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CONTEÚDO DE LÍNGUA PORTUGUESA 1º ANO- APNP- 04- FIGURAS DE LINGUAGEM

Figuras de linguagem são formas de expressão que destoam da linguagem comum ou


denotativa. Elas dão ao texto um significado que vai além do sentido literal, portanto
permitem uma plurissignificação do enunciado. Por exemplo, na frase “Fabiano tem muita cara
de pau em aparecer aqui depois de tudo que ele me fez”, a expressão “cara de pau” indica que
Fabiano não tem vergonha na cara e não que a cara dele, literalmente, é feita de madeira.

Assim, temos as figuras:

 de palavras ou semântica;
 de sintaxe ou construção;
 de pensamento;
 de som ou harmonia.

Figuras de palavras ou semântica

 Comparação

Uma relação de comparação explícita entre dois termos, marcada pela presença
de conjunção comparativa.

O pensamento é  como  um diamante bruto.

O pensamento é  tal qual  um diamante bruto.

O pensamento é  igual a  um diamante bruto.

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 Metáfora

Comparação implícita.

A  razão  é a  luz  na escuridão.

Observe que a “razão” está sendo comparada com a “luz”. No entanto, não há nenhuma
conjunção comparativa explicitada entre os dois termos. Portanto, se a frase fosse “A razão é
como a luz na escuridão”, não teríamos mais uma metáfora, mas sim uma comparação.

No primeiro exemplo, temos uma metáfora impura, assim classificada quando os dois


elementos da comparação implícita estão explicitados – no caso, “razão” e “luz”. Já
na metáfora pura, isso não acontece:

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da  rosa  de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

No poema A rosa de Hiroshima, de Vinicius de Moraes (1913-1980), a “rosa” a que o eu


lírico se refere é uma metáfora para a bomba atômica, ou seja, ela é comparada a uma rosa.
No entanto, em nenhum momento, a bomba é explicitamente mencionada no poema.

Metonímia

Substituição de um termo por outro, desde que haja uma relação entre eles.

Assim, pode haver a substituição:

 do autor pela obra:

Você não vai acreditar: comprei um  Caravaggio.


(isto é: comprar um quadro do Caravaggio.)

 do possuidor pelo possuído:

Amanhã, vou ao  médico  e não se fala mais nisso!


(isto é: ir ao consultório do médico.)

 do lugar pelo produto:

Ela só fumava  havana  e nada mais.


(isto é: fumar charuto produzido em Havana.)

 do efeito pela causa:

Aqueles líderes insuflaram a  guerra  no coração dos jovens.


(isto é: insuflar o ódio, causa da guerra.)

 do continente pelo conteúdo:

Todos os dias, bebo uma  xícara  de chá de boldo.


(isto é: beber o chá que está na xícara.)

 do instrumento pelo agente:

Amanda é um  bisturi  excepcional.


(isto é: é uma cirurgiã excepcional.)

 da coisa pela sua representação:

Ninguém fala mal da minha  terra  sem antes me pedir permissão.


(isto é: falar mal do país, estado ou cidade.)

 do inventor pelo invento:


O  Linux  é um sistema operacional gratuito.
(isto é: linux é a invenção de Linus Torvalds; a palavra vem da união do nome de seu inventor
“Linus” com “Unix”.)

 do concreto pelo abstrato:

Na minha vida, encontrei muita gente sem  coração.


(isto é: gente sem sentimento.)

Uma pessoa “sem coração” não se importa com o sofrimento alheio.

 da parte pelo todo:

Este foi um livro escrito a quatro  mãos.


(isto é: escrito por duas pessoas.)

 da qualidade pela espécie:

Os  irracionais  também têm seus direitos.


(isto é: os animais também têm seus direitos.)

 do singular pelo plural:

O  artista  é livre para expressar pensamentos e emoções.


(isto é: os artistas são livres.)

 da matéria pelo objeto:

“Quem com  ferro  fere, com  ferro  será ferido.”


(isto é: ferir com espada.)

 do indivíduo pela classe:

Era mais um  camões  incompreendido.


(isto é: ser mais um poeta incompreendido.)

 Catacrese

Emprego inadequado de um termo devido à perda de seu sentido original.

