Você está na página 1de 9

15 de Setembro de 2017

O QUE FAZER COM O BITCOIN EM QUEDA?


"A moeda está deixando de ser papel e a gente ainda nem sabe bem como tratar essa criatura",

Gustavo Franco - um dos criadores do Plano Real e ex-presidente do Banco Central do Brasil

O giro financeiro acumulado do bitcoin no Brasil ultrapassou R$1,6 bilhão de janeiro a agosto
deste ano, segundo o site bitvalor.com. Considerando os preços em reais, no mesmo período, o

bitcoin havia valorizado 390%, rentabilidade que perde apenas para a performance registrada
pelas ações da Magazine Luiza na Bovespa.  

Setembro registrou uma nova máxima e testou os US$5000 no mercado internacional, enquanto
que nas negociações feitas via corretoras brasileiras o preço atingiu os R$18 mil. 

Sempre que um ativo sobe muito rapidamente, é natural que as pessoas levantem a recorrente
questão: "estamos diante de uma bolha?". Antes de tentar responder a essa pergunta, é preciso

colocar os fatos em perspectiva.  

No final de agosto, a Bloomberg publicou o gráfico abaixo, produzido pela Bespoke Investments: 



!1
Fonte: Bloomberg

A análise mostra um comparativo entre as bolhas financeiras ocorridas em mercados, como o de

tecnologia, construção e biotecnologia, em relação ao que se considera ser a bolha do bitcoin.


Nenhuma das bolhas estudadas apresentou curva de valorização tão íngreme quanto a trajetória

de preço do bitcoin. O levantamento coleta dados de mercado desde 1990 e considera a


performance do bitcoin a partir de 2015.

Uma pesquisa divulgada na primeira semana de setembro revelou que 58% dos entrevistados
acreditavam, durante o segundo trimestre de 2017 (quando o preço do bitcoin não estava nem

perto dos patamares atuais), que o valor de mercado dos ativos digitais estava em um momento
de bolha.

A enquete, realizada pela CoinDesk, agência de notícias especializada do setor, foi feita com 1300
participantes do mercado de todo mundo. Segundo a pesquisa, 30% dos entrevistados não

acreditava que os ativos digitais estavam em uma bolha e 12% se declararam neutros em relação
ao tema.

Esses dados nos obrigam a lembrar de um momento com muitas similaridades com o atual. Entre
1995 e 2001, a Internet ganhava escala comercial e dava origem às primeiras empresas

milionárias do mercado. Esse período ficou conhecido como a "bolha ponto com", em razão de
uma série de ofertas públicas de ações de empresas de tecnologia que proliferou no mercado. 

Em 1999, aconteceram 457 IPOs, sendo a maioria relacionada à internet. 117 desses lançamentos
dobraram de preço no primeiro dia que foram disponibilizados para negociação.

 
!2
Nesse período, o Federal Reserve (Fed) reverteu a política monetária americana, promovendo um

ciclo de seis aumentos na taxa de juros entre 1999 e 2000. O efeito dessa mudança foi a
desaceleração do ritmo da economia, o que afetou especialmente o consumo.  

Quando foram publicados os resultados fracos do e-commerce na temporada de Natal de 99, ficou
evidente que a valorização das empresas não era sustentável e que muitos investidores pagariam

pelo excesso de ganância. 

Então a bolha estourou

O estouro da bolha das ".com" começou em março de 2000, após o índice Nasdaq ultrapassar 5

mil pontos, mais do que o dobro do valor no ano anterior.

Empresas que haviam aberto capital recentemente, ignoravam preceitos básicos de economia,

presumindo que, graças à internet, qualquer coisa poderia ser vendida on-line.  Esse período de
crescimento durante o governo de Bill Clinton foi chamado por Alan Greenspan, então presidente

do Federal Reserve, de "exuberância irracional". 

Em 2001, a bolha estourou rapidamente e a maioria das "ponto com" encerrou as atividades sem

obter lucro e literalmente queimou bilhões de dólares de investidores de capital de risco. 

