O documento discute a importância da imagem na constituição do discurso literário. A autora argumenta que a imagem que o locutor faz de si mesmo, do ouvinte e do referente determina a forma do discurso. Ela usa o exemplo do discurso político em "Parque Industrial" para mostrar como a supervalorização da literatura pode levar a julgamentos equivocados sobre o que constitui um discurso literário.
O documento discute a importância da imagem na constituição do discurso literário. A autora argumenta que a imagem que o locutor faz de si mesmo, do ouvinte e do referente determina a forma do discurso. Ela usa o exemplo do discurso político em "Parque Industrial" para mostrar como a supervalorização da literatura pode levar a julgamentos equivocados sobre o que constitui um discurso literário.
O documento discute a importância da imagem na constituição do discurso literário. A autora argumenta que a imagem que o locutor faz de si mesmo, do ouvinte e do referente determina a forma do discurso. Ela usa o exemplo do discurso político em "Parque Industrial" para mostrar como a supervalorização da literatura pode levar a julgamentos equivocados sobre o que constitui um discurso literário.
o desejo de compreender a natureza da linguagem tem provocado
que cada vez mais 0 discurso se torne obejto da pesquisa Iingu(stica. Mas isto, en- tretanto, nao significa que ele seja aceito consensualmente como objeto da Un- gu(stica. 0 proprio termo discurso tem tido um uso pluralizado, e dentro dele acabam se acomodando os mais diferentes interesses cientlficos. Para a Ungu{stica, 0 consenso sobre 0 uso do termo discurso se
. bipartilfao entre aquilo que pertence ao sistema Iingu (stico e aquilo
que e do dom{nio de sua realizal,:8o pelo falante, . aceital,:8o de que a entidade maxima ao n(vel do sistema e a frase. Desta forma, 0 conceito de discurso que os linguistas operam parte do conceito saussureano de fala, ou seja, a I(ngua em funcionamento. 0 confronto entre as diferentes conceplfoes do discurso se coloca atraves da sua visao como ato individual ou usa coletivo. A posilfao de Pecheux(l) e a de negar a identificalfao do discurso com a fala, pois 0 sujeito do discurso nao eo indiv(duo, mas as relalfoes sociais. Ele ve 0 discurso como um conjunto nao linear de enunciados, cuja estrutura e funcional, que se define pela equalfao: lingua + condilfoes de produlfao = processo de produlfao do discurso. Tomando 0 discurso como uma entidade teorica, Pecheux parte de conceitos da gramatica gerativa para chegar a uma estrutura profunda(2) geradora de discursos. Esse processo de produlfao de discursos, de natureza semantica, seria o ponto de ligalfao entre 0 sistema lingu(stico e a pri3tica discursiva. A grande reo ~evancia da teoria de Pikheux esta no fato de levar em consideralfao 0 ponto de vista semantico e situacional do discurso. Pikheux postula uma Ciencia do Discurso, que leve em conta as re- lalfoes sociais, as condilfoes de produlfao do discurso. Esta ciencia estudaria os mecanismos que representam, no interior da base (lIngua) a condil,:8o de possibi- lidade dos processos (discursosl. e "permitiria colocar de modo mais adequado 0 problema de rel3l,:oes entre sintaxe e semantica,,(3). Por condi~{jes de produ~ao do discurso, entende-se a interal,:8o entre locutor e interlocutor, que depende dos fatores: a vinculalfao ideol6gica do locutor, a instancia discursiva em que se da 0 discurso, os conhecimentos que possui sobre 0 tema do discurso, as condilfoes espedficas da fala do locutor, na qual esta inserido 0 interlocutor. E, a Ungu(s- tica deve ser 0 ponto de partida para analise do discurso, podendo e devendo ofe- recer subs(dios para a analise das oper3l,:oes Que ele instaura. GREGOLlN, M. do R, F. V. - A imagem na constitui\lio do discurso Iiterario. GRUPO DE ESTUDOS L1NGUISTICOS,1.Q(l ):66-68,1985.