A  quarentena  já dura dois meses.


Não podíamos  embarcar  no ônibus sem tirar aquelas fotos.

No primeiro exemplo, a palavra “quarentena”, em seu sentido original, refere-se a um período


de quarenta dias. No entanto, o termo passou a ser empregado com o sentido de “isolamento”.
O mesmo fenômeno acontece no segundo exemplo, em que “embarcar” deixou de ser apenas
o ato de entrar em uma embarcação e teve seu sentido ampliado para o ato de entrar em
qualquer veículo de transporte.

 Perífrase ou antonomásia

É a substituição de um termo por outro que o caracterize, como se fosse uma espécie de
apelido.

O
leão é considerado o rei das selvas.

O  rei das selvas  ainda não é uma espécie em extinção.


O  Boca do Inferno  não tinha papas na língua.

No primeiro exemplo, “rei das selvas” é uma expressão que se refere ao leão. Já “Boca do
Inferno”, no segundo exemplo, era como o poeta barroco Gregório de Matos (1636-1695) era
chamado.

É importante fazer uma distinção: a perífrase refere-se a coisas ou animais, já a


antonomásia refere-se a pessoas. Nessa perspectiva, o primeiro exemplo é uma perífrase; e
o segundo, uma antonomásia.

 Sinestesia

Combinação de dois ou mais sentidos, ou seja, visão, olfato, audição, paladar e tato.

No  doce  caminho que percorri, ouvi  cantarem  os pássaros no  calor  da manhã.

Perceba que a palavra “doce” aciona o paladar; o verbo “cantarem”, a audição; e o substantivo
“calor”, o tato.

Figuras de sintaxe ou construção

 Elipse

Ocultação de palavra ou expressão na estrutura do enunciado.

— Vou te ligar. Qual o seu número?

Nesse exemplo, foi omitida a expressão “de telefone”: Qual o seu número  de telefone?

 Zeugma
Um tipo de elipse caracterizado pela omissão de um termo mencionado anteriormente.

Preferia os caminhos difíceis  aos fáceis.

Ou seja: Preferia os caminhos difíceis aos (caminhos) fáceis.

 Anáfora

Repetição de uma ou mais palavras no início dos versos ou orações.

Eu não devo  ter medo.  Eu não devo  parar.  Eu não devo  retroceder.

 Pleonasmo

É o uso de algum termo dispensável, repetitivo, com o objetivo de enfatizar determinada ideia.

— Vi a abdução  com meus próprios olhos  — ele afirmou. — Você precisa acreditar em mim!

Atenção! Esse tipo de ênfase é aceitável quando utilizado para melhor expressar uma ideia; do
contrário, é apenas uma redundância, um vício de linguagem. A fim de conhecer mais
detalhes sobre essa figura de linguagem, acesse: pleonasmo.

 Anacoluto

Falta de conexão sintática entre o início de uma frase e a sequência de ideias.

Aquela atriz  não sei de quem você está falando.

 Silepse

Concordância ideológica , ou seja, com a ideia, e não com o termo expresso.

Existem três tipos:

 Silepse de gênero:

A gente ficou  chocado  com o que aconteceu ontem.

Nesse caso, o enunciador é masculino e refere-se a pessoas do gênero masculino, então faz
a concordância com a ideia, e não com o sujeito “A gente”: A gente ficou chocada com o
que aconteceu ontem.

 Silepse de número:

O povo exigiu uma satisfação, pois não  suportavam  mais aquele silêncio.

Nesse exemplo, o verbo “suportavam” tem como sujeito “eles/ elas” (não expresso no período),
pois o enunciador pensa em povo como uma quantidade de pessoas. Assim, em vez de
fazer a concordância com a palavra, no singular, “povo” (O povo não suportava mais aquele
silêncio), o enunciador faz a concordância com a ideia, ou seja, “eles/ elas”, uma quantidade de
pessoas chamadas de “povo”, portanto no plural.

 Silepse de pessoa:

Os ciclistas  corremos  grande perigo no trânsito.


