Você está na página 1de 11

ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE

PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Edina Domingues – Universidade Anhanguera-Uniderp - Centro de Educação a Distância

RESUMO: Este artigo foi construído em três momentos. O primeiro momento traz um PALAVRAS-CHAVE:
pouco da linha histórica do Professor Educador Paulo Freire: o educador que marcou Tecnologia Educacional; Educação
Libertadora; Educação Democrática
sua época com suas ideologias libertadoras presentes em seus métodos educacionais
inovadores. O segundo momento visa propiciar a discussão sobre as abordagens
metodológicas utilizadas em cursos a distância e por último a reflexão sobre a KEYWORDS:
qualidade de profissionais formados em curso de EaD Educational Technology; Liberating
Education; Democratic Education

ABSTRACT: This article was constructed in three stages. The first moment brings a bit
of storyline Teacher Educator Paulo Freire: the educator that marked his time with
his ideologies present in liberating their innovative educational methods. The second
phase aims to provide a discussion of the methodological approaches used in distance
learning courses and last reflection on the quality of graduates in distance education
course and if they are able to meet the current needs of the professional market in
globalized times. Literature search was used to having as a backdrop the relationship
between distance education and the ideas of Paulo Freire.

Artigo Original
Recebido em: 24/02/2012
Avaliado em: 25/07/2012
Publicado em: 17/04/2014

Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.

Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE

Correspondência
Sistema Anhaguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
rc.ipade@anhanguera.com
v. 05 • n. 13 • 2011 • p.83-93
Paulo Freire e a Educação a Distância

1. O PROFESSOR PAULO FREIRE


Em 19 de setembro de 1921, nascia Paulo Reglus Neves Freire, na estrada do encanamento
nº 724,em Recife no Estado de Pernambuco. Filho de Joaquim Temistocles Freire, capitão
da Policia Militar de Pernambuco e da bordadeira Senhora Edeltrudes Neves Freire que
tiveram além de Paulo, mais três filhos: Stela, professora primária do Estado, Armando que
foi funcionário da prefeitura da cidade de Recife e Temistocles que entrou para o exército.
Em 1934, faleceu o pai de Freire, em decorrência a família passa por muitas privações
e os irmãos largam os estudos para trabalhar e ajudar nas despesas da casa e também para
que Paulo Freire continuasse seus estudos. Em Jaboatão, Freire conclui o curso primário e
iniciou o ensino ginasial no Colégio 14 de Julho, no Bairro de São José, mas sem recursos
econômicos, Freire, larga seus estudos logo na primeira série. Mas sua mãe a Senhora
Edeltrudes, sai em busca de apoio para que seu filho pudesse dar continuidade aos estudos,
quando encontra no Professor Aluizo Pessoa de Araujo, do colégio de Oswaldo Cruz, o
apoio para que seu filho estudasse gratuitamente e conseguisse concluir seus estudos no
curso secundário. Rosas (1987apud FREIRE, 1996).
Paulo iniciou sua carreira em 1941, como professor de Português pelo Colégio Oswaldo
Cruz em Recife e em 1943 ingressou pela Faculdade de Direito de Recife e em 1944 casou-
se com professora primária Elza Maria da Costa de Oliveira com quem teve 5 filhos: Maria
Madalena, Maria Cristina, Maria de Fátima, Joaquim e Lutgardes.
Nas décadas de 50 a 60, Paulo Freire participou do “Serviço de Extensão Cultural”
pela Universidade Federal de Pernambuco. Do período de 1947 a 1957, Freire trabalhou
pelo SESI com famílias operarias nos Círculos de Pais e Professores, denominado por ele
de “Educação Social” e em 1959, conclui sua tese de docência para a Cadeira de História e
Filosofia da Educação pela Escola de Belas Artes de Pernambuco.
Em 1962, no Rio Grande do Norte, Freire participou da Campanha: “Pé no chão também
se aprende a ler” sobre a liderança de Moacir de Góis em Recife, Pernambuco. Participou nesta
mesma época do projeto MCP – Movimento Cultural Popular- que promoviam ações nas praças
como espaço de cultura cujo objetivo era o de reciclar culturalmente a população mais carente.
Obteve êxito com o projeto de alfabetização que ocorreu no Rio Grande do Norte, em
1963, quando ensinou 300 alunos a escrever e a ler em apenas 45 dias através do método
inovador de alfabetização que unia a teoria e prática através das metodologias de ensino:
codificação, palavras geradoras, cartazes com as famílias fonética, quadros ou ficha de
descobertas e material complementar.
Segundo Bello (1993) na pedagogia de Paulo Freire há a junção de profissionais e
elementos da comunidade que preparam o material de acordo com a realidade a quem se
destina a alfabetização fundamentada nos seguintes pressupostos:

Anuário da produção acadêmica docente


84
Edina Domingues

• Pensamento-linguagem a partir da realidade concreta;


• Elaboração da codificação especifica para cada comunidade;
• Escolha da palavra geradora a partir da realidade da comunidade
Em 1964,Paulo Freire, foi perseguido pelo Regime Militar sobre a alegação de ser
subversiva, propagador da desordem e do comunismo. Foi preso em 31 de março de 1964,
ficou 72 dias e foi exilado para o Chile, onde trabalhou por cinco anos pelo Instituto Chileno
para a Reforma Agrária -ICIRA e em 1968 escreveu o livro: Pedagogia do Oprimido,uma
das suas obras mais importantes.
No período que esteve fora do Brasil, em 1963, teve oportunidade de ministrar aulas nos
Estados Unidos da América, pela Universidade de Harvard. Em 1970 foi convidado para participar
como consultor do conselho mundial das igrejas –CMI- Genebra na Suíça e um ano mais tarde,foi
consultor Educacional dos governos dos países africanos: Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe e influenciando também no processo de alfabetização de Angola e Moçambique.
Em 1980, com a anistia política, Freire após 16 anos de exílio, retornou para ao Brasil e
escreveu a obra Pedagogia da Esperança (1992) e a Sombra desta Mangueira (1995).
Em 1986, morre sua primeira esposa e em 1988, casa-se com Ana Maria Araújo Freire.
Filha do Diretor do Colégio Oswaldo Cruz, onde Freire foi aluno e professor de Português.
Ana foi também sua orientanda do programa de mestrado pela PUC-SP.
Ministrou aulas pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAM,e pela Pontifícia
Católica de São Paulo, PUC. De 1989 a 1991, foi Secretario da Educação pela Prefeitura da
cidade de São Paulo, pela gestão da Luiza Erundina.
No dia 2 de maio de 1997, Paulo Freire, morre de enfarto em São Paulo, às 6h35, no
Hospital Albert Einstein, devido a complicações em uma operação de desobstrução de artérias.
Em 1991, foi fundado o Instituto Paulo Freire para propagação de seis idéias e de suas
obras. Freire foi reconhecido mundialmente e recebeu o título de Doutor Honoris Causa por
27 universidades, recebeu prêmios como: Educação para a Paz (das Nações Unidas, 1986) e
Educador dos Continentes (da Organização dos Estados Americanos, 1992).

2. A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EAD


A história da Educação à distância no Brasil, não é recente. Existe há pelo menos 80 anos e
inicia-se ao longo da história com o surgimento do serviço de rádio-difusão do Ministério
da Educação como objetivo de promover a alfabetização, passando para a utilização dos
materiais sendo enviados aos alunos do Instituto Universal Brasileiro via correio e mais
tarde sendo veiculado através das câmeras de televisão do tele-curso 1º e 2º graus da
fundação Roberto Marinho.
v. 05 • n. 13 • 2011 • p. 83-93
85
Paulo Freire e a Educação a Distância

Com o movimento da expansão da rede de alcance mundial , WWW - Word Wide


Web- , o computador passa a fazer parte como ferramenta utilizada na modalidade de ensino
a distância. Em 1995, a Universidade Federal do Mato Grosso foi a primeira a oferecer curso
de Pedagogia de 1ª a 4ª série em caráter experimental para professores da Rede Municipal e
Estadual de Ensino. (MORAN, 2002)
Com a LDB – Lei de diretrizes e Bases da Educação- em 1996, os cursos de modalidade
a distância passaram a ser incentivados segundo o Art. 8º: O Poder Público incentivará o
desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e
modalidades de ensino, e de educação continuada( BRASIL, 1996)
Com a melhora do poder de aquisição econômica das classes C e D no Brasil, mais
alunos conseguiram avançar seus estudos em nível de graduação e muitos destes optaram
por esta modalidade de estudos pela flexibilidade de horários o que facilita a conciliação
dos estudos entre trabalho e ou família. A EaD rompe barreiras geograficamente distantes
o que favorece a democratização do conhecimento, um bem cultural e de direito do cidadão.
Na visão de Freire a tecnologia não era a solução para a Educação, pois não pode
mudar sozinha, mas muita coisa ela pode fazer (ALMEIDA, 2001). A Educação a distância
está inserida na sociedade da informação. Atualmente as pessoas têm mais possibilidade
de ingresso as Universidades, até o século passado, os cursos superiores eram restritos ao
público elitizado. Filhos dos das classes A e B, tinham acesso as Universidades Federais e
Estatuais, pois eram preparados desde o ensino fundamental em escolas da rede privada
e enquanto as Classes C, pagavam pelos seus estudos em Instituições Privadas, quando
conseguiam pagar.
Mas hoje com a expansão dos cursos de graduação a Distância, mais pessoas têm a
oportunidade de avanços em seus estudos independente a posição geográfica e no tempo
disponível. Junto à expansão da Educação à Distância, cresce também o paradigma de que
a Educação a Distância não oferece qualidade e é vista por muitos por educação pronta para
consumo ou seja “Fast- food”. Mas como oferecer um curso a distância com qualidade?
Segundo Almeida (2003), Freire defendia o pressuposto de que a pedagogia deve deixar
espaço para o aluno construir seu próprio conhecimento, sem a preocupação em repassar de
conceitos prontos, como ocorre freqüentemente na prática tradicional das salas de aula.
O conhecimento não é algo pronto a ser repassado como um objeto, ou liquido a
ser depositado em um recipiente. É sim construído através das relações sociais e só pode
transformar o mundo quem é transformado pelo conhecimento, e conhecendo o mundo o
homem transforma a si próprio, ou seja,a educação para Freire (1979) é uma busca constante
do homem, que deve ser sujeito de sua própria educação. Freire, poeticamente expôs em sua
obra: Professora sim, tia não, sua visão sobre o saber:
Anuário da produção acadêmica docente
86
Edina Domingues

[...] Em que ensinar já não pode ser este esforço de transmissão do chamado saber
acumulado, que faz uma geração á outra, e aprender não é a pura recepção do objeto
ou do conteúdo transferido. Pelo contrário, girando em torno da compreensão do
mundo, dos objetos, da criação, ela boniteza, da exatidão científica, do senso comum,
ensinar e aprender giram também em torno da produção daquela compreensão,
tão social quanto a produção da linguagem, que é também conhecimento.(FREIRE,
1997, p. 5)

Como quebrar o fazer pedagógico que ao longo dos anos, foi construído na linha
tradicionalista de que ensinar é o transmitir conhecimento que ao longo dos anos foi construído?
Olha-se para a maioria das salas de aulas das escolas hoje, século XXI, e o que se
percebe?À frente a professora que escreve no quadro negro e sentado em suas carteiras,
umas atrás das outras os alunos preocupados em fazer cópias. E na Educação a Distância,
como ocorre a aprendizagem?
Nos cursos em EaD, os alunos podem contar com vários recursos disponíveis no
ambiente de aprendizagem virtual: vídeos das tele-aulas, apostilas digitalizadas, fórum,
chats e entre outros e ainda podem contar com a mediação dos professores tutores a
distância e presenciais. Com toda esta riqueza de materiais, e este para obter sucesso se
faz necessário a reflexão sobre sua autonomia, responsabilidade, senso de organização e
compromisso. Sem estes atributos, o aluno corre o risco de perder o ritmo, e se perder ao
longo do curso.
Diferente das salas de aulas tradicionais, cabe ao aluno em EaD, uma reflexão crítica
em relação aos conteúdos apresentados pelas tela aulas, não podendo este apenas a ação
passiva de receber informações,mas segundo Freire (1996,p.13) “quanto mais criticamente
se exerça a capacidade de aprender tanto mais se constrói e se desenvolve na curiosidade
epistemológica”.
E de acordo com Freire (1996) cabe aos alunos aguçar e estimular sua curiosidade,
arriscando-se, aventurando-se e nesta força criadora do aprender, imune contra o poder
apassivador da Educação Bancária.
Na educação a distância, mesmo com todos os recursos disponíveis também corre-
se o risco da reprodução de um ensino totalmente instrucional, onde os alunos recebem
os materiais, assistem as aulas e respondem a um questionário em que se é cobrado as
“respostas prontas” das “perguntas prontas”. E depois a mera classificação da avaliação em
uma planilha automaticamente gerada.
Para Freire (1996, p.14), ”o ensino não se esgota no tratamento do objeto ou conteúdo,
superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente
é possível”. Então no processo, não cabe apenas o assistir por assistir as tele-aulas, ler por
ler, responder apenas por responder. Se faz necessário materiais e aulas que convidem aos
alunos a participarem de forma ativa e que promovam o conhecimento de forma colaborativa
e construtiva.

v. 05 • n. 13 • 2011 • p. 83-93
87
Paulo Freire e a Educação a Distância

O aluno que opta por cursar a modalidade em EaD, é adulto, e como tal, possui
um riquíssimo repertório de conhecimentos construídos no dia a dia de sua vida cotidiana
e através de suas relações do trabalho e segundo Freire (1996), é fundamental conhecer
o conhecimento existente quando o saber que estamos aberto e aptos a produção do
conhecimento ainda não existente.
E para a abordagem construcionista, em cursos de EaD, há o respeito pelos
conhecimentos já adquiridos pelos aprendentes, e o professor tutor ou professor presencial,
assumem o papel de mediadores , desafiadores, motivadores e também provocadores a
medida que fazem questionamentos, fazem indagações a partir de debates estimulantes
tanto em tempo real como através de fóruns e ou chats.
Segundo Almeida ( 2001 apud PERRENOUD, 2000, p.139),” o papel do professor é
mais do que ensinar, trata-se de fazer aprender, concentrando-se na criação, gestão e na
regulação das aprendizagens cuja a mediação propicia a aprendizagem significativa aos
grupos e a cada aluno”. Mesmo sendo o professor em EaD, seu papel não é o transmissor de
informações, mas um gestor das aprendizagens.
Os fóruns disponíveis nos ambientes virtuais, são ambientes onde ocorrem a dialética
entre participantes, alunos e professores, a partir do compartilhar conhecimentos e nesta
troca há a construção e reconstrução dos saberes. E segundo Almeida (2001) pela abordagem
Construcionista o professor assume o seguinte posicionamento:
Cabe a ele criar uma situação de parceria e colaboração com os alunos e entre os
alunos, incitando o levantamento de perguntas ou elegendo coletivamente um
tema de estudos, questionando os alunos, propondo desafios que possamser
significativos, convidando-os a verbalizar suas expectativas, dificuldades e
descobertas, provocando a formalização de conceitos e sua evolução em relação às
intenções e metas atingidas.(ALMEIDA, 2001, p.12)

