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6. O cristão maduro é um cristão santo. A busca da santidade deve ser concreta e não
apenas subjetiva, deve percorrer um caminho objetivo que leve o homem todo a
crescer na graça santificante.
7. O caminho de transformação pelo Espírito é um caminho de conversão para receber
a vida de Deus em nós pela graça santificante. Isto significa renascer do Espírito. Este
caminho tem a sua continuidade na conversão da alma que é a purificação do
temperamento, da personalidade e de toda psique humana; e na conversão do corpo
que é a purificação ou mortificação da carne na fuga do pecado. É um processo de
nascer para Deus e de assumir a vida de Deus em nós, nisto consiste todo percurso do
crescimento espiritual, na busca da maturidade humana e espiritual.
8. “Em verdade, em verdade eu te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o
Reino de Deus. (...) Em verdade, em verdade eu te digo: quem não renascer da água e
do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o
que nasceu do Espírito é espírito”. É preciso que o nosso espírito nasça em Deus pela
realização viva do Espírito de Deus em nós. É daí que todo o processo de conversão,
santificação, começa em nós. Sem esse primeiro passo, não é possível dar os demais.
O que nasce da carne é (carne) carnal, traz as faculdades e as qualidades (as marcas)
desta realidade. Mas o que nasce do Espírito é (é espírito) espiritual, traz a vida (as
marcas da vida) de Deus em si, as faculdades e qualidades de Deus que são próprias
do Reino.
9. O primeiro renascer acontece em nós pelo sacramento do batismo, onde morremos
com Cristo para o pecado, e renascemos com Ele para a vida nova em Deus. Porém
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Luciane Bidóia – Comunidade Católica El Shaddai
PUR – GPP-Campinas
Curso: _________________________________ AUTOCONHECIMENTO E MATURIDADE
12. “Tal como é do Pai e do Filho, assim também a graça é do Espírito Santo. Como
pode, com efeito, existir graça sem o Espírito, quando toda graça divina está no
Espírito” Sto Ambrósio. A graça não é apenas uma boa vontade de Deus a nosso
respeito, não é algo só intencional, mas real. Graça é evento, acontecimento, ato
precioso, intervenção sempre nova e pessoal de Deus. A graça é o próprio ato de Deus
que constitui o homem justo e agradável a Ele. (cf. Raniero Cantalemessa – O Canto
do Espírito).
13. “O Espírito é a única força verdadeira, o único poder real que sustenta a Igreja!”
(Raniero Cantalemessa – O Canto do Espírito). Assim como a Igreja o fiel cristão não
vive da própria força. “Todas as coisas na Igreja e no fiel cristão individual, ou ganham
a força do Espírito Santo ou são impotentes” (idem).
14. “Vem, visita, enche”.Quanto mais pedirmos a efusão do Espírito Santo nas nossas
orações, mais seremos renovados por esta força de Deus. Por isso é preciso pedir o
ES sempre (Jesus nos ensina isso), para que Ele faça acontecer a vida de Deus em
nós, e com ela os sentimentos e os pensamentos de Cristo. “Espírito do Deus vivo,
desce de novo em mim: funde-me, molda-me, enche-me, usa-me” (canto pentecostal –
citado por Raniero Cantalemessa – O Canto do Espírito).
15. Para fazer esta experiência do Espírito, é preciso fazer o convite com vontade e
convicção de ser atendido, ser perseverante na oração, e principalmente estar prontos
para que alguma coisa mude em nossa própria vida. “Não se pode convidar o Espírito
Santo a vir, a encher-nos, contanto que Ele deixe tudo como antes. ‘Aquilo que o
Espírito toca, o Espírito muda’ diziam os Padres. Quem grita: ‘Vem, visita enche!’, por
este mesmo fato se entrega ao Espírito, entrega-lhe as rédeas da própria vida ou as
chaves da própria casa” (Raniero Cantalemessa – O Canto do Espírito).
16. Mas ao fazermos o convite ao Espírito, não podemos deixar a voz da nossa carne
falar, mesmo que baixinho: ‘nada de coisas estranhas, nada de exagero’. Os apóstolos
não tiveram medo de serem confundidos com gente bêbada. Como podemos dizer
Vem Espírito, se assim que Ele começa a fazer aquilo que lhe pedimos gritamos
assustados ‘assim não, assim não’. É preciso ser dócil a obra santificadora do Espírito
que penetra e permanece na pessoa renovando-a e transformando-a interiormente.
17. Isso é importante porque a vida nova conferida pelo Espírito só pode ser recebida
pelo homem a partir de uma atitude voluntária. Na vida natural ninguém pode decidir se
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vai nascer ou não, mas diversamente desta em relação à vida do Espírito toda pessoa
pode decidir se quer ou não renascer.