Ao final da bolha, o número de IPOs despencou para 76, nenhum deles dobrou de valuation no

primeiro dia e as empresas reportaram prejuízos gigantescos, o que afetou negativamente vários
setores da economia americana.  

A bolha ".com" cresceu principalmente nos Estados Unidos, mas teve efeitos espalhados ao redor
do mundo. Houve um tempo que bastava um domínio (.com ou .net), escritório na Vila Olímpia e

uma apresentação de slides bonita para captar dinheiro com os primeiros fundos de investimento
em tecnologia. A oportunidade era tamanha que não se podia pagar o preço de ficar de fora. 

Bolhas geram a aplicação de um conceito conhecido como "destruição criativa", no qual o


processo de inovação no mercado faz com que novos produtos destruam empresas e modelos de

negócios ultrapassados.  

Ao mesmo tempo em que centenas de empresas faliram, nasceram gigantes do mercado, com a

Amazon e o Google.  

!3
Estaríamos vivendo algo parecido no mercado de criptomoedas? 

Temos a obrigação de sempre questionar os fundamentos, analisar os fatos e tentar elaborar


cenários que sustentem qualquer decisão de investimento. 

Isso posto, vamos imaginar um cenário extremo: o que poderia acontecer com a economia global
caso o preço do bitcoin e das demais criptomoedas fosse a zero subitamente? 

Haveria uma nova crise financeira por isso? Setores inteiros da economia seriam afetados?
Haveria governos aprovando pacotes de resgate? Pessoas perderiam o emprego? 

A resposta é definitivamente NÃO. Apesar do crescimento explosivo, o tamanho do mercado das


criptomoedas ainda é muito pequeno e pouco disseminado como instrumento de investimento

quando analisado comparativamente. 

Temos diversos outros ativos com sinalização mais clara de bolha. Bolsas no mundo todo operam

em níveis históricos de valorização e a situação do balanços dos maiores Bancos Centrais do


mundo é alarmante. 

Para acompanhar em tempo real uma bolha inflada com força desde 2008, recomendo
acompanhar a situação da dívida pública americana que ultrapassou a marca assustadora de 20

trilhões de dólares.

Ao contrário da maior parte dos investimentos tradicionais, as criptomoedas têm fatores de risco

independentes dos mercados tradicionais e muitas vezes tiram proveito das incertezas da
economia global. 

Diversos estudos apontam que o mercado tem potencial para atingir valor de mercado na casa
dos trilhões de dólares nos próximos anos. O atual patamar em torno dos 150 bilhões de dólares

abre espaço para uma valorização substancial antes que se possa atestar sinais de bolha.  

Por enquanto, ainda vivemos a fase inicial de formação do mercado de criptomoedas. É natural

que isso seja acompanhado de riscos elevados. Do contrário, não teríamos a valorização sem
precedentes observada recentemente. 

Esse é um dos principais mandamentos de qualquer investimento: não existe retorno sem risco.  

À medida que o tempo passa e aumenta o interesse e utilização das criptomoedas, forma-se um

efeito de rede virtuoso que torna o sistema como um todo mais resiliente. 

!4
Enquanto tivermos aumento consistente no interesse de novos usuários, quantidade crescente de

transações e aumento do poder de processamento, não vejo nada que afete negativamente a
lógica de investimento em criptomoedas.

O caminho será feito de momentos de euforia e desespero, mas o pote de ouro no final do arco-
íris promete ser grande o suficiente para distribuir riqueza para aqueles que tiverem método e

disciplina para sobreviver na turbulência natural do mercado.

A China volta a atacar, ou melhor, a proibir 

A proliferação dos IPOs durante a bolha da internet se assemelha muito ao caso das Initial Coin

Offers (ICOs). Somente em 2017, cerca de US$1,5 bilhão foi captado, segundo dados do ICO
Tracker. É quase impossível acompanhar a proliferação de novas ofertas.