Em alguns cursos de EaD, após os alunos assistirem as tele-aulas, os professores


presenciais coordenam atividades como debates, estudos de casos, momentos estes em que
os alunos podem verbalizar suas experiências de vidas, compartilhar trocas de conhecimento
em busca de novos saberes. Para Freire (1996) uma das estratégias mais importantes da
prática-educativo-critico são os momentos em que o professor propicia a seus alunos os
ensaios das experiências mais profundas de se assumirem como ser social e histórico, seres
pensantes, comunicadores e transformadores e a medida que os alunos se assumem como
sujeito assumem-se também como objeto.
E nesta ação de serem respeitados pelo grupo de estudos como seres pensantes e
explanadores de opiniões autônomas, os alunos transformam-se em sujeitos construtores
e ativos durante o processo de ensino e aprendizagem. Durante as discussões dos alunos
do grupo de estudos, a aprendizagem ocorre pela troca de conhecimentos ou seja forma
colaborativa e com isto a auto estima de cada participante é elevada a medida que se
sentem importantes, e valorizados pelo grupo sentem-se motivados e estimulados o que

Anuário da produção acadêmica docente


88
Edina Domingues

propicia a quebra dos obstáculos “da omissão da verbalização” e estes vão mais além
do previsível para suas aprendizagens. Viajam na construção do conhecimento de forma
prazerosa e significativa.

3. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, E A FORMAÇÃO DE SEUS ALUNOS


Segundo Almeida (2003) nas últimas décadas a preocupação com a disseminação e a
democratização e acesso a Educação evidencia a importância da Educação a distância e
favorecida ao advento das tecnologias da informação e da comunicação propiciando
novas perspectivas ao campo educacional.
Com a expansão dos cursos de EaD, mais alunos estão sendo formados nesta
modalidade, e por conseqüência mais profissionais a procura de oportunidades, mas frente
as novas exigências deste novo milênio, os cursos a distância estão preparando seus alunos
para esses novos desafios?
Segundo Silva (2002) ter um diploma não significa ter seu emprego garantido e para
manter sua empregabilidade o profissional precisa desenvolver competências e habilidades
como a capacidade de decisão, comunicação oral e escrita e saber trabalhar em equipe e a
estes são denominados como “trabalhadores do conhecimento” por serem capazes de usar
seu conhecimento em prol da melhoria da produtividade.
Ao observarmos as metodologias empregadas em diferentes cursos de EaD, existem
algumas universidades que estruturaram seus cursos seguindo modelos similares as dos
presenciais, ou seja moldados nos pressupostos que o mais importante é a transferências de
conteúdos profissionais desconectados entre a teoria e a prática.
Segundo Not (1993) a transmissão do conhecimento firma-se no pressuposto de
que alguém do exterior pode exercer sobre alguém uma ação que consiste modelar sua
inteligência ou seu saber. Esta ideia caminha junto à teoria de que é possível a transmissão
de conhecimentos por aquele que julga dominar o conhecimento para outro alguém que
“está vazio” do conhecimento.
Para Werthein (2000 apud MARINEZ e PERIC, 2009)a educação do século XXI não tem
a finalidade única de preparar alunos para o mercado de trabalho, mas facilitar a adaptação
aos diferentes trabalhos que surgem da evolução da produção diante da globalização, onde
talentos e criatividade são importantes, assim como formar cidadãos críticos e conscientes.
Havia em Paulo Freire, a preocupação constante sobre a importância da formação do
cidadão como ser consciente e crítico, capaz de agir de forma reflexiva e sendo este capaz
de provocar mudanças e fazer mudanças no mundo em que vive.
“A Educação pode ser em qualquer lugar e em qualquer tempo”, hoje esta ideia
defendida por Freire se transportamos para a esfera da Educação a distância, onde a

