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Revista do Desenvolvimento
Regional
ISSN: 1414-7106
revistaredes@unisc.br
Universidade de Santa Cruz do Sul
Brasil
RESUMO
INTRODUÇÃO
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Doutor em Ciências Sociais. Professor do Programa de Pós-Graduação em Agronegócio da Universidade
Federal de Goiás. Endereço eletrônico: caume@uol.com.br .
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Alexander Chayanov, embora consciente dos limites da autonomia camponesa, defendeu apaixonadamente
as possibilidades de consolidação de formas familiares modernizadas de produção em economias capitalistas
e socialistas e sofreu cruel perseguição (pagando com a própria vida) da ditadura stalinista na União Soviética
dos anos 1920-30.
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“Obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o
encadeamento de grande quantidade de fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se
podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os
pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de se formar um quadro homogêneo do pensamento.
Torna-se impossível encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza conceptual, pois
trata-se de uma utopia.” (WEBER, 1997, p. 76).
expressão; são ferramentas de ordenação de uma realidade que não pode ser
apreendida em sua plena heterogeneidade.
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A discursividade científica das Ciências Sociais não pode operar com uma delimitação conceitual produzida
no âmbito do discurso jurídico-normativo enquadrado pelo Estatuto da Terra, que definia o latifúndio,
estritamente, pelo excesso de tamanho (acima de 600 módulos rurais – “latifúndio por dimensão”) ou pela
insuficiência produtiva (não cumprimento dos indicadores de produtividade e uso da terra – “latifúndio por
exploração”). Para o campo científico, são, sobretudo, as relações sociais tecidas no processo de trabalho
que qualificam as unidades de produção econômica.
Isso não significa dizer que agricultura familiar exclua formas de trabalho
assalariado. No Brasil, em particular, é muito comum que agricultores familiares
não apenas contratem trabalhadores, temporária ou permanentemente, como
também que membros da família vendam sua força de trabalho em determinados
momentos. Pela própria precariedade e instabilidade econômica de grande parte
de nossos agricultores familiares, a renda obtida pelo assalariamento se torna uma
necessidade e uma importante estratégia de reprodução não só da família como da
própria unidade produtiva.
Nessa perspectiva, percebe-se o quanto era inapropriado, do ponto de vista
científico, o uso de termos como “pequena produção”, “agricultura de
subsistência”, “agricultura de baixa renda” e “pequena propriedade”. São
designações e categorias construídas não a partir do critério analítico das relações
sociais tecidas no processo de trabalho, mas a aspectos como tamanho de área,
renda, vinculação ao mercado, sistemas produtivos e modo de apropriação da
terra.
A agricultura familiar se notabiliza pela articulação, sob diferentes modos e
intensidades, dos elementos família, terra e trabalho. Os múltiplos arranjos como
esses três elementos “se combinam socialmente estão na origem da grande
diversidade de expressões da agricultura familiar nas situações concretas e que são
objeto constante de nossas pesquisas” (WANDERLEY, 2007, p. 2). A diversidade é
uma característica da agricultura familiar contemporânea, na medida em que ela
tem mostrado ser capaz de se adaptar a diferentes contextos sociais, econômicos e
políticos. Como afirma LAMARCHE (1994, p. 14), a agricultura familiar não
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Esse viés de análise está em evidente discordância com alguns autores que definem o campesinato a partir
de um critério tão amplo que acaba por abarcar qualquer forma de produção calcada no trabalho familiar,
desconsiderando as formas e a intensidade de articulação com o mercado. Ver, por exemplo, MOTTA e
ZARTH (2008) que enquadram como camponeses posseiros, extrativistas, pescadores artesanais, catadores
de caranguejos, castanheiros, quilombolas... e até “agricultores familiares mais especializados, integrados
aos modernos mercados” (p. 9).
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“... é o fato de pertencer a uma sociedade camponesa que identifica o camponês... Disso resulta,
logicamente, que se pode imaginar uma sociedade camponesa que não esteja baseada na agricultura e que
não apresente tampouco os traços característicos do modelo. É verdade que é difícil perceber como a
autossubsistência poderia existir sem a agricultura.” (MENDRAS, 1978, p. 15).
A agricultura familiar empresarial, por sua vez, orientada por uma inserção
plena em mercados competitivos, desenvolve sistemas de produção
tecnologicamente “modernos” (altamente dependente de equipamentos e
insumos industriais, o que a assemelha nesse aspecto às formas produtivas
“patronais”) e define sua pauta de produção a partir de orientações de mercado
(ainda que normalmente haja uma conciliação entre “culturas de mercado” e
“culturas de autoconsumo”).
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Esse bloqueio ao desenvolvimento da agricultura familiar brasileira pode ser simbolicamente representado
por dois momentos históricos: em meados do século XIX, em plena crise do escravismo, a promulgação da
Lei de Terras restringiu a possibilidade do acesso à propriedade fundiária a trabalhadores livres nacionais, aos
escravos que estavam sendo libertos e aos imigrantes estrangeiros que vinham para suprir a mão de obra
demandada pela economia cafeeira em expansão; em meados do século XX, o golpe militar de 1964
determinou a derrota política da reforma agrária e o impulso estatal ao projeto de “modernização
conservadora da agricultura brasileira”.
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Ainda que tamanho de área e renda não sejam elementos definidores conceitualmente do campesinato, seu
caráter limitante (mesmo que não necessariamente) são fatores estimuladores ao estabelecimento de uma
forma de produção de tipo camponesa.
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ABRAMOVAY (1992) e GUANZIROLI (2001) propõem interessantes modelos explicativos que buscam
afirmar a relativa irrelevância das economias de escala na atividade agrícola em função de sua especificidade
fundamental como setor econômico: a dependência a fatores de ordem natural relativamente incontroláveis
pelo homem. Os autores entendem que, na agricultura, a prevalência de um modelo de desenvolvimento é
mais determinado por fatores de ordem política do que de eficiência produtiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ABSTRACT
This study analyses the dilemmas and conceptual problems present in the
discussion concerning the relationship between agrobusiness and familiar
agriculture, in the contemporary capitalist world. The author proposes an
interpretation that can exceed the idea, very common in the Brazilian society
(specially in social movements that struggle for land reform and in some academic
segments) that asserts that the familiar forms of production in agriculture are
incompatible with the current development in the agribusiness sector. So, the
study discusses how, internally to the agribusiness, in relations of
selection/exclusion, different social ways of production take place.
Keywords: agrobusiness; familiar agriculture.
Keywords
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS