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RESUMO
Introdução
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Trabalho apresentado no IJ04 – Comunicação Audiovisual, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação
Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
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Estudante do Curso de Jornalismo da UFPE, e-mail: amanda.sborges@ufpe.br
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Orientadora do trabalho. Professora do Departamento de Comunicação da UFPE, e-mail: szanforlin@gmail.com
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Dados referentes ao ano de 2014 e retirados da reportagem “De Bolly a Nollywood: as 4 megaindústrias de cinema
do mundo”, disponível no site da revista Exame. Disponível em:
https://exame.abril.com.br/economia/de-bolly-a-nollywood-as-4-megaindustrias-de-cinema-do-mundo/
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Quando este cinema busca falar do outro, é comum usar uma visão
preconceituosa, muitas vezes inferiorizando esse outro, é então colocado o olhar do
colonizador. De acordo com Shohat e Stam (2006), a consequência disso é que muitas
vezes o cinema de Hollywood, ao levar para o espectador culturas desconhecidas, cria
narrativas erradas sobre aqueles lugares. Em relação à América Latina, Hollywood tende
a usar narrativas estereotipadas, que descaracterizam o território e sua população.
Quando os Estados Unidos exibem imagens dos países latinos eles criam uma unidade
para esses países, como se as identidades, as culturas, as vivências fossem uma só. “A
pretensa unidade latino-americana é certamente uma ilusão, ou mais do que isso, é uma
aspiração a um certo destino comum. Ela pode ser vista também com resignação: o
destino comum seria mera fatalidade comum” (PRYSTON, 2006, p.6).
Esse corpo latino é usado mais como acessório dentro da narrativa, um aparato
imagético para demonstrar como são, de forma falaciosa, as pessoas daquele lugar. A
representação dessas imagens é usada desde Carmem Miranda, até os dias atuais. Aqui,
é analisado em três momentos do cinema norte-americano, baseando o estudo nos
filmes “Aconteceu em Havana” (1941), "Feitiço do Rio” (1984), "Belas e Perseguidas”
(2015). Respeitando cada contexto da época, a análise mostra como esses filmes
apresentam esse ‘corpo desejado’, percebendo como esse estereótipo se modifica com o
passar dos anos.
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O sujeito pós-moderno, segundo Hall (2001), não tem identidade fixa, essencial
ou permanente. As identidades são móveis, formadas e modificadas de acordo com as
"formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais
que nos rodeiam" (HALL, 2001, p.13). Ou seja, os sujeitos podem assumir identidades
diferentes em momentos diferentes.
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No original: “Representation is an essential part of the process by which meaning is produced and exchanged
between members of a culture. It does involve the use of language, of signs and images which stand for or represent
things”.
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SHAW, 2008, p.24), ideias que podem ser resumidas com a palavra 'pan-americanismo'.
A agência era uma espécie de "laboratório estratégico destinado a promover a
cooperação interamericana e a solidariedade hemisférica" (AMANCIO, 2000, p.53).
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documento que faz com que eles concordem em adiar as férias e livrar a empresa de
responsabilidades após o cruzeiro encalhar na Flórida, EUA. Apenas uma das
passageiras não concorda em assinar e adiar a viagem, a vendedora Nan Spencer.
Depois de negociações, Jay consegue fazer Nan aceitar uma viagem de avião para
Havana com todas as despesas pagas. A jovem, porém, diz que só assina o termo após
voltar das férias e se conseguir se divertir durante os dias em Cuba.
O filme dirigido por Walter Lang foi realizado durante a 'política de boa
vizinhança', época onde houve uma massificada produção de filmes hollywoodianos
sobre a América Latina. É um longa que traz consigo a ideia dessa política externa
norte-americana que estava focada em conquistar e moldar as outras Américas,
promovendo amizade e troca cultural, porém sempre mostrando a superioridade dos
EUA em relação aos outros povos.
Carmen Miranda não aparece muito durante o filme, mas mesmo com pouco
tempo de tela e sem forte repercussão no roteiro, quando aparece traz imagens de
impacto, carregadas de estereótipos sobre a mulher latina. Rossita é uma personagem
sensual, sempre vestida com roupas chamativas, é a imagem do exotismo e da
tropicalidade. Em muitas das cenas que Carmem aparece, ela é usada para cumprir um
papel de apresentar como são as mulheres latinas, a mulher disposta a sexo fácil, a
mulher "caliente". O filme ainda faz uma oposição entre os personagens latinos e
norte-americanos. Carmem é impulsiva, temperamental e sedutora, já Nan é sensata e
romântica.
As roupas de Carmen deixam o corpo à mostra, mesmo que seja pouco para os
dias atuais, na época não era tão comum usar trajes que expõem o busto, o abdômen, as
pernas. Rossita é a mulher latina, o objeto de desejo, mas não é com quem o
personagem principal vai se casar no final. Carmen aparece mais como um acessório
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performático, usa seu corpo para fixar a identidade da personagem, que é assimilada
como a identidade da mulher latina.