Praticamente todas as moedas digitais subiram forte em 2017, mas o fator decisivo para o
crescimento do mercado e diminuição da participação do bitcoin foi a  popularização das ICOs.

A situação fez com que até mesmo Vitalik Buterin, criador do Ethereum, afirmasse que as ICOs
estão passando por um período de bolha e que provavelmente muita gente perderá dinheiro ao

investir em projetos ruins. Vale lembrar que a maioria das ICOs lança tokens por meio da
plataforma Ethereum.

Na China, as ICOs tiveram grande destaque durante este ano até que, no dia 4 de setembro, o
Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) anunciou a proibição completa dessas ofertas

em território chinês.  

A notícia gerou uma mudança de humor no mercado, puxando significativamente para baixo o

preço do bitcoin e de praticamente todas as outras criptomoedas.  

No dia 8 de setembro, uma nova notícia, desta vez veiculada por um site chinês, caiu como uma

bomba no mercado. A decisão da China de apertar ainda mais a regulação do setor de


criptomoedas no país levará, inclusive, à proibição da operação das corretoras que realizam

câmbio de yuans e moedas digitais.

Durante a semana, a notícia chegou a ser considerada falsa, gerando muita especulação em torno

das ações das autoridade chinesas.  

Contudo, na manhã do dia 14 de setembro, a BTCC China, uma das maiores exchanges chineses,

anunciou o fechamento das operações de negociação on-line a partir de 30 de setembro, o que


!5
confirmou os rumores ventilados pelo mercado. Também foram interrompidas as operações da

plataforma de negociação over-the-counter (OTC) chinesa Bitkan. O mercado de moedas digitais


não viu com bons olhos a tudo isso e o preço do bitcoin despencou, com aumento forte da

volatilidade nos mercados internacionais e expressiva queda no mercado brasileiro.

A restrição da China às empresas que operam criptomoedas preocupa no curto prazo, afinal de

contas estamos diante do país que por muito tempo foi o mais importante mercado de negociação
e que controla a maioria dos bitcoins minerados.

No entanto, as negociações com bitcoin no país asiático continuarão sendo legais, se feita de
maneira peer-to-peer, segundo informações do próprio PBoC.

O crescimento da demanda em outros países da Ásia e o maior conhecimento do bitcoin nos


circuitos financeiros tradicionais tende a compensar parte do efeito negativo das mudanças.  

O alerta fica para o desenrolar de possíveis outras regulamentações, principalmente nos Estados
Unidos, que podem nos trazer surpresas positivas nos próximos meses.

O mercado monitora a situação do pedido de aprovação de diversos ETFs (Exchange-traded fund),


que poderá dar acesso simplificado a investidores institucionais e de varejo. Este poderá ser o

próximo grande gatilho para retomar a escalada do preço.

O efeito das mudanças regulatórias tende a ser maior no Ethereum e nos tokens lançados via ICOs,

preservando de certa forma o bitcoin como menos arriscado.  

Como o mercado ainda é essencialmente comprador, o pequeno investidor fica muitas vezes

perdido com a volatilidade. Como quase tudo, operar no Brasil tem as suas particularidades.

O movimento do dólar, que agora opera entre R$3,10 e R$3,20, tem impacto direto sobre o preço

do bitcoin para os investidores brasileiros. 

Com a moeda americana em processo de desvalorização, temos um fator de pressão negativa

sobre o preço do bitcoin em Real.  

O grande fator de risco particular do mercado brasileiro de bitcoin é o spread, a taxa calculada

pela diferença do preço do bitcoin em dólar em relação ao custo de aquisição em real. 

No Brasil, temos uma demanda muito maior do que a oferta por bitcoins, o que gera uma série de

oportunidades de arbitragem para quem opera nesse mercado. 

Arbitrar é basicamente tirar proveito da diferença de preço de um determinado ativo em dois

mercados diferentes. Como já dissemos, o bitcoin é negociado simultaneamente em centenas de

!6
corretoras espalhadas pelo mundo, o que gera distorções constantes de preço e oportunidades

para operadores de spread.

