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EDIÇÃO 2022 | ANO 25 | €15,00

PATEK PHILIPPE
CRONÓGRAFO
AUTOMÁTICO COM
FLYBACK E HORAS DO
MUNDO, REFERÊNCIA
5930P-001, PLATINA.
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A Pires Joalheiros tem o prazer de o receber de forma a proporcionar-lhe uma experiência única.
Os artigos tradicionais do nosso ramo, são o perfeito complemento das jóias, relógios e pratas de
design contemporâneo de marcas de alto prestígio que representamos em exclusivo

MARCAS JOALHARIA: MARCAS RELOJOARIA:

DAMASO MARTINEZ - K DI KUORE - COSCIA - BARAKÀ ROLEX - OMEGA - HUBLOT - MONTBLANC - CHRONOSWISS - SEVENFRIDAY
EDITORIAL

ANUÁRIO 2022

os relógios medem
um mistério
sem memória não teríamos “tempo”, viveríamos
na surpresa constante do momento presente


COMO NOS EXPLICA um dos entrevistados nesta edição, o físico Carlos Fiolhais, “nas
equações que descrevem o movimento de partículas, o tempo é reversível: tanto faz an-
dar para a frente ou para trás. Sabendo nós que há uma ‘seta do tempo’, o Universo vai do
passado para o futuro (este é o teor da segunda lei da Termodinâmica) e não ao contrário.
A questão – de modo nenhum resolvida – é como se passa do tempo reversível à escala
microscópica para o tempo irreversível à escala macroscópica. Este é um dos grandes
mistérios do tempo”.
Já o astrónomo Rui Agostinho faz notar que “sem memória não teríamos ‘Tempo’, vivería-
mos na surpresa constante do momento presente”. Quanto ao diplomata Francisco Seixas
da Costa, agora reformado, interroga-se: “Será que ainda vou a tempo para muitas coisas
que não fiz, porque então não havia tempo para nada? Nos dias de hoje, abro a janela, de
manhã, para saber o tempo que faz. É que não há tempo a perder: os dias de sol não espe-
ram por nós, se não lhes dedicarmos, gozando-os logo, o tempo que temos. […] O tempo,
no fundo, é sempre a medida da vida que ainda temos à nossa frente.”
Como já escrevemos, o Tempo mexe com tudo e todos, nada do que é Tempo nos é estra-
nho. Ele passa pelos calhaus rolados, arredondando-os até os
transformar em grãos de areia; ele assina a sua presença nos
limos e outros organismos vivos que as marés vão depositando,
ciclicamente, em camadas, nos rochedos da costa. Umas vezes
somos mais rochas, a que o exterior se vai colando; outras, mais
pedras rolantes, passamos antes pelo que nos é exterior e lá va-
mos deixando um pouco de nós. Há quem tenha mais de rocha
encalhada, há quem seja mais seixo rolado. Mas, a tudo o que está
imóvel ou a tudo o que se mexe, o Tempo trata por igual – tanto
faz que seja ele a passar por nós ou nós a passarmos por ele.
Existimos há um quarto de século. Foi o Tempo que passou por
nós, ou nós que passámos pelo Tempo?

Fernando Correia de Oliveira* / Editor-chefe I allaworldontime@gmail.com *jornalista e investigador

16 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
SUMÁRIO

CIAL AUTOMÓVEL

54
82

74
209
16. EDITORIAL 82. NOVIDADES – PATEK PHILIPPE APRESENTA
TRÊS NOVOS CRONÓGRAFOS
54. DEPOIMENTOS – O TEMPO SEGUNDO ELES... O mundo dos cronógrafos, uma das complicações mais apreciadas
São três académicos e divulgadores de ciência, um diplomata pelos COLECIONADORES, ganha três novas versões, com funções
cultor do tempo e três personalidades marcantes do mundo da adicionais, iniciativa da Patek Philippe.
relojoaria nacional. Quiseram associar-se aos 25 anos do Anuário,
L respondendo a questões sobre o Tempo, os relógios e a sua relação 98. VIAGENS – VOLTA AO MUNDO
L com a sociedade. Um privilégio que fomos levando aos nossos leitores,
acompanhando lançamentos de novos relógios, privando com figuras
ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
74. PERSONAGENS – AO LEME DO TEMPO ímpares, um pouco por todo o mundo. Tempos irrepetíveis.
Tivemos o privilégio de conhecer quase todos. São personalidades
que marcaram o passado ou podem influenciar o futuro da 209. ESPECIAL AUTOMÓVEL – MOTORES
indústria relojoeira suíça. Tal como há 25 anos, o desafio é enorme. Os mundos da macro e micromecânica cruzam-se muito.
Vencida a crise do quartzo, sobreviverá ela ao novo relógio de bolso E os amantes dos automóveis gostam geralmente de relógios.
(o telemóvel) e ao smartwatch? Mostramos algumas ligações entre marcas dos dois setores.

18 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
SUMÁRIO

136. BAUME &MERCIER

138. BREITLING

140. CASIO

144. CHRONOSWISS

146. CUERVO Y SOBRINOS

148. FREDERIQUE CONSTANT

152. GARMIN

154. GIULIANO MAZZUOLI


156. HERMÈS

160. HUBLOT

164. INGERSOLL

166. IRON ANNIE

168. MEIA LUA

170. MONTBLANC

172. OMEGA

176. PANERAI

178. ROLEX

182. SEIKO

186. SWISS MILITARY BY CHRONO

188. TAG HEUER

190. TUDOR

192. U-BOAT

194. VACHERON

196. ZENITH

200. ZEPPELIN

202. ENTREVISTA: ALESSANDRA ELIA,


DA MONTBLANC [CANETAS]

204. MONTBLANC [CANETAS]

206. CARLTON [JOIAS]

134. montra
20 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Propriedade/Edição
Propriedade/Edição
Projectos Especiais,
Projectos Especiais, S.A.
S.A.
Av. da
Av. da República,
República, 1910
1910 Lote
Lote 34
34
Quinta Patiño
Quinta Patiño —
– Alcoitão
Alcoitão
2645 –— 143
2645 143 Alcabideche
Alcabideche
Portugal
Portugal
Sede/Redação
Sede/Redação
Av.
Av. Infante
Infante Santo n.º 23,
23,
12.º
12.º Esquerdo
Esquerdo
1350
1350 –— 177 Lisboa
Lisboa
Portugal
Portugal
Diretor
Diretor
João
João Viegas Soares
Viegas Soares
Editor-chefe
Editor-chefe
Fernando Correia de Oliveira
Fernando Correia de Oliveira
(allaworldontime@gmail.com)
(anuariorelogioscanetas@gmail.com)
Projeto Gráfico
Projeto
JoséGráfico e Design
Gonçalves
José Gonçalves
Design
Marketing & Publicidade
Filipa Gonçalves Silva
Mafalda Sanches de Baêna
Marketing & Publicidade
(marketing@projectosespeciais.pt)
Mafalda Sanches de Baêna
(marketing@projectosespeciais.pt)
Revisão
J. Leitão Baptista
Revisão
J. Leitão Baptista
Publicidade
Projectos Especiais, S.A.
Publicidade
Projectos Especiais, S.A.
Impressão
Yellowmaster
ImpressãoSA
Av. Alm. João Azevedo Coutinho,
RPO/Yellowmaster SA 643
2775Azevedo
Av. Alm. João — 101 Parede
Coutinho, 643
2775 – 101 Parede
Distribuição
Distribuição
VASP
VASP
Tiragem
Tiragem
15 000 exemplares
15 000 exemplares
Depósito Legal
Depósito Legal
n.º 188.060/03
n.º 188.060/03
Registo no
Registo no ICS
ICS
n.º 120647
n.º 120647
Av. Infante
Av. Infante Santo,
Santo, n.º
n.º 23,
23,
12.º Esquerdo
12.º Esquerdo
1350 –— 177
1350 177 Lisboa
Lisboa
Portugal
Portugal

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www.anuariorelogiosecanetas.com
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AAinformação
informação compilada
compilada nono Anuário
Anuário Relógios
Relógios& &Cane-
Cane­
tas 2022
tas 2021 foi
foi integralmente
integralmente fornecida
fornecida por
por empresas
empresas
terceiras. Pese a colaboração cuidada des­s asfontes,
terceiras. Pese a colaboração cuidada des sas fontes,
incluindorepresentantes
incluindo representantes ee distribuidores
distribuidoresdasdasmarcas
marcas
derelógios
de relógios em
emPortugal
Portugal ee no
no estrangeiro,
estrangeiro, ee das
dasoutras
outras
fontesde
fontes deinformação
informaçãoque quetambém
tambémpres­
pres taramcontri­
taram con-
tributos à edição, não nos
butos à edição, não nos responsabilizamos pela pela
responsabilizamos exa­
exatidão
tidão dos dos
dadosdados
nemnem por danos
por danos causados
causados pela pela
falta
falta
de de rigor
rigor técnicotécnico dos mesmos,
dos mesmos, aqui publicados.
aqui publicados. Caso
Caso detete
detete algumalgum
erro ouerro ou omissão
omissão nas informações
nas informações publi­
publicadas,
cadas, pedimospedimos antecipadamente
antecipadamente as nossas
as nossas descul­
desculpas
pas e atestamos
e atestamos que publicaremos
que publicaremos a sua aretificação
sua reti-
ficação
com comem
agrado agrado em edições
edições vindouras
vindouras do Anuário
do Anuário . .

18
22 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANO RELOJOEIRO PASSATEMPO

prospex diver’s padi monster

seiko de mergulho para


leitora do anuário

UM MERGULHO QUE
VALEU… UM RELÓGIO
DE MERGULHO. A
FOTO ESCOLHIDA
NÃO PODIA SER MAIS
APROPRIADA…

C
om esta foto, Carmo
Pinhão, leitora do Anuário
Relógios & Canetas, ganhou
o passatempo que foi
organizado em parceria com
a Seiko e o seu representante
para Portugal, a Certora.
Obteve assim um relógio
de mergulho Seiko Prospex
Diver´s Padi Monster, com
calibre automático e indicação
de dia e data. Tem caixa de 42,4 mm,
de aço, estanque até 200 metros. n

24 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANO RELOJOEIRO PASSATEMPO

joias carlton

foto de kuala lumpur


BRINCOS DA COLEÇÃO LISBON PARA LEITORA DO ONLINE.

C
atarina Velosa vive em Kuala
Lumpur, mas isso não a impediu
de concorrer ao passatempo que
organizámos em parceria com
a Carlton Jewellery. A foto dela,
tendo como enquadramento
as Torres Petronas, deu-lhe
direito a uns brincos de ouro,
da coleção Lisbon, com um
PVP de 675 euros. A prima, Ana
Conceição, recebeu o conjunto
em seu nome, nos nossos escritórios em
Lisboa, entregues por Carlos Góis, da
Carlton Jewellery. As joias Carlton são
uma marca portuguesa que, desde a sua
criação, têm sido parceiras do Anuário
Relógios & Canetas. n

26 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANO RELOJOEIRO PASSATEMPO

frederique constant

participe e habilite-se
a ganhar um relógio
DÊ NOME A CONDIZER ÀS FOTOS QUE MANDAR,
PARA UM PASSATEMPO SEM NÚMERO LIMITE.

A
Frederique Constant é conhecida por ter introduzido o concei-
to de “luxo acessível” na relojoaria Swiss Made. E este Highlife
Automatic COSC é exemplo disso. Equipado com um calibre au-
tomático, com data, foi certificado como cronómetro pelo orga-
nismo helvético que supervisiona a exatidão dos relógios. Este
elegante relógio, com um PVP de 1.850€, pode ser seu.
Para participar no passatempo que a Frederique Constant or-
ganiza em parceria com o Anuário Relógios & Canetas, bas-
ta tirar fotografias que reflictam um ambiente cosmopolita e
de luxo acessível e dar a cada uma delas um nome a condizer.
A participação faz-se através do e-mail anuariorelogioscane
tas@gmail.com. Não há limite para o número de fotos enviado e o prazo li-
mite é 30 de setembro de 2022. A foto vencedora – distinguindo-se a ima-
gem e a respetiva legenda – será anunciada até 15 de outubro de 2022.
A escolha é da responsabilidade da Frederique Constant. n

28 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Frederique Constant Highlife
Automatic COSC
A sua caixa, com 41 mm de diâmetro,
é de aço polido. O mostrador está
protegido por vidro de safira convexo,
com revestimento antirreflexo em
ambos os lados. Tem fundo transparente
e é resistente à água até 50 metros
de profundidade. O mostrador é azul,
decorado com um globo terrestre. Tem
índices prateados com tratamento
luminescente. A janela de data é às
3 horas. Os ponteiros são polidos à mão,
O Frederique Constant com tratamento luminescente. Tem
bracelete de aço e é entregue com uma
Highlife Automatic COSC bracelete extra, de borracha.

tem um PVP de 1.850€.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 29
ANO RELOJOEIRO CHRONOSWISS

mecânica moderna

novidades em almoços
em lisboa e porto
UMA MARCA QUE SE TEM IMPOSTO POR UM FORTE ADN ESTÉTICO,
NOMEADAMENTE NA CAIXA CANELADA E NA COROA TIPO CEBOLA.

Confraternização
m tempo pós-
-pandémico, com
oportunidade para
ver fisicamente

A
as novidades.
Importempo, representante
em Portugal da Chronoswiss,
apresentou em almoços para a
imprensa e pontos de venda as
novidades da marca. As fotos
dos eventos em Lisboa e Porto.
Em destaque os novos modelos,
nomeadamente os de tipo
regulador e os que têm calibre
esqueletizado. De Lucerna para
o mundo. Fundada em 1983, em
Munique, pelo relojoeiro alemão Gerd R. Lang,
a Chronoswiss é desde 2012 propriedade de
um casal de empresários, os Ebstein, que
mudaram a marca de Munique para Lucerna. n

30 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANO RELOJOEIRO JOIAS

tradição florentina

annamaria cammilli
na rede espiral

LÍDER EM ANGOLA,
A ESPIRAL RELOJOARIA
ESTÁ IGUALMENTE
PRESENTE EM LISBOA
E APOSTA CADA VEZ
MAIS NA JOALHARIA.

P
rojetadas em Florença pela
escultora e pintora Annamaria
Cammilli, a linha de joias com
o seu nome reflete a atmosfera
criativa da cidade e a sua
tradição artesanal no domínio
das joias. As peças Annamaria
Cammilli são verdadeiras
esculturas em miniatura, com
volumes vivos, fluidos e com
uma tridimensionalidade forte.
A marca italiana entra em exclusivo no
mercado angolano e português através
da rede de lojas Espiral. n

32 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANO RELOJOEIRO OFFICINE PANERAI

ESPAÇO EXCLUSIVO,
NA AVENIDA
DA LIBERDADE,
DEDICADO À
MARCA COM RAÍZES
FLORENTINAS.

design italiano, coração suíço

novidades apresentadas
na boutique de lisboa

A
boutique Panerai na Avenida
da Liberdade, em Lisboa,
foi em setembro o cenário
para a apresentação das
novidades da marca.
O Submersible, com calibre O Luminor Submersible
automático e data, caixa de e o Radiomir Eilean
42 mm, de aço, estanque até estiveram em destaque.
300 metros, é uma delas.
O Radiomir Eilean, com
calibre de carga manual e
3 dias de autonomia, caixa de 45 mm, de
aço, estanque até 100 metros, é outra. n

34 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ONLINE
SHOP
ANO RELOJOEIRO VAN CLEEF & ARPELS

exclusividade em joias e relógios

boutique na avenida
da liberdade

O
UMA DAS s relógios e joias da Van Cleef
MARCAS MAIS & Arpels, incluindo os de venda
exclusiva em boutique, passam a
EXCLUSIVAS estar disponíveis em Lisboa, com
DO UNIVERSO o espaço agora inaugurado na
JOALHEIRO, Avenida da Liberdade. É a segunda
AGORA vez que a VC&A está no mercado
nacional – há cerca de 15 anos,
PRESENTE NO chegou a haver um espaço no Hotel
EIXO DO LUXO Ritz, mas gerido por um importador.
DA CIDADE. Desta vez, a gestão da nova loja, de
200 m2, cabe em joint-venture à marca e ao
grupo nacional Tempus, que detém ainda na
avenida duas Boutiques dos Relógios Plus
e gere, em joint-venture com as marcas,
boutiques Omega e Vacheron Constantin. n

36 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANO RELOJOEIRO VISITA

anuário relógios & canetas na golegã

cavalos e fotografia
A GOLEGÃ ESTÁ ABERTA A EVENTOS ONDE A MAIS-VALIA
DO ANUÁRIO POSSA SER EQUACIONADA.
FOTOS: PEDRO QUEIMADO

Reunião de trabalho
prospetiva. Onde futuras

O
parcerias, com a edilidade
então presidente da Câmara Municipal
e agentes económicos e
da Golegã, José Veiga Maltez, recebeu
culturais da região foram
em março passado elementos do
equacionadas.
Anuário Relógios & Canetas e alguns
dos seus clientes, importantes
players do setor, para uma reunião
de trabalho prospetiva. Futuras
parcerias, com a edilidade e agentes
económicos e culturais da região,
estão a ser estudadas. Além dos
Paços do Concelho, o grupo visitou a
Casa-Estúdio Carlos Relvas, um edifício único
no mundo, criado de raiz para servir um dos
pioneiros da fotografia em Portugal. n

38 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANO RELOJOEIRO ANIVERSÁRIO

sempre um passo à frente

seiko faz 140 anos


A MAIS PRESTIGIADA MARCA RELOJOEIRA
NIPÓNICA AUMENTA A EXCLUSIVIDADE
E EDITA MODELOS DE EDIÇÃO LIMITADA.

A
Seiko, manufatura nipónica
fundada em 1881 em Tóquio
por Kintaro Hattori, está a
comemorar 140 anos. A Certora,
representante da marca na
Península Ibérica, organizou um
almoço para seis convidados,
no Kanazawa, na zona ribeirinha
de Lisboa. Um evento exclusivo
de uma marca cada vez mais
exclusiva, no restaurante japonês
mais exclusivo da cidade – só tem oito
lugares, todos ao balcão.
Com apenas 21 anos, Kintaro Hattori abriu
uma loja de venda e reparação de relógios,
no centro de Tóquio. Onze anos depois, em
1892, fundou a fábrica Seikosha. A Seiko foi a
introdutora do relógio de pulso de quartzo, o
Astron, no final de 1969. A tecnologia híbrida
Spring Drive (calibres automáticos que geram
eletricidade e, com ela, alimentam o órgão
regulador de quartzo), a alimentação de
calibres de quartzo por energia solar ou os
relógios conectados com acerto da hora por
GPS são alguns dos avanços tecnológicos
introduzidos pela Seiko ao longo dos seus
140 anos de existência. Seguindo o mote de
Kintaro Hattori – “Sempre um passo à frente
dos restantes”. n

40 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Um restaurante
de grande
exclusividade
para festejar
140 anos de vida.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 41
ANO RELOJOEIRO PUBLIRREPORTAGEM

42 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
totalmente equipado para responder a todo o tipo de serviço técnico

atelier relojoeiro camanga


O SERVIÇO PÓS-VENDA GANHOU NA OURIVESARIA CAMANGA PERSONALIDADE PRÓPRIA.

Traga os seus
relógios e venha
conhecê-los por
dentro!

O
s quase 50 anos de experiência em re- “Valorizamos o seu tempo…”
talho especializado de relojoaria e ou-
rivesaria trouxeram-nos um enorme • Não deixe os seus relógios de quartzo com a
conhecimento e um gosto infindável pilha gasta no interior!
de servir e estar próximo dos nossos • Não permita que o seu relógio mecânico lhe
clientes. Juntamos a mestria da me- apresente constantemente horas imprecisas!
cânica relojoeira à conveniência e pro- • O seu relógio tem a caixa ou a bracelete ris-
ximidade consigo e criámos uma nova cada?
montra da Ourivesaria Camanga que • Aquela peça emblemática, vintage, perdeu o
alberga agora um atelier de relojoaria brilho que o costumava seduzir?
único, totalmente equipado para res-
ponder a todo o tipo de serviço técnico, da sim- Visite-nos!
ples regulação e ajuste à reparação ou restau- Experiencie um serviço técnico ímpar no nosso
ro em todo o tipo de relógios. espaço e venha conhecer todas as nossas mar-
Com um relojoeiro diplomado e em permanên- cas e valências.
cia, capazes de responder de imediato às suas
solicitações, estamos agora disponíveis para
ajudá-lo a cuidar dos seus relógios.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 43
25 ANOS CAPAS QUE MARCAM

um quarto
de século a
marcar o tempo

ACOMPANHÁMOS OS ANOS DE OURO DA ALTA-RELOJOARIA,


A RECUPERAÇÃO DO RELÓGIO MECÂNICO COMO OBJETO
PATRIMONIAL, AS CRISES FINANCEIRAS E A QUEDA
DAS GRANDES FEIRAS INTERNACIONAIS. SEGUIMOS A
DIGITALIZAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO DO MUNDO, COM EDIÇÕES
MENSAIS ONLINE, QUE EM NOVE ANOS SE CONSTITUÍRAM
NA MAIOR PLATAFORMA DO SEU GÉNERO EM LÍNGUA
PORTUGUESA. VIMOS A ASCENSÃO DO SMART WATCH,
COMO GRANDE AMEAÇA AO RELÓGIO DE PULSO CLÁSSICO.
E ASSISTIMOS À BOLHA RELOJOEIRA QUE NOS ÚLTIMOS
TEMPOS TEM AGITADO AS PEÇAS VINTAGE. RECORDAMOS
AS CAPAS DO ANUÁRIO RELÓGIOS & CANETAS EDIÇÃO
PAPEL, COM A NOSTALGIA DE QUEM INFORMA HÁ 25 ANOS
COM RIGOR, INDEPENDÊNCIA E… MUITA PAIXÃO.

44 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
1997
Um Omega Speedmaster
Professional de aço custava
360 mil escudos
1998
A Suíça exportou
32,4 milhões de relógios,
quando em 1993 tinha
exportado 45 milhões

1997
E os isqueiros faziam parte
do mundo dos relógios &
canetas

1998
Um Rolex Oyster
Perpetual Date
GMT-Master II,
de aço, custava
545 mil escudos

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 45
25 ANOS CAPAS QUE MARCAM

1999
Realizava-se
em Lisboa,
na FIL, uma
Euro Jóia

2000
Além do cofret e do
caderno de canetas,
acrescentou-se outro,
dedicado a joias

1999 2001
Era esta a capa
E o Anuário
do caderno
vinha num
dedicado às
cofret, que
canetas
incluía um
caderno
separado
dedicado às
canetas

46 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
2003
Fazia-se uma
entrevista a
António Tavares de
Almeida, fundador
do Museu do
Relógio, em Serpa

2002 2004
Fazia-se uma Era a vez de
entrevista a António entrevistar Salomão
Machado, da Kolinski, da Tempus
Machado Joalheiro Internacional e
das Boutiques dos
Relógios

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 47
25 ANOS CAPAS QUE MARCAM

2006
Por ocasião do
1.º aniversário,
entrevistámos
Franco Cologni,
presidente da
Fundação de Alta
Relojoaria

2006
O suplemento
de verão fazia
reportagens nos,
então, principais
pontos de venda

2005
Era editado um
número especial
de verão, onde
se entrevistava
Carlos Monjardino,
president da
Fundação Oriente
e colecionador
de relógios

48 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
2008
Em 2008, a entrevista
principal foi a Philippe
Guillaumet, diretor-
-geral da Richemont
Ibéria

2007 2009
Em 2007 falávamos de Eurico Em 2009, fizemos uma
Ribeiro Coutinho, importador, que importante entrevista a
acabava de inaugurar a sua sede Nicolas Hayek, presidente
no Parque dos Poetas, em Oeiras do Swatch Group

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 49
25 ANOS CAPAS QUE MARCAM

2011
Em 2011 referimos
os 100 anos da
família Torres no
setor dos relógios
e joias. Na foto,
João Carlos
Torres, o patriarca
da Torres
Joalheiros 2012
Em 2012, José Carlos
Saldanha, especialista,
colecionador e
comerciante de
relógios, foi o nosso
principal entrevistado

2010
Falámos com
o astronauta
Eugene Cernan,
o último
humano a pisar
a Lua

50 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
2014
Em 2014, João de Deus
Ramos, diplomata e 2015
orientalista, falou-nos Em 2015,
das suas coleções de os atores
relógios e canetas Paulo Pires
(embaixador
Longines) e
Virgílio Castelo
(embaixador
Montblanc)
falaram
connosco

2013
Em 2013 fizemos
uma reportagem
por dentro dos
relógios do
Convento de Mafra

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 51
25 ANOS CAPAS QUE MARCAM

2017
A grande entrevista foi a Ana
Freitas, da J. Borges Freitas,
uma das poucas mulheres a
liderar no setor

2018
Falámos com Mestre
Taborda, figura mítica
da Relojoaria em
Portugal

2016
Publicámos documentos
inéditos sobre Augusto
Justiniano de Araújo, um
dos maiores relojoeiros
portugueses de sempre

52 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
2020
Em 2020, fomos a Madrid
entrevistar Miguel Ángel
Cadarso Font, do Grupo Cadarso

2019
A Grande Entrevista 2021
foi a Jorge Pinheiro, da Wagner Luís, da rede
Sociedade de Relojoaria Espiral Relojoaria
Independente (Angola e Portugal), foi
um dos entrevistados

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 53
25 ANOS DEPOIMENTOS

ASTRÓNOMO, FÍSICO, MATEMÁTICO,


DIPLOMATA E… MESTRES RELOJOEIROS

o tempo
segundo
eles...
SÃO TRÊS ACADÉMICOS E DIVULGADORES DE CIÊNCIA, UM
DIPLOMATA CULTOR DO TEMPO E TRÊS PERSONALIDADES
MARCANTES DO MUNDO DA RELOJOARIA NACIONAL.
QUISERAM ASSOCIAR-SE AOS 25 ANOS DO ANUÁRIO,
RESPONDENDO A QUESTÕES SOBRE O TEMPO, OS RELÓGIOS
E A SUA RELAÇÃO COM A SOCIEDADE.

54 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
...infinito, mas vida
com dias contados
O que é o Tempo? O Tempo flui e passa como se As forças fundamentais propagam-se com velo-
algo de físico fosse. Porém, se tudo no univer- cidade finita (a da luz é a máxima possível), pelo
so estivesse perfeitamente parado, plenamente espaço que as rodeia. Por isso, têm um raio de
estático, dos macro aos nano objetos e todas as ação que cresce e transparece na sequência or-
partículas, a perceção da continuidade do Tem- denada dos estados transitórios: o equilíbrio não
po esvair-se-ia completamente, mesmo que ele se atinge instantaneamente nem em todos os
existisse. Será que existe? pontos ao mesmo tempo. A causalidade tempo-
Na comunidade científica da Física há quem dis- ral torna-se uma das características da Física e RUI AGOSTINHO
cuta se o Tempo é uma propriedade real do uni- relaciona o Tempo com a evolução dos sistemas. Astrónomo, antigo diretor do
verso, tal como o espaço, a matéria e a energia Por outro lado, a perceção humana do Tempo ba- Observatório Astronómico de
seia-se na memória do que já aconteceu associa- Lisboa, recebeu em 2019 o Grande
são, ou se constitui apenas uma variável mate- Prémio Ciência Viva, pela sua ação
mática descritiva da evolução dos sistemas físi- da à previsão expectante do que virá no futuro.
na promoção da cultura científica
cos. É que a energia constitui o tecido que define O carro que passa em velocidade esperamos vê- como professor, investigador,
o espaço do universo, onde a matéria evolui e se -lo uns metros mais à frente, daqui a 1 segundo. autor e divulgador na área da
espraia. Aí agregam-se as galáxias, as partículas Isso dá-nos a perceção do Tempo. Sem memória Astronomia.
do cosmos, seguindo as quatro forças fundamen- não teríamos “Tempo”, viveríamos na surpresa
tais da natureza, as únicas que estão imbuídas constante do momento presente.
na energia que constitui o todo do universo. E o O Tempo mede-se com relógios, máquinas sín-
Tempo? Não está nessas forças fundamentais. cronas donde sacamos a cadência compassada
algo subjacente e bem integrado numa teoria uni-
Mas estranho seria vermos água ao lume a ar- para medir a evolução do mundo ou a letargia
ficada. Será que o tempo e o espaço são quantifi-
refecer e congelar devido à transferência da sua do estático. Mas o Tempo não é absoluto, au-
cados, ou seja, descontínuos à nano, pico, fento,
energia (calor) para a chama do fogão, que fica- todefinido, independente do resto do cosmos,
atto, escala infinitesimal?
ria mais quente. Mais estranho seria se todas as como Isaac Newton postulou nos “Philosophiae
Como o Tempo é relativista, a sua cadência natu-
moléculas do ar numa sala de repente se con- naturalis principia mathematica” (“Filosofia Na-
ral depende não só da velocidade do observador
centrassem num único canto, deixando um vá- tural” é a Física).
(diminui quando esta aumenta) mas também do
cuo absoluto no restante volume. Tal como se mede nos relógios atómicos que
pedaço de cosmos em que se habita. Não há um
Isso não acontece porque as leis da Física mos- usam as propriedades quânticas dos átomos,
Tempo absoluto, o mesmo para todo o universo,
tram que os sistemas evoluem para um equi- o compasso dos fenómenos físicos responde
nem o ritmo do Tempo permaneceu imutável ao
líbrio associado ao estado mais provável, que às propriedades de curvatura do espaço em
longo da sua história. O cosmos que começou
minimiza a energia total e tem entropia máxi- que está, curvatura que é forjada pela matéria-
com a sua energia ultracondensada agora es-
ma1. Isso dá-nos a “Flecha do Tempo”, o sentido -energia aí existente através da força gravítica
praia-se pela multitude de estados físicos cada
da evolução natural que vemos no mundo à vol- que exerce à sua volta. Por isso, os relógios ató-
vez mais distribuídos e associados à expansão
ta. O Tempo associa-se à sucessão de estados micos nos satélites de GPS batem mais depressa
generalizada do espaço. Por isso, tem a entro-
transitórios, sequencialmente ordenados, até se do que os mesmos relógios atómicos à superfí-
pia sempre a aumentar e a Flecha do Tempo ga-
atingir o estado de equilíbrio correspondente aos cie da Terra3. A curvatura do espaço abranda a
rante que o universo evolui só num sentido: pró
estímulos existentes. cadência temporal.
futuro, seja ele qual for... até à morte térmica de
A entropia mede a multiplicidade de microes- O Tempo é relativista, mas há um mistério entre
tudo. O universo atingirá um tempo infinito, mas
tados do sistema, o quadrilião de combinações a coordenada tempo, a 4.ª dimensão associada
as condições para a vida dentro dele têm os dias
possíveis das propriedades quânticas das partí- ao espaço na Teoria da Relatividade (TR) e a va-
contados, ainda que longos.
culas, que mantêm a mesma aparência macros- riável tempo na Mecânica Quântica (MQ), teoria
Bem-vindo ao Tempo fugaz, a sua vida. Pense...
cópica de equilíbrio2, ou seja, o que é observado que descreve os átomos e as partículas subató-
será que existe?
pelos instrumentos. Não vemos a entropia, mas micas. Na MQ o tempo é um parâmetro mate-
vemos os seus efeitos à larga escala e daí as- mático que serve para determinar a evolução de
Usa relógio? Herdou algum de família? Não her-
similamos a evolução das coisas, a flecha tem- propriedades mensuráveis como energia, posi-
dei o Seiko do meu pai mas sempre gostei de re-
poral do cosmos. ção, momento angular, etc. Mas ele próprio não
lógios. Sempre gostei de máquinas de precisão
é um observável. Nas tentativas modernas de
e, por isso, fui namorando o Breitling Aerospace
conciliar a TR com a MQ há quem assuma que
porque, para além da estética, foi dos primeiros
1 Nas condições de temperatura, pressão e trocas que tempo e espaço são conceitos que emergem de
a ter um oscilador de quartzo termocompensado
podem fazer com o exterior.
que lhe dava uma deriva de ±15 s/ano se bem me
2 O diferente espalhar da energia pelas partículas recordo. Muito melhor do que o habitual ±15 s/
faz a miríade de microestados possíveis dum sistema
em equilíbrio, e é medido pela entropia, a desordem 3 Para funcionarem corretamente os recetores de GPS mês em relógios eletrónicos, em todas as mar-
nanoscópica no sistema físico. fazem a correção relativista da Hora. cas e independente da gama de preços.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 55
25 ANOS DEPOIMENTOS

Comprei um Tissot Touch da 1.ª geração que pro- inundou os países e tornaram-se populares os eles provocam alterações nos níveis de energia
metia uma deriva entre -3 e +5 s/mês e o meu relógios que usavam os 50 ciclos do sinal elé- e, por isso, a frequência obtida tem uma peque-
dava os -3 s/mês. Depois comecei com os Apple trico: um oscilador eletromagnético controlado níssima variação. O séc. XXI trouxe o objetivo
Watch e tenho um Série 6. Além de usarem um por essa frequência atuava as engrenagens dos seguinte, baseado no avanço das tecnologias
oscilador de quartzo termocompensado também ponteiros. Não eram autónomos e as derivas físicas: impedir que os átomos choquem. Isto
usam o protocolo NTP para manter a hora cor- temporais podiam atingir os vários segundos por corresponde a arrefecê-los ao máximo, a mili ou
reta ao milissegundo. Uma verdadeira máquina dia, dependendo da exatidão da frequência que a micro graus acima do zero absoluto. Feixes de
do “tempo certo”. companhia de eletricidade mantinha. laser disparam de modo a travar os movimen-
No início do século XX apareceram os relógios tos de cada átomo e obrigá-los a permanecer
Há algum relógio que gostasse de ter? Atual- somente baseados em osciladores elétricos (cir- confinados num pequeno volume. Os mais agi-
mente não, mas o Breitling Aerospace Titânio cuitos RLC) disciplinados pela frequência de vi- tados escapam desta região tal como água que
ficou na memória pois é um relógio muito bonito, bração dum cristal de quartzo talhado para os pinga numa fonte. Curiosamente designam-se
excelente e emblemático, que ficaria como uma 32768 Hz. O efeito piezoelétrico tinha sido des- por “fontanários”.
recordação futura de família. coberto no final do séc. XIX. A grande vantagem No estado de arrefecimento extremo o spin atómi-
foi a miniaturização possível devido ao baixíssi- co impõe-se no arranjo das partículas, mostran-
Como gere o seu tempo? Uma boa parte dele mo consumo de energia que exigia: uma pilha do as propriedades quânticas dum gás de Bose-
está associado à atividade profissional na Uni- minúscula. Além disso, a exatidão dos mesmos -Einstein. Agora, os níveis de energia eletrónicos
versidade de Lisboa, seja ensino, investigação ou passou para os ≈0,5 s/dia o mesmo que ≈15 s/ em cada átomo são muito bem definidos e estes
outras tarefas relacionadas. Obviamente a ges- mês. Revolucionou a exatidão do “tempo pessoal”, relógios conseguem melhorar o desvio típico que
tão exige um agendamento adequado e, desde o do relógio que trazemos connosco. os de césio têm, num fator de pelo menos 1000x.
cedo, habituei-me a ter uma versão eletrónica, Em 1972 o OAL adquiriu um Patek Philippe de Falamos de 1 segundo em 30 a 400 milhões de
sendo uma delas a Psion 3a que partilhava com quartzo (relógio e cronógrafo) capaz de receber anos. Designam-se por relógios ópticos, porque
a agenda no computador. Desde há muitos anos o sinal horário da cadeia Loran C da estação de a excitação dos átomos passou a estar na banda
que só uso dispositivos da Apple e isso traz as Rugby e manter a Hora com a precisão do mi- do óptico em vez das micro-ondas.
vantagens de sistemas operativos excelentes, lissegundo. É um relógio de Tempo Solar Médio Em 2010 Chou5 e a equipa compararam os bati-
bem integrados e robustos. Mas também gosto que incorpora um conversor para Tempo Side- mentos entre relógios ópticos com iões de alu-
de sentir a cadência de eventos naturalmente a ral. Contudo, a frequência de oscilação na rede mínio (Al+) separados apenas de 30 cm de altu-
acontecer (por vezes parecem aleatórios). cristalina do quartzo é sensível à temperatura ra: nas medições acumuladas durante 40 horas
e à pressão. Por isso, estes aparelhos incluíam a diferença foi mensurável e correspondia ao
Fale-nos da relação entre Ciência, Tempo e Re- eletrónica para compensar os desvios em fre- efeito induzido pela diferença da força gravítica
lógios. Um relógio, na perspetiva tecnológica e quência com a variação de temperatura, atingindo terrestre entre eles, segundo a Teoria da Rela-
com objetivos práticos, limita-se a ser um dispo- derivas de apenas 10 s/ano ou, nos melhores hoje tividade. Notável!
sitivo que mostra o compasso do tempo, deixando em dia, apenas 0,2 s/ano. Esta tecnologia já apa- São tão exatos que num relógio de matriz óptica6
aqui de parte a questão estética. Isto provém da rece nos relógios de pulso como nos Apple Watch com 100 000 átomos de estrôncio, ao compara-
necessidade social de imprimir um selo tempo- ou nos Breitling, que se ficam pelos ≈15 s/ano. rem-se as frequências entre os átomos na parte
ral às atividades, sejam elas o abrir e fechar das A grande revolução surge com o abandono dos inferior com os átomos no topo da matriz, a ape-
lojas, assinalar o prazo na mudança do dia, ou o osciladores físicos, mecânicos ou elétricos, para nas 1 mm de altura7 relativa, a diferença foi men-
instante das transações na bolsa. se usarem processos atómicos. Com a energia surável (2021). Como Bothwell e colaboradores
O primeiro relógio que mantinha um compasso de transições eletrónicas específicas nos átomos escrevem “os relógios fundamentalmente ligam
regular foi de pêndulo. A história do seu aper- de rubídio ou césio, extremamente bem definidas o espaço e o tempo, providenciando testes finos
feiçoamento leva-nos ao Observatório Astronó- em valor4, usa-se a sua frequência num oscilador da teoria da relatividade”, que foi reconfirmada.
mico de Lisboa (OAL) que em 1863 equipou-se eletrónico que conta o tempo. Isto permite um Mas estes relógios não servem para marcar o
com o que de melhor havia. São exemplos a pên- salto enorme na exatidão e resolução do Tempo. compasso do Tempo que a sociedade precisa,
dula Molyneux (Londres) com o novo sistema de Os relógios atómicos são uma classe à parte. porque os estados de Bose-Einstein têm esta-
escape de F. Dent que era a pêndula Padrão do Por exemplo, um moderno relógio de rubídio bilidade limitada, apenas segundos ou minutos,
OAL, a n.º 1327 de L. Leroy & Cie (Horlogerie de consegue uma deriva anual de apenas 6 milis- contrariamente aos relógios atómicos de césio
précision, Paris) e a de Kyille & Altona (n.º 1647) segundos (6 ms/ano), o que requer 170 anos para que trabalham durante uns 12 anos sem pro-
em Tempo Sideral. se atrasar ou adiantar 1 segundo. Em 1955 sur- blemas e, há muito, são tecnologia comercial.
Mas o OAL também adquiriu pêndulas Leroy (n.º giu o primeiro relógio de césio e a deriva anual A Física associada aos relógios ópticos é fantás-
1397 e n.º 1398) fechadas em campânulas de vá- conseguida foi de 1 s em 300 anos (3 ms/ano). Os tica e, por isso, quem nela trabalha interroga-se
cuo, que foram instaladas numa subcave que as modernos relógios de césio são 100 a 1000 vezes quais são os limites dum relógio, segundo as leis
mantinha a temperatura e pressão constantes. melhor: atinge-se o 1 segundo de deriva após uns
Era com elas que os instantes da passagem de 30 mil ou 300 mil anos. O OAL equipou-se com
dez estrelas eram diariamente comparados. relógios atómicos nos anos de 1980 e depois na
5 “Optical clocks and relativity”, 2010, C. W. Chou, D. B.
Esta tecnologia permitia que a deriva diária fos- 1.ª década de 2000. Hume, T. Rosenband e D. J. Wineland, Science 329, 1630–
se inferior a 0,5 segundos, enquanto que uma Nestes relógios os átomos são excitados com 1633.
pêndula normal tinha derivas diárias típicas na micro-ondas, dentro duma cavidade a pressão e 6 Átomos arrefecidos dentro duma matriz criada por
ordem do minuto. temperatura controladas. Mas os choques entre interferência (onda) estacionária de lasers, a 1D.
Apesar de no final do séc. XIX terem aparecido 7 “Resolving the gravitational redshift within a millimeter
relógios eletromecânicos, em que um sistema atomic sample”, 2021, T. Bothwell, C. J. Kennedy, A. Aeppli,
elétrico auxiliava o sistema pendular mecâni- D. Kedar, J. M. Robinson, E. Oelker, A. Staron e Jun Ye.
4 Usa-se uma transição hiperfina entre estados eletrónicos
Preprint, arxiv.org.
co, houve uma mudança quando a rede elétrica que dá um fotão nas micro-ondas.

56 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
...má relação
que regem o cosmos. É que no momento em que este pequeno desvio, do relógio sempre avança-
se constroem relógios baseados em poucos áto- do ao sol, quase não afetar a vida das pessoas,
mos está-se no limiar das interações fundamen- mas também pelo facto de se ficar mais próximo
tais, a roçar as estruturas quânticas. Será que se da hora de Espanha.
pode construir um relógio com exatidão infinita
(diferença entre o seu valor e a hora correta) e
precisão infinita (inverso da incerteza associada)?
A Primeira Guerra Mundial trouxe a introdução da
Hora de Verão (HdV) e Portugal adoptou-a regu-
larmente10, em 1916, tal como muitos países nas
tem vindo
a melhorar
Há quem estude a física dum sistema quântico a zonas temperadas. Diversas vezes na história o
funcionar como relógio e as conclusões são fas- governo português alterou essa escolha, mas
cinantes8. Paul Erker 9 e a equipa consideram que sempre regressou ao regime bi-horário anual
um relógio para “dar o tempo” é um sistema que porque a sociedade experimentou, na pele, que
precisa duma fonte de energia que o alimente e era a melhor escolha. A HdV existia entre o úl-
um reservatório para onde transfere energia (a timo domingo de março e o último domingo de
informação para o exterior). Definem um relógio setembro. Note-se que são as datas mais próxi-
quântico simples para mostrar que essa transfe- mas dos dias equinociais, em que a duração do
rência, com dissipação de energia, produz sem- dia é quase igual à da noite. Esta escolha sem-
pre um aumento de entropia. pre foi a preferida dos países europeus, exceto
Os resultados são surpreendentes: aumentando nas Ilhas Britânicas.
a energia gasta é possível melhorar ou a frequên- Curiosamente a 7.ª Diretiva 94/21/CE (30-mai-
cia do relógio (que dá a sua resolução: ms, μs, ns, 1994, da Comunidade Europeia) definiu, pela pri-
ps, fs, etc.) ou a exatidão que tem, havendo uma meira vez, uma data comum de termo da HdV: o
escolha interdependente mas não linear entre as último domingo de outubro, com efeitos a partir
duas. Mostram que a exatidão relaciona-se dire- de 1996 em toda a Comunidade. Esta alteração
tamente com metade do aumento da entropia do contrária à tradição europeia, que estava testada
relógio. Ou seja, há limites físicos fundamentais em quase um século de existência, foi uma sur-
naquilo que um relógio quântico pode fazer. No presa. Terá sido justificada por cedências políticas
cômputo global, esta máquina termodinâmica (o entre os Estados membros da UE e o Reino Unido.
relógio) também é regida pela Flecha do Tem- O problema criado está em fazer-se a mudan-
po associada à entropia, que inexoravelmente ça da hora um mês após o equinócio de outono, NUNO CRATO
aumenta e leva-nos do passado para o futuro. quando a duração da noite já é maior que a du- Matemático, professor catedrático,
Já agora: que horas são? Tem a certeza? ração do dia. Isso produz um impacte psicolo- tem tido uma extensa atividade de
promoção da cultura científica.
gicamente negativo. Na sexta-feira anterior à A European Mathematical Society
6 – Portugal, como sociedade, que relação tem mudança da Hora, a saída das atividades diárias atribuiu-lhe em 2003 o Primeiro
com o Tempo? O Tempo tem outra faceta: a Hora pelas 17h30m é brindada com cerca de +1h de Prémio do concurso Public Awareness
Legal. Há diferença entre a definição de tempo, luz solar direta, geralmente usada em atividades of Mathematics, pelo seu trabalho de
ou seja, a duração do segundo como está no Sis- complementares. Na segunda-feira seguinte à divulgação. Foi ministro da Educação
tema Internacional de Unidades, ou a definição transição da Hora, deixa de haver este período, e Ciência de 2011 a 2015.
do padrão duma Hora para a sociedade regular pois o Sol põe-se pelas 17h45m. É óbvio que o
a sua atividade, marcar os eventos de tudo o que número total de horas de sol não mudou, mas a
é feito. É aí que entra a astronomia, pois mede o memória pessoal desta duração (para pessoas
período de rotação do planeta e suas variações menos matutinas) reporta-se mais ao período O que é o Tempo? Não sei, sinceramente!
com enorme exatidão, o período que controla da tarde do que ao período da manhã.
toda a atividade humana. Isto reforça a sensação insatisfatória de que de Usa relógio? Herdou algum de família?
Antes de 1911 o país usou a Hora Solar Média do repente os dias encolheram, criando reações ad- Uso um iwatch. Herdei alguns Longines
OAL como a sua Hora Legal, ou seja, no territó- versas à mudança da Hora, algo que era muito de família, mas não uso.
rio nacional as horas do relógio correspondiam minorado com a mudança da Hora em finais de
à verdadeira posição do Sol no céu diurno. Com setembro. Para além de outros aspetos impor- Há algum relógio que gostasse de ter?
a República o país assumiu a hora do fuso horá- tantes sobre o regime da Hora Legal11 aqui não Sim, mas de parede.
rio zero, centrado no meridiano de Greenwich, o discutidos, estamos a viver durante outubro os
que leva a um desfasamento médio de 37 minu- horários de sol que são normais apenas em de- Como gere o seu tempo? Com um
tos (na costa continental) entre a hora do relógio zembro e isso causa um desconforto latente. Nos calendário eletrónico sincronizado no
e a posição do Sol no céu. Na realidade, a maior anos de 2010 foram-se gradualmente acumulan- computador, telefone e relógio.
parte do território nacional está no fuso -1, mas do os descontentamentos, o que levou em 2018
esta decisão política prende-se com o facto de ao Inquérito popular da União Europeia sobre Fale-nos da relação entre Ciência, Tempo
a existência da HdV. Atualmente este é o tema e Relógios. Estão interligados desde
mais candente relacionado com a Hora Legal. n o início dos tempos, com os relógios
solares, com a astronomia, e depois com
8 Um bom resumo: “The Thermodynamic Cost of a mecânica newtoniana e a técnica.
Measuring Time”, 2017, Anthony Short, Physics, 10, 88, APS.
10 “A Hora Legal portuguesa de 1911 a 2018”: http:/oal.ul.pt/
9 “Autonomous Quantum Clocks: Does Thermodynamics documentos/2018/01/hl1911a2018.pdf/ Portugal, como sociedade, que relação
Limit Our Ability to Measure Time?”, 2017, P. Erker, M. T.
Mitchison, R. Silva, M. P. Woods, N. Brunner e M. Huber, 11 http://oal.ul.pt/documentos/2018/09/relatorio-hora-legal- tem com o Tempo? Má, mas tem vindo a
Physical Review X 7, 031022. verao-ue-agosto-2018.pdf/ melhorar. n

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 57
25 ANOS DEPOIMENTOS

...os dias de sol


não esperam por nós
O que é o Tempo? Boa pergunta! Acho que o deixaram usá-lo. Quando essa confiança chegou,
conceito de tempo vai variando em cada um de eu já queria um relógio “à homem”! Devem-me
nós. Como? Com a passagem do tempo! No que ter comprado um Cauny ou coisa parecida, que
me toca, tempos houve em que tive todo o tem- era o vulgar de Lineu naquele tempo. Tinham
po do mundo, em que nem sequer sabia o que preços muito em conta, mas eram relógios que
fazer para conseguir passar o tempo. O tempo se atrasavam e, às vezes, paravam de vez. Até
andava devagar e sonolento na Vila Real da mi- que, um dia, todos deixámos de dar corda aos re-
nha juventude. O meu pai, para significar, criti-
camente, que o seu filho único fazia o que lhe
lógios: vieram as pilhas. Passou-se então para o
período do plástico, em que se trocava de relógio
SEIXAS DA COSTA
Diplomata, de 1975 a 2013. Entre
apetecia, dizia para a minha mãe: “Ele faz o que como quem muda de camisa. Foi a invasão dos outros postos, foi embaixador na
quer e sobra-lhe tempo!”. Nunca tive muito tem- Swatch. Depois de algumas tentativas (que o preço ONU, no Brasil e em França. Foi
po para pensar nisso, mas sempre levei a frase permitia), fixei-me nos modelos “skin”. Sempre secretário de Estado dos Assuntos
a crédito da minha arte de bem gerir as horas, muito simples, nada de arrebiques. Nunca quis Europeus (1995/2001). Atualmente,
tentando fazer só o que me apetece. Quando me coisas grandes, cheios de manigâncias técnicas, é consultor e gestor empresarial.
empreguei, com vinte e poucos anos, passei a de cronómetros a luas, botõezinhos para tudo e Gastrófilo, cultor da língua
portuguesa, mantém o blog Duas
ter o tempo marcado pelo relógio de ponto. Fui, mais alguma coisa. Até dispensei as datas e os ou Três Coisas.
depois, para a tropa, onde os minutos eram far- dias de semana. É que não me fiava no que esses
dados a verde e, claro, só esperava que aquele relógios me diziam, porque não me recordava se
tempo passasse. Pelo meio, surgiu um certo dia os tinha actualizado, aquando das mudanças da
de Abril, que rememoro, sempre dizendo: “Que hora. A única “extravagância” a cujo luxo sempre
tempos!” É que já era tempo para acabar com o me dei, foi ter ponteiro dos segundos (confesso Há algum relógio que gostasse de ter? Não te-
tempo da outra senhora! Depois, por bastantes agora: por pura hipocondria, para medir as pul- nho uma particular fixação por qualquer marca
anos, passei a ter o meu tempo ditado por quem sações). Só isso. Gosto de relógios muito leves, de relógios de pulso. Como não tenho o menor
me chefiava, em fusos horários que iam varian- finos, com um mostrador espartano. Desde há fetiche por marcas, o que é válido para relógios
do. Até que um dia – caramba, já não era sem anos, alterno entre um Mondaine com ar de re- como para tudo o resto (carros e roupa incluídos),
tempo! – passei a ser eu a marcar o tempo dos lógio de estação suíça (já tive três), o último com- nunca ambicionei ter um relógio de uma marca
outros. Ou melhor, pensei que assim era, por- prado na Conran, em Paris, e um Tissot um pouco especial. Cedo na vida concluí que há relógios
que, na verdade, acabamos por ficar escravos mais pesado, adquirido num avião, naquele tipo bastante bonitos que não são muito caros, embora
desses tempos que gerimos. Com o trabalho a de impulsos que se tem à passagem da hospe- tenha já visto relógios bem caros com um design
tempo certo a declinar, pensei que era tempo de deira com o carrinho do “free shop”. De quando que me agrada muito. Mas, por exemplo, nunca
parar de olhar tão obsessivamente as horas, que em vez, olho a gaveta da mesa-de-cabeceira e me passou pela cabeça ter um Rolex. A célebre
tinha de reganhar algum tempo e devolvê-lo à faço a troca de um por outro. Até me cansar de frase palerma de um publicitário francês – “Se,
vida. Uma falsa reforma trouxe-me, é verdade, novo e trair o que trago no pulso. aos 50 anos, não se tem um Rolex é porque se
mais tempo, mas criou ansiedade: quanto tempo Herdei alguns relógios: três (é verdade!) de sala, falhou na vida” – criou-me uma inultrapassável
terei para gozar a vida que me falta (não gosto franceses, daqueles com caixa de madeira, pesos rejeição pela marca. Não gastarei nunca muito
de dizer que é a que me resta)? Será que ain- negros e sonoras badaladas. Ofereci um deles a dinheiro num relógio.
da vou a tempo para muitas coisas que não fiz, um familiar, guardo os outros, ambos a funciona-
porque então não havia tempo para nada? Nos rem lindamente. Tenho também uma estatueta Como gere o seu tempo? Mal. Sou um otimista:
dias de hoje, abro a janela, de manhã, para sa- metálica de uma Diana, que segura um relógio acho que tenho sempre tempo para tudo. Mui-
ber o tempo que faz. É que não há tempo a per- que já balançou. Sou orgulhoso possuidor de um tas vezes não tenho e encavalito compromissos,
der: os dias de sol não esperam por nós, se não (pouco valioso, mas magnífico) relógio de pare- prolongo conversas, perco-me no iPad, pelo que,
lhes dedicarmos, gozando-os logo, o tempo que de da Reguladora, de madeira, redondo, com às vezes, chego atrasado ou em cima da hora.
temos. Respondi à pergunta feita? O tempo, no um belo som metálico, que sempre vi em casa Padeço deste defeito, mas, note-se, apenas para
fundo, é sempre a medida da vida que ainda te- dos meus pais. E tenho um pesado despertador coisas menos importantes. Agravei esta deriva no
mos à nossa frente. Cyma (“Acima de Cyma, só Cyma”, ouvia-se nos Brasil e fui-a refinando, desde então. Fico com a
altifalantes do campo de jogos da minha terra), sensação de que quanto mais tempo tenho dis-
Usa relógio? Herdou algum de família? Uso re- que os meus pais me “cederam” quando fui para ponível mais facilito. Porém, em coisas sérias,
lógios de pulso, mas – que me desculpe este belo a universidade, com a recomendação: “Não o tendo a ser bastante pontual, mas quase sem-
espaço que os promove – não costumo olhar mui- percas! É da fundação”, com isso querendo sig- pre arriscando um pouco mais do que deveria.
to para as marcas. Ao entrar para o liceu, o meu nificar o seu casamento, nos anos 40 de outros E porque continuo a detestar que alguém espe-
avô deu-me um belo relógio. Um Regines (fui ver tempos. Devolvi-o mais tarde. Recuperei-o, in- re por mim, fico bastante angustiado quando me
agora). Era dourado e, aparentemente, tão bom felizmente, ao perdê-los. E, do meu pai, guardo atraso. Com uma notável exceção: vou sempre
que, com medo de que eu o perdesse, nunca me ainda, numa vitrine, o seu eterno Zenith de pulso. para os aeroportos com imensa antecedência.