v. 05 • n. 13 • 2011 • p. 83-93
89
Paulo Freire e a Educação a Distância

dialética educacional ocorrem rompendo a barreira do espaço temporal e geográfico. A


escola ultrapassa a barreira concreta de suas paredes. E segundo Aquino:
O uso dessas tecnologias reflete uma nova forma de aprendizagem por meio da
interação multimídia e da comunicação entre pessoas. Especificamente, com esta
segunda, a partir do advento da internet, expande-se o processo educativo para além
dos muros das escolar e das universidades com a modalidade de ensino a distância. As
tecnologias podem ser utilizadas também como espaço de luta.(AQUINO, 2009, p.4)

Em resposta as atuais exigências ampliam-se as responsabilidades das universidades,


sobretudo as da modalidade a distância, a de não ser apenas formadora de profissionais
“cheios” de saberes técnicos, mas cabe a formação da consciência para o formando de que
mesmo apesar do término do curso de graduação, devem manter sua sede acessa de:
aprender a aprender. Como dizia Paulo Freire, somo seres inacabados.
Nesta modalidade: Educação à distância o aluno, durante seu transcurso, aprende a
não esperar por respostas prontas, é estimulado e motivado a pesquisar, procurar soluções,
dialogar através dos fóruns ou chats, promovendo a construção e reconstrução de saberes.
E este aluno enquanto profissional formado, não encontrará empecilhos em continuar a
aprender mesmo sem o suporte do ambiente virtual de aprendizagem, pois foi formado
para ser autônomo em relação a suas aprendizagens.
Delorsem (1997), tendo como pressuposto a visão futurista quem em decorrência da
explosão de informações que estaria por ocorrer no século XXI, reflete sobre o papel da Educação:
[..]o próximo século submeterá a educação a uma dura obrigação que pode
parecer, à primeira vista, quase contraditória. A educação deve transmitir, de
fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos,
adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro.
Simultaneamente, compete-lhe encontrar e assinalar as referências que impeçam as
pessoas de ficarem submergidas nas ondas de informações, mais ou menos efêmeras,
que invadem os espaços públicos e privados e as levem a orientar-se para projetos
de desenvolvimento individuais e coletivos. À educação cabe fornecer, de algum
modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo
tempo, a bússola que permita navegar através dele.(DELORS, 1997, p. 89)

E pensando nesta Educação foi traçado os 4 pilares da Educação, a partir do


Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação do Século XXI que são: aprender
a ser, aprender a conviver, aprender a fazer e a aprender a conhecer ( aprender). Quando
falamos de Educação, não podemos imaginar a escola do passado, preocupada apenas com
a transmissão de informações e do repasse do conhecimento, pois outros meios já o fazem
de maneira mais veloz: Jornais, Telejornais e até mesmo as redes sociais se encarregam de
espalharem as notícias. A questão é como propiciar a construção do conhecimento que é não
é o mesmo que informação.
No âmbito da Educação a distância, precisamos pensar em Educação que promove a
construção do conhecimento de forma realmente significativa, as universidades têm seus
modelos fundados nos pressupostos dos 4 pilares:

