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Apresentação
Definir identidade cultural não é tarefa das mais fáceis. Então, quando se pretende
entrelaçar esse conceito com o ensino de leitura, a questão se torna mais ampla e
complexa. Contudo, vale a pena arriscar algumas considerações, trazer à baila
alguns apontamentos que permitam construir um diálogo com as propostas dos
professores reunidos nesse seminário.
Nessa perspectiva, o estudo das relações culturais na literatura leva em conta uma
discussão entre texto e contexto. Desse modo, o texto como forma de permanência
cultural é, ao mesmo tempo, produtor e produto da cultura. Como tal, expressa as
visões de mundo conflitantes, que se encontram e se chocam, num amplo diálogo
entre umas e outras. Por isso mesmo, a literatura é uma das dimensões culturais
capazes de propiciar condições para o desenvolvimento do indivíduo. Pode ser
instrumento e meio de ensino de muitas áreas do conhecimento além dela própria.
Vale lembrar seu uso no ensino da leitura, da escrita, da história, da filosofia, da
geografia, dentre outras ciências.
Vê-se, pois que, a comunicação artística supõe três elementos fundamentais: autor,
obra e público, indissoluvelmente ligados em seus papéis sociais, como nos ensina
Antonio Candido. A atividade do artista estimula a diferenciação de grupos; a criação
de obras modifica os recursos de comunicação expressiva; as obras delimitam e
organizam o público. Há um jogo permanente de relação entre os três: o público dá
sentido e realidade à obra, é o espelho onde o autor verifica a sua imagem refletida,
atuando então como um elo entre autor e obra.
Observa-se que a problemática dessa literatura é que ela começa mesmo no ato da
leitura, movimento de inscrição em que a palavra é manifestação de uma ausência
que ultrapassa autor e leitor. Portanto, não há dúvida quanto à função e a
importância do leitor no processo de criação e re-criação da obra literária.
Como professores, sabemos que não basta ensinar a reconhecer as letras para
formar um leitor, ensinar a ler é desmistificar alguns conceitos, quebrar paradigmas
que só contribuem para fragmentar o ensino e, consequentemente, desvincular o
indivíduo de sua cultura. O predomínio da concepção idealista de literatura contribui
para o esvaziamento de seu caráter de veiculadora de cultura, universo que constitui
um dos mais altos signos do pensamento-linguagem do ser humano.
Vale lembrar que todas as disciplinas dão lugar para construção de valores,
apropriação de gestos e expressões que remetem ao universo cultural. O diálogo
entre o eu e o outro começa a se estabelecer a partir da experiência interdisciplinar.
Dessa forma, a literatura, a história, a geografia e todas as disciplinas devem
oportunizar uma cultura de participação, em que os educandos possam interagir
como sujeitos de um tempo, de uma sociedade, de uma política, interagindo na
história como sujeitos atuantes na medida em que incorporarem experiências de
leitura.
REFERÊNCIAS
_________. Aula. Tradução de Leila Perrone Moisés. 7 ed. São Paulo: Cultrix, 1978.
NOVAIS, Adauto. O olhar. 7 ed. São Paulo: Companhia das letras, 1988.