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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 32

01/08/2018 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.807 AMAPÁ

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAPÁ
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
AMAPA
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO AMAPÁ
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO - CONAMP
ADV.(A/S) : ARISTIDES JUNQUEIRA ALVARENGA E
OUTRO(A/S)

EMENTA: AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.807


E 4.808. JULGAMENTO CONJUNTO. DESTITUIÇÃO DE
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA. AÇÕES JULGADAS
PREJUDICADAS QUANTO AO ART. 12 DA LEI COMPLEMENTAR
AMAPAENSE N. 9/1994 E ARTS. 2º A 11 DA RESOLUÇÃO N. 119/2012
DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO AMAPÁ E, NA PARTE
REMANESCENTE, PROCEDENTES PARA DECLARAR A
INCONSTITUCIONALIDADE DAS EXPRESSÕES “POR DELIBERAÇÃO
DO PODER LEGISLATIVO OU” E “EM AMBOS OS CASOS” DO ART.
147 DA CONSTITUIÇÃO DO AMAPÁ.
1. Ações prejudicadas quanto ao art. 12 da Lei Complementar amapaense n.
9/1994 e aos arts. 2º a 11 da Resolução da Assembleia Legislativa amapaense n.
119/2012. Revogação. Perda superveniente de objeto. Precedentes.
2. Pelo art. 128, § 4º, da Constituição da República cabe à lei complementar
estadual a regulamentação dos casos de destituição de Procurador-Geral da
Justiça. Inconstitucionalidade formal: Precedentes.
3. Pelo art. 128, § 5º, da Constituição da República os procuradores-gerais
têm a iniciativa das leis complementares estaduais que versam sobre a
organização, as atribuições e o estatuto dos Ministérios Públicos.
4. A possibilidade de iniciar e deliberar a Assembleia Legislativa, por

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ADI 4807 / AP

maioria absoluta, sobre destituição do Procurador-Geral de Justiça (art. 147 da


Constituição amapaense) contraria os princípios da independência e autonomia
do Ministério Público.
5. Ações Diretas de Inconstitucionalidade ns. 4.807/AP e 4.808/AP
julgadas prejudicadas, quanto ao art. 12 da Lei Complementar amapaense n.
9/1994 e à Resolução n. 119/2012 da Assembleia Legislativa do Amapá. Na parte
remanescente, ações julgadas procedentes para declarar a inconstitucionalidade
das expressões “por deliberação do Poder Legislativo ou” e “em ambos os casos”
do art. 147 da Constituição do Amapá.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata
de julgamento, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora,
Ministra Cármen Lúcia (Presidente), em julgar prejudicada a ação
quanto ao art. 12 da Lei Complementar amapaense n. 9/1994 e à
Resolução n. 119/2012 da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá,
e, na parte remanescente, julgar procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade das expressões "por deliberação do Poder
Legislativo ou" e "em ambos os casos", constantes do art. 147 da
Constituição do Amapá.

Brasília, 1º de agosto de 2018.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.807 AMAPÁ

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAPÁ
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
AMAPÁ
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO AMAPÁ
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO - CONAMP
ADV.(A/S) : ARISTIDES JUNQUEIRA ALVARENGA (OAB
12500DF) E OUTRO(A/S)

RELATÓRIO

1. Ação direta de inconstitucionalidade, com requerimento de


medida cautelar, ajuizada em 22.6.2012, pelo Procurador-Geral da
República contra as expressões “por deliberação do Poder Legislativo ou” e
“em ambos os casos”, constantes do art. 147 da Constituição do Amapá; o
art. 12 da Lei Complementar estadual n. 9/1994; e os arts. 2º a 11 da
Resolução n. 119/2012 da Assembleia Legislativa daquele mesmo Estado.

2. Nos dispositivos impugnados se estabelece:

Constituição do Estado do Amapá

“Art. 147. A destituição do Procurador-Geral de Justiça, em


casos de abuso de poder ou de omissão grave no cumprimento de
dever, poderá ocorrer por deliberação do Poder Legislativo ou por
indicação de dois terços do Colégio de Procuradores de Justiça,
dependendo, em ambos os casos, de aprovação da maioria absoluta dos
membros da Assembleia Legislativa, na forma da lei complementar”.

Lei Complementar n. 9/1994

“Art. 12. A destituição do Procurador-Geral de Justiça, por

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iniciativa da Assembleia Legislativa, por maioria absoluta de seus


membros, será na forma de seu Regimento Interno”.

Resolução n. 119/2012 da Assembleia Legislativa do Amapá

“Art. 2º. A Representação poderá ser formulada por leitor, em


pleno gozo dos direitos políticos, com firma reconhecida e
acompanhada de documento que comprove a imputação ou
comprovação de impossibilidade de apresentá-lo, nesta hipótese, deverá
indicar o local onde o acervo possa ser encontrado.
Parágrafo único. Caso a acusação necessite ser provada por
testemunhas, será admitida a indicação de até 5 (cinco) pessoas,
contendo o nome, qualificação completa e endereço para futura
comunicação.
Art. 3º. A representação será encaminhada à Mesa da
Assembleia Legislativa e será lida no expediente da sessão seguinte e
despachada a uma comissão especial, composta de 03 (três) membros
do parlamento, eleita pelo plenário, observada a proporcionalidade
partidária, para opinar sobre a mesma.
Art. 4º. A comissão a que alude o artigo anterior, reunir-se-á
dentro de 48 horas e, depois de eleger o seu presidente e relator, emitirá
parecer no prazo de até 5 (cinco) dias sobre se a representação deve ser,
ou não julgada objeto de deliberação.
Art. 5º O parecer da comissão especial será lido no expediente de
sessão subsequente ao recebimento pela Mesa Diretora, sendo
submetido a uma só discussão, e por votação secreta considerando-se
aprovado por maioria simples de votos.
Parágrafo único. Se o plenário resolver que a representação não
deve constituir objeto da deliberação será arquivado, dando ciência ao
representante e ao representado.
Art. 6º. Acatada a representação e considerada apta a
deliberação, a Mesa remeterá cópia de tudo ao denunciado, para
responder à acusação no prazo de 5 (cinco) dias, contados da ciência
pessoal.
Parágrafo único. Caso frustrada a notificação pessoal, a mesma
será publicada no Diário Oficial e o prazo para a resposta passará a

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fluir no primeiro dia útil subsequente a publicação.


Art. 7º. Com a notificação, serão entregues ao acusado cópia
integral da representação, o parecer da comissão especial e a certidão
da deliberação do plenário de que trata o artigo anterior.
Art. 8º. A resposta do representado deverá ser escrita, firmada
pelo acusado ou por procurador, podendo ser instruída com prova
documental e endereçada a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa
do Amapá.
Parágrafo único. Se, com a resposta, forem apresentados
documentos, será intimada a parte contrária para sobre eles se
manifestar, no prazo de cinco dias.
Art. 9º. Findo o prazo para a resposta, com ou sem as razões do
acusado, a representação será encaminhada para a comissão especial
apresentar parecer, dentro de 5 (cinco) dias, sobre a admissibilidade da
acusação designará sessão específica para que o plenário decida se a
representação será objeto de deliberação.
§ 1º. A data e horário da sessão especial serão publicados no
Diário Oficial e o representante e representada pessoalmente
intimados, bem como o procurador habilitado, com antecedência
mínima de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2º. No julgamento de que trata este artigo o processo será lido
integralmente, facilitada a sustentação oral pelo prazo de trinta
minutos, primeiro à acusação, depois à defesa e por fim ao relator para
defesa do parecer da comissão especial.
Art. 11. Aprovado o processamento da representação, pela
maioria absoluta, em votação secreta, o Procurador-Geral de Justiça
será afastado provisoriamente do cargo, até ultimação do processo,
com o julgamento do mérito da acusação.
Parágrafo único. A decisão de admitir a representação e decretar
o afastamento do acusado do cargo produzirá efeitos a contar a
publicação no Diário Oficial”.

