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Conti, Josselem; Silveira, Marília. Ciência no feminino: do que é feita a nossa escrita?
Marília Silveira1
Josselem Conti2
Resumo
Abstract
From our research experiences and collective construction, we narrate the placement of female issue in
science, to question what this place we want to speak about is. At the same time, we left traces of
connections that we weaved and made us think. This article is the record of this process of researching,
thinking and writing, the record of how the female issues pass throughout us, and of what possibilities are
constituted for us from it. Affirming a science in the female is a risk that we take in this article.
Keywords: ResearchWITH, feminine in science, research methodology, writing policies.
Resumen
1
Professora Substituta - Instituto de Psicologia - Departamento de Psicologia Geral e Experimental –
UFRJ, Doutoranda em Psicologia – UFF Email: - mariliasilveira.rs@gmail.com
2
Psicóloga, graduada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Psicologia pelo Programa
de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense E-mail: -
josselemconti@gmail.com
Pesquisas e Práticas Psicossociais 11 (1), São João del Rei, Janeiro a junho de 2016.
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museus. O que existe de comum entre artigo de Isabelle Stengers (1989) sobre
nós é que “gastamos tempo”10 com a o feminino na ciência.
política de pesquisa. Cada uma de nós Stengers nos apresenta a ciência
entrou para o mestrado ou doutorado de Barbara McClintock, mulher,
movida por questões diferentes, cientista, singular, e a intervenção que
buscamos o PesquisarCom como provoca nas ciências com o seu modo
método e o que atravessa todos os de produzir conhecimento. McClintock
nossos trabalhos tem relação com as faz pesquisa com células de milho no
políticas de pesquisas e a escrita. campo da embriologia. Stengers (1989)
Tomamos o método como um modo de aponta que seu modo de fazer pesquisa
fazer política. Nossos encontros são é com o milho e não sobre o milho.
ocasiões para pensar modos de estar Num mundo em que fazer ciência era
com outros e exercitar certo modo de colocado como uma atividade
compor o mundo em que vivemos e de masculina, em que pouco espaço e
articular o "nós" que sustenta nossa pouco reconhecimento era dado às
política de pesquisa. mulheres, McClintock tentava
Desse modo, é importante ultrapassar a questão de gênero e queria
partilhar a tática de escrita que ser reconhecida pelo seu valor como
fabricamos. Diante de experiências em cientista.
campos diferentes, optamos por Para nós e para Stengers, a
misturá-los ao texto, pois apostamos questão de gênero não pode ser deixada
que as experiências podem se entrelaçar de lado. Não se trata de fazer uma
e construir uma escrita afeita às ciência feminina, não é apenas um
questões do cotidiano e que criam adjetivo, mas como fazer ciência no
atravessamentos na prática de pesquisa. feminino? Como queremos construir
As articulações entre as experiências essa ciência? McClintock nos dá pistas
serão tecidas através de um nós feito a valiosas a serem seguidas.
cada encontro. É o momento em que
compartilhamos uma questão e Uma ciência no feminino deixa
compartilhamos sua afetação no campo; o material (no caso o milho) falar, quer
isso acontece não só com quem está no dizer, não coloca a pergunta de partida,
campo, mas também com quem escuta a mas deixa que o material traga os
narrativa. Essa é uma de nossas apostas, problemas. Isso indica uma disposição
caro (a) leitor(a). As narrativas tecidas para entrar em relação com o milho. É
no texto apontam uma escolha pelo que aquilo que os epistemólogos não
é local e pelo que se aceita negociar querem ouvir falar: não é o pesquisador
para fazer novas composições. que coloca o problema, mas sim o
material ou o campo. Significa entender
Criar um problema com o feminino na
que o material ou campo tem uma
ciência
história para contar e que é preciso
Em nosso grupo de orientação aprender a decifrar. Ou ainda, dito de
temos partilhado uma inquietação outro modo, que o campo cria o caso,
quanto às narrativas. Como apresentar nos interroga, nos oferta uma
narrativas (nossas histórias na relação possibilidade para compor uma história
com nossos campos de investigação) desse encontro.
como elementos que compõem a escrita
de nossas teses e dissertações? Essa “Deixar falar o material” é uma
inquietação também se encontrou com o pista. O material, no caso os grãos de
milho, aparecem em sua singularidade.