Anuário da produção acadêmica docente


90
Edina Domingues

• O aprender a aprender contempla o domínio dos instrumentos do conhecimento


através do desenvolvimento da compreensão e o pensamento dedutivo e intuitivo;
• O Aprender a fazer constitui o domínio de colocar em prática os conhecimentos
teóricos e agir no mundo em que vive;
• Aprender a viver com os outros está no domínio do campo das atitudes e valores,
a fim de participar e cooperar com os outros;
• Aprender a ser está relacionada aos outros três domínios, pois integra o “individuo”
como social envolto em sensibilidade e responsabilidade.
• Analisando como exemplo atividades propostas para os alunos do 2º semestre do
curso de Pedagogia a distância de uma conceituada instituição de Ensino Superior
percebemos objetivos que contemplam o 4 pilares:
• Objetivos:
• Promover o estudo, a convivência e o trabalho;
• Promover a aplicação da teoria e dos conceitos para a solução de problemas
relativos a profissão;
• Promover a emancipação intelectual, através dos estudos independentes,
sistematizados e o auto aprendizagem.
• Favorecer a aprendizagem.
A tarefa citada consistia em um desenvolvimento de atividades pedagógicas planejadas,
desenvolvidas e aplicadas pelo grupo de alunos, e a produto final foi a apresentação de um
seminário a partir das reflexões sobre o desafio da prática docente. Esta atividade foi apresentada
a em sala de aula, nos momentos presenciais e postada no ambiente virtual de aprendizagem.
Este tipo de atividade em que os alunos precisam colocar em prática os saberes
construídos a partir das interações, mediações, tele-aulas, são comuns em todos os cursos de
EaD desta instituição de Ensino, promovem a construção do conhecimento através do diálogo
entre aluno e aluno, no momento que discutem, trocam saberes, pautados não somente em
teorias, mas muitas vezes nas vivências de cada elemento do grupo -Aprender a conviver-.
Em meio à discussão, podem surgir dúvidas e questionamentos e na motivação da busca
pela informação, ocorre pesquisa o que propícia o auto aprendizagem e de forma colaborativa
os membros do grupo passam a compartilhar as informações – Aprender a aprender-.
E ao aplicar as atividades pedagógicas em um contexto escolar, os alunos aplicam os
conceitos apreendidos em uma situação real, ou seja colocam na prática os conhecimentos,
metodologias e técnicas – Aprender a fazer -.
E para que ocorra o sucesso do grupo,se faz necessário a integração, a responsabilidade
e respeito as diferentes posições e o bom senso de todos do grupo – Aprender a ser-.
Segundo Ribas (2010) Paulo Freire ao defender o diálogo na relação pedagógica
reforça a sua defesa da relação ensino-aprendizagem como um processo de busca e troca de
v. 05 • n. 13 • 2011 • p. 83-93
91
Paulo Freire e a Educação a Distância

saberes permanentes. Para Freire ninguém nos ensina a fazer essas coisas, mas também não
aprendemos a fazê-las sozinhos, aprendemos a fazê-las interagindo com os outros.
De acordo com Freire ( 1987) não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino e
que estes fazeres se encontram no corpo do outro e enquanto o aluno segue buscando e re-
procurando e indagando. Na busca pela informação, pelo conhecimento, para constatação
que compõem a ação de pesquisar, e ao pesquisar, o aluno apreende informações para
constatar a realidade, um fato, uma resposta e nesta composição compõem seu conhecimento,
e quando conhece é capaz e sendo capaz, modificar a si, ao meio e a sociedade.
Com a realização de atividades que promovam a ação do sujeito sobre o objeto, e não
o objeto sobre o sujeito, propicia a construção de saberes que são edificados na medida que
ocorre sua ação. Se faz necessário o compromisso das Universidades, em edificar seus cursos
a distância com compromisso e responsabilidade pela formação de futuros profissionais
que estarão edificando uma sociedade mais justa e democrática.

4. AS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Paulo Freire, conhecido mundialmente por sua pedagogia libertadora fundada na liberdade
do oprimido, em que o conhecimento liberta as pessoas para a vida digna de serem
respeitados pela sociedade, foi professor Educador e nos deixou mais que uma lição , deixou-
nos uma mensagem de vida! E numa visão Freireana de ser, olhamos para a Educação
a distância, como uma Educação de fato democratizadora, pois avança e atinge muitos
alunos, que em outras épocas se quer teriam a possibilidade de começar a graduação. Com
a era da Tecnologia, ampliam-se os cursos de EaD, mas o questionamento: O cursos de EaD
promovem de fato uma formação pronta para atender as exigências do mercado de trabalho
globalizado? A resposta foi encontrada nas metodologias, nos recursos, nos profissionais,
nas atividades que são fundamentas nos 4 pilares da Educação, e como Paulo Freire diria,
uma educação de fato libertadora!

