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O que acontece em Belém não fica em Belém.

Um estudo sobre o Natal.

Terceira formação - Silêncio - 12/12/2021

Santa Maria

“Maria, porém, disse ao Anjo: ‘Como é que vai ser isso, se eu não
conheço homem algum?’” (Lc 1, 35)

Maria é aquela que acredita, que tem a fé; mas é uma fé inteligente. É
uma fé que, através da sabedoria de Deus, busca entender como se
fará a vontade de Deus na vida dela.

Maria tem a vida em Nazaré e seus parentes, Isabel e Zacarias, viviam


a uma certa distância (por volta de 140km) da cidade em que habitava
Maria. Provavelmente, ela utilizava-se desse caminho para ir até
Jerusalém, nas peregrinações que os judeus faziam; que eram na
Páscoa (festa da libertação do povo hebreu da escravidão no Egito), na
festividade das Semanas (festa fazendo memória às sete semanas
entre a liberdade do Egito e a recepção das tábuas de Moisés) e do
Tabernáculo (festa lembrando dos tempos em que o povo de Israel
estava no deserto e habitavam em tendas).

Portanto, era um caminho já conhecido de sua residência até a casa de


Isabel. E que, pelo convívio com Zacarias (um sacerdote da tribo de
Levi), Maria teria a participação assídua no Templo.

“<<Maria esteve no templo do Senhor como uma pomba em seu ninho,


e recebeu alimento das mãos de um Anjo>>. O texto retrata Maria
realizando tarefas menores (buscando água, por exemplo), mas também
trabalhos manuais especializados. Ela é escolhida, por exemplo, dentre
as virgens consagradas de Israel para tecer o intrincado véu que
guardava o santo dos santos no Templo.”
Scott Hahn, A alegria do mundo - como a vinda de Cristo mudou tudo (e continua
mudando), Quadrante, São Paulo, 2018, pág. 62.

O trecho citado por Scott Hahn refere-se ao Protoevangelho, que são


escritos que surgiram após os Evangelhos, cerca de 125 d.C.; não tem a
autoridade do Evangelho canônico, mas mostra muito sobre o que os
cristãos pensavam sobre Maria.

Tendo essa possibilidade da vida de Maria voltada para o Templo e


comparando com textos das Sagradas Escrituras que citam mulheres
cuidando do templo e consagradas:

“Fez a bacia de bronze e seu pedestal de bronze, com os espelhos


das mulheres que faziam o serviço à entrada da tenda de reunião.”
(Ex 38, 8)

Sobre a virgindade de Maria, Santo Agostinho fala sobre o


questionamento de Maria diante do Anjo Gabriel:

“É certo que Maria não teria dito isso a menos que tivesse feito seu voto
de virgindade perante Deus. [...] É certo que, sendo mulher, não teria
perguntado como poderia dar à luz o filho prometido se seu casamento
com José incluísse o propósito da relação sexual.”
Santo Agostinho, Sobre a santa virgindade, 4.

Em Maria nós encontramos a referência daquela que não guardou nada


para si. Aquela mulher citada no livro Gênesis que teria inimizade com a
serpente, seria a mulher disposta a abrir mão do desejo de “ser Deus” e
de coração aberto engrandecer e glorificar o seu Senhor.
São José

“Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com
José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do
Espírito Santo. José, seu esposo, que era homem de bem, não
querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.”
(Mt 1, 18-19)

O silêncio de José é o sinal da justiça que mais expressa sua


personalidade. Dentro dessa justiça, a Igreja buscou explicar o seu
silêncio em três formas diferentes:

- A teoria da suspeita.

Afirma que José suspeitou de um possível adultério e buscou um tipo de


divórcio em segredo, para não expor Maria Santíssima.

Porém, essa teoria apresenta sérios problemas. Tendo em vista que,


para que José fosse inteiramente justo, ele precisaria submeter Maria a
todas as leis judaicas:

“Se uma virgem se tiver casado, e um homem, encontrando-a na


cidade, dormir com ela, conduzireis um e outro à porta da cidade e os
apedrejareis até que morram(...)”
(Deut 22, 23)

- A teoria da perplexidade.

José não teria acreditado na infidelidade de Maria, mas também não


sabia como explicar aquele ocorrido.

O divórcio parecia a única opção. Porém, por não acreditar que ela
fosse culpada, ficaria incerto de como executar. Então ele desejava
cumprir a lei de Deus, mas também queria julgar a situação com a
máxima caridade possível.

- A teoria da reverência.

José, nesta teoria, sente-se indigno de ser parte do plano de Deus numa
situação tão única.

A decisão de se separar silenciosamente de Maria é tomada como uma


medida de reverência e facultativa, tomada para manter o segredo do
mistério em torno da Virgem.

“Das três explicações possíveis para as motivações de José, a última


me parece ser a mais satisfatória. E em minha convicção me
acompanham São Tomás de Aquino, São Bernardo de Claraval e São
Josemaria Escrivá, que refletiram sobre as evidências e chegaram a
mesma conclusão.”
Scott Hahn, A alegria do mundo - como a vinda de Cristo mudou tudo (e continua
mudando), Quadrante, São Paulo, 2018, pág. 82.

“Nesse sentido, São José deu provas de uma grande dedicação. Por
amor de Cristo, conheceu a perseguição, o exílio e a pobreza que daí
deriva. Teve de instalar-se em lugar diverso da sua aldeia. A sua única
recompensa foi a de estar com Cristo.”
Papa Bento XVI, Discurso na Basílica Marie Reine des Apôtres no bairro de
Mvolyé, Yaoundé, Camarões, 18.03.2009.

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