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Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro

Prof. Cesar Cipriano de Sena


Comunicado às turmas 1105, 1201, 1210, 1301, 1302 e 1304
Socializado nas supracitadas turmas em 8/9/2021

Em resposta aos questionamentos feitos por alunos durante aula para a turma
1201 em 3/9/2021, pretende-se esclarecer por este, o método de avaliação usado pelo
responsável docente das referidas turmas e as medidas a serem tomadas pelo mesmo a
seguir.
A partir de diagnóstico realizado ao longo de 12 anos de prática docente (dos
quais 2 já no ISERJ), em 2015 uma constatação foi feita: a absolutamente desejável
facilidade de acesso aos mais diversos tipos de materiais didáticos e teóricos em meios
virtuais, para além de todos os aspectos positivos, revelou um efeito extremamente
preocupante. Uma dificuldade crescente por parte de muitos educandos em conseguir
realizar textos pessoais que sejam originais, o qual retratem suas capacidades de
compreensão de um tema proposto, sua pesquisa, leitura e consequente conversão em
produção crítica. Assim, percebeu-se a gradativa substituição dos processos cognitivos
necessários para a realização desta tarefa, por procedimentos que afastavam a
possibilidade de evidenciar que nestes trabalhos, operações como análise, síntese,
comparações, associações lógicas entre outras, estivessem presentes. Em extenso
material arquivado e analisado ficou demonstrado, que muitos textos eram ou quase que
totalmente reproduções do que havia sido encontrado em pesquisas online ou ainda
constituídos por trechos inteiros ou parciais de diversas fontes ipsis litteris (pelas
mesmas letras ou com as mesmas palavras).
A partir deste ponto, no mesmo ano de 2015 foram tomadas por este profissional
algumas decisões:
- pesquisar este fenômeno em material especializado.
- desenvolver estratégias para que as aulas também pudessem confrontar esta questão.
- Aplicar modelos avaliativos que contribuíssem para a compreensão deste fenômeno
tão limitador dos alunos, e que eventualmente pudessem indicar como suprimir a
possibilidade de repetição dele. Modelos avaliativos que determinem que para
consecução do trabalho, habilidades fundamentais para qualquer estudante sejam
exigidas, a despeito desta dificuldade.
Evidentemente, este não era o único foco das aulas, do material e das
avaliações. Outros objetivos, estes gerais, atitudes e instrumentos que ensejassem o
desenvolvimento de outras habilidades e competências sempre fizeram parte da prática
docente deste professor. Entretanto, este problema relatado acima em particular, não
poderia ser ignorado. Uma avaliação que englobasse a necessidade especifica de
diagnosticá-lo era necessário. Até por isso mesmo, uma das perspectivas teóricas de
apoio adotadas e aplicadas (não é possível discorrer aqui sobre tudo o que foi estudado,
além de não ser este o objetivo) é a de Cipriano Carlos Luckesi.
Diz ele em um dos colóquios do ciclo “ Educação, Avaliação Qualitativa e
Inovação” do INEP: “ De início, importante dizer que a avaliação não é uma instância
que resolve problemas ou que inova. Ela é uma forma de investigar a qualidade de
alguma coisa, produto, pessoa ou situação, propiciando a base para atos regulatórios...”
( Luckesi 2012, pág. 13) Foi com esta perspectiva, que certo tipo de tarefa foi pedido
para as turmas que são o objeto deste comunicado.
Era necessário usar um modelo de instrumento avaliativo que pudesse oferecer os
dados de realidade em relação a este obstáculo à aprendizagem. Identificar pela análise
do “ produto" ou resultado (neste caso uma produção textual), fatores que pudessem
descrever o fenômeno e que pudessem indicar um método (méta hodós), para a
superação da seguinte questão: como produzir uma avaliação que minimamente
obstaculize que o trabalho intelectual e todas as operações cognitivas envolvidas nele
sejam substituídos pela facilidade do uso de material pronto disponível online?
Deste modo, chegou- se a fórmula de avaliação pedida às turmas do referido
professor destas turmas. Uma avaliação que exigisse um texto com suas especificações,
