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Poder Judiciário

Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul


4ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca de Porto Alegre
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PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL Nº 5050755-80.2020.8.21.0001/RS


AUTOR: SINDICATO DOS MUNICIPARIOS DE PORTO ALEGRE
RÉU: FASC - FUNDACAO DE ASSISTENCIA SOCIAL E CIDADANIA
RÉU: DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE PREVIDENCIA DOS SERVIDORES PUBLICOS DO
MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE - PREVIMPA
RÉU: DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA - DMLU
RÉU: DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE HABITAÇÃO - DEMHAB
RÉU: DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTOS - DMAE
RÉU: MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE

SENTENÇA

VISTOS.

SINDICATO DOS MUNICIPÁRIOS DE PORTO ALEGRE – SIMPA


ajuizou AÇÃO DE PROCEDIMENTO ORDINÁRIO  contra o MUNICÍPIO DE
PORTO ALEGRE, a FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA –
FASC, o  DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA - DMLU,
o DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTO, o DEPARTAMENTO
MUNICIPAL DE HABITAÇÃO - DEMHAB e o DEPARTAMENTO MUNICIPAL
DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE
PORTO ALEGRE - PREVIMPA, alegando que, no âmbito municipal, a legislação
garantiu a revisão geral anual de vencimentos dos servidores, conforme art. 37, X,
da Constituição Federal, através da Lei Municipal n.º 9.870/2005, alterada pela Lei
Municipal n.º 10.042/2006. Discorreu sobre o percentual acumulado de perdas nos
vencimentos dos servidores. Teceu considerações sobre a garantia da revisão anual
da remuneração. Pediu a procedência da ação. Anexou documentos.

Relatei.

Adianto ser o caso de improcedência liminar.

Através da presente ação, o autor visa à revisão dos vencimentos pagos


pelo poder público a toda a categoria de servidores públicos municipais. Todavia,
não há como condenar o ente público a revisar a remuneração dos servidores. 

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A questão está há muito pacificada pela jurisprudência. Assim dispõe o
art. 37, X, da Constituição Federal:

A remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art.


39  somente poderão ser fixados ou alterados  por lei específica, observada a
iniciativa privada em cada caso, assegurada a revisão geral anual, sempre na
mesma data e sem distinção de índices.

Da simples leitura do disposto constitucional, fica evidente, primeiro,


que somente através de lei é possível a fixação e alteração de vencimentos dos
servidores. Segundo, fica bem delimitada a competência de iniciativa para a criação
da lei. Portanto, compete ao Poder Executivo, nos termos do art. 61, § 1.º, II, “a”, da
Constituição Federal, e art. 60, II, “a”, da Constituição Estadual, a iniciativa
mediante lei específica para o reajuste previsto no art. 37, inciso X, da Constituição
Federal. Tal entendimento, aliás, é o conteúdo da Súmula n.º 339 do Supremo
Tribunal Federal, firmado em razão do princípio da separação dos poderes:

Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.

Segundo a redação final do art. 1º da Lei Municipal n.º  9.870/2005,


dada pela Lei Municipal n.º    10.042/2006, o reajuste ocorrerá "com periodicidade
anual, data-base em maio de cada ano, consideradas as perdas inflacionárias do
período, mediante decreto do Executivo Municipal". Assim, o pedido do requerente
esbarra no princípio da legalidade, uma vez que somente através de ato do Poder
Executivo Municipal é possível a concessão da reposição pretendida. A propósito:

APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. AGENTE MUNICIPAL. HOSPITAL


GETÚLIO VARGAS. MUNICÍPIO DE SAPUCAIA DO SUL. HORAS EXTRAS.
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. REVISÃO GERAL ANUAL. PERDAS E
DANOS. 1. A Administração Pública é regida à luz dos princípios constitucionais
inscritos no caput do art. 37 da Constituição Federal, dentre eles, o da legalidade.
2. (...) 4. Revisão periódica da remuneração com base no art. 89 da Lei Municipal
nº 1.727/93: referida lei não prevê que os servidores terão aumentos, mas que
deverão ser concedidos por lei específica. Assim, se o Poder Executivo não vem
cumprindo com aquela norma de conteúdo programático local, nem com norma
constitucional da mesma natureza art. 37, inciso X, da Constituição Federal, não é
o Poder Judiciário que pode fazê-lo, razão pela qual descabe a pretensão
indenizatória pela não concessão da revisão anual. NEGARAM PROVIMENTO À
APELAÇÃO. (Apelação Cível Nº 70079186177, Terceira Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 29/11/2018)