18. Para viver o Espírito em nós, é preciso ser conduzido pelo Espírito, andar de acordo
com o Espírito, permitir que o Espírito aconteça, como em Gal 5, 25: “Se vivemos pelo
Espírito, andemos também de acordo com o Espírito”. Andar de acordo com o Espírito
é parar para ouvir “o ruído” do Espírito em nosso espírito e ser dócil, atender o
chamado dessa voz, deixando-nos ser levados por Ele. Ser guiado pelo Espírito é ser
como um balão de ar quente, que, uma vez cheio de ar, se desprende do chão e é
conduzido “sem saber para onde vai” (cf Jo 3, 8).
19. “Viver segundo o Espírito significa participar da própria vida de Cristo, compartilhar
as suas disposições interiores, formar com Ele ‘um só Espírito’ (1 Cor 6,17). Ser ou
viver ‘no Espírito’ equivale na prática a ser ou viver ‘em Cristo’ ” (Raniero Cantalemessa
– O Canto do Espírito).
20. A nossa colaboração com a graça é reconhecer onde é preciso mudar e se esforçar
ao máximo para isso. Mas ao mesmo tempo é se abandonar com humildade e
confiança aos cuidados do Espírito numa atitude de total dependência do Seu auxílio. É
pelo ES que descobrimos os verdadeiros valores e também é Ele que nos faz ser forte
onde somos fracos.
21. Para alcançar a maturidade, a santidade, temos que decidir percorrer um caminho
de purificação do nosso modo de ser, pensar e agir para que a vida de Deus se realize
em nós. Não basta se encher do Espírito é preciso se deixar transformar por Ele. Isso
significa deixar que Ele limpe (purifique) a nossa alma das sujeiras do mundo, das
marcas de pecado, vícios, de costumes enraizados que condicionam nosso modo de
viver.
22. “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus”
(Rm 8,14).
23. Aceitar ser transformado é acolher com humildade e paciência o deserto da
purificação. Morrer para si mesmo, para poder assumir a vida de Cristo, é um processo
doloroso que exige sacrifício. Para enfrentá-lo é preciso superar o medo do sofrimento.
É aqui que cada um se põe na conquista da liberdade segundo a verdade de ser filho
de Deus. Por exemplo, num proto-socorro, quando chega um acidentado, primeiro lava-
se e esfrega a ferida antes de dar o remédio e fazer os curativos. O sofrimento é
libertador, traz paz e felicidade. Quanto mais resistimos, mais a ferida inflama e mais
doloroso fica. Se não tivermos disposição de enfrentar o sofrimento Deus nos respeita,
mas nada muda em nós.
a. A Importância Da Cura Interior
24. A cura interior é fundamental nesse processo de conversão, pois o Senhor penetra
no íntimo da alma, na nossa realidade psíquica, libertando-a de todos os seus
condicionamentos. Vemos isso na vida de Santa Teresinha. Ela, que fora uma menina
mimada na sua infância, encontrava algumas imperfeições em si mesma que não podia
vencer. Mas, no Natal de 1896, ocorre uma metamorfose em seu interior. Ela, como
num piscar de olhos, “não é mais a mesma, Jesus lhe mudou o coração”. Com certeza,
se não fosse essa intervenção de Jesus, essa cura, Teresinha não seria a santa que
foi.
34. “A disciplina torna-se um ótimo caminho para não reprimir os instintos, mas formá-
los para que possam estar à nossa disposição como forças em potencial”. (Anslem
Grüm, O Céu Começa em Você).
35. Para alcançar esse autodomínio, somos chamados a viver as práticas de penitência
no sentido de mortificação. Desde os primeiros tempos da Igreja, os cristãos guardam a
prática da chamada “ascese”. Para os cristãos, ascese significa o disciplinar do corpo.
Vemos claramente esta idéia de treinamento (ascese) nas cartas de Paulo, como por
exemplo, em I Cor 9, 24-27. “Não sabeis que os que correm no estádio correm todos,
mas um só alcança o prêmio? Correi, pois de modo que alcanceis. E quem se prepara
para a luta abstém-se de tudo, e isso para alcançar uma coroa corruptível; porém nós,
para alcançarmos uma incorruptível. Eu corro, mas não como quem dá socos no ar.
Porém castigo meu corpo e o domino para que não suceda que, tendo sido arauto para
outros, venha eu a ser reprovado”.
36. A ascese é, para o cristão, um exercício que o ajuda a praticar virtudes do Espírito e
dominar os seus vícios (pecados). É perseverando nesse exercício que a pessoa vai
assumindo na sua carne a vida de Deus (a santidade), pois passa a viver pelas virtudes
e não mais pelos vícios.
