo de forma individual e social aos outros colaboradores,
diante das especificidades de cada organização.

FIGURA 103 – INTEGRAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://brazil.leroymerlin.com/pt-br/organizacao>.


Acesso em: 29 dez. 2013.

210
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

Carvalho (2006) afirma que, quando devidamente implantado, o


treinamento traz as seguintes vantagens para as organizações:

• possibilidade de estudo e análise das necessidades de treinamento de toda a


organização, envolvendo os diversos níveis hierárquicos da organização;
• favorecimento das prioridades de formação, tendo em vista os objetivos
setoriais da organização;
• caracterização dos vários tipos e formas de desenvolvimento de pessoal,
considerando os seguintes aspectos: viabilidade, vantagens, custos, entre
outros fatores;
• elaboração dos planos de capacitação de pessoal a curto, médio e longo prazo,
podendo integrá-los às metas globais da empresa.

Este mesmo autor destaca outros benefícios da aplicação do programa


de treinamento relacionados ao: mercado de trabalho, ao pessoal em serviço e à
organização. São assim classificados:

Quanto ao mercado de trabalho

• definição das características e atribuições dos empregados;


• racionalização dos métodos de formação e aperfeiçoamento de colaboradores;
• melhoria dos padrões profissionais dos treinados.
Quanto ao pessoal em serviço
• possibilidade de aproveitamento das aptidões dos colaboradores;
• favorecimento e estabilidade de mão de obra;
• favorecimento ao espírito de competição e fortalecimento da confiança como
processo normal de melhoria funcional;
• valorização do trabalho e elevação do ambiente moral da empresa.

FIGURA 104 – VALORIZAÇÃO DO PROFISSIONAL

FONTE: Disponível em: <http://euacheiprimeiro.com/blog/2013/01/07/como-ser-


feliz-no-trabalho/valorizacao-profissional-2/>. Acesso em: 29 dez. 2013.

211
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Quanto à organização

• aprimoramento dos produtos e serviços produzidos;


• possibilidades de implantação ou transformação dos programas de trabalho;
• disponibilidade para os postos de gerência e supervisão imediata na própria
organização;
• melhores condições de adaptação aos progressos da tecnologia industrial;
• economia de custos pela eliminação dos erros na execução do trabalho;
• condições de competitividade, em razão da capacidade de oferecer melhores
produtos e serviços;
• maior segurança econômica, em virtude da maior estabilidade de pessoal;
• tendência à diminuição dos acidentes e do desperdício pela melhoria das
técnicas de trabalho.

Como observamos, acadêmico(a), tanto as organizações quanto seus


colaboradores, se beneficiam ao investir em qualificação profissional, pois além das
vantagens acima citadas, a organização cresce na questão de qualidade de vida aos
colaboradores, caracterizando marketing indireto, ou seja, tornando-se atrativa para
que outros profissionais se candidatem-se a fazer parte de seu quadro.

FIGURA 105 – CANDIDATO

FONTE: Disponível em: <http://www.guiadasdicas.com/2010/05/como-


selecionar-candidatos-emprego.html>. Acesso em: 29 dez. 2013.

A proposta de treinamento deve ser sustentada nas demandas reais e


atuais da organização. Para tanto, cabe ao setor de Recursos Humanos realizar a
pesquisa de intenção de treinamento. A aplicação desta pesquisa pode ser feita
via questionário ou por meio de entrevista com os líderes e/ou colaboradores.

212
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

FIGURA 106 – ENTREVISTA DE INTENÇÃO DE TREINAMENTO

FONTE: Disponível em: <http://www.faculdadeunicampo.edu.br/curso.


php?subgrupo=3&tipo=pos>. Acesso em: 29 dez. 2013.

Depois de concluída a pesquisa, outros passos devem ser seguidos,


conforme nos mostra Carvalho (2006):

• estudo dos princípios de aprendizagem aplicados ao treinamento;


• eleição de métodos e técnicas de capacitação;
• programação do treinamento;
• avaliação dos resultados de desenvolvimento de RH.

Estes pontos são fundamentais para a elaboração do plano de capacitação,


pois viabilizam ao RH o traçado dos objetivos a serem alcançados, além de,
possibilitar a identificação de temas pertinentes a treinamentos futuros, baseados
nos resultados da avaliação final.

Outra questão de igual importância está na formulação do diagnóstico


organizacional, que condiz a atual situação da organização no momento. Carvalho
(2006) baseia-se em três áreas a serem analisadas para sua formulação:

• análise da empresa: indicação de seguimentos onde o treinamento se faz


necessário;
• análise das tarefas: identificação de em que e como o colaborador deve realizar
o trabalho;
• análise psicológica do colaborador: caracterização de quais atitudes, habilidades e
conhecimentos são necessários para que o empregado possa exercer suas funções.

213
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

A pesquisa de necessidades constitui uma tarefa que requer dedicação


e implicação de todos os especialistas na área de formação do RH, entre eles,
o psicólogo, o pedagogo, o analista de RH, entre outros, principalmente se a
necessidade de treinamento for em virtude de resultados imediatos.

Conforme Carvalho (2006), algumas perguntas necessitam ser respondidas


de maneira atualizada, pois nortearão os rumos dos trabalhos a serem efetuados,
são elas:

• Quem está necessitando de formação?


• Onde há urgência de treinamento?
• Que tipo de treinamento é necessário?

Traçar o perfil do treinamento a ser ministrado, facilitará a condução das


ações, porém é necessário que os especialistas tenham consciência de que os dados
precisam ser fidedignos, ou seja, não podem restar dúvidas, pois influenciarão
diretamente nos demais passos de elaboração da formação.

Carvalho (2006) sustenta que merecem citação, os aspectos relacionados à


influência da pesquisa no que tange à postura da organização:

• situação da empresa no mercado;


• nível tecnológico em que se encontra a organização;
• racionalização administrativa;
• meio ambiente onde a empresa atua.

FIGURA 107 – ORGANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE

FONTE: Disponível em: <http://www.cpt.com.br/noticias/gestao-ambiental-


planejamento-estrategico-empresas>. Acesso em: 29 dez. 2013.

214
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

O próximo passo para a efetivação de uma formação exitosa é o


planejamento. Planejar, acadêmico(a), faz parte de todas as ações não só da
organização, mas também de nossas vidas, pois sem planejamento perdemos o
rumo do que objetivamos, tanto para nós, quanto para quem faz parte de nossa
convivência.

Carvalho (2006) considera que planejar uma atividade de treinamento


requer que enquanto equipe, sejamos descritivos e seletivos diante dos fatos
ocorridos no âmbito de RH, sendo projetadas ações pertinentes ao futuro próximo
além do alcance de objetivos, procedimentos e programas relativos à formação
profissional.

Diante disto, Carvalho (2006) destaca as principais finalidades a serem


alcançadas, pelo pedagogo organizacional:

• desenvolvimento de políticas de treinamento da empresa;


• estabelecimento de procedimentos, padronizando métodos de formação;
• definição orçamentária da unidade de treinamento, com a respectiva fixação de
recursos financeiros para os programas de desenvolvimento de RH;
• programação da atividade de formação, estabelecendo prioridades e sequências
de cada componente da programação;
• desenvolvimento de estratégias de treinamento, decidindo quando e como
alcançar os objetivos propostos;
• fixação de objetivos de treinamento, estabelecendo os resultados finais
desejados;
• cumprimento dos planos de formação através da implantação de controles
eficientes.

Existem outros fatores que permeiam a construção de um processo de


treinamento: organização, processo de aprendizagem, instrução e autoavaliação.
Todos estes quesitos são construídos e ordenados pela equipe de Recursos
Humanos, sendo que cada profissional do grupo de RH é responsável por uma
parte que compõe este processo.

O ambiente corporativo espera que os profissionais que o compõem estejam


prontos para atuar sob pressão, neste caso, estar em uma equipe responsável pela
formação dos grupos pertencentes à organização, exige que o indivíduo saiba
planejar suas ações de maneira eficaz; considerando que a qualquer momento
pode ser chamado a prestar esclarecimentos sobre seu trabalho.

215
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

DICAS

Acadêmico(a)! Este filme retratará algumas rotinas organizacionais, entre elas:


entrevista, seleção e treinamento. Confira!

Chris Gardner (Will Smith) é um pai de família que


enfrenta sérios problemas financeiros. Apesar de todas
as tentativas em manter a família unida, Linda (Thandie
Newton), sua esposa, decide partir. Chris agora é pai
solteiro e precisa cuidar de Christopher (Jaden Smith), seu
filho de apenas cinco anos. Ele tenta usar sua habilidade
como vendedor para conseguir um emprego melhor,
que lhe dê um salário mais digno. Chris consegue uma
vaga de estagiário numa importante corretora de ações,
mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua
esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele
seja contratado e assim tenha um futuro promissor na
empresa. Porém seus problemas financeiros não podem
esperar que isto aconteça, o que faz com que sejam
despejados. Chris e Christopher passam a dormir em
abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que
consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de
que dias melhores virão.

