Você está na página 1de 18

Linguagem e estilo em Os

Maias
Linguagem e estilo

«A ironia – e a autoironia – é o melhor de Eça. É esse riso que o salva de ser apenas
português […] e faz dele um escritor sem fronteiras e de todos os tempos.»

José Eduardo Agualusa


Linguagem e estilo

A linguagem de Eça de Queirós é de grande expressividade, valorizando a impressão imediata daquilo


que perceciona (característica própria do Impressionismo).

Destacam-se os seguintes recursos:

o adjetivo o discurso indireto


o advérbio o diminutivo o verbo
livre

Outros recursos:

a ironia a comparação a metáfora

a aliteração a hipálage a sinestesia

Outros processos.
Linguagem e estilo

O adjetivo
Adjetivação dupla:

em que pelo menos um dos adjetivos aponta para a realidade emocional.

«dava pelos passos lentos e murchos» (capítulo IX)

«um romance, radiante e absurdo» (capítulo XII)

Adjetivação tripla e/ou múltipla:

caracteriza a mesma realidade.

«Houve um silêncio embaraçado e desagradável. Sobre o toucador o resto da vela


acabava, com uma luz lúgubre.» (capítulo IX)
Linguagem e estilo

O adjetivo
Adjetivos com a mesma terminação:

criam um efeito cómico.

«a viscondessa da Gafanha, uma carcaça esgalgada, caiada, rebocada, gasta por todos os
homens.» (capítulo VII)

«Ele, o Gouvarinho, aí continuava, palrador, escrevinhador, politicote,


empertigadote […]» (capítulo XVIII)

Adjetivação que animiza:

«por cima uma tímida fila de janelinhas» (capítulo I)

«casarão de paredes severas» (capítulo I)


Linguagem e estilo

O advérbio
Une a realidade concreta e a realidade emocional.

Adverbiação dupla:

«Tu és simplesmente, como ele, um devasso; e hás de vir a acabar desgraçadamente como ele, numa
tragédia infernal!» (capítulo VI)

Adverbiação tripla:

«ambos insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente, marchando um para o outro» (capítulo VI)

Advérbio com função de superlativo:

«Ser verdadeiramente ditoso!» (capítulo XVI)


Linguagem e estilo

O diminutivo
Usado, normalmente, com intenções de ironia, estando frequentemente ao serviço da caricatura.

«Mas o menino, molengão e tristonho, não se descolava das saias da titi: teve ela de o pôr de pé, ampará-lo,
para que o tenro prodígio não aluísse sobre as perninhas flácidas; e a mamã prometeu-lhe que, se dissesse os
versinhos, dormia essa noite com ela… […]. Disse-a toda – sem se mexer, com as mãozinhas pendentes […]»
(capítulo III)
Linguagem e estilo

O verbo
O tempo verbal mais frequente é o imperfeito.

Criação de neologismos:

verbos novos com sentido cómico ou irónico.

«na Havanesa fumavam também outros vadios, de sobrecasaca, politicando» (capítulo XVIII)
Linguagem e estilo

O verbo
O tempo verbal mais frequente é o imperfeito.

Verbos derivados de cor:

para provocar um efeito impressionista.

«estátua de mármore […] enegrecendo a um canto» (capítulo I)

Uso metafórico do verbo:

«os dois olhos do velho […] caíram sobre ele, ficaram sobre ele, varando-o até
às profundidades da alma, lendo lá o seu segredo.» (capítulo XVII)

«tom alvadio de madeira, que abafava as cores alegres dos raros vestidos
de verão.» (capítulo X)

«Um grande silêncio caía do céu faiscante.» (capítulo X)


Linguagem e estilo

O verbo
O tempo verbal mais frequente é o imperfeito.

Animização através do verbo:

«as paredes […] onde já desmaiavam as rosas das grinaldas e as faces dos cupidinhos» (capítulo I)

«o alto repuxo cantava» (capítulo III)

Utilização do gerúndio:

retarda a ação com descrições mais detalhadas e demoradas, necessárias à criação dos
ambientes em que as personagens se movem, revelando também os seus comportamentos, as
suas ações.