58 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
25 ANOS DEPOIMENTOS

Fale-nos da relação entre Diplomacia e Tempo. um diplomata deve ter perante o tempo: “Não bipolar, onde desponta uma gente apressada,
O tempo e a sua gestão fazem parte do modo de tenhamos pressa, mas não percamos tempo”. sem tempo para conversas sem objeto, numa
ser diplomático. Pode chegar-se atrasado, para mimetização de um mundo empresarial global
marcar posição. Pode tentar-se apressar uma Portugal, como sociedade, que relação tem que segue o mesmo fuso de busca de eficácia
negociação, para mostrar a sua irrelevância ou com o Tempo? Portugal é ainda um país de ou- e negócio rápido. Não, não vou elogiar o outro
instabilizar o outro lado da mesa. Deve perce- tro tempo… Somos um país antigo, mas esta- tempo e diabolizar os novos tempos. Apenas
ber-se muito bem (para jogar com ele) os tem- mos a esforçar-nos para deixarmos de ser um noto que, muito mais do que em outras socie-
pos do outro e, em regra, mostrar que temos país velho, por muito que isto possa parecer dades, mais homogéneas na sua cultura com-
todo o tempo para conseguir um acordo, mes- contraditório. Ao longo das últimas décadas, te- portamental, o Portugal de hoje continua a vi-
mo que, intimamente, estejamos ansiosos para mos vindo a sair de uma caricatura de país “do ver a vários ritmos, com diversos tempos, que
concluí-lo. Para mim, a frase clássica de Sara- Sul”, com longas conversas, arrastados almo- coexistem entre nós com alguma tensão. Mas
mago define a melhor atitude do diplomata que ços e um procrastinar das horas, para um país lá iremos! Com o tempo. n

...ganha-se em casa
O que é o tempo? Não é fácil definir. Já Santo relógios, que vejo na publicidade. Fico pasma-
Agostinho dizia que sabia o que era se não lhe do com o preço que custam certos relógios,
perguntassem, mas já não sabia se lhe pergun- como os Patek Philippe, que segundo os anún-
tassem. O tempo é uma grandeza física, portan- cios servem de elo material entre as gerações.
to mensurável com instrumentos a que chama-
mos relógios. Os primeiros relógios derivavam Como gere o seu tempo? Uso, como muita gen-
do movimento do Sol, mas também do fluxo de te neste tempo tecnológico, a agenda do Goo-
queda de água ou de areia sujeito à gravida- gle. Quando tinha uma vida mais agitada, tinha
de. Mas hoje dispomos de relógios atómicos alguém que me ajudava a gerir, mas hoje sou
extraordinariamente precisos, sendo previsí- eu. Costumo olhar para a agenda com cuidado,
vel que surjam relógios nucleares, ainda mais mas já me aconteceu enganar-me. Fiquei muito CARLOS FIOLHAIS
precisos. Apesar de a definição do segundo – arreliado comigo próprio. Físico teórico, professor
a unidade básica de tempo – assentar hoje em catedrático recentemente jubilado,
experiências atómicas, a sua origem está nos Fale-nos da relação entre Ciência, Tempo e Re- ensaísta. Um dos cientistas e
céus: o ano de 365,25 dias é o tempo que a Ter- lógios. Os físicos usam a variável tempo, que eles divulgadores de ciência mais
ra demora a dar uma volta ao Sol, cada dia tem medem com os relógios, nas suas equações. Uma conhecidos em Portugal. Vencedor
em 2017 do Grande Prémio Ciência
24 horas, cada hora 60 minutos e cada minuto das suas dificuldades é que, nas equações que
Viva. Mantém, com outros, o blog
60 segundos (se o número de dias é dado pela descrevem o movimento de partículas, o tempo De Rerum Natura.
astronomia, o número de horas, de minutos e é reversível: tanto faz andar para a frente ou para
de segundos são convenções humanas, enrai- trás. Sabendo nós que há uma “seta do tempo”: outros povos do Centro e Norte da Europa. Nas
zadas na história). o Universo vai do passado para o futuro (este é universidades há um atraso estabelecido de um
o teor da Segunda lei da Termodinâmica) e não quarto de hora. Marca-se um encontro com al-
Usa relógio? Herdou algum de família? Já usei, ao contrário. A questão – de modo nenhum re- guém muitas vezes sem precisar com exatidão a
mas não uso há algum tempo. Para mim é mais solvida – é como se passa do tempo reversível à hora (“lá para a tardinha”). Os transportes che-
prático ver o tempo no telemóvel. Tive e tenho escala microscópica para o tempo irreversível gam quando chegam. Eu gosto de ser pontual,
vários relógios, o primeiro dado pelos meus pais à escala macroscópica. Este é um dos grandes porque a vida coletiva funciona muito melhor
(um Cauny, quando fiz a 4.ª classe). Herdei com mistérios do tempo. Mas há outros: serão o tem- dessa maneira. Só podemos ser desenvolvidos
os meus irmãos relógios de pulso dos meus pais, po e o espaço contínuos, como parecem ser, ou – e ricos – se respeitarmos o tempo. O meu pai
todos eles pouco sofisticados. Na minha casa de haverá na última escala um “quantum” de tempo, não me deixou relógios caros, mas deixou-me
criança não havia um relógio de parede, mas hoje que seria então uma unidade natural? um conselho que me é muito caro: “o tempo ga-
tenho na cozinha um relógio de parede, dos que nha-se em casa.” Quer dizer: numa viagem não
se compram no Ikea, que dá muito jeito. E uso Portugal, como sociedade, que relação tem com se deve acelerar desalmadamente se se partiu
um radiodespertador barato na mesa-de-cabe- o Tempo? Fiz o meu doutoramento na Alemanha tarde, mas sim da próxima vez partir mais cedo.
ceira, que me acorda com as notícias. e lá o tempo é levado a sério: seja no dia-a-dia O meu pai aprendeu isso à sua própria custa,
universitário, seja na vida em geral, incluindo pois um dia, a guiar um carro, teve um aciden-
Há algum relógio que gostasse de ter? Não. os transportes públicos. Horas são horas. Por te que prejudicou a sua carreira profissional só
Em vez de gastar dinheiro em relógios, prefiro exemplo, se chegar, ainda que por escassos se- porque ia com demasiada pressa. Hoje, se me
gastar em livros que apresentem cronologias gundos, atrasado a um seminário, todos repa- atrasar, comunico que vou atrasado, pedindo
ou que falem sobre os mistérios do tempo. Cla- ram. Os portugueses têm uma relação muito desculpa, não tentando nunca “milagres” para
ro que admiro a engenharia e a arte de alguns mais relaxada com o tempo do que os alemães e chegar a tempo. n

60 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
... no geral, a relação
da sociedade portuguesa
com o tempo é péssima

O que é o Tempo? Não sei o que é o Tempo, mas Como gere o seu tempo? Com formação em
conheço bem os seus efeitos através das mais
de 30.000 voltas que já dei à volta do Sol. Ve-
relojoaria, engenharia e gestão, o planeamen-
to do tempo das tarefas a executar tornou-se
JAIME RIBEIRO
Casapiano, melhor aluno do curso de
lho tema de reflexão de poetas, cientistas e fi- uma coisa normal, de acordo com os objetivos relojoaria 1953 /1958. Responsável
lósofos, na sua relatividade, prefiro ver o tempo pessoais. Para uma gestão eficaz do tempo há pela Escola de Relojoaria da Casa
como uma relação entre o passado e o presente, que reconhecer que os obstáculos existem, iden- Pia entre 1960 e 1963. Engenheiro,
com espaço para os otimistas poderem sonhar tificá-los e empregar estratégias para superá- passou pela Companhia Nacional de
e planear o futuro. Sendo certo que é o único -los. Depois há que estabelecer metas, definir Electricidade, Reguladora, Control
recurso da Terra, igual e disponível para todos prioridades, organizar o que fazer, aprender a Data, Ford Electrónica, Autoeuropa.
Como hobby, faz relógios de sol.
os seus cidadãos, 24 horas/dia. Possivelmen- dizer “Não”, identificar o horário mais produtivo
te para o cidadão comum e organizações, mais e concentrar na tarefa a executar.
importante que saber o que é o tempo será o
processo da sua gestão. Fale-nos da importância histórica da Escola
de Relojoaria da Casa Pia. Não é fácil falar da
Usa relógio? Herdou algum de família? Des- importância da história da Escola de Relojoaria
de os 17 anos de idade. Um Certina, que ainda da Casa Pia, sem falar da minha relação com
guardo, adquirido na Charles Hertig, com as essa Escola, onde fui aluno, mestre e profes-
minhas poupanças, de aluno de Relojoaria da sor de tecnologia. Mestre Delay, mas, por minha sugestão, ten-
Casa Pia, por cerca de 900,00 escudos, após Sendo certo que a Escola de Relojoaria da Casa do o futuro Mestre Américo como adjunto, dado
desconto...! Gostava de ter herdado um Cor- Pia, tem a sua origem em finais do século XIX, foi que havia concluído o seu curso de Relojoaria
tebert, de bolso com corrente de ouro, por ter curta essa primeira fase e só em 1951, graças a com boas notas e evidenciado grande apetên-
sido o primeiro relógio que vi, em meu pai, mas um protocolo estabelecido entre a Casa Pia de cia para a profissão.
não tive esse privilégio. Lisboa e a então Federação Suíça de Relojoaria, Chegados aqui, deixo a palavra para o meu mais
foi possível construir de raiz uma nova Escola, brilhante aluno e tantos tive, porque os últimos
Há algum relógio que gostasse de ter? Por in- com a vinda do Mestre Walter H. Sutter e com 50 anos da Escola são do Mestre Américo e dos
fluência do meu Mestre Walter Sutter, houve um programa pedagógico idêntico ao que então seus discípulos!…
uma marca que marcou as minhas preferên- se praticava nas Escolas Suíças de Relojoaria.
cias; Certina, dizia o mestre que era ao nível Até à saída, 1958, do Mestre Sutter para a Re-
da Omega e Tissot. Entretanto, mais tarde vi- guladora foram anos de grande sucesso para Portugal, como sociedade, que relação tem
sitei várias vezes as fábricas de Bienne – Suíça, a Escola de Relojoaria da Casa Pia, ver jornais com o Tempo? Pois... porque ninguém nasce
onde se fabricavam os Omegas, Tissot e Lanco e da época, com os seu alunos a conquistarem, ensinado, este é, em minha opinião, mais um
como nunca fui de luxos tornei-me fã da Tissot. todos os anos, os primeiros lugares nos con- dos nossos graves problemas de educação.
Tenho vários, um dos quais da coleção Caste- cursos internacionais de Relojoaria, organiza- No geral, a relação da sociedade portuguesa,
lo S. Jorge, cujo número de série corresponde dos pela Federação de Relojoaria da Alema- como o Tempo (horas, minutos e segundos), é
a um aniversário da Casa Pia ( que nasceu no nha, nos quais participavam milhares de jovens péssima. Poucos são os que cumprem horários
Castelo S. Jorge) e por coincidência o número de todo o mundo. e há mesmo quem faça do atraso um sinal de
da porta da minha residência ( graças à ajuda Como resultado da saída do Mestre Sutter para a status e má educação.
do amigo Fernado Correia de Oliveira ). Reguladora, sou convidado para ocupar o seu lu- Com uma carreira profissional essencialmen-
Com o decorrer dos anos e por diferentes mo- gar, juntamente com outro Ganso também relo- te desenvolvida em empresas multinacionais
tivos houve relógios que procurei ter, sempre joeiro e bolseiro, António Moreira, que, entretan- sou testemunha de múltiplos exemplos com
numa perspetiva de bem utilitário. Assim: Timex to, havia terminado o seu curso de engenharia. qualquer extrato da sociedade, sendo os mais
fabricado em Portugal, LIP, da série produzida Entretanto, termino também o meu curso de graves os que se relacionam com as entidades
durante a ocupação da fábrica pelos trabalha- engenharia, a Casa Pia activa de novo o pro- oficiais, nomeadamente ministros, pelos pés-
dores, ... e, embora um adepto da arte e da tec- tocolo com a Federação Suíça de Relojoaria, simos exemplos que transmitem aos cidadãos.
nologia da relojoaria mecânica, não resisti em com quem não chego a acordo para assumir a Mas… a relação dos portugueses como o tempo
aceitar um Samsung Smartwach Active 2, como responsabilidade da gestão da Escola e esta de sol é óptima, basta andar na A2 a caminho
prenda de aniversário de uns amigos. volta de novo a ser orientada por um suíço, o do Algarve !…. n

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 61
25 ANOS DEPOIMENTOS

... trabalhar com


o imprevisto é uma
especialidade
mais lusa
PAULO ANASTÁCIO O que é o Tempo? Para mim, o Tempo é
composto por momentos. É a sucessão
Mestre relojoeiro. Desde 1988 que
leciona na Casa Pia de Lisboa. Dirige dos momentos da minha vida e daqueles
atualmente a Escola de Relojoaria que fizeram, fazem e farão parte dela.
daquela instituição. Tem a seu cargo
a manutenção da mais importante Usa relógio? Herdou algum de família?
coleção de relojoaria do país, a da Sim, uso relógios! Não herdei nenhum
Casa-Museu Fundação Medeiros e relógio de família.
Almeida.
Há algum relógio que gostasse de ter?

...modesta
Por não ser colecionador, não sinto uma
necessidade de comprar relógios para
satisfazer uma necessidade. Mas, desde
que entrei, aos 12 anos, para o mundo da
relojoaria, sempre fui sonhando com re-

visão e curto lógios que gostaria de ter. Claro que os


tipos e marcas dos relógios desejados
foram-se alterando ao longo das minhas
PEDRO RIBEIRO
alcance
Mestre relojoeiro. O melhor aluno do
experiências neste domínio. Mas, de ma- seu curso na Escola de Relojoaria
neira geral, aqueles com que me identi- da Casa Pia de Lisboa, estagiou
fico mais são os que, por razões diver- na Suíça em Técnica de Restauro,
sas, marcaram momentos importantes onde foi de novo o melhor aluno. Foi
O que é o Tempo? É o modo como o universo nos pres- na história da sociedade. professor no suíço WOSTEP, uma das
siona para usufruirmos da vida no equilíbrio do lazer, melhores escolas de relojoaria do
mundo. Está atualmente na Omega,
do trabalho e do descanso. Como gere o seu tempo? Com regras mais na Suíça. O mais qualificado dos
apertadas e recurso frequente a relógio relojoeiros portugueses.
Usa relógio? Sim, claro. durante a semana de trabalho. Ao fim de
Herdou algum de família? Sim, um Tissot. semana são os compromisssos sociais
que servem de padrão de tempo! As fé-
Há algum relógio que gostasse de ter? Claro, os que rias são, na maioria do tempo, passadas
tenho e os outros. sem relógio e sem horários para cumprir!
Portugal e Suíça, como sociedades, que
Como gere o seu tempo? Num equilíbrio entre o máximo Fale-nos da importância histórica da re- relação têm com o Tempo? Para as duas
de atividade e o adequado contrabalanço que a saúde lojoaria suíça. Como todos os interessa- sociedades, a duração do segundo é a
e a família exigem. dos nesta arte saberão, a história da Suíça mesma! Mas, como culturalmente exis-
na relojoaria é relativamente recente, re- tem diferenças entre os dois países, é nor-
Fale-nos da importância histórica da Escola de Relo- lativamente à história da relojoaria. A re- mal que a relação que uns e outros têm
joaria da Casa Pia. O ensino de relojoaria na Casa Pia lojoaria Suíça começa a desenvolver-se relativamente ao tempo seja igualmente
de Lisboa, iniciado em 1894, assume um papel essencial quando a França e a Inglaterra começam pautada por diferenças. O planeamento
à capacitação de Portugal para ter e manter um vasto a entrar em “declínio”. Acontece também de tarefas e o cumprimento do horário é
e exigente público consumidor/apreciador de relógios. que a Suíça opta rapidamente por um mo- algo enraizado na cultura suíça. Do traba-
delo de produção bastante diferente, tor- lho às férias, tudo está sempre planeado
Portugal, como sociedade, que relação tem com o Tem- nando o relógio cada vez mais acessível. e organizado. No entato, esta organização
po? A relação possível com algo que não domina, mas o A partir daí, é o que se conhece. A Suíça globalizada deixa menos manobra para
conserva, constrói memória e tenta ver o futuro do nos- conseguiu impor-se como nação referên- trabalhar com o imprevisto... que é uma
so Tempo com modesta visão e talvez curto alcance. n cia na produção de relógios. especialidade mais lusa! n

62 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
PARA
OS AMANTES DA ALTA RELOJOARIA

Elegância, tradição e história


1

palacioestorilhotel.com
Rua Particular - Estoril | 2769-504 Cascais, Portugal
25 ANOS OS MELHORES

relógios que marcaram o último quarto de século

ponteiros perenes
O TEMPO FOGE. MAS AS PEQUENAS
MÁQUINAS QUE USAMOS NO
PULSO FICAM… ESPECIALMENTE PONTEIROS DE OURO
SE CONSEGUIREM MARCAR UMA
ÉPOCA, PELA FORMA OU PELA
TÉCNICA. TEORICAMENTE, ESTES
SÃO OS MARCOS DA RELOJOARIA
DOS ÚLTIMOS 20 ANOS. SERÃO?

O
Grande Prémio de Relojoaria de Genebra,
o mais importante do setor, a nível
mundial, começou em 2001. Todos os anos,
na sua categoria principal, o Ponteiro de
Ouro é distinguido um relógio.
O editor-chefe do Anuário Relógios
& Canetas, o jornalista e investigador
Fernando Correia de Oliveira, é membro
fundador da Academia do Grande
Prémio, que desde há dois anos tem a
responsabilidade de escolha dos relógios
premiados nas várias categorias.
Olhando para os Ponteiros de Ouro das duas
últimas décadas, vemos relógios verdadeiramente
marcantes para a história da relojoaria no século
XXI, mas também alguns que, vistos na perspetiva
de hoje, pouco adiantaram…
De notar, desde logo, que a F.P. Journe, de
François-Paul Journe, tem no seu palmarés
3 Ponteiros de Ouro, um feito inédito que vem
apenas confirmar que o mestre relojoeiro
marselhês radicado em Genebra é um nome
incontornável da alta-relojoaria contemporânea.
Depois, assinalam-se os 2 Ponteiros de Ouro
da dupla franco-inglesa Greubel e Forsey,
confirmando mais dois mestres da atualidade.
2001
Ainda, com 2 Ponteiros de Ouro, a mais antiga Vacheron
manufatura a trabalhar ininterruptamente, desde Constantin
1755, a genebrina Vacheron Constantin. n Lady Kalla

64 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
2003
Patek
Philippe
Ref. 5101 P
“10 days
Tourbillon”

2002
Patek Philippe
5102 Celestial

2005
Vacheron
Constantin
Tour de l’Île

2004
F.P.Journe
Tourbillon Souverain
à seconde morte

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 65
25 ANOS OS MELHORES

2007
Richard Mille
RM 012

2006
F.P.Journe
Sonnerie Souveraine

2008
F.P.Journe
Centigraphe
Souverain

2009
A. Lange & Söhne
Lange Zeitwerk

66 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
2011
De Bethune
De Bethune DB28

2010
Greubel Forsey
Double Tourbillon
30° Edition Historique

2013
Girard-Perregaux
Constant Escapement LM

2012
Tag Heuer
Mikrogirder

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 67
25 ANOS OS MELHORES

2015
Greubel Forsey
Tourbillon 24 Secondes
Vision

2014
Breguet
Classique
Chronométrie

2016
Chronométrie Ferdinand Berthoud
Chronomètre FB 1.1

2017
Chopard
L.U.C Full Strike

68 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
2018 2019
Bovet 1822 Audermars Piguet
Récital 22 Royal Oak Selfwinding
Grand Récital Perpetual Calendar Ultra-Thin

2021
Bvlgari
Octo Finissimo
Perpetual
Calendar

2020
Piaget
Altiplano
Ultimate
Concept

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 69
25 ANOS OS MELHORES

as nossas escolhas

para além dos


ponteiros de ouro
NISTO DOS ÓSCARES DA RELOJOARIA, É COMO NOS DO CINEMA… OU COMO NO NOBEL
DA LITERATURA. HÁ SEMPRE ESCOLHAS DISCUTÍVEIS, HÁ SEMPRE OS ESQUECIDOS
OU IGNORADOS. O ÚLTIMO QUARTO DE SÉCULO TAMBÉM FICOU MARCADO POR ESTAS
REALIZAÇÕES. QUANTO A NÓS, CLARO.
POR FERNANDO CORREIA DE OLIVEIRA

O
Anuário Relógios & Canetas, que
tem mais 5 anos que o Grande Bulgari
Prémio, foi aos seus arquivos e Octo Finissimo
acrescentou à lista de Ponteiros de Tourbillon
Ouro (Aiguille d’Or, é o nome oficial) Automatic
mais 17 modelos, que considera
indispensáveis quando se analisa o
último quarto de século. Algumas
dessas marcas já foram premiadas
em várias categorias do Grande
Prémio de Genebra. Mas nunca
obtiveram o galardão máximo.
Por ordem alfabética, incluímos:
O Bulgari Octo Finissimo Tourbillon Auto-
matic, o turbilhão automático mais fino do
mundo. A Bulgari e a Piaget estão numa
acesa competição no capítulo dos calibres
extraplanos.
O Chanel J12, considerado o primeiro ícone
relojoeiro do século XXI. Para escândalo das
manufaturas clássicas, uma marca de moda
conseguiu impor uma estética nova, sob
base de caixa em cerâmica, dando isso como
novidade, quando a indústria, nomeadamente
a Rado, já a usava há décadas…
O Corum Bubble pode não acrescentar gran-
de coisa à arte da micromecânica, mas é uma
das formas mais disruptivas que apareceram
para o pulso, fruto da imaginação do colecio-
nador de arte e na altura seu proprietário, a
figura inesquecível de Severin Wunderman.
Com o seu hiperdimensionado vidro de mos-
trador, eis o Bubble Camouflage.
Falta no historial dos Ponteiros de Ouro
uma amostra das chamadas complicações
poéticas, de que a Van Cleef & Arpels ou a
Hermès são fiéis cultivadoras. Escolhemos
desta última um Arceau L’heure de la lune.

70 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Hermès
Arceau L’heure
de la lune

HYT
H5 Red

Corum
Bubble Camouflage

Jaeger-LeCoultre
Master Grande Tradition
Chanel Gyrotourbillon Westminster
J12 Perpétuel

Longines
Master
Collection
Retrograde
Calendário
Anual

MB&F
Horological Machine
N°9 “Flow”

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 71
25 ANOS OS MELHORES
TAG Heuer
Mas podia ser qualquer modelo criado nas Monaco V4
últimas décadas por Jean-Marc Wiedrrecht Turbilhão
para a marca.
Faliu em 2021 a HYT, não resistiu à crise
provocada pela pandemia. Mas esta marca
da escola concetualista ficará decerto na
história da relojoaria. É um caso único, de uso
de fluidos para marcar as horas (HYT vem de
Hydromechanical Horology, para significar
“hydro-technology” ou “hydro-time”).
Inexplicável. A Jaeger-LeCoultre, uma das
mais respeitadas manufaturas históricas,
nunca obteve um Ponteiro de Ouro. Isto, ape-
sar de conceber todos os anos novos calibres
com grandes complicações. O Master Grande Omega
Tradition Gyrotourbillon Westminster Perpé- Speedmaster Apollo 11
tuel é disso exemplo.
Grandes complicações, preços
50th Anniversary
ultraelevados. A Longines, uma O escape coaxial e
Limited Edition
marca do segmento médio, tem a certificação METAS
no seu portfólio modelos que, com são dois avanços que
outro nome no mostrador, custa- marcaram as últimas Montblanc
riam 4 ou 5 vezes mais. É o caso décadas. 1858 Geosphere
do imponente Master Collection
Retrograde Calendário Anual.
Dentro da escola concetual, des-
taca-se um nome, o de Maximilian
Büsser. Ele e os amigos (MB&F) têm ganhado
muitos prémios, mas ainda não um Ponteiro
de Ouro. A linha Horological Machine, aliando
tradição a tridimensionalidade e novos ma-
teriais, é um capítulo inédito que vai marcar
a história da relojoaria. Exemplo, este N°9
“Flow”.
Em busca de pergaminhos na relojoaria, a
centenária Montblanc tem conseguido apre-
sentar modelos de alta-relojoaria com grande
inovação, especialmente depois de ter adqui-
rido a histórica manufatura Minerva. Quando
se pensa que já está tudo inventado, eis senão
quando… a Montblanc apresenta um Horas do
Mundo diferente, na coleção 1858 Geosphe-
re. Uma das estéticas mais marcantes dos
últimos anos em toda a indústria.
No último quarto de século, a histórica Ome-
ga deu dois passos importantes – introduziu Urwerk
a grande novidade técnica em décadas de UR105 Maverick
relojoaria – o escape coaxial, inventado em
1976 pelo mestre inglês George Daniels; e um
novo certificado de qualidade, que vai para
além da cronometria contemplada pelo COSC
e lhe acrescenta outros parâmetros, sendo
emitido pelo METAS. O Speedmaster Apollo
11 50th Anniversary Limited Edition é um dos
modelos que inclui as duas mais-valias.
Então e a Rolex? De longe o maior exportador,
em valor, da indústria relojoeira suíça (produz
entre 800 mil e um milhão de relógios por
ano), propriedade de uma fundação, a marca
não divulga quaisquer dados. Com inovações
técnicas pontuais, sem grandes novidades
estéticas, continua a ser aspiracional, e Rolex
de forma global. Os Rolex, além dos Patek Oyster
Philippe e dos Audemars Piguet, são dos Perpetual
únicos relógios que valorizam à saída da loja. GMT-Master II

72 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Ulysse Nardin E, em alguns modelos, não há capacidade
Freak de produção para tanta procura. O mercado
vintage e o dos leilões (mesmo com peças re-
centes) está a viver uma bolha quanto a estas
marcas. O Oyster Perpetual GMT-Master II é
um desses casos.
A Swatch apresentou na Baselworld de 2013
o Sistem51, “o primeiro movimento mecâni-
co do mundo com montagem inteiramente
automatizada”. O calibre, automático, usa
apenas 51 componentes, fixados por um
parafuso central e com 90 horas de autono-
mia. É 100 por cento Swiss Made e representa
uma revolução de base industrial. Até agora,
diríamos nós, fracamente aproveitada…
Estávamos lá, quando centenas de pessoas
Swatch irromperam, espontaneamente, a bater
Sistem51 palmas. Tinha acabado de passar um filme no
ecrã gigante, na parede exterior do stand da
TAG Heuer. Era a Baselworld 2004 e a feira
uma festa, a maior do mundo do seu género
(hoje, luta pela sobrevivência). Tratava-se
da apresentação do Monaco V4, que usa, em
vez de rodas dentadas e eixos, correias e
rolamentos de esferas, com as massas osci-
lantes a deslizarem sobre carris. Inspirado na
arquitetura automóvel, continua a ser hoje um
calibre único, revolucionário. Na foto, o mode-
lo com turbilhão.
Em 1999, a Tissot revolucionou a indústria
relojoeira ao apresentar o primeiro relógio do
mundo com ecrã tátil, o T-Touch. Com múlti-
plas funções, é o tipo de relógio na antecâma-
Tissot ra do relógio conectado, que iria aparecer 20
T-Touch anos depois e que é hoje o grande concorren-
te da relojoaria de gama média e baixa suíça.
Ainda se está à espera da reação da pioneira
Tissot (ou da Swatch, ambas marcas do mes-
mo grupo) ao desafio smartwatch.
Zenith O Ulysse Nardin Freak é mesmo esquisito.
Concebido pelos mestres relojoeiros Ludwig
El Primero Oechslin e Carole Forestier, tem um calibre
Academy rotativo, com turbilhão central, novo tipo
Christophe de escape, pela primeira vez usando silício.
Colomb Sem coroa (a corda é dada pela rotação da
Hurricane luneta), o Freak foi apresentado em 2001 e
Grand Voyage nada mais ficou na mesma – iniciava-se a
escola concetual.
Dessa escola concetualista, uma
das marcas mais consistentes é a
O ecrã tátil no mostrador Urwerk, que continua a produzir
e a linha concetualista, “bichos esquisitos” que dão horas,
tridimensional, ajudaram minutos e segundos de forma
a dar novas formas de totalmente nova. O UR105 Maverick
leitura do Tempo. é um desses exemplos.
Finalmente, a Zenith. Que já tinha
entrado para a história da relo-
joaria ao estar na vanguarda da
criação do cronógrafo automático,
no final dos anos 1960. E que ultrapassou
desde logo a concorrência com um calibre
de alta frequência, o célebre El Primero.
Que tem servido de base a extraordinárias
aventuras na alta-relojoaria. Como é o caso
deste Academy Christophe Colomb Hurricane
Grand Voyage. n

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 73
25 ANOS PERSONAGENS

suíços , alemães , franceses , italianos…

ao leme do tempo
TIVEMOS O PRIVILÉGIO DE ERNEST SCHNEIDER (Suíça, 1921 – 2015)
CONHECER QUASE TODOS. O piloto que fez a Breitling
SÃO PERSONALIDADES QUE voar de novo
MARCARAM O PASSADO OU PODEM

1
Tudo começa quando se interessou pelo
INFLUENCIAR O FUTURO DA negócio do sogro, um industrial de relojoaria
INDÚSTRIA RELOJOEIRA SUÍÇA. que detinha a marca Sicura. Em plena crise do
TAL COMO HÁ 25 ANOS, O DESAFIO quartzo, que levou ao quase desaparecimento
É ENORME. VENCIDA A CRISE dos relógios mecânicos, a Breitling debate-se
com uma crise profunda e interrompe a produção
DO QUARTZO, SOBREVIVERÁ ELA em 1978. Em maio de 1979, morre Willy Breitling,
AO NOVO RELÓGIO DE BOLSO (O o último descendente da família diretamente
TELEMÓVEL) E AO SMARTWATCH? envolvido numa marca que tinha grande tradição
na aviação. Schneider, ele próprio piloto, compra
a Breitling, e recomeça de imediato a produzir
cronógrafos mecânicos. Schneider dirigiu o cres-
cimento da marca nas décadas que se seguiram.
Dois anos após a sua morte, a Breitling foi vendida
a um grupo de investimento, a CVC Capital Part-
ners, que mais tarde cedeu uma quota a Georges
Kern, ex-CEO da IWC.

FRANCK MULLER (Suíça, 1958)


O relojoeiro que popularizou as complicações

3
O melhor aluno do seu curso de Relojoaria começa a carreira como muitos
outros que se tornarão mestres – faz a manutenção, reparação e restau-
ro de relógios de bolso, sob a direção de Svend Andersen. Pelas mãos de
Franck passam muitas peças da coleção Patek Philippe. Em 1984, apresenta
o seu primeiro turbilhão de pulso, vendendo peças únicas a colecionadores.
A marca Franck Muller é lançada em 1991. E ele assina como “Master of Com-
plications”. Visitante frequente de Portugal, onde a marca foi um êxito imediato,
tem muitos amigos, frequenta a noite de Lisboa, aprecia a culinária e os vinhos
locais. Adepto de futebol, fã de Eusébio, Franck apadrinhou pessoalmente várias
edições especiais para o mercado nacional. Hoje, também tal como muitos
ALAIN-DOMINIQUE PERRIN outros, não é dono do seu nome – a Franck Muller pertence maioritariamente a
(França, 1942) Vartan Sirmakes, empresário de origem arménia. E o enfant terrible da indús-
O inventor do luxo moderno tria está cada vez mais desligado da… Franck Muller.

2
Em 1969, Alain Dominique Perrin entrava como
comercial na Cartier, para ali desenvolver as ven-
das dos isqueiros Silver Match. Começava assim
um percurso excecional no setor do luxo. Foi o
autor de um estudo estratégico para a marca,
algo adormecida, e onde apresenta pela primeira vez
o conceito Must de Cartier, a aplicar a vários produ-
tos, de série limitada. Presidente da Cartier de 1975
a 1998, criou em 1984 a Fundação Cartier para a Arte
Contemporânea. Vice-presidente em 1999 do Grupo
Richemont (atual dono da marca), reforma-se em
2003, mas continua a ser seu consultor. Em 2005, este
colecionador de arte e de automóveis funda o Instituto
Superior de Marketing do Gosto.

74 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
GÜNTER BLÜMLEIN
(Alemanha, 1943 – 2001)
Um criador de manufaturas

5
FRANÇOIS-PAULE JOURNE Engenheiro de formação, iniciou a sua
(França, 1957) carreira como chefe do controlo de qua-
lidade na alemã Junghans, onde esteve
Invenit et Fecit mais de 30 anos. Saiu para chefiar a suíça

4
Natural de Marselha, foi o me- IWC e, depois, a LMH (Les Manufactures
lhor aluno do curso da Escola de Horlogères), empresa detida pela especialis-
Relojoaria de Paris, onde se formou ta em instrumentação de precisão VDO, por
em 1976. Tal como muitos outros, sua vez detida pela multinacional Mannes-
começou por manter, restaurar e mann. Quando esta entrou em crise e foi
reparar relógios antigos. Em 1999, funda desmantelada, em 1978, o papel de Blümlein
a marca com o seu nome, e escolhe foi crucial para o destino das marcas detidas
como mote a frase latina Invenit et Fecit pela LMH – IWC e Jaeger-LeCoultre – na
(inventou e fez), com que assina as suas altura muito afetadas pela crise do quartzo.
peças. Com sede no cantão de Genebra, Apadrinhou a linha Porsche Design na IWC,
além dos calibres, faz as suas próprias apoiou a criação de um calendário perpétuo
caixas e mostradores. Com produção mecânico nessa marca, concebido pelo mes-
muito limitada (cerca de 800 exempla- tre Kurt Klaus, fez renascer o modelo Portu-
res por ano), os relógios F.P. Journe guês. Na quase moribunda Jaeger-LeCoultre,
ganharam até hoje muitos prémios. Às que no início dos anos 1980 fazia de tudo, FRANÇOIS THIÉBAUD (França)
como canetas e isqueiros para a Christian
inovações técnicas (o cronómetro de
ressonância, por exemplo) Journe alia Dior, concentrou de novo o negócio na relo- O rei do segmento médio

7
os métiers d’art e uma estética depura- joaria, com a ajuda de Henry-John Belmont… Advogado de formação, entrou
da, muito própria. Desde 2018, a Chanel e o êxito do renascido modelo Reverso. Com a para o Swatch Group em 1996 e
detém 20 por cento da empresa. reunificação alemã, em 1989, renasce igual- pelas suas mãos passou a direção
mente a A. Lange & Söhne, agora no seio da de marcas como Tissot, Mido ou
LMH, e que nos primeiros anos tem a ajuda Certina. Em 1998 já integrava o
técnica da IWC. As três marcas do portfólio Conselho de Administração do maior
LMH foram adquiridas em 2000 pelo então grupo relojoeiro do mundo. A sua
Grupo Vendôme, hoje Grupo Richemont, no carreira começou em Besançon, onde
maior negócio de sempre do setor – mais de foi responsável pela exportação de
três mil milhões de euros. relógios Rectus-Hora. Com a crise do
quartzo, a indústria relojoeira francesa
quase desapareceu e ele muda-se para
FRANCO COLOGNI (Itália, 1934) a Suíça, onde trabalhou durante 13
anos na Breitling, em colaboração dire-
O criador do conceito ta com o dono, Ernest Schneider. Em
de alta-relojoaria 1992, muda-se para a Juvenia, antes

6
de tomar conta da Tissot. Com décadas
Académico, com formação em História e Filosofia, Cologni de experiência no segmento médio
era professor na Universidade de Milão quando entrou para de mercado, foi durante muitos anos
o mundo do luxo, em 1969 – quadro da Cartier, é ele que presidente do Comité de Expositores
leva para Itália o conceito Les Must de Cartier, inventado Suíços naquela que já foi a maior feira
por Alain-Dominique Perrin. Quando o Grupo Richemont do género no mundo, a Baselworld,
compra a marca, vai subindo nos cargos, até chegar em 2002 hoje praticamente desaparecida.
à Administração. Autor de vários livros sobre marcas de
luxo, cria em 1995 a Fondazione Cologni dei Mestieri d’Arte,
em 2004 a Academia Criativa de Milão e, no ano seguinte, a
Fundação de Alta-Relojoaria. Em 2016, juntamente com Johann
Rupert, presidente do Grupo Richemont, funda em Génova a
Michelangelo Foundation for Creativity and Craftsmanship.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 75
25 ANOS PERSONAGENS
JACK HEUER JASMINE AUDEMARS (Suíça, 1941)
(Suíça, 1932) Em volta do Carvalho Real
Rei dos
cronógrafos

8
Engenheiro de forma-
ção, entra em 1958
para a Heuer, manu-
fatura fundada em
1860 pelo seu bisavô,
Edouard Heuer. Trabalhou o
mercado norte-americano,
tornou-se em 1962 princi-
pal acionista da empresa.
Dois anos depois, adquiriu
um dos seus principais
competidores, a Leonidas
Watch Co., reforçando a

9
especialização em cronó- Das poucas manufaturas ainda em mãos
grafos. Jack foi uma figura de familiares dos fundadores, a Aude-
mars Piguet alia o facto de ter à sua
frente, desde 1992, uma mulher, caso JÉRÔME LAMBERT (França, 1969)
ainda mais raro na indústria relojoeira.
Bisneta de Jules Louis Audemars, Jasmine
Jovem turco

10
foi jornalista antes de ingressar no mundo Com formação em Gestão pela ESG Manage-
fechado e quase unicamente masculino da ment School, de Paris, e pós-graduação pela
alta-relojoaria helvética. Em 2000, ao vender Swiss Graduate School of Public Administra-
ao Grupo Richemont, 40 por cento do capital tion, iniciou a carreira no setor financeiro dos
detido na Jaeger-LeCoultre, assegurou para Correios Suíços. Entra no Grupo Richemont em
a Audemars Piguet décadas de independên- 1996, como diretor financeiro da Jaeger-LeCoultre. Em
cia. Fundadora da Fundação de Alta-Relo- 2002, torna-se num dos mais novos CEO da indústria.
joaria, Jasmine é também responsável pela Como responsável pela Jaeger-LeCoultre, consolida
fundação da própria manufatura, que se a posição da marca como uma das mais importantes
dedica à proteção florestal no mundo, tendo manufaturas relojoeiras do mundo. Acumula como
inclusivamente financiado o reflorestamento CEO da A. Lange & Söhne entre 2009 e 2011. Passa
da Tapada de Mafra. O modelo Royal Oak é, em 2013 a CEO da Montblanc, uma das marcas mais
atualmente, um dos mais procurados pelos importantes do portfólio Richemont. Até que, em 2017,
colecionadores, tanto modelos novos como, atinge o topo de carreira no grupo, ao tornar-se mem-
sobretudo, peças vintage. A Audemars Pi- bro do Conselho de Administração e coordenador do
guet é das poucas marcas que tem valoriza- seu núcleo de relojoaria, ganhando a corrida a outros
do em leilões. CEO de marcas Richemont.

crucial no desenvolvimento
do primeiro cronógra-
fo automático, em 1969. JEAN-CLAUDE BIVER (Luxemburgo, 1949)
Jack iniciou o marketing
relojoeiro no mundo da
Toque de Midas

11
Fórmula 1 e patrocinou a Naturalizado suíço, onde vive desde os 10 anos, tem formação em
Ferrari. Em 1982, em plena Gestão. Entrou no setor relojoeiro ao ir trabalhar para o fabricante
crise do quartzo, abandona de calibres Frederic Piguet. Daí, passou a vendedor para a Europa da
a empresa, quando a Heuer Audemars Piguet. Depois, saltou brevemente para a Omega, antes de
foi adquirida pela Pia- adquirir, com Jacques Piguet, a marca Blancpain, inativa desde os anos
get. Por sua vez, a Piaget 1970, devido à crise do quartzo. É aí que lança o famoso slogan: “Desde 1735,
vende a marca em 1985 nunca houve um relógio Blancpain de quartzo. E nunca haverá”. Em 1992, a
ao TAG Group (Techniques Blancpain é vendida ao Grupo SMH (hoje Grupo Swatch), com uma mais-valia
d’Avant-Garde), passando a de 40 milhões de euros. Permanecendo CEO da Blancpain, Biver entra para
chamar-se TAG Heuer SA. o quadro de diretores do Swatch Group, encarregado sobretudo da Omega,
Em 1999, o Grupo LVMH de que modernizou a imagem – com a parceria James Bond, por exemplo, ou
adquire a TAG Heuer e, com a política de embaixadores, como Cindy Crawford, Michael Schumacher
desde 1001, Jack Heuer, ou Pierce Brosnan. Saiu em 2003, para adquirir, em 2004, a quase desconhe-
responsável por modelos cida Hublot. Vende a marca em 2008 ao grupo LVMH, novamente com uma
como o Carrera, o Autavia mais-valia de milhões. No LVMH, torna-se CEO da TAG Heuer e, em 2014,
ou o Monaco, passa a ser coordenador do portfólio de relojoaria do grupo (que detém ainda a Zenith).
o presidente honorário e Depois de uma carreira de mais de 40 anos, reforma-se em 2018. Vive numa
embaixador da empresa. quinta junto ao lago de Genebra e orgulha-se do queijo que produz.

76 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
LUIGI MACALUSO
(Itália, 1948 – 2010)
Estilo italiano

12
Conhecido entre amigos e par-
ceiros de negócio como Gino,
piloto de automóveis, chegou a
ser em 1972 campeão europeu
de ralis, como navegador de
Raffaele Pinto. Arquiteto de formação,
foi distribuidor para Itália nos anos 1970
das marcas SSIH (hoje Grupo Swatch).
Em 1982, fundou a Tradema, o maior
importador transalpino, com representa-
ção de marcas como Blancpain, Breitling
e Hamilton. Em 1987, tornou-se repre-
sentante para Itália da manufatura suíça
de alta-relojoaria Girard-Perregaux. No
ano seguinte, já estava na direção da
empresa e, em 1992, adquiriu-a. Revi-
talizada, com edições ligadas ao mundo
automóvel e à Ferrari, a Girard-Perre-
gaux reviveu nos tempos de Gino a glória
antiga. O modelo “três pontes”, inspirado
num relógio de bolso, continua a ser um
dos marcos da relojoaria. Um escape de KURT KLAUS (Suíça, 1934)
força constante, apresentado em 2008,
demonstra a capacidade tecnológica Decano dos mestres

13
da manufatura. Fundador da Fundação A vida de Kurt Klaus girou durante décadas praticamente só à volta de Schaffhausen, na
de Alta-Relojoaria, Gino Macaluso foi dis- fronteira com a Alemanha e onde o Reno tem as maiores quedas da Europa. Ali nasceu, ali
casou e ali… continua a trabalhar. Na IWC, desde 1957, a única manufatura que conheceu.
Trabalhou diretamente com Albert Pellaton, o lendário inventor de melhoramentos nos
calibres automáticos. No meio da crise do quartzo, com os relógios mecânicos moribundos,
Kurt atreveu-se a apresentar um projeto de calendário perpétuo… mecânico e de arquitetura ino-
vadora. Apresentado na feira de Basileia em 1985, esta peça da linha Da Vinci tornou-se rapida-
mente num clássico e num dos responsáveis pela nostalgia e regresso ao relógio mecânico. Kurt
apresentou nos anos seguintes Grandes Complicações, sempre baseadas no sistema Pellaton de
corda automática, incluindo um calibre com dois tambores e 7 dias de autonomia. Nos anos 1980 e
1990 transmitiu a uma geração mais nova – nomeadamente Giulio Papi e Richard Habring, o saber
acumulado na IWC. Oficialmente reformado aos 65 anos, continua a ir todos os dias à fábrica, para
trabalhar. Isto quando não está a viajar pelo mundo, como embaixador da IWC,

KARL-FRIEDRICH SCHEUFELE (Alemanha, 1958)


Requinte familiar

14
Os empresários alemães Karl e Karin Scheufele, donos da
empresa de relojoaria Eszeha, de Pforzheim, adquiriram em
1963 a genebrina Chopard. Os filhos, Karl-Friedrich e Caro-
line, envolvidos no negócio desde os anos 1980, são desde
2001 copresidentes da empresa. Enquanto Caroline se dedica
tinguido em 1998 com o Prémio Gaia, o mais às joias e ao design das peças, Karl-Friedrich detém a admi-
mais importante do setor, instituído pelo nistração diária do negócio e a gestão do seu polo relojoeiro. O topo
Museu Internacional de Relojoaria de La de gama Chopard é, desde 1996, a linha L.U.C. (das iniciais de Louis
Chaux-de-Fonds. Gino Macaluso patroci- Ulysse Chopard, que fundou a marca, por volta de 1860). A associa-
nou, através da Girard-Perregaux, duas ção ao clássico automobilístico Mille Miglia vem desde 1988, fruto
das obras escritas pelo editor-chefe do do amor de Karl-Friedrich pelos clássicos – todos os anos, há um
Anuário, Fernando Correia de Oliveira – modelo novo de cronógrafo automático, em homenagem a “la corsa
História do Tempo em Portugal (2003) e piu bella del mondo”. Um dos impulsionadores, juntamente com o
Cronologia do Tempo em Portugal (2004). mestre relojoeiro Michel Parmigiani pela criação em 2005 do selo de
Em 2009, o grupo LVMH entrou no capital qualidade de Fleurier, onde a manufatura está instalada, foi também
da Girard-Perregaux e, com a morte de Karl-Friedrich quem esteve por detrás do renascimento em 2015 da
Gino, a manufatura passou para o con- marca de alta-relojoaria La Chronométrie Ferdinand Berthoud, que
trolo do maior grupo de luxo do mundo. faz parte do grupo.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 77
25 ANOS PERSONAGENS
MAXIMILIAN BÜSSER (Suíça, 1967)
Sonhos de infância

15
Engenheiro de formação, entra no mercado de trabalho em 1991, logo para a Jaeger-LeCoultre,
então chefiada por Henry-John Belmont e supervisionada por Günther Bluemlein. Max diz que estas
duas personagens foram responsáveis pela sua formação. Em 1998 torna-se CEO do joalheiro Harry
Winston, onde lança a coleção Rare Timepieces – séries limitadas de relógios concetuais, denomi-
nados Opus, feitos por novos mestres relojoeiros desafiados a concretizarem as suas ideias. Max
foi responsável pelo fortalecimento dessa corrente concetualista, de onde saíram dos maiores nomes da
relojoaria contemporânea. Em 2005, com a experiência adquirida, funda a MB&F (Maximilian Büsser &
Friends), prosseguindo a ideia de colaboração entre equipas de criadores. Os seus modelos são inspirados
em sonhos de infância, em brinquedos da era espacial, em heróis da BD. Os seus Horological Machines,
relógios tridimensionais e inovadores de uma certa arte cinética de pulso, tornaram-se epítomes da con-
temporaneidade. Numa extensão desse mundo onírico e, ao mesmo tempo, nostálgico e ultramoderno, Max
fundou em 2011 a M.A.D. Gallery (Mechanical Art Devices), em Genebra.

NICOLAS G. HAYEK (Líbano, 1928 – 2010)


Salvador da indústria

16
Terceiro filho de uma família libanesa da comuni-
dade ortodoxa grega, estudou matemática, física
e química na Universidade de Lyon. Casou em
Beirute, em 1951, com Marianne Mezger, filha
de um industrial helvético. O casal mudou-se
então para a Suíça e Nicolas começou a trabalhar na
empresa de engenharia do sogro. Em 1963, funda a sua
própria empresa de consultadoria. No início da década
de 1980, os bancos suíços, com créditos incobráveis nas
mãos, tornaram-se donos de manufaturas relojoeiras
falidas, devido à crise do quartzo. Pediram a Hayek
que supervisionasse a liquidação da ASUAG e da SSIH,
os dois maiores conglomerados industriais do setor.
Hayek apresentou, em vez da liquidação, um projeto de
recuperação industrial e de nova estratégia de mar-
keting, promovendo economias de escala, melhoria
da qualidade, centralização. A fusão da ASUAG com a
SSIH deu lugar à Société Suisse de Microélectronique
et d’Horlogerie (SSMH), de que Hayek e um grupo de
investidores suíços se tornaram em 1985 acionistas
maioritários. CEO e presidente da nova entidade, Hayek
tinha aprovado em 1983 o Swatch, um relógio suíço, de
quartzo, para combater a concorrência nipónica. Com
design ligado às tendências de moda, o Swatch foi um PETER E ALETTA STAS (Holanda, 1963 e 1965)
fenómeno sociológico, cujo êxito permitiu a Hayek ir
comprando outras marcas, para além das que já vinham
Holandeses voadores

17
no portfólio SSMH. Hoje, o conglomerado de base Com formação em gestão e marketing, o casal Stas fundou em 1988 uma
industrial ganhou o nome Swatch Group, o maior do empresa cujo nome foi buscar aos avós de um e de outro. Um processo
mundo em termos de relojoaria, e tem marcas que vão artificial que, desde logo, resultou bem: Frederique Constant soa a patri-
da Breguet à flick-flack, mónio, história, patronímico de mestre relojoeiro suíço esquecido, embo-
passando por Omega, ra os dois holandeses fossem completamente estranhos ao setor, que é
Longines ou Tissot. tradicionalmente fechado e conservador. A Frederique Constant tinha, entretanto,
Diz-se que Hayek foi um liderado a guerra dos independentes contra o Swatch Group, que ameaçava não
dos principais respon- lhes fornecer calibres. E a autoridade helvética da concorrência deu-lhes razão.
sáveis pela salvação A pouco e pouco, e devido ao êxito da marca, com estética clássica e preços muito
da indústria relojoeira competitivos, os Stas conseguiram capital para fundar uma manufatura, capaz de
suíça. Hoje, são os seus criar e produzir os seus próprios calibres, e com o carimbo Swiss Made. O que irri-
filhos, Nick Jr e Nayla, tou ainda mais os suíços. Em 2002, os Stas adquirem a antiga marca suíça Alpina,
que em tempos nova- fundada em 1883. E, em 2009, criam no Mónaco a marca de alta-relojoaria Ateliers
mente difíceis (à crise deMonaco. Em 2015, a Frederique Constant lança o seu primeiro “Horological
do quartzo, correspon- Smartwatch”, uma das poucas tentativas de resposta suíça aos smartwatches. Em
derá agora a provocada 2016, os Stas vendem as suas marcas ao maior grupo japonês de relojoaria, Citi-
pelos smartwatches) zen, abrindo o Swiss Made aos nipónicos e enfurecendo de novo o establishment
procuram continuar a helvético. Peter Stas continua como CEO da Frederique Constant e Aletta perma-
obra do pai. nece na sua Administração.

78 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
RAYMOND WEIL (Suíça, 1926 – 2014)
Música e simpatia

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Genebrino, começa a trabalhar em 1949 no setor, na Camy Watch Company. Chega à direção
da empresa, onde fica 27 anos. Em 1976, em plena crise do quartzo, atreve-se a fundar uma
marca com o seu nome. Qualidade, estética cuidada e, sobretudo, preços baixos tornam a
Raymond Weil competitiva em França, um mercado vizinho. Visitando pessoalmente cada país,
com uma mala cheia de relógios, a personalidade de Weil impõe-se pela simpatia. Portugal é
um dos primeiros mercados que aborda e torna-se num case study – a Raymond Weil é aspiracional,
num país acabado de sair de uma ditadura isolada, ávido de consumo. Para Weil, um aperto de mão
chegava para o início de parceria em negócios e antecâmara para sólidas amizades. Uma das suas
filhas, Diana, torna-se pianista profissional. A Raymond Weil explora como nenhuma outra a ligação
à música clássica (com as linhas Amadeus, Parsifal, Nabuco ou Othelo), mas também ao rock (com
edições Beatles, por exemplo). O genro, Olivier Bernheim, sucede-lhe na direção da empresa e os
netos, Elie e Pierre, tornam-se diretores da Raymond Weil. Com edições especiais para Portugal, no-
meadamente uma dedicada ao Fado, o casal Raymond Weil passa as Bodas de Ouro em Lisboa, num
evento no Mosteiro dos Jerónimos, onde Carlos do Carmo é o animador da noite.