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54098/>.

Acadêmico(a)! Você estudou o que significam alguns dos principais


trâmites do processo de treinamento, ou seja, conheceu mais precisamente a
área de atuação saberes do pedagogo, bem como sua importância dentro de uma
organização, e a partir de agora você estudará como esses saberes serão aplicados.
Bons estudos!

3 O PEDAGOGO NAS ORGANIZAÇÕES


A inserção do pedagogo nas organizações está vinculada a necessidade
de formação e preparação do setor de Recursos Humanos. A atuação deste
profissional está diretamente ligada à filosofia e à política adotadas neste ambiente.

A pedagogia organizacional utiliza-se de elementos que objetivam


articular entre o desenvolvimento das pessoas e as estratégias adotadas pela
organização, respeitando os princípios objetivos e a missão desta.

Ribeiro (2010) coloca que as ações do departamento de Recursos Humanos


ultrapassam aspectos instrumentais, sendo este um setor que difere dos demais,
pois trabalha questões diretamente relacionadas à dinâmica das relações entre o
indivíduo, o ambiente de trabalho e a sociedade. A organização é, sobretudo, um
espaço de valorização da dimensão e da dignidade humana.

216
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

As atividades desenvolvidas pelo RH possibilitam o aperfeiçoamento


profissional dos colaboradores, buscando auxiliá-los na formulação de novas
visões sobre um contexto, podendo ser este um assunto organizacional em
específico ou relacionado à qualidade de vida.

Os temas a serem discutidos em treinamentos referem-se às questões


atuais que necessitam ser trabalhadas, ocasionando além do aperfeiçoamento
profissional, mudanças na vida deste indivíduo. O treinamento consiste em
estratégias que objetivam a socialização dos conhecimentos internos (no que
tange ao ambiente de trabalho) e externos (o social), respeitando a singularidade
do indivíduo.

Assim, Ribeiro (2010, p. 11) chama nossa atenção na importância do papel


da organização neste sentido:

Considerando-se a Empresa como essencialmente um espaço


educativo, estruturado como uma associação de pessoas em torno
de uma atividade com objetivos específicos e, portanto, como um
espaço também aprendente, cabe à Pedagogia a busca de estratégias e
metodologias que garantam uma melhor aprendizagem/apropriação
de informações e conhecimentos, tendo sempre como pano de fundo
a realização de ideais e objetivos precisamente definidos. Tendo
como finalidade principal provocar mudanças no comportamento
das pessoas de modo que estas melhorem tanto a qualidade do seu
desempenho profissional quanto pessoal.

O pedagogo, em espaços organizacionais, promove aos colaboradores


oportunidades de reconstrução de conceitos considerados básicos, como
criatividade, trabalho em equipe, autonomia na expressão de emoções e de
habilidades cognitivas.

FIGURA 108 – TRABALHO EM EQUIPE

FONTE: Disponível em: <http://www.agendor.com.br/blog/organizando-sua-equipe-


de-trabalho/>. Acesso em: 29 dez. 2013.

217
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Ribeiro (2010) enfatiza que a pedagogia organizacional se ocupa


basicamente com os conhecimentos, as competências, as habilidades e as atitudes
consideradas indispensáveis e necessárias à melhoria da produtividade.

Para que isso seja possível, o pedagogo busca por meio da implantação
de programas de qualificação e requalificação profissional, gerar produção de
conhecimento, estruturando o setor de treinamento através de pesquisas que
informem as necessidades da organização, adaptando metodologias que forneçam
elementos para a melhora da comunicação diante das práticas de treinamento.

Ribeiro (2010 apud ALMEIDA, 2006, p. 7) destaca outras possibilidades


de atuação do pedagogo organizacional:

• coordenação de ações culturais em gibitecas, brinquedotecas, parques


temáticos, fundações culturais, teatros, parques e zoológicos;
• desenvolvimento dos recursos humanos em empresas;
• direção e administração de instituições de ensino;
• elaboração de políticas públicas, visando à melhoria dos serviços à população
em autarquias, hospitais e governo nas esferas municipais, estaduais e federais;
• gestão e desenvolvimento de conselhos tutelares, centros de convivência,
abrigos e organizações não governamentais.

FIGURA 109 – AÇÃO CULTURAL NA BIBLIOTECA

FONTE: Disponível em: <http://www.educacao.al.gov.br/comunicacao/sala-de-


imprensa/noticias/2013-1/maio/acoes-culturais-transformam-a-rotina-da-escola-
geraldo-melo>. Acesso em: 29 dez. 2013.

218
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

O autor anteriormente citado, menciona algumas das possibilidades, no


que condiz à gestão de pessoas:

• coordenar equipes multidisciplinares no desenvolvimento de projetos;


• evidenciar formas educacionais para a aprendizagem organizacional
significativa e sustentável;
• possibilitar mudanças culturais no ambiente de trabalho;
• definir políticas que busquem o desenvolvimento humano permanente;
• prestar consultoria interna voltada ao treinamento das pessoas inseridas na
organização.

FIGURA 110 – CONSULTORIA

FONTE: Disponível em: <http://www.logosce.com.br/serv_cons_empr.


php>. Acesso em: 29 dez. 2013.

Observe, acadêmico(a), as possibilidades de atuação do pedagogo


organizacional são vastas. Para Ribeiro (2010) existem quatro campos importantes
na elaboração e execução das atividades elaboradas por este profissional, que são:
pedagógico, burocrático, social e administrativo.

Estes campos permitem ao pedagogo atuar em escolas e empresas com


funções de natureza técnico-pedagógica e administrativa, visando à proposição
de objetivos e metas a serem alcançados diante de um diagnóstico que espelhe a
realidade vivenciada, tendo em vista outras atividades que cabem ao pedagogo:
propor e coordenar atualização de profissionais em empresas e órgãos ligados
à área educacional; coordenar serviços de campo das relações interpessoais;
planejar, controlar e avaliar o desempenho profissional dos colaboradores;
assessorar empresas no entendimento de assuntos pedagógicos atuais.

219
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Diante de todas estas possibilidades, faz-se necessário lembrar que


a formação do pedagogo organizacional deve ser também direcionada,
ou seja, incluir especialização em disciplinas distintas. Ribeiro (2010) nos
lembra que para o pedagogo interessado em atuar na área organizacional,
será necessário reforçar seus estudos em: Didática Aplicada ao Treinamento,
Jogos e Simulações Empresariais, Administração do Conhecimento, Ética nas
Organizações, Comportamento Humano nas Organizações, Cultura e Mudança
nas Organizações, Educação e Dinâmica de Grupos: Relações Interpessoais nas
Organizações, Desenvolvimento Organizacional e Avaliação do Desempenho.

O ambiente organizacional exige um profissional implicado e conhecedor


das rotinas e normativas que regem o sistema corporativo, para isso acadêmico(a),
conhecer o funcionamento de uma organização, bem como, seus setores e
processos, é essencial para a elaboração de projetos pertinentes aos colaboradores
que atuam nela. Fica a dica!

3.1 TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO: O ESPAÇO DE


TRABALHO DO PEDAGOGO ORGANIZACIONAL
Atualmente as organizações têm investido grande parte de seus recursos
em tecnologia, objetivando modernizar a produção. Diante deste cenário, é
preciso entender que para cada novo recurso voltado à produtividade, deve
existir alguém que coloque esta máquina em funcionamento.

Artigos tecnológicos pouco representam se o maior patrimônio de uma


organização não for bem preservado, este bem maior são as pessoas. Para que
isso aconteça é necessário que alguns investimentos sejam feitos por parte da
organização, que correspondem à capacitação de seus colaboradores.

Ribeiro (2010, p. 19) coloca que

em primeiro lugar cabe questionar o que está sendo entendido


como “novos métodos” e de que forma estes se diferenciam
daqueles considerados tradicionais. Além disso, há de se investigar
que motivações/razões as empresas têm para estar cada vez mais
insatisfeitas com os métodos identificados. Em segundo lugar, há
de se proceder à diferenciação entre níveis e formas de formação
profissional oferecida pelas empresas. Tradicionalmente, os interesses
de formação profissional e os de aperfeiçoamento profissional têm
sido tratados separadamente.

Entender que as organizações são ambientes que proporcionaram formas


de aprendizagem é o primeiro passo para que o pedagogo demonstre o quanto
seu trabalho é importante, para tanto, é preciso esclarecer sobre os processos
sistêmicos que serão aplicados naquele local.

220
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

Para Ribeiro (2010) os enfoques sistêmicos correspondem aos processos


de aprendizagem em uma empresa, nos quais privilegiam um planejamento
que contemple o ensino e a aprendizagem como faces de um mesmo processo
considerados indissociáveis, ou seja, beneficiam-se deste momento tanto quem
ensina quanto quem aprende.

