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3 LER

E COMPREENDER TEXTOS PORTUGUÊS 4.º ANO

Nome:    Data:   /  /

Esta casa é minha!

O texto seguinte é um texto narrativo — um conto. 


Procura identificar as personagens e quem narra a história.

A Paula e o Beto moravam com os pais num


apartamento. E queriam ter um quintal. Adoravam
sair para passear aos fins de semana. Iam à casa
dos avós, ao parque, ao cinema; às vezes faziam
uns passeios de carro até mais longe:
à quinta do tio; ou por uma estrada comprida que
ia dar a uma praia quase deserta; onde passavam
o dia todo.
Num domingo, nessa praia, enquanto a Paula
e o irmão brincavam perto do mar, o pai ficou
a conversar com um pescador ao lado de um bote,
debaixo de uma árvore.
Quando voltou para casa, contou aos filhos:
— Vocês viram-me a falar com o Zé Juca?
Pois é, estou a pensar em comprar aquele terreno
que ele tem junto à praia…
Um terreno? Qual? Onde? Para quê?
Depois de tantas perguntas e respostas, a Paula nessa noite
sonhou com o que o pai dissera: iam ter uma casinha
entre as árvores, em frente ao mar… como se a praia
e a mata fossem um quintal imenso; só deles.
Num outro domingo, foram
de novo àquele sítio. Desta vez, a Paula e o Beto
já olhavam para tudo com olhos de quem é dono.
Um bando de pássaros fazia um barulhão nas
árvores. Um esquilo deu uma corridinha assustada
pelo chão, de um tronco para outro.

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Um gafanhoto saltitante e um melro barulhento voavam para
lá e para cá. Na areia um caranguejinho amarelo fazia um
buraco. No alto de uma árvore um bando de macacos
guinchava e fazia macaquices.
Para todos eles, a Paula e o Beto gritavam:
— Aqui vai ser a minha casa!
E assim foi durante alguns meses.
Eles iam lá muitas vezes.
Os pais ficavam a ver a obra enquanto as crianças
brincavam naquela praia maravilhosa. […]
Estavam tão animados que nem reparavam
nas mudanças.
Nunca mais o esquilo tinha aparecido.
Devia ter medo dos cães que também por ali apareciam
de vez em quando.
O gato devia ter comido os lagartos.
Os guinchos dos macacos vinham de árvores cada
vez mais distantes.
O caranguejinho amarelo a esburacar a terra?
Agora só na areia da praia.
Aqueles frutos do mato que os passarinhos comiam
também acabaram quando o mato ficou longe.
E vinham menos passarinhos cantar no quintal.
A família nem reparava.
[…]
Mas um dia o pai teve uma proposta de trabalho noutra
cidade. Iam ter de se mudar e lá viver durante um ano ou dois.


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Ficar um tempo imenso longe da casinha da praia,
do seu cheiro a mar, do barulho das ondas, da sua
passarada.
Iam sentir muitas saudades. Deixaram o cão
e o gato com amigos na cidade. E pediram
ao Zé Juca para tomar conta de tudo na
praia. Com muito cuidado. Para que, quando
voltassem, pudessem dizer com alegria:
— Esta casa é minha!
Quando finalmente regressaram,
apanharam um susto.
O mato tinha crescido de novo e chegava
até perto da casa.
Havia uma colmeia numa árvore. Um ninho
de melros na varanda. […] Formigas na cozinha.
Sapos no jardim. Uma família de lagartos instalada
numas pedras atrás da churrasqueira.
[…]
— Zé Juca, eu não pedi para tomares conta da casa?
Cuidar de tudo… Como é que deixaste que isto
acontecesse?
— Mas eu tratei de tudo, doutor. Só que eu tomei conta
de todas as casas, não só da sua.
O pai ficou zangado. O pescador devia estar maluco.
— Aqui só há uma casa. Esta aqui, que é a minha.
Mas a Paula, que tinha ido até ao quintal e voltado,
de repente entendeu tudo e disse:
— Não, pai. Vem ver. Há uma porção de casas.
As crianças puxaram os pais pelas mãos e foram
mostrando.
— Psiu! Não façam barulho! Oiçam.
Eles ouviram. Os papagaios a gritar. As abelhas a
zunir. Um monte de passarinhos a cantar. Ao fundo,
o vento nas folhas. E o mar, onda-vai-onda-vem,
a bater na areia e nas pedras.