Como a oferta disponível de bitcoins por reais não tem acompanhado o crescimento da demanda,

vemos o aumento substancial do spread e do risco de operações de curto prazo, com o preço do
bitcoin no Brasil descolado do preço internacional. 

Esse movimento tem o efeito positivo de amortecer eventuais quedas mais fortes do bitcoin, mas
também encarece o custo de aquisição para os investidores brasileiros. 

O preço despencou de R$18 mil para mínimas abaixo dos R$13 mil entre 2 de setembro e 14 de
setembro. A dinâmica local segue independente das cotações internacionais com o spread

variando entre 10% e 25%, sustentado pela demanda crescente por parte de investidores
brasileiros, mesmo com mercado em viés temporário de baixa.

Os últimos meses foram incríveis para o mercado, com grande atração de novos investidores. O
grande problema disso é que iniciantes tendem a cometer alguns erros muito comuns: 

1 . Entrar com o mercado caro demais

2. Vender no primeiro sinal de perda 

Evitar erros como esses já é boa parte do caminho andado para os lucros.

Por isso, recomendo cautela para novos aportes e paciência para quem acabou
de se posicionar em bitcoin.

Além da cotação no mercado internacional, o preço será influenciado pela volatilidade do dólar e

principalmente pelo nível de spread.  

O mercado entrou em viés de baixa, sob influência das mudanças regulatórias na China, e o

bitcoin passou a ser negociado em torno de US$3550, depois de uma forte realização dos lucros
recentes. 

O aumento da aversão ao risco reduziu o valor de mercado das criptomoedas para US$120 bilhões,
uma redução superior a 30% em relação ao pico do início de setembro.

!7
Fonte: coinmarketcap.com

O mercado no Brasil depende do comportamento dos investidores que entraram nas últimas

semanas, muitos posicionados perto dos R$15 mil, sendo o preço de entrada uma barreira
psicológica tanto para embolsar lucros quanto para realizar perdas.

Enquanto isso, vamos aproveitar esse momento de queda para aproveitar novas oportunidades.
Temos hoje uma nova recomendação, que publicamos em um relatório separado para facilitar a

leitura.

Um abraço e bons invetimentos,

Safiri Felix

!8
DISCLOSURE

Elaborado por analistas independentes da Investeaê, este relatório é de uso exclusivo de seu destinatário, não pode ser
reproduzido ou distribuído, no todo ou em parte, a qualquer terceiro sem autorização expressa. O estudo é baseado em
informações disponíveis ao público, consideradas confiáveis na data de publicação. Posto que as opiniões nascem de
julgamentos e estimativas, estão sujeitas a mudanças.

Este relatório não representa oferta de negociação de valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros.

As análises, informações e estratégias de investimento têm como único propósito fomentar o debate entre os analistas
da Investeaê e os destinatários. Os destinatários devem, portanto, desenvolver as próprias análises e estratégias.

Informações adicionais sobre quaisquer sociedades, valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros aqui
abordados podem ser obtidas mediante solicitação.

Os analistas responsáveis pela elaboração deste relatório declaram, nos termos do artigo 17º da Instrução CVM nº
483/10, que as recomendações do relatório de análise refletem única e exclusivamente as suas opiniões pessoais e
foram elaboradas de forma independente.

* O analista Vinícius Bazan é o responsável principal pelo conteúdo do relatório e pelo cumprimento do disposto no
Art. 16, parágrafo único da Instrução ICVM 483/10.

(*) A reprodução indevida, não autorizada, deste relatório ou de qualquer parte dele sujeitará o infrator a multa de até 3
mil vezes o valor do relatório, à apreensão das cópias ilegais, à responsabilidade reparatória civil e persecução criminal,
nos termos dos artigos 102 e seguintes da Lei 9.610/98.

!9

Você também pode gostar