mas precedido de toda a pesquisa realizada para embasar o texto. A tentativa foi a de
fixar a necessidade de que o texto fosse fruto de um processo de construção pessoal e
original, baseado apenas no material pesquisado e enviado juntamente com o texto.
Após a avaliação, constatamos que parte dos alunos ainda possui uma extrema
dependência de encontrar material que atenda ao trabalho proposto, sem que todo o
processo de elaboração pessoal esteja envolvido. Há um PERDA COGNITIVA
SIGNIFICATIVA, quando o próprio educando, por hábito ou por qualquer outra razão,
deixa de empreender suas capacidades para a resolução de uma tarefa.
Neste contexto algumas decisões foram tomadas por este docente: a) não adotar
uma postura do tipo “vigiar e punir" tão comum em nossas escolas. Já que o objetivo
não era simplesmente combater o que vulgarmente chamam de “cola”; b) em um
primeiro momento, apenas indicar aos alunos as possíveis falhas com as tarefas, pois o
objetivo era evidenciar pelo próprio trabalho ou pelo confronto do educando com o
mesmo, as inconsistências de um texto, por exemplo, produzido com partes de material
tirados diretamente de sites na Internet e c) usar como critérios, ou seja, marcos
qualitativos como a originalidade, a adequação do texto às características da tarefa
proposta, (há casos de vários alunos que sequer citaram o tema em seus trabalhos,
consistência lógica no desenvolvimento no texto, precisão conceitual e amplitude ou
alcance teórico (se o “produto” ou resultado segundo Luckesi) cobre os aspectos
necessários para a tratativas do tema.
As consequências deste empreendimento, pela sua parcial originalidade, como
esperado encontrou uma natural resistência por parte de muitos educandos,
principalmente pelo hábito de associar os conceitos apenas a certos critérios
tradicionais.
Isso foi expresso pela turma 1201, em aula em 3/9/1977. Citando a C.I. de 4/12 de 2021.
Uma análise apurada do documento, não autoriza NEM LOGICA, MUITO NENOS
LEGALMENTE, que os critérios de frequência e participação obrigatoriamente façam
parte do conjunto de critérios assinalados pela turma. Nem mesmo em uma ÚNICA
LINHA de todo o texto estas duas palavras aparecem. Contudo, era de se esperar que
por uma inferência ou dedução, que estes critérios devessem fazer parte dos critérios.
Mas, tal pensamento não encontra nenhum respaldo em qualquer documento enviado a
este docente. Ele encontra base em uma certa concepção de avaliação, neste caso,
conceitual, que pode ou não ser a mesma do docente. Por esta razão o seu espanto em
ouvir a afirmação de uma aluna de que eles constavam no acima citado documento, não
constam. Mesmo assim, a postura adotada foi a do diálogo, me comprometi a reavaliar
os conceitos dados, caso isto fosse verificado. Não foi.
Cabe aqui ressaltar, que isso não soluciona a questão relacional com a turma, a
busca pela maturidade emocional e postura ética são nortes qualitativos sempre a se
buscar, como salienta o próprio Luckesi. Sendo assim, algumas decisões foram tomadas
pelo docente: a) todos os alunos que fizerem a recuperação a farão de forma assistida.
Isso quer dizer, que a qualquer momento durante o processo poderão consultar o
professor sobre o andamento do trabalho; b) todos os alunos que fizerem recuperação
ficarão minimamente com o conceito AP. Pois, com a realização do processo estarão
participando do mesmo. Isso quer dizer, que este docente concorda em incluir, a partir
da recuperação entre os seus critério, a participação. Não porque algum documento o
obrigue, caso existisse ele o faria por obrigação, mas porque além de ser um conceito
tradicional, mas válido, ele pode contribuir para a construção de uma relação melhor
entre o docente e a turma. Já que a participação significa interação com o mesmo.

Referências:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação, Avaliação Qualitativa e Inovacão –
II/Cipriano Carlos Luckesi. – Brasilia: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira, 2012.

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