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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n4-482
RESUMO
Este estudo apresenta os impactos das medidas de isolamento social adotadas durante a
epidemia do novo coronavírus sobre os níveis de poluentes atmosféricos no Município de
São Paulo. Foram observadas reduções nas concentrações de Particulados MP10 e MP2,5,
Óxidos de Nitrogênio, Dióxido de Nitrogênio, Monóxido de Carbono, Benzeno e Tolueno
durante o período de 22 a 31 de Março de 2020 (início do Isolamento social) em
comparação ao período de 11 a 20 de Março de 2020 (anterior à decretação do Isolamento
Social). A comparação dos meses de Abril de 2020 em relação a Abril de 2019 também
demostrou redução nesses poluentes. Foram afastados os possíveis efeitos de condições
meteorológicas. Conclui-se que as mudanças na forma de trabalho, a redução na
necessidade de dirigir e os novos comportamentos adquiridos no período da epidemia
tiveram impactos positivos sobre os níveis de poluentes atmosféricos na Região
Metropolitana de São Paulo.
ABSTRACT
This article shows the impacts of isolation measures adopted during the period of the new
coronavirus epidemic on the levels of atmospheric pollutants in the city of São Paulo. We
found reductions in the levels of Particulates MP10 and MP2,5, Nitrogen Oxides,
Nitrogen Dioxide, Sulfur Dioxide Carbon Monoxide, Benzene and Toluene from 22 to
31 March 2020 (beginning of lockdown period) compared to 11to 20 March 2020. A
comparison of April 2020 and April 2019 also shows differences. Possible influences of
meteorological factors were discarded. We concluded that changes in the way of working,
reduced need to drive and new behaviors acquired during epidemics period had positive
impacts on the levels of atmospheric pollutants in the city of São Paulo.
1 INTRODUÇÃO
A poluição no Município de São Paulo (MSP) é um tema que vem trazendo muitas
preocupações, especialmente durante os meses de inverno, quando a dispersão de
poluentes cai, favorecendo a ocorrência de períodos críticos que podem agravar a saúde
da população.
Diversas medidas já foram tomadas para reduzir os níveis de poluentes
atmosféricos. Entre essas medidas estão: controle nas emissões veiculares (automóveis,
veículos comerciais, caminhões, ônibus, motocicletas), alteração do teor de enxofre do
diesel e da gasolina, controle das emissões das indústrias, controle sobre as queimadas,
aumento da rede de transportes alternativos como as ciclovias.
Entre os principais poluentes regulamentados estão: Particulados (MP2,5 e
MP10), Dióxido de Enxofre (SO2), Dióxido de Nitrogênio (NO2), Monóxido de Carbono
(CO) e Ozônio (O3). Esses poluentes apresentam padrões de concentração que são
continuamente monitorados pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo) para prevenção de situações de risco à saúde da população. São também medidos
os níveis de Óxidos de Nitrogênio (NOx), Benzeno e Tolueno.
A CETESB mantém redes de monitoramento automático e manual para o registro
dos parâmetros avaliados. A Figura 1 mostra a rede automática e/ou manual existente na
Região Metropolitana de São Paulo.
Os efeitos dos poluentes para a saúde dos ciclistas que se locomovem nas cidades
foram estudados por Brasil et al. (2019) em Fortaleza (Ceará). Nas condições impostas
pela prática do esporte, os danos provocados pela inalação de particulados se acentuam
pela maior ventilação pulmonar.
Partindo deste contexto, o presente estudo pretende verificar se as medidas de
isolamento social adotadas durante a epidemia de COVID-19 trouxeram melhora da
qualidade do ar na RMSP. O Decreto N° 64.879 de 20 de Março de 2020 reconheceu o
estado de calamidade decorrente da epidemia de COVID-19 no Estado de São Paulo e
suspendeu atividades não-essenciais até 30 de Abril de 2020.