A partir dos anos 60, principalmente por causa da expansão do uso da televisão,
as agências de notícias eram responsáveis pela maior parte das informações que
chegavam aos EUA sobre a América Latina. A indústria do entretenimento, no caso o
cinema, perde espaço na criação de narrativas sobre a América Latina, até porque o
Office for the Coordinator of Inter-American Affairs, que fomentava a produção de
filmes com essa temática, já havia sido extinto após o fim da segunda guerra em 1945.
Quando chega a década de 80, há uma retomada na produção de políticas e propagandas
de fomento ao turismo para a América Latina. No Brasil, que passava por um momento
de redemocratização, nos últimos anos da ditadura civil-militar, existe um aumento
ainda maior das atividades propagandistas positivas sobre o país. Assim, ao aumentar o
turismo na América Latina, a imagem do paraíso para as férias reaparece, é a partir
dessa tendência que Hollywood volta o olhar para esses países.
Em Feitiço do Rio, Matthew (Michael Caine) mora em São Paulo com sua
esposa e filha, e convida seu amigo Victor (Joseph Bologna), que está se separando da
esposa, para passar um mês no Rio de Janeiro. Os dois então partem para a ‘cidade
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maravilhosa’, sem suas esposas, e ao lado de suas filhas, Jennifer (Michelle Johnson) e
Nicole (Demi Moore). Ao chegar no Rio de Janeiro, Victor sai em busca das mulheres,
a latina aqui sempre mostrada como a mulher disposta ao sexo fácil. Isso pode ser
observado em determinado momento do filme quando Victor sai com uma brasileira
que também está em processo de separação, ela afirma que já saiu com 7 homens em 7
dias desde que está divorciada. Essa cena quer identificar como é o comportamento da
mulher brasileira, e em geral, da mulher latina.
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No século 21, latinos se tornam um dos grupos com crescimento mais rápido nos
Estados Unidos, porém, segundo um estudo da Universidade do Sul da Califórnia7, os
latinos são os menos representados em Hollywood. A análise da USC avaliou que,
mesmo essa comunidade sendo 17% da população dos EUA, em 2013, dos atores
atuantes nas cem maiores bilheterias daquele ano, apenas 4,9% eram de origem latina. O
estudo conclui também que além de serem pouco representados nos filmes
norte-americanos, os latinos são mostrados de forma ainda muito estereotipada e
percebem que essas pessoas são as mais sexualizadas em Hollywood. Dessa forma, o
cinema hollywoodiano do século 21 ignora a necessidade de melhor representar uma
das maiores comunidades de seu país e reutiliza estereótipos.
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Acessar reportagem "Latinos são os menos representados no cinema de Hollywood, aponta estudo". Link:
https://cinema.terra.com.br/latinos-sao-os-menos-representados-no-cinema-de-hollywood-aponta-estudo,33bb3b3221
2a7410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.html
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Assim, Sra. Riva não passa de mais uma "mulher latina", enquadrada nos mais
variados estereótipos que esse termo carrega. Roupas apertadas para dar evidência ao
seu corpo, que é usado para conseguir coisas em troca. Dessa forma, o filme passa a
mensagem que não importa quem a mulher latina é, as pessoas irão prestar mais atenção
no seu corpo hiperssexualizado, que é usado para falar por ela.
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Considerações Finais
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No século 21, existe uma maior abertura para que latinos produzam suas
próprias narrativas dentro de Hollywood, cineastas como Alfonso Cuarón, Guillermo
Del Toro e Alejandro González Iñárritu se consolidam na indústria de cinema
norte-americano e trazem uma certa diversidade para as produções. Ainda assim, a
quantidade de latinos atuando em filmes hollywoodianos é minoria, mesmo que essa
comunidade chegue a mais de 40 milhões de pessoas8 nos EUA.
Referências
AMANCIO, Tunico. O Brasil dos Gringos: Imagens no cinema. Niterói: Intertexto, 2000.
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. 9. ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2018
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Ver: "Os estereótipos da mulher latina nas produções hollywoodianas". Link da matéria:
http://valkirias.com.br/os-estereotipos-da-mulher-latina-nas-producoes-hollywoodianas/
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HALL, Stuart. THE SPECTACLE OF THE 'OTHER'. In: HALL, Stuart (Ed.2).
Representation: Cultural Representations and Signifying Practices. Londres: Sage
Publications, 1999. p. 223-290.
PRYSTHON, Angela. Stuart Hall, os estudos fílmicos e o cinema. Matrizes, São Paulo, v. 10,
n. 3, p.77-88, dez. 2016. Disponível em:
<https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/download/122401/121879/>. Acesso em: 22 nov.
2019.
ROSSINI, Miriam de Souza. O que mostramos de nós?: A América Latina nas telas. Famecos,
Porto Alegre, v. 1, n. 7, p.17-24, dez. 2001. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/view/760>. Acesso em: 15 out.
2019.
SHAW, Lisa; CONDE, Maite. O Brasil visto por Hollywood: Do cinema mudo a Carmen
Miranda. Trama Interdisciplinar, São Paulo, v. 3, n. 8, p.16-40, jun. 2018. Disponível em:
<http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tint/article/view/11060>. Acesso em: 22 nov.
2019.
SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica. São Paulo: Cosac Naify,
2006
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