Para que o plano de capacitação seja aplicado na organização é necessário


que seja estabelecida uma projeção direcionada à visão didático-metodológica com
foco nas estratégias a serem adotadas; tal visão objetiva a melhora na formação
profissional do público organizacional e que correspondendo às expectativas da
organização.

Estabelecer uma política de aperfeiçoamento profissional significa


implantar, modificar ou talvez ampliar a cultura de aprendizagem neste espaço.
Ao sugerir este movimento o pedagogo perceberá como as propostas serão
recebidas e quais resistências se farão presentes.

Em termos de treinamento, podemos dizer que muitos foram os avanços


nesta área. Sendo assim, Ribeiro (2010) nos apresenta as dimensões utilizadas
pelas organizações e os métodos aplicadas na formação dos colaboradores:

a) competência na atuação: a metodologia e a didática aplicadas a esta dimensão


estão pautadas na ideia do instrumental, ou seja, na transmissão de informações
e aplicação das mesmas no ambiente de trabalho;
b) competência técnica: neste caso é enfatizado o uso de técnicas como discurso/
conferência, debates, utilização de audiovisuais, projeto guiado, simulações,
projetos individuais, trabalho com textos em pequenos e grandes grupos;
c) competência para a autoaprendizagem: técnicas variadas objetivando o
aprender a trabalhar;
d) competência social: os trabalhos são propostos a partir da formação de equipes
e aplicação de métodos de comunicação.
Diante das mudanças que ocorreram nas práticas de treinamento paralelas
às transformações na cultura organizacional, percebemos que a maneira como
devem ser aplicadas necessitam ser diferenciadas devido às várias formas de
interpretação e interiorização das informações pelos colaboradores.

Para que as demandas de treinamento sejam atendidas com eficácia, as


organizações vêm fazendo uso de recursos utilizados em outras áreas. Neste
caso, o pedagogo organizacional precisa estar atento, para que estes instrumentos
sejam selecionados e utilizados de forma adequada. Ribeiro (2010, p. 45) destaca
a utilização correta destes:
Discurso/Conferência: método didático mais utilizado no âmbito do
aperfeiçoamento profissional nas empresas. Caracteriza-se pela pouca
participação ativa do aluno cujo papel principal é escutar, pensar e
anotar. Modernamente, espera-se o estabelecimento de um diálogo
entre o palestrante e o grupo a partir das reações deste ao que está
sendo apresentado. Diálogo: neste método, prevalece também o papel
do professor/instrutor que aborda somente os conteúdos definidos pelo

221
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

docente (conhecimento, técnicas, habilidades, atitudes). Não raro, o


diálogo acontece mecanicamente; os alunos esforçam-se para descobrir
a resposta que o professor espera obter em cada pergunta. Utilização
de audiovisuais: ainda que permita ativar vários sentidos ao mesmo
tempo e melhorar o grau de retenção da informação, os audiovisuais
normalmente são utilizados de modo que os aprendizes assumem um
papel de observadores passivos aos quais não é permitida a elaboração
própria, um outro problema é a qualidade dos materiais utilizados e a
forma como são utilizados. Quando preparados de modo inadequado
(com excesso de informação, letras muito pequenas, imagens pouco
claras...) acabam por distrair a plateia.

FIGURA 111 – CONFERÊNCIA

FONTE: Disponível em: <http://softwarelivre.org/paulomarcos/blog/ilheus-conferencia-


estadual-de-cultura-reune-quase-2-mil-pessoas>. Acesso em: 29 dez. 2013.

Outros recursos podem ser utilizados como dinâmicas de grupo,


questionários de necessidades de treinamento, avaliação de resultados da
capacitação ministrada, entre outros. Estes recursos objetivam viabilizar melhores
condições de acesso às informações fornecidas durante o treinamento e averiguar
possíveis demandas que deixaram de ser abordadas.

Ribeiro apud Milioni (1989) reforçar que o pedagogo organizacional deve


ter características atenuantes como sensibilidade e capacidade perceptiva, a fim
de desenvolver ações, em busca da:

• necessidade de superar a rotina ou em administrá-la para que não cause


contratempos no desenvolvimento de ações estratégicas;
• visão prospectiva da organização, de seus produtos e serviços de modo que se
proceda uma seleção prévia dos segmentos que serão alvo da ação;
• a proposição de respostas e contribuições para problemas e/ou necessidades
identificadas;
• percepção e o estabelecimento de prioridades;
• formulação de objetivos claros e precisos para as ações consideradas prioritárias;
• adoção de medidas com vistas à melhoria da imagem organizacional;
• realização de ações que estimulem o comprometimento de todos.
222
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

UNI

Acadêmico(a)! Prospecção significa um estudo que investiga o que acontece de


agora para frente em relação ao que se pretende estudar.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/prospectivo/>. Acesso em 25


dez. 2013.

É importante lembrar que a efetivação dos conhecimentos, competências,


habilidades e atitudes, dependem do grau de comprometimento e envolvimento
do colaborador na apropriação dos conteúdos, metas e métodos utilizados na
mediação da aprendizagem.

Os novos métodos didáticos centram-se no pensar e no atuar do colaborador


(esta nomenclatura é utilizada na linguagem organizacional em substituição ao termo
funcionários), visando ao desenvolvimento de capacidades que visem solucionar
tarefas complexas; estas capacidades proporcionam as condições necessárias para
o aprimoramento da independência e responsabilidade, pertinentes às fases de
planejamento, execução e controle das atividades da organização.

O trabalho nas organizações provoca o pedagogo a buscar novas


metodologias, assumindo uma postura que vai muito além do papel de docente,
partindo do princípio que neste local a aprendizagem deve concentrar-se na
estimulação da independência dos que aprendem.

FIGURA 112 – ESTIMULAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

FONTE: Disponível em: <http://segurancasaude.blogspot.com.br/2010/07/


motivacao-organizacional-isso-interfere.html>. Acesso em: 29 dez. 2013.

223
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Ribeiro (2010) chama a nossa atenção ao mencionar que o planejamento


da independência do aprendente é programado pelo professor, sendo que este
movimento é organizado sem a participação dos alunos.

Na área de recursos humanos, o pedagogo deve ter conhecimento e


consequentemente, acesso a métodos de aprendizagem direcionados à experiência
dos colaboradores, para que o planejamento seja efetivo e obtenha o resultado
esperado.

Este movimento da aprendizagem partindo da experiência dos


colaboradores, não significa em nenhum momento que o docente necessite abrir
mão da direção do processo, mas a postura adotada deve assegurar a liberdade
de crescimento do aprendente.

Ratifica-se que a seleção de métodos e técnicas didático-pedagógicos


em uma empresa depende de alguns fatores, como tamanho da
empresa, tipo da atividade que desenvolve política de recursos
humanos, concepção de treinamento/desenvolvimento de recursos
humanos, nível de formação dos profissionais que nela atuam. No
contexto atual, a informática permite disponibilizar conhecimentos
de forma ágil, provocando o afastamento do homem do sistema de
trabalho direto, dedicando-se a funções de planejamento, preparação,
controle e avaliação. Este fato aponta para transformações do conteúdo
da atividade profissional técnica. (RIBEIRO 2010, p. 30).

Proporcionando a ampliação dos conhecimentos profissionais por meio da


qualificação oferece-se condições ao indivíduo, de despertar o desejo da mudança
e ampliar as capacidades necessárias para o seu desenvolvimento técnico e pessoal.

Ribeiro (2010, p. 31) enfatiza esta questão ao mencionar que

A mudança constante é uma prerrogativa dos processos de aprendizagem


nas empresas. Mudam tanto as funções quando os aspectos didático-
metodológicos na institucionalização da aprendizagem. Na medida em
que a tarefa de formação nas empresas assume um caráter antecipativo
e contínuo em termos de qualidade, o trabalho de manutenção da
qualificação profissional é acompanhado da tarefa de preparar, apoiar
e dirigir processos de mudança. Este dado provoca mudanças nos
métodos de formação que evoluem de uma aprendizagem transmitida
para uma aprendizagem orientada na ação e na experiência.

UNI

Acadêmico(a)! A palavra prerrogativa mencionada no início da citação acima


significa privilégio, regalia, direito exercido e inerente a uma corporação, a um cargo, a uma
profissão etc.; vantagens especiais e possuídas por certas pessoas que pertencem a algum
grupo, instituição específica.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicio.com.br/prerrogativa/>. Acesso em: 28 dez. 2013.

224
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

A mudança é uma constante na vida da organização, por isso os aspectos


didático-metodológicos também precisam acompanhar este movimento,
principalmente na formulação das capacitações. É importante frisar que para
cada setor cabe uma metodologia diferenciada.

Ao possibilitarmos que a organização incorpore em suas ações os


processos pertinentes à formação continuada, o aprender torna-se uma parte
integrante desta, proporcionando a ampliação de suas ações e fortificando seus
vínculos com os colaboradores.