ROBERT GREUBEL (França, 1960)


STEPHEN FORSEY (Inglaterra, 1967)
Aliança anglo-francesa

19
Robert nasceu numa família de relojoeiros, formou-se como relojoeiro em
Morteau, trabalhou na empresa da família na Alsácia. Prosseguiu os estu-
dos superiores em relojoaria em Dreux, especializou-se em complicações.
De 1987 a 1990 trabalha na IWC, como prototipista, participando no desen-
volvimento de grandes complicações. Junta-se depois à Renaud & Papi,
departamento de pesquisa e desenvolvimento da Audemars Piguet, onde continua
a projetar calibres novos e chega a acionista da empresa. É lá que conhece Ste-
phan, formado em relojoaria pelo Hackney Technical College, de Londres. Como
muitos outros mestres, adquire experiência reparando relógios antigos, chegando
a responsável do departamento de Restauro de Relojoaria dos armazéns Asprey’s,
na capital britânica. Prossegue os estudos em relojoaria no célebre WOSTEP,
em Neuchâtel, Suíça. Em 1992 junta-se à equipa de Robert na Renaud & Papi.
Desenvolvem Grandes Sonneries, Repetições Minutos, Carrilhões, Calendários RICHARD MILLE (França, 1951)
Perpétuos. E, claro, turbilhões. Em 1999, o francês e o inglês decidem abandonar Quanto menos peso…
a empresa e formar a sua própria manufatura. Especializam-se em turbilhões,
desenvolvem-nos inclinados, duplos, triplos, registam patentes atrás de paten-
mais caro

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tes. Empregam cerca de 100 pessoas e produzem cerca de 100 relógios por ano. Como a maioria dos que se iniciam na relo-
O Grupo Richemont detém 20 por cento da Greubel Forsey. joaria francesa, também ele começou no polo
industrial de Besançon, em 1974, na marca
Finhor. A empresa foi comprada pela Matra
em 1981 e Richard Mille passa a liderar o polo
relojoeiro do Grupo Matra, que incluía a Yema e a
Cupillard Rième. Anos mais tarde, muda-se para o
joalheiro Mauboussin, onde inicia a linha de relojoa-
ria. Em 1999, funda a sua própria marca. Demora dois
anos a apresentar os primeiros relógios – desenhados
por ele. No interior, calibres concebidos em colabora-
ção com a Renaud et Papi, departamento de pesquisa
e desenvolvimento da Audemars Piguet. O RM 001
entra de imediato na história da relojoaria – com
uma arquitetura inspirada nos motores dos automó-
veis, com material usado nas corridas de Fórmula 1.
A partir daí, o ADN Richard Mille será sempre o de um
relógio desportivo, quase sempre cronógrafo, o mais
resistente e leve possível, com calibre esqueletizado.
Embaixadores como tenistas ou pilotos usam um Ri-
chard Mille em provas, demonstrando que a robustez
não é apenas argumento de marketing. Produzindo
séries muito limitadas, a Richard Mille prossegue
uma política de preços muito elevados. E quanto mais
leves os relógios, mais caros são. Garantia de exclusi-
vidade para uma ínfima minoria.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 79
25 ANOS PERSONAGENS
ROLF W. SCHNYDER (Suíça, 1935 – 2011)
Aventureiro e inovador

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Quem o conheceu diz que ele era um misto de espírito organizado e analítico com
uma veia de aventura e romantismo. Nascido na parte alemã do país, foi viver em
1956 para Genebra, para melhorar o francês. Começou a trabalhar no departa-
mento de publicidade da Jaeger-LeCoultre e, pouco depois, na sucursal londrina
da manufatura. Por um anúncio de jornal ficou a saber que uma empresa suíça,
a Diethelm, procurava um quadro para dirigir as suas operações de relojoaria na
Tailândia. Com apenas 22 anos, Schnyder seguiu de barco para a Ásia, onde também
chefiou o departamento de viagens do grupo. Aventureiro, fez em 1959 a descida do
rio Kwai, conheceu o Camboja, a Birmânia, a Tailândia, o Laos ou o Vietname. Foto-
grafias suas nessas expedições apareceram em jornais e revistas europeias. Ainda
na Diethelm, passou a responsável pela divisão de produtos de consumo, distribuindo
artigos da Procter & Gamble ou da Union Carbide. De 1966 a 1968, deixa a Tailândia e
viaja à vela pelos Mares do Sul, por Fiji e pela Samoa, vai ao Taiti, a Bora Bora, passa
pela América do Sul e acaba em Nova Iorque, onde o convencem a ser representante
da tabaqueira para o mercado do Sudeste Asiático. Durante a Revolução Cultural Chi-
nesa está em Hong Kong. Consegue entrar no continente, usando o neutral passaporte
suíço, é detido pelos Guardas Vermelhos. No regresso a Hong Kong, tem uma bateria
de jornalistas à sua espera. As fotos desta sua aventura são publicadas na revista nor-
te-americana Life. Regressa à sede europeia da Philip Morris, na Suíça, onde conhece
Charles e Marcel Stern, donos de uma empresa de mostradores, e primos de Philippe
Stern, presidente da Patek Philippe. Percebe que a decoração de mostradores, feita
por artistas tailandeses, poderia ser tão ou mais perfeita, mas a preços muito mais
WALTER VON KÄNEL (Suíça, 1942)
baixos. Ele e outros investidores criam a Cosmo, fábrica tailandesa de mostradores e General veterano

22
de caixas. Vende a sua participação e muda-se em 1973 para a Malásia, onde funda a
“Envio daqui os meus respeitosos
Precima, que produz acessórios para os relógios suíços. O negócio cresce tanto que
cumprimentos ao general Spínola”,
abre escritórios na Suíça. Inicia contactos com a ASUAG (dona então da Longines, da
disse-nos quando soube que vínhamos
Rado e da Eterna). E com a ETA, a principal fornecedora de calibres, gerida então por
de Portugal e nos encontrámos pela
Ernst Thomke. A Precima passa a produzir na Ásia calibres de quartzo para os suíços.
primeira vez, numa feira de Basi-
E, em 1983, em plena crise do quartzo, Schnyder adquire a Ulysse Nardin, manufatura
leia, há precisamente 25 anos. Walter von
histórica, especializada em cronómetros de marinha, e que estava em processo de
Känel, coronel do Exército suíço, respeita-
falência. A ideia de Schnyder, para fazer reviver a marca, era produzir um relógio que
do especialista e autor da história militar
nunca tivesse sido feito. Sabe que o relojoeiro independente Jörg Spoering tinha criado
helvética, tinha estado muito tempo antes em
um novo tipo de turbilhão, numa arquitetura inovadora, resultando num relógio de
manobras, com Spínola como observador, e
mesa, tipo astrolábio, concebido por um académico, Ludwig Oechslin. A colaboração
nunca mais esqueceu a figura do português,
entre Schnyder e Oechslin levou a que o modelo fosse miniaturizado para o pulso, algo
de monóculo e pingalim. Von Känel conhe-
nunca feito. Nascia em 1985 o modelo Ulysse Nardin Astrolabium Galileo Galilei. E a
ceu praticamente um único emprego – a
dupla funcionou mais 25 anos, inovando sempre, produzindo das peças mais originais
Longines, onde ingressou aos 28 anos, como
e funcionalmente inovadoras da relojoaria. Outros nomes, como Christophe Claret ou
vendedor. Antes tinha sido funcionário públi-
Giulio Papi, criaram para a Ulysse Nardin. Em 2001, concebido por Oechslin, nascia o
co, nos serviços aduaneiros. Na Longines,
Freak, um turbilhão carrossel com autonomia para sete dias, sem ponteiros ou coroa.
onde sempre tratou os empregados como se
Um modelo histórico, o primeiro do século XXI. Pela primeira vez, o silício era usado no
fossem da família, foi subindo na hierarquia.
órgão regulador. Em 2003, Schnyder obteve o prémio Gaia, o mais prestigiado do setor,
Quando o Swatch Group comprou a marca já
instituído pelo Museu Internacional de Relojoaria de La Chaux-de-Fonds. A Ulysse
ele era diretor-geral. Manteve desde então
Nardin pertence atualmente ao Grupo Kering.
uma relação muito próxima com Nicolas
Hayek, o maestro da recuperação relojoei-
ra suíça. E, em duas décadas, conseguiu
duplicar a produção, para quase dois milhões
de relógios por ano. Na direção do Swatch
Group desde 1991, semirreformou-se há
dois anos. Mas continua ligado à Longines,
uma marca do segmento médio, aquele que
mais tem sofrido com a concorrência dos
relógios conectados. Este histórico do setor
relojoeiro venceu muitas batalhas. Ninguém
sabe se a Longines, ou mesmo todo um setor,
vencerão a guerra. O motorista de décadas
de Von Känel, um barranquenho, talvez tenha
algumas dicas, fruto das confidências que o
amigo presidente lhe foi debitando, em fins
de dia de trabalho intenso, entre copos de
tinto e fondue… Temos de um dia perguntar
ao Artur Gavinas se está disposto a falar das
suas memórias com o Coronel…

80 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
THIERRY NATAF (França)
Sempre em festa

23
Quem, entre 2003 e 2009 estava no setor relojoeiro não deixou de notar
um CEO de tipo novo, que entrou na vetusta Zenith para desenhar reló-
gios, dois anos antes, e foi guindado à direção da manufatura produtora
de um dos mais célebres calibres de sempre – o El Primero, cronó-
grafo de primeira geração e de alta frequência. Quando Thierry Nataf
chegou à marca, ela estava quase moribunda e só se tinha salvado da crise
do quartzo porque no seu inventário havia milhares de calibres El Primero
que, por sorte, a Rolex achou por bem comprar, para equipar o seu icónico
Daytona. Nataf vinha da área do champanhe, onde entrou em 1998 pela mão
do grupo LVMH. Este, entretanto, tinha adquirido a TAG Heuer e a Zenith. Com
ele, Nataf levou para a Zenith o glamour e a agitação borbulhante, o atrevi-
mento com que queria despertar “uma estrela adormecida” (o emblema da
marca). Em dois ou três anos, mudou de alto a baixo o estilo clássico da ma-
nufatura, lançou a linha Defy Extreme, com materiais high-tech, turbilhões.
Abriu o mostrador dos relógios, mostrando o pulsar acelerado do El Primero.
Mas, acima de tudo, supervisionou a comunicação da marca, fez autênticas
produções tipo Hollywood em pequenos filmes publicitários. E deu festas de
lançamento dos novos modelos que ficaram na memória de clientes e jorna-
listas. O Carnaval de Veneza, com uma ilha alugada por uma semana, foi um
lançamento desse tipo. Com a crise financeira de 2009, o LVMH cansou-se do
estilo Nataf e ele foi afastado. Este poliglota e globetrotter (não conseguimos
saber a sua idade) continua na área do luxo, como consultor. Mas os inesque-
cíveis anos Nataf não deverão voltar mais.

THIERRY STERN (Suíça, 1970)


Responsabilidade suprema

25
A mais prestigiada manufatura relojoeira do mundo está na genebrina
família Stern desde 1932 e Thierry sucedeu em 2009 ao pai, Philippe,
corporizando a quarta geração. Uma cuidada política de produção limi-
tada; uma precursora estratégia de comprar em leilões os seus próprios
relógios, para alimentar o melhor museu de marca no mundo, garantindo
publicidade grátis e valorização das peças; uma comunicação estável, fiel aos
princípios de património e valor seguro – veja-se a frase “Nunca será dono de
um Patek Philippe. É apenas o seu guardião para a geração seguinte”. Tudo isso
ajuda. Mas manter o nível de qualidade extremo e ir acrescentando complicações
de tipo novo são a norma em que se baseia todo o negócio. Atualmente, há listas
de espera de anos para determinados modelos desportivos, com caixa de aço,
SHINJI HATTORI (Japão, 1953) como é o caso do Nautilus.
E, em leilões, algumas
Sempre um passo à frente dessas peças, ainda não

24
Economista de formação, entrou para a empresa estreadas, atingem preços
da família, Seikosha Co. logo que saiu da univer- absurdos, como sejam
sidade, em 1975. Em 2001 torna-se presidente meio milhão de euros.
da Seiko Precision Inc., e em 2003 é eleito pre- A Patek Philippe rejeita o
sidente e CEO da Seiko Watch Corporation. Nos papel de alimentador da
20 anos que leva à frente da mais prestigiada marca bolha relojoeira (a outra
nipónica de relojoaria conseguiu a sua internacionaliza- marca a sofrer fenómeno
ção e bater-se, no “campeonato do mecânico” com os semelhante é a Rolex,
relógios suíços. A submarca Grand Seiko, apelidada de sobretudo mais recente-
“Rolex asiático”, que durante décadas esteve confinada mente com o modelo GMT
ao mercado nipónico, foi autonomizada por Hattori, Master, mas desde sempre
num esforço para que ela se posicione globalmente no com o Daytona). De qual-
segmento alto. Boutiques Seiko e Grand Seiko foram quer forma, o desafio de
abrindo por todo o mundo e as inovações tecnológicas Thierry Stern é grande
apareceram – alimentação por energia solar, acerto – ninguém sabe se o futu-
da hora por GPS, mas sobretudo a tecnologia híbrida ro existe para o relógio de
Spring Drive. Shinji Hattori segue na tradição do bisavô, pulso, mesmo que ele seja
Kintaro Hattori, que aos 21 anos abriu no centro de o melhor do mundo.
Tóquio a sua relojoaria e tinha como mote “sempre um
passo à frente dos outros”.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 81
ANO RELOJOEIRO NOVIDADES

complicações combinadas

patek philippe
apresenta
três novos
cronógrafos

A
manufatura genebrina expande
O MUNDO DOS CRONÓGRAFOS, o universo dos medidores de
UMA DAS COMPLICAÇÕES tempos intermédios, com a
apresentação de três variações
MAIS APRECIADAS PELOS dos modelos 5204, 5905 e 5930,
COLECIONADORES, GANHA traduzindo a sua capacidade
TRÊS NOVAS VERSÕES, neste domínio.
COM FUNÇÕES ADICIONAIS, O relógio que escolhemos para
capa desta edição histórica do
INICIATIVA DA PATEK PHILIPPE. Anuário é a Referência 5930P-
001, um cronógrafo automático,
de roda de colunas e embraiagem
vertical, com flyback e Horas do Mundo.
O mostrador, verde, inspira-se num modelo
de 1940. Tem caixa de 39,5 mm, de platina. n

82 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Um mostrador verde,
nostálgico, evocativo
de um modelo de há
80 anos.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 83
ANO RELOJOEIRO NOVIDADES

correção apenas uma vez por ano

um cronógrafo com
calendário anual
UMA COMPLICAÇÃO
QUE EXIGE A CADA ANO
APENAS A CORREÇÃO
NO INÍCIO DE MARÇO.

84 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
As janelas indicam
o dia da semana,
a data e o mês.

A
referência 5905/1A-
001 da Patek Philippe
surge pela primeira
vez com caixa de aço,
de 42 mm. Trata-se
de um cronógrafo
automático com
roda de colunas e
embraiagem vertical,
flyback. Além disso
acresce ter um
Calendário Anual (tem em conta
os meses de 30 ou 31 dias,
requerendo apenas uma correção
por ano, a 1 de março). n

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 85
ANO RELOJOEIRO NOVIDADES

grandes complicações

cronógrafo
rattrapante,
calendário
perpétuo
SÃO POUCAS AS MANUFATURAS
CAPAZES DE CONJUGAR VÁRIAS
COMPLICAÇÕES NUM CALIBRE.

86 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
A beleza do calibre
de carga manual,
acessível com caixa
de fundo à vista.

N
o novo trio de cronógrafos
da Patek Philippe, surge
ainda a referência 5204R-
011, uma reinterpretação
moderna do anterior
modelo de cronógrafo
de carga manual, com
duas rodas de colunas de
embraiagem horizontal e
função rattrapante. Alia
a isso outra complicação
rara, o Calendário Perpétuo. Caixa de
ouro rosa, de 40 mm. No verso, o vidro
de safira permite admirar o calibre. n

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 87
HISTÓRIA HÁ 110 ANOS

de como
portugal
aderiu ao fuso
de greenwich
A REPÚBLICA TROUXE DUAS MUDANÇAS ESTRUTURAIS AO TEMPO
PORTUGUÊS – GREENWICH COMO MERIDIANO DE REFERÊNCIA E OS
FUSOS HORÁRIOS, POR UM LADO; O REGIME DE HORA DE VERÃO E HORA
DE INVERNO, POR OUTRO. HÁ 110 ANOS, A PARTIR DE 1 DE JANEIRO DE
1912, OS RELÓGIOS NACIONAIS PASSARAM A ACERTAR POR GREENWICH.
HOUVE RESISTÊNCIA POPULAR À “NOVA HORA”. PORTUGAL CHEGOU COM
ALGUMAS DÉCADAS DE ATRASO AO SISTEMA DOS FUSOS HORÁRIOS.
ATÉ PORQUE ESTEVE AUSENTE DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE
WASHINGTON DE 1884, QUE APROVOU O SISTEMA E GREENWICH COMO
MERIDIANO ZERO OU DE REFERÊNCIA.

POR FERNANDO CORREIA DE OLIVEIRA


Jornalista e investigador
(extractos de O Relógio da República, Âncora, 2010)

88 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
EM CARTA DE 31 DE AGOSTO DE 1882, da Sociedade de susceptibilidades do sentimento, do interesse e da política
Geografia de Lisboa (1), dirigida ao Ministério português dos de cada um [dos Estados] que podem embaraçar e dificultar
Negócios Estrangeiros, através do seu presidente, José Vi- um acordo e obstar a adopção geral de um meridiano único”.
cente Barbosa du Bocage, e do seu secretário-geral, Lucia- O Governo português ratificou a votação dos seus repre-
no Cordeiro, afirma-se, quanto à questão de determinação sentantes na conferência de Veneza e comprometeu-se a
de um Meridiano Zero universal: “Por todos os títulos, Por- “nomear oportunamente os seus representantes” à reunião
tugal nem pode ser indiferente à questão nem deixar que internacional seguinte.
ela se resolva, como tende evidentemente a resolver-se, Quanto à Sociedade de Geografia de Lisboa (fundada em
sem que ele se possa ouvir e valer por honra das suas tradi- Novembro de 1875), para a preparação da posição portu-
ções, da sua ciência e da sua posição de potência marítima guesa face ao assunto, e dado que ele “importa directamen-
e colonial, que encheu com o seu nome e com os seus ser- te aos interesses do comércio, da navegação, do ensino”,
viços as primeiras páginas da geografia moderna”. iria auscultar os vários ministérios e associações de classe
Os dois signatários da missiva tinham sido os delegados envolvidos.
portugueses ao Terceiro Congresso Internacional de Ciên- Em carta de 23 de Outubro de 1882 o Departamento de Es-
cias Geográficas, ocorrido em Veneza, no Outono do ano tado norte-americano, em nome do presidente dos Estados
anterior. Nesse congresso, tanto Barbosa du Bocage como Unidos, e através do Ministério português dos Negócios Es-
Luciano Cordeiro votaram a favor da resolução final – a ne- trangeiros, sonda Portugal sobre o seu interesse em fazer-
cessidade da convocação de uma nova conferência interna- -se representar numa futura reunião, em Washington, em
cional “destinada a resolver a questão da adopção de um data a marcar.
meridiano universal”. Na carta explica-se o contexto: “It may be well to state in
“Em princípio, ninguém contesta quanto seria racional e útil the absence of a common and
a adopção de um meridiano inicial”, sublinham. A questão accepted standard for the com-
também já tinha sido tratada no Congresso de Geografia putation of time for other than
Comercial, de Paris, de 1875, e onde Portugal igualmente
A grande resistência astronomical purposes, embar-
se tinha feito representar (por José Júlio Bettencourt Ro-
ao uso do meridiano rassments are experienced in
de Greenwich como
drigues). the ordinary affairs of modern
referência à escala
A necessidade de se convencionar um meridiano de refe- commerce, - that this embar-
global vinha da França.
rência universal era cada vez mais premente, dado o desen- rassment is especially felt sin-
volvimento de novas formas de comunicação, por um lado ce the extension of telegraphic
– telégrafo; de transporte, por outro – caminhos-de-ferro. and railway communications
Ambas as novas realidades exigiam tempo convencionado has joined states and continents
e coordenado, não apenas a nível nacional, mas continental possessing independent and wi-
e planetário. dely separated meridional standards of time, - that the sub-
O congresso de Veneza decidiu convocar para daí a um ano ject of a common meridian has been for several years past
outra conferência internacional, “para resolver a questão discussed in this country and in Europe by commercial and
do meridiano inicial, tendo em conta não somente a questão scientific bodies, and the need of a general agreement upon
da longitude, mas particularmente a das horas e datas”. a single standard recognized – and that, in recent European
Se a latitude de um lugar, medida a partir da linha do Equa- conferences especially, favor was shown to the suggestion
dor, não ofereceu nunca polémica, já a longitude pode ser to- that, as the United States possesses the greatest longitudi-
mada a partir de qualquer linha imaginária traçada de pólo a nal extension of any country traversed by railway and tele-
pólo – partindo-se dela para leste ou oeste. Do ponto de vista graph lines, the initiatory measures for holding an interna-
cartográfico, as várias potências marítimas foram usando tional convention to consider so important a subject should
meridianos de referência vários – Mercator, por exemplo, be taken by this government”. (Poderá bem dizer-se que, na
usou o da ilha do Corvo para desenhar os seus mapas. Do falta de um padrão comum e aceite para o cômputo do tempo
ponto de vista de tempo, e a partir da segunda metade do para lá do propósito astronómico, se têm sentido embaraços
século XIX, as nações começaram a usar como meridiano nos assuntos comuns do comércio moderno – esse emba-
zero o que passava pelos respectivos observatórios astro- raço é especialmente sentido desde que as comunicações
nómicos nacionais. Em Portugal, esse meridiano começou telegráficas e ferroviárias têm ligado países e continentes
por ser o que passava pelo Observatório Astronómico que foi que possuem tempos convencionados por meridianos inde-
construído no início do século XIX no Castelo de São Jorge, pendentes e largamente separados – e que o assunto de um
em Lisboa (destruído em 1938, aquando das obras de res- meridiano comum tem sido discutido desde há vários anos
tauro no monumento); mas, ao mesmo tempo, e para a zona neste país e na Europa por organismos comerciais e científi-
centro e norte do país, vigorava como meridiano zero (para cos, e da necessidade de um acordo geral sobre um padrão
efeitos horários), o Observatório da Universidade de Coim- único reconhecido – e que, especialmente em conferências
bra. Só a partir de 1878 o meridiano zero passou a ser único recentes na Europa, foi mostrada abertura à sugestão de
para todo o país – o do Observatório Astronómico de Lisboa. que, possuindo os Estados Unidos a maior extensão longi-
É precisamente de 1878 a proposta de Sir Sandford Fleming, tudinal do que qualquer outro país atravessado por linhas de
um engenheiro dos caminhos-de-ferro canadianos, de divi- caminhos-de-ferro e de telégrafo, este governo deveria to-
são do globo terrestre em 24 fusos horários, de 15 graus mar as medidas iniciais para a realização de uma convenção
cada um, vigorando dentro de cada um uma mesma hora. internacional que trate deste importante problema).
Por essa altura começava a impor-se como meridiano de re- A reunião de Washington teria um único ponto na ordem dos
ferência na navegação marítima o de Greenwich, ao norte de trabalhos: “fixing upon a meridian proper to be employed as
Londres, onde estava o Observatório Astronómico britânico. a common zero of longitude and standard of time reckoning
A grande resistência ao uso desse meridiano de referência à throughout the globe” (fixação de um meridiano apropriado
escala global vinha da França, que não só insistia em usar o a ser usado como zero comum de longitude e tempo padrão,
do Observatório de Paris como queria impô-lo em qualquer reconhecido em todo o globo).
convenção internacional que viesse a haver sobre o assunto. O mundo tinha agora amplas redes transnacionais de ca-
José Vicente Barbosa du Bocage e Luciano Cordeiro re- minhos-de-ferro e redes transatlânticas de telégrafo, mas
conheciam isso na carta citada: “são as pretensões e as não dispunha ainda de um sistema global de coordenadas

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 89
DE COMO PORTUGAL ADERIU AO FUSO DE GREENWICH

geográficas ou temporais. Era urgente chegar-se


a um acordo.
Sátira ao Parlamento português, onde os deputados são comparados
Em carta de 22 de Dezembro de 1882, Frederico a relógios de vários tipos – António Maria, 1881
Augusto Oom (1830-1890), primeiro director do
Observatório Astronómico de Lisboa, respondia à
solicitação de parecer feita pela Secretaria de Es-
tados dos Negócios Estrangeiros. Divide a ques-
tão nos aspectos geográfico e temporal. Quanto
ao primeiro, diz que o assunto está praticamen-
te assente, já que o meridiano de Greenwich
foi adoptado “de facto” como primeiro meridia-
no “pelos navegantes da maior parte das nações
da Europa e pelos Estados Unidos da América”.
Quanto à unificação do tempo médio, a posição
de Frederico Augusto Oom é contrária, pois “não
é difícil imaginar os embaraços e dificuldades
de diversa ordem que resultariam para todas as
classes da sociedade, em todos os actos da vida”
se ela se concretizasse. Recomenda, assim que
não se vá à Conferência de Washington nem se
adopte a unificação do tempo médio, se ela aí vier
a ser decidida.
Em carta de 6 de Janeiro de 1883, dirigida à Se-
cretaria de Estados dos Negócios Estrangeiros,
o director do Observatório Astronómico de Coim-
bra, Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto, não define
claramente a sua posição, apesar de defender
a adopção de um meridiano zero universal para
fins geográficos e temporais. Mas não diz qual.
De qualquer modo, declina a nomeação feita pelo
Governo português para ser um dos delegados à
Conferência de Washington, devido à idade e ao
estado da sua saúde. Tinha na altura 75 anos,
mas só viria a falecer dez anos mais tarde.
A 8 de Setembro de 1883 chega à Secretaria de
Estado a posição da Sociedade de Geografia de
Lisboa. Assinada pelo seu vice-presidente, Antó-
nio do Nascimento Pereira de Sampaio, e pelo seu
secretário-geral, Luciano Cordeiro, informa que,
após votação, se apoia a designação do meridia-
no de Greenwich como de referência, mas apenas
para fins geográficos. E que se rejeita “a ideia da
unificação da hora média universal”.
A 25 de Outubro desse ano chega à Secretaria de
Estado uma nota da Embaixada de Portugal em
Itália, dando-se conta da Sétima Conferência Geo-
désica Internacional, ocorrida em Roma. “Para
meridiano único foi escolhido o de Greenwich, de-
vendo as longitudes serem contadas na direcção
de O-E; foi igualmente aprovado que se adoptasse
uma hora universal, sendo conveniente contá-la
do meio-dia médio de Greenwich e de 0h a 24h”. Presume-se que não de Greenwich como meridiano zero para fins cartográficos, mas se
terão estado representantes portugueses presentes na conferência. rejeita a unificação da hora, “por causa das perturbações que iria
A 1 de Dezembro, o representante dos Estados Unidos em Lisboa causar nos usos e costumes dos povos”. Faz uma ressalva: “Mas
recebe do Departamento de Estado uma carta com o convite formal desde que se empregue a hora única nos serviços que a exijam ou
para Portugal participar numa conferência, em Washington, sobre em que seja mais apropriada, e se conserve a hora local ou nacio-
as questões de sempre – meridiano zero geográfico e de tempo. nal para os usos vulgares […], parece não haver nisso inconveniente
Encaminha-a de imediato para o ministro português dos Negócios algum, mas antes grande utilidade”. E remete uma decisão final
Estrangeiros. Por coincidência, este era na altura José Vicente para quem estaria mais habilitado para o fazer, nomeadamente os
Barbosa du Bocage, um dos delegados à conferência de Veneza directores dos Observatórios Astronómicos de Lisboa e Coimbra.
ocorrida dois anos antes, presidente da Sociedade de Geografia de A 9 de Janeiro de 1884, o representante dos Estados Unidos em Lis-
Lisboa, sendo assim alguém que sabia bem da importância do que boa volta à carga, recordando ao ministro português dos Negócios
se estava a tratar. Estrangeiros a primeira nota sobre o assunto, de 10 de Novembro
A 4 de Janeiro de 1884, chega ao Ministério português dos Negócios de 1882. E informa ainda que a conferência de Washington já tem
Estrangeiros um parecer do Ministério das Obras Públicas (com data marcada – 1 de Outubro desse ano, devendo cada país nomear
alçada sobre os Serviços Geodésicos), onde se apoia a declaração os seus representantes, no número máximo de três.

90 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
A 27 de Março de 1884, a Academia das Ciências de Lisboa envia marítimo mundial, com os restantes 28 por cento a serem dividi-
para a Secretaria de Estado o parecer da sua secção de Ciências dos entre outros dez diferentes meridianos nacionais”, fazia notar o
Matemáticas. Diz-se que a questão foi analisada do ponto de vista “pai” do sistema de Fusos Horários.
social e científico. “Considerando o problema pelo lado restrito da A Conferência de Washington, embora não tivesse poderes para de-
ciência pura, a sua importância é medíocre, ou antes, nula. Conhe- cidir, tinha aprovado claramente o uso de Greenwich. E não apenas
cidas, como de facto são, as posições geográficas das principais para fins geográficos. Rapidamente as nações representadas come-
estações do globo e contando-se em cada uma delas a sua hora çaram a mudar o seu sistema nacional de Hora, passando a usar
média local, todas se acham ligadas cientificamente por fáceis e como referência Greenwich como meridiano zero, substituindo-o
determinadas relações, sem que haja a menor necessidade de se assim ao seu meridiano zero nacional. A França viria a fazê-lo ape-
ir conceder a este ou àquele meridiano, passando por este ou por nas a 11 de Março de 1911 (nesse sábado, os relógios franceses atra-
aquele observatório, uma preferência necessariamente litigiosa, saram 9 minutos e 21 segundos, a diferença horária correspondente
quando dessa preferência não pode resultar qualquer progresso em graus entre os meridianos de Paris e de Greenwich). E Portugal,
para a ciência física da Terra.” só viria a fazê-lo em 1 de Janeiro de 1912, como veremos.
Mas, no caso de vir a ser adoptado internacionalmente o meridiano Continua sem ficar claro porque é que Portugal não se fez repre-
zero, a Academia das Ciências acha não ser difícil Portugal reivindi- sentar na Conferência de Washington, uma ausência incompreen-
car para si o privilégio da sua fixação – ou um que passa pelo meio sível à luz da história do país, das suas tradições marítimas, de um
do arquipélago dos Açores, nomeadamente pelo Pico (“que funciona território espalhado por longitudes extremas.
como um grande farol estacionado sobre o Oceano”; ou o que passa De qualquer modo, a monarquia perdia aqui uma oportunidade de
por Sagres (evocando-se o Infante D. Henrique, a escola de astrono- acertar o passo com o Tempo Moderno.
mia que aí teria funcionado, o local onde começou “a época actual”).
Depois de reconhecer que o meridiano de Greenwich é já usado
“pela maior parte dos povos navegadores”, a Academia diz: “É mui- A MUDANÇA PARA O MERIDIANO DE GREENWICH
to de crer, Senhores, que a França e a Inglaterra hajam de pleitear —
competências no seio do Congresso [de Washington] com respeito Como referido anteriormente, foram emitidas em 1891 pelo Gover-
à fixação do meridiano destinado a servir de primário”. Mas reco- no português instruções regulamentares relativas às horas e du-
menda-se que Lisboa vote a favor da parte inglesa, pelo menos na ração de serviço nas estações dependentes da Direcção-Geral dos
questão geográfica. Já quanto à questão da Hora Universal, a Aca- Correios, Telégrafos e Faróis. Elas estabeleciam que “[…] a hora
demia tem uma posição semelhante à do Ministério das Obras Pú- em todas as estações, será a média oficial contada pelo meridiano
blicas – que convivam as duas horas – a do tempo médio de Green- do Real Observatório Astronómico de Lisboa; nas principais cida-
wich para uso científico; a do tempo médio ditado pelo meridiano des do reino e em quaisquer pontos do país, quando a conveniência
zero nacional, para uso geral das populações. do serviço público aconselhar, serão estabelecidos postos crono-
O parecer termina com a recomendação de que os delegados por- métricos destinados a fazer conhecer a hora média oficial”.
tugueses à reunião de Washington sejam instruídos no sentido das Assim, a hora oficial era transmitida diariamente do Observatório
conclusões a que as várias instituições nacionais foram chegando à estação central dos telégrafos de Lisboa e desta sucessivamente
– sim a Greenwich para fins geográficos; não ou parcialmente não a todas as estações telegráficas do continente e ilhas adjacentes.
para fins de tempo e data. Era a primeira vez que Portugal tinha uma única hora oficial. E isso
A 26 de Maio, a Secretaria de Estado pede ao Ministério do Reino só se tornara possível devido à invenção do telégrafo.
que se decida se participa ou não e “habilite esta Secretaria de Es- Como explica David S. Landes em Revolution in Time, de 1983, a
tado a dar ao representante dos EUA a resposta que lhe solicitava invenção do telégrafo, “primeiramen-
sobre a resolução de Portugal de se fazer ou não representar”. E, te aplicada em 1837 na London and
em caso afirmativo, “quais são os seus representantes, tendo con- Era a primeira vez que North Western Railway, tornou possí-
sideração que não podem exceder os três”. Portugal, afinal, ainda Portugal tinha uma vel transmitir quase instantaneamente
não tinha decidido formalmente nada. única hora oficial. as horas e os minutos exactos a partir
Com a data da reunião de Washington a aproximar-se, a 5 de Julho E isso só se tornara de um escritório central para qualquer
o representante dos EUA em Lisboa “volta a chamar a atenção para possível devido à ponto da linha. O efeito disso foi a cria-
o assunto”, iniciado formalmente ano e meio antes. Que o rei de invenção do telégrafo. ção de um tempo padrão para todos os
Portugal decida se aceita ou declina o convite. E “begs for na ans- que eram servidos por uma determina-
wer” (suplica por uma resposta). da rede de caminhos-de-ferro”.
Finalmente, a 15 de Agosto de 1884, o representante da Legação O passo seguinte foi a unificação de to-
dos Estados Unidos volta a insistir, recordando que falou com o an- das as redes e linhas. E, a 22 de Setembro de 1847, a British Rail-
terior e o actual ministro dos Negócios Estrangeiros, tendo aludido way Clearing House recomendou que cada companhia adotasse o
ao tema em vários encontros pessoais. “It still remains without a tempo médio de Greenwich em todas as suas estações, “tão rápido
solution at the hands of His Magesty’s Government” (continua sem quanto os serviços de Correios o permitam”. E, antes do fim do ano,
solução, nas mãos do Governo de Sua Majestade). Esta é a última estavam reunidas as condições técnicas para que os caminhos-de-
nota que consta no dossier sobre o assunto no Arquivo Histórico do -ferro britânicos tivessem as suas actividades totalmente interliga-
Ministério dos Negócios Estrangeiros que temos estado a seguir. das, operando sob um único tempo padrão.
A 29 de Dezembro desse ano, o representante diplomático portu- O exemplo inglês foi seguido por vários países na Europa, mas, à
guês em Washington, visconde das Nogueiras, envia um exemplar semelhança de Portugal, usando cada um o seu meridiano nacional
dos Protocolos da Conferência, aprovados em Outubro. de referência. Colocava-se um problema acrescido a países com
Nessa Conferência, a posição francesa ficou isolada (apoiada pra- longitudes amplas, como a Rússia ou os Estados Unidos, onde a
ticamente apenas pelo Brasil). Segundo relatório apresentado na hora determinada por um único meridiano não chegava. Em 1883,
altura por Sir Sandford Fleming, um total de 37 663 navios, com o os norte-americanos foram os primeiros a aplicar o sistema de fu-
equivalente a 14,6 milhões de toneladas (65 por cento do total de sos horários ao seu território.
navios e 72 por cento da tonelagem), usavam já na altura o me- O corolário lógico era o de adoptar o sistema não apenas a um
ridiano de Greenwich nas suas cartas de navegação. Seguia-se o país, mas a todo um continente, a todo o mundo. Como vimos, na
de Paris, com 5914 navios e 1,7 milhões de toneladas (10 por cento Conferência de Washington, de 1884, convocada para o efeito de
dos navios, 8 por cento da tonelagem). Por essa altura, havia ainda determinar Greenwich como meridiano de referência internacio-
quem usasse o meridiano de Lisboa (491 navios, 164 mil toneladas). nal, Portugal, apesar de convidado, não compareceu. E continuou
“O Meridiano de Greenwich é usado por 72 por cento do comércio a usar o sistema de tempo coordenado em vigor desde 1891. Para

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 91
DE COMO PORTUGAL ADERIU AO FUSO DE GREENWICH

um país periférico, isso não trazia grandes inconvenientes. Até que


a Espanha aderiu, em 1901, a Greenwich… e aí começaram a surgir
problemas directos, relacionados com a coordenação de horários
de comboios peninsulares, por exemplo.
No final de 1901, a Revista Encyclopedica constatava: “A nossa hora
oficial é a do meridiano de Lisboa (Observatório). Quando lá é meio-
-dia, os relógios devem marcar meio-dia em todo o país. Este uso,
de uma nação adoptar a hora da sua capital, que outrora era seguido
em toda a parte, está hoje abandonado. Na Europa, cremos que só
Portugal, a França e a Rússia é que contam o tempo pelo relógio das
suas capitais, sem se importarem com o uso dos outros estados.
A própria Espanha já hoje não acerta os seus relógios pela hora de Almanach Illustrado
Madrid. Há meses que aderiu à convenção horária internacional, re- d’O Seculo 1911,
cebida há anos friamente, mas que tende agora a universalizar-se”. Alegoria à hora
Como explicava então a Revista Encyclopedica, a Europa estava di- oficial, do pintor
vidida em três zonas horárias: ocidental, central e oriental, cada francês Farnet.
uma de 15 graus de longitude, ou, em tempo, de uma hora de exten-
são; a primeira, que se tomava como zona unidade, estava dividida
em duas partes iguais pelo meridiano do Observatório de Green-
wich – localidade nos arredores de Londres. Convencionou-se que
em cada zona se adoptasse uma hora uniforme – a hora do meri-
diano que a dividia ao meio. “Na prática, modifica-se muitas vezes,
embora ligeiramente essa fórmula: em regra cada país usa a hora
da zona em que está situada a maior parte da sua área.”
“Salta aos olhos a utilidade de semelhante convenção para as rela-
ções internacionais”, defendia-se. “Quando se atravessa a fronteira
de um país de uma zona horária diferente, para acertar o relógio
basta adiantá-lo ou atrasá-lo uma hora, conforme se caminha
para oriente ou para ocidente. Resulta uma grande simplificação
nos horários das linhas internacionais de telegrafia e telefonia, dos
caminhos-de-ferro e da marinha. As vantagens são comparáveis
às que provêm da uniformização do calendário, dos sistemas de
unidades de medidas, etc.”
Naquela altura, as nações da chamada zona ocidental da Europa
eram a Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Holanda, Bélgica
e Luxemburgo. A zona central abrangia a Itália, Suíça, Alemanha,
Áustria-Hungria, Sérvia, Dinamarca, Suécia e Noruega. A zona
oriental compreendia a Rússia, Bulgária, Grécia e a parte europeia
da Turquia. Assim, em sendo uma hora nos países da Europa oci-
dental, eram duas horas nos da zona central e três nos da oriental.
“O nosso país não aderiu a esta convenção. Não é decerto por imi-
tação do chauvinismo francês, nem do conservadorismo russo.
Será antes para ter a glória de possuir uma hora... nacional”, dizia
em tom jocoso a Revista Encyclopedica.
E, para quem entrava ou saía do país, para quem fazia ligações te-
lefónicas ou telegráficas de e para Portugal, a confusão era enor-
me: quem seguia para Espanha tinha de adiantar o relógio 38 mi-
nutos e 3,5 segundos. Quem seguia de Espanha para França teria
de avançar o relógio 9 minutos e 11 segundos. Na passagem da
França para a Suíça, que adoptara a hora universal, o avanço era
de 50 minutos e 49 segundos. A Rússia conservava a hora de São
Petersburgo, que adiantava 2 horas, 4 minutos e 13 segundos em
relação à de Greenwich.
No número seguinte, no correio dos leitores, a reacção negativa
não se fez esperar. Assinado “J.C.”, a carta dizia ser impossível a
divisão mundial em zonas horárias, “visto os países não estarem
separados por linhas de longitude e poder por isso um país (como
acontece) pertencer a duas zonas horárias”. A discussão pública
foi-se arrastando, sem decisões.
Com o regicídio, em 1908, sobe ao trono, por morte de D. Carlos, o Almanach Illustrado d’O Seculo 1911, demonstrando
filho, D. Manuel II. A rede de caminhos-de-ferro tinha-se desenvol- a confusão quanto à Hora, com países a guiarem-se
vido muito nos últimos 20 anos, as ligações internacionais por essa pelo meridiano de Greenwich e outros, como Portugal,
via e através dos novos meios de telecomunicações iam pressio- a seguirem o seu meridiano nacional.
nando cada vez mais para que se fizesse a mudança horária.
Foi preciso cair a monarquia, mudar o regime, para que o país adop-
tasse a Hora decretada pelo meridiano zero, o de Greenwich. Por

92 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
estações conservar os seus relógios, tanto internos como exter-
nos, sempre certos por essa hora e conceder todas as facilidades
ao seu alcance para a tornar exactamente conhecida do público
em geral, cumprindo às repartições telegráficas dar a este serviço
toda a preferência”.
Além disso, permitiu-se e tornou-se válido para todos os efeitos le-
gais ou jurídicos, que se designassem pelos números 13 a 23 as ho-
ras compreendidas entre o meio-dia e a meia-noite, suprimindo-se
assim, as designações “Tarde” e “Manhã” ou outras equivalentes, e
que a meia-noite se designasse por zero. Pelo mesmo diploma, de-
sapareceu a diferença existente de cinco minutos entre os relógios
internos e externos das estações ferroviárias.
Fosse qual fosse a hora que vigorava, desde 1903 que, por lei, era o
Real Observatório Astronómico de Lisboa (Tapada da Ajuda) quem
tinha por missão o serviço de transmissão telegráfica da hora ofi-
A Capital 1 de Junho 1911 cial às estações semafóricas, que constituía na “transmissão diária
dos sinais da pêndula média para o Arsenal da Marinha e Escola
Politécnica, a fim de promover a queda do balão à uma hora precisa
do tempo médio oficial”.
Em 1912, José Nunes da Mata edita A nova hora e os fusos horá-
rios. Pode-se dizer que este homem foi o “pai” da Hora moderna
portuguesa. Nascido em 1849, na Sertã, faleceu em 1945. Entrou
para a marinha em 1878, onde acabou no posto de almirante. Fez
o curso de construção naval, concebeu e construiu barcos à vela.
José Nunes da Mata Republicano desde os bancos da escola, colaborou com a impren-
sa antimonárquica e tomou parte activa no cortejo organizado por
ocasião do centenário de Camões, em 1880. Amigo íntimo de Ma-
nuel de Arriaga e de Manuel de Azevedo Gomes, fundou com eles,
desde aspirante de marinha, um triunvirato republicano dentro da
corporação da Armada, participando activamente na vida dos cen-
tros republicanos. Foi desde 1881 professor da Escola Naval.
Agora director da Escola Naval e membro do senado, o “pai” da
nova hora portuguesa achou-se na obrigação de dar “uma rápida
decreto, com força de lei, de 26 de Maio de 1911, assinado por Teófilo explicação conducente a facilitar a execução do decreto de 26 de
Braga, António José de Almeida, Bernardino Machado, José Relvas e Maio de 1911”.
Brito Camacho, entre outros, decidia-se que a partir de 1 de Janeiro É ele mesmo quem relata: “Em princípio do mês de Fevereiro de
de 1912, a chamada Hora Legal, em todo o território português, fica 1911, fomos chamados ao Estoril pelo Ministro dos Negócios Es-
subordinada a esse meridiano, segundo o princípio adoptado na Con- trangeiros, o sr. Bernardino Machado [...]. Aproveitámos então a
venção de Washington em 1884. A decisão tinha sido baseada no pa- ocasião para lhe dizer que era de toda
recer unânime de uma comissão nomeada em Maio de 1911, e de que a urgência que a República adoptasse
fizeram parte o almirante José Nunes da Mata; o tenente-coronel Pode-se dizer que a hora internacional, visto já ter sido
João Maria de Almeida Lima, director do Observatório Meteorológico José Nunes da Mata adoptada por quase todas as nações
de Lisboa; o capitão de engenharia Frederico Oom, astrónomo do foi o “pai” da Hora civilizadas do velho e do novo mundo,
Observatório Astronómico da Tapada da Ajuda; o capitão de enge- moderna portuguesa. e pedimos-lhe para nos dizer por qual
nharia Pedro José da Cunha, lente de Astronomia da Escola Politéc- dos ministérios conviria melhor que
nica; e o engenheiro civil e de minas Luís da Costa Amorim. o assunto fosse tratado, se pelo Fo-
O preâmbulo do Decreto afirmava: mento, se pelo dos Estrangeiros... [...].
“Considerando que já todos os países cultos, com raras excepções, Decorridos uns quinze dias [...] entre-
terem adoptado para base da contagem do tempo o meridiano de gámos um borrão de um projecto de
Greenwich, segundo o princípio aceito na Convenção de Washing- lei relativo à adopção da nova hora [...] ao ministro da Justiça, sr.
ton em 1884; Afonso Costa [...]. Em meados de Abril, encontrámo-nos no largo
Considerando que a adopção do mesmo princípio no território do Município com o Presidente do Governo Provisório, sr. Teófilo
português oferece incontestáveis e numerosas vantagens, tanto Braga, que nos perguntou a razão porque ainda não estava adop-
no movimento internacional dos comboios, como nos serviços te- tada a nova hora, pois lhe constava que estávamos encarregado de
legráficos, nas relações marítimas e no convívio científico do país fazer progredir a útil reforma”.
com o estrangeiro; Quanto à nova contagem seguida das horas, desaparecendo os
Considerando que o persistirmos no obsoleto sistema vigente re- conceitos mais vagos de “manhã” e “tarde”, José Nunes da Mata
presentaria da nossa parte um verdadeiro atraso perante os pro- afirmava: “Ninguém tenha dúvidas a este respeito: a contagem das
gressos da civilização e até uma incúria, dada a nossa situação horas será em toda a parte, dentro de algumas dezenas de anos,
geográfica e os deveres que ela nos impõe, tanto no continente eu- das 0 às 24”. E acrescentava: “Para Portugal deve ser motivo de
ropeu como nas ilhas adjacentes e colónias; orgulho o ter adoptado a contagem seguida das horas, sem estar
Considerando que tal adopção, tendo indubitáveis e largas vanta- humildemente à espera do exemplo da França e da Inglaterra. Até
gens, não oferece nenhum inconveniente prático e não importa a que uma vez houve uma reforma em que não ficámos na retaguarda
mínima despesa […]” das nações civilizadas, e antes quase na vanguarda!”
Determinava-se depois que os relógios nacionais fossem adianta- Para um Portugal ainda muito rural e pouco cosmopolita, onde os
dos de 36 minutos e 44,68 segundos a partir das 00h00 de dia 1 de relógios batiam religiosamente 13, 14, 15, 16… badaladas quando
Janeiro de 1912. marcavam as horas depois do meio-dia, a revolução era de monta.
“São regulados pela hora legal todos os serviços públicos e par- Mas José Nunes da Mata insistia: “Pelo que diz respeito ao facto de
ticulares da República, devendo todas as repartições, edifícios e os relógios baterem as horas apenas até 12, não nos parece que

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 93
DE COMO PORTUGAL ADERIU AO FUSO DE GREENWICH

Diário de Notícias
31.12.1911

Jornal de Notícias
31.12.1911

apresente o menor inconveniente, e pode isto servir até de auxílio


aos que encontram dificuldade em estabelecer a correspondência
entre as horas actuais da tarde e noite e as antigas.”
A Comissão que o Governo nomeara para estudar a alteração do
regime horário, alvitrara: “A modificação mais simples, económica
e útil dos mostradores dos relógios consiste em pintar por dentro
da actual numeração romana que vai até 12, uma outra numeração
árabe ou usual que fosse até 23, sendo preferível pintar um 0 no
lugar do 24. As horas inferiores a 12 são horas da manhã; as horas
superiores a 12 indicam horas da tarde; 12 indica o meio-dia e 0 ou
24 indicam a meia-noite”.
O Diário de Notícias de 31 de Dezembro de 1911, dedicando um
extenso artigo à nova Hora Legal, que iria entrar em vigor no dia
seguinte, escrevia pedagogicamente: “Não deve inquietar ninguém
uma tal mudança realizada por conveniência geral; de resto, é uma

94 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
questão de hábito, que é, segundo se diz proverbialmente, uma se- travaram na altura precisa e o sino do relógio desatou a badalar,
gunda natureza. Para os devidos efeitos, a lei manda adiantar os talvez pelas 22, a badalar além da marca, tanto que chamou a aten-
relógios de 36 minutos, 44 segundos. A única desvantagem, afinal, ção da gente das redondezas que acudiu ao Largo da Oliveira, e o
é parecermos mais velhos alguns instantes mais”. nosso grupo, cujo Quartel-general era na loja do Barbosa, da rua
“Estava-se no princípio do novo regime e muitas pessoas, em oposi- da Rainha, também compareceu para presenciar o espectáculo.
ção política, obstinaram-se em não cumprir o decreto, e ainda hoje “A garotada das cercanias, do Campo da Feira, da Feira do Pão, de
se encontra um ou outro relógio nessas condições”, afirmava Mário Santa Luzia, correu alvoroçada a juntar-se ao alarido da contagem
Costa em 1956, na já citada obra Duas curiosidades lisboetas. em coro das horas que iam caindo da torre, já no número das cente-
Por todo o país houve algum alvoroço provocado pela adopção do nas – quatrocentas... quinhentas... – tudo acompanhado de berros
novo sistema de contagem das horas. Um desses episódios pas- pelo relojoeiro – ó Doutrinas, ó Doutrinas!
sou-se em Guimarães, tendo por protagonista o relojoeiro local e “O desgraçado do Doutrinas, que tinha a chave do relógio, tinha ido
como centro das atenções o relógio da torre da Oliveira. Houve um por azar dar um passeio, talvez para a Fonte Santa, e só chegou es-
dia em que o relógio deu mais de 800 horas seguidas… O coronel baforido quando a contagem, entre gritaria e gargalhadas, ia talvez
António de Quadros Flores, em Guimarães, na última quadra do ro- nas oitocentas e tal badaladas, e foi recebido com uma verdadeira
mantismo, 1898-1912, recorda esse episódio, que aqui transcreve- ovação, e correu à torre para pôr fim àquele gasto de tempo.
mos na íntegra, por ser paradigmático em relação ao que se passou “Assim, o Doutrinas nos fez passar, aos daquele tempo, essas 800
noutras localidades: horas, que são 33 dias e tal, no espaço de uma, tempo que vivemos
O memorialista fala do que “[…] sucedeu ao relógio da Oliveira há sem canseiras nem transtornos e na melhor disposição.
coisa de uns quarenta e tal anos na gerência da primeira vereação “Mas esse acontecimento não ficou por aí e a Academia resolveu
republicana, a do sr. Teixeira de Abreu, se não estou enganado”. solenizá-lo.
“Por altura de 1911 houve uma convenção internacional para a “Convidou então um grupo de ‘sábios russos’ que viessem estudar
adopção da hora mundial, de modo que toda a contagem do tempo o fenómeno, e foi esperá-lo à estação
se referisse ao mesmo meridiano e as horas mencionadas desde do C. F. com uma deputação de estu-
Zero a 24, isto para uso oficial. dantes e a restante Academia, que lhes
“Portugal aderiu a essa convenção, meteu-se no ‘fuso’ de 15 graus
Foi uma confusão dos fizeram uma calorosa recepção, e num
diabos e durante um
que lhe competia em relação ao de Greenwich, que era o Zero de brilhante cortejo a pé, que os automó-
certo período ninguém
origem da contagem, adiantou os relógios uns 30 minutos sobre a veis ainda eram raros, atravessou a
se entendia com a
hora solar, e decretou o novo horário. cidade a caminho do Largo da Oliveira.
“hora nova”.
“Foi uma confusão dos diabos e durante um certo período ninguém “Ali montou um óculo de marinha, num
se entendia com a ‘hora nova’; as 14 horas eram as 4; às 7 da tarde, tripé, dirigido para o relógio e, depois
chamavam 17, dando em resultado algumas perdas de comboios de várias observações, o Director da
ou chegarem à estação do C. F. com duas horas de avanço, só por Missão, o ‘sábio dr. Doutrinoff’, que era
não reflectirem em que tinham de acrescentar ou diminuir 12 horas o Aprígio Neves de Castro, proferiu um
às da tarde, e isto para o caminho-de-ferro, que então era o úni- discurso tendo como tema o resultado dos ‘estudos’ efectuados,
co meio de transporte acelerado e com horário já organizado pela elogiando o seu ‘colega’ de Guimarães – o Doutrinas – pela perfei-
nova designação. ção dos maquinismos […].”
“Os relojoeiros apressaram-se a actualizar os mostradores dos re- No dossier sobre Fusos Horários existente no Arquivo Histórico do
lógios inscrevendo numa circunferência interior à das horas habi- Ministério dos Negócios Estrangeiros, já aqui utilizado, (1) há uma
tuais as de 13 a 24, com números a vermelho; até aparecerem com série de documentação relacionada com a medida adoptada) pelo
os 24 seguidos, o que demandava novo maquinismo. Governo português, a informação que prestou sobre isso à comu-
“Ainda há-de haver quem possua desses relógios que dispensavam nidade internacional e o interesse de alguns países sobre o que
aborrecidos cálculos de – 21 menos 12 dá 9 da noite, ou 14 menos 12 mudou em Portugal.
dá 2 da tarde – enfim, uma barafunda que, nestes tempos cronome- Uma carta de Nunes da Mata, de 29 de Abril de 1911, informa so-
trados, sujeitos a horários cumpridos quase rigorosamente, dariam bre a recém-criada comissão para a Hora Legal; a 22 de Maio, a
origem a tantas trapalhadas, que seria necessário um período de embaixada portuguesa em França envia o Jornal Oficial, de 10 de
preparação, que agora se adopta para as inovações, e que naquele Março desse ano, onde se determina que a Hora Legal francesa
tempo, ou não se pôs em prática, ou o foi por espaço reduzido. também é alterada (à meia-noite desse dia, o relógio do Observa-
“A verdade é que no trato comum e familiar continua a dizer-se – 4 tório de Paris, e com ele todos os relógios das repartições públicas
da tarde e 9 da noite – e só oficialmente é que mencionam as ‘horas que davam a Hora oficial, foram atrasados 9 minutos e 24 segun-
novas’ que toda a gente interpreta correctamente, depois de qua- dos); a 14 de Agosto, a New York Public Library agradece o envio
renta e tantos anos de exercício. de um exemplar de “A nova hora e os fusos horários”, o panfleto
“Ora a Câmara de Guimarães desejando ser útil aos seus concida- explicativo da autoria de Nunes da Mata; a 2 de Junho, a legação
dãos neste arreliento problema resolveu pôr o relógio da Oliveira, portuguesa em Londres confirma ter sido informada da mudança
que era então o oficial, a dar as horas pela nova contagem e cha- da hora decretada em Lisboa e envia recortes de imprensa sobre o
mou um relojoeiro para modificar os maquinismos de modo a dar assunto; a 6 de Junho, idêntica situação com a legação junto do Im-
até 24 horas. pério Austro-Hungaro; a 7 de Junho, o representante de Portugal
“Foi um sucesso, principalmente na noite da inauguração e nas que em Roma informa que deu conta ao Governo italiano da alteração
se seguiram durante um certo período, em que havia quem espe- ao regime da Hora Legal que se processará em Portugal a partir de
rasse pelas horas adiantadas da noite para contar 22, 23 e 24 ba- 1 de Janeiro de 1912; a 23 de Junho, o representante português em
daladas. Washington diz que se informou junto do Departamento de Estado
“Mas chegou-se à conclusão de que era muito mais maçador, no e que a reunião de Washington de 1884, tendo debatido “a adop-
meio da noite, estar a contar além das 12 badaladas para se saber ção de princípios gerais para a fixação da hora legal nos diferentes
que hora era das que habitualmente se designavam. países”, isso “não resultou propriamente numa convenção” e que
“A intenção era boa, mas a verdade é que a contagem anterior era a Conferência “separou-se depois de emitir um simples parecer”.
mais simples, principalmente depois do pôr-do-sol. Informa ainda que o Departamento de Estado “teve a grande ama-
“Além de que o maquinismo de vez em quando se desarranjava e bilidade” de ceder “um dos raros exemplares que ainda restam da
para isso havia o ‘Doutrinas’, relojoeiro, com oficina no Largo da publicação que contém os protocolos da Conferência”. Finalmente,
Oliveira, que acudia prontamente para o pôr no seu lugar. informa Lisboa que já deu conta ao Secretário de Estado norte-
“E sucedeu certa noite de verão que as molas do relógio não o -americano das alterações ao regime da hora legal em Portugal.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 95
DE COMO PORTUGAL ADERIU AO FUSO DE GREENWICH

Mapa-mundo desenhado por Nunes da Mata, com os fusos horários e linha da data.