3. O Autor argumenta que pelas normas impugnadas teria sido


contrariado o art. 128, § 4º, da Constituição da República.

Alega que “a norma do art. 128, § 4°, portanto, presta-se a assegurar a

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autonomia e independência do Procurador-Geral de Justiça em face do chefe do


Executivo. (…) É por essa razão, e também por sua literalidade, que a norma
referida não pode ser lida como se estivesse sob o domínio exclusivo das
Assembleias Legislativas a destituição do Procurador-Geral. De fato, tal norma
foi pensada no sentido de remeter ao próprio MP a iniciativa da destituição do
Procurador-Geral, cabendo ao Legislativo deliberar em definitivo. Daí a razão da
cláusula final "na forma da lei complementar respectiva". Essa lei
complementar é a lei orgânica de cada Ministério Público estadual, como se
depreende do § 5° do mesmo art. 128”.

Afirma que “o Ministério Público local iniciou investigação contra a


Assembleia Legislativa, e esta, além de instaurar CPI contra o MP, editou a
Resolução n° 119, de 29 de maio de 2012, iniciando o processo de destituição da
Procuradora-Geral, Dra. Ivana Lúcia Franco Cei. De modo que a Constituição e
a lei orgânica do MP, ambas do Amapá, são inconstitucionais ao admitir que a
Assembleia Legislativa possa iniciar o processo de destituição do Procurador-
Geral, e a Resolução 119/12 - ALAP, nos dispositivos impugnados, cai por
arrastamento, uma vez que editados em cumprimento ao art. 12 da Lei
complementar estadual 9/94”.

Requer medida cautelar para suspender, “com efeito ex tunc, a


eficácia das expressões "por deliberação do Poder Legislativo ou" e "em
ambos os casos", constante do art. 147 da Constituição do Estado do Amapá,
bem como dos arts. 12 da Lei Complementar estadual n. 009/94 e dos arts. 2° a
11 da Resolução n° 0119, de 29 de maio de 2012, da Assembleia Legislativa do
Estado do Amapá”.

No mérito, pede a declaração de inconstitucionalidade das


expressões “’por deliberação do Poder Legislativo ou’ e ‘em ambos os
casos’, constante do art. 147 da Constituição do Estado do Amapá, bem como
dos arts. 12 da Lei Complementar estadual n. 009/94 e dos arts. 2° a 11 da
Resolução n. 0119, de 29 de maio de 2012, da Assembleia Legislativa do Estado
do Amapá”.

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4. Em 24.4.2014 adotei o rito do art. 12 da Lei n. 9.868/1999.

5. A Assembleia Legislativa do Amapá defendeu a


constitucionalidade das normas impugnadas.

6. Em suas informações, o Governador do Amapá anunciou a


aprovação da Lei Complementar n. 79/2013 (Dispõe sobre a Lei Orgânica
do Ministério Público) e sustentou a inconstitucionalidade das normas
impugnadas.

7. A Advocacia-Geral da União manifestou-se, preliminarmente pelo


prejuízo parcial da ação e, no mérito, pela procedência do pedido:

“Ministério Público. Disposições constantes do artigo 1-17 da


Constituição do Estado do Amapá. do artigo 12 da Lei Complementar
estadual n° 9/N e dos artigos ]O a 11 da Resolução n° 119/12 da
Assembleia Legislativa do referido ente. Normas que versam sobre o
procedimento de destituição do Procurador-Geral de Justiça
Prejudicialidade parcial do objeto da ação direta. Revogação da Lei
Complementar n. 9/94. Supressão do fundamento de validade da
Resolução n. 119/12. Mérito. Afronta à reserva de lei complementar
instituída no artigo 128, § 4º, da Constituição Federal. Manifestação
pela prejudicialidade parcial da ação e, no mérito, pela procedência do
pedido”.

8. A Procuradoria-Geral da República opinou pela procedência do


pedido:
“CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 147 DA CONSTITUIÇÃO
DO AMAPÁ. ART. 12 DA LEI COMPLEMENTAR 9/1994, E
ARTS. 2º A 11 DA RESOLUÇÃO 119/2012, DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO AMAPÁ. PRELIMINAR: REVOGAÇÃO DA
LEI COMPLEMENTAR PREJUDICIALIDADE PARCIAL.
MÉRITO. DESTITUIÇÃO DO PROCURADOR-GERAL DE
JUSTIÇA. MATÉRIA RESERVADA À LEI COMPLEMENTAR

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ADI 4807 / AP

ESTADUAL DE INICIATIVA DO CHEFE DO MINISTÉRIO


PÚBLICO LOCAL: CR, ARTS. 61, § 1 º , II, d, E 128, §§ 4 º E 5º.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. INICIATIVA E
DELIBERAÇÃO DA DESTITUIÇÃO DO PROCURADOR-
GERAL DE JUSTIÇA CONFERIDAS À ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA: OFENSA À AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA
DO MINISTÉRIO PÚBLICO”.

9. Associação Nacional dos Membros do Ministério Público –


Conamp foi admitida como amicus curiae.

É o relatório, cuja cópia deverá ser encaminhada aos Ministros do


Supremo Tribunal Federal (art. 9º da Lei n. 9.868/1999 c/c o art. 87, inc. I,
do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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01/08/2018 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.807 AMAPÁ

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (RELATORA):

1. Nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade ns. 4.807/AP e


4.808/AP discute-se a validade constitucional das expressões “por
deliberação do Poder Legislativo ou” e “em ambos os casos”, constantes do art.
147 da Constituição do Amapá; do art. 12 da Lei Complementar estadual
n. 9/1994 e dos arts. 2º a 11 da Resolução n. 119/2012 da Assembleia
Legislativa daquele mesmo Estado.

2. Nos dispositivos impugnados se estabelece:

Constituição do Estado do Amapá

“Art. 147. A destituição do Procurador-Geral de Justiça, em


casos de abuso de poder ou de omissão grave no cumprimento de
dever, poderá ocorrer por deliberação do Poder Legislativo ou por
indicação de dois terços do Colégio de Procuradores de Justiça,
dependendo, em ambos os casos, de aprovação da maioria absoluta dos
membros da Assembleia Legislativa, na forma da lei complementar”.

Lei Complementar 9/1994

“Art. 12. A destituição do Procurador-Geral de Justiça, por


iniciativa da Assembleia Legislativa, por maioria absoluta de seus
membros, será na forma de seu Regimento Interno”.