Neste sentido, como bem denota Ribeiro (2010), a formação de laços mais
estreitos entre a organização de seus colaboradores, possibilita a adoção de uma
postura acompanhada de uma pedagogizacão das ações de gestão organizacional,
focando na estimulação e desenvolvimento da capacidade de auto-organização e
crescimento da massa colaborativa, com intento de motivar, admitir e coordenar
todos os setores, indo além da velha ideia de confiabilidade no trabalho executado.

Cabe ao departamento de recursos humanos a responsabilidade


pela formação profissional, bem como a busca da elevação do potencial de
aprendizagem existente nos demais setores, fortalecendo as questões relativas
à aprendizagem no próprio espaço de trabalho. Isso provoca o pedagogo
organizacional a assumir este papel. Assim, o pedagogo deixará de ser visto como
um instrutor para assumir uma posição de assessor, responsável pelos processos
de formação e desenvolvimento organizacional a partir de critérios estratégicos.

Assumindo esta postura, o pedagogo organizacional irá se deparar com


novos desafios provocados no cotidiano corporativo, sendo que um dos principais
problemas refere-se à questão de ampliar a visão do colaborador ao se deparar
com situações-problema.

Seguindo esta ideia, Ribeiro (2010, p. 33) destaca que


Nessa perspectiva, cabe destacar a relevância que o desenvolvimento
de competências e o exercício destas têm no âmbito das organizações,
pois, refere-se à capacidade de adequar/transformar conhecimentos e
tecnologias. Considerando-se que, por outro lado, competência remete
à ideia de personalidade, é necessário que o pedagogo empresarial
compreenda que, no contexto organizacional, os conhecimentos
demandados ou construídos refletem os significados construídos
pelas pessoas que compõem a organização.

O pedagogo que pretende constituir carreira em uma organização deve


ter clareza da singularidade de cada indivíduo que a compõe, para isso, deve
buscar conhecer os perfis de personalidade presentes em cada setor, como
por exemplo a origem do colaborador, uma superficial constituição familiar, e
principalmente estar atento às formas utilizadas pelo mesmo para a resolução de
situações problema.

225
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Ao ser sensível a estas questões, o pedagogo organizacional terá um


material rico para a formulação de capacitações, workshop, palestras entre outras
atividades que objetivem o crescimento pessoal deste indivíduo mediante as
dificuldades que ele apresenta.

FIGURA 113 – WORKSHOP

FONTE: Disponível em: <http://www.strategos.org.br/strategosinstitucional/index.php/


noticias/64-workshop-ocb>. Acesso em: 29 dez. 2013.

Porém cabe mencionar que o pedagogo também deve possuir além de


conhecimentos específicos da área corporativa, algumas características que
constituirão um perfil adequado para ocupar este cargo. Ribeiro (2010) assinala
as principais:

a) trabalhar em equipe: esta é uma marca registrada no ambiente organizacional,


portanto, torna-se indispensável. Neste formato é normal que existam alguns
elementos que exercem forte influência sobre as decisões ou os comportamentos
de outros componentes, sendo também presente o contrário. Alguns apenas
se submetem às determinações do líder. Nesta condição, cabe o pedagogo
possibilitar o equilíbrio do grupo a partir da criação de oportunidades de
expressão dos membros da equipe, partindo do pressuposto que a cooperação
é um valor profissional.
b) Dirigir um grupo de trabalho e conduzir reuniões: mediar um momento cujo
objetivo é direcionar os trabalhos a serem realizados ou uma importante
decisão, é uma tarefa árdua e de responsabilidade, significa dar vida à equipe
que dela participa. Para que este papel seja exercido com êxito, é primordial
que a equipe não confunda liderança com autoridade administrativa. Porém,
para evitar certos tipos de comportamento como: todos falando ao mesmo
tempo, ninguém expondo seu ponto de vista, perda do rumo da discussão,

226
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

monopolização da fala por uma única pessoa e o término do encontro sem


definição de data para a devolutiva das ações discutidas; o coordenador deve
ter um olhar minucioso, tendo referenciais teóricos e práticos para intermediar
e intervir nas discussões, fazendo com que todos participem.

FIGURA 114 – CONDUZINDO REUNIÕES

FONTE: Disponível em: <http://blog.seac-rj.com.br/?p=2127>. Acesso em: 29


dez. 2013.

a) Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práticas e problemas


profissionais: uma dificuldade a ser enfrentada pelo pedagogo organizacional
é a insatisfação e as reclamações dos colaboradores, neste caso deve-se tomar
cuidado para que as práticas a serem adotadas não assumam uma dimensão
ativista, prejudicando o desempenho dos colaboradores e da própria
organização.

A intervenção do pedagogo organizacional é primordial para a prevenção


ou mediação dos conflitos, considerando que estes momentos são inerentes às
relações humanas e precisam ser vistos como formas de aprendizagem. Porém
são necessários alguns cuidados objetivando que estes sejam formas de trabalhar
intelectualmente sobre estes e os desafios reais surgidos com o conflito.

É preciso adotar uma postura que vise à menor manifestação possível de


emoção, em que o pedagogo deverá discernir da melhor maneira as necessidades
de treinamento, planejando as atividades com clareza e identificando as
prioridades.

Mediar conflitos implica adotar uma postura em que o colaborador ou


colaboradores envolvidos se sintam coagidos, garantindo às partes envolvidas
autonomia e controle nas decisões a serem tomadas.

227
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

A mediação conforme Ribeiro (2010) garante algumas vantagens ao


ser adotada como maior rapidez no processo, redução do desgaste emocional,
participação ativa dos envolvidos e privacidade de informações.

FIGURA 115 – MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

FONTE: Disponível em: <http://blog.algarmidia.com.br/papo-do-


empreendedor/?p=478. Acesso em: 29 dez. 2013.

O pedagogo organizacional deve estar atento aos esforços e desempenho


das pessoas envolvidas para que possa auxiliar, orientar e estimular os pontos
que necessitam melhorar. A sensibilidade, como vimos anteriormente, é outro
ponto de importante a ser observado no comportamento do(s) envolvido(s), pois
expõe o quanto demonstram maturidade em assumir erros e tomar decisões.

O líder envolvido no processo de mediador de conflitos deve ser alguém


envolvido no processo e assim se torna corresponsável pelos resultados obtidos.

3.2 A RELAÇÃO ENTRE PESSOAS E ORGANIZAÇÃO


Constantemente ocorrem mudanças em nossas vidas, através das escolhas
que fazemos como trocar de emprego, casamento, maternidade e paternidade etc.
ou por algo considerado inevitável, ficar mais velho, perda de um ente querido
etc., causando receio, ansiedade, alegrias e tristezas.

228
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

FIGURA 116 – MATERNIDADE E PATERNIDADE

FONTE: Disponível em: <http://giovannadonato.wordpress.com/2008/08/12/


maternidade-hospital-brasil-santo-andre/>. Acesso em: 30 dez. 2013.

Compreender intelectualmente as necessidades, vantagens e desvantagens


da mudança parecem simples, nosso questionamento parte de como vamos agir
mediante a partir da ocorrência destas.

Nas organizações, as mudanças, muitas vezes, são interpretadas como


algo que irá causar transtorno, pois movem as pessoas envolvidas da “zona
de conforto” em que se encontravam. As modificações feitas na estrutura
organizacional interpretadas negativamente ocorrem quando a massa corporativa
não é envolvida nos processos vigentes, e consequentemente estão preparadas
para a transição.

É preciso ter clareza que os impactos das mudanças, geram na organização


dúvidas, comentários paralelos baseados em incerteza e tensão, tais estendem-se
inclusive a vida social formados pelos grupos de convivência e a família deste
colaborador.

Ribeiro (2010) salienta que treinamentos e programas de formação


profissional que utilizam técnicas apropriadas para que os colaboradores se
reconheçam como parte deste processo sustenta as mudanças e possibilitam
melhoria na qualidade de vida.

229
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

FIGURA 117 – QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

FONTE: Disponível em: <http://daniellepsicorienta.blogspot.com.br/2010/08/


ginastica-laboral-uma-proposta-de.html>. Acesso em: 30 dez. 2013.

Durante a transição, os recursos humanos devem contribuir efetivamente


e responder conforme a realidade, quebrando crenças infundadas que se formam
ao longo do período em que a mudança se torna vigente. Assim enfatiza Ribeiro
(2010, p. 46):
Uma das alternativas metodológicas, neste contexto, é a gerência de
projetos que permite uma capacitação de pessoas e o aumento da
produtividade tanto em nível pessoal quanto organizacional. Do
ponto de vista conceitual projetos são empreendimentos ou conjunto
de atividades, únicos e não repetitivos, com metas fixadas dentro de
parâmetros de custo, qualidade e prazos.