Não cabe ao Poder Judiciário, por não possuir função legislativa,


aumentar os vencimentos dos servidores públicos, seja direta ou indiretamente, sob a
simulada roupagem (ou o eufemismo) de uma “indenização”. Isso afrontaria
diretamente o princípio da separação dos poderes, que limita o poder de atuação de
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cada Poder. Este é o entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal, conforme
Tema n.º 984 das Teses de Repercussão Geral (e por isso a possibilidade de
improcedência liminar, conforme o art. 332, II, do Código de Processo Civil), nos
seguintes termos: 

O Supremo Tribunal Federal veda o aumento de vencimentos pelo Poder Judiciário


com base no princípio da isonomia, na equiparação salarial ou a pretexto da
revisão geral anual, não sendo devida, portanto, a extensão do  maior reajuste
concedido pela Lei estadual nº  7.622/2000 aos soldos de toda a categoria dos
policiais militares do Estado da Bahia, dispensada a devolução de valores
eventualmente recebidos de boa-fé até a data de conclusão do presente julgamento
no Plenário Virtual desta Corte.

A Lei Municipal n.º 9.870/2005, além disso, é substancialmente


inconstitucional, por violar o art. 169, § 1º, da Constituição Federal. E também é
nula de pleno direito, com base no art. 21, I, a, da Lei Complementar n.º 101/2000.

Não basta a existência de lei. É necessário, paralelamente, que ela


esteja prevista tanto na Lei Orçamentária Anual quanto na Lei de Diretrizes
Orçamentárias. Essa matéria  ficou definida pelo Supremo Tribunal Federal,
igualmente em Tema de Repercussão Geral (864), com a seguinte tese:

A revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos depende,


cumulativamente, de dotação na Lei Orçamentária Anual e de previsão na Lei de
Diretrizes Orçamentárias.

A inércia legislativa não colore a figura de um ato ilícito. Logo, carece


o suplicante de substrato legal para aviar seu pleito indenizatório.

Ao julgar o Recurso Extraordinário n.º 424.584, o Supremo Tribunal


Federal formulou a ementa que ora se reproduz:

SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO GERAL DE VENCIMENTO.


COMPORTAMENTO OMISSIVO DO CHEFE DO EXECUTIVO. DIREITO À
INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. IMPOSSIBILIDADE. Esta Corte firmou
o entendimento de que, embora reconhecida a mora legislativa, não pode o
Judiciário deflagrar o processo legislativo, nem fixar prazo para que o chefe do
Poder Executivo o faça. Além disso, esta Turma entendeu que o comportamento
omissivo do chefe do Poder Executivo não gera direito à indenização por perdas e
danos. Recurso extraordinário desprovido.

(RE 424584, Relator(a): Carlos Velloso, Relator(a) p/ Acórdão: Joaquim Barbosa,


Segunda Turma, julgado em 17/11/2009, DJe-081  divulg 06-05-2010  public 07-05-
2010 ement vol-02400-05  PP-01040).

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Ao enfrentar os embargos declaratórios do respectivo acórdão, o
Supremo Tribunal Federal, já sob a abrangência do Tema 19 da Repercussão Geral,
aprovou tese com esta dicção:

O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos


servidores públicos, previsto no inciso X do art. 37 da CF/1988, não gera direito
subjetivo a indenização. Deve o Poder Executivo, no entanto, se pronunciar, de
forma fundamentada, acerca das razões pelas quais não propôs a revisão.

ANTE O EXPOSTO, julgo liminarmente IMPROCEDENTES os


pedidos, forte no art. 332, II, do Código de Processo Civil, condenando a
demandante ao pagamento das custas processuais.

Intimem-se o autor e o Ministério Público.

Oportunamente, caso interposto  recurso de apelação, citem-se apenas


para apresentarem contrarrazões.

Posteriormente, remetam-se os autos ao Tribunal de Justiça.

Documento assinado eletronicamente por FERNANDO CARLOS TOMASI DINIZ, Juiz de Direito, em
17/8/2020, às 12:21:1, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser
conferida no site https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php?
acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código verificador 10003255163v23 e o código
CRC e65cf2cb.

 
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