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Daniel Simas1
Carlos Alberto Claudino2
Resumo
Geralmente quando abordamos o tema globalização junto aos 9ºs anos, encontramos uma
grande aceitação da temática pelos estudantes. Podemos perceber comportamentos que
expressam tais interesses nas participações em sala de aula, bem como na qualidade e
comprometimento na execução de trabalhos pertinentes ao assunto 5. Existem algumas
7 Apesar de o termo ser de uso recente, o processo de integração global entre os países se
inicia com as Grandes Navegações (século XV), em consonância com a expansão do capitalismo
comercial (BOLIGIAN; GARCIA; MARTINEZ; ALVES, 2009).
principais agentes de integração neste processo (BOLIGIAN; GARCIA; MARTINEZ;
ALVES, 2009).
Neste sentido, uma série de conceitos essencialmente geográficos passa a ser
utilizada como ferramenta metodológica para o entendimento destes processos políticos,
sociais, econômicos e culturais de integração mundial, denominados como globalização.
Em geografia passamos a trabalhar a globalização com os conceitos de redes, território,
espaço geográfico, lugar, paisagem, demonstrando a abrangência e a pertinência da
temática aos estudos geográficos (LISBOA, 2007). Estes conceitos passam a ser
trabalhados de forma pertinente à temática, com didática apropriada, contemplando sua a
aplicação a exemplos práticos do cotidiano.
De fato, teorizar por teorizar não é o melhor caminho no trabalhar com esta temática
em sala de aula. Para isto, as correlações entre cotidiano e teoria são fundamentais para o
entendimento discente. A partir do entendimento do que a teoria sugere, bem como de sua
verificação na realidade, principalmente considerando-se a experiência cotidiana, o
estudante passa a ter condições ideais para que possa manifestar-se de forma crítica,
consistente e autêntica acerca da realidade que o cerca e de suas conexões com o mundo
globalizado8 (CAVALCANTI, 1999; FERREIRA; DE OLIVEIRA, 2009).
8 Além disto, é imprescindível que o trabalho letivo se dê de forma interdisciplinar, já que a temática
globalização envolve diversos conteúdos da história, sociologia, filosofia, ciências, entre outras disciplinas.
Sobre as fases de aprofundamento dos processos de globalização, pode-se trabalhar
com o papel das multinacionais neste processo. Neste sentido, as relações de consumo
envolvidas com esta dinâmica está amplamente relacionada com o cotidiano discente,
principalmente no que se refere ao padrão de consumo atual. O estudante consegue, a partir
destes exemplos, perceber-se dentro deste processo que ainda é vigente. Uma série de
atividades pode ser proposta, como pesquisa das multinacionais mais atuantes no mundo,
ou sobre aquelas que os próprios estudantes mais consomem, entre outras opções.
Quando discorremos sobre migrações e a integração dos mais variados tipos de
fluxos globais, podemos trabalhar em sala de aula as ambições de vida de cada estudante,
bem como temas provocativos como: “Ficar ou sair do Brasil?”, “Como o estrangeiro me
vê?”, “Qual o problema nas multinacionais?”, “Exploração no mundo: isto existe? Por
quê?”. Estas questões, entre outras, são de fácil leitura e compreensão, no entanto, exige do
aluno uma reflexão acerca do tema, o que o induz a relacionar seus anseios e opiniões à
própria teoria.
Desta forma, o trabalho com a temática passa a ter maior significado, pois o
estudante adquire condições de se enxergar como sujeito no processo, e não apenas como
um mero aluno espectador de uma exposição distante, desconexa e imaginária
(FERREIRA; DE OLIVEIRA, 2009). Afinal, como afirma DAYRELL (1996), é
fundamental:
3. A EXPERIÊNCIA PRÁTICA
O projeto de trabalho realizado para elaboração deste, foi desenvolvido durante os
anos de 2012 e 2013, com quatro 9°s anos do ensino fundamental (anos finais), em duas
escolas da Secretaria Municipal de Educação do município de São José - SC. No ano de
2012 trabalhamos com dois 9°s anos do Centro de Educação Municipal Luar, estabelecido
na localidade Dona Wanda. Sendo que no ano de 2013 trabalhamos com outros dois 9°s
anos da Escola Básica Municipal Vereadora Albertina Krummel Maciel, no bairro Fazenda
Santo Antonio.
Ambas as localidades se situam na periferia de São José 9, consideradas pelos
munícipes como “áreas de classe média baixa”10. As escolas estão localizadas nas porções
mais privilegiadas de suas localidades, em áreas mais valorizadas. No entanto, em ambas as
realidades percebemos no entorno das escolas uma periferia mais suburbana, com evidentes
traços de pobreza, marcadas pela violência e criminalidade. De forma geral, a maior parte
dos estudantes pertence a famílias com renda mensal familiar entre dois e quatro salários
mínimos, com raras exceções11.
Entendemos aqui que as configurações socioeconômicas das famílias dão certa
condição de acompanhamento das tendências tecnológicas atuais, o que ajuda muito no
entendimento e aprofundamento das atividades, afinal a maior parte dos alunos possui
contatos com a modernidade atual, verificadas pelo acesso a internet e a outros meios de
comunicação. Outro ponto interessante é que mesmo aqueles sem condições para
acompanhar as tendências tecnológicas (comprando aparelhos eletrônicos) possuem redes
sociais utilizadas com frequência, por meio das lan-house’s12 ou na casa de
amigos/familiares. Mesmo aqueles estudantes mais carentes, possuídores de aparelhos
9 Nos extremos norte e sul do município. Fazenda Santo Antonio ao sul e Dona Wanda ao
norte.
11 Tal verificação foi realizada com base em questionário distribuído ao começo do ano com cada
turma. Neste questionário verificamos alguns pontos importantes como idade, composição familiar, renda
familiar, acesso a meios de comunicação, prática de atividades extracurriculares.
celulares, optam por aparelhos similares, de qualidade mais baixa, demonstrando a alta
influência da tecnologia na adequação destes estudantes às tendências atuais.
Tais aspectos foram profundamente explorados no trabalho em sala de aula, afinal, a
construção de uma visão de mundo, por parte dos estudantes, também passa pelo
entendimento de como estes próprios se inserem nesta lógica global. Partir da adequação
dos alunos às configurações tecnológicas atuais, expressa pelo consumo dos produtos e
serviços ofertados pelo mercado, também auxiliou a proposta de trabalho como uma
importante possibilidade para o trabalho docente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos
de graduação e pós-graduação. 2. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural. In: DAYRELL, Juarez (org.).
Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996.
GIL, Antônio C. Métodos e técnicas em pesquisa social. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 1999.
HIRST, P. Globalização: mito ou realidade. Rio de Janeiro: EDURJ, 1998.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática e trabalho docente: a mediação didática do professor nas
aulas. In: Concepções e práticas de ensino num mundo em mudança. Diferentes
olhares para a Didática. Goiânia: CEPED/PUC GO, p. 85-100, 2011.