Este autor observa alguns pontos considerados essenciais para a gerência


de projetos na organização:

1. Realização de diagnóstico situacional em relação à possibilidade de gerir


projetos.
2. Desenvolvimento de um projeto que visa à criação de uma gerência de projetos,
levando em conta o momento vivido da organização.
3. Apresentação à diretoria um executive briefing visando à construção de
estratégias e comprometimento nas ações.
4. Formulação e realização de seminários objetivando a formação da gerência
média (supervisores e outros cargos de liderança) e colaboradores.
5. Desenvolvimento ou contratação de assessoria especializada para a implantação
dos projetos de mudança.

230
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

UNI

Acadêmico(a)! A expressão executive briefing significa compilar materiais, como


artigos, notícias, pesquisas, reportagens, entre outros, com o objetivo de fundamentar e
esclarecer dúvidas a respeito de projetos, mudanças ou outros programas a serem aplicados
na organização.

FONTE: Disponível em: <http://computerworld.uol.com.br/executive_briefing/#>. Acesso


em: 28 dez. 2013.

Sendo que as ações executadas em uma organização partem de projetos


previamente elaborados, cuja finalidade é garantir a obtenção de resultados
satisfatórios, vale ressaltar que cada organização adota um método de elaboração
personalizado, ou seja, a empresa determina o padrão dos projetos conforme
suas características, política, administração e cultura, adaptado a suprir suas
necessidades.

Ribeiro (2010, p. 122) nos orienta através de algumas características básicas


para a elaboração de um projeto:

1. define e detalha os passos a serem seguidos no desenvolvimento do


trabalho, explicitando as etapas a serem alcançadas, os instrumentos
e as estratégias a serem utilizadas. Este planejamento impõe uma
disciplina e organização do trabalho não apena no que diz respeito
aos procedimentos a serem adotados, mas também em termos da
organização do tempo, da sequência de roteiros e cumprimento de
prazos; planejamento é vital para uma ação;
2. atende às exigências de apresentação e discussão das propostas,
contribuindo para uma visão global do que será feito e de sua
pertinência (ou não) em relação ao problema/propósito da ação.
3. serve de base para a análise, a discussão e a avaliação dos resultados
obtidos. Os resultados só poderão ser julgados como satisfatórios (ou
não) à luz dos propósitos iniciais.
4. constitui base para a solicitação de financiamento e/ou alocação de
recursos financeiros para a sua realização;
5. configura-se como ponto de partida para a coordenação de
programas específicos.

Conforme anteriormente mencionado, um projeto é construído por várias


pessoas que estão envolvidas com o processo de treinamento, cada pessoa da
equipe torna-se responsável por uma das áreas a serem trabalhadas e em seguidas
apresentadas a diretoria.

Ribeiro (2010) nos orienta diante nos itens importantes na elaboração de


projetos:

231
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

a) Apresentação: caracteriza com clareza e objetividade a problemática que


originou a demanda do trabalho, bem como seus antecedentes motivadores.
b) Justificativa: através de informações quantitativas e qualitativas sobre a situação
real existente, detalha a ação projetada objetivando atender as necessidades.
c) Objetivos: decisivo da elaboração dos projetos, pois define o propósito e
explicita-se a natureza do trabalho a ser realizado.
d) Metas: representa a quantificação desses objetivos em um tempo e espaços
reais a serem postos em prática na organização.
e) Indicadores: caracterização dos resultados a serem obtidos, objetivando
facilitar os processos de acompanhamento, avaliação e controle.
f) Conteúdo: são os temas a serem desenvolvidos no projeto, ou seja, referem-se
aos conhecimentos, habilidades e atitudes resultantes da formação.
g) Metodologia: neste campo os métodos, possibilidades e enfoques da formação
serão definidos conforme a política de cada organização, porém alguns
aspectos precisam ser levados em consideração: a) relevância dos resultados
a serem obtidos e as conclusões propostas; b) clareza dos resultados; c) custos;
d) a objetividade e a precisão; e) o tempo de duração das atividades; f) a
disponibilidade de pessoal e equipamento; g) os aspectos éticos; h) a política
de recursos humanos; i) as prioridades de treinamento.
h) Atividades: a escolha de como as mesmas serão conduzidas devem responder
as indicações dos objetivos, das metas, dos requisitos e das metodologias
indicadas, sendo importante descrever o que será utilizado como: material
permanente, material de consumo, pessoal, equipamento e instalações.
i) Fluxo de trabalho: constitui-se de um roteiro com a finalidade de garantir o
cumprimento das metas e objetivos do projeto.
j) Cronograma: representa a listagem das etapas e das respectivas previsões de
tempo e execução.
k) Acompanhamento, avaliação e controle: esta etapa se refere à explicitação
das atividades realizadas para garantir o êxito do projeto tanto em termos
dos aspectos gerais quanto dos específicos da proposta. O acompanhamento
constitui-se como uma verificação sistemática do desenvolvimento de uma
atividade, em função dos limites do proposto e do realizado. O controle
evidencia o que, quando, como quanto, onde e por quem foi feita uma
terminada ação. A avaliação estabelece um juízo de valor sobre algo realizado,
a partir de um acompanhamento constante de todo o processo desencadeado
desde a concepção até a realização do projeto.
l) Custos: a previsão de custos é uma das variáveis mais importantes para a
tomada de decisões, tendo em vista que explicita os recursos financeiros
necessários à dinamização do projeto.
m) Organograma: fornece informações sobre as relações existentes entre os vários
grupos de trabalho envolvidos no projeto, e auxilia na sua visualização.

232
TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

FIGURA 118 – ORGANOGRAMA

FONTE: Disponível em: <http://www.catho.com.br/carreira-sucesso/gestao-


rh/organograma-entenda-sua-importancia-para-a-empresa>. Acesso em: 30
dez. 2013.

Ao apresentar um projeto à diretoria ou à gerência do setor no qual


demandou a formação, a equipe de RH deve ter clareza, precisão e objetividade
no momento de expor todos os passos, mostrando sintonia e segurança nos dados
e formas de como a capacitação acontecerá.

Acadêmico(a)! Lembramos que o pedagogo organizacional pode ser


requisitado a desenvolver outras atividades na organização, pois eles muito têm
a contribuir com seus saberes. É importante ressaltar o quanto o desenvolvimento
da sensibilidade o auxiliará a lidar com questões organizacionais, principalmente
com o anseio e as expectativas dos colaboradores e da própria organização, como
um todo.

DICAS

Acadêmico(a)! Caso queira aprofundar seus estudos sobre pedagogia


organizacional, sugerimos o livro: ALMEIDA, Marcus Garcia de. Pedagogia empresarial:
saberes, práticas e referências. Rio de Janeiro: Brasportt, 2006.

Boa leitura!

233
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você estudou que:

• O treinamento profissional necessita apresentar conteúdos programáticos que


sejam apropriados ao curso que, sejam criativos, cativem os participantes.
Para tanto os profissionais envolvidos neste processo necessitam possuir
conhecimento dos assuntos a serem abordados.

• Para Carvalho (2006) o treinamento quando bem executado possui muitas


vantagens, dentre eles estão: possibilidade de conhecer os diversos níveis
hierárquicos da empresa; favorecimento das prioridades de formação;
caracterização dos vários tipos e formas de desenvolvimento de pessoal;
construção de planos de capacitação de pessoal em curto, médio e longo prazo.

• O treinamento ainda possui suas vantagens quando bem aplicado nas áreas do
mercado de trabalho; ao pessoal em serviço; e quanto à organização.

• Para a formulação do diagnóstico organizacional é necessário a análise de três


áreas: a) análise da empresa; b) análise das tarefas; c) análise psicológica do
colaborador.

• Dentro do treinamento realizado pelo RH de uma empresa, é necessário ter


clareza do planejamento (que auxiliará nas ações que serão projetadas num
futuro próximo) e dos objetivos a serem alcançados.

• As atividades desenvolvidas pelo RH possibilitam o aperfeiçoamento profissional


dos colaboradores, buscando auxiliá-los na formulação de novas visões sobre
um contexto, podendo ser este um assunto organizacional em específico ou
relacionado à qualidade de vida.

• As possibilidades de atuação do pedagogo organizacional são: coordenar


ações culturais em brinquedotecas, parques temáticos etc.; desenvolvimento
dos recursos humanos em empresas; assumir a direção e a administração
de instituições de ensino; atuar na gestão e desenvolvimento de conselhos
tutelares, centros de convivência, abrigos e organizações não governamentais.

• As dimensões utilizadas pelas organizações são: competência na atuação;


competência técnica; competência para autoaprendizagem e competência social.

234
• O grau de comprometimento dos profissionais é de suma importância para sua
efetivação além de novos métodos didáticos centrados no pensar e no atuar do
colaborador, objetivando a o desenvolvimento de capacidades que auxiliem na
solução de tarefas complexas, aprimorado a independência e responsabilidade
do colaborador.

• O pedagogo organizacional deve possuir sensibilidade e clareza da


singularidade de cada colaborador, buscando conhecer sua origem, estando
atento às formas utilizadas pelo mesmo para a resolução de situações problema.