Diversos estudos têm mostrado que houve diminuição da concentração de
poluentes durante o período de lockdown. Segundo Das et al. (2021), houve redução nas
concentrações médias de NO2, MP2,5 e MP10 no período de 25 de Março a 31de Maio
de 2020 em relação aos 30 dias anteriores. Os níveis de redução variaram conforme a
região analisada. Os níveis de O3 não mostraram redução pelo lockdown. Estudo de
Mahato et a. (2020) demonstraram queda dos níveis de poluentes na cidade de Delhi
durante o período de lockdown. Neste estudo, os autores realizaram análises por meio de
um índice integrado de poluentes e por meio de suas concentrações individuais. Quando
comparados os valores no período que antecedeu o lockdown com os valores durante o
lockdown, verificou-se redução nas concentrações médias de 24 hs de MP10 (60%),
MP2,5 (39%), NO2 (52%) e CO (30%). A redução do índice de poluentes também atingiu
54% na região central da cidade.
O estudo de Moreira et al. (2021) mostrou queda dos níveis de NO2 e de CO
durante os meses de maior isolamento social (outono de 2020) em relação à média
encontrada no outono dos 3 anos anteriores. Não encontraram, porém, reduções
significativas de MP10 e MP 2,5. O estudo de Nakada e Urban (2020) mostrou redução
de NO2, NOx e CO na área urbana do MSP em relação à média mensal dos 5 anos
anteriores e em relação às 4 semanas que antecederam o lockdown.
O estudo de Dantas et al. (2020) na cidade do Rio de Janeiro mostrou redução
dos níveis de CO, NO2 e MP10 durante o período de lockdown em relação ao período
correspondente de 2019 e em relação ao período anterior ao lockdown.
No estudo de Toro et al. (2021), realizado na cidade de Santiago no Chile, também
se verificaram reduções das concentrações de MP10, MP2.5, NO2, NO e CO durante o
período de lockdown, quando comparados com os valores de períodos correspondentes
de 2018, 2019 e 2020. Os autores salientam que os efeitos sobre as concentrações de
2 METODOLOGIA
Este artigo apresenta um estudo comparativo da concentração de poluentes
MP2,5, MP10, CO, NOx, NO2, SO2, Tolueno e Benzeno durante o período de isolamento
social estabelecido pelo Decreto N° 64.879 de 20 de Março de 2020 que reconheceu o
estado de calamidade decorrente da epidemia de COVID-19 no Estado de São Paulo e
suspendeu atividades não-essenciais até 30 de Abril de 2020. Os valores da concentração
desses poluentes foram obtidos nos arquivos disponibilizados pela CETESB (Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo) no site do QUALAR.
O estudo se inicia com a apresentação de dados sobre a evolução da epidemia de
COVID-19 no MSP. Foram utilizados os dados referentes ao monitoramento do Índice
de Isolamento Social pelo Governo do Estado de São Paulo disponibilizados no site
oficial. Também foram utilizados os dados sobre intensidade de congestionamentos e
sobre circulação de pessoas apresentados pela FIOCRUZ em seu projeto de
monitoramento da COVID-19.
Em seguida são apresentados os resultados dos estudos comparativos das
concentrações de cada um dos oito poluentes atmosféricos avaliados no estudo.
Por fim são apresentados dados sobre as condições meteorológicas presentes nos
períodos estudados.
A Figura 2 mostra os parâmetros analisados neste estudo e as respectivas fontes
de dados.
Dados de Circulação de Pessoas para locais de trabalho FIOCRUZ com dados do GOOGLE
3 RESULTADOS DO ESTUDO
Em seguida são apresentados os resultados da evolução da epidemia, das análises
das concentrações dos poluentes e das condições meteorológicas presentes nos períodos
de estudo.