A 26 de Março de 1913, ainda o representante diplomático alemão Legal e determinando: “Ao bater das 12
em Lisboa pergunta sobre a experiência do cômputo das horas de O representante horas da noite de 31 de dezembro cor-
0 a 24 e qual o acolhimento feito pelo público a esta inovação; a diplomático alemão em rente, os relógios dessa Universidade
3 de Maio de 1913, a resposta do Ministério do Interior é “Posto não Lisboa pergunta sobre a devem ser adiantados 36 minutos 44
seja obrigatória a contagem das horas de 1 a 24 esta inovação tem experiência do cômputo segundos e 68 terços, isto é, aproxima-
sido bem acolhida e vai entrando no uso geral da população”; e, a das horas de 0 a 24 e qual damente, 37 minutos. Mas como este
23 de Dezembro de 1913, o representante da Legação dos Estados o acolhimento feito pelo avanço é apenas convencional, devem,
Unidos em Lisboa pergunta ao ministro dos Negócios Estrangeiros público a esta inovação. correspondentemente, os horários ser
se houve quaisquer mudanças no tempo legal usado em Portugal e, atrasados 40 minutos.”
se sim, qual, denotando-se assim alguma falta de coordenação na A 8 de Julho de 1912, Pedro José da
informação fornecida ao exterior. Cunha, director do Observatório Astro-
Quanto ao acervo respeitante à Hora Legal existente no arquivo do nómico da Faculdade de Ciências, e que tinha também feito parte
Noviciado da Cotovia / Colégio dos Nobres / Escola Politécnica / da comissão nomeada para estudar a nova Hora, informa o director
Faculdade de Ciências (2), também já aqui utilizado, de notar a se- desse estabelecimento ter respondido “negativamente à consul-
guinte documentação: ta relativa à próxima conferência de Paris, em que se vai tratar da
A 19 de Dezembro de 1911, A Universidade de Lisboa informa ter transmissão da hora pela telegrafia sem fios, porque, efetivamen-
recebido da Direcção-Geral da Instrução Secundária, Superior e te, os fundos disponíveis do Observatório não permitem mandar
Especial uma circular, informando da mudança do regime da Hora nenhum dos seus membros àquela conferência sem ónus para o

96 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
HORA DE VERÃO E HORA DE INVERNO

Se a adesão ao sistema de fusos horários foi a grande mudança es-
trutural que a República trouxe ao Tempo português, a segunda e
última, que também permaneceria até hoje, foi a introdução do siste-
ma de Horário de Verão e de Inverno.
Em 1914, o novel regime republicano português pugna a todo o custo
(e contra a vontade de Londres, por exemplo) por entrar no conflito
que se iria tornar mundial. Tinha duas razões que considerava boas
para isso – salvaguardar as colónias na nova ordem saída da guerra,
tendo assento à mesa dos hipotéticos vencedores; legitimar um re-
gime com dificuldades em impor-se numa Europa de potências colo-
niais que via Lisboa como um estranho fenómeno de atraso, miséria
e inexplicavelmente rico e inexplorado império colonial.
A 23 de Novembro de 1914 ocorre uma reunião extraordinária do
Congresso, em que, por unanimidade, é aprovada a participação de
Portugal na I Guerra Mundial, ao lado da Inglaterra.
A 9 de Março de 1916, a Alemanha declarou guerra a Portugal, em
consequência da concretização do pedido feito por Inglaterra de re-
quisição de todos os navios mercantes alemães que se haviam refu-
giado em portos portugueses.
Por Decreto de 9 de Junho desse ano, a 17 do mesmo mês foi a Hora
Legal adiantada sobre a que vigorava desde 1 de Janeiro de 1912.
Então, às 23h00 em ponto, todos os relógios do continente da Repú-
Os Ridículos, 13 Março de 1943.
blica foram adiantados de uma hora, ficando assim a indicar 00h00
do dia 18 de Junho. Nesse momento, todos os serviços públicos e
particulares começaram a regular-se pela nova hora. A 15 de Julho,
o regime é extensivo aos Açores e à Madeira. A 1 de Novembro, os
relógios atrasaram 60 minutos e Portugal voltou à Hora de Inverno.
A 30 de Janeiro de 1917 partia para França a primeira brigada do
Estado”. Depois, considera “uma vergonha para o nosso país o não Corpo Expedicionário Português (CEP), sob o comando do coronel
se fazer representar naquela conferência internacional”, sugerindo Gomes da Costa. A 26 de Fevereiro, em resultado da falta de ilu-
que “no Observatório da Tapada encontraria o Governo quem, me- minação imposta pelo Governo como forma de racionar energia,
lhor do que ninguém – tanto pelo que respeita à índole do serviço do a Guarda Nacional Republicana reforçou o policiamento das ruas.
Observatório, como pelo que se refere à autoridade e competência, A 1 de Março, voltava-se ao regime da Hora de Verão.
– poderia desempenhar-se da missão de que se trata com honra e Tal adopção do regime de Hora de Verão ficou a dever-se “às di-
proveito para o nosso país”. ficuldades económicas determinadas pela guerra e à necessida-
A 29 de abril de 1913, tendo-lhe sido pedido parecer sobre o esta- de de harmonizar a hora legal de Portugal metropolitano com a já
tuto da Comission Internationale de l’Heure, elaborado em Paris adoptada noutros países, entre os quais se encontrava a nossa alia-
em outubro de 1912, o Observatório Astronómico da Faculdade de da Inglaterra”, explica Ezequiel Cabrita, num Apêndice aos Dados
Ciências faz notar que as colónias podem aderir como Estados se- Astronómicos do Observatório Astronómico de Lisboa. “De facto,
parados, e defende que Portugal deve aderir, bem como as provín- considerando as dificuldades de importação da hulha no período da
cias de Angola e Moçambique, como associados, especialmente no Primeira Guerra Mundial, a necessidade de reduzir os pagamentos
último caso, por nele haver um observatório astronómico moderno. em ouro ao estrangeiro e que estas circunstâncias forçaram quase
Embora tenha adotado o regime de fusos horários e Greenwich todos os estados da Europa a impor como medida geral de ordem
como meridiano de referência para a sua Hora Legal, Portugal só económica a redução do consumo do gás e da electricidade, foram
em 1920 determina o emprego desse sistema no mar, nas Marinhas impostas restrições ao horário de funcionamento dos serviços de
de Guerra e Mercante. utilidade pública”. n

HÁ 600 ANOS
PORTUGAL MUDA DE ERA
A 22 de Agosto de 1422, há 600 anos, era publicada a lei que
altera em Portugal a era de César (ou de Augusto), para a
era de Cristo (de 1460 passou-se para 1422). Até então, em
Portugal, usava-se a era hispânica, de César ou de Augusto,
que se iniciara em 38 a.C. Foi só no reinado de D. João I, que Na imagem, a Lei de 22 de Agosto de 1422 (Anno Domini), em que D. João I
se instituiu a era cristã, pelo que antes dessa data a todos os ordena que os funcionários régios passem a contar as datas pela Era de
documentos se deve deduzir 38 anos. Cristo, sob pena de perderem os seus cargos públicos.

NOTAS
(1) A rquivo Histórico Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, 3.º Piso, Armário 15, Maço 53-A
(2) AHMCUL, caixas 1910 a 1940
Por decisão pessoal o autor não segue o Novo Acordo Ortográfico.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 97
25 ANOS VIAGENS

98 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
de genebra a tóquio, passando por nova iorque e pelo havai

volta ao mundo
POR FERNANDO CORREIA DE OLIVEIRA

HÁ EXPERIÊNCIAS A QUE O DINHEIRO NÃO ACEDE. E AS QUE O SETOR


RELOJOEIRO NOS PROPORCIONOU ATÉ HOJE SÃO QUASE TODAS ASSIM. UM
PRIVILÉGIO QUE FOMOS LEVANDO AOS NOSSOS LEITORES, ACOMPANHANDO
LANÇAMENTOS DE NOVOS RELÓGIOS, PRIVANDO COM FIGURAS ÍMPARES,
UM POUCO POR TODO O MUNDO. TEMPOS IRREPETÍVEIS.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 99
25 ANOS VIAGENS

Andámos de balão com a A. Lange & Söhne pelos castelos


do vale do Loire (imagens 1 ) e com a Hermès pelos céus
dos arredores de Pequim (imagens 2 ).

100 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
3

Andámos com a Anonimo num dos mais rápidos e luxuosos barcos de recreio
do mundo, os Van Dutch (imagens 3 ), e com a Audemars Piguet no mais rápido
veleiro de sempre, o Hydroptère, tudo ao largo da Côte d’Azur (imagens 4 ).

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 101
25 ANOS VIAGENS

5 5

Ainda com a Anonimo, fizemos uma visita à região


de Florença, onde estivemos com artesãos do
bronze e jantámos num castelo local um risoto
memorável (imagens 5 ).
Estivemos com a Breitling no maior festival aéreo
privado da Europa, onde poisámos de helicóptero
num glaciar, voámos num nostálgico Caravelle
e fizemos loopings e tonneaus dentro de um
caça a jacto, tudo sobre um calmo vale da Suíça 5
5
profunda (imagens 6 ).

102 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
7

7 7

Estivemos ainda com a Audemars Piguet em Versalhes


(imagens 7 ), para inaugurar um jardim botânico e um
jantar de gala, mas também nas suas Écuries, com
a Hermès (imagens 8 ), para assistir a um espetáculo
de Alta Escola, onde os cavalos são todos Lusitanos;
e almoçar com requinte sobre fardos de palha...

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 103
25 ANOS VIAGENS

9 9

10

9 9

10 10

104 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
11

Assistimos na Suíça às mais


grandiosas exposições dos
acervos históricos de grandes
casas, como a Cartier (imagens
9 ) ou a Breguet (imagens

10 ), fomos até Singapura para


 
inaugurar uma dedicada à
Vacheron Constantin (imagens 
11 ) e jantar no Coup d’État, na

altura um dos restaurantes


mais exclusivos do mundo.

10

11

11

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 105
25 ANOS VIAGENS

12 12 12

Estivemos muitas vezes na Place Vendôme, em Paris, centro mundial do luxo, onde comemos o melhor
risoto de sempre, no Ritz, quando fomos ver a manufatura de jóias Van Cleef & Arpels (imagens  12 ); mas
também as tiaras da Chaumet (imagens 13 ) ou a nova boutique da Jaeger-LeCoultre, na companhia de
Júlio Pomar ou Julião Sarmento (imagens 14 ).

13

13

14
13

14 14

14

106
15

16

15

Em Genebra, fomos convidados


para o 15.º aniversário da De
Grisogono, com um espetáculo
de gala da Companha de Bailado
Maurice Béjart, de Lausana
(imagens 15 ). Com a Fondation de
la Haute Horlogerie, estivemos
nos salões por ela organizados em
Pequim, na Cidade Proibida, com
a presença do irmão calígrafo do
último imperador (imagens 16 ),
e em Hong Kong (imagens 17 ).

16 16

17

17

17

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 107
25 ANOS VIAGENS
18

A Frederique Constant
levou-nos a Nova
Iorque (imagens 18 ),
para o lançamento do
seu relógio conectado;
e ao Observatório
Astronómico de Nice
(imagens 19 ), para
vermos um modelo
feminino com o céu
estrelado como
18
mostrador.

19

18

19

19

108 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ESPECIALISTAS NA COMPRA E VENDA
DE ARTIGOS DE LUXO E COLEÇÃO

RELÓGIOS NOVOS
RELÓGIOS USADOS
CANETAS
RELÓGIOS NOVOS
NUMISMÁTICA
RELÓGIOS USADOS
CANETAS
NOTAFILIA ENTRE OUTROS
NUMISMÁTICA
(Agentes oficiais de: Chronoswiss, March La.b, Sevenfriday)
NOTAFILIA ENTRE OUTROS
“Compra e venda de relojoaria de luxo em 2ª Mão. Não venda sem nos consultar!”
(Agentes oficiais de: Chronoswiss, March La.b, Sevenfriday)
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COLECCIONISMO E PAIXÕES, LDA


COLECCIONISMO E PAIXÕES, LDA
Corinthia Lisboa Hotel, Avenida Columbano Bordalo Pinheiro, 105, 1099-031 Lisboa 
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Telm.:
Telm.: 00
00 351
351 93
93 360
360 94
94 56
56 || Telm.:
Telm.: 00
00 351
351 91
91 661
661 29
29 21
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Geral@coleccionismoepaixoes.com || Site:
E-mail: Geral@coleccionismoepaixoes.com
E-mail: www.coleccionismoepaixoes.com 
Site: www.coleccionismoepaixoes.com 
25 ANOS VIAGENS

20

20

A Girard-Perregaux deu-nos a oportunidade de estar


20
em Valência, na America’s Cup (imagens 20 ). Com
a H. Stern, fomos a Paris e estivemos em casa de
Diane von Fürstenberg (imagens 21 ); mas também
fomos ao ballet com a marca, em Maiorca (imagens
22 ). A Hamilton deu-nos a conhecer os bastidores

de Hollywood e dos efeitos especiais (imagens 23 ).

21

21

21 21

110 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
22

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ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 111
25 ANOS VIAGENS

24

24 24

25

25

25

112 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
A IWC proporcionou-nos por várias vezes visitas
a Schaffhausen, um dos mais belos sítios
da Suíça alemã (imagens 24 ). Mas também
estivemos com ela no Festival de Goodwood,
Inglaterra, onde voámos num Spitfire dos
tempos da II Guerra Mundial e disparámos
com espingardas Purdey (imagens 25 ); ou em
Florença, onde fizemos um périplo pelo circuito
dedicado a Leonardo da Vinci, com visita privada
à Galeria dos Retratos dos Uffizi e aulas de
desenho (imagens 26 ).

26

26

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ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 113
25 ANOS

27

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114 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
29 29

A Jaeger-LeCoultre levou-
-nos ao Festival de Cinema de
Veneza (imagens 27 ). E fizemos
inesquecíveis viagens à Índia 29
(imagens 28 ), a Miami (imagens 29 )
ou ao Havai (imagens 30 ). Jogámos
polo com o marajá do Rajastão,
vimos das cavalariças mais valiosas
do mundo, assistimos ao mergulho
de um robot com um relógio, a
grandes profundidades.

29

30

30

30

30

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 115
25 ANOS VIAGENS

Com a Longines,
estivemos no Roland
Garros e Rafael Nadal,
em Paris (imagens 31 ). 31
Ou em Las Vegas, com
Andre Agassi e Ricky
Martin (imagens 32 ). Mas
também em Grandes
Prémios de Equitação,
em Barcelona ou
Paris, com Paulo Pires
(imagens 33 ).

31 31

32

32

32 32

33

33

33 33

116 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
25 ANOS VIAGENS

34

A Montblanc levou-nos à
África do Sul (imagens 34 ),
ao Wyoming (imagens 35 ),
a Miami (imagens 36 ), a
Santa Mónica (imagens 37 ).
Nessas viagens, andámos
34
de comboio na propriedade
privada de Johann
Peter Rupert, búfalos
atravessaram a estrada
onde íamos, estivemos no
fim da Route 66.
34

35

35

35

35

118 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
36

36 36

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ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 119
25 ANOS VIAGENS

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38

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39

39 39

40

40 40 40

120 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Port Mahon e a sua regata
de veleiros clássicos
(imagens 38 ); a Ferrari e
o seu mundo, em Mugello
e Maranello (imagens 39 );
Galileu Galilei exposto
no Museu Nobel, em
Estocolmo, e o Jupiterium
feito em sua honra
(imagens 40 ); conviver com
o explorador Mike Horn
no porto de Barcelona 41
(imagens 41 ); visitar
o Museu de Ciência de
Florença (imagens  42 ).
Tudo isso nos foi
proporcionado pela
Officine Panerai.

41 41

42 42

42

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 121
25 ANOS VIAGENS
Estivemos com Nicole
Kidman, em Pequim
(imagens 43 ) e Viena
(imagens 44 ). E visitámos
43 a paradisíaca Capri
(imagens 45 ). Sem a
Omega, tal não seria
possível.
A Patek Philippe
proporcionou-nos cursos
especializados em Madrid
(imagens 46 ); e estivemos
com a manufatura em
históricas exposições
em Munique (imagens 47 )
e Londres (imagens 48 ).
43

44

44
44

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45

45 45

122 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
46

46 46

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47 47

48 48

48

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 123
25 ANOS VIAGENS
49

No coração da indústria relojoeira francesa,


o Franche-Comté, visitámos os seus vários
museus de relojoaria, convivemos com
Émile Pequignet, o fundador da marca
com o seu nome (imagens 49 ).
Veneza e o seu relógio da Praça de São
Marcos (imagens 50 ); ou a Islândia com os
seus fiordes, desertos de magma vulcânico,
glaciares e géiseres (imagens 51 ). Dois
mundos distantes e distintos, onde andámos,
com a Piaget.

49 49

50

50

50 50

51 51

51

124 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
52

52
52

Na Áustria, estivemos por duas vezes no mundo de Ferdinand


Porsche, visitámos o seu lendário estúdio, onde nasceu o
52
Porsche 911. Mas também relógios (imagens 52 ).
Na Suíça profunda, a Rado abriu-se para uma rara visita de um
jornalista. E, na mesma altura, a ainda mais fechada Comadur,
também nos foi acessível (imagens 53 ).

53

53 53 53

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 125
25 ANOS VIAGENS

Acompanhámos a família Raymond Weil


em momentos especiais da marca. Em Xangai
(imagens 54 ) e Istambul (imagens 55 ).

54

54

54
54

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55

55

126 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
56

56
No circuito de Ascari, na
56 56
serra de Ronda, estivemos
com Felipe Massa, ainda ele
era um quase desconhecido
(imagens 56 ); Chantilly e o
seu castelo, cenário da maior
concentração europeia de
carros clássicos (imagens 57 ).
Fomos em ambos os casos
convidados da Richard Mille.

55

57

57

57

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 127
25 ANOS VIAGENS
58

58

58 58

A Seiko levou-nos uma vez a Paris, onde tivemos uma visita


privada ao Musée d’Orsay (imagens 58 ). E deu-nos a oportunidade
de visitar a sua sede, no Japão, onde andámos nus nas termas
locais ou comemos no melhor restaurante de tempura de Tóquio
(imagens 59 ).

59 59 59

59

128 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
25 ANOS VIAGENS

60
60 60

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61 61

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130 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Veneza e a sua bienal (imagens 60 );
o Lago Constança e personagens
da saga James Bond (imagens 61 );
Lugano e os Blue Man Group
(imagens 62 ); Londres e a
criatividade de Cassette Playa,
Enki Bilal, Ivan Navarro e Manish
Arora (imagens 63 ); Paris, Jeremy
Scott e a Colette (imagens 64 );
Bürgenstock e o seu gigantesco 64
complexo hoteleiro (imagens 65 ); 64
todo um périplo, com a Swatch.
Que nos levou ainda aos Jogos
Olímpicos de Atenas (imagens 66 ).

64

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65

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66

66

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ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 131
25 ANOS VIAGENS

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67

67

67

68 68

O mundo da Mercedes AMG e da McLaren foi-nos apresentado


no Norte de Londres pela TAG-Heuer (imagens 67 ). Além de
Singapura, a Vacheron Constantin levou-nos numa viagem de
trekking, inesquecível, pela costa da Islândia (imagens 68 ); e
fez-nos voar de helicóptero e atravessar o estreito de Gibraltar,
para a inauguração do Teatro de Ceuta, onde falámos com o
68 seu autor, Siza Vieira (imagens 69 ).

69

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69

132 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
O Carnaval de Veneza (imagens 70 ) ou o
sofisticado ambiente do Mónaco (imagens 71 )
estiveram à nossa disposição, a convite da
Zenith. Mas também uma ida a Paris, onde
convivemos com Felix Baumgartner, o ser
humano que, semanas depois iria subir mais
alto que algum ser humano alguma vez o fez,
para… descer em queda livre e abrir o para-
quedas só no último momento (imagens 72 ).
Sobreviveu!

Não contabilizamos aqui as dezenas de


viagens às sedes das marcas, sobretudo
na Suíça. Ou as dezenas de cursos
especializados que frequentámos. Só
podemos estar gratos pelas experiências
proporcionadas. Tempus fugit!
70

70

71 71

71

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72 72

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 133
ESPECIAL AUTOMÓVEL

ESPECIAL
AUTOMÓVEL
1 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ESPECIAL AUTOMÓVEL

PARCERIA

ALPINE, TRADIÇÃO E INOVAÇÃO

A Alpine existe desde 1955 e o


seu percurso é uma história de
paixão. A competição está nos
seus genes e as vitórias consti-
tuem um palmarés único.

F
undada em 1955 por Jean
Rédélé, jovem apaixonado
do desporto automóvel,
ganha o seu nome à região prefe-
rida do francês, os Alpes.
O primeiro modelo Alpine sur-
ge em 1962 – o A110. Na época,
a Alpine e a Renault colaboram
estreitamente, pois os carros
desportivos são vendidos nos
concessionários desta última. No
início dos anos 1970, a Alpine faz
parte da elite dos ralis, chegando
a monopolizar o pódio do céle-
bre Rali de Monte Carlo. Em 1973,
é o primeiro construtor a sagrar-
-se Campeão do Mundo de Ralis.
Mas os Alpine também dão nas
vistas em provas de resistência,
como as 24 Horas de Le Mans.
E, em 2001, a marca chega à Fór-
mula 1. Sempre em colaboração,
e depois integração, no Departa-
mento Desportivo da Renault.
Parceiro especial da 25ª edição
do Anuário Relógios & Canetas,
a Alpine declara-se por um futuro
totalmente elétrico.
ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ESPECIAL AUTOMÓVEL

INQUÉRITO

CARLOS BARBOSA – ENTRE


OS CARROS E OS RELÓGIOS…

FOTOS: RAMON DE MELO

210 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Figura pública ligada desde há
décadas ao mundo automóvel e
ao desporto motorizado, Carlos
Barbosa é também um conheci-
do amante de relógios. O pre-
sidente do Automóvel Clube de
Portugal responde ao inquérito
do Anuário.

Anuário Relógios & Canetas –


Quando começou a gostar de
relógios?
Comecei a gostar de relógios
desde que me conheço. O pri-
meiro que tive foi-me oferecido
pelo meu pai quando passei o
exame da 4ª classe. Um Cauny.

Ao fazer a sua coleção, teve al-


gum tipo de critério? gios vintage? Tem comprado?
Apenas o gosto, de início, e mais As mulheres têm as jóias e os
tarde as complicações. homens os relógios. Os vintage
têm cada vez mais valor, pois
Uma vida com
Qual a complicação que mais além de haver modelos raros, o passagem pela
aprecia num relógio – cronógra-
fo, calendário, alarme…?
colecionismo está a crescer cada
vez mais, pois o dinheiro não vale
imprensa
O turbilhão. É a excelência de um nada, e ter peças com valor asse- Carlos Barbosa entrou no
relógio. guram o bom investimento que é mundo da imprensa em 1968,
aplicar em relógios. quando foi comercial no Diário
Qual o relógio que mais usa e de Lisboa. Passou por A Luta
qual o que tem maior valor senti- antes de ser um dos fundadores
E as aquisições têm sido on
e administrador do Correio da
mental para si? ou offline?
Manhã, em 1979. Seguiram-se,
Uso todos os relógios que tenho As aquisições são sempre pre- como administrador, o Êxito,
e normalmente mudo de dois em senciais. Para sentir no pulso, Semanário, Independente, Kapa,
dois dias. Claro que para oca- para ver bem o mecanismo, ta- Marie Claire e Auto Sport.
siões especiais também mudo. manho, etc. Na rádio, foi administrador da
Rádio Comercial, Rádio Nostal-
A relação entre carros e relógios O que pensa dos smart watches? gia e Rádio Surpresa. Teve car-
– como personalidade do mun- Usa? gos de direção na Associação
do automóvel, o que lhe ocorre Os smart watches são uma reali- de Imprensa Diária e em organi-
dizer? dade e que dão muito jeito para zações de media internacionais.
Os relógios têm uma relação reuniões. São muito bem conce- Pertenceu à Administração da
muito íntima com a competição Portugal Telecom.
bidos e cada vez melhores.
Desde 2004 que é presidente
automóvel, pois os pilotos e os
do Automóvel Clube de Portu-
carros correm atrás do milésimo Fale-nos da sua relação com gal. Preside à Prevenção Rodo-
de segundo. É uma corrida con- o Tempo. viária Portuguesa e às Direcções
tra o tempo. Estão numa relação A minha relação com o tempo é da Autoridade Nacional para o
permanente. muito simples. Estou sempre a Desporto Motorizado e da Fede-
horas, seja com quem for e não ração Internacional do Desporto
Tem acompanhado o recente fe- espero mais de dez minutos, Automóvel (FIA). É deputado à
nómeno de valorização de reló- mesmo nos médicos... n Assembleia Municipal de Lisboa.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 211
ESPECIAL AUTOMÓVEL

RICHARD MILLE
VENCE NAS
24 HORAS
DE LE MANS
Le Mans é a corrida de resistência mais
icónica do mundo. A 89.ª edição foi fa-
vorável para a imagem da marca de alta-
relojoaria suíça.
A equipa AF Corse (Ferrari), parceira da
Richard Mille, conseguiu uma dupla vitó-
ria nas duas categorias GTE – o Ferrari
GTE Evo #51 venceu na categoria GTE-
-Pro; e o Ferrari GTE Evo #83 venceu na
categoria GTE-Am.
Embaixador da Richard Mille, o piloto
Sébastien Buemi, foi segundo na classifi-
cação geral, ao volante do Hypercar #8.

EVOCANDO LE MANS
O RM 029 AUTOMATIC LE MANS CLASSIC,
LIMITADO A 150 EXEMPLARES. CALIBRE
AUTOMÁTICO, ESQUELETIZADO, COM
GRANDE DATA E MOSTRADOR DE 24 HORAS.
TEM DUPLO TAMBOR DE CORDA, ROTOR
DE GEOMETRIA VARIÁVEL E 55 HORAS DE
AUTONOMIA. CAIXA DE 40.10 X 48.15 X 13.10
MM, DE QUARTZ TPT® VERDE E BRANCO.
212 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
FRANCK MULLER
FAZ TRIBUTO A BILL
AUBERLEN

O VANGUARD™ RACING
SKELETON BILL AUBER-
LEN EVOCA O PILOTO
MAIS PREMIADO DE
SEMPRE NA HISTÓRIA
DO DESPORTO MOTO-
RIZADO DA AMÉRICA
DO NORTE (OBTEVE ATÉ
HOJE 63 VITÓRIAS). CAIXA
DE 44 X 53.7 X 12.7 MM,
DE OURO ROSA, CARBO-
NO OU TITÂNIO. CALIBRE
AUTOMÁTICO, COM DATA,
ESQUELETIZADO.

ROGER DUBUIS EM PARCERIA


COM A LAMBORGHINI
O EXCALIBUR SPIDER
COUNTACH DT/X É A
MAIS RECENTE CRIAÇÃO
SAÍDA DA ASSOCIAÇÃO
ROGER DUBUIS X
LAMBORGHINI SQUADRA
CORSE. LIMITADO A 8
EXEMPLARES, TEM O
SELO DE QUALIDADE
POINÇON DE GENÈVE.
CALIBRE DE CARGA
MANUAL, COM 72 HORAS
DE AUTONOMIA. DUPLO
TURBILHÃO VOADOR,
INCLINADO A 90 GRAUS.
CAIXA DE 47 MM, DE MCF
- MINERAL COMPOSITE
FIBER. VIDRO DE SAFIRA
NA FRENTE E NO VERSO.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 213
ESPECIAL AUTOMÓVEL

FREDERIQUE
CONSTANT E O
AUSTIN-HEALEY
HÁ MAIS DE 15 ANOS, OS FÃS DE MECÂNICA
DE PRECISÃO CELEBRAM O REENCONTRO
DO AUTOMÓVEL E DA RELOJOARIA COM
A SÉRIE LIMITADA VINTAGE RALLY,
DESENHADA PELA FREDERIQUE
CONSTANT EM HOMENAGEM AO LENDÁRIO
AUSTIN-HEALEY. TRÊS NOVOS MODELOS
ENRIQUECEM AGORA ESTA TRADIÇÃO COM
VERSÕES RETRO E ELEGANTES. LIMITADOS
A 888 EXEMPLARES DE CADA VERSÃO.
CALIBRE AUTOMÁTICO, COM DATA. CAIXA
DE 40 MM, DE AÇO OU AÇO PLAQUEADO
DE OURO ROSA. NO VERSO, A GRAVAÇÃO
DE UM AUSTIN-HEALEY EM TODA A SUA
GLÓRIA, O FAMOSO HEALEY COM PLACA
100S NOJ393 COMPRADO EM 1969 POR
UM COLECIONADOR POR 155 LIBRAS E
VENDIDO POR QUASE UM MILHÃO DE
EUROS EM DEZEMBRO DE 2011. CADA PEÇA
É ENTREGUE NUMA CAIXA QUE INCLUI UMA
RÉPLICA EM MINIATURA DO NOJ393.

214 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
A CHOPARD E AS MILLE MIGLIA
DESDE QUE FOI REINICIADA EM 1977, A CORRIDA
1000 MIGLIA TEM REUNIDO CLÁSSICOS AO LONGO
DO PERCURSO DE 1600 KM DE ESTRADAS DE MON-
TANHA, ENTRE SAN MARINO, ROMA, SIENA E FLO-
RENÇA. DESDE 1988 QUE A CHOPARD É PARCEIRO
E CRONOMETRISTA OFICIAL DO EVENTO, PRODU-
ZINDO A CADA ANO UM NOVO MODELO ALUSIVO.
O MILLE MIGLIA 2021 RACE EDITION É UM CRONÓ-
GRAFO AUTOMÁTICO, COM DATA, CRONÓMETRO
CERTIFICADO COSC. TEM CAIXA DE 44 MM, DE AÇO
(LIMITADO A MIL EXEMPLARES) OU AÇO E OURO
ROSA (LIMITADO A 250 EXEMPLARES).

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 215
ESPECIAL AUTOMÓVEL

BREITLING
E TRIUMPH,
DUO DINÂMICO
A MARCA RELOJOEIRA SUÍÇA BREI-
TLING E O FABRICANTE BRITÂNICO
DE MOTOS TRIUMPH ANUNCIARAM
UMA PARCERIA DE LONGO PRAZO,
CUJO PRODUTO INICIAL SERÁ UMA
EDIÇÃO LIMITADA DE UM RELÓGIO E
UMA MOTO PERSONALIZADA, A LAN-
ÇAR NO INÍCIO DE 2022. PARA JÁ,
AS MOTOS TRIUMPH THRUXTON RS
ESTÃO PRESENTES NAS BOUTIQUES
BREITLING DE TODO O MUNDO.

216 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
BREITLING PRESTA
HOMENAGEM
AOS CLÁSSICOS
DOS ANOS 60
TOP TIME CLASSIC
CARS CAPSULE COL-
LECTION. PRESTA HO-
MENAGEM A CLÁSSICOS
DESPORTIVOS DA DÉCA-
DA DE 1960 – CHEVRO-
LET CORVETTE, FORD
MUSTANG E SHELBY
COBRA. CRONÓGRAFOS
AUTOMÁTICOS. CRONÓ-
METROS CERTIFICADOS
COSC. CAIXA DE 42 MM,
DE AÇO, ESTANQUE ATÉ
100 METROS.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 217
ESPECIAL AUTOMÓVEL

MASERATI
A COLEÇÃO EPOCA TEM CAIXA
DE 42 MM, DE AÇO OU AÇO PLA-
QUEADO. CALIBRE AUTOMÁTI-
CO, COM ÓRGÃO REGULADOR À
VISTA E MOSTRADOR DE 24 HO-
RAS. OU CALIBRES DE QUART-
ZO, VERSÕES TRÊS PONTEIROS,
COM DATA, OU CRONÓGRAFO.

RESERVOIR
INSPIRA-SE
EM PORSCHE
A COLEÇÃO KANISTER INSPIRA-
-SE NO LENDÁRIO PORSCHE 356
SPEEDSTER E NO SEU VELOCÍME-
TRO. TEM CAIXA DE 41,5 MM, DE
TITÂNIO. CALIBRE AUTOMÁTICO,
COM MINUTOS RETRÓGRADOS,
HORAS SALTANTES E INDICADOR
DE RESERVA DE CORDA.

218 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
GIRARD-PERREGAUX
COM EDIÇÃO
ASTON MARTIN
O LAUREATO CHRONOGRAPH
ASTON MARTIN EDITION TEM NO
MOSTRADOR O VERDE CARATE-
RÍSTICO DA MARCA AUTOMÓVEL.
É LIMITADO A 188 EXEMPLARES.
CAIXA DE 42 MM, DE AÇO, ES-
TANQUE ATÉ 100 METROS. VIDRO
DE SAFIRA NA FRENTE E NO
VERSO. CRONÓGRAFO AUTOMÁ-
TICO, COM DATA.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 219
ESPECIAL AUTOMÓVEL

IWC REGRESSOU
A GOODWOOD
A IWC SCHAFFHAUSEN E A SUA
EQUIPA DE COMPETIÇÃO, A IWC
RACING, REGRESSARAM AO CIR-
CUITO INGLÊS DE GOODWOOD. AO
VOLANTE DE UM MERCEDES-BENZ
300 SL “GULLWING”, A PILOTO AUS-
TRÍACA LAURA KRAIHAMER CORREU
NO STIRLING MOSS TROPHY. NO
EVENTO, A IWC E A HOT WHEELS™
LANÇARAM A COLEÇÃO “IWC X HOT
WHEELS™ RACING WORKS”. LIMI-
TADO A 50 EXEMPLARES, O AVIADOR
CRONÓGRAFO AUTOMÁTICO, COM
DATA E DIA DA SEMANA, TEM CAIXA
DE 43 MM, DE TITÂNIO.

220 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ESPECIAL AUTOMÓVEL

CONCENTRAÇÃO DE CLÁSSICOS

NA GOLEGÃ, COM OS MG
FOTOS: PEDRO QUEIMADO

Um dos mais desportivos


e populares carros dos anos 40
a 70, o MG, marcou presença
num encontro na Golegã.

N
o âmbito do 40º aniversá-
rio do MG Clube de Portu-
gal (MGCP), esta entidade
organizou no final de outubro a
sua 172.ª concentração e o Anuá-
rio Relógios & Canetas esteve lá.
Um evento que teve a colabora-
ção das câmaras de Entronca-
mento, Torres Novas e Golegã e
que juntou mais de 30 associados
e 60 participantes. O programa
incluiu visitas ao Museu Nacional
Ferroviário, aos Municipais Carlos
Reis, Equuspolis / Mestre Martins
Correia, Máquina de Escrever e
à Casa-Estúdio Carlos Relvas.
Na visita à Quinta da Broa, num
dia de semana, para se perceber
o que é a rotina de um dia de

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 221
ESPECIAL AUTOMÓVEL

trabalho, assistiu-se ao ensino


e aperfeiçoamento dos Cavalos
Veiga, os puros-sangues Lusita-
nos de uma coudelaria com 200
anos de história. Na Quinta de
Santo António, sábado, foi um
Dia MG, em exclusivo. Excelen-
temente enquadrados no pátio
de entrada da casa senhorial
desta quinta, que tem origens no
séc. XVII, as viaturas MG aguar-
daram que os seus donos fossem
conhecer o designado MG Es-
pecial ou MG Canelas MG que é
um exemplo de engenharia que
concilia qualidade, segurança e
elegância. Foi idealizado e cons-
truído pelo eng.º mecânico com
especialidade em aeronáutica
José Jorge Canelas, a partir de
um MG TC. Ficou para a história

CERCA DE 30 CLÁSSICOS MG REUNIDOS


NO RIBATEJO, PARA CELEBRAR 40 ANOS
DO CLUBE DEDICADO À MARCA.

222 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
do automobilismo como um dos
poucos carros de competição de-
senvolvidos em Portugal. Houve
ainda a oportunidade de conhe-
cer a história e particularidades
de alguns carros de cavalos,
presentes no Museu dos Sócios
da Associação Portuguesa de
Atrelagem (APA), de acordo com
as explicações do Eng.º Castro
Canelas. O MGCP foi o primeiro
clube de marca a surgir em Por-
tugal e tem por objeto promover
o prestígio da marca MG, congre-
gar os proprietários destes veícu-
los e, de um modo geral, contri-
buir para a sua preservação. n

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 223
ESPECIAL AUTOMÓVEL

NA QUINTA DE SANTO ANTÓNIO, OPORTUNIDADE


DE CONHECER A HISTÓRIA E PARTICULARIDADES
DE ALGUNS CARROS DE CAVALOS, DE ACORDO
COM AS EXPLICAÇÕES DO ENG.º CASTRO CANELAS.

Canelas MG
Este protótipo, o chamado “Canelas MG”, foi um dos carros mais interes-
santes produzidos em Portugal. Construído por José Jorge Canelas, entre
1952 e 1954, com uma tecnologia avançadíssima, foi referenciado interna-
cionalmente. Do MG TC original manteve a caixa de velocidades e um motor
muito modificado que lhe potenciou as velocidades e tempos. O chassis de
cromo-molibdénio e a bonita carroceria de alumínio foram por si projetados
e construídos. Com este exemplar, obteve ótimos resultados em compe-
tição. Foi um marco da sua época, antecipando o futuro Ferrari 250TR de
1956, que nas suas linhas é muito parecido com o Canelas MG.

224 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
RELOJOARIA
A aZ de

O Universo
do Tempo
Fernando Correia de Oliveira
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

ADJ. – Abreviatura de adjustment, pala- ALMANAQUE – Segundo se julga,


vra inglesa que significa “acerto”, “cor- Abraão Zacuto (1452-1515), astrónomo
recção”, “afinação”. Está muitas vezes judeu, foi o responsável pela introdução
presente na raquete. em Portugal do primeiro almanaque. In-

A
ventor de tabelas astronómicas usadas
AFINAÇÃO – Em relojoaria, a afina- pelos navegadores, escreveu também em
ção dos relógios portáteis compreende hebraico um tratado de astronomia, Em
a regulação do conjunto balanço-espiral 1496 era publicada em Leiria a primeira
e observação do comportamento do re- edição do famoso Almanach Perpetuum.
lógio no seu todo em várias posições e Nascido em Espanha, Zacuto foi um dos
temperaturas. muitos judeus que se viram obrigados a
fugir, depois da expulsão decretada em
ABERTURA – O mesmo que janela. Pe- AFIXAÇÃO – O mesmo que indicação. 1492 pelos Reis Católicos, e que conse-
queno orifício no mostrador de um relógio, Fala-se da afixação digital ou analógica guiram asilo temporário em Portugal.
onde aparece a indicação de dia, data, das horas, por exemplo. Poucos anos depois, também a corte de
hora, etc. Em francês, montre à guichet. Lisboa decretaria a expulsão maciça dos
AIGUILLAGE – Termo francês que indica judeus. “Calendário”, “diário”, “borda de
ABRE-CAIXAS – Ferramenta em forma a operação de colocação dos ponteiros água”, “repertório”, “prognóstico”, “luná-
de faca para abrir as caixas dos relógios. num relógio. Uma aiguillage correcta rio”, “sarrabal”, “efemérides”, “agenda”,
pressupõe que os ponteiros não devem “folhinha”, “guia”, “tesouro”, “perfeito
ACABAMENTO – Hoje em dia, a maior roçar entre si nem com o mostrador ou lavrador”, “tratado” ou “dissertação” são
parte dos acabamentos nas peças de um o vidro. alguns dos nomes usados para identificar
relógio, desde a caixa ao movimento, aquilo que usualmente classificamos de
passando pelo mostrador, são feitos à AIHH – Association Interprofissionelle almanaques.
máquina. Mas, em alta-relojoaria, as de- de la Haute Horlogerie, Associação In- Um almanaque é um guia, um ins-
corações e acabamentos continuam a ser terprofissional de Alta Relojoaria, orga- trumento onde se encontram elementos
feitos à mão. nismo fundado em 1992, em Genebra, e para a organização do quotidiano. Em
extinto em 2005. Agregou algumas das primeiro lugar, organiza o tempo, tendo
ACELERAÇÃO – Aumento da velocidade marcas de luxo mais conhecidas, bem por base um calendário anual. Organi-
por unidade de tempo. A aceleração da como importadores e pontos de venda za as actividades, arrumando saberes e
gravidade varia segundo a altitude e a lati- dos mais exclusivos, num total de cerca indicações úteis para essas actividades.
tude. A gravidade influencia directamente de 200 membros. Tinha por objectivo for- Organiza a colectividade registando
o comportamento de um mecanismo de mar o retalho, educar o consumidor final uma moral e uma cultura proverbiais.
relojoaria. e proteger a tradição da alta-relojoaria, Organiza o espaço fornecendo uma ima-
onde os membros da AIHH chegaram gem clara do universo, tradicionalmente
ACUMULADOR – O mesmo que con- a representar cerca de 40 por cento do assente na astrologia. Sem perder um
tador ou totalizador. Os cronógrafos têm volume de negócios mundial em relógios sentido original de contagem, a noção
sistemas de amostragem de acumulação de gama alta e de prestígio. O seu papel é de almanaque tenderá a reflectir a ideia
dos tempos medidos. Há mostradores de agora desempenhado pela Fondation de de compilação de saberes, em particular
acumulação de minutos, de horas. la Haute Horlogerie (FHH). destinados a públicos com pouco acesso
a outras leituras.
ADIANTAMENTO – Em relojoaria, ALARME – Sinal sonoro. Em relojoaria, Entre os científicos ou eruditos, o
um número (precedido geralmente pelo a função de alarme pode estar associada Almanaque de Lisboa, publicado pela
sinal +) de minutos e segundos que um a contagens crescentes ou decrescentes Academia das Ciências entre 1782 e
relógio indica, diária ou mensalmente, a de tempo. 1823 inclui, para além das observações
mais sobre a hora exacta. astronómicas, dos calendários e das

226 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
cronologias, registo dos dias de audiên-
cia, os assuntos a discutir nas sessões
da Academia e listas de membros de
várias instituições e profissões. Em 1917
o Observatório Astronómico da Ajuda
inicia a publicação, até hoje ininterrupta,
de Dados Astronómicos para Almana-
ques. Dos mais perenes e populares, o
Almanaque Bertrand publicou-se entre
1899 e 1970. Desses, o mais antigo é o
Verdadeiro Almanaque Borda d’Água,
iniciado em 1930. Eça de Queiroz, or-
ganizador do Almanaque Enciclopédi-
co de 1896 e 1897, diz no prefácio do
primeiro que este tipo de obra deve ser
“o livro disciplinar que coloca os mar-
cos, traça as linhas, dentro das quais
circula, com ordem, toda a nossa vida
social”. Depois, acrescenta: “Se os livros
todos desaparecessem, bruscamente, e
com eles todas as noções, e só restasse,
da vasta aniquilação, um Almanaque
isolado, a Civilização guiada pelas in-
dicações genéricas, sobre a Religião, o
Estado, a Lavoura, poderia continuar,
sem esplendor, sem requinte, mas com
fartura e com ordem. Por isso os homens
se apressaram a arquivar essas verdades
de Almanaque – antes mesmo de fixar
em livros duráveis as suas Leis, os seus
Ritos, os seus Anais. Antes de ter um
Código, uma Cartilha, uma História, a
cidade antiga teve um Almanaque”.

ALTERNÂNCIA – O tempo que leva um


pêndulo ou outro órgão oscilatório como o
balanço entre duas posições extremas con-
secutivas. Se um pêndulo bate ao segun-
do, efectua uma alternância por segundo.
O balanço de um relógio costuma fazer
5 alternâncias por segundo, ou seja, 18 mil
por hora. Uma oscilação consta de duas
alternâncias, é o tic-tac. Geralmente, até
mesmo os relojoeiros confundem os dois
termos, empregando “oscilação” quan-
do querem dizer “alternâncias”. Quanto

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 227
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

maior for a alternância de um relógio,


mais exacto ele se torna. Mas há limites,
especialmente pelo desgaste provocado às
peças móveis como o balanço, a espiral
e o escape. Os relógios despertadores
têm geralmente mecanismos com 12.000
alternâncias por hora, os cronómetros
de marinha 14.400, um relógio de bolso
patente Roskopf 17.280, um relógio de
bolso normal até 19.800, os relógios de
pulso 21.600 e os cronógrafos, 36.000. De
notar ainda que o número de oscilações
por segundo medido em hertz constitui a
frequência. A 21.600 Alternâncias/Hora
correspondem 3Hz, a 28.800 A/H corres-
pondem 4 Hz e a 36.000 A/H (o máximo
geralmente usado) correspondem 5 Hz.

ALTÍMETRO – Instrumento para medir


a altitude. Há relógios de pulso com essa
função.

ALTITUDE – Altura de um ponto em re-


lação ao nível do mar. A densidade do
ar e a gravidade diminuem com a altitu-
de. A variação da densidade do ar influi
no movimento do pêndulo e do balanço.
A variação da gravidade em função da
altitude modifica o período do pêndulo.
Uma diminuição de altitude de 500 metros
provoca um atraso diário de 0,8 segundos
num relógio de bolso.

AMORTECEDOR – Suporte ou dis-


positivo elástico que tem por objectivo
amortecer os golpes e choques recebidos
pelos pivots do eixo no balanço de um
relógio. Praticamente todos os relógios de
pulso mecânicos modernos têm sistemas
antichoque, sendo o mais conhecido o
Incabloc.

