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Excelentíssimo Presidente do Tribunal Arbitral,

Excelentíssimos árbitros auxiliares,


Cumprimentos extensivos aos ilustres mandatários,
Minhas senhoras e meus senhores,

Gozando do nosso direito de resposta, vimos refutar os bem apresentados argumentos


da parte demandante com os seguintes fundamentos:

1º (Incumprimento)

Excelentíssimos,

Tendo as partes submetido todos os litígios que surgissem do Contrato de 1 Dezembro


de 2019 ao Tribunal Arbitral, o litígio é objectiva e subjectivamente arbitrável pois
trata-se de um direito disponível e as partes são perfeitamente capazes (art. 1.º, n.º 1 da
LAV), razão pela qual é competente o tribunal para apreciar o presente litígio.

A parte demandante pede que seja declarada a ocorrência de incumprimento contratual


ignorando o facto de o novo presidente do Botswana, Sua Excelência Charles
Mbawatelu ter solicitado ao Tribunal de Contas do Botswana a fiscalização da
legalidade do contrato nos termos do artigos 182.º da CRA e 9.º da Lei n.º 13/10, Lei
Orgânica e do Processo do Tribunal de Contas, o qual concluiu pela sua nulidade, por
não ter precedido de concurso público nem de visto do Tribunal de Contas.

E bem decidiu o tribunal pois, tendo as partes eleito o direito angolano aplicável ao
presente litígio, tratando-se de um CONTRATO PÚBLICO com o valor de MIL
MILHÕES DE DÓLARES, é de se aplicar os artigos 22º e 24.º da Lei n.º 9/16, Lei da
Contratação Pública.

NULIDADE

Assim, o procedimento de contratação pública que deveria ser adoptado é o do


CONCURSO PÚBLICO e não o da CONTRATAÇÃO SIMPLIFICADA como sucedeu
na medida em que o valor do contrato é superior ao NÍVEL SEIS DA TABELA DE
LIMITES DE VALORES CONSTANTE DO ANEXO SEGUNDO, da LEI Nº 9/16 e
tendo o CONHECIMENTO DO MERCADO E A COMPLEXIDADE DO OBJECTO
DO CONTRATO é de se excluir o CONCURSO LIMITADO POR PRÉVIA
QUALIFICAÇÃO.

Com isso, sendo o Concurso Público um elemento essencial do contrato nos termos do
nº 1 do art. 76.º I parte do Dec.-Lei n.º 16-A/95, bem como do art. 381.º da Lei n.º 9/16,
a sua preterição em detrimento da adopção do procedimento de contratação simplificada
traduzida numa adjudicação directa tem como consequência a nulidade do contrato.

Este raciocínio tem sido o entendimento pacífico e reiterado na jurisprudência dos


tribunais cujo ordenamento jurídico se assemelham ao angolano. É o caso do Tribunal
de Contas de Portugal que entendeu no acórdão n.º 14/2010 que “a ausência
de concurso, obrigatório no caso, implica a falta de um elemento essencial da
adjudicação, o que determina a sua respectiva nulidade”, tal como prevê o legislador
ordinário angolano no n.º1 do art. 76.º, II parte do Dec.-Lei n.º 16-A/95 bem como do
n.º 2 do art. 382.º da LCP.

Por outro lado, o Professor MOREIRA LOPES entende que ocorrerá também a nulidade
do contrato quando por aplicação dos princípios gerais do Direito Administrativo se
chegue a conclusão de que a sanção do vício em causa deve ser a nulidade nos termos
do artigo 382.º, n.º 2 da LCP. Entendimento também suportado pelos Professores
Freitas do Amaral e Carlos Feijó.
No caso em concreto, o contrato foi conseguido graças às comissões indevidas de UM
MILHÃO DE DÓLARES pagas ao Ministro das Infra-estruturas do Botswana, Sr.
Julian Nganunu, e ao Chefe do Gabinete do anterior PR, Sua Excelência Sr. Eric
Kwape,

Cumpre reforçar que as comissões indevidas foram prestadas a estes na fase pré-
contratual não nas vestes de representantes da empresa, mas nas vestes de
representantes do Executivo aquando do início das negociações de 1 de Junho de 2019,
sendo que na altura a 1ª Demandada ainda não encontrava-se constituída, ferindo deste
modo os princípios da legalidade, transparência, interesse público e boa governação,
devendo o contrato ser considerado nulo.

É possível também trazer à colação o caso Bariven, SA c. Wells Utimate Service,


LLC decidido pelo Tribunal Holandês onde se entendeu que “ dar efeito jurídico
a um acordo concluído como resultado de corrupção frustra os
próprios fundamentos do sistema jurídico e, por tanto, contrário
à ordem pública”, para o Tribunal “um contrato é considerado como tão
intimamente ligado à corrupção que dar-lhe efeito legal viola a ordem
pública se: (I) a sua conclusão foi influenciada pela corrupção , e
(II) não teria sido celebrado, ou pelo menos não nos mesmos
termos, sem corrupção. Se essas duas condições forem satisfeitas, uma
sentença arbitral aplicando esse acordo facilita a corrupção em violação
da política pública e deve ser anulada”.
Excelentíssimos,
INEFICÁCIA

Ademais, sustentam os professores FREITAS DO AMARAL e CARLOS FEIJÓ que


“enquanto o Tribunal de Contas não der o seu visto, o acto será ineficaz, isto é, o
interessado que dele beneficia não pode invocar a seu favor os direitos dele resultantes”.