Figura 6 –Médias diárias de MP2,5 de 01/03/2020 a 31/03/2020 nas Estações Congonhas e Marginal Tietê-
Ponte dos Remédios
Figura 8– Médias diárias de MP10 de 01/03/2020 a 31/03/2020 nas Estações Congonhas e Marginal Tietê-
Ponte dos Remédios
Figura 10– Médias diárias de NOx de 01/03/2020 a 31/03/2020 nas Estações Congonhas e Marginal Tietê-
Ponte dos Remédios
Figura 12– Médias diárias de NO2 de 01/03/2020 a 31/03/2020 nas Estações Congonhas e Marginal Tietê-
Ponte dos Remédios
Figura 14– Médias diárias de CO de 01/03/2020 a 31/03/2020 nas Estações Congonhas e Marginal Tietê-
Ponte dos Remédios
Figura 16– Médias diárias de SO2 de 01/03/2020 a 31/03/2020 nas Estações Congonhas e Marginal Tietê-
Ponte dos Remédios
4 CONCLUSÕES
Durante o período de isolamento social motivado pela epidemia de COVID-19
observou-se melhora da qualidade do ar no MSP em razão dos impactos positivos
causados pelas mudanças na forma de trabalho, redução nas necessidades de
deslocamento e adaptações no comportamento dos habitantes. A redução na intensidade
dos congestionamentos e o menor comparecimento aos locais de trabalho levaram a uma
menor emissão de poluentes pelos veículos.
O presente estudo demonstrou que, durante o período de isolamento, houve
redução nas concentrações de Benzeno, Tolueno, Monóxido de Carbono, Óxidos de
Nitrogênio, Dióxido de Nitrogênio e Particulados MP2,5 e MP10. A seguir será discutida
a importância dessas reduções para a saúde da população.
Os poluentes Tolueno e Benzeno são compostos orgânicos voláteis derivados da
emissão veicular pela queima de derivados do petróleo. Suas reduções foram bastante
consistentes durante o período do isolamento social, demonstrando grande potencial de
diminuição por meio de atuações direcionadas ao controle do trânsito de veículos
individuais no MSP. No caso do Benzeno, seu potencial cancerígeno oferece riscos à
população urbana. Em relação ao Tolueno (também conhecido como Metilbenzeno), a
inalação de níveis elevados pode ocasionar danos sobre o Sistema Nervoso Central e pode
levar a quadros neurológicos.
O Monóxido de Carbono é um gás incolor e inodoro que provém da queima de
combustíveis fósseis e biomassa. Sua concentração nos centros urbanos mostra correlação
com as emissões por veículos leves. A inalação de Monóxido de Carbono leva à formação
de carboxihemoglobina (COHb) com comprometimento do transporte de oxigênio pelo
sangue. Dependendo das concentrações de COHb poderão surgir diversos tipos de
sintomas pelos efeitos da hipóxia sobre o Sistema Nervoso Central e sobre diversos
órgãos.
Os Óxidos de Nitrogênio emitidos por veículos leves, veículos pesados e
processos industriais são transformados em Dióxido de Nitrogênio na atmosfera.
Concentrações elevadas de Dióxido de Nitrogênio na atmosfera estão associadas a
aumento na mortalidade e no número de internações por doenças cardiovasculares e
respiratórias. Há também impactos negativos sobre a saúde de crianças portadoras de
asma.
Os poluentes particulados estão associados a diversos problemas de saúde e o
aumento de sua concentração nos ambientes urbanos conduz a um aumento na
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste estudo foi possível demonstrar que existe potencial para redução
de poluentes atmosféricos no Município de São Paulo. Mudanças no modo de trabalho,
redução da necessidade de dirigir e novos comportamentos adquiridos durante o período
da epidemia de COVID-19 resultaram em melhora na qualidade do ar, mostrando que
existem alternativas viáveis para o problema da poluição atmosférica no Município de
São Paulo.
REFERÊNCIAS
BRASIL, P. F. et al. Estimativas da exposição de ciclistas ao particulado inalável
atmosférico em um trecho urbano da cidade de Fortaleza, Ceará. Brazilian Journal of
Development, v.5, n.10, p. 17901-17910, 2019.
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city of Rio de Janeiro, Brazil. Sci Total Environ., v. 729, 2020, 139085.
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megacity Delhi, India. Sci Total Environ., v. 730, 2020, 139086.
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physical distancing and the resumption of activities in São Paulo municipality. Urban
Climate, v. 37, 2021, 100813.
TORO, R. A. et al. Air pollution and COVID-19 lockdown in a large South American
city: Santiago Metropolitan Area, Chile. Urban Climate, v. 36, 2021, 100803.