• O perfil adequado para um pedagogo organizacional são assim caracterizados


por Ribeiro (2010): a) saber trabalhar em equipe; b) saber dirigir um grupo
de trabalho e conduzir reuniões; c) Enfrentar e analisar em conjunto situações
complexas, práticas e problemas profissionais.

235
AUTOATIVIDADE

1 Quando falamos em treinamento articulado estamos nos referindo a


estímulos que são realizados no crescimento e desenvolvimento do ser
humano, preparando-o profissionalmente estimulando muitas de suas
capacidades. Desta forma é correto afirmar que:

( ) O ser humano é estimulado em suas capacidades física, espiritual e política.


( ) O ser humano é estimulado física, intelectual e moralmente, visando
integrá-lo à equipe.
( ) O ser humano é desestimulado em suas capacidades física, intelectual e
moral.
( ) O ser humano é estimulado principalmente no âmbito intelectual, pois este
é superior a todos os demais, ou seja, moral e fisicamente.

2 Vamos imaginar que você seja recrutado para ser um pedagogo


organizacional. Quais são as características que você deverá apresentar para
o entrevistador, para que ele possa classificá-lo para o cargo?

236
UNIDADE 3 TÓPICO 4
PEDAGOGIA CARCERÁRIA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico(a)! A educação carcerária é outra possibilidade de atuação do
pedagogo em ambientes não formais. Ela pode ser considerada uma ramificação
da pedagogia social, já vista no Tópico 1, desta unidade. O atuar do pedagogo em
penitenciárias implica consideravelmente acreditar no resgate da dignidade do
ser humano.

Durante este estudo, veremos um breve histórico do cárcere, a legislação


que ampara o indivíduo encarcerado e lhe dá direito à educação, a educação de
jovens e adultos nas prisões e o papel do pedagogo neste contexto.

2 BREVE HISTÓRICO DAS PRISÕES


Para iniciar nossos estudos sobre a educação carcerária, torna-se
fundamental conhecer um pouco da sua história e evolução, pois Fernandes
(2012), nos relata que as punições para as pessoas que descumpriam as normativas
sociais nem sempre foram da maneira como conhecemos hoje.

No século XVII, as punições eram aplicadas de forma violenta e em praça


pública, objetivando reforçar o poder monárquico.

FIGURA 119 – PUNIÇÃO EM PRAÇA PÚBLICA

FONTE: Disponível em: <http://blogfamigerados.blogspot.com.br/2013/08/


crime-e-castigo-os-25-piores-metodos-de.html>. Acesso em: 3 jan. 2014.

237
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

As prisões surgiram no século XVIII, com o intuito de punir, reeducar


e curar. Esta visão veio à tona após o movimento iluminista em criticar
arduamente a maneira de como eram aplicadas anteriormente. O século XIX
trouxe à humanidade duas finalidades a serem aplicadas às prisões: punir e
educar, fundamentando a reabilitação em três grandes princípios: o isolamento,
o trabalho e a modulação da pena.

Fernandes (2012) enfatiza que isolamento significa retirar o indivíduo


do convívio com o mundo exterior (família, amigos, atividades diárias e grupos
sociais), para que ele possa refletir e arrepender-se dos erros que cometeu,
prestar serviços durante o processo de reclusão, visava levar à transformação do
preso, tornando-o hábil ao retorno à sociedade. A modulação da pena apontava
que a duração do detento na prisão se daria por meio da observação e do
desenvolvimento, em termos de comportamento, e dos serviços prestados, entre
outros fatores, que implicariam no aumento ou diminuição de sua permanência
na intuição penitenciária.

Atualmente, constatamos que manter o indivíduo infrator em cárcere


privado não traz diminuição nos índices de criminalidade, pois as estatísticas
de reincidência nos mostram claramente que o sistema aplicado não é eficaz na
recuperação do indivíduo.

3 LEGISLAÇÃO APLICADA À EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM


RECLUSÃO
A educação carcerária tornou-se tema de discussão devido ao aumento
significativo de adultos presos, dotados de pouca escolaridade. Conforme o
Sistema de Informações Penitenciárias (INFOPEN), dos órgãos diretamente
ligado ao Ministério da Justiça, o último levantamento estatístico, realizado em
dezembro de 2012, mostra-nos que a população carcerária brasileira total, ou seja,
dados de todas as unidades federativas (UF) brasileiras, era de 548.003 adultos
reclusos, conforme se pode ver a seguir:

238
TÓPICO 4 | PEDAGOGIA CARCERÁRIA

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL

Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen


                                                   
Formulário Categoria e Indicadores Preenchidos
                                                  
Todas UFs
                Referência: 12/2012
Indicadores Automáticos
                      548,003        
População Carcerária:
                                             
                      190.732.694        
Número de Habitantes:
                                             
População                                  
287,31
Carcerária por                                  
100.000 habitantes:                                                  

FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7BD574E9CE-3C7D-437A-


A5B6-22166AD2E896%7D&Team=&params=itemID=%7BC37B2AE9-4C68-4006-8B16-24D284
07509C%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C-1C72-4347-BE11-A26F70F4CB26%7D>. Acesso em: 4
jan. 2014.

Diante dos vários indicadores apresentados pelo INFOPEN, está o


levantamento do grau de escolaridade dos adultos reclusos, sendo este o cenário:

Categoria: Perfil do Preso   Masculino   Feminino   Total

Indicador: Quantidade de Presos   482,073     31,64 513,713


por Grau de Instrução
 
                                                 
       
                                                 

11/04/2013 13:58
       R009 - Página 1 de 5      
                                             
                                               
Item: Analfabeto 26,62     1,193 27,813  
Item: Alfabetizado 62,323     1,779 64,102  
Item: Ensino Fundamental
219,241     12,188 231,429  
Incompleto
Item: Ensino Fundamental
58,541     3,634 62,175  
Completo
Item: Ensino Médio Incompleto 53,45     3,32 56,77  
Item: Ensino Médio Completo 35,76     3,028 38,788  
Item: Ensino Superior Incompleto 3,632     451 4,083  

239
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Item: Ensino Superior Completo 1,8     250 2,05  


Item: Ensino acima de Superior
120     9 129  
Completo
Item: Não Informado 22,92     900 23,82  

Valor automático de correção de


itens inconsistentes – Diferença -2,334 4,888 2,554
com relação à população
carcerária do Estado

FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7BD574E9CE-3C7D-437A-


A5B6-22166AD2E896%7D&Team=&params=itemID=%7BC37B2AE9-4C68-4006-8B16-24D284
07509C%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C-1C72-4347-BE11-A26F70F4CB26%7D>. Acesso em: 4
jan. 2014.

UNI

Acadêmico(a)! A educação carcerária é aplicada apenas nas penitenciárias,


porém, é importante que vejamos as diferenças entre delegacia, presídio e penitenciária.

Delegacia – S.f. Repartição pública na qual o delegado exerce a sua função.


Disponível em: <http://www.sitesa.com.br/dicionarios.html>. Acesso em: 4 jan. 2013.

Presídio: Estabelecimento para onde são enviados os criminosos que não foram julgados
para cumprir suas penas.

Penitenciária: Estabelecimento prisional onde o réu, já condenado, é preso para o


cumprimento da pena.
Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br>. Acesso em: 4 jan. 2013.

É importante lembrar, acadêmico(a), que neste tópico trataremos apenas das instituições
penitenciárias.

As informações anteriormente expostas nos revelam que o perfil escolar dos


indivíduos aprisionados é, em sua maioria, de não concluintes do Ensino Fundamental
e Médio. Porém o número de não alfabetizados também chama a atenção.

Para Ferreira (2010), a educação aplicada aos reclusos passa a ser considerada
como maneira de proporcionar-lhes a sua reinserção na sociedade, tendo por função
modificar os sujeitos envolvidos, possibilitando melhores condições de tolerância à
rotina na prisão e novos horizontes após o término da sentença.

O sistema carcerário oferece como opções as oficinas profissionalizantes


e o acesso ao ensino formal para a conclusão dos estudos até o Ensino Médio, no
período de cumprimento da pena.

240
TÓPICO 4 | PEDAGOGIA CARCERÁRIA

Conforme Ferreira (2010), o interesse pela educação profissionalizante torna-


se a opção mais adotada, pois o trabalho realizado é convertido em diminuição da
pena e à remuneração pelos serviços prestados é repassada à família.

FIGURA 120 – OFICINA PROFISSIONALIZANTE NA PENITENCIÁRIA

FONTE: Disponível em: <http://www.diariodoscampos.com.br/policia/vara-de-


execucoes-pede-apoio-do-empresariado-34805/>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Vejamos o que a Lei de Execução Penal nº 7210/84, discorre sobre a


Assistência Educacional e Remição de Pena:

SEÇÃO V

Da Assistência Educacional

Art. 17 A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a


formação profissional do preso e do internado.

Art. 18 O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar


da Unidade Federativa.

Art. 19 O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de


aperfeiçoamento técnico.

Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à


sua condição.

Art. 20 As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com


entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos
especializados.