«Mas Ega, esguio e magro, foi rompendo pela coxia tapetada de vermelho. De ambos os lados
se cerravam filas de cabeças, embebidas, enlevadas, atulhando os bancos de palhinha […].»
(capítulo XVI)
Linguagem e estilo

O discurso indireto livre


as falas das personagens são incorporadas no discurso do próprio narrador.

frequentemente, o discurso indireto livre alterna com o discurso direto e o indireto, revelando a
mestria de Eça, a sua capacidade em manter o leitor “preso” à narrativa.

confere vivacidade à narração.

cria frequentemente a ironia.

«De resto, que podia ele fazer neste país?... Quando voltara de França, ultimamente, pensara
em entrar na diplomacia. Para isso sempre tivera a blague: e agora que a mamã, coitada, lá
estava no seu grande jazigo em Celorico, tinha a massa. Mas depois refletira. Por fim, em que
consistia a diplomacia portuguesa?» (capítulo XVIII)
Linguagem e estilo

Os recursos expressivos
Ironia:

«O Eusebiozinho com o craniozinho calvo de sábio curvado sobre as letras garrafais da boa
doutrina» (capítulo III)

Comparação:

«apertando o leque fechado como uma arma» (capítulo III)

Metáfora:

«um reflexo de cabelos de oiro» (capítulo VI)

«longa barba de neve» (capítulo XVII)


Linguagem e estilo

Os recursos expressivos
Aliteração:

«passos lentos, pesados, pisavam surdamente o tapete» (capítulo XVII)

Hipálage:

«casarão de paredes severas» (capítulo I)

Sinestesia:

Sensações visual e auditiva: «e transparentes novos de um escarlate estridente» (capítulo VI)

Sensações visual e táctil: «cor de botão-de-oiro; um tapete de veludo» (capítulo XII)


Linguagem e estilo

Outros processos
Estrangeirismos:

com valor irónico e satírico.

«ao fundo a sua adresse» (capítulo VII)

«cavaquear com o High Life» (capítulo X)

Contraste:

o contraste entre personagens ou situações: Carlos/Eusebiozinho, Carlos/Dâmaso Salcede,


relação Carlos-Maria Eduarda/Carlos-Condessa de Gouvarinho.

«O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi […] E […] aquela educação
do Carlinhos nunca fora aprovada pelos amigos da casa.» (capítulo III)
Linguagem e estilo

Outros processos
Caricatura:

É frequente o exagero dos traços físicos, de vestuário, de linguagem, psicológicos


ou comportamentais.

«Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão, soltando gritos medonhos.
Foi um alvoroço, um levantamento. […] O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado
ao lado da titi […].» (capítulo III)

«onde se mexia um homenzinho de grandes barbas grisalhas» (capítulo X)


Linguagem e estilo

Consolide
Linguagem e estilo

1. Identifique o erro.

O uso expressivo (e por vezes inesperado) do adjetivo e do advérbio, captando diferentes sensações e
emoções, e o recurso ao discurso direto livre, evidenciando características das personagens e o olhar
crítico do narrador, são algumas das marcas que definem a linguagem queirosiana.

Resposta: “discurso direto livre”


Solução
Linguagem e estilo

2. Identifique a única afirmação falsa.

Muitas vezes usados ao serviço da crítica e da ironia, o adjetivo e o advérbio ajudam a melhor captar
A as sensações e as emoções do que é descrito.

B Os diminutivos são utilizados em tom depreciativo e caricatural.

C Ao contrário dos outros recursos, o uso de empréstimos tem uma intenção meramente descritiva e acessória.

São vários os recursos expressivos que contribuem para a expressividade da linguagem queirosiana, nomeadamente a ironia,
D a comparação e a metáfora.

Solução

Você também pode gostar