37. A ascese pode ser exterior ou interior, mas necessariamente passa pela cruz com
toda a graça de sua força, de maneira que possamos dizer: “estou pregado à cruz com
Cristo” e “o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.
38. A prática diária da disciplina e o hábito de nos submetermos a ela, quer nos grandes
ou pequenos afazeres, acabam por imprimir uma orientação completamente nova à
nossa conduta.
39. Neste processo além de conhecermos em nós o que precisa ser mudado, é
necessário não cultivarmos os nossos defeitos. Sutilmente isso é muito comum, pois
ora achamos bonito certos defeitos, ora conveniente porque os usamos como
autodefesas. Por exemplo, às vezes acha-se bonito: ser sensual, crítico, não levar
desaforo para casa, falar aquilo que pensa, ser forte para impor respeito, agressivo, se
sobrepor aos outros, etc. Estes são alguns defeitos (falta de conformidade à Palavra de
Deus) comuns que cultivamos por que são convenientes, nos fazem respeitados, nos
dão segurança, nos protegem, etc. Mas prender-se nestas coisas é colocar nossa
confiança nos valores do mundo e não em Deus.
40. “Enquanto o homem não fizer morrer dentro de si a doçura do pecado, o Espírito não
pode infundir nele a doçura de Deus”.
44. Cada um de nós tem um temperamento, que é parte da herança biológica e psíquica
que recebemos.
45. Os nossos impulsos temperamentais ficam escondidos, mas comandam-nos com
seu poder, como uma mão comanda uma marionete, puxando as suas cordas, em
teatros infantis. Se não dominamos o nosso temperamento e cedemos ao nosso modo
de ser espontâneo ficamos rendidos aos seus impulsos de orgulho, preguiça,
sensualidade, etc.
46. Muitas pessoas não conseguem ter uma vida madura, estável e sadia porque não
consegue dominar os impulsos temperamentais.
47. O princípio para se libertar do domínio do temperamento é encontrar uma vontade
firme e fortemente constituída. “Para adquirir força de vontade, é preciso começar por
negar-se ou vencer-se nos gostos, nos estímulos e nas inclinações imediatas” (Enrique
Rojas citado por Rafael L. Cifuentes – A Maturidade).
48. Tudo começa por uma determinação, mas a determinação tem que ser forte, não se
pode querer pela metade. O querer não pode deixar espaço para os estados de ânimo,
tem que ser límpido. A partir de um querer pleno é que se forjam os homens maduros.
49. Nesta determinação é necessário a disciplina, sabendo que um sim se compõe de
muitos ‘nãos’. A determinação em ser fiel nas coisas pequenas fortalece o nosso
querer no que parece fácil, para depois podermos vencer as coisas que pareciam
intransponíveis.
50. O domínio dos impulsos temperamentais não significa eliminá-los de nossas vidas,
mas sim submetê-los à força do Espírito para que Cristo seja glorificado em todas as
áreas da nossa personalidade.
51. Por isso ninguém deve desprezar o seu temperamento, mas sim reconhecer que
Deus se utiliza do nosso temperamento quando este está pleno do Espírito. Para que
possamos cumprir a missão particular que o Senhor nos confiou iremos
indubitavelmente precisar das características do nosso temperamento purificadas pelo
Espírito de Deus.
52. Graças ao conhecimento próprio e à humildade assim adquirida, nos sentiremos
livres para passear por entre as feras que trazemos dentro de nós, familiarizando-nos
com elas a ponto de conviver com elas e tê-las sob controle, como um domador o faz
com seus queridos leões e tigres.
53. Para atingirmos a plenitude da transformação do Espírito em nós, é preciso que com
determinação e coragem decretemos a morte do nosso homem velho para que o novo
surja com toda a força e plenitude do Espírito. Não podemos nos enganar achando que
o velho é vontade de Deus para nós e sermos levados a continuar como estamos.
54. “Devemos nos desenraizar-nos de nós mesmos e enraizar-nos em Deus. Muitas
árvores têm o assim chamado fiton (raiz primária), uma raiz-mãe que desce
perpendicularmente pelo terreno sob o tronco. Enquanto não se livra o terreno todo em
volta e não se lança o machado a essa raiz-mãe, podem-se cortar todas as outras
raízes laterais, mas a árvore não se abala, ninguém a derruba. Também a árvore de
nossa vida tem uma ‘raiz-mãe’: nosso amor-próprio. Enquanto algo mais forte não vier
para arrancá-lo, não se passa do homem velho para o homem novo, da vida segundo a
carne para a vida segundo o Espírito” (Raniero Cantalemessa – O Canto do Espírito).