AMORTECIMENTO – Diminuição pro-


gressiva que pode levar à paragem total de
um movimento, como o das oscilações de
um pêndulo ou de um balanço. O amor-

228 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
tecimento é devido em grande parte à virar a ampulheta de bordo de meia em conselho se fazia / No fundo aquoso, a
fricção entre as peças e à resistência do ar. meia hora, logo que o último grão de areia leda, lassa frota / Com vento sossegado
tivesse caído, anunciando ao mesmo tem- prosseguia, / Pelo tranquilo mar, a longa
AMPLITUDE – Ângulo máximo feito por po, em voz alta, o número de vezes que o rota. / Era no tempo quando a luz do dia
um pêndulo ou um balanço, a partir do instrumento tinha sido virado. Esta era a Do Eoo Hemispério está remota; / Os do
ponto morto ou de repouso. Segundo o única maneira de determinar as mudanças quarto da prima se deitavam, / Pera o se-
grau de tensão a que estão submetidos, de quarto ou de achar, de forma muito gundo os outros despertavam.”
os balanços têm amplitudes de 180º a errática, a longitude a que se encontrava A ampulheta de areia, símbolo do es-
315º, correndo a partir de então o risco o navio. De facto, as ampulhetas, suces- coar eterno do Tempo, é o ícone usado
de “rebater”. sivamente viradas, iam acumulando er- em muitos sistemas informáticos para
ros grosseiros, não evitando desastres em significar “espera”. O padre António Viei-
AMPULHETA – O mesmo que relógio de vidas e bens, pois capitães que julgavam ra, no seu Sermão de Santo António aos
areia. É um instrumento de medição do estar a muitas milhas de um determinado Peixes, fala de um peixe que viu num rio
tempo de invenção relativamente recente. ponto da costa, embatiam inesperada- do Brasil, com quatro olhos, e que “ […]
A primeira ilustração conhecida é um mente em baixios ou rochas de longitude aqueles quatro olhos estão lançados um
fresco italiano datado de 1337 ou 1339, que muito diferente. Camões, no Canto VI pouco fora do lugar ordinário, e cada par
se encontra no Palazzo Pubblico em Siena. de Os Lusíadas, afirma: “Enquanto este deles, unidos como os dois vidros de um
Mostra-nos dois balões de vidro, em cima
um do outro, unidos pelos gargalos. Um
diafragma com um pequeno furo, no meio,
limitava o fluxo dos grãos de areia que iam
passando de um balão para o outro. Uma
ampulheta é muito mais exacta do que
uma clepsidra, embora pareçam basear-se
nos mesmos princípios. Se a forma cónica
dos balões for a mesma que o ângulo de
repouso de um monte de areia, o ritmo a
que a areia se escoa não depende da sua
altura. Além disso, as ampulhetas de boa
qualidade, mesmo as feitas há séculos, não
eram cheias de areia mas de fino pó de
casca de ovo, que corre com mais precisão.
As ampulhetas foram os primeiros reló-
gios de uma era industrial em nascimento,
das primeiras fábricas. Uma ilustração no
Das Feuerwerkpuch, um tratado alemão
sobre a manufactura de fogo-de-artifício,
publicado em 1450, mostra uma fase de
produção numa fábrica de foguetes a ser
cronometrada por uma ampulheta. Os reló-
gios de areia eram também muito comuns
no mar, porque, se suspensos, continua-
vam a trabalhar razoavelmente bem num
barco, mesmo em águas agitadas. Aos
moços de bordo, na Era das Descobertas,
competia a importantíssima missão de

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 229
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

relógio de areia, em tal forma que os da ÂNCORA – Peça do escape cuja forma
parte superior olham direitamente para recorda uma âncora de um barco. Tem
cima, e os da parte inferior direitamente nas pontas as “paletes”, feitas de rubis.
para baixo […]”. Fernando Pessoa/Ri- Ao longo da história da relojoaria foram
cardo Reis afirma num dos seus poemas: sendo inventados diversos tipos de âncora,
Nem relógio, nem a falta / Da água em mas sempre obedecendo à figura-base.
clepsidra, / ou ampulheta cheia, / Tiram
o tempo ao tempo. ANEL ASTRONÓMICO UNIVERSAL
– Relógio de sol regulável segundo as
ANALEMA — Para os astrónomos gregos, diferentes latitudes, composto por 2 ou 3
analema era a projecção ortográfica no círculos de latão dourado, cobre ou prata.
plano horizontal do lugar dos círculos O círculo exterior graduado representa o
da esfera celeste, proporcionando um Meridiano e o outro o Equador, o terceiro
processo de desenho de mostradores de é o plano do meridiano onde se encontra
relógios de sol. Hoje, a designação “ana- o Sol.
lema” está reservada para a figura em
forma de “8” que mostra a posição do ANEL DE ESSEN – Cristal de quartzo
Sol ao longo do ano, sempre à mesma cortado em forma de anel, usado em
hora, habitualmente tomada ao meio-dia relógios de quartzo de grande precisão,
solar médio. Como o Sol alcança uma desenvolvido por Louis Essen no Labo-
altura variável ao longo do ano e como ratório Nacional de Física britânico. Em
o seu movimento (aparente) umas vezes 1955 foi enterrado um a 20 metros de
se atrasa outras se adianta ligeiramente, profundidade, em Londres, num conten-
a conjugação destes dois factores faz que tor selado, usado desde então como um
o Sol desenhe um “8” alongado ao longo padrão de frequência.
do ano. O analema traduz pois de forma
gráfica a chamada equação do tempo e ANTICHOQUE – Praticamente todos os
aparece com frequência desenhado nos relógios de pulso mecânicos modernos têm
quadrantes dos relógios solares. sistemas antichoque, sendo o mais conhe-
cido o Incabloc. O precursor dos actuais
ANALÓGICO – Em relojoaria, a leitura amortecedores foi o dispositivo inventado
do tempo pode fazer-se de forma analó- por Abraham-Louis Breguet (1747-1823),
gica ou digital. Na primeira, ponteiros ou sob o nome de “pára-quedas”, e que con-
outros dispositivos relacionam o tempo sistia em dois braços elásticos colocados no
decorrido com um espaço delimitado e interior do balanço. O sistema antichoque
essa relação espaço-tempo é intuitiva – protege uma das partes mais sensíveis do propriedade de resistir a campos magné-
sabe-se a quantidade do tempo que pas- movimento – o eixo do balanço. Um re- ticos. O magnetismo causa perturbações
sou, o tempo que é, o tempo que falta. lógio que se reivindica antichoque deverá fortes no funcionamento de um mecanis-
Na segunda, as indicações de tempo ou suportar uma queda de um metro sobre mo, especialmente quando os seus órgãos
outras fazem-se através de dígitos (núme- uma superfície dura, respondendo assim mais sensíveis – escape, espiral, balanço,
ros) ou outros sinais, que aparecem em aos critérios rigorosamente definidos pela são em ferro. Geralmente, um relógio
janelas, sendo menos natural a relação ISO (organização internacional de norma- antimagnético, ou amagnético, tem es-
espaço-tempo e mais difícil relacionar o lização, fundada em Genebra em 1947). ses órgãos noutro metal e, além disso,
tempo que passou ou o tempo que falta, tem duas caixas. No interior da primeira
mas tem-se leitura directa e concisa sobre ANTIMAGNÉTICO (OU AMAGNÉTI- encontra-se uma segunda, de ferro doce,
o tempo que é. CO) – Diz-se de um relógio que tem a que não conserva a imanação, protegendo

230 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ARMADURA – Conjunto de órgãos
básicos que servem de suporte a outros
mecanismos de um relógio. As pontes e
a platina compõem a armadura, ou cage,
do relógio.

ARMAR – Colocar sob tensão uma mola.


Ao dar corda a um relógio, arma-se a corda.

ARO – O mesmo que bisel ou luneta. Peça


que fixa o vidro à caixa. Pode ser fixo ou
amovível, numa ou nas duas direcções.

ÁRVORE – Corpo cilíndrico de formas


diversas sobre o qual se fixam ou giram
outros órgãos. Em relojoaria o termo árvo-
re costuma usar-se para designar o suporte
do tambor ou barrilete. Árvore, eixo e
tige são expressões equivalentes, mas
os relojoeiros costumam dizer árvore do
tambor, eixo do balanço e tige da âncora.

ASAS – As peças que servem para ligar


a caixa de um relógio de pulso a uma
pulseira. Entre as extremidades das asas
estão pinos de mola, pequenas varas ex-
tensíveis, que nelas encaixam e que fixam
a pulseira.

ASSORTIMENT – Combinação, sortido,


lote. Na indústria relojoeira suíça, deno-
mina-se assortiment ao conjunto de peças
destinadas à mesma função. Há vários
assortiments: de âncora (roda, âncora),
de cilindro (roda de escape e cilindro),
melhor o mecanismo das influências dos parte da frente como no fundo, quando da caixa (suporte da coroa, coroa, anel
campos magnéticos. Novos materiais, este é transparente, costumam levar um da coroa).
como cerâmicas, carbono ou fibra de vi- tratamento anti-reflexo, que consiste na
dro, todos eles amagnéticos (não sofrem colagem de uma película na sua face ex- ASTMÓMETRO – Cronógrafo que per-
qualquer influência dos campos magné- terior, facilitando a visão do mostrador mite medir a cadência respiratória através
ticos), são hoje usados nas caixas e nas e ou do calibre. de uma escala no mostrador.
partes mais sensíveis de alguns relógios
de pulso. APLIQUE – O mesmo que indexes ou índi- ASTROLÁBIO – Instrumento de nave-
ces. Os marcadores, geralmente dos minu- gação que mede a altura dos astros em
ANTI-REFLEXO – Os vidros de safira tos, num mostrador. Podem ser em metal relação à linha do horizonte e determina
usados nos relógios de pulso, tanto na ou pedras preciosas, fosforescentes, etc. a hora e a latitude do lugar.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 231
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

ASUAG, S.A. – Abreviatura de “Allge- o mesmo número áureo, repetem-se dar corda (devido essencialmente à falta
meine Schweizerische Uhrenindustrie as datas em que calham as luas novas. de mão-de-obra – os sacristãos a tempo
AG”, ou Sociedade Geral de Relojoaria E estas têm, assim, a mesma epacta, ou inteiro, por exemplo, estão a desaparecer
Suíça, SA, organismo privado suíço que número de dias da lua a 1 de Janeiro de da maioria das igrejas católicas).
controlou até meados do séc. XX o fabrico um determinado ano. Todas estas noções
das ébauches ou movimento em bruto e serviram à Igreja Cristã para formar o AUTÓMATO – No Egipto, na Grécia,
as partes reguladoras do relógio – espi- seu calendário litúrgico. em Roma, os deuses eram por vezes mu-
rais, balanços e assortiments. Foi uma das nidos de mecanismos, movidos a água
empresas que deu origem à ETA, um dos AUTOMÁTICO – Em relojoaria fina, um ou a pesos, que os faziam mover-se em
líderes mundiais no fabrico de calibres relógio automático ou de corda automáti- ocasiões especiais, indicando, por exem-
mecânicos e de quartzo. ca tem uma massa oscilante ou rotor que plo, um novo rei. Máquina, geralmente
gira sobre um eixo e que, assim, transmite provida de mecanismo de relojoaria, que
ATMOSFERA – Unidade de pressão. Uma energia à corda. Ou seja, com o relógio a põe em movimento figuras de pessoas
atmosfera é a pressão exercida por uma ser usado no pulso, a corda é dada através (andróides), animais, etc. O relojoeiro
coluna de mercúrio a 0º C, de 76 cm de dos movimentos do braço. Usando apenas suíço Jaquet Droz foi um dos mais famo-
altura num lugar onde a aceleração da gra- a gravidade, o rotor ou massa oscilante – sos construtores de autómatos, a maioria
vidade tenha um valor normal. A pressão normalmente um semicírculo de material destinados ao mercado chinês. Em relo-
de uma atmosfera equivale a 1, 033 kg o mais pesado possível, e colocado no joaria grossa, figuras como os Jaquemart,
por cm quadrado. Os relógios de mer- fundo do mecanismo – gira em torno batendo em sinos, foram usados desde
gulho têm a indicação de estanquidade de um eixo e transmite assim energia à muito cedo. Caixas de música, com autó-
em ATM, a abreviatura de Atmosfera. corda. O sistema foi inventado na Suíça matos e medidores de tempo acoplados,
Cada ATM corresponde a 10 metros de por Abraham-Louis Perrelet, por volta de dependentes de mecanismos relojoeiros
profundidade. 1780, mas apenas quando aparecem os foram objectos muito em moda nos sécu-
relógios de pulso, no início do séc. XX, los XVIII e XIX. A sua miniaturização
ATRASO – Em relojoaria, um número essa invenção ganha significado e come- ocorreu também em relógios de bolso e
(precedido geralmente pelo sinal -) de ça a ser aperfeiçoada tecnicamente. Há de pulso. Relógios e autómatos serviram
minutos e segundos que um relógio indica, rotores unidireccionais e bidireccionais, aos padres jesuítas e aos comerciantes
diária ou mensalmente, a menos sobre a conforme oscilam apenas num ou nos dois ocidentais para abrirem as portas da corte
hora exacta. sentidos e todos têm um dispositivo que imperial chinesa, a partir do séc. XVI.
permite “desligar” quando toda a corda já O padre português Gabriel de Magalhães,
ATTOSEGUNDO – Um quintilionésimo foi dada. Um relógio de pulso automático falecido em Pequim em 1677, fez vários
de um segundo (1^-18s). É a escala de é, geralmente, mais exacto que um do que relógios para a corte, entre eles um autó-
tempo dos acontecimentos ao nível dos corda manual, já que a mola da corda é mato, em 1667, oferecido ao imperador
átomos. No modelo de 1913 de Niels Bohr mantida numa tensão mais constante. Kangxi.
de um átomo de hidrogénio, a órbita de um Em relojoaria grossa, diz-se do meca-
electrão em redor de um protão demora nismo que não precisa de corda manual. AUTONOMIA – O tempo que um reló-
150 attosegundos. Um motor eléctrico é accionado automa- gio fica a trabalhar, depois de se lhe dar
ticamente de tantos em tantos dias (tantos a carga máxima. Complicações como as
ÁUREO NÚMERO – Está relacionado quantos os da autonomia da corda onde sonneries exigem muita energia, pelo que
com o chamado Ciclo de Meton, o as- estão pendurados os pesos) ou quando costumam ter um sistema suplementar de
trónomo ateniense que descobriu que, accionado por células fotoeléctricas (à corda. Fala-se assim de uma autonomia
de 19 em 19 anos solares, se repetem passagem dos pesos em determinada al- para cada corda que um determinado mo-
as datas em que calham as luas novas. tura). O restauro da relojoaria grossa ou vimento tem.
Os atenienses pintavam a ouro os nú- de torre tem sido feito um pouco por toda
meros – de 1 a 19 – do Ciclo de Meton a Europa respeitando todas as partes me- AXAGE – Jargão de relojoaria, que sig-
nas colunas dos templos. Em anos com cânicas mas electrificando o processo de nifica a fixação do balanço no seu eixo.

232 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
AZURÉ – Decoração em forma de espirais
muito juntas obtida num mostrador atra-
vés de uma máquina de azurer.

B
BAGUETTE – Movimento ou calibre em
forma rectangular, cuja altura é pelo me-
nos três vezes maior do que a largura.

BALANCEIRO – Sistema de balanço tipo


foliot.

BALANÇO – O mesmo que volante.


Órgão que oscila sobre o seu eixo de
rotação e que regulariza a marcha das
engrenagens do relógio. O primeiro ba-
lanço usado em relojoaria mecânica foi
o foliot, ou balanceiro. O balanço actual
tem no seu interior a espiral, que o faz
andar para um lado e para o outro, di-
vidindo o tempo em partes exactamente
iguais. A introdução da mola espiral no
balanço é a base de toda a relojoaria mo-
derna. Foi Robert Hooke quem primeiro
a utilizou, em 1658, e John Hautefeuille e
Christian Huygens melhoraram o sistema
e deram-lhe a forma definitiva em 1674,
e que ficou até hoje. Cada movimento
completo de vaivém do balanço (tic-tac) é
chamado uma oscilação. Uma oscilação é
composta de duas vibrações. O conjunto
balanço-espiral é o que mais sofre com
as alterações de temperatura ambiente,
prejudicando assim o comportamento do

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 233
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

relógio. Há balanços monometálicos, cuja


espiral é autocompensada, feita de mate-
riais que evitam a deformação por grandes
amplitudes térmicas – tipo Nivarox, hoje
a mais usada; ou bimetálicos, geralmente
de aço e latão, que se autocompensam.
O aro do balanço dispõe de parafusos
reguláveis e que podem mudar de lugar,
o que permite modificar o seu momento
de inércia. É uma das formas de afinar
um relógio.

BALÃO DA HORA – Sistema usado em


várias capitais europeias, a partir do séc.
XIX, para assinalar um tempo exacto,
facilmente visível. Geralmente ligado a
um observatório astronómico ou outra
instituição científica, que lhe fornecia um
tempo o mais exacto possível, consistia
num balão erguido num mastro, que caía a
uma hora predeterminada. O movimento
estava por vezes associado a um sinal
sonoro. Com este sistema de difusão da
Hora, a comunidade podia acertar diaria-
mente os seus relógios. O sistema do balão
é mais exacto que o sistema de canhão do
tempo, ou meridiana (relógio de sol que
faz soar uma pequena peça de artilharia
quando passa o meio-dia solar), pois este
sofre demoras devido à velocidade de
propagação do som. Em 1858 Portugal
fez a primeira tentativa de ter, em Lisboa,
um Balão da Hora. Estava instalado no
edifício do Observatório Real de Marinha,
no Arsenal da Marinha, entre o Cais do
Sodré e o Terreiro do Paço, e destinava-se
essencialmente a servir a comunidade
mercante ancorada no Tejo – obtinha um
tempo que lhe dava para testar o chamado
“estado do cronómetro”, acertando os cro-
nómetros de marinha que havia a bordo.
A qualidade do sistema era má e surgiu
um segundo balão, mais sofisticado, em
1885. Desta vez, o tempo era transmiti-
do por meios electromecânicos, desde
o Observatório Astronómico da Ajuda.

234 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
O Balão do Arsenal deu o seu derradeiro expositores da Alemanha, França, Reino
sinal à uma hora do dia 31 de Dezembro Unido e Itália – a MUBA passa a promo-
de 1915, acompanhado, como sempre, de ver-se como “Europe’s meeting place”. De
um tiro de canhão. 1973 a 1982 a feira passa a designar-se
Europaische Uhren und Schmickmesse
BARRETE – O mesmo que pino de mola. – European Watch and Jewellery Show
Pequena vara extensível, fixa às asas da (EUSM). Em 1983 passa a ter apenas o
caixa, que serve para fixar a pulseira de nome Basel seguido do ano. A Basel 84
um relógio de pulso. decorre pela primeira vez fora das ins-
talações da MUBA e a partir de 1986
BARRILETE – O mesmo que tambor. Roda a feira é aberta a expositores de fora da
formada por um disco circular dentado e Europa. A Basel 99 inaugura um novo
uma caixa cilíndrica fechada. O barrilete espaço, com dois pavilhões de 18 mil m2
ou tambor gira livremente numa árvore cada. Em 2003 o nome volta a mudar,
(eixo) e contém a mola real ou corda, que para Baselworld, seguido do número do
está fixada pela sua espira exterior à caixa ano e tem em 2007 uma área de exposição
e na sua espira interior à árvore. O bar- da ordem dos 160 mil m2. Foi anunciado
rilete engrena com o primeiro pinhão do para inaugurar em 2011 um novo espaço,
trem de rodas do relógio; gira lentamente, que duplicará o existente.
variando o seu ângulo horário de rotação
entre 1/9 e 1/6 de volta. BATERIA – O mesmo que pilha. É o ele-
mento que fornece a energia necessária ao
BAS – Indicação em francês que aparece funcionamento de um relógio de quartzo.
por vezes num indicador de reserva de Uma nova geração de pilhas, aparecida na
corda em relógios de pêndulo, signifi- primeira década do séc. XXI, prolonga a
cando “baixo”, ou que a autonomia do sua duração até 10 ou mesmo 20 anos. Se
mecanismo está a chegar ao fim. se mudar a bateria a um relógio estanque
ou de mergulho, é conveniente fazer em
BASELWORLD – É o mais importante seguida um controlo de estanquidade à
certame mundial dedicado à indústria caixa.
de relojoaria e joalharia. Todos os anos,
no início da Primavera, mais de 2 mil BATER HORAS – O mesmo que “dar”
expositores e de 100 mil retalhistas vindos ou “tocar”. Virá do francês frapper ou do
de todo o mundo reúnem-se em Basileia, inglês strike, e tem a sua origem no facto
Suíça, durante duas semanas, para fazer de os relógios primitivos, sem mostrador,
negócio e apreciar as novidades. Mais “baterem” as horas num sino, quando o
de 2.750 jornalistas especializados mar- Tempo era mais para ser ouvido que visto.
cam igualmente presença. As origens da
Baselworld estão na primeira Schweiser BATIDA – Movimento alternado do pên-
Mustermesse Basel (MUBA), de 1917, dulo ou do balanço.
que já tinha uma secção especial dedi-
cada a relógios e jóias. Em 1931, ocorre BISEL – Do inglês, bezel. O mesmo que
a primeira Schweiser Uhrenmesse-Swiss luneta ou aro. Designa um aro colocado
Watch Show, um pavilhão próprio no seio no lado exterior do mostrador. Serve para
da MUBA. Em 1972, dá-se a internacio- fixar o vidro. Pode ser fixo ou móvel.
nalização, com a Swiss Watch Show a ter Neste último caso, bi ou unidireccional,

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 235
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

e servindo para várias funções de mar- BORBOLETA – Em relojoaria grossa e BREGUET – Abraham-Louis Breguet
cação de tempos, segundo fuso horário, média, a peça que regula a velocidade de (1747-1823), célebre relojoeiro suíço es-
despertador, etc. Nos relógios de mer- libertação do carreto da corda de dar ou tabelecido em Paris. Inventor do turbilhão,
gulho, os biséis devem ser unidireccio- bater horas, para proteger o mecanismo. do sistema pára-quedas antichoque para
nais, para evitar confusões ou erros na Funciona, com as suas pás, como travão, o balanço, de um escape de âncora, de
marcação de tempos de mergulho ou de ao fazer resistência ao ar no momento uma espiral em que as pontas não estão
descompressão. em que o mecanismo se solta a grande ao mesmo nível do resto das espirais, de
velocidade para fazer accionar sinos ou ponteiros ou de numeração de uma forma
B.O. – Abreviatura de “Bureaux Offi- outros dispositivos. característica, todos eles hoje conhecidos
ciels”, ou seja departamentos suíços de pelo seu nome.
controlo oficial da marcha dos relógios, BOTÃO – O poussoir francês. Peça ge-
que existiam em Bienne, La Chaux-de- ralmente saliente, de várias formas, que BUCHA – Pequeno cilindro metálico com
-Fonds, Genebra, Le Locle, Saint-Imier, serve para accionar alguma função do uma concavidade onde gira um pivot. Para
Le Sentier e Soleure. Esses departamentos relógio – alarme, cronógrafo, sonnerie, a reparação em relojoaria grossa ou média
admitiam relógios para serem submetidos acerto de data ou de segunda hora, etc. os relojoeiros empregam buchas de latão
a provas de exactidão em cinco posições com casquilho nas bases defeituosas ou
diferentes e a temperaturas de +4º, +20º e BRACELETE – O mesmo que correia gastas onde assentam os pivots.
+36º C. Hoje, é o COSC que desempenha ou pulseira. Serve para fixar o relógio
essa função. ao pulso. Pode ser totalmente integrada BÚSSOLA DE RELOJOEIRO – Pequena
na caixa ou fixada nela através de asas. bússola usada pelos relojoeiros para des-
BOLETIM – Documento que regista o Pode ser em diversos materiais – metais cobrir peças magnetizadas. Ao aproximar
comportamento de um relógio que está preciosos, aço, pele, borracha, cerâmica, a agulha, esta detecta a peça, sendo atraída
a ser submetido a provas de exactidão. plástico, etc. e extensível ou regulável, por uma das suas extremidades e repelida
O boletim pode ser oficial, emitido por com ou sem fecho de segurança. pela outra. O magnetismo desregula o
um departamento como o COSC. funcionamento de um relógio.
BRACKET – Relógio portátil inglês de
BOMBEADO – Diz-se de um vidro do caixa de madeira, com uma asa no topo,
mostrador que tem a forma convexa. Do feito geralmente nos sécs. XVII e XVIII,
francês, bombé. para se pendurar numa parede ou ter em
cima de uma mesa.

236 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
CADEIA CINÉTICA – Em relojoaria, CALENDÁRIO ANUAL – Diz-se de um
diz-se da engrenagem de rodas dentadas relógio cujo mecanismo dá a indicação de
e outras partes móveis, fixas a platinas e dia, data e mês, prevendo meses de 30 e
pontes, que começa no tambor da corda, 31 dias e Fevereiro com 28, e eventual-

C
vai ao órgão oscilador (pêndulo ou balan- mente fases da Lua, devendo ser acertado
ço), passa pelo escape e chega finalmente manualmente de quatro em quatro anos,
aos ponteiros ou outros órgãos indicado- já que não prevê os anos bissextos.
res, no mostrador.
CALENDÁRIO COMPLETO – Diz-se
CADRATURE – Termo antigo que designa de um relógio que indica a data, o dia, o
o conjunto dos mecanismos (sonnerie, mês, eventualmente as fases da Lua, mas
calendários, roda dos minutos) colocados que precisa de ser acertado manualmente
CABELO – Em relojoaria fina, é o nome entre o mostrador e a platina superior. nos meses que não tenham 31 dias.
que os relojoeiros portugueses costuma-
vam dar à espiral. Tem caído em desuso. CAGE – Armação da máquina de um re- CALENDÁRIO GREGORIANO – O pa-
lógio, conjunto da platina e das pontes. pa Gregório XIII, confrontado com o des-
CABINOTIER – Em Genebra, um relojoeiro Nos relógios de pêndulo, consta de duas vio da festa móvel da Páscoa, devido à
a trabalhar por conta de uma “fábrica”, platinas unidas por quatro pilares. acumulação do erro de 0,0078 dias por
num gabinete, sala pequena, que servia ano, ao longo de séculos, no calendário
de oficina, nos sécs. XVIII e XIX, e que CALENDÁRIO – Derivado de Kalendae, juliano, fez reunir uma comissão para es-
se situava geralmente no último piso de que eram os primeiros dias do mês, no tudar o problema. A reforma do calendário
um prédio. Os cabinotiers genebrinos calendário romano. Conjunto de conven- foi decretada pelo papa em 1582, com a
não eram sempre relojoeiros – podiam ções adoptadas ao longo da História para supressão de um ano bissexto em cada
ser joalheiros, gravadores, lapidadores, regulação do tempo comunitário. As suas cem anos, nos anos de mudança de século,
esmaltadores, etc., especialistas em Mé- divisões – ano, mês, semana, dia – são excepto nos anos seculares cuja milésima
tiers d’Art. complementadas por festas religiosas, fosse divisível por 400. Assim, o ano de
fases da Lua, estações do ano, etc. Há três 1900 não foi bissexto, mas o de 2000 foi.
CABOCHON – Pedra preciosa, polida, mas grandes espécies de calendários – lunares, Desta forma, o ano do calendário grego-
não talhada. Ornamento em relevo embu- solares e luni-solares. riano vale em média 365,2425 dias solares
tido no mostrador ou na coroa do relógio. médios, o que já é muito aproximado do

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 237
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

valor real, 365,2422. Mesmo assim, no que os ciclos celestes não são totalmente CALIBRE LÉPINE – Jean-Antoine Lépine
ano de 4916 já se terá acumulado um dia perfeitos e os calendários humanos sem- (1720-1814), relojoeiro francês, inventou
de erro, se até lá se continuar a utilizar pre precisaram de acertos. Em relojoaria, um calibre que foi depois baptizado com o
o mesmo calendário. Os países católicos diz-se de um relógio que consegue ter seu nome. Este mecanismo caracteriza-se
adoptaram-no rapidamente. Portugal, na automaticamente em consideração, sem pela supressão do fuso e pela substituição
altura já sob domínio da coroa espanhola, precisar de acerto manual, as diferenças da platina superior e dos pilares por pon-
foi dos primeiros a fazê-lo. Um decreto entre meses de 30 e 31 dias, bem como os tes, o que permitiu colocar o balanço não
de Filipe II, de 20 de Setembro de 1582, anos bissextos. Teoricamente, um relógio ao lado do resto do calibre mas em cima
ordenava a adaptação: “… de maneira que automático com calendário perpétuo, a dele, e construir relógios muito mais finos.
tanto que passar o quarto dia do dito mês funcionar sempre no pulso do seu dono,
de Outubro próximo vindouro, que será funcionará sempre certo, pelo menos até CAIXA – Órgão que protege a máqui-
uma quinta-feira do bem-aventurado São à excepção no ciclo de anos bissextos na do relógio contra o pó, humidade e
Francisco, logo o seguinte dia, sexta-feira, de quatro em quatro anos. Para obviar choques. Tem as mais diversas formas
em que haviam de contar os cinco dias do paragens e depois acertos muito compli- e decorações. Do lado das pontes e do
Mês se diga aos quinze…”. Houve tumul- cados, há caixas eléctricas, que simulam mostrador, acaba num vidro. Do lado da
tos um pouco por toda a Europa quando os movimentos do pulso e onde estes e platina acaba num fundo que pode ser
os camponeses se aperceberam de que o outros relógios, desde que automáticos, enroscado ou aparafusado, para maior
Papa lhes tinha “roubado” dez dias. Os podem ser colocados quando não em uso. estanquidade. Também pode ser de vidro,
países protestantes apenas aderiram ao Os “calendários perpétuos” são compli- para se poder ver o mecanismo.
novo calendário no séc. XVIII. O Japão só cações muito caras.
no séc. XIX, a China em 1912 e a Rússia CAIXA DE MÚSICA – Sistema autómato
em 1940. Hoje, apesar da sobrevivência CALENDÁRIO REPUBLICANO – En- que toca melodias, baseado num meca-
dos calendários religiosos hebraico, mu- trou em vigor em França no dia da pro- nismo de relojoaria, adaptado. Grandes
çulmano ou chinês, o ano civil mundial clamação da República, a 22 de Setembro relojoeiros têm sido autores das mais com-
rege-se pelo calendário gregoriano. de 1792. O ano tinha 12 meses de 30 plexas e sofisticadas caixas de música.
dias, divididos em 3 décadas de 10 dias.
CALENDÁRIO JULIANO – Seguindo as Acrescentavam-se cinco ou seis dias ao CAME – Num mecanismo, órgão cujo
indicações do astrónomo Sosígeno de Ale- fim do ano para se aproximar do ano perfil está calculado de maneira a poder
xandria, o imperador romano Júlio César solar. Os meses mudaram de nome e o transmitir ou transformar um movimento.
introduziu um novo calendário em 46 a.C. dia passou a ser contado num sistema Em geral, as cames são discos metálicos
e deu ao ano uma duração de 365,25 dias, decimal, com a hora dividida em 100 de perfis calculados, cuja função ao gi-
introduzindo a cada 4 anos um ano bissexto minutos. Milhares de relógios foram fa- rar é transformar movimentos circulares
de 366 dias. A Igreja cristã adoptou o ca- bricados segundo o novo sistema. Este em movimentos rectilíneos ou de outro
lendário juliano em 325. O sistema juliano calendário durou até 1 de Janeiro de 1806. tipo. Há calibres que usam vários tipos
tinha um desvio de 0,0078 dias por ano em O sistema decimal de tempo, também de cames, especialmente os cronógrafos.
relação ao ano solar, que tem 365 dias, 5 chamado Tempo Republicano, vingou no
horas, 48 minutos e 45 segundos. O sistema entanto nas fracções de segundo (décimo, CAMINHAMENTO – Diz-se do dobro da
funcionou no Ocidente até à introdução do centésimo, milésimo, etc.). amplitude do balanço de um relógio. Con-
calendário gregoriano. funde-se frequentemente caminhamento e
CALIBRE – Sinónimo de dimensão. Em amplitude. Um relógio com amplitude de
CALENDÁRIO PERPÉTUO – O Homem relojoaria, este termo é empregue des- 270º (3/4 de volta) tem um caminhamento
esforçou-se ao longo da História para, nas de o início do séc. XVIII para designar de 540º (1 ½ voltas). Um relógio que “ca-
várias civilizações, encontrar métodos as- a disposição e dimensão das diferentes minha” bem é um cujo balanço funciona
trológicos primeiro, astronómicos depois, partes da máquina ou movimento: pilares, bem, tem uma amplitude suficiente.
e auxiliados por cálculos matemáticos, rodas, barriletes, etc. Hoje, é sinónimo de
encontrar um calendário perpétuo. Só máquina ou movimento.

238 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 239
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

CANHÃO DO TEMPO – Sistema sono-


ro de assinalar a uma comunidade uma
determinada hora. Começou por ser uma
pequena peça de artilharia, junto de um
relógio de sol, e cujo pavio era aceso por
uma lente quando o Sol atingia, em cada
dia, o zénite, ou ponto mais alto no hori-
zonte. Era através destes relógios de sol,
chamados meridianas, que o poder acertava
o tempo dos seus relógios mecânicos. As
cortes europeias tinham todas meridianas
nos seus palácios, e Portugal não foi ex-
cepção – há restos de uma meridiana nos
Jardins do Palácio de Queluz ou no Paço da
Rainha, em Lisboa, relatos de meridiana no
Paço de Vila Viçosa e chegou até hoje uma
meridiana real completa que se encontra
no Palácio da Pena, em Sintra. No final
do séc. XIX, Veríssimo Alves Pereira, um
relojoeiro célebre no seu tempo, inventou
sistemas de transmissão da hora através de
canhões colocados na Torre dos Clérigos,
no Porto, primeiro; no Castelo de São Jorge
e, posteriormente, no Jardim da Escola
Politécnica, em Lisboa.Ao meio-dia solar
verdadeiro, as peças faziam soar um tiro
e as comunidades podiam por ele acertar
os relógios mecânicos (de forma quase
exacta para a hora local se tivessem em
conta a Equação do Tempo). O sistema
do canhão era menos exacto que o do ba-
lão do tempo, de que foi contemporâneo,
pois sofria desvios devido à velocidade de
propagação do som. Além disso, em dias
encobertos, não funcionava.

CARACOL – Came que controla o bater


das horas, dos quartos, dos minutos. Há o
caracol das horas, o caracol dos minutos. CARRILHÃO – Conjunto de sinos, tim- Há ainda a repetição a carrilhão, onde os
bres, gongos ou campainhas que podem quartos soam com três ou quatro timbres,
CARDAN – Diz-se do sistema de suspensão tocar uma melodia completa. Diz-se de dando sons diferentes. Os toques em re-
inventado pelo italiano Girolamo Cardan relógios de torre, de pêndulo, de parede, lojoaria começaram a ser apenas de um
(1501-1576) e que mantém um objecto em de mesa, de bolso ou de pulso que podem som (das horas), passando rapidamente a
posição horizontal qualquer que seja a tocar uma ou várias melodias diferentes. dois (marcando horas e quartos). No séc.
posição da base. Os cronómetros de ma- Há sonneries com carrilhão, do tipo West- XVIII, D. João V equipou o Convento
rinha são munidos de suspensão cardan. minster, por exemplo (com quatro tons). de Mafra com dois carrilhões de grande

240 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
apenas com as asas; com asas e luneta;
com asas, luneta e fundo da caixa.

CARTEL – Relógio pequeno de parede, ou


pendulette, ricamente decorado e com
caixa em losango ou oval.

CAVALIER – Em português, também se


usa “cavaleiro”. Index saliente, fixado na
luneta, geralmente às 3, 6, 9 e 12 horas.
Os cavaliers facilitam o manuseamento,
a rotação da luneta quando ela é móvel.

CAVILHADO – Em relojoaria grossa, diz-


-se de um relógio que está numa gaiola de
ferro, que não utiliza parafusos mas cavi-
lhas. É um dos indicadores da antiguidade
da peça, já que as gaiolas aparafusadas
apenas começaram a generalizar-se no
séc. XVII.

CAVILHAS – Referindo-se ao escape, o


mesmo que paletes ou palhetas.

CEBOLA – Designação popular e pejora-


tiva de um relógio de bolso, muito grande
e grosso. Em francês, é uma oignon.

CENTRO DE OSCILAÇÃO – O tempo de


oscilação de um pêndulo depende apenas
do seu comprimento, medido a partir do
centro de suspensão e até ao centro de
oscilação, ponto imaginário localizado no
peso que se encontra na sua extremidade
e que está relacionado com o centro de
gravidade. Isso explica-se porque, se se
acrescentar um peso adicional acima do
peso principal o relógio anda mais de-
qualidade, flamengos, e já no séc. XX, não pela roda de segundos mas pela roda pressa, pois sobe o centro de oscilação e
Luís Cousinha, fabricante de relógios de primeira. Mais robusto que o turbilhão, torna o pêndulo “mais curto”.
torre com fábrica em Cacilhas, Almada, este mecanismo foi inventado por Bahne
fez vários exemplares sofisticados, com Bonniksen (1859-1935), relojoeiro dina- CÉTÉHOR – Abreviatura de “ Centre
carrilhão e várias melodias. marquês estabelecido em Londres. technique de l’industrie horlogère fran-
çaise” (Centro técnico da indústria relo-
CARROSSEL – Dispositivo semelhante ao CARRURE – A parte intermédia da caixa joeira francesa), com sede em Besançon.
turbilhão, mas em que a gaiola é accionada de um relógio de pulso. Pode ser simples, Foi fundado em 1939, como núcleo de

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 241
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

estudos de relojoaria. Emite certificados glaciares e interglaciares do Pleistocéni-


de qualidade. co). Foi no termo da última glaciação e
durante a ulterior relativa estabilização
CHABLON – Termo relojoeiro que designa climática que tem vigorado até ao presen-
o conjunto de peças sem montar de uma te (Holocénico) que ocorreram primeiro a
máquina, ou parte de uma máquina de transição mesolítica e depois a revolução
relógio, à excepção do mostrador, dos neolítica. A percepção civilizacional de
ponteiros e da caixa. Tempo pode dividir-se em duas grandes
noções – a do tempo circular e a do tempo
CHAMPLEVÉ – Diz-se de uma superfície linear. Um exemplo típico de civiliza-
esculpida a buril numa placa de metal ção que tem por base a noção do Tempo
pronta a receber o esmalte. Técnica de circular é a hindu – em ciclos longos,
esmaltagem incluída nos Métiers d’Art. tudo se repete. A civilização ocidental
reforçou mais a noção de Tempo linear,
CHAPERON – O mesmo que roda de con- aliando a isso outra importante noção,
ta. Came que regula o toque das horas e a de Progresso – o passado teve menos
meias horas nas pêndulas de chaperon. desenvolvimento, o futuro terá sempre
O chaperon dá uma volta em 12 horas. mais. Este determinismo “progressivo”
tem sido posto em causa essencialmen-
CHATELAINE – Cadeia usada pelas mulhe- te por questões ambientais. Depois, há
res para pendurar uma jóia ou um relógio noção de sociedades de ciclo lento – as
chatelaine. sociedades rurais, com os tempos de
plantio e colheita, de convívio diário
CHAVE – Desde que Peter Henlein inven- e íntimo com gerações mais velhas, de
tou, por volta de 1500, a corda helicoidal massa no pinhão do centro e a que está festivais anuais ou plurianuais; e a de
como força motriz para o relógio, que se ligado o ponteiro dos minutos. sociedades de ciclo rápido, estabelecida
usou uma chave para voltar a enrolá-la. a partir do Ocidente com a Revolução
Embora fosse alvo de atenção dos artífices, CICLO – Do latim, cyclus, por sua vez Industrial, com o dia de trabalho (ou
que a decoravam e trabalhavam muitas derivado da palavra grega para círculo. de descanso) a marcar o quotidiano e o
vezes como uma autêntica jóia, ela era Período de tempo após o qual um fenó- consumo massificado ou a comunicação
um objecto facilmente perdível e, no séc. meno se repete. Existem ciclos astronó- permanente (através da Internet e outros
XVIII, fizeram-se muitas tentativas de micos – diurno, lunar, anual, de Meton meios de comunicação) a acentuarem
inventar outro método para dar corda. (de 19 anos solares) – que condicionam um Tempo que já não é só rápido como
Em 1820 apareceu um primeiro relógio e organizam a vida biológica e social global e imediato.
Arnold, de caixa alta, usando um botão do homem. Existem ciclos biológicos –
de dar corda. Em 1843, Adrien Philippe, diurno (circadiano), sazonal, anual (cir- CICLO DE METON – Atribui-se a Meton,
fundador da Patek Philippe, inventou a canual) e geracional – bem como ciclos astrónomo ateniense, a descoberta em
coroa para o relógio de bolso. Os relógios socioculturais – jornada, semana, ritos, 432 a.C. de um ciclo de 19 anos solares
de pulso usam desde sempre o método da festas, calendários – que influenciam e em que existem 235 lunações, a partir
coroa, mas apareceu em 2007 no mercado limitam a vida do Homem enquanto ser das quais a sequência se repete. Este ciclo
um relógio de pulso Lange & Sohne, com individual e colectivo. E existem tam- serviu de base ao calendário persa, depois
autonomia para 31 dias, que usa chave bém ciclos astronómicos milenares (os adaptado e adoptado pelo calendário judeu
para dar corda. ciclos de Milankovitch) que, determinan- e, mais tarde, usado na determinação da
do variações climáticas longas, por sua principal festa móvel do calendário cristão
CHEVILLOT – Tige de aço, ligeiramente vez determinaram longas migrações e – a Páscoa, a partir da qual se determinam
cónica, que gira, roçando suavemente em profundas mudanças culturais (períodos todas as outras destas móveis.

242 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
CINEMÁTICA – Parte da mecânica que va em casa de noite, e de dia, com sol e lar os tempos sagrados das comunidades
estuda o movimento, independentemen- sem sol”, uma clepsidra, acompanhando religiosas. Se o inglês tem clock para de-
te das forças que o produzem. Fala-se a explicação com um esquema. Camilo signar relógios de grande porte e watch
da cadeia cinemática quando se refere o Pessanha, em Clepsidra, livro de poemas para relógios médios e pequenos, a língua
conjunto de peças móveis de um calibre. editado em 1920, afirma naquele que deu o francesa usa horloge para o primeiro caso
título à obra: Abortos que pendeis as fron- e montre para o segundo. Em português,
CLEPSIDRA – Do grego, “roubar água”. tes cor de cidra, Tão graves de cismar, existe apenas o termo relógio, do latim
Relógio de água. Os primeiros exemplares nos bocais dos museus, / E escutando o horologium, pelo castelhano reloj ou relox,
que se conhecem são egípcios – vasos em correr da água na clepsidra, / Vagamente para designar genericamente os medidores
cone, com marcações e um furo no fundo, sorris, resignados e ateus, / Cessai de do tempo, sejam eles de qualquer tamanho.
por onde a água se escoava. Na Grécia e cogitar, o abismo não sondeis. Fernando
Roma antigas, as clepsidras eram usadas Pessoa / Ricardo Reis, afirma num dos CLOISONNÉ – Tipo de esmalte, em que os
para várias funções sociais, registadas seus poemas: Nem relógio, nem a falta desenhos são feitos por arames, preenchi-
pelos clássicos, como o tempo dado às / Da água em clepsidra, / ou ampulheta dos por esmalte fundido de várias cores,
partes em tribunal ou aos oradores nos cheia, / Tiram o tempo ao tempo. e que vai ao forno. Muitos relógios são
fóruns políticos. Em Portugal, Gaspar decorados em cloisonné na caixa ou no
Cardoso de Sequeira, no seu Tesouro dos CLOCK – De clokka, palavra que designa mostrador. É um dos Métiers d’Art.
Prudentes, uma espécie de almanaque, sino em inglês antigo. Os primeiros reló-
cuja primeira edição apareceu em 1612, gios não mostravam as horas, apenas as COAXIAL – Que tem o mesmo eixo. As
indica “de como se fará relógio, que sir- “batiam” em sinos, e serviam para regu- rodas, logo os ponteiros, dos minutos

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 243
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

e das horas têm geralmente um movi-


mento coaxial. Se não, um deles, ou os
dois, estão descentrados. Também a roda
dos segundos (logo o ponteiro) pode ser
coaxial com as duas anteriores (ponteiro
dos segundos ao centro, ou grandes se-
gundos) ou não (segundos descentrados
ou pequenos segundos).

COEFICIENTE BAROMÉTRICO – Diz-


-se da variação da marcha diária de um
relógio correspondendo a uma variação
de pressão de 1 mm de mercúrio. Este
coeficiente é da ordem dos 0,01 a 0,02
segundos por dia. Se, por exemplo, a
pressão atmosférica variar bruscamente
30 mm em 24 horas, isso corresponderia
num relógio de pêndulo a uma variação
da marcha diária de 0,3 a 0,6 segundos.
Para evitar tais desvios, os relógios de
pêndulo de precisão, como os chamados
reguladores, encerram-se em cápsulas de
vidro dentro das quais se mantém uma
pressão constante.

COEFICIENTE TÉRMICO – Diz-se da


variação da marcha diária de um relógio
correspondente à variação de temperatura
de 1º C. Para combater as variações térmi-
cas, a relojoaria emprega vários materiais
resistentes a elas – cerâmicas, fibra de
carbono, etc. – ou ligas bimetálicas, que
se autotermocompensam.

COFRE – Caixa de um relógio de caixa alta.


vamente à relojoaria encontra-se em Ser- Astronómicos de Lisboa e do Porto têm
CO-LATITUDE — Ângulo complementar pa. O Palácio Nacional da Ajuda tem uma interessantes colecções de relógios de
do da latitude para 90º. Assim, por exem- parte da colecção de relógios da Família precisão, instrumentos cruciais nas ob-
plo, se a latitude de um lugar for 30ºN, a Real e organizou um circuito de visita servações astronómicas.
co-latitude é de 60ºN. Usa-se a co-latitude dedicado especialmente aos medidores
para a construção de relógios de sol. do tempo. A Fundação Gulbenkian e a CONDENSAÇÃO – Um dos grandes ini-
Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, migos da relojoaria é a humidade. O vapor
COLECÇÕES – A melhor colecção de a Casa-Museu Anastácio Gonçalves, em de água condensa-se a partir do chamado
relojoaria existente em Portugal está na Lisboa, ou a Casa-Museu Eng. António de ponto de condensação, que depende da
Casa-Museu Medeiros e Almeida, em Almeida, no Porto, também têm pequenas humidade relativa do ar. Uma fábrica,
Lisboa. O único museu dedicado exclusi- colecções de relógios. Os Observatórios uma oficina de reparação de relojoaria,

244 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
Um relógio “grande complicação” tem
de ter, pelo menos, calendário perpétuo,
fases da Lua, pequena e grande sonnerie,
repetição minutos, cronógrafo com rat-
trapante. Há quem considere ainda como
“complicação” o movimento extraplano
ou o turbilhão, embora eles não consti-
tuam indicações.

COMTOISE – Relógios comtoise (do Fran-


che-Comté), de caixa, fabricados em Mo-
rez e Morbier, no Jura francês.

CONTADOR – Nos cronógrafos, o mes-


mo que acumulador ou totalizador. Há o
contador dos minutos, o das horas.

CONTAGEM DECRESCENTE – Mé-


todo de medir o tempo que resta antes
de um determinado acontecimento. Re-
lógios de pulso com função regata, por
exemplo, têm contagem decrescente de
tempo. Pensa-se que, do ponto de vista
científico, a contagem decrescente tenha
sido pela primeira vez utilizada aquando
da observação de um eclipse do Sol, na
Sicília, em 1870. Em Portugal, e segundo
um prospecto anónimo de 1900, do Real
Observatório da Tapada (hoje Observa-
tório Astronómico de Lisboa), a técnica
de contagem decrescente foi pela primei-
ra vez usada nesse ano, com relógios de
precisão e “pregoeiro”, que ia dizendo
em voz alta o “dez, nove, oito, sete…”, na
observação de outro eclipse solar.
devem ter sempre a preocupação de não francês, inventou o primeiro balanço
ser atingido no seu interior o ponto de compensado. CONTRAMOLA – Mola que actua opon-
condensação. A condensação também do-se a outra principal. Nas sonneries, o
não deve atingir o interior de um relógio. COMPLICAÇÃO – Todas as indicações martelo, depois de bater, tem de se afastar
de um relógio que não sejam as de assi- para que o sino, gongo ou timbre possa
COMPENSADO – Diz-se da peça ou nalar as horas, minutos e segundos são vibrar livremente. Isso faz-se com uma
conjunto de peças de um relógio que consideradas “complicações” – cronó- contramola.
têm dispositivos contrariando os efei- grafo, sonnerie, despertador, calendário
tos das variações de temperatura sobre perpétuo, fases da Lua, etc. Há pequenas CONTRE-PIVOT – Rubi não furado utili-
a sua marcha, como pêndulos ou espi- e grandes complicações e estas últimas zado como almofada e contra o qual vem
rais. Pierre le Roy, (1717-1785), relojoeiro estão nos relógios mais caros do mundo. apoiar-se o pivot do eixo do balanço.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 245
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

COQ – Galo. A ponte do balanço. Peça XV e terá sido pela primeira vez empre- ou com sistemas de protecção especial
que, ao longo da história da relojoaria, se gue em relojoaria por um Peter Henlein, são empregues em relógios de mergulho.
prestou a decorações magníficas. Ainda por volta de 1510, na Floresta Negra.
hoje, em relógios de pulso, a ponte do ba- Dava-se aí um passo crucial na história CORDA MANUAL – Diz-se que um reló-
lanço é, muitas vezes decorada. Costuma dos medidores de tempo – alcançavam gio mecânico é de corda manual quando
trazer uma raquete, que faz a regulação a portabilidade e a miniaturização cada se lhe dá corda à mão. Pode falar-se de
do conjunto balanço/espiral. vez maior – deixavam de estar presos a “corda automática” quando se está perante
pesos e a mecanismos enormes. um relógio automático (que, de qualquer
CORDA – O termo “corda” é uma re- modo, pode ter a sua corda também dada
miniscência que vem dos relógios me- CORDA SUPLEMENTAR – Quando se à mão).
cânicos primitivos, de torre – a energia dá corda a um relógio de torre ele pára
que usavam para funcionar provinha de temporariamente se não tiver um peso ou CORRECÇÃO – O estado de um relógio
pesos pendurados em cordas, enroladas uma corda extra. é o avanço ou o atraso observados num
em tambores, que eram accionados pelo comparador de tempo. A diferença entre
efeito da gravidade. Quando a corda se CORAÇÃO – Came em forma de coração dois estados, depois de 24 horas de marcha
desenrolava completamente, era neces- usada, por exemplo, nos cronógrafos. Há é a chamada marcha diária. Deve distin-
sário voltar a enrolá-la, um trabalho fi- o coração dos segundos, dos minutos, das guir-se o estado da correcção. O estado
sicamente exigente, levado a cabo por horas, de recuperação ou rattrapante, etc. de um relógio que adianta 20 segundos
frades e monges, os primeiros utilizadores em cada 24 horas (+20), deve sofrer uma
desde tipo de marcadores de tempo. De COROA – Botão de formas variadas, correcção de – 20 para chegar ao estado
toda esta realidade vem a corda, o dar à raiado ou estriado, que se gira para dar 0 (exactidão máxima).
corda, a falta de corda dos relógios de corda ao relógio. A coroa está ligada ao
hoje. A corda, tal como hoje a conhece- extremo da tige de remontoir. Há coroas CORREIA – O mesmo que bracelete ou
mos, uma mola helicoidal, enrolada no com botão, que permite accionar um cro- pulseira. Serve para fixar o relógio ao pul-
interior de um cilindro (tambor), já era nógrafo monopulsante ou abrir a caixa de so. Pode ser totalmente integrada na caixa
conhecida dos armeiros no final do séc. um relógio de bolso. As coroas enroscadas ou fixada nela através de asas. Pode ser

246 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
em diversos materiais – metais preciosos, permanente dos segundos. Os movimentos dois países decidiram avançar no início
aço, pele, borracha, cerâmica, plástico, mecânicos são submetidos durante 15 dias do séc. XX com institutos próprios de
etc. e extensível ou regulável, com ou a testes nas cinco posições clássicas e a certificação cronométrica. A Alemanha
sem fecho de segurança. três temperaturas (8º C, 23º C e 38º C), tem em Glashutte, zona de grande tradição
sendo aprovados apenas aqueles que têm relojoeira, na Saxónia, um Serviço de
COSC – Acrónimo de Controle Officiel variações entre -4 e +6 segundos por dia. Calibragem de Cronómetros, a funcionar
Suisse des Chronomètres. Fundado em Quanto aos movimentos de quartzo, são junto do Observatório Astronómico local,
1973 nas suas estruturas actuais, o COSC testados durante 11 dias, numa posição aberto a relógios de todas as origens. Em
é, em termos de direito civil suíço, uma e às mesmas temperaturas. Têm de es- França, por seu turno, o Observatório
associação sem fins lucrativos e de re- tar munidos de um sistema electrónico Astronómico de Besançon, outra região
conhecida utilidade pública. Foi criado que compensa a variação de frequência de grande tradição relojoeira, relançou a
por cinco cantões relojoeiros (Berna, do quartzo em função da temperatura partir de 2007 o seu serviço de certificação
Genebra, Neuchâtel, Soleure e Vaud) e (movimentos termocompensados) e são cronométrica.
pela Federação da Indústria Relojoeira submetidos durante um dia a rotações em
Suíça (FH). Agrupou laboratórios que três dimensões e a 200 choques de 100 G CÔTES DE GENÈVE – Decoração de partes
funcionavam independentemente uns dos cada um (100 vezes a força da gravidade). do movimento – geralmente, as platinas e
outros desde finais do séc. XIX. Actual- Dado que o COSC está apenas disponí- as pontes – feita de linhas fazendo lembrar
mente, o COSC tem a sua direcção em La vel para certificar relógios feitos na Suíça, ondas. A alta-relojoaria tem como uma das
Chaux-de-Fonds e três laboratórios – em
Bienne, Genebra e Le Locle. O COSC
emite mais de um milhão de certificados
oficiais de cronómetros por ano, mas isso
não representa mais do que 3 por cento da
produção relojoeira suíça, o que realça o
carácter excepcional do cronómetro. As
provas a que são submetidos os relógios
apresentados no COSC dizem apenas res-
peito a estatísticas de provas laboratoriais,
aplicadas a movimentos, e não a relógios
determinados. O COSC costuma sublinhar
que essas provas não têm absolutamente
nada que ver com uma simulação de com-
portamento dos relógios quando usados no
pulso. Lembrando a confusão existente
entre os termos “cronógrafo” (medidor de
tempos intermédios) e cronómetro (relógio
de alta precisão), o COSC sublinha que
um relógio, mesmo que cronógrafo, só
poderá ostentar o título de cronómetro
oficial se passar os critérios da norma ISO
3159 v.9.97. Todos os relógios são testados
individualmente, durante vários dias, e
em diferentes posições e temperaturas.
A essa regulamentação técnica, o COSC
acrescenta uma condição suplementar –
os cronómetros têm de ter uma indicação

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 247
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

suas características principais a decoração


(muitas vezes manual) dos movimentos,
mesmo quando eles não estão à vista.
A guillochage ou a perlage são outros
estilos de decoração, e fazem parte dos
chamados Métiers d’Art.

CRONOCOMPARADOR – Aparelho
conhecido desde 1933 e que permite de-
terminar rapidamente (em 1 a 3 minutos)
a marcha instantânea (ou seja, durante o
período de observação) de um relógio.
Podem detectar-se assim os defeitos da
máquina: irregularidade na transmissão
da força, causada pelas engrenagens, va-
riações de esforço da corda, etc. Funcio-
na transformando o som produzido pelo
escape, o tic-tac em corrente eléctrica,
que por sua vez acciona um estilete. Este
regista num gráfico o comportamento do
relógio. Vibrograf ou Time-O-Graf eram
as marcas mais conhecidas no séc. XX,
mas o avanço da electrónica tornou-os
obsoletos.