As imagens que os interlocutores fazem de si mesmos, do referente
e da pr6pria lingua, sac fundamentais para explicar a forma dos discursos. Ou seja, a escolha que 0 locutor faz por um ou outro tipo de discurso esta funda- mental mente associada a estes tnh tipos de imagens e, ainda mais, como salienta Osakabe(4), no ate do discurso, 0 locutor se coloca as seguintes perguntas: Qual imagem faco do ouvinte para Ihe falar desta forma? Qual imagem pense que 0 ouvinte faz de mim para que eu Ihe fale desta forma? Que imagem faco do referente para Ihe falar desta forma? Que imagem pense que 0 ouvinte faz do referente para Ihe falar desta forma? Que pretendo do ouvinte para Ihe falar desta forma? A imagem que 0 locutor faz do ouvinte determina a sua opcao entre j as diversas possibilidades de "dizer a mesma coisa", Da mesma forma, a imagem , sobre 0 referente e a pretensao de adesao sac determinantes, A importancia da imagem para a constituicao do discurso passa a ser evidente quando se analisa 0 discurso literario. Isto porque 0 discurso te6rico que 0 instaura parte de uma determinada imagem do que seja literario ou nao. Para a Estillstica, 0 discurso literario e aquele que apresenta desvios em relacao ao discurso do dia a dia, Ou seja, ao contrario da organizacao 16gica do discurso com funcao predominantemente referencial, 0 discurso literario e fruto de um trabalho consciente sobre as formas lingiHsticas, do qual resulta 0 arrendondamento das formas do discurso, e a objetualidade de sua linguagem. Por detras desta concepcao esta 0 jUlzo de valor de que 0 discurso literario e um organismo que se tece com leis pr6prias, que se desviam das normas linguisticas, no sentido de um aprimoramento da lingua. Essa imagem do discurso literario encontra uma aplicac;:aoequivocada, por exemplo, no ensino de lingua portuguesa nas escolas, tendo como padrao 0 usa que del a e feito pelos "bons escritores"(5), Outra facet a deste mesmo equlvoco consiste na supervalorizacao do discurso literario, que 0 eleva c}sacralizacao, e faz 0 analista encara-Io extasiado, como se mirasse a face de Deus, A intencao, ao tentar colocar a relevancia que tem a imagem do que seja literario para a analise do discurso literario, nao e a de reduzi-Io a um dis- curso sem especificidade, Pretendemos apenas levantar 0 problema da superva- lorizacao do discurso Iiterario, que pode levar a enganos desastrosos. Como aquele, por exemplo, que considera "nao Iiterario" um discurso que trata de temas "nao literarios", E, um tema considerado "nao literario" e 0 engajamento politico - e a conseqi.iencia e que algumas obras engajadas foram abolidas dos compendios da critica literaria por exibirem 0 discurso politico de seu tempo, E caso do discurso (politico? ferninista? literario?) de Pagu ern 0 Parque Industrial(6l, que foi banido, exatamente por ser considerado "nao literario", A autora, ligada ao PCB, e a concepc;:ao zadnosvsta do literario como promotor de consciencia na c1asse operaria, faz urn discurso doutrinario, atraves GREGOllN, M. do R. F. V. - A imagem na constitui~io do discurso literftrio. GRUPO DE ESTUDOS L1NGUISTICOS,1Q(11:66-68,1985.
do qual pretende a adesao do interlocutor as suas convicc;:5es. Discurso que foi
banido baseado em que: "Redigindo seu livro num momenta de empolgac;:ao ativista, Pagu exagera na dose pol(tica. C.') Sao verdadeiros enclaves ideologicos implantados no texto. Parque Industrial ressente-se do peso excessivo de tais enunciados des- tacaveis."(7 ) A. parte a qualidade do texto (do ponto de vista do que seja literario ou nao), parece-nos que a analise deste discurso pode ser interessante como: discurso de uma mulher, engajada na luta polftica, na decada de 30
discurso onde se encontram as marcas do per(odo de crise e con-
fronto de uma ideologia de esquerda (poscrita) e a ideologia dominante, de direita, . discurso que marca a tomada de posic;:aodos intelectuais brasilei- ~ns para as lutas socia is, e 0 posterior aparecimento da literatura social na decada -'t 30. Portanto, a analise do discurso de Parque Industrial tem interess~ por inserir-se no contexto dos discursos de seu momento hist6rico, e poder-se obser- var, at raves dele, 0 Discurso que os engendrou.
(1) M. Pecheux, "Langue/Langage/Discours", in: Langages, 24, Di dier Larousse.
(2) Esta "estrutura profunda" nao e tao abstrata quanta a de Chomsky, ja que busca regras espedficas para a gerac;:aode determinados discursos Dn, resul- tado de uma lingua em um estado dado, mais determinadas condilfoes de produlfaO. (3) M. Pecheux, op. cit. nota 1. (4) F-I.Osakabe, Argumeta(:8o e Discurso Polftico, Kair6s Ed., SP, 1979. (5) Os discursos que se pretende dos alunos na escola sac aqueles que se regem pela "bela I(ngua dos escritores". Oualquer erro e logo reprovado, para se obter 0 silencio do discurso do aluno. (6) Patricia Galvao (Pagul, Parque Industrial, 2~ ed. (fac-similar), Ed. Alternativa SP,1983. (7) A. Riserio, "Pagu: vida-obra, obra-vida, vida" in: Atraves 2, Ed. '2 Cidades, SP, 1978, pag. 12.