Resolução n. 119/2012 da Assembleia Legislativa do Amapá

“Art. 2º. A Representação poderá ser formulada por eleitor, em


pleno gozo dos direitos políticos, com firma reconhecida e
acompanhada de documento que comprove a imputação ou

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ADI 4807 / AP

comprovação de impossibilidade de apresentá-lo, nesta hipótese, deverá


indicar o local onde o acervo possa ser encontrado.
Parágrafo único. Caso a acusação necessite ser provada por
testemunhas, será admitida a indicação de até 5 (cinco) pessoas,
contendo o nome, qualificação completa e endereço para futura
comunicação.
Art. 3º. A representação será encaminhada à Mesa da
Assembleia Legislativa e será lida no expediente da sessão seguinte e
despachada a uma comissão especial, composta de 03 (três) membros
do parlamento, eleita pelo plenário, observada a proporcionalidade
partidária, para opinar sobre a mesma.
Art. 4º. A comissão a que alude o artigo anterior, reunir-se-á
dentro de 48 horas e, depois de eleger o seu presidente e relator, emitirá
parecer no prazo de até 5 (cinco) dias sobre se a representação deve ser,
ou não julgada objeto de deliberação.
Art. 5º O parecer da comissão especial será lido no expediente de
sessão subsequente ao recebimento pela Mesa Diretora, sendo
submetido a uma só discussão, e por votação secreta considerando-se
aprovado por maioria simples de votos.
Parágrafo único. Se o plenário resolver que a representação não
deve constituir objeto da deliberação será arquivado, dando ciência ao
representante e ao representado.
Art. 6º. Acatada a representação e considerada apta a
deliberação, a Mesa remeterá cópia de tudo ao denunciado, para
responder à acusação no prazo de 5 (cinco) dias, contados da ciência
pessoal.
Parágrafo único. Caso frustrada a notificação pessoal, a mesma
será publicada no Diário Oficial e o prazo para a resposta passará a
fluir no primeiro dia útil subsequente a publicação.
Art. 7º. Com a notificação, serão entregues ao acusado cópia
integral da representação, o parecer da comissão especial e a certidão
da deliberação do plenário de que trata o artigo anterior.
Art. 8º. A resposta do representado deverá ser escrita, firmada
pelo acusado ou por procurador, podendo ser instruída com prova
documental e endereçada a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa
do Amapá.

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Parágrafo único. Se, com a resposta, forem apresentados


documentos, será intimada a parte contrária para sobre eles se
manifestar, no prazo de cinco dias.
Art. 9º. Findo o prazo para a resposta, com ou sem as razões do
acusado, a representação será encaminhada para a comissão especial
apresentar parecer, dentro de 5 (cinco) dias, sobre a admissibilidade da
acusação designará sessão específica para que o plenário decida se a
representação será objeto de deliberação.
§ 1º. A data e horário da sessão especial serão publicados no
Diário Oficial e o representante e representada pessoalmente
intimados, bem como o procurador habilitado, com antecedência
mínima de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2º. No julgamento de que trata este artigo o processo será lido
integralmente, facilitada a sustentação oral pelo prazo de trinta
minutos, primeiro à acusação, depois à defesa e por fim ao relator para
defesa do parecer da comissão especial.
Art. 11. Aprovado o processamento da representação, pela
maioria absoluta, em votação secreta, o Procurador-Geral de Justiça
será afastado provisoriamente do cargo, até ultimação do processo,
com o julgamento do mérito da acusação.
Parágrafo único. A decisão de admitir a representação e decretar
o afastamento do acusado do cargo produzirá efeitos a contar a
publicação no Diário Oficial”.

3. O Autor argumenta que as normas impugnadas contrariariam o


art. 128, § 4º, da Constituição da República, pelo qual se objetiva
“assegurar a autonomia e independência do Procurador-Geral de Justiça em face
do chefe do Executivo”, e, por isso “não pode[ria] ser lid[o] como se estivesse
sob o domínio exclusivo das Assembleias Legislativas a destituição do
Procurador-Geral”.
Preliminar de prejudicialidade

4. Inicialmente há de se registrar que, em 27.6.2013, foi publicada a


Lei Complementar amapaense n. 79 (dispõe sobre a Lei Orgânica do
Ministério Público do Estado do Amapá), segundo a qual:

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ADI 4807 / AP

“Art. 13. A destituição do Procurador-Geral de Justiça terá


cabimento em caso de abuso de poder, conduta incompatível com suas
atribuições, grave omissão nos deveres do cargo ou condenação por
infração apenada com reclusão, em decisão judicial transitada em
julgada.
Art. 14. A proposta de destituição do Procurador-Geral de
Justiça, que somente será processada por iniciativa da maioria
absoluta do Colégio de Procuradores de Justiça, formulada por escrito,
dependerá da aprovação de 2/3 (dois terços) de seus integrantes,
mediante voto aberto, assegurada a ampla defesa.
Art. 15. Recebida e protocolada a proposta pelo Secretário do
Colégio de Procuradores de Justiça, este distribuirá, regular e
imediatamente, a um relator e, no prazo de 72 (setenta e duas) horas,
cientificará, pessoalmente, o Procurador-Geral de Justiça, entregando-
lhe uma cópia.
§ 1º O Procurador-Geral de Justiça terá 10 (dez) dias, contados
da ciência da proposta, para contestar e requerer produção de provas,
cabendo ao relator instruir o processo, se necessário.
§ 2º Encerrada a instrução, o órgão reunir-se-á,
extraordinariamente, em dia e hora previamente marcados, intimado o
Procurador-Geral de Justiça, pessoalmente, sob a presidência do
Procurador de Justiça mais antigo do Colégio de Procuradores,
servindo de Secretário aquele que exerça as funções perante o Colégio
de Procuradores de Justiça; apresentada a defesa oral, pelo processado
ou defensor, o relator proferirá voto, seguindo-se os debates e a
votação.
§ 3º A proposta de destituição, se aprovada por 2/3 (dois terços)
dos membros do Colégio de Procuradores de Justiça, será encaminhada
juntamente com os autos respectivos, à Assembleia Legislativa, no
prazo de 48 (quarenta e oito horas) horas, contado de sua publicação,
para os fins de que trata o artigo 128, § 4º, da Constituição Federal,
ou, se rejeitada, será arquivada.
§ 4º Aprovada a proposta de destituição pelo Colégio de
Procuradores, o Procurador-Geral de Justiça poderá ser afastado
provisoriamente por decisão fundamentada da maioria absoluta do
Colégio de Procuradores de Justiça, até ultimação do processo.

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ADI 4807 / AP

Art. 16 Aprovada a destituição, pela Assembleia Legislativa do


Estado, o Colégio de Procuradores do Ministério Público declarará
vago o cargo de Procurador-Geral de Justiça.
(...)
Art. 228. Revogam-se as disposições em contrário, em especial a
Lei Complementar n. 0009, de 28/12/1994, e as Leis Complementares
ns. 0022, de 25/03/2003; 0023, de 06/06/2003; 0030, de 15/12/2005;
0054, de 23/2/2008; 0067, de 29/12/2010; e 0068, de 21/03/2011”
(grifos nossos).

Como anotado pelo Procurador-Geral da República,

“tramita nes[t]e Supremo Tribunal a ação direta de


inconstitucionalidade 5.184/AP, também proposta pela Procuradoria-
Geral da República, contra o Decreto Legislativo 547, de 3 de
novembro de 2014, da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, o
qual, de forma abusiva, “anula a aprovação do Projeto de Lei
Complementar no 0001/13-PGJ, susta imediatamente a vigência da
Lei Complementar no 079, de 27 de junho de 2013, e anula todos os
atos formalizados posteriormente com embasamento na Lei
Complementar no 079/13, e dá outras providências”. Nela foi deferida
medida cautelar pelo relator, Ministro LUIZ FUX, para suspender a
eficácia da norma”.

5. A despeito de ter sido editada a Resolução estadual n. 537/2014, na


qual supostamente se justificaria a anulação dos atos praticados à luz da
Lei Complementar estadual n. 79/2013, há que se registrar a manutenção
da lei no respectivo ordenamento jurídico.

A revogação da Lei Complementar amapaense n. 9/1994 foi


determinada por normas nas quais se dava tratamento diferenciado para
a destituição do Procurador-Geral de Justiça estadual (Lei Complementar
amapaense n. 79/2013) a demonstrar a perda superveniente de parte do
objeto desta ação.