CRONÓGRAFO – Quando foram in- dor o tempo medido, os cronógrafos de minuto com contagens de apenas 15 ou
ventados, os relógios que mediam tempos hoje registam apenas em acumuladores 30 segundos. Quando apenas um botão
intermédios também os registavam por os tempos intermédios. Ao mecanismo serve para accionar o cronógrafo, diz-se
escrito, daí o termo cronógrafo para aquilo normal e aos ponteiros das horas, minutos que este é monopulsante. Há cronógrafos
que correctamente se deveria designar por e segundos, um cronógrafo acrescenta ditos à rattrapante e ou com flyback, duas
cronoscópio. Foi a 1 de Setembro de 1821 um outro que comanda uma agulha de funções que se têm prestado a confusão.
que Nicolas Mathieu Rieussec, relojoeiro segundos, colocada geralmente ao cen- A forma mais fácil de as distinguir é saber
do rei, mediu uma competição de cava- tro do mostrador. Mediante um botão, que a primeira necessita de dois ponteiros
los organizada no Campo de Marte, em essa agulha é accionada, dando uma volta de segundos do dispositivo de cronógrafo
Paris. A 9 de Março seguinte, ele regista completa em cada minuto. Mostradores e a segunda apenas de um.
uma patente por cinco anos para “um adicionais têm um segundo ponteiro de
guarda-tempo ou contador de caminho minutos, que acumula até 60 minutos CRONÓGRAFO À RATTRAPANTE – Re-
percorrido”, denominado “cronógrafo e um segundo ponteiro de horas, que cuperador em português, split-seconds
de segundos” e indicando até um quinto acumula até 12 horas. O mesmo botão em inglês ou Doppelchronograph em
de segundo. Se o termo cronógrafo era serve para parar a contagem. Um segun- alemão. Cronógrafo com dois botões e
então perfeitamente apropriado para o do botão faz os ponteiros do cronógrafo dois ponteiros dos segundos – o primeiro
novo invento – a agulha dos segundos, voltarem a zeros. Há escalas variadas é o habitual do cronógrafo, o segundo é
colocada ao centro, era formada por duas que aproveitam esta função – desde os o rattrapante. Permite a cronometragem
partes sobrepostas, uma com um depó- taquímetros – permitem calcular distân- de vários fenómenos que comecem simul-
sito de tinta, a outra com um estilete que cias mediante a relação tempo/velocidade; taneamente mas cuja duração seja dife-
escrevia num papel colocado no mostra- aos pulsómetros – medem pulsações por rente. Terminado o primeiro fenómeno,

248 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
retoma a sua marcha. Este dispositivo previstos na norma ISSO 3159 recebem
permite a um avião ou a um navio mudar um certificado oficial de cronometria.
de rumo segundo um programa preparado. O mais célebre é emitido na Suíça pelo
Logo que uma sequência termina, a pres- COSC. Quando vai para o consumidor
são sobre o botão leva o ponteiro a zeros final, um relógio com certificado COSC
e põe em marcha a sequência seguinte, não deve na sua marcha diária variar mais
permitindo ganhar assim alguns segundos do que 6 e menos que 4 segundos. Esses
na manipulação do cronógrafo. parâmetros são difíceis de conseguir para
relógios mecânicos, mas facilmente atin-
CRONÓGRAFO RECUPERADOR – gíveis para relógios de quartzo, pelo que o
O mesmo que cronógrafo à rattrapante. COSC é mais exigente com estes últimos.
A inclusão de um sistema electrónico
CRONOMETRIA – Ciência da medida que compensa a variação de frequência
exacta do tempo. do quartzo em função da temperatura
(movimentos termocompensados) é uma
CRONOMETRISTA – Pessoa ou ins- das exigências. Apenas três por cento da
tituição encarregada de medir tempos produção suíça se submete ao controlo
numa determinada circunstância – numa de qualidade COSC, pelo que um relógio
fábrica, numa competição desportiva, que ostente o seu certificado tem um bom
numa expedição científica. É o timekeeper argumento junto do consumidor final.
inglês. As marcas de relógios batem-se Guerra Junqueiro, na sua correspondên-
por ser designadas timekeepers oficiais cia, e referindo-se a um dos principais
e exclusivas dos grandes eventos des- políticos da Primeira República, Afonso
portivos como os Jogos Olímpicos ou Costa, dizia: “é o tipo de bicho de escri-
Campeonatos do Mundo, pois com isso tório que julga tudo segundo a papelada e
pára-se o rattrapante, permitindo ler a projectam a sua imagem e associam-se a mete a vida viva dentro de articulados…
sua duração; depois, faz-se o rattrapante medições de tempo que têm de ser exactas é um ciclone e um cronómetro”.
voltar a ficar em cima do outro ponteiro e disponibilizadas o mais rapidamente
dos segundos, com o qual se sincroniza; possível. CRONÓMETRO DE MARINHA – Reló-
terminado o segundo fenómeno, pára-se gio de grande tamanho, encerrado numa
de novo o rattrapante, permitindo a leitura CRONÓMETRO – Etimologicamente, caixa, instalado numa suspensão cardan e
da sua duração, e assim sucessivamente. designa qualquer instrumento destinado à utilizado no mar para determinar a longi-
Terminado o último fenómeno, pode-se medição do tempo, mas o uso consagrou-o tude. O cronómetro de marinha costuma
imobilizar os dois ponteiros dos segundos como significando relógio de alta precisão. usar materiais especialmente resistentes
e voltar a repor a zeros. Um dos botões O público em geral confunde cronómetro à corrosão e às amplitudes térmicas. Ob-
acciona apenas o rattrapante, o outro o com cronógrafo, mas a maioria dos cro- jecto crucial na vantagem tecnológica
ponteiro normal dos segundos do cronó- nógrafos não são cronómetros e muitos do Ocidente nos séculos XVIII e XIX,
grafo. Não confundir com flyback. destes não são cronógrafos. Segundo a foi destronado pelo GPS, o Global Posi-
definição aceite nos meios relojoeiros, tioning System. Foi John Harrison, um
CRONÓGRAFO COM FLYBACK – No “um cronómetro é um relógio de alta pre- carpinteiro, quem fez os primeiros cronó-
mundo dos cronógrafos há ainda a função cisão, capaz de marcar segundos, e cujo metros de marinha, ganhando um prémio
dita flyback, retour en vol, em francês. movimento é testado durante vários dias, pecuniário estabelecido pelo governo de
Trata-se de um mecanismo de contagem em diferentes posições e a várias tem- Inglaterra para quem conseguisse resolver
de tempos que se pode fazer parar e re- peraturas e choques, por um organismo a questão do achamento da longitude
gressar a zero com apenas uma pressão oficial independente”. Os mecanismos no mar. Jacob de Castro Sarmento, um
de botão. Quando este se solta, o ponteiro que satisfaçam os critérios de precisão médico judeu português refugiado em

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 249
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

Londres, na sua Theorica Verdadeira DECLINAÇÃO (SOLAR) — Ângulo que


das Marés, conforme a philosophia do in- mede o afastamento de um astro (Sol)
comparável cavalheiro Isaac Newton, de em relação ao equador celeste, mais pre-
1737, diz a dado passo que, aos princípios cisamente, o arco de meridiano desde o

D
da filosofia newtoniana, à compreensão equador celeste ao astro. A declinação do
das forças centrípeta e centrífuga “deve Sol é norte ou positiva desde o equinócio
o seu descobrimento a pasmosa fábrica da Primavera ao do Outono, é nula nos
de um relógio de dois pêndulos, que, com equinócios, e é sul ou negativa na restante
mútuo acesso e recesso, se movem num parte do ano. Estes cálculos são usados
meio círculo; cuja construção e meca- na construção e orientação de relógios
nismo serve de admiração aos artífices solares.
mais peritos e aos homens mais sábios;
pois nem os maiores balanços de um na- DAR CORDA – O mesmo que armar. DECORAÇÃO – Tanto a caixa como o
vio lhe podem alterar o seu movimento, A expressão vem do tempo em que os mostrador ou o movimento de um relógio
nem o maior grau de calor o faz ir mais relógios de torre tinham como força mo- podem ser decorados. Os relógios-jóia apre-
apressado, nem o maior grau de frio o triz pedras ou outros objectos pendurados sentam soluções exteriores mais próximas
faz ir mais vagaroso, de maneira que, em cordas que se iam desenrolando pelo da joalharia do que da relojoaria, pelos ma-
com toda a variedade de tempos, nunca efeito da gravidade de grossos tambores teriais preciosos empregues e pelo tempo e
tem excedido de um segundo por mês a de madeira. Em relojoaria fina, deve dar-se talento investidos. Mas, em alta-relojoaria,
sua diferença: circunstâncias que fazem corda ao relógio no início do dia activo, também o interior do relógio de pulso,
mais que provável o conseguir-se aquele para manter a máxima tensão em todo o e sobretudo este, é decorado. Gravação
descobrimento da longitude por meio movimento, ajudando à sua precisão e à e polimento à mão das mais minúsculas
deste admirável instrumento”. Trata-se resistência ao choque. peças, a sua esqueletização, estão entre
da primeira descrição em português do os trabalhos mais apreciados, contidos na
cronómetro de marinha de Harrison. DAR HORAS – O mesmo que “bater” ciência e tradição dos Métiers d’Art.
ou “tocar”.
CRONOSCÓPIO – Designação correcta DEFORMAÇÃO – Várias peças do reló-
do que geralmente se designa por cronó- DATA – Indicação do dia da semana, do gio sofrem deformações fixas. Quando a
grafo. O cronoscópio indica os intervalos dia do mês, do nome do mês, do ano. deformação é elástica, não há problema.
de tempo enquanto o cronógrafo, de início, Nos relógios, estas informações com- Quando ela é permanente ou plástica,
os registava por escrito. plementares, as chamadas complicações, têm de ser substituídas, esteja-se a falar
atingem o seu expoente máximo neste tipo da espiral, da corda ou da caixa.
CUBO – Espanholismo. Nome que por de funções com o calendário perpétuo.
vezes os relojoeiros dão ao tambor da DESARMAR – Em relojoaria, acto de
corda. DATAÇÃO POR CARBONO 14 – O car- redução ou supressão do esforço elás-
bono 14, isótopo radioactivo do carbono, tico produzido por uma mola. É preciso
CURVAS OU LINHAS DE DECLINA- encontra-se presente em quase todos os desarmar a corda antes de iniciar a des-
ÇÃO — Linhas por vezes traçadas nos seres vivos. Quando estes morrem, o C14 montagem de um mecanismo.
mostradores dos relógios de sol corres- decompõe-se, perdendo aos 5 mil anos
pondentes ao percurso da sombra marcada metade da sua radioactividade. Desta for- DESCENTRADO – Diz-se de pontei-
pelo extremo do gnómon em determinadas ma, é possível fazer a datação aproximada ros das horas, minutos ou segundos que
datas do ano, habitualmente os solstícios e de achados arqueológicos. não estão colocados no eixo central do
equinócios. Com essas linhas os relógios mostrador.
de sol funcionam simultaneamente como DATÓMETRO – Nome que caiu em de-
calendários solares pois permitem avaliar suso mas que designava um relógio com DESCONTAR – Em linguagem de re-
a declinação do Sol. calendário. lojoaria, diz-se que um relógio está a

250 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
“descontar” quando está a fazer soar horas
diferentes das mostradas pelos ponteiros.

DÉTENTE – Mecanismo que tem por fun-


ção impedir em determinados momentos
que certas peças façam os movimentos
que lhes são próprios. Um escape de dé-
tente, usado em relógios de precisão, faz
que a roda de escape seja impulsionada
apenas numa direcção.

DIA – Tempo que separa o nascer e o pôr


do Sol, também designado por “dia natu-
ral”, e que tem duração variável ao longo
do ano. Um heliómetro mede as horas de
luz solar ao longo de um dia. Ou período
baseado na alternância do dia e da noite,
provocada pelo movimento de rotação da
Terra. O dia de 24 horas é uma convenção,
já que a duração desta unidade de tempo
é variável ao longo do ano. A diferença
entre o dia de 24 horas, dia solar médio,
e a sua duração verdadeira traduz-se na
chamada Equação do Tempo. As várias
civilizações tiveram, ao longo da Histó-
ria diversas contagens de início e fim do
dia – ao pôr do Sol, ao nascer do Sol, ao
meio-dia. Apenas no final do séc. XIX e
início do séc. XX se generalizou a noção
do início do dia às 00h00.

DIA ASTRONÓMICO – Dia solar médio


que começa ao meio-dia.

DIA CIVIL – Dia solar médio que começa


às 00h00.

DIA SIDERAL – Tempo que decorre entre


duas passagens consecutivas superiores de
um ponto convencional da esfera celeste
(vernal) pelo semimeridiano superior do
lugar. Na prática: tempo que decorre entre
duas passagens meridianas de uma estrela
que não o Sol. O dia sideral tem 23 horas
56 minutos e 4,1 segundos, menos que o
dia solar verdadeiro. Isto porque a Terra

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 251
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

orbita o Sol no mesmo sentido em que roda


sobre si mesma e portanto avança na sua
órbita, tendo de rodar cerca de 1 grau, ou
4 minutos adicionais, para se encontrar
diariamente com o Sol na mesma posição
meridiana.

DIA SOLAR MÉDIO – Resulta da média de


duração de todos os dias do ano, convencio-
nando-se que um dia tem sempre 24 horas,
ou 1440 minutos ou 86.400 segundos.

DIA SOLAR VERDADEIRO – Intervalo


de tempo que decorre entre duas passa-
gens superiores consecutivas do Sol pelo
meridiano do lugar (meio dia solar). É,
em média, 3 minutos e 56 segundos mais
longo que o dia sideral. A sua duração
oscila entre 23 horas 59 minutos e 30 se-
gundos e 24 horas 0 minutos e 30 segundos.
Essa diferença é devida ao movimento de
translação da Terra em torno do Sol, de
aproximadamente 1 grau (4 minutos) por
dia. Como a órbita da Terra em torno do Sol
é elíptica, a sua velocidade de translação
não é constante, causando uma variação
diária de 1° 6’ (4m27s) em Dezembro, e 53’
(3m35s) em Junho. No final de uma órbita
completa, no entanto, o ano solar médio é
igual ao ano solar verdadeiro.

DIGITAL – Do latim, digitalis, referente a


dedos. Que diz respeito aos algarismos de
0 a 9. Em relojoaria, a leitura do tempo pode
fazer-se de forma analógica ou digital. Na
primeira, ponteiros ou outros dispositivos
relacionam o tempo decorrido com um
espaço delimitado e essa relação espaço-
-tempo é intuitiva – sabe-se a quantidade do
tempo que passou, o tempo que é, o tempo
que falta. Na segunda, as indicações de
tempo ou outras fazem-se através de dígitos
(números) ou outros sinais, que aparecem
em janelas, sendo menos natural a relação
espaço-tempo e mais difícil relacionar o
tempo que passou ou o tempo que falta,

252 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
mas tem-se leitura directa e concisa sobre e apresentação de novos modelos. Nas ELINVAR – (De elasticity e invariant).
o tempo que é. Há quem defina a leitura principais feiras do sector, Baselworld e Termo genérico que inclui ligas à base de
digital como sendo “aos saltos”, em contra- Salon International de Haute Horlogerie aço e níquel, que não sofrem praticamente
ponto com a analógica, que seria contínua. – SIHH, os fabricantes apresentam muitas alterações de volume dentro dos limites
Assim sendo, alguns puristas defendem que vezes dummies. de temperatura considerados normais em
mesmo os relógios de mostrador analógico relojoaria (-10º e até 30º C). O Invar, o
têm leitura digital, pois os ponteiros não DUPLO FUSO – Expressão utilizada para Glucydur ou o Nivarox são outras ligas
avançam em contínuo mas em pequenos relógios que dão a hora em dois fusos metálicas usadas em relojoaria, especial-
e quase sempre imperceptíveis saltos (essa horários. Também se diz “função GMT”. mente nas rodas de balanço.
observação pode porém fazer-se claramen-
te no ponteiro dos segundos). EMBRAIAGEM – Em relojoaria, utili-
zam-se vários sistemas de embraiagem,
DISCO – Em relojoaria, além de pontei- automáticos ou manuais. Nos cronógrafos,
ros, empregam-se discos para a indicação as básculas e outros órgãos accionados por

E
de hora, minutos, segundos, hora uni- botões são dispositivos de embraiagem
versal, horas saltantes, reserva de corda, e desembraiagem – colocam em acção
data, dia, semana, mês, fases da Lua, rodas dentadas, accionam ou libertam
despertador, segundo fuso horário, etc. outros órgãos.

DISTRIBUIÇÃO DE TEMPO – Apenas ENGOMAMENTO – Falando de óleos de


com a aplicação da electricidade à relojoa- relojoaria, espessamento devido a altera-
ria começou a haver sistemas de distribui- ções químicas. A oxidação é a principal
ção de tempo, regulados por um relógio- ÉBAUCHE – Movimento de relógio incom- causa do engomamento dos óleos.
-mestre e aplicados a uma rede de relógios pleto. As antigas ébauches, até cerca de
escravos. No séc. XIX, os sistemas de 1850, compreendiam apenas a platina, as ENERGIA – A relojoaria utiliza as mais
canhão da hora, no Porto e em Lisboa, ou pontes, o fuso e o barrilete. No início do variadas fontes de energia: gravidade,
do Balão do Arsenal, apenas na capital, séc. XIX a ébauche era composta por duas molas, ar comprimido, electricidade, ca-
foram os primeiros sistemas de distri- platinas com pilares e pontes, barrilete, lor, luz solar, radioactividade, etc.
buição oficial de tempo em Portugal. Ela fuso, raquete, e mais algumas peças de en-
era feita por processos electromecânicos grenagem, tudo grosseiramente trabalha- ENERGIA POTENCIAL – Em relojoaria
e vinha de observatórios astronómicos, do. A ébauche moderna é um movimento grossa, a energia que um peso pode pro-
como o da Tapada da Ajuda. Depois, via de relógio, com ou sem rubis, mas sem duzir antes de a sua corda se ter esgotado
rádio, ou telefone, o tempo exacto tor- as partes reguladoras, corda, mostrador no tambor; em relojoaria média ou fina é
nou-se acessível a todos. Com o advento ou ponteiros. Frédéric Japy (1749-1813), a energia que uma corda pode produzir
da Internet e a massificação do uso dos relojoeiro francês, foi o primeiro a fabricar até estar completamente desarmada no
computadores pessoais, é hoje possível ébauches, calibres em bruto, através de barrilete ou tambor.
importar o Tempo Universal Coordenado procedimentos mecânicos.
para uso pessoal. De qualquer forma, o ENGRENAGEM – Dispositivo de trans-
emissor oficial de tempo em Portugal é o EFEMÉRIDES – Espécie de almanaque. missão de força e movimento por meio
Observatório Astronómico de Lisboa, que Publicação anual com calendário e posi- de rodas dentadas. Na rodagem de um
o distribui também pela Internet. ção dos astros, bem como notícia de factos relógio, uma engrenagem é composta por
curiosos e de interesse geral. uma roda cujos dentes estão em contacto
DUMMY – Um relógio dummy é consti- com os dentes de um pinhão.
tuído apenas pelas suas partes visíveis – EIXO – Em relojoaria, sinónimo de árvo-
caixa, mostrador, ponteiros. Os dummies re. Diz-se “um eixo do balanço” e “uma ENGRENAR – Encaixar. Falando de duas
são usados como amostras para venda árvore do barrilete”. rodas dentadas, actuar de modo conjunto,

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 253
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

com uma roda a fazer movimentar a outra. EQUADOR – Círculo máximo do globo paletes. O escape de cilindro, também
O barrilete, por exemplo, engrena com o terrestre, perpendicular ao eixo dos Pólos. chamado escape horizontal, inventado em
pinhão do centro. 1725 por George Graham, é constituído
EQUINÓCIO – Data em que o Sol atinge por meio cilindro, que encaixa nos dentes
EPACTA – Noção relacionada com o a vertical sobre o Equador. O equinócio da roda de escape, e vem substituir o es-
chamado Ciclo de Meton, o astrónomo de Março (21 ou 22) marca o início da cape de haste. O escape de força constante
ateniense que descobriu que, de 19 em Primavera e o equinócio de Setembro tem um dispositivo, fuso, que transmite à
19 anos solares, se repetem as datas em (22 ou 23) marca o início do Outono. Há roda de escape uma força sempre igual.
que calham as luas novas. A Epacta é o relógios mecânicos, com complicações
número de dias da Lua a 1 de Janeiro de astronómicas, que dão essa indicação. ESCAPE COAXIAL – Inventado no final
um determinado ano. Todas estas noções do séc. XX por George Daniels, engenhei-
serviram à Igreja Cristã para formar o seu ERA – Período de tempo com início numa ro da Omega, permite reduzir fortemente
calendário litúrgico. determinada data, ligada a uma ocorrência a fricção. É composto por três elementos:
especial, e que serve de “ano zero” para a uma rodagem intermédia, uma rodagem
EQUAÇÃO DO TEMPO — Designação numeração dos anos desse período. A Era coaxial e uma âncora com três paletes de
habitualmente dada ao gráfico que mos- de Roma começou na data da fundação rubi (em vez das duas habituais). Equipa
tra a diferença entre os tempos solares mítica da sua cidade, ab urbe condita, um calibre com 28.800 alternâncias por
médio e verdadeiro (o primeiro menos o pelos gémeos Rómulo e Remo. A Era hora, de balanço sem raquete.
segundo) em função do dia do ano. Qua- Cristã foi criada por Dionísio, o Exíguo,
tro vezes por ano os tempos coincidem e um abade natural da Escitia, actual Mol- ESCAPE DE VARA – É o primeiro tipo
a equação obtém o resultado zero (16 de dávia. Começa na data do nascimento de de escape que se conhece em relojoaria
Abril, 14 de Junho, 2 de Setembro e 25 Cristo, a 1 de Janeiro do ano 754 da Era mecânica. Terá sido inventado algures na
de Dezembro, mais dia menos dia, con- de Roma. Só quatro séculos mais tarde a Inglaterra ou em Itália, no final do séc.
forme os ajustamentos de ano bissexto). Era Cristã é oficialmente adoptada pela XIII ou início do séc. XIV, por autor ou
A equação do tempo tem um máximo Igreja cristã na datação dos seus docu- autores desconhecidos. Os escapes de
de +16 minutos e meio em princípios de mentos. Em Portugal, a Era Cristã entrou varas usavam uma roda catarina (catalina)
Novembro e um mínimo de -14 minutos em vigor a 22 de Agosto de 1422, por ou roda de encontro (roue de rencontre,
e um quarto em meados de Fevereiro. Os decreto do rei D. João I. Até então, o ca- em francês; crown-wheel, em inglês) que
relógios de sol têm frequentemente no lendário português regia-se pela chamada se movia por contacto com uma patilha
seu quadrante a representação gráfica Era Hispânica, com início a 1 de Janeiro colocada numa vara ou eixo vertical, por
da equação do tempo, uma figura em de 716 da Era de Roma (correspondendo sua vez ligada a um balanço horizontal,
“oito”, ou analema. Os relógios mecâni- ao ano 38 a.C.), que celebrava a conquista tipo foliot.
cos podem ter este tipo de complicação, romana da Península Ibérica. A Era Cristã
indicada ao longo do ano por um ponteiro foi globalizada e, para lhe retirar a carga ESCOLA DE RELOJOARIA DA CASA
suplementar. Foi a precisão introduzida religiosa, passou também a ser designada PIA DE LISBOA – A célebre Casa dos 24,
pelo escape de âncora e o pêndulo que de Era Comum. em Lisboa, tinha registada uma Corpo-
tornou possível observar a diferença entre ração de Relojoeiros e a aprendizagem
os tempos medidos pelo relógio de sol ESCAPE – Mecanismo colocado no fim do ofício fazia-se em Portugal na boa
e pelo relógio mecânico. Os relojoeiros da rodagem, entre as rodas e o órgão tradição medieval – o aprendiz estagiava
ingleses Tompion e Quare, por volta de regulador da maioria dos medidores de na oficina do mestre e só depois de muitos
1695, foram os primeiros a introduzir esta tempo. O escape tem por função manter anos e de ter feito a sua obra-prima (pri-
complicação nos mecanismos. A tabela as oscilações do órgão regulador, balanço meira obra) podia (ou não) ser admitido
da equação do tempo foi muito útil du- ou pêndulo. Há muitos tipos de escape, pelos seus pares. A primeira escola ins-
rante séculos para o acerto dos relógios sendo mais usual o de âncora, inventado titucional de Relojoaria que se conhece
mecânicos pelo tempo marcado pelos por Thomas Mudge (1715-1794), relojoeiro no país funcionou adstrita à Real Fábrica
relógios de sol. inglês, que desde logo usou rubis para as dos Relógios, fundada na segunda metade

254 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 255
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

do séc. XVIII no complexo fabril das lojoeiro, Jean-Pierre Delay. Durante dez


Amoreiras, ao Rato, em Lisboa, junto à anos, e a partir deste acordo, a Indús-
Fábrica das Sedas, uma das iniciativas do tria Relojoeira Suíça assegurou todas as
marquês de Pombal para tentar industria- despesas de funcionamento da Escola,
lizar o país e torná-lo menos dependen- incluindo os vencimentos do mestre e do
te de importações. Mestres relojoeiros adjunto do Curso, Américo Henriques.
franceses, mandados vir expressamente, Este, com a reforma de Delay, passou a
orientaram operários e aprendizes durante ser o responsável pelo curso, mantendo-se
várias gerações, até a Real Fábrica falir. em funções até 2007. Hoje, a Escola de
Durante o final do séc. XIX, funcionou Relojoaria da Casa Pia mantém acordos
uma oficina-escola de relojoeiros na Pe- de cooperação com várias instituições
nitenciária Central de Lisboa. Já desde suíças, nomeadamente o WOSTEP.
meados do século XIX, a Real Casa Pia de
Lisboa pagava a grandes mestres relojoei- ESCOVADO – Diz-se do aço ou outro
ros da cidade para que estes recebessem metal que sofreu tratamento abrasivo que
alunos seus como aprendizes, em regime lhe tira o brilho. Há relógios com caixa
de externato. Com o incentivo de homens de aço ou ouro escovado, em contraponto
como Augusto Justiniano de Araújo ou com aço ou ouro polido, ou usando em
Veríssimo Alves Pereira, passa mesmo a simultâneo as duas formas de tratamento.
haver uma oficina-escola, a partir de 1894,
num palacete situado na Rua de São João ESCRAVO – Um relógio que está ligado
da Mata, n.º 113, alugado pela Casa Pia. a um outro e que depende dele.
O ensino será depois transferido para o
Mosteiro dos Jerónimos, pois em 1895, por ESFERA ARMILAR – Do latim armilla,
iniciativa do Par do Reino e Provedor da 1950, com seis alunos, de idades rondando anel de ferro. Modelo do Universo, feito
Real Casa Pia de Lisboa, Simões Margio- os 13 anos. Walter Sutter foi trabalhar de anéis de metal concêntricos (as esferas
chi, Augusto Justiniano de Araújo passa em seguida como ditrector técnico de onde se julgava que evoluía cada um dos
oficialmente a director técnico da Escola A Boa Reguladora, a fábrica portuguesa corpos celestes), tendo a Terra (ou o Sol,
de Relojoaria daquela instituição, que de relojoaria média, em Vila Nova de em modelos mais recentes) como centro.
ele tanto pressionara para que se criasse. Famalicão, e o Curso de Relojoaria ficou Assinala ainda o Equador, os Trópicos e
Durante meio século, o ensino da relojoa- de 1960 a 1963 sob a responsabilidade os Pólos Celestes, bem como a faixa do
ria na Casa Pia prossegue, embora com do que fora o seu melhor aluno, Jaime Zodíaco. Instrumento de localização dos
intermitências, devido em grande parte Ferreira Ribeiro. Também este é convi- astros e da sua posição relativa (real ou
à falta de mestres relojoeiros dispostos a dado pela Reguladora e substitui Sutter, aparente) ao longo do tempo, servia para
trocar uma actividade altamente rendo- que regressou à Suíça. É em 1963 que prever eclipses e medir o dia sideral, sendo
sa pela filantropia do ensino, problema um consórcio designado genericamente pois um relógio. Desde D. Manuel I que a
que se repetirá ao longo da história do por Indústria Relojoeira Suíça, formado esfera armilar passou a ser uma espécie
estabelecimento, único no seu género no pela Federação Relojoeira Suíça e pelo de emblema da Expansão portuguesa.
país. Já no século XX, com a reforma do Grupo Ebauches SA, estabelece com a
ensino de 1948 e a criação dos Cursos de Provedoria da Casa Pia de Lisboa um ESPIRAL – Pequena mola enrolada em
Formação Industrial e Comercial, o Go- “Acordo de Cooperação Técnica” com a espiral, presa nas extremidades ao balanço
verno contrata a vinda da Suíça do mestre finalidade de reestruturar, modernizar e e à ponte do balanço (o galo). Fazendo
Walter Sutter, para dar início a um ensino alargar o âmbito do ensino da relojoaria conjunto com o balanço, é o órgão regula-
profissional que, até hoje, nunca mais foi em Portugal. Nesse sentido, a parte suíça dor do relógio, cuja precisão depende em
interrompido. A Escola começou efecti- equipou completamente a antiga Escola, grande parte da qualidade da espiral. Nos
vamente a funcionar em 1 de Outubro de e enviou para Portugal outro mestre re- primeiros relógios (portáteis) o balanço

256 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
( foliot) oscilava sem espiral. O período termocompensada, que apareceu no início ESTADO – O estado de um relógio é o
de oscilação era irregular e não havia do séc. XX, começou a utilizar novos avanço ou o atraso observados num com-
possibilidade de afinação. Procurou-se materiais como o Elinvar, amagnéticos e parador de tempo. A diferença entre dois
submeter as oscilações do balanço a uma inoxidáveis. Hoje, o Nivarox é o material estados, depois de 24 horas de marcha,
reacção elástica, atando-o a pêlo de javali mais utilizado, mas há experiências com é a chamada marcha diária. Deve distin-
ou a uma mola que chocava contra uma materiais compósitos como fibra de vidro, guir-se o estado da correcção. O estado
patilha fixa. A espiral foi inventada por fibra de carbono, cerâmicas ou silício. de um relógio que adianta 20 segundos
volta de 1664. A espiral plana, imaginada em cada 24 horas (+20), deve sofrer uma
por Huygens em 1675, foi a mãe das espi- ESQUELETO – Diz-se de um relógio cujos correcção de – 20 para chegar ao estado
rais. Tinha apenas umas quantas espiras e, componentes – platina, pontes, outras pe- 0 (exactidão máxima).
embora imperfeita, dava ao balanço o que ças, como os ponteiros – foram escavados
lhe faltava para alcançar a precisão dos no miolo, permitindo ver-se as várias cama- ESTADO DO CRONÓMETRO – Ope-
relógios de pêndulo. A espiral Breguet, in- das. Sempre contido numa caixa com dois ração que se fazia a bordo dos navios
ventada por Abraham-Louis Breguet, tem fundos transparentes, o relógio esqueleto é quando se calculava a longitude e que
a sua ponta externa a um nível superior ao geralmente ainda decorado, muitas vezes corresponde ao número de horas, minutos
corpo e uma forma que ele desenvolveu à mão. Se, a isso, de juntarem materiais e segundos que se deve acrescentar à hora
de forma empírica, mas que lhe dá um preciosos e complicações, está-se perante dada pelo cronómetro, para se ter a hora de
movimento mais concêntrico. A espiral relógios dos mais caros do mundo. Greenwich. Este “estado do cronómetro”

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 257
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

não ia implicar o “acerto” da máquina, temperatura entre 18º e 25º, com imersões
já que os cronómetros de marinha são seguidas de 5 minutos a 40º, seguidos de
os únicos relógios a que nunca se acer- 5 minutos a 20º e de outros cinco minutos
tam os ponteiros, não havendo sequer a 40º; imersão numa câmara de água sob
dispositivo para o fazer. Hoje em dia, o pressão e onde se simula durante 5 minu-
posicionamento de um navio é dado pelo tos a pressão na profundidade indicada
sistema GPS, mas as marinhas de guerra em metros no mostrador ou no fundo da
continuam a ter cronómetros de marinha caixa. Esta pressão deve ser no mínimo de
a bordo, para o caso de todos os sistemas 2 bares ou duas atmosferas, ou seja, 2 kg/
electrónicos falharem. força por cm2, o que corresponde a uma
profundidade de 20 metros. A verificação
ESTANQUIDADE – Os movimentos dos de estanquidade é realizada efectuando-se
relógios devem estar protegidos ao máxi- antes e depois de cada imersão um teste
mo do pó, da humidade, da evaporação de condensação (se, variando a tempera-
dos óleos. Procura-se que as caixas sejam tura ambiente, aparecerem gotículas de
o mais estanques, herméticas, impermeá- água no interior do mostrador, é porque o
veis possível. A propriedade de resistên- relógio não passou o teste). Existem três
cia de uma caixa de um relógio à água é categorias de relógios estanques. Na pri-
medida em bares (um bar equivale a uma meira, apelidada de “simples”, os relógios
atmosfera ou a 10 metros). Os relógios que têm o seu interior protegido da humidade
se reclamam “estanques” ou “resistentes (transpiração, gotas de chuva, condensa-
à água” devem resistir a uma utilização ção) e o relógio tem de passar 30 minutos
normal, do tipo nadar. Os relógios que imerso a 1 metro de profundidade. Estes
se reivindicam “de mergulho” devem relógios não devem ser levados para o
ter caixas estanques até pelo menos 100 banho. Na segunda, apelidada de “para
metros (10 bares), serem muito resisten- uso quotidiano”, o relógio tem geralmente
tes ao choque e aos campos magnéticos, a indicação de limite de estanquidade no
terem mostradores altamente luminosos e fundo da caixa (10 m, 20 m ou 30 m) e
braceletes especialmente fortes. De notar pode ser usado em piscinas e em mergulho
que estes relógios são tão próprios para de pouca profundidade. Finalmente, a na caixa do relógio, aumentaria de volume,
a profundidade marinha como para as terceira categoria, a de “relógios de mer- fazendo-o explodir), devendo para isso
altitudes extremas – onde a pressão at- gulho”, ou “diver’s watches”, em inglês, estar munidos de válvulas de hélio.
mosférica diminui brutalmente. De qual- em que está garantida a estanquidade
quer modo, há uma norma internacional, a 100 ou 200 metros de profundidade, ESTILO — Designação por vezes usada
ISO 2281, que tem regras muito precisas chegando aos 1000 metros. Para além dos para indicar a parte do gnómon que pro-
quanto à estanquidade dos relógios. Os testes de estanquidade correspondentes jecta a sombra útil num relógio de sol.
termos “étanche” ou “water-resistant” à profundidade desejada, os relógios de Por exemplo, se o gnómon for triangu-
são os únicos oficialmente aceites, embora mergulho devem ter as seguintes carac- lar, como é habitual em relógios de sol
a linguagem do marketing faça uso do terísticas: luneta unidireccional dividida horizontais, o estilo é a aresta superior
“waterproof ” ou de outras frases. Se um em escala de 5 em 5 minutos, indexes do triângulo, aquela cuja sombra indica
relógio indica isso no mostrador é porque, e ponteiros luminescentes e legíveis a a hora.
à saída da fábrica, está em condições de 25 cm na água, serem antimagnéticos,
resistir à entrada de água a determinadas resistentes ao choque, à água salgada e à ESTRELA – Disco com dentes triangula-
profundidades. O controlo de estanqui- atmosfera contendo hélio (o gás usado nas res, utilizado geralmente nas indicações
dade faz-se de duas maneiras: imersão câmaras de descompressão, para ajudar os de calendário: estrela dos meses, estrela
a 10 cm de água, durante uma hora, e à mergulhadores a respirar e que, entrando dos dias, etc.

258 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
se pour l’Industrie Horlogère SA e, em
1985, muda para SMH Société Suisse de
Microélectronique et d’Horlogerie SA,
enquanto a ETA toma conta de todas as
actividades da Ébauches SA. Atinge-se
os 10 milhões de relógios Swatch pro-
duzidos. Em 1998, a SMH muda o nome
para Swatch Group Ltd. O Swatch Group
é actualmente o maior grupo relojoeiro
do mundo.

ÉTABLISSAGE – Modo de fabrico dos re-


lógios, que evoluiu muito ao longo dos
séculos. O relojoeiro, por espírito de
independência e pela natureza do seu
trabalho, sempre esteve muito ligado à
forma artesanal de produção, seja pri-
meiro em pequenas oficinas familiares,
seja depois empregando alguns operários.
Esta forma de produção foi sendo subs-
tituída por oficinas cada vez maiores e
com um número crescente de operários,
especializados e a trabalhar em cadeia.
A produção adquiriu assim a forma de
établissage: os relógios eram fornecidos
por établiseurs-comerciantes. Finalmente,
estes transformaram-se, dividindo-se em
produtores e comerciantes. Desta evo-
lução, ficou a tradição da manufactura,
ETA – As raízes da mais importante pro- Em 1975, e tendo em vista os relógios de que algumas marcas contemporâneas
dutora de calibres mecânicos e de quartzo de quartzo, começa a produção maciça ainda se podem reivindicar.
da Suíça podem ser encontradas em Fon- de circuitos integrados na EEM, uma
tainemelon, Neuchâtel, quando Isaac e subsidiária do grupo. Em 1978, dá-se a EXCÊNTRICO – Em relojoaria, peça gi-
David Benguerel, Julien e François Hum- fusão da ETA e da AS. Em 1982, dá-se a ratória cujo centro de rotação é diferente
bert-Droz fundam em 1793 a primeira fusão da ETA, da FHF e da EEM. Em No- do seu centro geométrico. Os cronógrafos,
fábrica de ébauches do mundo. Em 1816 vembro desse ano, é lançado pelo grupo por exemplo, usam parafusos de cabeça
nasce uma sua concorrente, a Fabrique o primeiro modelo Swatch, nos Estados excêntrica e cames excêntricos.
d’Horlogerie de Fontainemelon (FHF). Unidos. Em 1984 dá-se a fusão formal
Em 1856, Urs Schild, um mestre-escola, dos dois grandes grupos de relojoaria EXTRAPLANO – Diz-se de um relógio de
e um tal Dr. Girard fundam em Grenchen helvéticos – a SSIH (Société Suisse de bolso ou de pulso, ou de um movimento,
uma fábrica de ébauches, a primeira no l’Industrie Horlogère SA) e a ASUAG de espessura reduzida. Há quem conside-
cantão de Solothurn, denominada ETA. (Allgemeine Schweizerrische Uhrenin- re o extraplano como uma complicação,
Em 1896, Adolf Schild-Hugi funda a AS dustrie AG) – sob parecer industrial de embora os mais puristas reservem o termo
ébauches, em Grenchen. Em 1926, a ETA, Nicolas G. Hayek, da Hayek Engineering “complicação” apenas para as indicações
a AS e a FHF fazem parte, com outras SA, de Zurique. A nova empresa passa num relógio mecânico que vão para além
empresas, da criação da Ébauches SA. a chamar-se Asuag-SSIH Société Suis- das de hora, minutos e segundos.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 259
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

calculado para ter 29 dias e meio, quando corporação dos ferreiros teve o monopólio
na realidade ele é de 29 dias, 12 horas, do fabrico de relógios de torre antes de
44 minutos e 3 segundos. aparecer a corporação dos relojoeiros.
Thomas Tompion (1639-1713), um dos

F
FECHO – Em relojoaria fina, peça da mais importantes relojoeiros ingleses, foi
pulseira. Pode ser simples, de segurança, ferreiro antes de ser relojoeiro.
em báscula. Nos mais diversos materiais,
com o monograma da respectiva marca, FINISSAGE – Termo relojoeiro para indicar
decorado. a montagem da rodagem de um relógio.

FÉDÉRATION DE L’INDUSTRIE HOR- FLINQUÉ – Gravação à mão ou à máqui-


LOGÈRE SUISSE, FH – Com sede em na – guillochage – e coberta de esmalte.
FACE – Há relógios de face dupla, com Bienne (Biel), a Federação da Indústria
mostrador de ambos os lados da caixa. Relojoeira Suíça foi fundada em 1982 FLUORESCÊNCIA – O mesmo que
mas as suas raízes são centenárias, já luminescência. Propriedade de alguns
FALSIFICAÇÃO – Os relógios de Bre- que resulta da fusão da Câmara Suíça materiais que transformam a luz que
guet, Tompion, Quare, Graham e de de relojoaria, fundada em 1876 e da Fe- recebem noutra de maior amplitude de
alguns outros relojoeiros famosos do deração Relojoeira Suíça, fundada em onda. O SuperLuminova e o Tritium são
séc. XVIII foram alvo de falsificações 1924. Associação profissional de direito materiais usados na relojoaria, aparecendo
quando eles ainda eram vivos. Breguet, privado, a FH, como é conhecida, agrupa em mostradores, ponteiros e indexes, para
por exemplo, tentava combater as falsi- mais de 500 membros, ou seja, mais de os tornar legíveis no escuro.
ficações assinando secretamente cada 90 por cento do conjunto de fabricantes
relógio seu. Nos últimos três séculos, suíços de relojoaria (relógios, movimen- FLYBACK – Em francês, avec remise à zero
milhares de relógios têm sido divididos tos, componentes, etc.). A FH representa ou retour en vol. Diz-se de um cronógra-
– movimento para um lado, caixa para o sector junto das autoridades e organi- fo cujo ponteiro dos segundos pode ser
outro – e feitas depois falsificações com zações económicas suíças, estrangeiras parado (medindo-se um primeiro tempo)
caixas ou movimentos genuínos. Mas e internacionais. e posto imediatamente a zeros, recome-
a falsificação atingiu, no final do séc. çando desde logo nova contagem, tudo
XX e no início do séc. XXI um estado FEMTOSEGUNDO – Unidade de tempo isto premindo apenas uma vez um botão.
epidémico. Mercê da globalização dos equivalente à milbilionésima parte de um Foi inventado na segunda metade do séc.
circuitos comerciais, da emergência de segundo 10-15s. A mais pequena unidade XIX por Henri Féréol Piguet, relojoeiro
novas economias sem regras internacio- de tempo que se conseguiu medir de forma suíço a trabalhar em Londres. Era de es-
nais e da atenção que o crime organizado estável (2007). Os Prémios Nobel da Física pecial utilidade para a navegação aérea
tem dado à indústria da falsificação, ela John Hall e Theodor Hansch inventaram – os pilotos podiam fazer escalas com
é o “inimigo número um” das economias uma técnica para fazer cortes sucessivos cálculos de tempos intermédios sem usar
ocidentais, que ficam com impostos por na emissão de luz de um laser, parando-a o método do cronógrafo normal (premir
cobrar, e das grandes marcas, que per- intermitentemente a cada attosegundo, a botão para contagem, premir botão para
dem também enormes somas. Em 2007, quintibilionésima parte de um segundo parar contagem, premir de novo para
calculava-se que, por cada 20 milhões de (10-18s). Apesar de se conseguir essa in- reiniciar contagem). Hoje, como grande
relógios verdadeiros vendidos houvesse termitência, a estabilização só é possível parte das funções suplementares de um
80 milhões de relógios falsos. ao ritmo do femtosegundo. relógio, serve apenas para demonstrar a
capacidade de uma manufactura em efec-
FASES DA LUA – Diz-se de um relógio FERREIROS – A par dos armeiros, os tuar este tipo de complicação – sempre
que mostra, geralmente através de uma ferreiros foram muitas vezes os primeiros agradável de ver a funcionar. Persiste uma
janela no mostrador, as fases da Lua. artífices de relojoaria grossa, nos sécs. grande confusão entre as funções flyback
O mês lunar, na maioria dos relógios é XIV e XV. Na Inglaterra, por exemplo, a e rattrapante (com recuperador, em por-

260 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
tuguês; split seconds, em inglês). De uma pela primeira vez por um cronista fran- Fundação, órgão máximo da instituição,
forma simples, pode dizer-se que o flyback cês, Jean Froissart, em 1369, e significa teve como primeiro presidente, Franco
usa apenas um ponteiro dos segundos ao “dançar loucamente”. Funcionava com Cologni. A FHH surge na sequência do
centro, enquanto o rattrapante usa dois, um escape de haste. fim da AIHH, Associação Interprofis-
sobrepostos. sional de Alta Relojoaria, e mantém os
FONDATION DE LA HAUTE HOR- seus objectivos – protecção da tradição
FOLIOT – Balanço dos primeiros relógios LOGERIE, FHH – Fundação da Alta re- relojoeira, formação profissional, edu-
de torre. Em português, também se diz lojoaria, instituição de direito privado, cação do consumidor final. A FHH tem
balanceiro. O foliot consistia numa barra criada no Outono de 2005, em Berna, ainda um centro de estudos e pesquisa,
de metal, que oscilava sobre um eixo ou tendo como membros fundadores as um site na Internet, e um departamento de
vara, e que tinha pesos nas pontas. O ritmo manufacturas independentes Audemars organização de feiras e eventos do sector,
de oscilação do foliot podia ser aumenta- Piguet e Girard-Perregaux e o Grupo Ri- como seja o Salão Internacional de Alta
do movendo os pesos das extremidades chemont, o mais importante em termos de Relojoaria, SIHH, que decorre todos os
para o centro. A palavra terá sido usada marcas de alta-relojoaria. O Conselho da anos em Genebra.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 261
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

FORÇA MOTRIZ – A água terá sido a


primeira matéria a ser utilizada na relo-
joaria como força motriz, primeiro em
clepsidras ou relógios de água, depois
para fazer movimentar engrenagens de
relógios astronómicos. Em relojoaria
mecânica, aproveitando o efeito da gra-
vidade, começaram por ser utilizados
pesos, pendurados por cordas; e depois,
molas helicoidais. O relógio automático
vai buscar a sua força motriz ao movi-
mento do pulso do utilizador. A energia
eléctrica foi usada desde o final do séc.
XIX. A energia solar tem sido empregue
em relógios de movimento de quartzo
(que exigem muito menos energia que os
mecânicos). Há, no início do séc. XXI,
modelos híbridos de relojoaria fina de
quartzo, que dispensam pilha: canalizam
a energia do movimento do pulso (como
num relógio automático, através da massa
oscilante) e armazenam-na num acumu-
lador eléctrico, que por sua vez a emite
para um cristal de quartzo. Há também
um tipo de relógio único, o Atmos, que
aproveita as ligeiras diferenças diárias
de temperatura ambiente para disso fazer
a sua força motriz.

FORQUILHA – Pequena forca. No escape


de âncora, é o lado oposto ao local onde
se encontram os rubis.

FOSFORESCÊNCIA – Em relojoaria, o
mesmo que luminescência. Propriedade FUNÇÃO – Os mais puristas na lingua- E transparente, de vidro, para se poder
que certos materiais têm de ficar lumi- gem relojoeira defendem que se deve re- apreciar o mecanismo.
nosos na escuridão depois de terem sido servar o termo “função” para os relógios
expostos à luz. São usados nos mostra- de quartzo e o termo “indicação” para os FUSO – O fuste francês ou o fusee inglês.
dores, ponteiros e indexes. relógios mecânicos. Assim, teríamos a Órgão de forma cónica, munido de uma
“função calendário” para um relógio de ranhura helicoidal, na qual se engrena uma
FOURNITURES – Aportuguesado para quartzo e a “indicação calendário” num corrente ou uma corda presa ao barrilete.
furnituras. Conjunto de diversos órgãos relógio mecânico. O fuso regulariza a força motriz transmiti-
do relógio destinados ao seu fabrico ou da à rodagem. Todos os relógios portáteis
reparação. São vendidas nas casas de FUNDO – Numa caixa de relógio, o fun- dos sécs. XVI e XVII tinham o sistema
furnituras. do é o lado oposto ao mostrador. Pode de fuso. Atribui-se a invenção do fuso a
ser encaixado, enroscado, aparafusado. Leonardo da Vinci, que o representa num

262 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
de referência, o de Greenwich, ganhou a
letra “z”. Os militares e a navegação naval
e aérea internacional usam o chamado
“zulu time”, referindo-se à hora nesse
meridiano. O meridiano ou fuso horário
“a” está imediatamente a leste do “z”, se-
guindo-se o “b” e até ao “m”. O fuso “y”
é onde se encontra a linha internacional
da data, um traço imaginário no meio do
Pacífico onde muda a data. Imediatamente
a ocidente do fuso “z” está o “n”, onde se
encontra praticamente todo o território de
Portugal Continental, seguindo-se o “o” e
até ao “x”, voltando então a encontrar-se
o fuso “y”.

G
GAIOLA – Sistema de sustentação do
turbilhão ou armadura do relógio de torre.
Nestes últimos, a arrumação do meca-
nismo começou por fazer-se na vertical,
usando escape de vara e foliot, daí falar-
dos seus desenhos, por volta de 1485. Os de cada um dos 24 fusos geográficos a -se de gaiola vertical. Com a introdução
cronómetros de marinha e alguns relógios hora legal deveria ser a mesma. Na prática, de outros tipos de oscilador e escape, a
de pulso continuam a usar o sistema de os fusos horários são ajustados tentando, arrumação das rodas dentadas passou a
distribuição de força de fuso. quando possível, evitar dividir países e fazer-se na horizontal e daí falar-se de
regiões em que é conveniente haver uma gaiola horizontal.
FUSO HORÁRIO – A área da superfície hora legal comum. Há países e regiões
terrestre (em forma de gomo) delimitada que não seguem exactamente esta norma GALOPE – Em relojoaria, em certos es-
por dois semimeridianos que fazem entre e que têm fusos desfasados de meia hora capes, passagem acidental de dois dentes
si um ângulo de 15º e na qual a hora legal é e mesmo 15 minutos em relação ao fuso da roda de escape em vez de um. Quando
a mesma. O Sol, no seu movimento diurno vizinho. Cada fuso horário é representado, um relógio tem esse problema, diz-se que
aparente demora uma hora a passar do me- para alguns tipos de comunicação, por está a “galopar”.
ridiano a leste para o outro a oeste. Dentro uma letra. Assim, o meridiano zero ou

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 263
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

GLUCIDUR – Uma liga de cobre e glu-


cínio, muito elástica, dura, amagnética,
inoxidável, que entra no fabrico dos ba-
lanços monometálicos, dos escapes ou das
espirais. Hoje em dia, novos materiais com
essas características melhoradas – cerâ-
micas, carbono e outros compósitos estão
a ser empregues nestes órgãos sensíveis
de um calibre.

GMT – Abreviatura de Greenwich Mean


Time, tempo médio de Greenwich. Tam-
bém se usa TMG, o acrónimo em portu-
guês. Em relojoaria, diz-se geralmente
GMT para caracterizar um relógio que
pode dar a indicação simultânea do tempo
em dois fusos horários. Oficialmente, já
não existe o GMT, mas sim o UT (Uni-
versal Time), derivado do Tempo Univer-
sal Coordenado, ou UTC, mas o uso da
expressão GMT tem resistido.

GNÓMON — Nome derivado do grego


gnómōn (“o que indica” ou “o que dá a
saber”), habitualmente designa o ponteiro
ou estilo de um relógio de sol. No entan-
to, por metonímia, gnómon designa por
vezes o próprio relógio de sol, meridiana
ou outro aparelho de observação solar.
Os primeiros relógios de sol, que se julga
terem aparecido no Egipto, eram “apenas”
gnómons gigantes, os obeliscos.

GNOMÓNICA – A ciência que estuda


os relógios de sol.

GONGO – Em relojoaria, cilindros ocos


ou cheios de bronze, geralmente encastra-
dos num bloco de metal e onde os mar-
telos dos relógios de sonnerie batem. Os
sons produzidos pelos gongos são mais
potentes que os dos timbres.