Art. 21 Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento


de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de
livros instrutivos, recreativos e didáticos.

241
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

SEÇÃO IV

Da Remição
Art. 126 O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto
poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.
§ 1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de 1 (um)
dia de pena por 3 (três) de trabalho.
§ 2º O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho, por acidente,
continuará a beneficiar-se com a remição.
§ 3º A remição será declarada pelo Juiz da execução, ouvido o Ministério Público.

Art. 126 O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto


poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da
pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: (Redação


dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade


de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior,
ou ainda de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três)
dias; (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. (Incluído pela Lei nº


12.433, de 2011).

§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1o deste artigo poderão ser


desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância
e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos
cursos frequentados.  (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e


de estudo serão definidas de forma a se compatibilizarem.  (Redação dada pela
Lei nº 12.433, de 2011).

§ 4o O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos


estudos continuará a beneficiar-se com a remição. (Incluído pela Lei nº 12.433,
de 2011).

§ 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3
(um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior
durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente
do sistema de educação. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).
242
TÓPICO 4 | PEDAGOGIA CARCERÁRIA

§ 6o O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o


que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de
ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da
pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1o deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar. (Incluído


pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 8o A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério


Público e a defesa. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

Art. 127 O condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao
tempo remido, começando o novo período a partir da data da infração
disciplinar.

Art. 127 Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do
tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a
partir da data da infração disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de
2011).

Art. 128. O tempo remido será computado para a concessão de livramento


condicional e indulto.

Art. 128.  O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos
os efeitos. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

Art. 129 A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao Juízo da


execução cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando e
dos dias de trabalho de cada um deles.

Art. 129 A autoridade administrativa encaminhará, mensalmente, ao Juízo da


execução, ao Ministério Público e à Defensoria Pública cópia do registro de
todos os condenados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho de cada
um deles. (Redação dada pela Lei nº 12.313, de 2010).
Parágrafo único. Ao condenado dar-se-á relação de seus dias remidos.

Art. 129.  A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao juízo da


execução cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando
ou estudando, com informação dos dias de trabalho ou das horas de
frequência escolar ou de atividades de ensino de cada um deles.  (Redação
dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

243
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

§ 1o O condenado autorizado a estudar fora do estabelecimento penal deverá


comprovar mensalmente, por meio de declaração da respectiva unidade de
ensino, a frequência e o aproveitamento escolar.  (Incluído pela Lei nº 12.433,
de 2011).

§ 2o Ao condenado dar-se-á a relação de seus dias remidos. (Incluído pela Lei


nº 12.433, de 2011).

Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar
falsamente prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição.

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 4 jan.


2014.

Mesmo sabendo deste benefício concedido aos condenados, ou seja,


que a educação formal lhe proporciona remição da pena, pouco se tem notícia
de políticas públicas expressivas neste contexto, pois o Estado deixa a desejar
em suas ações que visem à reabilitação, inclusão social e educação no cárcere,
deixando à sociedade a impressão de uma punição sem objetivos.

4 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS APLICADA AO


CÁRCERE PRIVADO
A base educacional aplicada ao sistema prisional é a Educação de Jovens
e Adultos (EJA), que se encontra aportada em documentos oficiais, porém sem
especificidade direcionada à educação de detentos.

Ferreira (2010), enfatiza que a proposta do ensino formal aos apenados


objetivava a erradicação do analfabetismo, implantada pela UNESCO
(Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), que teve
apoio do Brasil incluindo a erradicação do analfabetismo na LDB 9394/96.

244
TÓPICO 4 | PEDAGOGIA CARCERÁRIA

FIGURA 121 – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO SISTEMA PRISIONAL

FONTE: Disponível em: <https://www.seds.mg.gov.br/index.php?option=com_


content&task=view&id=1126&Itemid=71>. Acesso em: 4 jan. 2014.

A evasão escolar dos detentos pode ter sido motivada por vários fatores,
dentre eles: condições culturais, dificuldades financeiras, difícil acesso por
questões geográficas ou influência de terceiros. Podemos arriscar dizer que
estes fatores podem ter contribuído diretamente em sua inserção no mundo da
criminalidade, considerando que o indivíduo não escolarizado provém de uma
visão crítica de mundo deficiente ou distorcida, dependendo também do meio
em que está incluso.

Para Freire (1980), a educação é um ato de libertação e leva o educando a


tomar consciência das contradições do mundo que o cerca. Assim, Gadotti (2010)
reforça este pensamento afirmando que a educação proporciona ao cidadão
a conquista da liberdade e o exercício da cidadania, tornando-o autônimo e
motivado a ampliar seus horizontes.

Mesmo que o preso tenha perdida a condição de viver em sociedade, lhe


é assegurado conforme as leis vigentes e tratados internacionais as condições de
igualdade e acesso a serviços como saúde, assistência e educação, esta última
visando também a ressocialização e materialização de um direito.

Tratando-se de indivíduos em cumprimento de pena, muito precisa ser


feito para a implantação destes métodos educacionais. Conforme Fernandes
(2012), a contradição entre educação e reabilitação carcerária nos quais o objetivo
é a segurança, anula o sujeito.

245
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

FIGURA 122 – ANULAÇÃO DO SUJEITO

FONTE: Disponível em: <http://sacolagraduado.blogspot.com.br/2010/12/imagens-


de-catanduvas.html>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Para que estas práticas sejam efetivas faz-se necessário reconhecer a


cidadania dos apenados para que, de fato, os direitos educativos possam ser
aplicados. Sendo a educação um direito, pouco se sabe do seu acesso ou como é
conduzida no sistema prisional, devido à questão da segurança.

Fernandes (2012) coloca que a educação formal administrada pelas


Secretarias Estaduais de Educação oferece certificação por meio do método
EJA que contribui para remição da pena, já a educação não formal que trabalha
questões de como agir em grupo, construção e reconstrução da concepção de
mundo, bem como o respeito às diferenças, são ministradas por igrejas, ONGs e
voluntários que coordenam projetos neste sentido.

FIGURA 123 – EDUCAÇÃO NÃO FORMAL NAS PENITENCIÁRIAS

FONTE: Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/album/2013/10/17/o-que-os-


presos-podem-e-nao-podem-fazer.htm>. Acesso em: 4 jan. 2014.

246
TÓPICO 4 | PEDAGOGIA CARCERÁRIA

5 O PEDAGOGO E A EDUCAÇÃO CARCERÁRIA: DESAFIOS


APLICADOS A ESTE CONTEXTO
Lidar com a educação carcerária é um desafio para o pedagogo, pois exige
equilíbrio emocional, superação dos medos e amor pelo educar, principalmente
num ambiente em que irá lidar diretamente com as desigualdades sociais, com o
isolamento, com as resistências e com a hostilidade.

Fernandes (2012, p. 208), enfatiza que

[...] ser educador em prisões é trabalhar com a diversidade, a diferença,


o medo, é enfrentar situações tensas do mundo do crime e apostar no
ser humano. Isso exige do educador aprendizagens de outra natureza,
que não somente as oferecidas em salas de aula da universidade.

A cada novo ambiente, em que os saberes pedagógicos são requisitados, é


necessário redesenhar o trabalho a ser desenvolvido, pois é preciso estar preparado
às novas demandas do mundo contemporâneo marcado pela modernização, à
ampliação dos direitos, à cidadania e às tecnologias da informação. Desta forma,
a educação passa a desempenhar um papel de maior amplitude e complexidade.

Pensar a educação nos espaços em que a liberdade não é oferecida


como condição, nos provoca a pensar sobre outras formas que sejam eficazes
na recuperação deste indivíduo? Por onde devemos começar? Quais fatores
influenciam para o aumento da criminalidade?

Estudiosos das áreas de educação, sociologia, psicologia, direito,


antropologia, entre outras, discutem cada um em sua área de abrangência e
muitas vezes de formar transdisciplinar, sobre estas questões.

Fernandes (2012) considera que a educação inserida nas prisões


potencializa processos educativos que vão além do ensino escolar, pois coloca
em evidência o professor no papel de ator principal, na construção do espaço,
objetivando expandir a visão do aprisionado, de forma a reconstruir seu mundo
como algo dinâmico e inacabado.

As instituições carcerárias apresentam uma cultura própria, sendo


desafiador ao pedagogo estar inserido neste mundo de adversidades, tendo
que familiarizar-se com terminologias próprias e situações hostis adversas.
Neste sentido, cabe e ele refletir intrinsecamente e cercar-se de profissionais
experientes nesta modalidade, a fim de que juntos construam instrumentos de
ação, compartilhem angústias e criem a identidade do professor dentro do no
sistema prisional.