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ADI 4807 / AP

Nesse sentido:
“EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Constituição
do Estado do Espírito Santo. Alteração da redação de parte dos
dispositivos impugnados, eliminando-se as expressões objeto do
pedido. Parcial prejudicialidade da ação. Previsão de julgamento das
contas anuais do presidente da câmara municipal pela respectiva casa
legislativa. Ofensa ao modelo constitucional. Agressão aos arts. 31, §
2º; 71, I e II; e 75 da Lei Fundamental. Conhecimento parcial da ação,
a qual, nessa parte, é julgada procedente. 1. Prejudicialidade parcial
da ação, em virtude de alteração substancial da redação dos incisos I e
II do art. 71 da Constituição do Estado do Espírito Santo, a qual
resultou na eliminação das expressões impugnadas. 2. A Constituição
Federal foi assente em definir o papel específico do legislativo
municipal para julgar, após parecer prévio do tribunal de contas, as
contas anuais elaboradas pelo chefe do poder executivo local, sem abrir
margem para a ampliação para outros agentes ou órgãos públicos. O
art. 29, § 2º, da Constituição do Estado do Espírito Santo, ao alargar a
competência de controle externo exercida pelas câmaras municipais
para alcançar, além do prefeito, o presidente da câmara municipal,
alterou o modelo previsto na Constituição Federal. 3. Ação direta de
inconstitucionalidade de que se conhece parcialmente e que se julga,
na parte de que se conhece, procedente” (ADI n. 1.964/ES, Relator o
Ministro Dias Toffoli, Plenário, DJ 9.10.2014).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


OBJETO DA AÇÃO. REVOGAÇÃO SUPERVENIENTE DA LEI
ARGÜIDA DE INCONSTITUCIONAL. PREJUDICIALIDADE
DA AÇÃO. CONTROVÉRSIA. OBJETO DA AÇÃO DIRETA
prevista no art. 102, I, a e 103 da Constituição Federal, e a declaração
de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em tese, logo o
interesse de agir só existe se a lei estiver em vigor. REVOGAÇÃO DA
LEI ARGUIDA DE INCONSTITUCIONAL. Prejudicialidade da
ação por perda do objeto. A revogação ulterior da lei questionada
realiza, em si, a função jurídica constitucional reservada a ação direta
de expungir do sistema jurídico a norma inquinada de
inconstitucionalidade. EFEITOS concretos da lei revogada, durante

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ADI 4807 / AP

sua vigência. Matéria que, por não constituir objeto da ação direta,
deve ser remetida as vias ordinárias. A declaração em tese de lei que
não mais existe transformaria a ação direta, em instrumento
processual de proteção de situações jurídicas pessoais e concretas.
Ação direta que, tendo por objeto a Lei 9.048/89 do Estado do Paraná,
revogada no curso da ação, se julga prejudicada” (ADI n. 709/PR,
Relator o Ministro Paulo Brossard, Plenário, DJ 24.6.1994).

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO N. 15, DE 4 DE
DEZEMBRO DE 2006, DO CONSELHO NACIONAL DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. REVOGAÇÃO PELA RESOLUÇÃO N.
17, DE 2 DE ABRIL DE 2007, DO CONSELHO NACIONAL DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. Perda de objeto da presente ação e do
interesse de agir do Autor. Precedentes. 2. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada prejudicada pela perda superveniente de
objeto, e cassada, em consequência, a liminar deferida” (ADI n.
3.831/DF, de minha relatoria, Plenário, DJ 24.8.2007).

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE - QUESTÃO DE ORDEM -
IMPUGNAÇÃO A MEDIDA PROVISÓRIA QUE SE
CONVERTEU EM LEI - LEI DE CONVERSÃO
POSTERIORMENTE REVOGADA POR OUTRO DIPLOMA
LEGISLATIVO - PREJUDICIALIDADE DA AÇÃO DIRETA. - A
revogação superveniente do ato estatal impugnado faz instaurar
situação de prejudicialidade que provoca a extinção anômala do
processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, eis que a ab-
rogação do diploma normativo questionado opera, quanto a este, a sua
exclusão do sistema de direito positivo, causando, desse modo, a perda
ulterior de objeto da própria ação direta, independentemente da
ocorrência, ou não, de efeitos residuais concretos. Precedentes” (ADI
n. 1.445-QO/DF, Relator o Ministro Celso de Mello, Plenário, DJ
29.4.2005).

São também precedentes: ADI n. 520/MT, Relator o Ministro

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ADI 4807 / AP

Maurício Corrêa, Plenário, DJ 6.6.1997; ADI n. 3.873/AC, de minha


relatoria, decisão monocrática, DJ 13.3.2009; ADI n. 3.319/RJ, de minha
relatoria, decisão monocrática, DJ 27.6.2008; ADI n. 3.209/SE, de minha
relatoria, decisão monocrática, DJ 27.3.2008; ADI n. 1.821/DF, de minha
relatoria, decisão monocrática, DJ 14.3.2008; ADI n. 1.898/DF, de minha
relatoria, decisão monocrática, DJ 14.3.2008; ADI n. 1.461/AP, Relator o
Ministro Maurício Corrêa, Redator para o acórdão o Ministro Gilmar
Mendes, Plenário, DJ 19.10.2007; ADI n. 1.920/BA, Relator o Ministro Eros
Grau, Plenário, DJ 2.2.2007; ADI 3.513/PA, Relatora a Ministra Ellen
Gracie, decisão monocrática, DJ 22.8.2005; ADI n. 1.442/DF, Relator o
Ministro Celso de Mello, Plenário, DJ 29.4.2005; ADI n. 2.436/PE, Relator o
Ministro Joaquim Barbosa, decisão monocrática, DJ 26.8.2005; ADI n.
380/RO, Relator o Ministro Celso de Mello, decisão monocrática, DJ
4.3.2005; ADI n. 1.995/ES, Relator o Ministro Gilmar Mendes, decisão
monocrática, DJ 17.11.2005; ADI n. 387/RO, Relator o Ministro Sepúlveda
Pertence, decisão monocrática, DJ 9.9.2005; ADI n. 254-QO/GO, Relator o
Ministro Maurício Corrêa, Plenário, DJ 5.12.2003; ADI n. 1.815/DF, Relator
o Ministro Sydney Sanches, DJ 7.3.2002; ADI n. 2.001-MC/DF, Relator o
Ministro Moreira Alves, Plenário, DJ 3.9.1999; e ADI n. 221/DF, Relator o
Ministro Moreira Alves, Plenário, DJ 22.10.1993.

6. A revogação expressa da Lei Complementar amapaense n. 9/1994,


como destacado pela Advocacia-Geral da União,

“suprimiu o fundamento de validade da Resolução n° 119/12 da


Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, cuja constitucionalidade
também foi questionada pelo requerente. De fato, a própria ementa da
resolução referida esclarece que se trata de ato destinado a estabelecer
"(...) os procedimentos para destituição do Procurador Geral de
Justiça por iniciativa da Assembleia Legislativa, na forma do artigo 12
da Lei Complementar n. 009/1994-Lei Orgânica do Ministério
Público do Estado do Amapá”.

Sobre o ponto a Procuradoria-Geral da República reiterou que “a

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ADI 4807 / AP

revogação da Lei Complementar 9/1994 retira o suporte de validade da Resolução


119, de 29 de maio de 2012, da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá,
porquanto editada esta em cumprimento ao art. 12 da LC 9/1994. Desse modo,
encontra-se prejudicada a ação relativamente ao art. 12 da LC 9/1994 e aos
dispositivos da Resolução 119/2012”.