Observe que, ao conjugar o verbo “correr” na primeira pessoa do plural (nós), o enunciador
coloca-se na categoria de ciclista, o que não ficaria evidente se ele fizesse a concordância
gramaticalmente esperada: Os ciclistas correm grande perigo no trânsito.

Hipérbato

Inversão da ordem direta dos elementos de uma oração ou período.

A ordem direta é composta de sujeito, verbo, complemento ou predicativo:

As manifestações culturais brasileiras são muito valorizadas no exterior.

Assim, temos:

Sujeito: As manifestações culturais brasileiras.

Verbo: são.

Predicativo: valorizadas.

Se ocorrer o hipérbato, a inversão, temos:

Muito valorizadas são as manifestações culturais brasileiras no exterior.

 Polissíndeto

Repetição da conjunção “e”.

E  o cachorro latia,  e  corria,  e  babava em tudo que via pela frente.

Figuras de pensamento

 Hipérbole

Exagero na declaração.

Estava com tanta fome que podia  comer um boi inteiro.


Comer um boi inteiro, de uma só vez, por ser humanamente impossível, é um exagero.

 Litotes

Afirmação realizada pela negação do contrário.

Ariosto  não é nada bonito, mas gosto dele mesmo assim.

Nesse exemplo, o enunciador afirma que Ariosto é feio a partir


da negação do adjetivo contrário a feio, ou seja, bonito: não é nada bonito.

Eufemismo

Palavras ou expressões agradáveis para amenizar a declaração.

Segundo o juiz, a deputada  faltou à verdade  em seu depoimento.

Note que, em vez de dizer que a deputada mentiu, é usada a expressão “faltou à verdade”, o
que torna a afirmação menos desagradável.

 Ironia

Sugerir o contrário do que se afirma.

A  pontualidade  daquele médico é britânica. Só esperei  duas horas  para ser atendido.

A ironia depende muito de um contexto, ou seja, da situação em que é inserida, do


conhecimento do interlocutor sobre o fato ironizado, além de outros elementos, como gestos
(na linguagem oral).

 Prosopopeia

Personificação, atribuição de características humanas a seres irracionais ou a coisas.

O  lobo conversou  com Chapeuzinho, e decidiram fazer as pazes.

Falar é uma característica humana.

 Antítese

Oposição entre palavras, expressões ou ideias.


O  bem  e o  mal  caminham de mãos dadas no coração humano.

 Paradoxo ou oximoro

Antítese que expressa uma contradição.

Ninguém parecia ouvir, mas a menina  gritava em silêncio.

Note que é contraditório alguém gritar em silêncio, já que o grito se configura em um som.

 Apóstrofe

Interrupção da frase para interpelar ou invocar.

Não podia acreditar,  ó céus, que aquilo acontecera.

 Gradação

Sequência de ideias.

Ele era  um porco, um jumento, um dinossauro. Impossível lidar com alguém assim.

Figuras de som ou harmonia

 Aliteração

Repetição de consoantes ou sílabas.

Minha  mãe  me  mandou fazer o  meu  melhor.

É importante lembrar que essa é uma figura usada em textos literários. Em uma linguagem
objetiva, ela é considerada um vício de linguagem. Assonância

Repetição de vogais.

Por  onde andam  o  amor e a dor do  trovador?

 Onomatopeia

Palavra cuja sonoridade está associada à coisa representada.

O  cocoricó  se faz ouvir toda manhã.

O  bem-te-vi  estava mais triste naquele dia.

 Paronomásia

Uso de palavras parecidas, mas com grafia, som e significado distintos.

Depois que fiz a  descrição  do meu chefe, pedi  discrição  aos meus colegas de trabalho.

Resumo

→ Figuras de linguagem são expressões conotativas.


→ Figuras de palavras ou semântica:

 Comparação: relação de comparação entre dois ou mais termos, separados por


conjunção.
 Metáfora: comparação implícita entre dois ou mais termos.
 Metonímia: substituição de um termo por outro equivalente.
 Catacrese: emprego inadequado de um termo devido à perda de seu sentido original.
 Perífrase ou antonomásia: substituição de um termo por outro que o caracterize.
 Sinestesia: combinação de dois ou mais sentidos do corpo humano.

→ Figuras de sintaxe ou construção:

 Elipse: ocultação de palavra ou expressão na estrutura do enunciado.