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— Ouviram?
— Ouvimos, o que é que tem?
— Não percebem o que eles dizem?
Todos pararam para prestar atenção. E aos poucos foram ouvindo:
— Esta casa é minha!
Todos diziam isso. Não assim, em língua de gente. Mas em língua
de bicho — cantorias e zumbidos, guinchos e gritos. Coisas que não são
palavras, mas a maneira de falar em passarinhês e abelhês, em macaquês
e papagaiês, mas que querem dizer a mesma coisa.
[…]
De repente, a Paula começou a responder:
— Mas esta casa é minha também!
O Beto entrou na brincadeira:
— É… Nós somos vizinhos, sabiam?
O pai disse:
— Esta casa é nossa!
E a mãe comentou:
— Ainda bem que o Zé Juca tomou conta de todas as casas, de todos
vocês…
E, agora que eles aprenderam a ouvir a linguagem de todos os vizinhos,
têm sempre o maior cuidado. Porque sabem que fizeram a casa deles no
quintal dos outros. Um quintal grande, com lugar para todos os que sabem
ouvir sempre:
— Esta casa é minha!
Ana Maria Machado, Nem te conto!,
Moderna (adaptado)


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Para compreender o texto
Um pouco de conversa

1. Conversa com os teus colegas para responderem às questões seguintes.
1.1  Como era o local onde o pai da Paula e do Beto resolveu comprar 
um terreno?
1.2  Que mudanças ocorreram no local após a construção da casa? 
Porque aconteceram essas mudanças?
1.3  De que maneira o Zé Juca tomou conta da casa de praia? 
Achas que ele tomou bem conta da casa?
1.4  Quem são os vizinhos da casa de praia?
1.5  O que foi que a família finalmente 
compreendeu? Explica a ideia.

Compreensão

F÷icå |å $sa∫Æ®
Um conto literário é uma narrativa curta que apresenta 
poucas personagens. Ao contrário do conto popular, 
que tem origem desconhecida e é transmitido de geração 
em geração, o conto literário é criação de uma pessoa, que 
assina o texto, o autor.

2. Quem é o autor deste conto?

3. Em que lugar se passa a história?

4. Quem são as personagens?

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F÷icå |å $sa∫Æ®
O conto tem sempre um narrador, que conta a história 
, que conta a história 
e apresenta as personagens e os acontecimentos.

5. Copia do texto o excerto onde o narrador começa a história.

6. Copia outro excerto em que seja o narrador a contar.


7. Explica como distingues a fala do narrador da fala das personagens.







8.  Assinala com uma   o papel do narrador no conto «Esta casa é minha!»

    O narrador é uma das personagens que estão presentes na história, 

participando nos acontecimentos.

    O narrador não participa nos acontecimentos.

F÷icå |å $sa∫Æ®
Quando o narrador é como uma voz que conta a história sem 
participar nela é chamado narrador não-participante.


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De olho na linguagem

9.  Relê este excerto.

[…] são a maneira de falar em passarinhês e abelhês.

9.1  As palavras destacadas existem na língua portuguesa? 

F÷icå |å $sa∫Æ®
As palavras novas de uma língua  Neo, do latim, significa 
chamam-se neologismos. «novo». Logos, do grego, 
significa «palavra».

10.   Pinta o balão com a língua dos animais, de acordo com a legenda.

  Azul — passarinhês    Vermelho — abelhês 
  Verde — macaquês    Amarelo — papagaiês

11. Cria agora os teus neologismos. 
Que línguas os animais abaixo falariam, se isso fosse possível?
  a)   grilo: 
  b) foca: 
  c)   borboleta: 
  d)  camelo: 

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