Tanto significa perda superveniente do objeto da ação na parte em


que se questiona também a constitucionalidade desta resolução.

7. Julgo, pois, prejudicada a presente ação na parte em que se


questiona o art. 12 da Lei Complementar amapaense n. 9/1994 e os arts.
2º a 11 da Resolução n. 119/2012 da Assembleia Legislativa do Amapá.

8. Ainda que se conjecturasse subsistente a Resolução n. 119/2012 da


Assembleia Legislativa do Amapá, cumpre esclarecer tratar-se de ato
regulamentador da Lei Complementar n. 9/1994, cuja natureza
secundária impede seja analisado na via especial do controle abstrato de
constitucionalidade, como assentado na jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal.

Em 23.11.2000, no julgamento da Questão de Ordem na Ação Direta


de Inconstitucionalidade n. 2.344/SP, Relator o Ministro Celso de Mello, o
Plenário deste Supremo Tribunal decidiu ser

“incabível a ação direta de inconstitucionalidade, se , para o


específico efeito de examinar-se a ocorrência, ou não, de invasão de
competência da União Federal, por parte de qualquer Estado-membro,
tornar-se necessário o confronto prévio entre diplomas normativos de
caráter infraconstitucional: a legislação nacional de princípios ou de
normas gerais, de um lado ([Constituição da República], art. 24, § 1º),
e as leis estaduais de aplicação e execução das diretrizes fixadas pela
União Federal, de outro, ([Constituição da República], art. 24, § 2º)...
É que, tratando -se de controle normativo abstrato, a
inconstitucionalidade há de transparecer de modo imediato ,

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ADI 4807 / AP

derivando, o eu reconhecimento, do confronto direto que se faça entre o


ato estatal impugnado e o texto da própria Constituição da República”
(DJ 2.8.2002).

Para o Ministro Celso de Mello,

“esse exercício de análise comparativa, caso pudesse ser


admitido em sede de controle normativo abstrato cujo objeto único é a
verificação, em tese, da ocorrência de situação de litigiosidade
constitucional direta e imediata com o texto da Carta Política levaria
esta Corte a proceder contra a sua própria orientação jurisprudencial,
que, por mais de uma vez (ADI 613-DF ADI 842-DF), já advertiu
que, em sede de ação direta, a inconstitucionalidade deve transparecer
diretamente do texto do ato estatal impugnado, pois a formulação
desse juízo de desvalor não pode e nem deve depender da análise
prévia de outras espécies jurídicas infraconstitucionais , para, em
função desse exame precedente e em desdobramento exegético ulterior,
concluir-se, eventualmente, sempre, porém, de modo reflexo , pela
ilegitimidade constitucional do ato impugnado” (ADI n. 2.344/SP,
Relator o Ministro Celso de Mello, Plenário, DJ 20.8.2002).

No mesmo sentido:

“EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E


ADMINISTRATIVO. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE: ATO NORMATIVO. DECRETO
FEDERAL N. 1990, DE 29.08.1996: ATO ADMINISTRATIVO.
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA AÇÃO. (...) 4. Se o Decreto,
eventualmente, tiver excedido os limites da Lei n. 8.031, de
12.04.1990, ou mesmo do Decreto n. 1.204, de 29.07.1994, que a
regulamentou, conforme se alegou na inicial, então poderá ser
acoimado de ilegal, nas instâncias próprias, que realizam o controle
difuso, in concreto, de legalidade dos atos administrativos. 5. Aliás, o
próprio controle jurisdicional de constitucionalidade de ato
meramente administrativo, de execução de lei, pode, igualmente, ser
feito nas instâncias ordinárias do Poder Judiciário. Não, assim,

10

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diretamente perante esta Corte. 6. Tudo conforme precedentes


referidos nas informações. 7. A.D.I. não conhecida, prejudicado o
requerimento de medida cautelar” (ADI n. 1.544/DF, Relator o
Ministro Sydney Sanches, Plenário, DJ 5.9.1997).

E ainda: ADI n. 2.876/RO, de minha relatoria, Plenário, DJ 20.11.2009;


ADI 2.398-AgR/DF, Relator o Ministro Cezar Peluso, Plenário, DJ
31.8.2007; ADI n. 2.792-AgR/MG, Relator o Ministro Carlos Velloso,
Plenário, DJ 12.3.2004; ADI n. 2.489-AgR/MA, Relator o Ministro Carlos
Velloso, Plenário, DJ 10.10.2003; ADI n. 252/PR, Relator o Ministro
Moreira Alves, Plenário, DJ 21.2.2003; ADI n. 1.670/DF, Relatora a
Ministra Ellen Gracie, Plenário, DJ 8.11.2002; ADI n. 2.413/MG, Relator o
Ministro Carlos Velloso, Plenário, DJ 16.8.2002; ADI n. 561/MG, Relator o
Ministro Celso de Mello, Plenário, DJ 23.3.2001; ADI n. 1.540/MS, Relator
o Ministro Maurício Corrêa, Plenário, DJ 16.11.2001; ADI n. 1.258/PR,
Relator o Ministro Néri da Silveira, Plenário, DJ 20.6.1997; ADI n.
1.692/SP, Relator o Ministro Ilmar Galvão, Plenário, DJ 28.11.1997; ADI n.
1.538/DF, Relator o Ministro Sydney Sanches, Plenário, DJ 13.6.1997; ADI
n. 264-AgR/DF, Relator o Ministro Celso de Mello, Plenário, DJ 8.4.1994;
ADI n. 589/DF, Relator o Ministro Carlos Velloso, Plenário, DJ 18.10.1991;
e ADI n. 365-AgR/DF, Relator o Ministro Celso de Mello, Plenário, DJ
15.3.1991.

9. Não se está, portanto, diante de normas estaduais primárias pelas


quais se possa, de maneira direta e imediata, analisar sua
constitucionalidade, sem confronto anterior com norma legal. Os atos
regulamentares, cujo conteúdo ultrapasse o que na lei regulamentada se
contém, podem estar eivados de ilegalidade.

Do mérito

10. Cumpre analisar a constitucionalidade do art. 127 da


Constituição do Amapá, ato normativo primário, caracterizado pela
abstração e generalidade suficientes a sujeitá-lo a controle abstrato de

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ADI 4807 / AP

constitucionalidade:
“Art. 147. A destituição do Procurador-Geral de Justiça, em
casos de abuso de poder ou de omissão grave no cumprimento de
dever, poderá ocorrer por deliberação do Poder Legislativo ou por
indicação de dois terços do Colégio de Procuradores de Justiça,
dependendo, em ambos os casos, de aprovação da maioria absoluta dos
membros da Assembleia Legislativa, na forma da lei complementar”.

11. O que se põe em foco neste ponto é a constitucionalidade de


expressões de norma contidas na Constituição estadual pelas quais se
reconhece à Assembleia Legislativa a possibilidade de iniciar o processo
de destituição do Procurador-Geral de Justiça estadual.

12. No art. 128, § 4º, da Constituição da República se estabelece:

“Art. 128. O Ministério Público abrange:


(...)
§ 4º Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e
Territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria absoluta
do Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva”.

13. A exigência de observância do princípio da reserva de lei


complementar para a regulamentação da destituição de Procurador-Geral
da Justiça não é nova neste Supremo Tribunal.