GOUGE – Em relojoaria, ranhura circular


côncava, praticada geralmente para redu-
zir as superfícies de roçamento ou para

264 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
manter aí o óleo. Os rochetes, as coroas e emitido a partir do Observatório Naval Não. Dado que o sistema GPS se baseia
outros órgãos visíveis têm com frequência norte-americano, o que faz também dele em sinais que viajam à velocidade da luz
gouges polidas, com fins decorativos. um relógio muito exacto. Devido à alti- e dado que as distâncias envolvidas são
tude (gravidade quatro vezes mais fraca grandes, um pequeno desvio na leitura de
GOUSSET – Pequeno bolso do colete ou do que na Terra), os relógios atómicos tempos significaria um erro de leitura de
pequena bolsa de couro onde se coloca um nos satélites GPS funcionariam cerca de coordenadas da ordem dos 9,5 metros por
relógio. O relógio de bolso era designado 45 microsegundos mais rápido por dia do minutos. Só tomando em conta os prin-
por vezes de gousset. que os relógios na Terra. Por outro lado, cípios da Relatividade Geral se consegue
estando a mover-se a 14 mil km/h, ten- um sistema quase perfeito, que é usado em
GPS – O Global Positioning System (Siste- dem a trabalhar mais lentamente, cerca de navegação aérea e marítima, na orientação
ma de Posicionamento Global) é composto 7 microssegundos por dia, dois fenómenos de mísseis, etc. Os russos têm a funcionar
por cerca de 29 satélites, perfazendo cada que confirmam as teorias de distorção do um sistema semelhante de navegação, o
um uma órbita em cada 12 horas, a cerca Tempo pela Gravidade e pela Velocidade, GLONASS, e a União Europeia tenciona
de 20 mil km de altitude. O sistema GPS apresentadas por Albert Einstein há cem lançar o Galileo até 2010.
só funciona porque tem em conta teorias anos. Feita a compensação, os relógios
expressas por Albert Einstein e porque nos satélites andam mais rapidamente 38 GRANDE COMPLICAÇÃO – Os relógios
tem como base um sistema coordenado microssegundos por dia que os relógios contêm por vezes órgãos suplementa-
de medição de tempo, feito por relógios na Terra. Um desvio sem importância? res cuja variedade é imensa, mas podem
atómicos extremamente exactos. Tendo
em conta as órbitas específicas de todos
estes satélites, um observador pode ver
pelo menos quatro deles, a qualquer altura
e em qualquer ponto da Terra. Todos eles
emitem sinais em microondas, que são
captadas por estações terrestres e pelos
receptores portáteis. Cada satélite trans-
mite um código único sequencial de 1s e
0s – acertado por um relógio atómico – e
que é captado e sincronizado por recep-
tores. E a rede de satélites trabalha toda
em tempo coordenado, para que os sinais
possam ser emitidos simultaneamente. Ao
analisar os sinais, o receptor determina
quanto tempo leva o sinal a viajar desde
o satélite até si. Este tempo é convertido
em distâncias, usando a velocidade da
luz (cerca de 300 mil quilómetros por
segundo), a mesma velocidade a que se
propagam as ondas de rádio. Medindo
simultaneamente as distâncias a quatro
ou mais satélites e sabendo a localização
exacta de cada um deles, através de cálcu-
los de trilateração, o receptor pode deter-
minar a latitude, a longitude e a altitude a
que está, ao mesmo tempo que sincroniza
o seu relógio com o tempo standard GPS,

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 265
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

classificar-se estas diversas complicações


em três grupos: relógios com um ou mais
ponteiros suplementares, para indicação
do tempo; relógios com sonneries; relógios
com indicações astronómicas. Quando
estes três grupos de complicações se en-
contram num mesmo relógios, diz-se que
se está perante uma “grande complica-
ção”. Por seu turno, cada um destes três
grupos pode subdividir-se. Os relógios
com ponteiros suplementares podem ter
segundos mortos independentes, segun-
dos foudroyantes, função cronógrafo e
função cronógrafo com rattrapante. Os
relógios sonneries podem ser de repetição
a quartos, repetição a cinco minutos, repe-
tição a meios quartos, repetição minutos e
grandes sonneries. Finalmente, os relógios
com indicações astronómicas podem ter
calendários simples, calendários perpé-
tuos, fases da Lua e equações do tempo.

GRANDE DATA – Diz-se quando a indi-


cação da data (data, dia da semana, mês)
se faz de forma digital e numa janela de
grandes proporções. Isso implica uma
dificuldade acrescida na arrumação de
um calibre mecânico. A indicação faz-se
normalmente pela rotação de discos, mas
isso implica dígitos pequenos. Um “grande
data” costuma utilizar mais discos ou um
sistema de lâminas sobrepostas, que se
vão soltando.

GRANDE SONNERIE – É um relógio cujo


mecanismo dá automaticamente indicação
sonora das horas e dos quartos, podendo
soar a pedido, mediante o accionar de um
botão ou pulsador, as horas, os quartos e
os minutos. Esta função foi desenvolvida
no séc. XVIII para se saber as horas à noi-
te. A petite sonnerie dá automaticamente
os quartos de hora, mas não as horas. Às
03h30, por exemplo, uma grande sonnerie
dará três toques de hora e depois dois
toques de quarto de hora.

266 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
GRANDES SEGUNDOS – Diz-se quando à escala global. A relojoaria, historica-
o ponteiro dos segundos está ao centro. mente ligada à joalharia e ourivesaria, foi
Em contraposição com os pequenos se- dos primeiros sectores a chamar a atenção
gundos, que estão sempre descentrados dos investidores. Nas últimas três décadas
no mostrador, normalmente às 3, 6 ou tem-se assistido a uma grande concentra-
9 horas. ção do negócio em grandes grupos mul-
tinacionais. A situação em finais de 2007
GRADIENTE – Diferença de pressão ou era a seguinte: de fora, com significado,
de temperatura entre dois pontos. Em relo- ficam marcas independentes como a Rolex,
joaria, fala-se de gradiente de temperatura a Patek Philippe ou a Audemars Piguet.
quando se referem relógios fixos de pre- Depois, há três grandes “pilares”:
cisão como os reguladores: é a diferença O principal grupo de luxo do mundo,
de temperatura entre as partes superior e o LVMH Moet Hennesy – Louis Vuitton,
inferior da caixa. Este gradiente expres- fundado em 1987 pelo francês Bernard
sa-se em graus centígrados por metro ou Arnault, possui um portfólio de mais de
por centímetro. 60 marcas de prestígio e, nelas, incluem-se
as marcas de relojoaria Chaumet, Dior,
GRAFITE – Sinónimo de plombagina, Fred, Louis Vuitton, TAG Heuer e Zenith.
variedade de carbono brando, suave, un- O principal grupo relojoeiro do mundo
tuoso. No seu estado coloidal usa-se para é o Swatch Group, que tem as suas raízes
aumentar o poder lubrificante dos óleos. em fábricas de ébauches fundadas no
final do séc. XVIII na Suíça e que ga-
GRATTE-LAITON – Apodo que, em Gene- nhou o nome a partir do relógio Swatch,
bra, os habitantes da cidade alta aplicavam um conceito criado pelo suíço-libanês
a relojoeiros e joalheiros. Nicolas Hayek, o responsável do grupo.
Actualmente, 25 por cento do valor dos
GRAVIDADE – Força que atrai os cor- relógios vendidos no mundo é feito pelo
pos para o centro da Terra, resultante da grupo Swatch, que inclui as seguintes
combinação entre a atracção e a força marcas: Blancpain, Breguet, Calvin Klein,
centrífuga causada pela sua rotação. Os Certina, Endura, Flik Flak, Glashutte Ori-
pêndulos oscilam sob acção da gravidade, ginal, Hamilton, Jaquet Droz, Léon Hatot,
mas esta é maior nos Pólos do que no Longines, Mido, Omega, Pierre Balmain,
Equador – os corpos estão mais próxi- Rado, Swatch e Tissot.
mos do centro terrestre nos Pólos e aí a O principal grupo de alta-relojoaria
velocidade de rotação é menor. do mundo é o Richemont Group, antigo
Vendôme Group, fundado em 1988 pelo
GRIL – Em relojoaria, é um dispositivo sul-africano Johann Rupert. Inclui as se-
de compensação da temperatura aplica- guintes marcas: A. Lange & Sohne, Baume
do ao pêndulo. É formado de varetas de & Mercier, Cartier, Dunhill, IWC, Jaeger-
aço, intercaladas por varetas de bronze, -LeCoultre, Montblanc, Panerai, Piaget,
latão, zinco, etc. Diz-se que o pêndulo é Vacheron Constantin, Van Cleef & Arpels.
termocompensado. No segmento de luxo, o grupo Bvlgari
tem ainda as marcas Daniel Roth e Gé-
GRUPOS – Os grandes grupos financeiros rald Genta; o grupo Gucci tem ainda as
começaram a olhar para o sector do luxo marcas Bedat & Co, Boucheron e Yves
na década de 80 e privilegiando estratégias Saint-Laurent; o grupo Frank Muller tem

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 267
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

ainda as marcas Alexis Barthelay, Backes guillochados. Está entre as disciplinas dos HORA DE INVERNO – Terá sido William
& Strauss, European Company Watch, Métiers d’Art. Willett, empreiteiro de Londres, quem
Martin Braun, Pierre Kunz e Rodolph; sugeriu pela primeira vez um sistema de
o grupo Sowind tem as marcas Girard- aproveitamento da luz solar variando a
-Perregaux e JeanRichard. hora. As suas ideias não tiveram grande
No segmento especializado em gama eco na Grã-Bretanha mas foram traduzi-
média e geralmente trabalhando sob li- das para francês e alemão. A Alemanha
cença de marcas de moda, há também: o adoptou o sistema de Horários de Verão

H
grupo Festina, que tem ainda as marcas e de Inverno logo no início da I Guerra
Calypso, Candino, Jaguar, Leroy, Lotus Mundial, em 1914, enquanto os ingleses o
e Perrelet; o grupo Mondaine tem ainda fizeram apenas em 1916, como Portugal.
as marcas Bally Time, Camel Active e
M+ Watch.; o grupo Movado tem ainda HORA DE VERÃO – Sistema de alteração
as marcas Boss, Coach, Concord, Ebel, da Hora Legal que nasceu para se apro-
Esq, Juici Couture, Lacoste e Tommy veitar mais horas de luz solar. Foi com a
Hilfiger; o grupo Timex tem ainda as I Guerra Mundial que Portugal adoptou
marcas Ecko, Guess, Náutica, Opex, Ver- HASTE – O mesmo que tige. Órgão cilín- pela primeira vez uma Hora de Verão, em
sace e Vincent Bérnard; o grupo Egana drico geralmente munido de pivots, como 1916. De então para cá, o regime da Hora
tem ainda as marcas Dugena, Goldpfeil hastes do eixo de balanço, da âncora ou Legal no país tem sofrido várias alterações
e Junghans; o grupo Sector tem ainda as do remontoir. e de 1992 a 1996 chegou a ter uma ou duas
marcas Chronostar, Invicta, MoDe, Philip horas adiantadas em relação a Greenwich,
Watch, Pirelli e Roberto Cavalli; o grupo HELIOCRONÓMETRO — Relógio de consoante se estava em Hora de Inverno
Global Watch Industries – GWI tem as sol de precisão, usando geralmente um fio ou de Verão. Em Portugal continental e
marcas Chronotech, Givenchy, Romeo esticado como gnómon. Em muitos casos, na Madeira, desde 1997 que a Hora Legal
Gigli, Mila Schon, Sweet Years, Diadora, estes aparelhos conseguem uma incerteza coincide com o Tempo Universal Coor-
GF Ferre, Blumarine, Billionaire e Exté. de apenas um minuto e têm ajustes de denado (a do meridiano de Greenwich),
forma a corrigir o tempo solar verdadeiro ou é acrescentado de 60 minutos desde o
GUARDA-PÓ – Aro metálico que envolve para o tempo solar médio, resolvendo a último domingo de Março até ao último
a máquina do relógio. equação do tempo. domingo de Outubro seguinte (hora de
Verão). Nos Açores, esse tempo ou hora
GUARDA-TEMPO – Nome caído em HERTZ – Símbolo Hz. Unidade de fre- legal é sempre diminuído de uma hora.
desuso (do francês, garde-temps) mas quência igual a um ciclo por segundo.
que designa um instrumento de grande Um pêndulo oscilando a 0,5 Hz tem um HORA EQUINOCIAL – 1/12 do dia na-
precisão que serve para medir e conservar período de 2 segundos. tural (tempo compreendido entre o nascer
o tempo. Os relógios astronómicos, os e o pôr do Sol) no Equinócio.
relógios atómicos e os cronómetros de HORA – A vigésima quarta parte do dia,
marinha são guarda-tempos. Também se equivalente a 15 graus da rotação da Terra. HORA LEGAL – A Hora Legal é dada
podem chamar reguladores. Nas várias civilizações a hora é muitas pelo Tempo Universal Coordenado (UTC)
vezes de duração variável – como nas acrescentado ou diminuído do número de
GUARNIÇÃO – Em relojoaria, acto de horas canónicas. A contagem das horas horas ou fracções de hora do fuso horário
fixar as paletes na âncora. de duração igual teve, na Europa, um do local, mais os acertos de Hora de Verão
sistema de 12 mais 12 e um de 24, que ou de Inverno. Em Portugal continental e
GUILLOCHÉ – Gravação à mão ou à má- coexistiram e foram traduzidos em mos- na Madeira, o tempo ou hora legal coin-
quina, composto por linhas que se cru- tradores coevos. Possivelmente, foi em cide com o UTC, ou é acrescentado de
zam, para se obter um efeito decorativo. Itália que o sistema de 24 horas se fixou, 60 minutos desde o último domingo de
Caixas, mostradores e calibres podem ser a partir do séc. XIV. Março até ao último domingo de Outubro

268 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 269
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

seguinte (hora de Verão). Nos Açores, esse HORAS BABILÓNICAS – Sistema de


tempo ou hora legal é sempre diminuído contagem do tempo usado na Babilónia,
de uma hora. O Relógio da Hora Legal, com períodos de dia e de noite divididos
ao Cais do Sodré, em Lisboa, transmitiu em séries de horas iguais, num total de 24,
esporadicamente, ao longo do séc. XX, a mas com o dia a começar ao nascer do Sol.
Hora Legal que vinha de um relógio mestre
situado no Observatório Astronómico da HORAS CANÓNICAS – Na Igreja cristã,
Ajuda. Com recorrentes problemas devido são os momentos definidos pelos cânones
às altas temperaturas e à trepidação do ou regras para as orações, várias partes
tráfego, o relógio mecânico foi substituído do Ofí­cio divino, escalonadas ao longo do
por um de quartzo, que também funcionou dia. O monge italiano São Bento (480-547)
mal. No final de 2007 o futuro do relógio foi o grande regulador do Tempo europeu,
e do seu pequeno edifício (onde se podia com a sua Regra e estabelecimento de seis
ler a frase “Hora Legal”, entretanto reti- Horas canónicas. É da necessidade de
rada) era incerto, dado que para o local regulação do tempo religioso, em comu-
estava prevista a construção de um grande nidade, que nasce a matriz do Tempo no
complexo que albergará duas agências da Ocidente. Para os leigos, surgiram então
União Europeia. Pode dizer-se que Lisboa os Livros de Horas. E é essa necessidade
nunca chegou a ter um verdadeiro Relógio de regulação do tempo em períodos mais
da Hora Legal, interiorizado pelo colectivo ou menos exactos que, em última análi-
e minimamente fiável. se, leva ao aparecimento dos chamados
Relógios de Sol com Horas Canónicas
HORA LOCAL – A hora determinada e, posteriormente, aos primeiros reló-
segundo o meridiano do lugar. gios mecânicos; um invento necessário
à vida dos religiosos, que começou por
HORA SOLAR MÉDIA – A velocidade não ter mostrador e apenas servir para
aparente do Sol ao longo do ano no seu “bater” horas. Que, com o seu som, “con-
trajecto na elíptica não é uniforme. Por taminou” as sociedades rurais em redor
essa razão, e para efeitos de medição do dos mosteiros e conventos. Que, a dada
tempo, foi criada a noção de Sol médio, altura, nos burgos emergentes, passou
que é um sol fictício que se desloca sobre a ter “rival” no relógio do castelo ou da
o Equador à velocidade média do Sol ver- câmara municipal, num diálogo entre
dadeiro (exactamente 24 horas por dia, em tempo canónico e tempo profano. Hoje,
todos os dias do ano). A diferença entre a as Horas canónicas continuam a ter peque-
hora solar média e a hora solar verdadeira nas variações, conforme as comunidades
é-nos dada pela Equação do Tempo. religiosas, mas são: Laudes, como oração
da manhã; horas menores (Tércia, Sexta
HORA SOLAR VERDADEIRA – As horas e Noa, das quais, fora do coro, se pode
indicadas por um relógio de sol. Também optar por uma única, “hora intermédia”,
ditas “horas verdadeiras”. Só através da a mais ade­quada à hora do dia); Vésperas,
consulta de uma tabela de Equação do ao anoitecer (considerada “hora prin­cipal”,
Tempo (a diferença ao longo do ano entre juntamente com Laudes); Completas, ao
o tempo solar verdadeiro e o tempo solar deitar; e Ofício de Leitura, com o va­lor
médio) se fica a saber a hora solar média de tempo de oração meditativa durante
(sempre com dias de 24 horas, ao longo a noite, embora podendo celebrar-se a
do ano). qualquer hora.

270 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
HORAS DE NUREMBERGA – Sistema do final do séc. XIX e início do séc. XX,
de contagem do tempo usado nesta ci- fizeram relógios de hora universal.
dade da Baviera, um dos primeiros cen-
tros mundiais de relojoaria mecânica. As HORAS INGLESAS – Os primeiros reló-
24 horas num período de dia e de noite gios mecânicos ingleses não tinham mos-
eram contadas de 1 a 12 a partir de cada trador, o mecanismo servia apenas para
nascer e pôr do Sol. bater directamente em sinos ou tinha um
mostrador interno cujo ponteiro indicava
HORAS DO MUNDO – Diz-se de um quantas vezes o encarregado dessa tarefa
relógio que, mediante a fixação do tempo devia bater num sino. As horas inglesas
universal, pela rodagem da luneta ou outro começavam ao meio-dia e o mostrador,
dispositivo, dá as horas nos 24 fusos ho- quando apareceu, tinha apenas 12 horas
rários. Também se designa como relógio ou duas escalas de 12 horas – a partir das
de “horas universais”. Trata-se de uma doze batidas, começa a ser difícil perceber
invenção relativamente recente, creditada que horas são.
em 1935 a Louis Cottier, um relojoeiro
independente de Genebra. O mostrador de HORAS JAPONESAS – Foram os por-
um relógio desse tipo tem assinaladas as tugueses que introduziram a relojoaria
principais cidades dos 24 fusos horários e mecânica no Japão. A contagem do tempo
os Açores são sempre presença obrigatória à maneira japonesa foi, até 1873, a de
nessa escala. Para se ler, basta ajustar o dividir o dia em seis horas nocturnas e
nome da cidade onde nos encontramos seis horas diurnas. Como os períodos de
ou o seu respectivo fuso horário com o dia e de noite variam ao longo do ano,
ponteiro das horas. A partir daí, sabe-se a nesse sistema também a duração das horas
hora nos 23 fusos restantes. Não é preciso, variava. Os relógios mecânicos feitos no
em princípio, fazer qualquer acerto no Japão, a partir de finais do séc. XVII,
ponteiro dos minutos, já que a variação tinham em conta esse tipo de contagem do
de fuso para fuso é apenas de horas. Há tempo (decrescente, a partir do meio-dia
no entanto excepções, com países como e da meia-noite), usando dois balanços,
a Índia ou a zona central da Austrália a mostradores intercambiáveis para o dia e
terem variações de meia hora em relação para a noite ou para cada mês. Os sistemas
ao tempo do fuso horário. Finalmente, a de sonnerie também eram adaptados a
ter em conta os regimes de Horário de esse tipo de hora japonês.
Verão e de Inverno.
Outro tipo de relógio de hora universal é HORAS ROMANAS – Sistema de con-
um globo ou cilindro, com um mapa-mun- tagem das horas em uso na Idade Média
do e os fusos horários nele desenhados, e em Itália e aplicado nos primeiros reló-
que dá uma volta completa cada 24 horas. gios mecânicos dessa região quando estes
Um indicador fixo em volta do Equador começaram a ter mostrador. As horas
marca as horas de 1 a 24, bastando loca- começam a ser contadas a partir do pôr do
lizar no mapa o local que se quer e saber Sol e o ponteiro gira no sentido contrário
as horas, feitos os ajustamentos locais ao que é hoje habitual, e numa escala de
aos horários de Verão e de Inverno, que 24 horas.
também podem estar assinalados. Verís-
simo Alves Pereira e Augusto Justiniano HORAS SALTANTES – Ou saltadoras.
de Araújo, dois relojoeiros portugueses Diz-se de um relógio em que um disco

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 271
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

substitui o ponteiro das horas. A indicação


digital da hora aparece assim numa janela,
e “salta” para a hora seguinte sempre que
o ponteiro dos minutos perfaz uma volta
completa. Não confundir com a função
“retrógrado”.

HORAS TEMPORAIS – Até ao séc. XIV,


na Europa, a contagem do tempo comu-
nitário fazia-se essencialmente através
de relógios de sol e com sistemas de con-
tagem das horas diurnas e nocturnas de
duração diferente entre si e variando ao
longo do ano. Os primeiros quadrantes dos
relógios de sol indicavam horas temporais.

HORAS UNIVERSAIS – Diz-se de um


relógio que, mediante a fixação do tempo
universal, pela rodagem da luneta ou ou-
tro dispositivo, dá as horas nos 24 fusos
horários. Também se designa “horas do
mundo”. Trata-se de uma invenção rela-
tivamente recente, creditada em 1935 a
Louis Cottier, um relojoeiro independente
de Genebra.

HORAS VERDADEIRAS – As horas in-


dicadas por um relógio de sol. Também
ditas “horas solares verdadeiras”.

HOROMETRIA – A arte de medir o tem-


po.

HUILIER – Nome dado pelos relojoeiros a


um pequeno orifício de forma semiesfé-
rica na base dos rubis e onde se deposita
uma gota de óleo.

272 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
contra o choque são a parte do relógio do kimono. As inro têm geralmente um
mais susceptível de avariar. O sistema pequeno compartimento para guardar a
Incabloc usa uma mola especialmente chave da corda do relógio.
desenhada que permite aos rubis e pivots

I
moverem-se ligeiramente nos seus pontos INSTRUMENTO DE PASSAGENS – Te-
de contacto quando sofrem impactes, ab- lescópio especial, fixo na direcção leste-
sorvendo-os. Quando o impacte termina, -oeste mas móvel na direcção norte-sul,
a mola faz os rubis e pivots do balanço- serve para medir tempo sideral. É ajustado
-espiral voltarem à posição inicial. Outros para poder registar as passagens sucessi-
sistemas antichoque incluem o Etachoc, vas de uma determinada estrela num ponto
da ETA; o Kif, da Rolex; o Diashock, da fixo do horizonte. O intervalo entre duas
Seiko; e o Parashock, da Citizen. Breguet passagens é o dia sideral.
IDADE (DA LUA) – Tempo passado desde foi o primeiro a idealizar um sistema an-
uma Lua Nova. Há relógios que, além das tichoque em relojoaria, no séc. XVIII, a INTERVALO – Um relógio que efectua
fases da Lua, dão essa indicação astronó- que chamou de “pára-quedas”. 18 mil alternâncias por hora, indica in-
mica através de um mostrador. tervalos de tempo de quintos de segun-
INDEXES – O mesmo que índices ou. Num do, se estiver munido de um ponteiro de
IMPULSO – Movimento transmitido por mostrador, sinais de formas variadas, que segundos trotteuse. Alguns cronógrafos
um órgão de uma máquina. Em relojoaria, substituem a numeração das horas. mecânicos permitem medir fracções de
pequena força aplicada em intervalos re- tempo da ordem dos centésimos de se-
gulares ao órgão oscilatório, o pêndulo ou INDÚSTRIA RELOJOEIRA – A indústria gundo. Os relógios de quartzo chegam a
o balanço. No escape de âncora, o impulso relojoeira mundial tinha no final de 2007 medir milésimos de segundo.
é a acção do dente da roda de escape sobre como principal produtor/exportador a Chi-
o plano de impulso da paleta da âncora. na, com 700 milhões de unidades por ano, INVAR – Abreviatura de “invariável”.
mas a Suíça, com apenas 25 milhões, é Liga de ferro e níquel com um coeficiente
INCABLOC – O mais conhecido siste- o líder em valor, com 11 mil milhões de de dilatação extremamente pequeno, cer-
ma antichoque em relojoaria fina. Em dólares. Grandes fabricantes mundiais ca de 15 vezes menor do que o do aço.
1988, Eric Zutter compra à Portescap o são os japoneses da Seiko, da Citizen Material usado na espiral. O Invar foi
seu departamento Incabloc, tomando as- e da Casio, mas também aí o volume é descoberto em 1896 por Charles Edouard
sim nas mãos o futuro de uma marca e mais significativo que o valor. Os grandes Guillaume, físico suíço, que pelo seu tra-
de um produto prestigiado no sector da grupos relojoeiros da actualidade estão balho recebeu o Prémio Nobel da Física
relojoaria, nascido em La Chaux-de-Fonds sediados na Suíça ou têm lá as principais em 1920.
50 anos antes, fruto da colaboração de dois unidades de produção de qualidade, seja
engenheiros: Fritz Marti e Georges Braun- de relógios mecânicos ou de quartzo. INVERSÃO – No escape de âncora, geral-
schweig. Uma ideia inovadora esteve na mente por choque, movimento irregular da
origem do Incabloc: propor aos fabricantes INOXIDÁVEL – Que não é atacado pelo forquilha, que se dessincroniza, fazendo
de relojoaria um amortecedor de choque oxigénio. A relojoaria emprega aço e parar o relógio.
completo, pré-montado e adaptado aos metais preciosos, cerâmicas ou fibra de
tamanhos dos movimentos. Actualmente, carbono inoxidáveis. INVERSO – Diz-se de um relógio cujos
esse dispositivo continua a equipar uma ponteiros andam em sentido contrário
grande maioria dos relógios mecânicos INRO – Os japoneses usavam pequenas ao habitual. Também a corda é dada no
das manufacturas suíças e europeias. caixas de madeira, finamente decoradas, sentido inverso e o acerto da hora faz-se
O que é o Incabloc? Os pivots e rubis para transportar ervas medicinais. No séc. ao contrário.
do conjunto balanço-espiral são frágeis, XVIII, muitas dessas inro foram apro-
comparados com o peso que necessitam de veitadas para caixas de relógios, depois ISO – Acrónimo de International Orga-
suportar, e sem um sistema de protecção atadas por um cordão a um botão no cinto nization for Standardization. Organização

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 273
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

não-governamental fundada em 1947,


com sede em Genebra, o ISO é uma rede
de institutos de estandardização de 157
países, entre os quais Portugal. As normas
ISO definem vários critérios aplicados à
relojoaria, nomeadamente os de cronó-
metro ou de relógio de mergulho.

ISOCRONISMO – Diz-se do que se faz


em tempos de igual duração. Para os re-
lojoeiros, as oscilações de um pêndulo ou
do balanço de um relógio são isócronas
quando a sua duração é independente da
amplitude. Toda a ciência da afinação
relojoeira passa por procurar o isocro-
nismo das oscilações do órgão regulador
dos medidores de tempo. Os principais
factores que destroem o isocronismo do
pêndulo ou do conjunto balanço-espiral
são: o escape, os defeitos de equilíbrio do
balanço e da espiral, a folga da espiral no
contacto com a raquete, a força centrífu-
ga, o campo magnético, a gravidade, etc.

J
JANELA – Abertura no mostrador, para in-
dicação de dia, data, mês, fases da Lua, etc.

JAQUEMART – Originalmente, era um


frade ou um leigo que se encarregava de
bater num sino as horas canónicas. Depois,
com o advento da relojoaria mecânica,
apareceu uma figura de metal, autómato,
representando um homem, e que fazia

274 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
essas funções, com um martelo. Diz-se no Monte de Caparica, Almada, e que
“um relógio à jaquemart”. Os sistemas superintende em todos os aspectos na-
jaquemart estão presentes nos exempla- cionais de Metrologia, em sintonia com o
res de torre, mas também em relógios de Bureau International des Poids et Mesu-
bolso e até de pulso. res (BIPM), de Paris. O Laboratório tem
por missão ser o “guardião” do Segundo
JEWEL – Indicação que pode aparecer nos Padrão. O organismo realiza a Escala de
mostradores dos relógios, seguida do nú- Tempo Universal Coordenado (UTC),
mero de rubis sintéticos que o mecanismo através de três osciladores de césio, con-
tem. Teoricamente, quantos mais rubis, me- tribuindo assim para o Tempo Atómico
lhor serão. Nos anos 60 do séc. XX estava Internacional (TAI). O Laboratório tem
muito em moda inflacionar o número de por missão calibrar equipamentos e fis-
rubis empregue, para com isso publicitar calizar se, quando usado, o Tempo está
o relógio de pulso. Em 1962, um tribunal correctamente baseado na unidade Segun-
britânico estabeleceu que era ilegal no país do. O Laboratório de Tempo e Frequência
publicitar ou vender relógios com rubis que participa também nos vários sistemas de
não fossem verdadeiramente funcionais. navegação por satélite. Se o Laboratório
Um calibre de corda manual com 15 rubis de Tempo e Frequência se preocupa com
considera-se totalmente “empedrado”. A a fiabilidade das unidades de tempo usa-
percepção da relação entre número de rubis das em Portugal, já a preocupação com
e qualidade do relógio foi entretanto caindo a exactidão do tempo no país é do foro
em desuso junto do consumidor final. do Observatório Astronómico de Lisboa.

JUNTA – A relojoaria utiliza vários tipos LADO DA PLATINA – Em relojoaria


de juntas, em borracha ou outros mate- grossa ou média, pode haver duas platinas,
riais, para garantir a hermeticidade das que ficam de ambos os lados do movimen-
caixas, contra poeira e humidade. Há jun- to, ligadas por pilares. Em relojoaria fina
tas do fundo das caixas, dos vidros, dos (de bolso ou de pulso) diz-se “do lado da
botões, da coroa, etc. platina” quando nos referimos ao fundo de
um calibre, aquele que estará em contacto
com o fundo da caixa.

LADO DAS PONTES – Expressão que


indica o lado oposto ao da platina, onde
as pontes vão assentando. O lado das pon-

L
tes é aquele que está em contacto com o
mostrador e onde se montam os ponteiros
e outros indicadores.

LATITUDE — Uma das coordenadas de


posição sobre o globo terrestre. Distância
angular a norte ou sul do Equador. Pon-
tos sobre o Equador têm latitude de 0º;
LABORATÓRIO DE TEMPO E FRE- sobre os Pólos, latitude de 90º. A latitude
QUÊNCIA – Organismo dependente do é sempre qualificada de Norte (+) ou Sul
Instituto Português da Qualidade, situado (-). Lisboa está à latitude de 38º42’ N.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 275
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

LCD – Acrónimo de liquid crystal display. tempo – psicologicamente, está provado a medidas exactas, sendo antes uma in-
Cristais líquidos colocados no vazio, en- que ela é mais facilmente entendível, ao dicação aproximada. Estava a desapare-
tre duas lâminas de vidro, e que reagem traduzir no espaço o tempo passado e cer o seu uso quando, no final do século
aos impulsos eléctricos de uma bateria, o tempo futuro. Por outro lado, desde passado, renasceu o interesse pelo relógio
formando algarismos, letras ou outros sempre a relojoaria mecânica, para além mecânico e uma certa nostalgia por este
sinais. Os relógios de quartzo com ecrã da leitura analógica, utilizou indicações tipo de linguagem, que voltou a aparecer.
LCD têm uma leitura digital das horas, digitais – dia, data, fases da Lua, mas até Diz-se “um calibre de 12 linhas”.
podendo associar isso a um outro mos- mesmo horas e minutos. Por outras pala-
trador, analógico. vras, nem todos os relógios de quartzo são LINHA DA HORA — Linha marcada
digitais, nem todos os relógios mecânicos sobre o mostrador de um relógio de sol in-
LED – Acrónimo de light emitting diode. são analógicos. dicando uma determinada hora. A sombra
Sistema de díodos electroluminescentes do gnómon cai sobre essa linha na hora
que forma algarismos, letras ou outros LETRA DOMINICAL – Na Roma An- solar correspondente. Também se designa
sinais e que são visíveis de noite. Os LED, tiga, com a fixação da semana de sete “linha da hora” a linha imaginária que
afinal lâmpadas minúsculas, equiparam a dias, descobriu-se que os anos normais, representa o meridiano de Greenwich,
primeira geração de relógios de quartzo, com 365 dias, tinham exactamente 52 ou meridiano zero.
mas gastam muito mais energia do que a semanas completas e um dia e que os
tecnologia LCD, tendo sido praticamente dias da semana se repetiam nos mesmos LIVRO DE HORAS – O mais difundido
substituída por ela. dias dos meses de 7 em 7 anos. Com a manual de pie­dade da Idade Média, sendo
introdução dos anos bissextos, de 366 dias, para os leigos o que era o Ofício divino
LEITURA – Indicação do tempo ou da de 4 em 4 anos, essa repetição apenas se para os clé­rigos e monges. Os Livros de
data, através de ponteiros que se movem verificava de 28 em 28 anos, o que dava Horas eram objectos preciosos, ricamen-
num mostrador (leitura analógica) ou atra- um ciclo previsível. Os almanaques ro- te ilustrados, apenas acessíveis a uma
vés de numerais que aparecem numa ou manos associavam a cada dia uma letra, escassa minoria, numa sociedade quase
mais janelas (leitura digital ou numérica); em sequências repetidas de A a H, e isso totalmente iletrada e onde a imagem era
estes numerais podem ser completados por servia para determinar o dia de mercado, a melhor forma de explicar. Os Livros
indicações alfabéticas (leitura alfanumé- que se realizava de 8 em 8 dias. Com a de Horas, além de serem o repositório
rica) ou por sinais de qualquer outro tipo. popularização da semana, as letras, que do calendário litúrgico, tinham muitas
Estas indicações podem ser obtidas por eram inicialmente oito, passaram a sete vezes outras indicações astrológicas e
meios mecânicos ou electrónicos. e a sequência que servia os 365 dias do astronómicas, bem como regras de com-
ano ia de A a G. Chegou-se assim à Letra portamento social, alimentar, etc.
LEITURA ANALÓGICA OU DIGITAL Dominical, a letra associada a todos os
DO TEMPO – Em relojoaria, a leitura domingos do ano. Se o ano é bissexto, LINHA INTERNACIONAL DA DATA
analógica é aquela que é feita por pontei- tem duas letras dominicais – uma válida – Também chamada Linha Internacional
ros, num espaço definido. A leitura digital até ao fim de Fevereiro, a outra, a sua de Mudança de Data ou apenas Linha da
é aquela que é feita através de dígitos precedente, usada de Março até ao final Data. É uma linha imaginária na superfí-
(algarismos). Existe confusão frequen- do ano. Os calendários litúrgicos cristãos cie da Terra, o antimeridiano de Greenwi-
te entre “relógio digital” e “relógio de começaram a introduzir tabelas com as ch, estando pois a 180 graus de longitude.
quartzo”, quando isso é quase sempre Letras Dominicais, para se saber, a médio Quando é meio-dia em Greenwich, são
incorrecto. A leitura digital do tempo foi prazo, a localização dos domingos. lá 24h00 e o dia muda. Passando pelo
usada pelos primeiros relógios de quartzo, meio do oceano Pacífico, não atravessa
utilizando cristais líquidos, ou LED, nos LINHA – Unidade de medida que se usa praticamente terra habitada, o que é uma
mostradores. Embora essa leitura conti- ainda para designar o tamanho de uma vantagem para esta convenção. Porque há
nue a existir hoje, com outra tecnologia, máquina de um relógio. Uma linha equi- a Linha da Data? Imagine-se um viajante
a maioria dos relógios de quartzo passou vale a 2,255 mm. Mas em relojoaria as que sai de Portugal num avião supersónico
há muito a utilizar a leitura analógica de indicações em linhas não correspondem e viaja sempre para Oriente, atravessando

276 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
assim zonas com hora mais adiantada.
A dado passo, já está a caminhar para
Ocidente e a ver o Sol a nascer para um
novo dia. Regressado ao ponto de origem,
ter-se-iam passado um total de 24 horas
a mais para além do tempo da viagem,
pois a meio do percurso teria havido uma
mudança de data, em que o calendário do
viajante teria adiantado um dia. Se um
outro viajante tivesse executado o mesmo
percurso, mas para Ocidente, chegaria a
Portugal (pelo Oriente) com um dia de
atraso. Encontravam-se os dois no mesmo
ponto, no mesmo instante, mas com dois
dias de diferença nos respectivos calen-
dários. Para prevenir esse problema, foi
convencionado que é na Linha de Data
que ocorre a mudança: atravessando-a
no sentido Leste-Oeste, retira-se um dia
à data; atravessando-a no sentido Oeste-
-Leste, acrescenta-se um dia.

LONGITUDE — Uma das coordenadas de


posição sobre o globo terrestre. Distância
angular entre o meridiano do lugar e um
meridiano de referência (habitualmente o
de Greenwich), medida para leste (+) ou
para oeste (-). A longitude de Lisboa é de
9º11’ oeste de Greenwich (9º11’W). John
Harrison (1693-1776), relojoeiro inglês,
inventou os cronómetros de marinha,
instrumentos que “congelam” o tempo
do local de partida, mantendo-o a bordo
de um navio, o que permite o cálculo da
longitude no mar, através da comparação
do tempo do cronómetro com o tempo na
altura da medição. A partir da invenção
da rádio, a hora terrestre de referência
passou a estar disponível a bordo sem o
uso do cronómetro. Hoje, é com o sistema
GPS, mas sempre numa relação estreita
com o Tempo, que se mede a longitude
com maior exactidão.

LUBRIFICAR – As partes móveis de um


relógio necessitam de lubrificação. Um

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 277
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

relógio mecânico deve ser regularmente para fixar o vidro. Pode ser fixa ou móvel. ternacional de Alta Relojoaria. Certame
lubrificado (em períodos de três a cinco Neste último caso, bi ou unidireccional, e privado, a que se acede apenas por convite,
anos). Os óleos sempre foram o “calcanhar servindo para várias funções de marcação e que reúne todos os anos, na Primavera,
de Aquiles” da relojoaria e Breguet che- de tempos, segundo fuso horário, desper- nas instalações do Palexpo, em Genebra,
gou a dizer: “dêem-me um óleo perfeito, tador, etc. Nos relógios de mergulho, as algumas das maiores marcas mundiais
e eu faço um relógio perfeito”. O avanço lunetas devem ser unidireccionais, para de alta-relojoaria. Uma espécie de “rival”
na qualidade dos óleos tem sido enorme evitar confusões ou erros na marcação de da Baselworld, a maior feira do sector, de
no último século e a relojoaria usa óleos tempos de mergulho ou de descompressão. Basileia, o SIHH teve início em 1991, como
minerais dos mais avançados que há no resposta à falta de condições de trabalho
mercado, estando também na vanguarda LUPA – Os mostradores apresentam por que lá existiam. Num ambiente de grande
da pesquisa. Um relógio com demasiado vezes uma pequena lupa por cima da jane- exclusividade, menos de duas dezenas de
óleo é tão grave como um relógio com la do dia ou da data, para melhor leitura. marcas têm durante uma semana contacto
óleo a menos ou deteriorado. Os calibres personalizado com os seus clientes (impor-
não usam o mesmo óleo nas suas várias LUSTRO – Período de cinco anos. tadores e consumidores finais especiais)
componentes, e as marcas usam óleos e com um restrito número de jornalistas
diversos, pelo que olear um relógio é uma especializados. Todas as marcas do Grupo
tarefa altamente especializada. Tem ha- Richemont, mais as independentes Aude-
vido esforços para eliminar totalmente o
óleo de um calibre, através da utilização de
materiais compósitos, como as cerâmicas,
[M, N, O, P, Q, R] mars Piguet, Girard-Perregaux, JeanRi-
chard, Parmigiani Fleurier e Roger Dubuis
marcam presença num dos acontecimen-
que não têm atrito. tos-chave da indústria mundial do luxo.

LUMINESCÊNCIA – Propriedade de de- SALTANTE – Diz-se relógio de horas sal-


terminadas substâncias de emitir luz sem tantes ou saltadoras o que mostra através
emitir calor. Em relojoaria, há mostrado- de uma janela as horas, de forma digi-

S
res, ponteiros e indexes luminescentes. tal. A mudança da hora faz-se de forma
A tinta usada nos mostradores era até ao brusca, num salto, e não de forma lenta e
final do séc. XX uma mistura de fósforo progressiva, como acontece num ponteiro
e uma pequena porção de rádio. O fósforo de horas em leitura analógica. Outras
transforma os raios invisíveis (e radioac- indicações, como os minutos, podem ser
tivos) do rádio em luz visível. Alguma saltantes. Não confundir com retrógrado.
controvérsia tem suscitado a utilização de
material radioactivo em relojoaria, embora SAVONNETTE – Tipo de caixa que tem
os níveis de radiação sejam extremamente SAFIRA – O vidro nos mostradores dos uma tampa suplementar a proteger o vi-
baixos. A indústria tem tentado substituir relógios apareceu apenas no séc. XVIII. dro e o mostrador. Relógio savonnette ou
os velhos materiais luminescentes por Até então, o mostrador era aberto e tinha hunter, em inglês, de caçador.
outros não radioactivos. ponteiros fortes e grossos, que se podiam
apalpar de noite, para ver as horas, ou SÉCULO – Espaço de cem anos. O séc.
LUNAÇÃO – Tempo compreendido en- acertar directamente. O plástico começou XXI começou a 1 de Janeiro de 2001 e
tre duas luas novas consecutivas. O mês a substituir o vidro nos anos 60 do séc. acaba a 31 de Dezembro de 2100.
lunar tem uma duração média de 29 dias, XX. Em relojoaria de qualidade, o vidro é
12 horas, 44 minutos e 2,8 segundos. em cristal de safira sintética, resistente ao SEGREDO – Num savonnette, a mola que
risco, e leva um tratamento anti-reflexo. abre ou fecha a luneta ou o fundo da caixa.
LUNETA – Do francês, lunette. O mesmo
que aro ou bisel. Designa um aro coloca- SALON INTERNATIONAL DE LA HAU- SEGUNDA HORA – Diz-se de um relógio
do no lado exterior do mostrador. Serve TE HORLOGERIE, SIHH – Salão In- que tem indicação de outro tempo para

278 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
além do principal. O mesmo que “função de 1/86400 da circunferência terrestre, ou dos relógios atómicos, tornou-se evidente
GMT” ou “fuso horário”. Há relógios com seja, 462.962 metros na linha do Equador. a irregularidade, ainda que infinitesimal,
dupla indicação GMT ou terceira hora e Por outras palavras, o segundo era equiva- da rotação da Terra no seu eixo (alguns
relógios de hora universal, quando têm lente a 1 / 86.400 do dia solar médio (ou centésimos de segundo por ano). Sendo
indicação da hora nos 24 fusos horários. 1/3600 de uma hora, ou 1/60 de um minuto). assim, foi decidido redefinir o segundo
Em 1956, o Comité Internacional de Pesos padrão. Desde 1967, na “13.ª Conferência
SEGUNDO – Símbolo s. Historicamente, o e Medidas adoptou o segundo do Tempo Geral de Pesos e Medidas”, que a definição
segundo é uma unidade de medida angular Efemérico (o da órbita da Terra em redor de segundo passou a ser “a duração de
usada também para medir intervalos de do Sol, em vez do da sua rotação) como 9.192.631.771 períodos da radiação cor-
tempo. Foi em 1818 que se estabeleceu o unidade fundamental de tempo, substi- respondente à transição entre dois níveis
segundo padrão – o tempo que um raio de tuindo o segundo proveniente do Tempo hiperfinos do estado fundamental do átomo
sol no zénite leva para percorrer a distância Médio Solar. Mas, com o aparecimento de césio 133”. Um milionésimo de segundo

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 279
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

é um microssegundo. O balanço dos reló-


gios efectua geralmente 5 ou 6 alternâncias
ou vibrações por segundo (isto é, 18.000
ou 21.600 por hora).

SEGUNDOS AO CENTRO – Também


designado por Grande Segundo. Quando
o ponteiro dos segundos está colocado no
eixo central do mecanismo. Há segun-
dos, horas ou minutos “descentrados”,
quando não estão colocados ao centro
do mostrador.

SEGUNDOS APLICADOS – Diz-se quan-


do o mostrador dos segundos foi soldado
ao mostrador principal e está num plano
ligeiramente mais baixo do que este.

SEGUNDOS DESCENTRADOS – Ex-


pressão que indica que o ponteiro dos
segundos está colocado fora do centro,
onde se fixam geralmente os ponteiros das
horas e dos minutos. Geralmente, quando
descentrado, o ponteiro dos segundos
encontra-se às 06h00. Também se pode
dizer “pequenos segundos”.

SEGUNDOS MORTOS – Ou indepen-


dentes. Invenção do relojoeiro genebrino
Moise Pouzait, em 1777. Um pinhão de
escape montado numa rodagem especial saltos por segundo, num mostrador espe- SEMANA – Ciclo com a duração de sete
faz que o ponteiro dos segundos avance cial, medindo respectivamente quartos ou dias, tantos quantos tem aproximadamen-
exactamente um passo em cada segundo. quintos de segundo. te cada fase da Lua. Esta será pois uma
Além disso, o ponteiro dos segundos, unidade de tempo lunar introduzida no
geralmente colocado ao centro, pode ser SEGUNDOS TROTADORES – De trot- calendário solar que o Ocidente adoptou.
parado sem que o mecanismo do relógio teuse, em francês (não confundir com Não se sabe ao certo a origem deste pe-
pare, tornando os acertos mais exactos foudroyante), jumping seconds, em inglês. ríodo, mas terá sido Israel a dar-lhe pela
– nesse caso fala-se de segundos mortos Ponteiro dos segundos que salta a cada vi- primeira vez uma interpretação teológica
independentes. Os segundos mortos são bração do balanço. Quando está colocado – na Bíblia, o Génesis diz que o mundo
empregues em relojoaria de precisão, no- ao centro, chama-se trotador central ou foi criado por Deus em seis dias e que ao
meadamente nos reguladores. grande trotador. Num movimento mecâ- sétimo, o Sábado, descansou.
nico, o ponteiro dos segundos trotadores
SEGUNDOS FOUDROYANTES – Ou jum- faz geralmente cinco saltos por segundo, SÉRIE – Em relojoaria, fabricam-se sé-
ping seconds, em inglês. Diz-se de um para apenas um salto por segundo nos ries limitadas de determinados modelos,
relógio que tem um ponteiro de segundos movimentos de quartzo, o que permite numeradas ou não. São peças preferidas
suplementar, que dá geralmente 4 ou cinco diferenciá-los facilmente. dos coleccionadores.

280 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
SIDERÓMETRO – Instrumento cronomé- SOLSTÍCIO – Data em que o Sol atinge
trico para navegação marítima ou aérea, a declinação máxima norte (solstício de
que dá o tempo sideral de Greenwich ex- Junho, que marca o princípio do Verão)
presso em graus, minutos e fracções de ou sul (solstício de Dezembro, que marca
minutos de arco. o princípio do Inverno).

SILÍCIO – Elemento muito comum na SONNERIE – Num relógio fixo ou portátil,


natureza. Sintetizado, e devido às suas dispositivo que soa a pedido ou automati-
propriedades amagnéticas e de resistência camente para indicar a hora ou despertar.
às variações de temperatura, tem sido Em Corte na Aldeia, de 1619, Rodrigues
utilizado em espirais. Lobo escreve: “...aconteceu há muitos anos
a um cortesão que aqui vivia, que tendo
SINCRÓNICO – Um relógio sincrónico uns amores humildes, que tratava com
segue rigorosamente a frequência de ou- muito segredo, tinha um relógio de peito
tro, mestre, com o qual ele, escravo, está que trazia tão esperto e bem temperado
ligado em rede. que fazia horas quase a todas as moradoras
deste lugar. Desatentou, e, estando com
SINO – O Ocidente é a civilização do sino. ele ao pescoço uma noite em casa da de-
A relojoaria grossa terá começado com a linquente, deu o relógio meia-noite: e às
preocupação das comunidades religiosas escuras manifestou a toda a vizinhança
em assinalar sonoramente o tempo, em a verdade que até então escondera dos
sinos. Esses primeiros relógios não tinham olhos e suspeitas de todos”. Tratava-se
mostrador, apenas serviam para “bater” as de uma sonnerie e, estando “bem tempe-
horas. Em relojoaria média, pequena cam- rado”, queria dizer que funcionaria bem,
pânula que faz soar as funções de alarme se atentarmos apenas ao significado em
ou despertador ou outro tipo de sonneries. relojoaria e não à ironia do autor…
Na relojoaria de pêndulo, o sistema sonoro
é muitas vezes constituído por gongos, SONNERIE DE CARRILHÃO – Ou de
tubos metálicos ocos ou cheios de chum- catedral. Faz soar três ou quatro sinos de
bo. Na relojoaria fina, o sino é geralmente tons diferentes. É uma Grande Sonnerie.
SEXAGESIMAL – O sistema de contagem substituído por um timbre, aro de metal.
do tempo faz-se na base 60, pensa-se que Tanto o sino como o gongo ou o timbre são SONNERIE DE CINCO MINUTOS – Um
por influência da civilização suméria, accionados por meio de martelos. relógio que dá as horas e depois um to-
que usava o sistema sexagesimal para os que cada cinco minutos, sem assinalar
seus cálculos geométricos e astronómicos. SINUSÓIDE – Curva representativa de os quartos.
Mas os múltiplos do segundo são na base uma função matemática. No movimento
decimal. oscilatório do balanço-espiral, a elonga- SONNERIE DE DESPERTADOR – Sonne-
ção é uma função do tempo que se pode rie contínua num único sino, accionada
SEXTANTE – Instrumento para medir representar por uma sinusóide. a uma hora preestabelecida, através do
em graus, minutos e segundos a altura botão do despertador.
dos astros acima da linha do horizonte. SOBRECOMPENSAÇÃO – Em relojoa-
Os navegantes usavam o sextante para ria, diz-se que um relógio ou uma pêndula SONNERIE DE HORAS – Um relógio que
determinar a latitude. Ao mesmo tem- entraram em sobrecompensação quando dá um toque por cada hora.
po, o sextante é um relógio que mede a o efeito compensador é demasiado forte,
hora local. fazendo-o adiantar-se com o calor e atra- SONNERIE DE MEIOS QUARTOS – Um
sar-se com o frio. relógio que dá horas e quartos e, além

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 281
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

disso, emite um som exactamente a meio


dos quartos, aos sete minutos e meio.

SONNERIE DE MINUTOS – Toca a pe-


dido (por botão ou pulsador) as horas, os
quartos e os minutos.

SONNERIE DE QUARTOS – Um relógio


que, além das horas, dá dois toques (um
grave e um agudo) por cada quarto de hora.

STANDARD TIME – Diz-se do tempo que


se aplica numa determinada zona horária,
que pode abranger total ou parcialmente
vários fusos horários. Países com grandes
extensões de longitude obedecem a vários
standard times e não rigorosamente a
fusos horários. O Canadá e os Estados
Unidos, por exemplo, têm Atlantic, Eas-
tern, Central, Mountain e Pacific Times.
Os EUA têm ainda Alaska, Hawaii-Aleu-
tian e Samoa Times.

SUPERLUMINOVA – Substância usada


para efeitos de luminescência nos pon-
teiros e outros indicadores do mostrador.
Este material não radioactivo capta a luz
natural ou de outra fonte, armazena-a e
liberta-a na escuridão. Se estiver muito
tempo sem captar luz natural, perde a
capacidade luminescente, ao contrário do
Tritium, material radioactivo que brilha
no escuro independentemente de ter sido
ou não previamente exposto à luz.

SURDINA – Numa sonnerie, dispositi-


vo que amortece o som produzido pelo
martelo metálico que bate num timbre ou
campânula. Geralmente, um pedaço de
tecido que envolve a cabeça do martelo.

SWISS MADE – Um dos mais conhecidos


e respeitados símbolos de qualidade a
nível mundial. Ter num relógio a mar-
ca Swiss Made foi durante décadas um
elemento de grande valor aos olhos do

282 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
consumidor em todo o mundo, mas a TAMBOR AUXILIAR – Relógios com
globalização das economias e o uso de outras funções para além das horas, como
matérias-primas e materiais acabados as sonneries, que exigem muita energia,
importados têm, segundo a própria in- dispõem de segundos tambores, adstritos
dústria suíça, deteriorado o conceito. para essas tarefas, que também dispõem
O sector representava em 2007 mais de de dispositivos de corda separados. Fa-
13 mil milhões de francos suíços em la-se do tambor ou corda da sonnerie, do
exportações, o que fazia dele o terceiro alarme, etc.
no país, mas importava produtos no valor
de mais de 1,5 mil milhões. Para ter a TAQUÍMETRO – Dispositivo que mede
indicação “swiss made” um relógio ou velocidade desde que se saiba a distância
um movimento têm de ser montados e percorrida. Mil metros percorridos em
passar por um controlo de qualidade na 45 segundos correspondem, por exemplo,
Suíça, devendo pelo menos 50 por cento a uma velocidade de 80 km/h. Há relógios,
do valor das suas peças ser de fabricação cronógrafos, que têm escala taquimétrica.
helvética. Nesse ano, a Fédération Horlo- O taquímetro pode ser também um apa-
gère (FH) propôs critérios mais apertados relho que serve para medir o número de
para a concessão do selo de origem Swiss rotações por minuto de um motor e, assim,
Made (subindo para 80 por cento o valor a velocidade de máquinas ou veículos.
das peças). A denominação de origem Neste caso, usa-se também “tacómetro”.
Swiss Made apareceu formalmente no Um tacógrafo é um taquímetro que regis-
final do séc. XIX mas as suas origens ta (dantes num disco de papel, hoje em
podem ser detectadas em 1601. memória de um chip) essas indicações.
Os taquímetros e tacógrafos usam-se,
por exemplo, para fiscalizar motoristas
profissionais, ficando a saber-se se estão a
cumprir limites de velocidade e períodos
obrigatórios de descanso.