 Zeugma: omissão de um termo mencionado anteriormente.
 Anáfora: repetição de uma ou mais palavras no início dos versos ou orações.
 Pleonasmo: uso de termo dispensável para enfatizar determinada ideia.
 Anacoluto: falta de conexão sintática entre o início de uma frase e a sequência de
ideias.
 Silepse: concordância ideológica.
 Hipérbato: inversão da ordem direta dos elementos de uma oração ou período.
 Polissíndeto: repetição da conjunção “e”.

→ Figuras de pensamento:

 Hipérbole: exagero na declaração.


 Litotes: afirmação realizada pela negação do contrário.
 Eufemismo: palavras ou expressões agradáveis para amenizar a declaração.
 Ironia: sugerir o contrário do que se afirma.
 Prosopopeia: personificação.
 Antítese: oposição entre palavras, expressões ou ideias.
 Paradoxo ou oximoro: antítese que expressa uma contradição.
 Apóstrofe: interrupção da frase para interpelar ou invocar.
 Gradação: sequência de ideias.

→ Figuras de som ou harmonia:

 Aliteração: repetição de consoantes ou sílabas.


 Assonância: repetição de vogais.
 Onomatopeia: palavra cuja sonoridade está associada à coisa representada.
 Paronomásia: palavras parecidas, mas com grafia, som e significado distintos.

Exercícios resolvidos

Questão 01 - (Enem)

Amor é fogo que arde sem se ver;


é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


é solitário andar por entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões.

O poema tem, como característica, a figura de linguagem denominada antítese, relação de


oposição de palavras ou ideias. Assinale a opção em que essa oposição se faz claramente
presente.

a) “Amor é fogo que arde sem se ver.”

b) “É um contentamento descontente.”

c) “É servir a quem vence, o vencedor.”

d) “Mas como causar pode seu favor.”

e) “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

Questão 02 - (Enem)

Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, é autor de “Bicho urbano”,
poema sobre a sua relação com as pequenas e grandes cidades.

Bicho urbano

Se disser que prefiro morar em Pirapemas


ou em outra qualquer pequena cidade do país
estou mentindo
ainda que lá se possa de manhã
lavar o rosto no orvalho
e o pão preserve aquele branco
sabor de alvorada.

.....................................................................

A natureza me assusta.
Com seus matos sombrios suas águas
suas aves que são como aparições
me assusta quase tanto quanto
esse abismo
de gases e de estrelas
aberto sob minha cabeça.

GULLAR, Ferreira. Toda poesia.  Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1991.

Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta reconhece elementos de valor no
cotidiano das pequenas comunidades. Para expressar a relação do homem com alguns desses
elementos, ele recorre à sinestesia, construção de linguagem em que se mesclam impressões
sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa esse recurso.
a) “e o pão preserve aquele branco/ sabor de alvorada.”

b) “ainda que lá se possa de manhã/ lavar o rosto no orvalho”

c) “A natureza me assusta./ Com seus matos sombrios suas águas”

d) “suas aves que são como aparições/ me assusta quase tanto quanto”

e) “me assusta quase tanto quanto/ esse abismo/ de gases e de estrelas”

Questão 03 - (Enem)

Nesta tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras de linguagem
para

a) condenar a prática de exercícios físicos.

b) valorizar aspectos da vida moderna.

c) desestimular o uso das bicicletas.

d) caracterizar o diálogo entre gerações.

e) criticar a falta de perspectiva do pai.

TENTE FAZER O EXERCÍCIO ANTES DE VER AS RESOLUÇÕES

Resoluções

1-Alternativa B.

Em “É um contentamento descontente”, é possível verificar que a palavra “contentamento” tem sentido oposto a
“descontente”.

2- Alternativa A.

Em “e o pão preserve aquele branco/ sabor de alvorada”, dois sentidos são acionados, ou seja, a visão (“branco”) e
o paladar (“sabor”).

3- Alternativa E.

Na tirinha, a existência do pai do enunciador é comparada ao ato de pedalar uma bicicleta e não chegar a lugar
nenhum, portanto a vida do pai não teria perspectiva. 

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