No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2.436/PE,


de relatoria do Ministro Moreira Alves, o Plenário decidiu:

“EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. Impugnação


das expressões "nos seguintes casos: a) por proposta do Colégio de
Procuradores, conforme Lei Complementar; b) por proposta subscrita
por um terço dos membros da Assembleia Legislativa" contidas no
artigo 14, XIII, da Constituição do Estado de Pernambuco, com a
redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de
2000. Pedido de liminar. - Basta, para se ter como relevante a

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ADI 4807 / AP

fundamentação jurídica desta arguição de inconstitucionalidade, a


circunstância formal de que o § 4º do artigo 128 da Carta Magna em
sua parte final remete à lei complementar a disciplina da forma pela
qual se dará a destituição dos Procuradores-Gerais nos Estados e no
Distrito Federal e Territórios, tendo-se firmado a jurisprudência desta
Corte no sentido de que, quando a Constituição exige lei
complementar para disciplinar determinada matéria, essa disciplina só
pode ser feita por essa modalidade normativa. - Conveniência da
suspensão da norma ora impugnada. Liminar deferida para suspender,
"ex nunc" e até o julgamento final desta ação, a eficácia das
expressões impugnadas do inciso XIII do artigo 14 da Constituição do
Estado de Pernambuco, na redação dada pela Emenda Constitucional
nº 20, de 15 de dezembro de 2000” (DJ 09.06.2003).

Em seu voto, o Ministro Moreira Alves destacou:

“Basta-me, para ter como relevante a fundamentação jurídica


desta arguição de inconstitucionalidade formal, a circunstância de que
o § 4º do artigo 128 da Carta Magna em sua parte final remete à lei
complementar a disciplina da forma pela qual se dará a destituição dos
Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territórios, a
fim de que essa disciplina se faça por lei que exige a aprovação por
maioria absoluta e que pode ser modificada por outra com esse
"quorum" de aprovação, mas sem as dificuldades da alteração de texto
constitucional por emenda a ele, quer no tocante à iniciativa dela, quer
no concernente ao procedimento complexo de sua aprovação. Ademais
é da jurisprudência desta Corte que, quando a Constituição exige lei
complementar para disciplinar determinada matéria, essa disciplina só
pode ser feita por essa modalidade normativa.
E essa relevância se adensa se se considerar que a Lei federal nº
8.625/93 (que é a lei federal ordinária, de iniciativa exclusiva do
Presidente da República, a qual dispõe sobre normas gerais para a
organização do Ministério Público), no § 2º de seu artigo 9º,
determina que "a destituição do Procurador-Geral de Justiça, por
iniciativa do Colégio de Procuradores, deverá ser precedida de
autorização de um terço dos membros da Assembleia Legislativa". (...)

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ADI 4807 / AP

3. Em face do exposto, defiro o pedido de liminar, para


suspender, "ex nunc" e até o julgamento final desta ação, a eficácia
das expressões impugnadas do inciso XIII do artigo 14 da
Constituição do Estado de Pernambuco, na redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 2000”.

14. Ao comentar o § 4º do art. 128 da Constituição da República, José


Afonso da Silva adverte:

“Como se acabou de dizer, a destituição de procuradores-gerais,


de iniciativa do chefe do Poder Executivo, antes do término do prazo
depende da prévia aprovação do Senado Federal por voto da maioria
absoluta de seus membros, quando se tratar do procurador-geral da
República (art. 128, § 22 ), ou de deliberação da maioria absoluta da
Assembleia Legislativa do Estado, na forma da lei complementar
respectiva, quando se tratar de procuradores-gerais nos Estados e no
Distrito Federal e Territórios (art. 128, § 5º). (...) A LC 75/1993
faculta também a destituição do procurador-geral da justiça do
Distrito Federal, antes do término de seu mandato, por deliberação da
maioria absoluta do Senado Federal, mediante representação do
presidente da República (art. 156, § 2º). É válida essa previsão legal,
porque encontra respaldo no§ 4º do art. 128, em comentário, que
autoriza essa destituição por deliberação da maioria absoluta do Poder
Legislativo, na forma da lei complementar respectiva” (SILVA, José
Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 8.ed. São
Paulo: Malheiros, 2011. p.612).

José Adércio Sampaio Leite afirma que o “estatuto do MP (...) deve ser
previsto em lei complementar federal e dos Estados. Em vista da fonte legal
constitucionalmente prevista, não há de ser tratada pelo constituinte decorrente”
(SAMPAIO, Jose Adércio Leite. Funções Essenciais à Justiça - Ministério
Público. In: Comentários à Constituição do Brasil. 1ed. São Paulo:
Saraiva/Almedina, 2014, p. 1518-1534).

15. A inobservância da exigência de aprovação de lei complementar

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para a regulamentação da destituição de Procurador-Geral de Justiça


culmina na inconstitucionalidade formal, como tem sido reiterado por
este Supremo Tribunal Federal:

“Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 49 do Código de


Normas criado pelo Provimento nº 4/99 da Corregedoria-Geral de
Justiça do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão: autorização do
Presidente para ausência de magistrados da comarca. 3. Dupla
inconstitucionalidade formal: matéria reservada a lei complementar e
iniciativa exclusiva do Supremo Tribunal Federal. 4. Precedentes. 5.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente” (ADI n.
2.880/MA, Relator o Ministro Gilmar Mendes, Plenário, DJ
1º.12.2014).

“EMENTA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL
ELEITORAL. RESOLUÇÃO Nº 23.389/2013 DO TRIBUNAL
SUPERIOR ELEITORAL. DEFINIÇÃO DA REPRESENTAÇÃO
DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL NA CÂMARA DOS
DEPUTADOS. ART. 45, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. PROPORCIONALIDADE RELATIVAMENTE À
POPULAÇÃO. OBSERVÂNCIA DE NÚMEROS MÍNIMO E
MÁXIMO DE REPRESENTANTES. CRITÉRIO DE
DISTRIBUIÇÃO. MATÉRIA RESERVADA À LEI
COMPLEMENTAR. INDELEGABILIDADE. TRIBUNAL
SUPERIOR ELEITORAL. FUNÇÃO NORMATIVA EM SEDE
ADMINISTRATIVA. LIMITES. INVASÃO DE COMPETÊNCIA.
(...) Compete ao legislador complementar definir, dentre as
possibilidades existentes, o critério de distribuição do número de
Deputados dos Estados e do Distrito Federal, proporcionalmente à
população, observados os demais parâmetros constitucionais. De todo
inviável transferir a escolha de tal critério, que necessariamente
envolve juízo de valor, ao Tribunal Superior Eleitoral ou a outro
órgão. 6. A Resolução impugnada contempla o exercício de ampla
discricionariedade pelo TSE na definição do critério de apuração da
distribuição proporcional da representação dos Estados, matéria

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reservada à lei complementar. A renúncia do legislador complementar


ao exercício da sua competência exclusiva não legitima o
preenchimento da lacuna legislativa por órgão diverso. 7.
Inconstitucionalidade da Resolução nº 23.389/2013 do TSE, por
violação do postulado da reserva de lei complementar ao introduzir
inovação de caráter primário na ordem jurídica, em usurpação da
competência legislativa complementar. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada procedente, sem modulação de
efeitos”(ADI n. 5.028/DF, Relator o Ministro Gilmar Mendes,
Redatora para o acórdão a Ministra Rosa Weber, Plenário, DJ
30.10.2014).