Neste sentido, como bem denota Fernandes (2012, p. 211):

247
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

[...] é importante considerar que os professores passam por


processo semelhante à chegada do novato na prisão, quando lhe
são passadas as “regras da casa” pela equipe dirigente, no processo
denominado “boas-vindas”. Trata-se de um momento em que avalia
sua condição duplamente iniciante: como professor em um espaço
com características próprias e onde rapidamente deve aprender a
sobreviver – ali ele percebe a importância de buscar saberes, não só
para lidar com diferentes culturas, mas para lidar com conflitos e
dilemas para os quais não foi preparado na formação inicial e nem em
experiências em outros espaços escolares.

Atuar no cenário prisional é ter consciência da fragilidade dos currículos


oferecidos nas universidades, sento este um ambiente singular, nos quais muitas
são as necessidades para a concretização do ato educacional: a trajetória escolar,
a história social e cultural e o estreito vínculo com a violência.

Tais fragilidades denotam a complexidade da instauração e fortificação da


caminhada na formação do pedagogo, sendo o ambiente prisional transmissor de
insegurança independentemente da categoria profissional que nele atue.

DICAS

Acadêmico(a)! Para melhor visualizar e aprofundar ainda mais este conteúdo,


deixamos como sugestão o seguinte filme:

Lançado em 2003, conta a história de um médico


(Luiz Carlos Vasconcelos) que se oferece para
realizar um trabalho de prevenção à AIDS no
maior presídio da América Latina, o Carandiru.
Lá ele convive com a realidade atrás das grades,
que inclui violência, superlotação das celas e
instalações precárias. Porém, apesar de todos
os problemas, o médico logo percebe que os
prisioneiros não são figuras demoníacas, existindo
dentro da prisão solidariedade, organização e
uma grande vontade de viver.

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-52585/>. Acesso em:


4 jan. 2014.

Outro fator relevante ao pedagogo que pretende atuar em penitenciárias


é estar consciente de que a privação da liberdade estabelece uma relação forte
com um passado pleno de carências, sejam familiares, financeiras, sociais ou
emocionais, que poderão vir à tona no momento em que questões relativas à
aprendizagem forem trabalhadas.
248
TÓPICO 4 | PEDAGOGIA CARCERÁRIA

FIGURA 124 – DESIGUALDADE SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2012/08/


noticias/a_gazeta/mundo/1353255-brasil-e-o-4-pais-em-desigualdade-social.
html>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Fernandes (2012, p. 214), identifica este fator ao colocar que:

Para o homem em privação de liberdade, a relação presente-passado-


futuro é fundamental, em qualquer programa educativo que se lhe
apresente. É o cotidiano que revela as bases sobre o que é possível,
mas não deixa de trazer embutido o passado, enquanto memória e
incorporação de vivências. Sua expectativa de futuro é algo que deve
também ser considerada, e a educação pode oferecer condições para
que ele possa conviver, no presente, com diferentes circunstâncias,
sabendo a hora de “mostrar-se” ou “esconder-se”, de falar ou de
calar, de proteger-se para sobreviver. O indivíduo em privação de
liberdade traz, por outro lado, enquanto memória, vivências por
vezes negativas, de situações pelas quais passou antes e durante sua
carreira deliquencial. Em suas expectativas de futuro estão o desejo
de começar uma nova vida, na qual possa trabalhar, voltar a estudar e
construir uma família.

Acadêmico(a)! Por inúmeras vezes a sociedade julga o indivíduo em


reclusão criando para este um estigma, devido a sua condição de apenado,
esquecendo da sua condição humana que, por algum motivo, foi conduzido a
cometer algum ato infracional. Não nos cabe fazer qualquer tipo de julgamento
moral, condenando ou inocentando o apenado, e sim cabe-nos direcionar outros
olhares a este sujeito, ou seja, buscar nele seus potenciais cognitivos e emocionais,
apresentando-lhe um novo caminho.

LEITURA COMPLEMENTAR

A importância da educação no sistema prisional brasileiro

Curitibanos, 11/06/2013, Correio Lageano, por Geraldo Neri Baggio Folchini, Agente


Penitenciário da Região de Curitibanos/SC.

249
UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

  As pessoas encarceradas, como os demais seres humanos, têm o direito


ao acesso à educação. A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece
o direito e prevê o acesso à educação de pessoas encarceradas que, segundo as
Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros, destaca-se a de número
77: “Serão tomadas medidas para melhorar a educação de todos os presos em
condições de aproveitá-la, incluindo instrução religiosa nos países em que isso
for possível...”
 
A educação de analfabetos e presos jovens será obrigatória, prestando-
lhes a administração especial atenção. Tanto quanto possível, a educação dos
presos estará integrada ao sistema educacional do país para que depois da sua
libertação possam continuar, sem dificuldades, a sua educação.
 
No nosso País, há presos dentro e fora das cadeias. Muitos adolescentes
estão presos às “maquininhas” tecnológicas que facilitam sua conexão com amigos,
mas não se dão conta de que não estão se conectando consigo mesmos. Adultos
estão presos a telenovelas e reality shows, quando poderiam estar investindo o
tempo em algo mais libertador.
 
 Já houve críticas quanto à leitura dentro das prisões, mas é necessário, de
uma forma ou outra, investir em educação para a diminuição da criminalidade.
Com a leitura sadia e cultural, o preso fica menos ocioso, maquina menos maldade,
desconta seu tempo de prisão e pode até reincidir menos.

Se é utopia, isso eu não sei, mas sei que vale a pena tentar, como já dizia
Martin Luther King: “É melhor tentar e falhar, do que se preocupar e ver a vida
passar; é melhor tentar, ainda que em vão, do que sentar-se fazendo nada até o
final. Eu prefiro na chuva caminhar, do que em dias tristes em casa me esconder.
Prefiro ser feliz, embora louco, do que em conformidade viver...”.

 Não é preciso ser um criminoso para estar preso. O que não falta é gente
“confinada” na ignorância, sem saber como escrever corretamente. Ao ler um
livro, pode-se ter uma vista panorâmica que uma prisão não tem.

  O professor livre-docente da Universidade de São Paulo e ex-preso


Roberto da Silva olha para o sistema prisional sob um ângulo diferente e afirma
que “não é papel da educação mudar o criminoso”.
 
 Concorda-se com essa visão, mas se rebate em dizer que é pela educação
que se qualificam profissionais. O sistema prisional é a ponta final do Sistema
de Justiça Criminal, importante para quebrar o ciclo vicioso do crime e permitir
a reeducação, ressocialização e reinclusão dos condenados e nessa órbita está
a educação e a leitura que tem o poder de transportar uma realidade à outra,
fazendo com que o condenado faça escolhas, processando informações sem que o
poder econômico ou político reflita nas suas decisões.

FONTE: Disponível em: <http://www.clmais.com.br/informacao/56524/a-import%C3%A2ncia-


da-educa%C3%A7%C3%A3o-no-sistema-prisional-brasileiro>. Acesso em: 4 jan. 2014.

250
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você estudou que:

• No século XVII, as punições eram aplicadas de forma violenta e em praça


pública, objetivando reforçar o poder monárquico.

• As prisões foram criadas no século XVIII, com o intuito de punir, reeducar e curar;
esta visão veio à tona após o movimento iluminista em criticar arduamente a
maneira de como eram aplicadas.

• No século XIX, ocorreram mudanças, duas são de maior importância: punir e


educar, fundamentando a reabilitação em três grandes princípios: o isolamento,
o trabalho e a modulação da pena.

• Existe diferença entre as penitenciárias e presídios. Presídio é estabelecimento


para onde são enviados os criminosos que não foram julgados para cumprir
suas penas. Penitenciária é o estabelecimento prisional onde o réu já condenado
é preso para o cumprimento da pena.

• A educação aplicada aos reclusos passa a ser considerada como maneira


de proporcionar aos penados a sua reinserção e retorno à sociedade, tendo
por função modificar os sujeitos envolvidos, possibilitando-lhes melhores
condições de tolerância à rotina na prisão e após o término da sentença.

• Mesmo que o preso tenha perdida a condição de viver em sociedade, lhe é


assegurado, conforme as leis vigentes e tratados internacionais as condições de
igualdade e acesso a serviços como saúde, assistência e educação, esta última
visa além da educação a ressocialização e materialização de um direito.

• A educação nos presídios pode ser formal e informal.

• Alguns fatores que podem auxiliar as pessoas a se encaminharem ao mundo


do crime são: condições culturais, dificuldades financeiras, difícil acesso por
questões geográficas ou influência de terceiros.

• O pedagogo que trabalha junto aos encarcerados necessita possuir: equilíbrio


emocional, superação dos medos e amor pelo educar, principalmente em um
ambiente em que irá lidar diretamente com as desigualdades sociais, com o
isolamento, com as resistências e com a hostilidade.

251
AUTOATIVIDADE

1 A LDB dá direito ao presidiário de continuar seus estudos. Desta forma,


disserte sobre as vantagens em dar continuidade aos estudos, mesmo
estando preso.

2 Se você fosse convidado para trabalhar junto aos detentos, como seu trabalho
seria realizado neste ambiente?

252
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ANOTAÇÕES

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Você também pode gostar