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. E. B. Educação Projetos Tecnologia e Conhecimento. 1ª Edição. São Paulo: PROEM,
2001.
______. Tecnologia e educação a distância: abordagens e contribuições dos ambientes digitais e
interativos de aprendizagem. In: 23a Reunião Anual da ANPED, 2003, Poços de Caldas, 2003.
AQUINO, Mirian de Albuquerque. Educação para a autonomia: um diálogo entre Paulo Freire e o
discurso das Tecnologias da Informação e Comunicação. Disponível em <www.biblioteca.sebrae.
com.br/bds/BDS.nsf/.../NT000A3742.pdf.
Acesso em 19 de agosto. 2012.
BELLO, J.L.P. Paulo Freire ,E uma nova Filosofia para a Educação , Vitória – 1993. Disponível em:
<http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per01.htm> Acesso em: 14 de fevereiro.2012.

Anuário da produção acadêmica docente


92
Edina Domingues

BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>.


Acesso em: 10 de Maio.2012.
DELORS, J Educação: Um Tesouro a Descobrir.UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1997, 2ª
edição 199.
FREIRE, P. Educação e Mudança. 14 ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1979. Coleção e
Comunicação.
______.Conscientização: teoria e prática da libertação. 3.ed. São Paulo:
Moraes, 1980.
______.Pedagogia do Oprimido. 11ª Ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra.1987.
______. Pedagogia da Autonomia. Ano da Publicação Original: 1996
São Paulo: Paz e Terra. A educação na cidade, 1991.
______. Professora sim, tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo. Olho d’água, 1997.
Ferrari. M. Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência. Revista Nova Escola. 2011.
Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/mentor-educacao-
consciencia-423220.shtml> Acesso em: 14 de fevereiro.2012.
MORAES, S. A. DE ; TERUYA, T. K. . Paulo Freire e a formação do professor na sociedade
tecnológica. 2007. (Apresentação de Trabalho/Comunicação).
<http://nt5.net.br/publicacoes/paulo_freire.pdf> Acesso em: 15. fevereiro.2012.
MARTINEZ, S.R.MO. PERIC, R.B.A.As exigências educacionais para o mercado de trabalho no sé-
culo XXI. Revista Interfaces: ensino, pesquisa e extensão. Ano 1. Nº 1.2009.
Disponível em: <http://www.revistainterfaces.com.br/Edicoes/1/1_4.pdf>Acesso em: 22. feverei-
ro.2012.
NOT, L. Ensinando a aprender: Elementos da piscodidática geral.2ª Ed. São Paulo: Summuns edi-
torial, 1993.
PROINFO: Informática e formação de professores. Secretaria de Educação a Distância. Brasília:
Ministério da Educação,Seed, 2000.
SILVA, E. L. CUNHA, M. V. ,A formação profissional no século XXI: desafios e dilemas.Disponível
em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-19652002000300008&script=sci_arttext
Acesso em 23.fevereiro.2012.
SOARES, M.S. A. (Org.) A Educação Superior no Brasil. José Manuel Moran. Brasília, CAPES -
UNESCO, 2002
RIBAS, I.C. Paulo Freire e a EaD: Uma relação próxima e possível. Relatório de Pesquisa.Gerência
de Educação. SESI.Curitiba. Paraná, 2010.
Disponível em:<http://www.abed.org.br/congresso2010/cd/3042010090204.pdf>
Acesso em: 23. Fevereiro. 2012.
Rosas, P. . Paulo Freire: Aprendendo com a própria história.Disponível em:
<http://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obex06.pdf> Acesso em: 14 de fevereiro.2012.

v. 05 • n. 13 • 2011 • p. 83-93
93

Você também pode gostar