“EMENTA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL
ELEITORAL. RESOLUÇÃO Nº 23.389/2013 DO TRIBUNAL
SUPERIOR ELEITORAL. DEFINIÇÃO DA REPRESENTAÇÃO
DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL NA CÂMARA DOS
DEPUTADOS. ART. 45, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. PROPORCIONALIDADE RELATIVAMENTE À
POPULAÇÃO. OBSERVÂNCIA DE NÚMEROS MÍNIMO E
MÁXIMO DE REPRESENTANTES. CRITÉRIO DE
DISTRIBUIÇÃO. MATÉRIA RESERVADA À LEI
COMPLEMENTAR. INDELEGABILIDADE. TRIBUNAL
SUPERIOR ELEITORAL. FUNÇÃO NORMATIVA EM SEDE
ADMINISTRATIVA. LIMITES. INVASÃO DE COMPETÊNCIA.
1. Segundo a jurisprudência desta Suprema Corte, viável o controle
abstrato da constitucionalidade de ato do Tribunal Superior Eleitoral
de conteúdo jurídico-normativo essencialmente primário. A Resolução
nº 23.389/2013 do TSE, ao inaugurar conteúdo normativo primário
com abstração, generalidade e autonomia não veiculado na Lei
Complementar nº 78/1993 nem passível de ser dela deduzido, em
afronta ao texto constitucional a que remete – o art. 45, caput e § 1º,
da Constituição Federal –, expõe-se ao controle de constitucionalidade
concentrado. Precedentes. 2. Embora apto a produzir atos abstratos
com força de lei, o poder de editar normas do Tribunal Superior
Eleitoral, no âmbito administrativo, tem os seus limites materiais

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condicionados aos parâmetros do legislador complementar, no caso a


Lei Complementar nº 78/1993 e, de modo mais amplo, o Código
Eleitoral, recepcionado como lei complementar. Poder normativo não é
poder legislativo. A norma de caráter regulatório preserva a sua
legitimidade quando cumpre o conteúdo material da legislação
eleitoral. Pode conter regras novas, desde que preservada a ordem
vigente de direitos e obrigações, limite do agir administrativo. Regras
novas, e não direito novo. 3. Da Lei Complementar nº 78/1993, à luz
da Magna Carta e do Código Eleitoral, não se infere delegação
legitimadora da Resolução nº 23.389/2013 do Tribunal Superior
Eleitoral. 4. O art. 45, § 1º, da Constituição da República comanda a
definição, por lei complementar (i) do número total de Deputados e (ii)
da representação dos Estados e do Distrito Federal, proporcionalmente
à população – e não ao número de eleitores –, respeitados o piso de oito
e o teto de setenta cadeiras por ente federado. Tal preceito não
comporta a inferência de que suficiente à espécie normativa
complementadora – a LC 78/1993 –, o número total de deputados.
Indispensável, em seu bojo, a fixação da representação dos Estados e
do Distrito Federal. A delegação implícita de tal responsabilidade
política ao Tribunal Superior Eleitoral traduz descumprimento do
comando constitucional em sua inteireza. 5. Compete ao legislador
complementar definir, dentre as possibilidades existentes, o critério de
distribuição do número de Deputados dos Estados e do Distrito
Federal, proporcionalmente à população, observados os demais
parâmetros constitucionais. De todo inviável transferir a escolha de
tal critério, que necessariamente envolve juízo de valor, ao Tribunal
Superior Eleitoral ou a outro órgão. 6. A Resolução impugnada
contempla o exercício de ampla discricionariedade pelo TSE na
definição do critério de apuração da distribuição proporcional da
representação dos Estados, matéria reservada à lei complementar. A
renúncia do legislador complementar ao exercício da sua competência
exclusiva não legitima o preenchimento da lacuna legislativa por
órgão diverso. 7. Inconstitucionalidade da Resolução nº 23.389/2013
do TSE, por violação do postulado da reserva de lei complementar ao
introduzir inovação de caráter primário na ordem jurídica, em
usurpação da competência legislativa complementar. Ação direta de

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inconstitucionalidade julgada procedente, sem modulação de efeitos”


(ADI n. 4.965/PB, Relatora a Ministra Rosa Weber, Plenário, DJ
29.10.2014).

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO E


FINANCEIRO. REPARTIÇÃO DO ICMS. ART. 158, IV E 161, I,
DA CF/88. RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR. USINA
HIDRELÉTRICA. RESERVATÓRIO. ÁREAS ALAGADAS. 1.
Hidrelétrica cujo reservatório de água se estende por diversos
municípios. Ato do Secretário de Fazenda que dividiu a receita do
ICMS devida aos municípios pelo "valor adicionado" apurado de
modo proporcional às áreas comprometidas dos municípios alagados.
2. Inconstitucionalidade formal do ato normativo estadual que
disciplina o "valor adicionado". Matéria reservada à lei complementar
federal. Precedentes. 3. Estender a definição de apuração do adicional
de valor, de modo a beneficiar os municípios em que se situam os
reservatórios de água representa a modificação dos critérios de
repartição das receitas previstos no art. 158 da Constituição.
Inconstitucionalidade material. Precedentes. 4. Na forma do artigo 20,
§ 1º, da Constituição Federal, a reparação dos prejuízos decorrentes do
alagamento de áreas para a construção de hidrelétricas deve ser feita
mediante participação ou compensação financeira. Recurso
extraordinário conhecido e improvido” (RE n. 253.906/MG, Relatora
a Ministra Ellen Gracie, Plenário, DJ 18.2.2005).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


RESOLUÇÃO Nº 22/2003, DA PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAPÁ. AFASTAMENTO
EVENTUAL DE MAGISTRADO DA COMARCA EM FINAIS DE
SEMANA ALTERNADOS E PRÉVIA COMUNICAÇÃO AO
PRESIDENTE DO TRIBUNAL. ART. 93, CAPUT E INCISO VII
DA CARTA MAGNA. RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. 1. A resolução
impugnada impôs verdadeira restrição temporal e procedimental à
liberdade de locomoção dos magistrados. 2. Esta Corte fixou o
entendimento de que a matéria relativa à permanência do magistrado

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na comarca onde exerça jurisdição e seus eventuais afastamentos são


matérias próprias do Estatuto da Magistratura e que dependem, para
uma nova regulamentação, da edição de lei complementar federal,
segundo o que dispõem o caput e o inc. VII do art. 93 da Constituição
Federal. 3. Precedentes: ADI nº 2.753, rel. Min. Carlos Velloso, DJ
11.04.03 e ADI nº 2.880-MC, rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 01.08.03.
4. Ação direta cujo pedido se julga procedente” (ADI n. 3.224/AP,
Relatora a Ministra Ellen Gracie, Plenário, DJ 26.11.2004).

Na mesma linha: ADI n. 1.046/MA, Relator o Ministro Edson Fachin,


Plenário, DJ 11.2.2016; ADI n. 429/CE, Relator o Ministro Luiz Fux,
Plenário, DJ 30.10.2014; ADI n. 5.020/DF, Relator o Ministro Gilmar
Mendes, Redatora para o acórdão a Ministra Rosa Weber, Plenário, DJ
29.10.2014; ADI n. 124/SC, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, Plenário,
DJ 17.4.2009; ADI n. 1.423/SP, Relator o Ministro Joaquim Barbosa,
Plenário, DJ 8.6.2007; ADI n. 2.885/SE, Relatora a Ministra Ellen Gracie,
Plenário, DJ 23.2.2007; ADI n. 2.763/PE, Relator o Ministro Gilmar
Mendes, Plenário, DJ 15.4.2005.