Assim, ainda que o contrato fosse válido não produziria quaisquer efeitos jurídicos por
não ter tido o visto do Tribunal de Contas, uma vez que o visto é conditio sine qua non
para produção de efeitos jurídicos em obediência ao n.º 7 do art. 8.º da Lei 13/10, bem
como do art. 10.º da Lei n.º 18/19 - que aprova o OGE de 2019, e do n.º 1 do art. 23.º
da Lei n.º 1/14 – Lei do Regime Jurídico da Emissão e Gestão da Dívida Pública
Directa e Indirecta.

A nulidade e a ineficácia (?) são excepções peremptórias de facto impeditivo e cuja


verificação dá lugar à absolvição do réu no pedido nos termos do artigo 493.º, n.º 3 do
CPC.

ANULABILIDADE

Excelentíssimos

É impreterível que no comércio jurídico as partes procedam de boa-fé, a qual faltou por
parte da Demandante, tendo esta, se aproveitado da situação crítica vendendo os bens a
um preço superior ao do mercado para de forma excessiva e injustificada lucrar,
reconduzindo-se para figura do negócio usurário nos termos do art. 282.º do CC. tendo
como consequência a anulabilidade,

Sendo que houve um desequilíbrio excessivo que desencadeou uma quebra de


equivalência na medida em que o preço convencionado foi de tal modo exorbitante em
comparação com o preço real, Assim importa realçar que o juízo do desequilíbrio foi
feito com base no relatório que nos foi fornecido pelo Good Accounts inc que
concluiu que os bens prometidos pela demandante não valiam a preço de mercado
sequer SU 500.000.00 dos bens tornando-se evidente o requisito objectivo da usura,
bem como o requisito subjectivo atinente ao lesado visto que o Estado de Botswana se
encontrava numa situação de extrema carência, que enfraqueceu a sua possibilidade de
recusar o contrato.

A demandante aproveitou-se desta situação para obter vantagens excessivas no contrato


por força da exploração reprovável, intencional e consciente verificando-se assim o
requisito subjectivo atinente ao usurário.

Ora vejamos, será justo excelentíssimos que, se subtraia do erário público e até se onera
a população com um avultado empréstimo avaliado em MIL MILHOES para receber
materiais velhos e em péssimas condições? Pelas condições dos equipamentos em nada
beneficiariam a população e até a colocariam em risco a vida, é evidente que este tipo
de negociação feriria o interesse publico cuja teleologia remete-nos para o bem comum
que é rigorosamente abraçada pela constituição apostólica Gaudium et Spes bem como
pela encíclica Populorum Progressio do Papa Paulo VI. (explicar o que aconteceu)

Consequência processual da anulabilidade…

RESOLUÇÃO

Excelentíssimos,

Gostaríamos também que referir … ainda que o contrato não estivesse viciado e fosse
eficaz é legítima a resolução contratual unilateral pela primeira demandada pelos
fundamentos previstos no n.º 1 do art. 432.º do Cód. Civil bem como do n.º 2 do art.
376º, al. b) da LCP, pois a inobservância das regras procedimentais do concurso
público, a entrega de comissões ilegais e a não prossecução do interesse público
constituem fundamento bastante para a resolução unilateral do contrato, nos termos do
artigo supracitado da LCP, excluindo-se no caso subjudice o direito a indemnização em
razão do concurso de culpa (n.º 1 do art. 570.º do CC).

Importa realçar que os efeitos da resolução do contrato são equiparados aos da nulidade
do negócio jurídico (art. 433.º do CC), não produzindo, deste modo, o referido contrato
qualquer efeitos jurídicos.

Excelentíssimo, pelos fundamentos apresentados não se pode falar em responsabilidade


contratual da 1ª Demandada, nesse sentido Freitas do Amaral e Carlos Feijó, defendem
que «se o facto danoso for praticado durante o exercício das funções do seu autor mas
não por causa desse exercício estamos perante o chamado facto pessoal então é uma
responsabilidade meramente pessoal não podendo a pessoa colectiva ser
responsabilizada» pois o que esteve na base da celebração do contrato foi um interesse
pessoal do Ministro das Infras-estruturas Sr. Julian Nganunu e do Chefe de Gabinete do
antigo presidente de … e não propriamente um interesse da pessoa colectiva, visto estes
receberam comissões indevidas da demandante para assim oferecem vantagens a esta na
contratação.

Por fim, atendendo às razões supracitadas, que fundamentam e sustentam as invalidades


do contrato desde a nulidade, anulabilidade e a ineficácia, fazendo recurso ao princípio
da consumpção, segundo o qual havendo várias invalidades, a mais grave absorve as
menos graves, prevalecerá a nulidade como consequência mais gravosa.

Pelos fundamentos acima expostos, vimos requerer à Vossa Excelência a procedência


dos seguintes pedidos:

a) Que a acção seja julgada improcedente por não provada


b) Que a 1ª Demandada seja absolvida do pedido porque provadas as excepções
peremptórias levantadas
c) Que a Demandante seja condenada a pagar todos os encargos da acção bem
como os honorários dos seus advogados, estimando os mesmos em valor não
inferior a USD 500.000,00.

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