10
Usando uma expressão de Cristiane O aprendizado das boas questões vem
Bremenkamp da Cruz (2014).
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Histórias. Convite a que nós também outrora atavam os pulsos das mulheres
nos sentimos convocadas a pensar, com escritoras. Entretanto, quando nos
o “pensar nós devemos”, que reunimos nas quartas-feiras, para fazer
retomamos também dos escritos de histórias, quando hesitamos com nossa
Virgínia Woolf. Será que ser mulher é escrita, quando ficamos com o
igual a ser homem? E a que ser mulher problema, quando deixamos o material
nos engaja? Vamos também passar pela falar, estamos também criando caso
literatura, a ver se Clarice Lispector com a ciência dita neutra.
pode nos ajudar... Colocar o problema da língua é
[...] faz de conta que ela não ficava de considerá-lo um dos fios que compõe
braços caídos de perplexidade quando isso que vamos definir aqui como
os fios de ouro que fiava se
embaraçavam e ela não sabia desfazer
modos de narrar a ciência. Um fio de
o fino fio frio, faz de conta que ela era um grande emaranhado, levantado para
sábia bastante para desfazer os nós de ser visto. Podemos pensar a partir daí,
corda de marinheiro que lhe atavam os da linguagem. Com quantos artigos
pulsos... (Lispector, 1998 p. 14) indefinidos se produz um discurso de
Aprendemos de pequena a fazer neutralidade? Quanto será que a
de conta que ser mulher não tem linguagem influencia na questão do
diferença. Fazemos de conta que é igual neutro na ciência? E ainda do neutro
a ser homem. Até que crescemos, então profundamente atrelado ao universal?
muda. Faz de conta que queremos ser Aqui contamos histórias tecidas no
pesquisadoras e que ser mulher não faz encontro, de duas pesquisadoras, de um
diferença Embora o corretor ortográfico grupo que sustenta o trabalho de
marque um erro nessa última frase, para fazerCOM o campo de pesquisa, que
que mudemos “pesquisadoras” para sustenta uma política de pesquisa,
“pesquisadores”. Faz de conta que marcada pelo feminino.
ontem brincávamos de carrinho e Consideramos que vivemos
jogávamos bola, e era bom. Faz de nossas experiências de pesquisa no
conta que hoje escutamos as dores de corpo, que somos afetadas pelo nosso
outros. Faz de conta que inventamos campo de pesquisa, que o encontro e
essa realidade enquanto escrevemos. conexões entre nós, o grupo de
Faz de conta que nossa curiosidade nos pesquisa, o campo e as teorias que
faz pesquisar. Faz de conta que somos estudamos nos transformam. Com isso
mulheres E cientistas. nos perguntamos: o quanto a linguagem
Para tudo ficar igual, precisa científica nos ajuda fazer valer e fazer
começar diferente. E é nesse ponto que aparecer tudo que afeta nosso corpo
a língua pega, porque no português a quando pesquisamos? A validação da
voz do neutro é masculina. E nós não neutralidade encontra-se também na
podemos escrever artigos científicos no linguagem e, por consequência, um
feminino, sob o risco de ser mal achado neutro facilmente se torna
interpretadas. Sob o risco de deixar de universal. Mas essa é a história que já
fora os homens cientistas que nos lerão. conhecemos, que as grandes narrativas
Mas os homens ao escreverem no nos contam sobre a ciência e os homens
neutro masculino fazem de conta que cientistas. Nós aqui queremos falar de
não excluem as mulheres, leitoras e uma ciência feita no singular, marcada
cientistas. pelo feminino. Que tipo de marca seria
essa?
O problema da língua é um nó.
Desses de marinheiro que atam os O feminino que evocamos aqui
pulsos das mulheres cientistas, como não se refere ao gênero mulher, mas
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