16. Sobre o ponto, a Advocacia-Geral da União ponderou:

“O conjunto de disposições constitucionais pertinentes ao


Ministério Público contém, ainda, regra sobre a competência
legislativa para disciplinar o procedimento de destituição dos
Procuradores-Gerais de Justiça. Trata-se do artigo 128, § 4°, da Carta
Republicana, que confere ao legislador complementar estadual
competência para dispor sobre o assunto, observada a necessidade de
deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo.
(…)
Em outros termos, observa-se que a Constituição Federal
reservou, ao âmbito normativo da lei complementar estadual, a
disciplina acerca da destituição do Procurador-Geral de Justiça, sendo
que, conforme adverte José Afonso da Silva, ‘o que a Constituição
designa como de competência da lei complementar, só a ela está
reservado’.

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Os atos normativos impugnados, portanto, contrariam a reserva


qualificada estabelecida pelo artigo 128, § 4°, da Constituição Federal.
De fato, é vedado à Assembleia Legislativa estadual dispor, por meio
de resolução, sobre matéria submetida à reserva de lei complementar.
Essa proibição também inviabiliza a atuação do Poder Constituinte
decorrente a respeito do tema”.

E concluiu a Procuradoria-Geral da República:

“Dessa maneira, as expressões “por deliberação do Poder


Legislativo ou” e “em ambos os casos”, inscritas no art. 147 da
Constituição do Estado do Amapá, por disporem sobre iniciativa para
destituição do Procurador-Geral de Justiça, devem ser declaradas
inconstitucionais, por desrespeito à reserva de lei complementar
extraída do art. 128, § 4º, da Constituição da República”.

17. De se afirmar também que, nos termos do art. 61, inc. II, al. d, da
Constituição da República, compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa da lei na qual se dispõe sobre normas gerais de organização do
Ministério Público dos Estados.

Pelo art. 128, § 5º, da Constituição da República, os respectivos


procuradores-gerais têm a iniciativa das leis complementares que versam
sobre a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público.

Com o advento da Lei n. 8.625/1993, pela qual se institui a Lei


Orgânica Nacional do Ministério Público, dispondo sobre normas gerais
para a organização do Ministério Público dos Estados e dando outras
providências, a matéria foi assim regulamentada:

“Art. 9º. Os Ministérios Públicos dos Estados formarão lista


tríplice, dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva,
para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do
Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida uma

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recondução, observado o mesmo procedimento. (…)


§ 2º A destituição do Procurador-Geral de Justiça, por iniciativa
do Colégio de Procuradores, deverá ser precedida de autorização de um
terço dos membros da Assembleia Legislativa. (…)
Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por
todos os Procuradores de Justiça, competindo-lhe: (...)
VI - destituir o Corregedor-Geral do Ministério Público, pelo
voto de dois terços de seus membros, em caso de abuso de poder,
conduta incompatível ou grave omissão nos deveres do cargo, por
representação do Procurador-Geral de Justiça ou da maioria de seus
integrantes, assegurada ampla defesa;”

Não bastasse o art. 147 da Constituição do Amapá ter sido criado por
iniciativa dos deputados estaduais no exercício do poder constituinte
derivado decorrente, vê-se que o legislador estadual, ao admitir a
possibilidade de a Assembleia Legislativa iniciar o processo de
destituição do Procurador-Geral de Justiça, como assentado pela
Advocacia-Geral da União, atuou de forma “paralela e explicitamente
contraposta à legislação federal vigente”.

18. À inconstitucionalidade formal há de se somar a


inconstitucionalidade material.

19. Nas palavras do Procurador-Geral da República:

“O art. 147 da Constituição do Estado do Amapá, por autorizar


que a Assembleia Legislativa inicie processo de destituição do
procurador-geral de justiça e, ao cabo, delibere sobre sua destituição,
além de agredir a independência e autonomia do Ministério Público,
atenta contra o próprio Estado Democrático de Direito, pois admite
centralização da destituição do chefe do Ministério Público nas mãos
do parlamento estadual, a ensejar que crises institucionais possam
influir na atuação dessa autoridade e limitá-la.
O episódio recente da edição do citado Decreto Legislativo
547/2014, da Assembleia Legislativa amapaense, bem evidencia a que

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ADI 4807 / AP

ponto podem chegar paixões e interesses político-eleitorais, entre


outros (objeto da referida ADI 5.184/AP). O Legislativo estadual, de
uma penada, mais de um ano depois da publicação da Lei
Complementar 79/2013 (a Lei Orgânica do MP do Amapá), resolveu
“anular a aprovação” de seu projeto, “sustar a vigência” da lei e
“anular todos os atos formalizados” com base nela, às vésperas da
eleição do procurador-geral de justiça. Usurpou competência do
Tribunal de Justiça do Amapá e do Supremo Tribunal Federal ao
exercer controle concentrado de constitucionalidade, em retaliação
pelo deferimento de medida cautelar pelo STF na ADI 5.171/AP (a
qual, por sua vez, tem por objeto a Emenda Constitucional 48, de 13
de outubro de 2014, à Constituição do Estado do Amapá, que impede
promotores de justiça de concorrer ao cargo de Procurador-Geral de
Justiça).
Justamente para evitar crises desse gênero, a Constituição da
República estruturou mecanismo complexo, em que a destituição do
procurador-geral de justiça depende de iniciativa do Colégio de
Procuradores, com participação subsequente do Legislativo”.

20. Ao permitir que a Assembleia Legislativa inicie e delibere, por


maioria absoluta, sobre destituição do Procurador-Geral de Justiça (art.
147 da Constituição amapaense), o constituinte estadual inobservou o art.
128, § 4º, da Constituição da República e contrariou os princípios
orientadores da independência e autonomia dessa instituição permanente
e essencial à função jurisdicional.

21. Pelo exposto, voto no sentido de julgar prejudicadas as Ações


Diretas de Inconstitucionalidade ns. 4.807/AP e 4.808/AP, quanto ao art.
12 da Lei Complementar amapaense n. 9/1994 e à Resolução n. 119/2012
da Assembleia Legislativa do Amapá. Na parte remanescente, voto no
sentido de julgar procedentes os pedidos formulados nas ações para
declarar a inconstitucionalidade das expressões “por deliberação do
Poder Legislativo ou” e “em ambos os casos” do art. 147 da Constituição
do Amapá.

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Observação

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01/08/2018 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.807 AMAPÁ

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAPÁ
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
AMAPA
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO AMAPÁ
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO - CONAMP
ADV.(A/S) : ARISTIDES JUNQUEIRA ALVARENGA E
OUTRO(A/S)

OBSERVAÇÃO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:


Eu registro que fico apenas no fundamento da inconstitucionalidade
formal, mas acompanho.

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Extrato de Ata - 01/08/2018

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.807


PROCED. : AMAPÁ
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAPÁ
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO AMAPA
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
AMAPÁ
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO
PÚBLICO - CONAMP
ADV.(A/S) : ARISTIDES JUNQUEIRA ALVARENGA (12500/DF) E OUTRO(A/S)

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da


Relatora, Ministra Cármen Lúcia (Presidente), julgou prejudicada a
ação quanto ao art. 12 da Lei Complementar amapaense n. 9/1994 e à
Resolução n. 119/2012 da Assembleia Legislativa do Estado do
Amapá, e, na parte remanescente, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade das expressões “por deliberação
do Poder Legislativo ou” e “em ambos os casos”, constantes do art.
147 da Constituição do Amapá. O Ministro Dias Toffoli acompanhou a
Relatora no fundamento da declaração de inconstitucionalidade
formal. Plenário, 1º.8.2018.

Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar
Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber,
Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

Procuradora-Geral da República, Dra. Raquel Elias Ferreira


Dodge.

p/ Doralúcia das Neves Santos


Assessora-Chefe do Plenário

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o número 747906659

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