T
TELÉMETRO – Dispositivo que indica a
distância baseando-se na velocidade do
som (333 1/3 metros por segundo), ou seja,
um km em cada 3 segundos. Qualquer re-
lógio pode ser usado como telémetro, mas
um cronógrafo é o ideal, se tiver escala
telemétrica. Põe-se em marcha o ponteiro
dos segundos do cronógrafo quando, por
TAMBOR – Em relojoaria fina, parte late- exemplo, se vê um raio, pára-se quando se
ral do barrilete, mas adquiriu o significado ouvi o ruído do trovão. A escala indica a
do próprio barrilete. O tambor tem no distância a que caiu o raio (tempo x 333
seu interior um gancho onde se prende a 1/3 metros).
corda. Em relojoaria grossa, o tambor é
um cilindro oco, onde se enrola a corda, e TEMPO – Embora coordenada omnipre-
de onde estão suspensos pesos. Neste caso, sente, ninguém sabe ao certo o que é o
fala-se do tambor de dar corda a peso. Tempo. Realidade não palpável, é das
grandezas mais exactamente mensuráveis

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 283
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

e divisíveis. A noção de tempo é revolu- Sophia de Mello Breyner Andresen,


cionada com Einstein, quando ele diz que num poema dedicado ao 25 de Abril de
o Tempo não é absoluto. Segundo a Teoria 1974, afirma: “Esta é a madrugada que eu
da Relatividade, depois provada, o tempo esperava / O dia inicial inteiro e limpo /
varia com a velocidade do observador – Onde emergimos da noite e do silêncio / E
quanto maior a velocidade, mais lento o livres habitamos a substância do tempo”.
tempo. Por outras palavras, dois irmãos TEMPO A BORDO – Até três sistemas
gémeos, um a viajar no espaço à velocidade de tempo podem coexistir a bordo de um
da luz e o outro a ficar na Terra, passados navio. O dia de um marinheiro começa
anos, quando se reencontrassem, teriam a partir do meio-dia e é dividido numa
idades diferentes – o viajante seria mais série de “vigias” ou “quartos”, cada um
novo. Os relógios que cada um usasse de quatro horas, à excepção de dois pe-
também andariam a ritmos diferentes. As ríodos especiais de vigia de duas horas
teorias de Einstein sobre o tempo vieram cada. Durante cada “quarto” o sino do
revolucionar todo o sistema de pensamento navio é accionado uma vez no fim da
da Humanidade. Só tendo em conta essas primeira meia hora, duas vezes no fim
teorias, sistemas que dependem de tempos da segunda, até oito vezes na quarta hora
coordenados, como o GPS, funcionam hoje final. O dia de um passageiro tem as 24
em dia. A passagem do tempo é medida horas normais, tempo mostrado em re-
tomando como referência fenómenos re- lógios escravos espalhados pelo navio e
correntes como a rotação da Terra (dia), as operados por um relógio mestre, que é
fases da Lua (semana e mês), as Estações adiantado ou atrasado à noite, consoante a
(ano), mas também as vibrações regula- embarcação navega em direcção a oeste ou
res de um pêndulo, de um balanço, de a leste, procurando-se ajustá-lo ao tempo
um cristal de quartzo, de uma molécula local. Finalmente, existe o Tempo Médio
ou de um átomo, aplicadas a medidores de Greenwich, mostrado no cronómetro
de tempo, relógios. Todos os seres vivos de bordo. Este tempo, comparado com o a Escala de Tempo Universal Coordenado,
têm relógios biológicos, regulados pela tempo local obtido por sextante e tabelas UTC (IPQ), através de três osciladores de
presença, ausência ou duração da luz solar náuticas da declinação do Sol, da Lua e césio, contribuindo assim para o Tempo
ao longo de um dia, de um ano. das Estrelas, dá ao navio a sua longitude. Atómico Internacional (TAI).
Eça de Queiroz, no prefácio ao Al- Todo este sistema de orientação tem sido
manaque Enciclopédico para 1896, diz: substituído pelo sistema GPS, por satélite, TEMPO DOS CAMINHOS-DE-FER-
“O Tempo, essa impressão misteriosa a mas o cronómetro de marinha tem per- RO – Quando os caminhos-de-ferro se
que chamamos Tempo, é para o homem manecido a bordo, para o caso de haver começaram a espalhar pela Europa e
como uma planície, sem forma, sem fim, alguma avaria electrónica. Estados Unidos, no séc. XIX, as empre-
sem luz, onde ele caminha guiado pelo sas que exploravam as linhas tinham de
Almanaque, que o segura pela mão, o vai TEMPO ATÓMICO INTERNACIONAL manter um tempo médio próprio, dado
puxando, e a cada passo murmurando: - – Uma rede de tempo internacional basea- que as regiões que serviam ainda usavam
‘Aqui estás em Setembro... Além fim da da apenas em relógios atómicos. O TAI, tempos locais. As empresas editavam
semana... Em breve alcanças o 28... Hoje devido à sua exactidão extrema, entra em regularmente folhetos com tabelas de
é Sábado...’ Se o Almanaque subitamente, divergência com outros marcadores de conversão dos tempos locais para tempo
lhe soltasse a mão, o abandonasse, e para tempo, nomeadamente astronómicos, como dos caminhos-de-ferro. Só com a adop-
sempre se sumisse aquela Voz reguladora, o de rotação da Terra, que se descobriu não ção gradual do meridiano de Greenwich
que anuncia as Datas, o homem vaguearia serem totalmente constantes. O Laborató- e dos fusos horários pela comunidade
estonteado, irremissivelmente confuso, rio de Tempo e Frequência, dependente do internacional essa conversão deixou de
dentro da vacuidade do Tempo.” Instituto Português da Qualidade, realiza fazer sentido.

284 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
TEMPO LEGAL — Tempo dado pelo TEMPO LOCAL VERDADEIRO — Tem- é mais preciso que o dia solar, sendo por
Tempo Universal Coordenado (UTC) po marcado pela posição do Sol, corres- isso usado em cálculos astronómicos e de
acrescentado ou diminuído do número de pondendo o meio-dia à sua passagem determinação coordenada do Tempo.
horas ou fracções de hora do fuso horário meridiana por um determinado local.
do local. Em Portugal continental e na TEMPO SOLAR MÉDIO — Tempo mar-
Madeira, o tempo ou hora legal é dado TEMPORIZADOR – Mecanismo de re- cado pelo meio-dia solar, mas corrigido
pelo UTC, acrescentado de 60 minutos lojoaria que pode ser regulado para um de forma a fazer que todos os dias do ano
desde o último domingo de Março até determinado período de tempo e que faz tenham a mesma duração e portanto as
ao último domingo de Outubro seguinte soar um alarme ou acciona um interruptor diversas unidades (horas, minutos e se-
(hora de Verão). Nos Açores, esse tem- quando este se esgotou. Há temporizado- gundos) em que o dia se subdivide tenham
po ou hora legal é sempre diminuído de res em artefactos de cozinha, telefones, também a mesma duração. A correcção
uma hora. máquinas fotográficas, etc. traduz-se na equação do tempo e deriva do
facto de nem todos os dias do ano terem
TEMPO LOCAL MÉDIO — Tempo TEMPO SIDERAL – Um dia sideral (24 exactamente a mesma duração (variam
construído para um Sol imaginário que horas siderais) é o tempo correspondente a entre mais 16 minutos e meio e menos
perfizesse um período sempre em 24 ho- uma rotação completa da esfera celeste. Ou 14 minutos e 15 segundos).
ras exactas, corrigindo pois os avanços seja, o tempo que medeia duas passagens
e atrasos do tempo solar verdadeiro, e consecutivas de uma estrela, que não o Sol, TEMPO SOLAR VERDADEIRO (OU APA-
ajustado de forma a que o meio-dia seja pelo meridiano de um lugar. Um dia sideral RENTE) — Tempo marcado pelo meio-dia
dado pelo meio-dia solar médio anual. tem 23 horas, 56 minutos e 4,1 segundos e solar verdadeiro do local e do dia em causa.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 285
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

TEMPO UNIVERSAL COORDENADO


— A designação, TUC, usualmente abre-
viada para UT, abrange vários tempos
baseados no tempo médio de Greenwich
(GMT). De forma genérica pode dizer-se
que corresponde ao tempo solar médio do
meridiano de Greenwich. Actualmente
usa-se como unidade internacionalmente
aceite o Tempo Universal Coordenado,
que é o tempo médio corrigido para as os-
cilações do movimento polar e do período
de rotação da Terra, que não é constante.

TERMINAGE – Na indústria relojoeira suíça,


fala-se em fábrica de terminage quando se
está perante uma unidade que faz acaba-
mentos, onde apenas se procede à monta-
gem, afinamento, colocação de ponteiros
e montagem final nas caixas. Usa-se em
contraposição ao termo “manufactura”.

TIC-TAC – Onomatopeia que representa


o ruído do órgão regulador de um relógio.
Duas alternâncias são uma oscilação, é
o tic-tac.

TIGE – O mesmo que haste. Órgão cilín-


drico geralmente munido de pivots, como
as tiges do eixo de balanço, da âncora ou
do remontoir.

TILLET – Ferramenta de relojoeiro que


serve para abrir as caixas dos relógios,
rectificar os bordos das lunetas e corrigir
os fechos.

TIMBRE – Nas pendulettes e nos desper-


tadores, é uma campânula ou campainha
que sofre o toque do martelo. Nos relógios
de repetição, o timbre é uma folha de aço
temperado, solidamente fixa num dos seus
extremos e onde o martelo bate. Nas son-
neries de carrilhão, usam-se três timbres.

TIME-STAMPING – Certificação de tem-


po. Em Portugal, a única instituição au-

286 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
torizada a fazer time-stamping oficial é
o Observatório Astronómico de Lisboa.
O serviço, disponibilizado online, é usado
por instituições financeiras, advogados,
etc. O time-stamp permite apostar “selos
digitais de tempo” (time-stamps) que asso-
ciam a data e a hora legal portuguesa a um
documento em formato electrónico. Este
serviço pode ser utilizado para, mais tarde,
se provar que o documento electrónico
existia na data e hora que o “selo digital
de tempo” comprova. O tempo é crítico
quanto se trata de comprovar que algo
aconteceu: quando tiveram lugar determi-
nadas transacções (por exemplo, ordens de
transacção em Bolsa), se foi cumprido o
prazo de entrega de determinada proposta
para um concurso de fornecimento (seja
ele público ou não), entre outras aplica-
ções. De facto, cada vez mais, as empresas
efectuam transacções ou contratos via
Internet, recorrendo à assinatura elec-
trónica. Estas assinaturas necessitam de
um time-stamp para estabelecer quando
ocorreram esses negócios e, ao mesmo
tempo, assegurar que os documentos não
sofreram alterações após a sua assinatura.
Os “selos digitais de tempo” seguros são
um componente crítico em praticamente
qualquer operação ou transacção de ne-
gócios. São ainda mais fundamentais num
ambiente electrónico onde os negócios
são conduzidos à distância, com grandes
volumes e rapidez, e entre pessoas que
podem nunca vir a conhecer-se.

TIRAGE – Nos relógios de repetição, palhe-


ta exterior à caixa. Pode fazer-se deslizar
a tirage, com a ajuda da unha, para dar
corda ao barrilete da sonnerie.

TMG – Abreviatura de Tempo Médio de


Greenwich (Greenwich Medium Time,
GMT). É o tempo médio solar no Ob-
servatório de Greenwich, nos arredores
de Londres. Em 1880, o GMT foi estabe-

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 287
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

lecido por lei como hora oficial em toda rodas que transmite a rotação do pinhão
a Grã-Bretanha. Em 1884, numa con- dos minutos ao ponteiro das horas.
ferência internacional, em Washington,

U
adoptou a linha de longitude que passa TRITIUM – Material radioactivo usado
por Greenwich como meridiano zero e pelas suas propriedades luminescentes
a base do sistema de fusos horários (sob nos ponteiros e outros indicadores do mos-
proposta dos Estados Unidos e apenas com trador. Ao contrário do SuperLuminova,
os votos contra da França e da Irlanda). por exemplo, que perde a propriedade de
luminescência se não tiver armazenado
TOCAR (HORAS) – O mesmo que “dar” previamente suficiente luz de outra fonte,
ou “bater”. As sonneries tocam geralmen- o Tritium, mesmo que permaneça sempre
te as horas e os quartos. na escuridão, brilha, sem necessitar de se ULTRA-SOM – Vibração sonora inaudível
alimentar noutra fonte de luz. A indicação aos humanos de frequência muito elevada.
TOQUE ROMANO – Método de bater “T Swiss made T”, que aparece por vezes A relojoaria usa a limpeza por ultra-sons.
horas baseado na numeração romana em nos mostradores significa que o relógio,
vez da numeração árabe. Inventado para além de ter denominação de origem suíça, UNIDIRECCIONAL – O rotor ou massa
gastar menos energia, aumentando assim contém uma determinada quantidade de oscilante de um relógio automático, o aro
a autonomia da corda da sonnerie. Um Tritium que emite radiações dentro do ou luneta podem ser uni ou bidireccionais.
toque agudo representa I, um toque grave limite legal.
representa V, e dois graves representam UNIVERSAL – Um relógio que tem in-
X. Assim, por exemplo, IX horas nesse dicação do tempo nos 24 fusos horários
tipo de relógio soa com um tom agudo TURBILHÃO – Dispositivo imaginado diz-se de horas universais.
seguido de dois graves. em 1798 por Abraham-Louis Breguet para
anular as irregularidades do movimento
TOTALIZADOR – Nos cronógrafos, o provocadas pela gravidade. Era no tem-
mesmo que contador ou acumulador. po em que os relógios eram de bolso e
passavam grande parte das suas vidas na
TRASER – Gás luminescente produzi- posição vertical. Através de um sistema

V
do em laboratório, uma patente suíça. móvel em gaiola, que dá uma volta com-
Fechado em cápsulas, o Traser pode ser pleta cada minuto e tem no seu interior os
empregue em ponteiros e indexes. É 100 órgãos do escape e o balanço/espiral, os
vezes menos radioactivo e 100 vezes mais efeitos da gravidade tendem a anular-se.
luminescente que o Tritium. Hoje em dia, um relógio de pulso usado
normalmente, devido aos movimentos
TRAVÃO – Órgão, geralmente fixo, que nas várias posições, não precisa tecni-
limita ou detém o percurso de um órgão camente de um turbilhão, mas a beleza
móvel de um relógio. A âncora ou o ba- deste mecanismo, quase sempre à mostra, VELA HORÁRIA – Vela com marcações
lanço têm o seu movimento angular limi- continua a ser apelativa. Há, hoje em dia, equidistantes, que servia para medir o
tado por travões, a corda tem travões que duplos turbilhões, turbilhões inclinados, tempo, em mosteiros e conventos. A parte
limitam a energia que a massa oscilante turbilhões que giram tridimensionalmen- que sobrava indicava o tempo passado
transmite nos relógios automáticos. As te, 360º. No entanto, nos últimos anos, desde que se acendeu a vela. Podia acres-
sonneries têm sistemas de travões para com a banalização dos turbilhões em re- centar-se um pequeno objecto metálico a
limitar a velocidade das suas rodagens. lógios que custam relativamente barato, dado passo do coto que, ao ser consumido,
esta complicação perdeu algum do seu o faria cair no candelabro, fazendo as
TREM – Conjunto de rodas específico encanto e mistério. vezes de alarme.
para uma função. A minuterie é o trem de

288 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
VIBRAÇÃO – O mesmo que oscilação,
ou duas alternâncias.

VIDRO – Os relógios de pulso mais bara-


tos são geralmente equipados com vidro
plástico, um material acrílico, pratica-
mente inquebrável, que oferece uma boa
elasticidade, o que proporciona realizar
de forma fácil caixas estanques. Os vi-
dros minerais temperados oferecem uma
boa resistência ao choque e uma relativa
resistência ao risco, sendo o material que
equipa os relógios de gama média. Os
vidros em safira sintética, mas corren-
temente conhecida por vidro de safira,
equipam hoje a quase totalidade dos re-
lógios de gama média-alta e alta, dada a
sua durabilidade e resistência ao risco.
Este vidro de safira tem uma dureza 9
na escala de Moss (só é riscado pelo dia-
mante). Além de equipar os mostrado-
res, o vidro de safira tem sido cada vez
mais usado nos fundos dos relógios de
qualidade, quando o fabricante pretende
que o calibre que o equipa esteja à vista.
Geralmente, o vidro de safira recebe um
tratamento anti-reflexo, que consiste numa
película aderente que lhe é acrescentada
na superfície exterior.

VIROLA – Pequeno cilindro fendido,


ajustado livremente ao eixo do balanço.
A virola tem uma perfuração lateral onde
se vai fixar o extremo interior da espiral.

VISCOSIDADE – A viscosidade dos óleos


de relojoaria era até há pouco tempo inver-
samente proporcional à temperatura: quan-
do esta aumentava, aquela diminuía. A 0º
o óleo podia ser até oito vezes mais viscoso
que a 20º. Os óleos sintéticos actualmente
usados em relojoaria variam pouco a sua
viscosidade com a temperatura e com o
tempo. Mas não deixam de ser, ainda, o
calcanhar de Aquiles de um mecanismo.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 289
DICIONÁRIO RELOJOARIA de A a Z

VITE-ET-LENT – O FAST-AND-SLOW IN- o famoso Big Ben e a sua melodia foi reti-
GLÊS – Moderador do trem de rodas das rada de uma frase musical do Messias de
antigas repetições. A velocidade da ro- Haendel. Os carrilhões tipo Westminster
dagem regulava-se apertando ou apro- são das sonneries mais valorizadas, tanto
ximando o último pinhão da rodagem à em relojoaria grossa como fina.
roda com a qual engrenava.
WOSTEP – Acrónimo de Watchmakers
VOLANTE – O mesmo que balanço. Ór- of Switzerland Training and Educational
gão que, mediante as suas oscilações, Program. Uma das escolas de relojoaria
regulariza a marcha das engrenagens do mais prestigiadas do mundo. O WOSTEP
relógio. No seu interior está a espiral. é financiado pelos seus membros, que
O conjunto volante-espiral é o que mais incluem as principais marcas de relógios
sofre com as alterações de temperatura suíças, organizações do sector, outras as-
ambiente, prejudicando assim o compor- sociações e retalhistas suíços e de todo o
tamento do relógio. Há volantes monome- mundo. Foi fundado em 1966 em Neuchâ-
tálicos, cuja espiral é autocompensada, tel, onde ainda hoje se encontra, e mantém
feita de materiais que evitam a deformação programas de cooperação com escolas de
por grandes amplitudes térmicas – tipo relojoaria de todo o mundo, incluindo a
Nivarox, hoje a mais usada; ou bimetá- portuguesa Escola de Relojoaria da Casa
licos, geralmente de aço e latão, que se Pia, de Lisboa.
autocompensam. O aro do volante dispõe
de parafusos reguláveis, que permitem
modificar o seu poder compensador.
É uma das formas de afinar um relógio.

Z
dente à posição do Sol durante aproxima-
damente um mês. Em cada uma dessas

W
partes encontram-se asterismos, isto é,
agrupamentos de estrelas que receberam
o nome de signos. Os doze signos do
zodíaco clássico correspondem a figuras
ZÉNITE – Ponto mais alto do céu que mitológicas, por isso essa banda recebeu
se encontra por cima do observador. Por em grego o nome de círculo de animais,
outras palavras, ponto da esfera celeste zoidiakos kuklos, de onde deriva a sua
que intersecta superiormente a normal do designação “zodíaco”. Os relógios me-
WESTMINSTER – Os toques em relo- lugar. O ponto inferior, oposto é o nadir. cânicos podem ter esta indicação, que
joaria começaram a ser apenas de um está compreendida entre as complicações
som (das horas), passando rapidamente a ZODÍACO – Banda celeste de mais e astronómicas.
dois (marcando horas e quartos). O toque menos oito graus em torno da elíptica, a
Westminster usa quatro sinos, gongos ou linha que o Sol aparentemente descreve ZULU TIME – Pouco antes de entrarem
campainhas. A torre do relógio do palá- na esfera celeste durante o ano. Os babi- na II Guerra Mundial, os Estados Unidos,
cio de Westminster, em Londres, nome lónios dividiram essa banda celeste em prevendo a confusão que seria o entendi-
oficial do edifício do Parlamento, alberga doze partes iguais, cada uma correspon- mento entre forças aliadas em combate,

290 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
especialmente em teatros de acção rápida alfabeto fonético, é representada pela parâmetro, significa sete horas da manhã,
como o ar, decidiram implementar um palavra “Zulu”. “Decimal” diz-se para à longitude de zero graus e zero minutos
alfabeto fonético militar. Foi a partir desse significar “vírgula” e “stop” para “ponto”. (daí a letra “z” e a palavra “zulu”) – o me-
alfabeto, inspirado naturalmente na língua Os meios militares e alguns meios civis ridiano convencional que separa o Leste
inglesa que, com ligeiras alterações, se (especialmente os aeronáuticos e maríti- do Oeste no sistema geográfico mundial
chegou ao que é hoje utilizado em todo o mos) comunicam entre si em “Zulu Time”, coordenado, e que passa pelo Observa-
mundo, não apenas para uso militar, mas ou “Horas Zulu”. Estão a referir-se ao tório Real de Greenwich, Inglaterra. No
também civil, e não apenas na navegação Tempo Universal Coordenado (UTC, do Horário de Verão, Portugal continental e
aérea mas também marítima e em muitos acrónimo em inglês), e não à respectiva a Madeira têm a Hora Zulu ou UTC mais
outros tipos de comunicações. hora local, permitindo um tempo comum uma, e no Horário de Inverno a mesma.
“Alfa”, “Bravo”, “Charlie”, “Delta”, entre sujeitos colocados em fusos horários Os Açores têm no Horário de Verão a
“Echo”, “Fox Trot”, “Golf”, “Hotel”, “In- diferentes, evitando assim más interpreta- mesma hora que a Zulu e no Horário de
dia”, “Juliet”, “Kilo”, “Lima”, “Mike”, ções. O tempo passa a ser referido numa Inverno menos uma. n
“November”, “Oscar”, “Papa”, “Quebec”, escala de 24 horas (os mostradores de
“Romeo”, “Sierra”, “Tango”, “Uniform”, relógios militares usam essa escala e não
Por decisão pessoal o autor não segue o Novo Acordo
“Victor”, “Wiskey”, “X-Ray”, “Yankee” a habitual de doze, para evitar confusões Ortográfico
representam, respectivamente as letras entre dia e noite), e em quatro dígitos e *Extraído de Dicionário de Relojoaria – O Universo do
“a”, “b” “c”, “d”, etc. A letra “Z”, nesse uma letra. “0007Z”, por exemplo, nesse Tempo e dos seus Medidores” (Editora Âncora, 2007)

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 291
LEITORES

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294 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
1 2

4 6

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 295
LEITORES

7. A SSOCIAÇÃO PROTECTORA 10. S


 ANDRA RAPOSO
DE ANIMAIS – OS BONS AMIGOS ASSISTENTE VIRTUAL
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tem como objetivo a recolha de animais abandonados, ganhe tempo e liberdade para que se possa focar
vítimas de maus-tratos e negligenciados, naquilo que é realmente importante: o crescimento
recuperando-os e provendo a sua adoção do seu negócio. Como? Prestando serviços
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crescermos juntos. Mais informações em
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8. MARKTE
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que desenvolve a sua atividade no âmbito da DE RELOJOARIA
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12. GARAGEM
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296 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
7 9

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CAMANGA

voucher teresavai de ferias.pdf 1 17/11/2021 12:16:24

10 11

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ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 297
PARCEIROS

CIMENTAR E REFORÇAR
AS LIGAÇÕES
AGRADECEMOS AOS NOSSOS PARCEIROS E A TODOS AQUELES
QUE CONTINUAM A APOIAR E TÊM VINDO A CONTRIBUIR PARA
O SUCESSO DA NOSSA EDIÇÃO, SOBRETUDO A DESTE ANO,
QUE SERÁ SEM DÚVIDA UMA EDIÇÃO HISTÓRICA!

O Anuário não é somente uma revista que expõe Relógios e cria


tendências, é cada vez mais o ponto de encontro de uma rede de
luxo onde tentamos desempenhar um papel essencial no desen-
volvimento estratégico do seu negócio, como uma extensão da
sua divisão de marketing atual. Cimentar e reforçar as ligações
de interação para trabalharmos todos em conjunto, com o mesmo
objetivo, é a chave de sucesso para desenvolver novos negócios,
gerir notoriedade e criarmos um marco nas publicações de luxo.
1. O PALÁCIO HOTEL GOLF & WELLNESS, no Estoril, em parceria
com o Anuário, juntou um grupo exclusivo de convidados para
celebrar o 25.º aniversário da edição, num almoço restrito e
requintado, onde se proporcionou um momento favorável para
trocar sinergias, apresentar novas estratégias e planear futuras
colaborações conjuntas.
2. A CASA-MUSEU FUNDAÇÃO MEDEIROS E ALMEIDA recebeu o
Anuário Relógios & Canetas, que ali lançou as suas quatro últimas
edições, na tão esperada celebração dos 25 anos da publicação.
Um apoio incondicional e excecional que permite assim distinguir,
diferenciar e posicionar o Anuário no topo das publicações de luxo.
3. Uma parceria desde há muito iniciada permitiu este ano que a
Certora desafiasse os leitores do Anuário “a darem o seu melhor
mergulho” e se habilitassem a um relógio SEIKO Prospex Diver’s
Padi Monster. Para tal, bastava participar no pas­satempo que de-
correu durante o ano 2021 (comunicado e divulga­do nos diversos
meios de suporte do Anuário Relógios & Canetas e poder ser o feliz
selecionado. Parabéns ao vencedor!
4. Para assinalar o seu 25.º aniversário, a edição do Anuário
Relógios & Canetas juntou as sinergias já existentes do setor
Automóveis com a alta-relojoaria. Dada a relação histórica que
os dois mundos – a micro e a macromecânica – têm, criámos um
caderno específico para os carros, à semelhança dos relógios.
Iniciámos este projeto com o apoio da ALPINE, que marca a sua
presença na edição através dum inovador marcador, pela primeira
vez incorporado no Anuário.
5. A CARLTON JEWELLERS associou-se à edição 25.ª do Anuário,
possibilitando que os leitores se habilitassem a uma exclusiva
peça da sua coleção através de um passatempo que será comuni-
cado ao longo do ano 2022 nas novas edições online.
6. Um parceiro incontestável, a Ibelujo, marca distinção no
Anuário, desta vez com a marca Frederique Constant presente na
cinta da edição, promovendo junto dos leitores um passatempo
(a decorrer durante 2022) que lhes oferece a possibilidade de
ganhar um relógio FREDERIQUE CONSTANT, da coleção Highlife
Automatic COSC.

298 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
1

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ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 299
PARCEIROS
7 8

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13 14

300 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
15 16
10

17

7. O LAMELAS RESTAURANTE ofereceu aos nos- 15. Mais uma vez conseguimos juntar num
sos convidados a possibilidade de se delicia- almoço informal os 30 mais exclusivos CEOs,
rem com um almoço a dois, descobrindo assim onde este ano foram presenteados com uma
os sabo­res do Alentejo. A oferta estendeu-se lembrança da LUA CHEIA. Durante o decorrer
a três casais que marcaram presença na festa do almoço, que se realizou no Palácio Hotel, no
de aniversário e lançamento da 25.ª edição. Estoril, o menu foi servido sempre acompanhado
8. Foram vários os presentes que foram atri-
da requin­tada marca de vinhos apresentados e
buídos no decorrer da festa de lançamento do propostos pela Lua Cheia.
Anuário 2022, incluindo um relógio BRISTON, 16. A AEMpress colabora com o Anuário há mais
disponibi­lizado pelo representante da marca de 8 anos. Especializada em tecnologia, é res­
em Portugal, a Importempo, cliente, amigo e ponsável pelas áreas de hardware e software
parceiro de longa data do Anuário. que a logística do Anuário necessita.
9. Igualmente, e para celebrar em grande, a 17. A MARKTE é a marca comercial direcionada
MUR­G ANHEIRA proporcionou momentos de ale- para marketing empresarial na área do turismo,
18 gria e todos juntos, ao sabor de um espumante promovendo programas de atividade no seg-
inesquecível, brindámos ao lançamento de mais mento de luxo. Sob a alçada da marca “Teresa
uma edição. No final, houve um feliz contemplado Vai de Férias”, a Markte aceitou o desa­fio do
(sorteado) que pôde levar consigo uma garrafa Anuário e, juntamente com outras marcas, pre-
de espumante Murganheira muito especial. senteou alguns convidados na festa de lança­
10. A AIMEC (ACADEMIA INTERNACIONAL DE
mento do edição n.º 25, quem sabe o início de
MÚ­SICA ELECTRÓNICA), a maior rede de escolas uma longa parceria!
de DJ, mais uma vez apoiou o Anuário, marcando 18. Para os passageiros da TAP AIR PORTUGAL
o ponto alto da festa de lançamento da edição facultamos a edição mensal do Re­lógios & Ca-
n.º 25, criando emoções através do som ambiente. netas online. Basta descarregarem a aplicação
11. Fazendo história, o lançamento desta edição
Fly Tap e procurarem o quiosque virtual da com-
do Anuário, contou mais uma vez com o apoio do panhia aérea. Depois de feito o check-in, terão
SUSHI EM TUA CASA, onde pudemos receber e direito ao descarregamento gratuito de vários
deliciar os nossos convidados com um manjar títulos, entre eles o Anuário Relógios & Cane-
infinito das mais variadíssimas peças de Sushi. tas, na sua edição online mensal.
19. Líderes de mercado em banca, possuidores
12. A FERNANDA LAMELAS ARTS, mais uma
vez apostando no Anuário e, através de uma de uma marca forte, reconhecida pelo setor e
19 ação de charme, deu a conhecer aos nossos pelo consumidor final, nacional e internacio-
convidados, na festa de lançamento da edição nalmente, sentimos que cada vez mais é nossa
nº 25, a sua coleção, com a oferta, através do obrigação desempenhar o papel de facilitador,
sorteio, de três peças distintas (um lenço, uma não só para que as marcas possam chegar aos
écharpe e uma gravata). clientes certos, como também para desenvol-
ver e criar uma rede de relações de proximida-
13. Pelo segundo ano consecutivo a ECOSKIN de entre os mais diversos setores e segmen-
foi parceira do Anuário, onde na festa de lan- tos de mercado.
çamento apresentou e presenteou os nossos
convidados com algumas peças da marca Su- Neste âmbito, e por termos encontrado um elo
berskin Handmade e Ecoskin um produto sofis- de ligação e a sinergia necessária com a asso-
ticado Made in Portugal, através de um sorteio ciação APABA, que inclusive foi selecionada e
que o Anuário organizou no decorrer do evento. apoiada por duas vezes pela Fondation Brigit-
te Bardot, agora é a nossa vez de apelar à sua
14. Como parceiro de longa data, este ano o ajuda... ajude-nos a ajudar!
Anuário, a convite da Exponor, marcará mais uma
vez presença na PORTOJÓIA, apoian­do assim o NIB 001000003592193000128 BPI
setor, dinamizando o certame e promovendo NIF 503 820 539
novas iniciativas conjuntas.

ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 301
DIRETÓRIO
SAIBA MAIS E VEJA GRATUITAMENTE AS EDIÇÕES ONLINE DO ANUÁRIO RELÓGIOS & CANETAS:
Site: www.anuariorelogiosecanetas.pt/ MACHADO JOALHEIRO, S.A.
Facebook: https://www.facebook.com/AnuarioRelogioseCanetas/?ref=bookmarks Rua 31 de Janeiro, 200 – 4000-542 Porto
Tel.: 00 351 223392070
Instagram: https://www.instagram.com/anuariorelogiosecanetas/ Av. da Boavista, 3511 – Edif. Aviz – 4100-139 Porto
App Store: https://itunes.apple.com/pt/app/id616913442?mt=8&affId=1860684 Tel.: 00 351 226101283
Av. da Liberdade, 180 – Tivoli Fórum – 1250-146 Lisboa
LOJAS (Balmain, Breitling, Buben & Zorweg, Calvin Klein, Tel.: 00 351 211543940
— Chronoswiss, Citizen, Corum, Cuervo e Sobrinos, E-mail: machado@machadojoalheiro.com
BOUTIQUE DOS RELÓGIOS PLUS Cvstos, Dunhill, Eberhard, Erwin Satler, Franck Site: www.machadojoalheiro.com
Site: www.boutiquedosrelogios.pt Muller, Gucci, Hamilton, Hermès, Hublot, Jaeger-
Apoio ao cliente: Tel.: 00 351 808100010 LeCoultre, Longines, Maurice Lacroix, Meccaniche (Relógios: Baume & Mercier, Bell & Ross, Breitling,
E-mail: cliente@boutiquedosrelogios.pt, Veloci, MeisterSinger, Montblanc, Omega, Oris, Cartier, Chaumet, Chanel, Chronoswiss, Franck
WhatsApp: 00 351 939920024 Pequignet, Porsche Design, Raimond Weil, Muller, Frederique Constant, Hublot, Jaeger-
Facebook (@boutiquedosrelogios) SevenFriday, Scatola del Tempo, Tag Heuer, Tissot, LeCoultre, Junghans, Panerai, Omega, Oris, Raymond
Instagram (boutiquedosrelogiosplus),LinkedIn Ulysse Nardin, Zenith) Weil, SevenFriday, TAG Heuer; Joias: Chaumet, Dinh
(Boutique dos Relógios) Van, Dodo, K di Kuore, Machado Joalheiro, Maria e
COLECIONISMO E PAIXÕES, LDA Luisa, Mikimoto, Mimi e Pomellato)
LISBOA Corinthia Lisboa Hotel
Amoreiras Shopping Center, Tel.: 00 351 213827440, Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 105 PIRES JOALHEIROS
E-mail: brplus_amoreiras@boutiquedosrelogios.pt; 1099-031 Lisboa  Rua do Souto, 48 – 4700-329, Braga
Centro Colombo, Tel.: 00 351 217122595, Telm.: 00 351 933609456; Telm.: 00 351 916612921 Tel.: 00 351 253201280
E-mail: brplus_colombo@boutiquedosrelogios.pt; E-mail: geral@coleccionismoepaixoes.com  E-mail: geral@piresjoalheiros.pt 
Av. da Liberdade, 129, Tel.: 00 351 213430076, Site: www.coleccionismoepaixoes.com  Site: www.piresjoalheiros.pt  
E-mail: brplus_avliberdade@boutiquedosrelogios.pt;
Av. da Liberdade, 194C, Tel.: 00 351 210730530, (Agentes oficiais de: Chronoswiss, March LA.B, RELOJOARIA FARIA
E-mail: brplus_artavenida@boutiquedosrelogios.pt Sevenfriday) Largo Afonso de Albuquerque, 7 – 27150-519 Sintra
Tel.: 00 351 219105580
CASCAIS DAVID ROSAS – Time Experts Penha Longa Hotel e Golf Resort (Sintra)
Cascais Shopping, Tel.: 00 351 214607060, Lisboa: Av. da Liberdade, 69A Tel.: 00 351 219244223
E-mail: brplus_cascais@boutiquedosrelogios.pt Tel.: 00 351 213243 870 E-mail: info@relojoariafaria.pt
Porto: Av. da Boavista, 1471 Facebook: relojoariafariapaginaoficial
PORTO Tel.: 00 351 226061060 Site: www.relojoariafaria.pt
NorteShopping, Tel.: 00 351 229559720, Algarve: Quinta Shopping, Loja 20
E-mail:brplus_norteshopping@boutiquedosrelogios.pt Tel.: 00 351 289399410 (Alta-relojoaria: Jaeger-LeCoultre, Franck Muller,
Av. dos Aliados, n.º 127, Tel.: 00 351 220135073 Site: www.davidrosas.com  Bvlgari, Corum, TagHeuer, Chronoswiss, Frederique
E-mail: brplus_aliados@boutiquedosrelogios.pt Constant, Montblanc, Bell&Ross, Seiko Astron, Fortis,
(Official retailer of Patek Philippe) SevenFriday, Chaumet)
ALGARVE (Relojoaria: Tissot, Seiko, Calvin Klein, Iron Annie,
Quinta Shopping - Quinta do Lago, ESPIRAL RELOJOARIA Tommy Hilfiger, Pulsar, Cauny, Junkers, Lorus)
Tel.: 00 351 289391384, Site: www.espiralrelojoaria.com
E-mail: brplus_quintadolago@boutiquedosrelogios.pt Tel.: Apoio ao cliente Portugal: 00 351 210163873 RPN, ATELIER DE RELOJOARIA UNIPESSOAL, LDA
Tel.: Apoio ao cliente Angola: 00 244 931150000 Rua de S. Julião 66, – 1100-526 Lisboa 
Relojoaria E-mail: geral@espiralrelojoaria.com Tel.: 00 351 216042701
(Audemars Piguet, Bovet 1822, Breguet, Blancpain, Facebook: (espiralrelojoaria) E-mail: rpn@rpn.pt
Baume & Mercier, Breitling, Bulgari, Cartier, Chanel, Instagram: (espiralrelojoaria) Site: www.rpn.pt
Glashütte, Greubel Forsey, Gucci, HYT, Hublot, IWC, LinkedIn: (espiralrelojoaria)
Jaquet Droz, Longines, Montblanc, Montegrappa, (Ebel, Cartier, Panerai e IWC - Assistência Técnica
Omega, Panerai, Parmigiani, Piaget, Porsche Design, Lisboa – Espiral Amoreiras Shopping Center Oficial).
Roger Dubuis,Vacheron Constantin, Zenith, Pre- Av. Eng. Duarte Pacheco, n.º 2037, Loja 2070 e 2071
Owned Watches) 1070-130 Lisboa, Portugal VACHERON CONSTANTIN
Tel.: 00 351 210163873 / 00 351 932128320 Av. da Liberdade, 192A Lisboa – 1269-051 Lisboa
Joias & Acessórios E-mail: geral@espiralrelojoaria.com Tel.: 00 351 211510033
(Graff, Suzanne Kalan, Anil Arjandas, Brumani, E-mail: vacheron.avenida@tempus.pt
Bulgari, Carolina Bucci, Creed perfumes, Damiani, (Bell & Ross, Frederique Constant, Franck Muller, Site: www.vacheron-constantin.com
Djula, Gucci, Mattia Cielo, Montblanc, Shamballa Giuliano Mazzuoli, Hermès, Junghans, Montblanc,
Jewels, The Jewelry, Tirisi, Thom Browne, Zancan) Raymond Weil, Tag Heuer, U-Boat, Ulysse Nardin, Zenith) (Vacheron Constantin)

BOUTIQUE MONTBLANC Angola – Espiral Hotel Epic Sana —


Av. da Liberdade, 111 – 1250-140 Lisboa Rua da Missão, Luanda, Angola REPRESENTANTES
Tel.: 00 351 213259825 Tel.: 00 244 948595965  —
E-mail: boutique.lisboa@montblanc.pt E-mail: geral@espiralgrupo.net B.O.T.M.
Ronda de Sobradiel 40 – 28043 Madrid (España)
BOUTIQUE MONTBLANC Angola – Espiral Belas Shopping Tel: 0034 65 898796
Norte Shopping, Loja 0.415/17 Av. Luanda Sul, Luanda Angola E-mail: marie@botm.es
4460-841 Senhora da Hora Tel.: 00 244 935789770 Site: www.baume-et-mercier.com
Tel.: 00 351 224049831 E-mail: geral@espiralgrupo.net
E-mail: porto.boutiquemb@montblanc.pt (Baume & Mercier)
Angola – Espiral Fortaleza Shopping
BOUTIQUE MONTBLANC Marginal de Luanda CARLTON JEWELLERY   
El Corte Inglés Lisboa – 1069-413 Lisboa Tel.: 00 244 938844454 Rua Casal de Vagares, N.º 8 – 3030-141 Coimbra  
Telm.: 00 351 936376734 E-mail: geral@espiralgrupo.net Tel.: 00 351 239717049  
E-mail: carlton@carltonjewellery.com  
BOUTIQUE MONTBLANC Angola – Espiral Hotel Intercontinental Site: www.carltonjewellery.com
El Corte Inglés Vila Nova de Gaia Eixo Viário - Luanda Angola
4430-999 Vila Nova de Gaia Tel.: 00 244 931150000 CASIO ESPANHA, SUCURSAL EM PORTUGAL
Telm.: 00 351 936376738 E-mail: geral@espiralgrupo.net Parque das Nações, Rua do Polo Sul, n.º 2, 4.º A
1990-273 Lisboa
CAMANGA (Breitling, Carl F. Bucherer, Chronoswiss, Tel.: 00 351 218939170
Rua Carlos Testa, 1 - R/c A – 1050-046 Lisboa Frederique Constant, Franck Muller, Cvstos, Giuliano E-mail: casioportugal@casio.pt
Tel./Fax.: 00 351 217950424 Mazzuoli, Hublot, Junghans, Longines, Montblanc, Site: www.casio.pt
E-mail: camanga@camanga.com Raymond Weil, Omega, Oris, Tag Heuer, U-Boat,
Site: www.camanga.com   Ulysse Nardin, Zenith) (Casio)

302 ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS
CERTORA MONTRES TUDOR, SA BANCO CARREGOSA
Av. Marquês de Tomar, n.º 35, 5.º Dt – 1050-153 Lisboa Rue François-Dussaud, 3-5-7 Av. da Boavista, 1043 – 4100-129 Porto
Tel.: 00 351 213212600; Fax: 00 351 213212690 1211 Genève 26 – Suisse Tel.: 00 351 226086464
E-mail: info@certora.pt Tel.: 00 41 223022200 Rua de São Caetano, 6 Bloco C, 3.º – 1200-829 Lisboa
Site: www.seiko.pt/; Site: www.watxandco.pt; Site: www.tudorwatch.com Tel.: 00 351 210134100
Site: www.radiant.pt; Site: www.secrecyjewels.pt E-mail: BancaPrivada@bancocarregosa.com
MUSEU DO RELÓGIO – SERPA & ÉVORA Site: www.bancocarregosa.com
(Seiko, Guess, Ice-Watch, La Petite Story, Lorus, Convento do Mosteirinho – 7830-341 Serpa
Maserati, Mr. Wonderful, Morellato, Pulsar, Radiant, Tel.: 00 351 284543194 CASA-MUSEU MEDEIROS E ALMEIDA
Rosefield, WatxandCo, Tous, Victorinox) Palácio Barrocal – R. Serpa Pinto, 6 – 7000-537 Évora Rua Rosa Araújo, 41 Lisboa
Tel.: 00 351 266751434 Tel.: 00 351 213547892
CRONOMETRIA, S.A.  E-mail: museudorelogio@gmail.com E-mail: info@casa-museumedeirosealmeida.pt
Av. Infante D. Henrique, Lote 1679, R/C Direito Sala A Site: www.museudorelogio.com Site: www.casa-museumedeirosealmeida.pt
1950-420 Lisboa Horários: 2.ª feira a sábado – 10.00h – 17.00h
Tel.: 00 351 218367085; Fax: 00 351 218310101 (Museu do Relógio – Relógios exclusivos e vintage
na Loja do Museu e no website do Museu; Oficina de COUDELARIA RITA COTRIM
(Calvin Klein, Hugo, Hugo Boss, PDPAOLA, MVMT, Restauro) Quinta dos Álamos, Golegã.
Scuderia Ferrari, Tommy Hilfiger, Bering, Diamonfire, Tel.: 00 351 918599360
Eletta, Lacoste, Olivia Burton, Albatross)  RICHEMONT IBERIA SL – PANERAI E-mail: luis.miguel.cotrim@gmail.com
Paseo de la Castellana 141 – 28046 Madrid
EASY TIME   Tel.: 0034 914441800 ECOSKIN, LDA
Rua Nova dos Mercadores, 7A  Site: www.panerai.com Rua da Bela Vista à Graça ,n.º 27, loja 24,
Parque das Nações – 1990 – 175 Lisboa  Edifício Gaivotas do Tejo – 1170-054 Lisboa 
Tel.: 00 351 212480321  (Panerai) Telm.: 00 351 935717464
E-mail: info@easy-time.pt  E-mail: info@ecoskin.pt
Site: www.easy-time.pt; Facebook: easytimeportugal  ROLEX (PORTUGAL) RELÓGIOS, LDA Site: www.suberskin.com
Instagram: easytime.pt  Av. da Liberdade, 190, 4B – 1250-147 Lisboa
Tel.: 00 351 213153644 (Suberskin “straps”)
(U-Boat, Ingersoll 1892, D1Milano, Montjuic, Roberto Site: www.rolex.com
Cavalli By Franck Muller, ESPRIT, MELLER Relógios e EUROPCAR MOBILITY GROUP PORTUGAL 
Óculos de Sol, Just Cavalli - Angola)  SOCIEDADE DE RELOJOARIA INDEPENDENTE (Sede) Rua dos Malhões, N.º 2 Piso 3 - Direito
Rua Vera Cruz, n.º 54, Cova da Piedade Edifício Q 55 - D. Diniz - Quinta da Fonte
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Edifício Cristal, Ctra N-150 km.6,7 (Sector Baricentro) Tel.: 00 351 216046498 Tel.: 00 351 219407790
08210 Barberà del Vallès - Barcelona - España E-mail: geral@sri.pt E-mail: reservas@europcar.com
Tel.: 00 351 214447460 Site: www.sri.pt Site: www.europcar.pt
E-mail: info.spain@garmin.com
Site: www.garmin.com (Aviator, Fortis, Iron Annie, Sturmanskie, Vostok (Europcar e Goldcar)
Europe, Zeppelin, Swiss Military by Chrono.)
(Garmin) EXPONOR – FEIRA INTERNACIONAL DO PORTO
TEMPUS INTERNACIONAL, S.A. Av. Dr. António Macedo 574 – 4454-515 Matosinhos
IBELUJO, SL Av. Infante D. Henrique, Lote 1679, CLJ Tel. : 00 351 229981400; Fax : 00 351 229981482 
Mallorca, 221, ático - 1.ª – 08008 Barcelona 1950-420 Lisboa Telm.: 00 351 961332490
Tel.: 00 34 934172775; Fax: 00 34 935305755 Tel.: 00 351 218310100; Fax: 00 351 218310135 Site: www.exponor.pt
E-mail: info@ibelujo.com Portojóia – Feira Internacional de Joalharia,
(Blancpain, Jaquet Droz, Glashütte, Omega, Ourivesaria e Relojoaria (Exponor)
(Alpina, Frederique Constant, Ebel, MeisterSinger) Longines, Gucci, Hamilton, Rado, Tissot, Certina, Data: de 22 a 25 de setembro de 2022
Balmain, Swatch, Flik Flak) Site: www.portojoia.exponor.pt | facebook.com/
IMPORTEMPO, LDA. portojoia.exponor/
Foz do Douro – Apartado 10 008 – 4151-901 Porto — Instagram da Porto joia: https://www.instagram.com/
Tel.: 00 351 919684984  OUTROS PARCEIROS portojoia.exponor/
E-mail: importempo@importempo.com —
Site: www.importempo.com ADAPTIVE CHANNEL FERNANDA LAMELAS ARTS
16 Avenue de l’Europe, P. Figueira, 4, 1 – 1100-240 Lisboa
(Briston, Chronoswiss, Linde Werdelin, March La-B, 31520 Ramonville Saint Agne, France Telm.: 00 351 937407449
SevenFriday, Singer Reimagined, The-Electricianz) Tel.: 00 33 532091051 E-mail: info@fernandalamelas.com
E-mail: contact@adaptive-channel.com Site: www.fernandalamelasarts.com
J. BORGES FREITAS, LDA. Site: http://adaptive-channel.com
Largo dos Loios, 79 – 4050-338 Porto (Fernanda Lamelas Arts)
Tel.: 00 351 225194190; Fax: 00 351 225194199 AEMPRESS, LDA.
E-mail: jborgesfreitas@jborgesfreitas.pt Rua Eng. Castanheira das Neves, Lote 3, Lj. Esq. GARAGEM AUTO
Site: www.jborgesfreitas.pt 2660-016 Frielas Estrada Nacional 9 Km 17,6 – Fervença
Tel.: 00 351 2218019830 2705-906 Terrugem Sintra
(Zenith, Hermès, Pequignet, Saint-Honoré, Plata Pura, E-mail: geral@aempress.com Tel.: 00 351 219608350
Character, Garel Paris, Petit Paris, Coquine) Site: www.aempress.com Site: www.garagem.pt

LVMH RELOJERÍA Y JOYERÍA SA AIMEC - DJS E PRODUTORES MUSICAIS HOUSE OF WINES LDA.
Calle Príncipe de Vergara 112, 5.º planta. 28002 Rua Sousa Lopes, 12, Centro GEMINI, Lisboa Rua Fernando Palha, 50 – escritório 228
Madrid. Spain Telm.: 00 351 926405335 1950-132 Lisboa
Tel.: 00 34 917810782 E-mail: lisboa@aimec.pt Tel.: 00 351 215847386
Site: www.hublot.com Site: www.aimec.pt E-mail: info@houseofwines.pt
Site: www.houseofwines.pt
(Hublot, Tag Heuer, Zenith, Chaumet) APABA – ASSOCIAÇÃO PROTECTORA DE ANIMAIS
“OS BONS AMIGOS” (Quinta do Couquinho, Quinta da Bulfata, Lua
MEIA LUA WATCHES   Golegã Cheia, Vinhos D‘Eça, Rovisco Garcia, Quinta dos
E-mail: contact@meialuawatches.com Tel.: 00 351 919862641 Monteirinhos, Quinta da Ponte Pedrinha, Casa Clara,
Site: www.meialuawatches.com E-mail: ana.maraqua@gmail.com Garrocha Family Winery, Vale da Capucha, Herdade
Blog : apabaosbonsamigos Pegos Claros, Paxá Wines, Quinta do Ferro, Adega
(Meia Lua) “The Portuguese Mechanical Watch” | Facebook: apabaosbonsamigos Cooperativa da Lourinhã)
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ANUÁRIORELÓGIOS&CANETAS 303
DIRETÓRIO
IPR — INSTITUTO PORTUGUÊS DE RELOJOARIA, LDA.  LEXUS PORTUGAL  (Lua Cheia, Andreza, Quinta do Bronze,
Telm: 00 351 966312899 Av. Vasco da Gama, 141 – Oliveira do Douro Poseidon, Insurgente, Álbu, Maria Bonita, Maria
E-mail: info@institutoportuguesderelojoaria.pt 4431-956 Vila Nova de Gaia Papoila, Nostalgia, Secretum, Desvios)     
Site: www.institutoportuguesderelojoaria.pt Tel.: 00 351 227867000
E-mail: info@lexus.pt MOËT HENNESSY PORTUGAL, UNIPESSOAL, LDA.
LAMELAS RESTAURANTE - PORTO COVO Site: www.lexus.pt Av. Marquês de Tomar, n.º 35, 6.º andar
“Sabor – Criatividade – Sustentabilidade” Site: www.lvmh.com/houses/wines-spirits
Lamelas & Moura, Lda. (Lexus) 
Rua Cândido da Silva, 55A – 7520-437 Porto Covo (Moët & Chandon, Veuve Clicquot, Dom Pérignon, Krug,
Telm: 00 351 969057728 LOJA DOS TINTEIROS 3RS LDA. Hennessy, Belvedere, James Martin’s, Glenmorangie,
Site: www.lamelasrestaurante.pt USE+ Torres Novas: Rua da Várzea, Edifício Varandas Ardbeg, Cloudy Bay, Bodega Numanthia)
Instagram: www.instagram.com/lamelas. da Cidade Lote 3
restaurante/ USE+ Castelo Branco: Praça Rainha D. Leonor, N.º 13 NUMISMÁTICA LEILÕES
USE+ Fundão: Av. da Liberdade, N.º 53 Rua D. Luiz de Noronha, 26, 6.º Esq.
LASKASAS, S.A. Telm: 00 351 917754770 / 00 351 926472500 1050 - 072 Lisboa
Site: www.laskasas.com E-mail: geral@usemais.pt Tel./Fax: 00 351 217971359; Telm.: 00 351 967236505
Facebook: www.facebook.com/usemais.portugal E-mail: geral@numismaticaleiloes.pt
LE BUREAU – Lifestyle and Luxury Communication Site: www.numismaticaleiloes.pt/web/
Advisory LUA CHEIA-SAVEN LDA.
Rua Fernando Palha, n.º 50, Escritório 228 Zona Industrial da Mota, Rua 10 Lote E40 - Apart. 51 PALACIO ESTORIL HOTEL GOLF & WELLNESS
1950 - 132 Lisboa 3834-907 Gafanha da Encarnação Rua Particular – 2769-504 Estoril | Cascais | Portugal
Tel.: 00 351 962487201 Tel.: 00 351 234329530 Tel.: 00 351 214648000; Fax.: 00 351 214648159
E-mail: filipa.trigo@lebureau.pt E-mail: saven@saven.pt E-mail: francisco.pestana@hotelestorilpalacio.pt
Site: www.lebureau.pt Site: www.saven.pt/lua_cheia Site: www.palacioestorilhotel.com

PROOPTICA, SA
E-mail: prooptica@prooptica.pt
Site: www.prooptica.pt

RRG PORTUGAL
Rua Dr. José Espírito Santo, Lt.11-E – 1950-096 Lisboa
Tel.: 00 351 218361400   
Site: www.rrg.pt

SANDRA RAPOSO (Assistente Virtual)


Telm: 00 351 938606247
E-mail: sandramdraposo@gmail.com
Instagram: @sandramdraposo
Site: www.sandraraposoassistentevirtual.wordpress.com

SOCIEDADE AGRÍCOLA E COMERCIAL DO VAROSA, SA


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