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PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES


RASAS

(Definição, obtenção da tensão admissível, etc)

PROFESSOR

Urbano Rodriguez Alonso


MÊS DE 2016

DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS

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FUNDAÇÕES RASAS (SUPERFICIAIS OU DIRETAS)
Urbano Rodriguez Alonso

1) Definição e tipos

São aquelas que transmitem a carga da estrutura ao solo pelas tensões distribuídas sob a
base e em que a profundidade de assentamento, em relação ao terreno adjacente, é inferior a
duas (ou três) vezes a menor dimensão da fundação.

Quanto aos tipos distinguem-se:

Bloco: elemento de concreto simples (ou até ciclópico) dimensionada de maneira que as
tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto sem
necessidade de armadura (Figuras 1 e 2). Este elemento de fundação só tem sido
usado para obras de pequeno porte/responsabilidade. Este tema é aqui abordado,
pois seu dimensionamento estrutural também é usado no dimensionamento das
bases de tubulões a céu aberto e a ar comprimido a serem estudados no capítulo de
fundações profundas.

Figura 1: Geometrias típicas de blocos

Figura 2: Altura mínima dos blocos em função de σt (tração admissível no concreto) e σs


(tensão admissível do solo)
2
Nota: A dedução matemática para se chegar à Figura 2 encontra se no livro “Concreto Armado”
do prof. Telemaco van Langendonck (1954), item 178, editado pela ABCP. Àquela época
limitava-se a tensão admissível à tração do concreto σt a fck/25 ≤ 7 kgf/cm2 (0,7MPa)
quando os concretos apresentavam resistência característica muito inferior ao que hoje se
pratica. Entretanto em fundações é comum já se utilizares concretos com fck superiores a
20 MPa a 35 MPa (200 kgf/cm2 a 350 kgf/cm2) e, por esta razão, pode-se adotar, para
esses concretos, σt = 1 MPa (10 kgf/cm2).

Sapata: elemento de concreto armado, dimensionado de tal modo que as tensões de tração
sejam resistidas pela armadura (Figuras 3 e 4).

Figura 3: Esquema de uma sapata isolada e dados para dimensionamento


geotécnico e estrutural

Figura 4: Vista geral de uma obra com fundações em sapatas


3
Sapata corrida (também chamada em alguns livros de “viga de fundação): sapata
sujeita a uma carga distribuída linearmente ou de pilares ao longo de um
mesmo alinhamento.

Figura 5: Sapata corrida

Nota: O caso da sapata corrida mostrada na Figura 5 não será aqui analisada, visto que não
se deve adotar, concomitantemente largura b e tensão σs constantes, pois se assim
se proceder o valor do produto b.σs conduz a reações de apoio Ri provavelmente
diferentes das cargas Pi e, portanto, conclui-se que para b = constante a tensão no
solo não poderá ser uniforme. Para que a hipótese de tensão uniforme no solo conduza
a resultados estaticamente possíveis, a largura b deverá ser variável. Entretanto uma
análise mais profunda deste assunto foge aos objetivos deste curso.

Sapata associada: sapata comum a dois pilares (Figura 6).

Figura 6: Sapata associada

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Radier: elemento de fundação superficial que abrange parte ou todos os pilares, não
dispostos linearmente, da estrutura (Figura 7).

Figura 7: Vista de um radier em fase de início de concretagem

2) Obtenção da tensão admissível (σs)

Conforme já se expôs em aula anterior a distribuição de tensões de contato solo-fundação


dependem da rigidez da fundação não sendo, portanto, constante a não ser quando a fundação é
flexível. Entretanto, é procedimento comum nos projetos de fundações rasas se admitir σs
constante. Este procedimento tende a se tornar próximo da realidade a medida que a fundação
vai sendo instalada abaixo do nível do terreno que propicia um aumento da tensão de ruptura sob
a borda da fundação devido ao efeito da sobrecarga q = γ.z. Com este aumento de carga na borda
redistribui-se a tensão de contato sob a fundação tendendo para a situação de σs ir tendendo para
um valor próximo da média de tensões de contato. Por esta razão nos projetos de fundações rasas
se admite σs constante. Para sua estimativa podem-se empregar vários procedimentos, a seguir
descritos.

a) prova de carga em placa

A Figura 8 mostra montagens de provas de carga em placa a partir das quais se obtém a
curva tensão x recalque que permitirá, devidamente interpretada, fornecer a tensão admissível.
Geralmente a prova de carga é realizada em placa circular de 80 cm de diâmetro. Por esta razão
há que se tomar cuidado levando-se em conta duas situações:

5
m a n ô m e tro d e f le c t o m e tr o

bom ba m a caco
v ig a d e
r e f e r ê n c ia

D ≅100 cm

z≅2D

tr a d o h e lic o id a l

1 σ
0,
=
p
is ó b a r a 1 0 % σ

D ≅ 1 00 cm
4 m

tre c h o
a n c o ra d o

Figura 8: de Montagens de provas carga em placa

a.1) Primeiro cuidado

Como o bulbo de tensões é da ordem de grandeza de 2 a 2,5 vezes a largura da fundação,


a prova de carga em placa somente poderá ser aplicada se o solo abaixo da mesma e até uma
profundidade também de 2 a 2,5 vezes a menor dimensão da sapata, não ocorra solo de menor
resistência do que aquele solicitado pela placa. Na Figura 9 mostra-se uma condição de solo onde
a prova de carga em placa não é representativa pois o bulbo de tensões devido a placa não leva
em intercepta a camada compressível, ao contrário do que ocorrerá com a sapata porque esta
terá maior dimensão do que aplaca.

Figura 9: Situação em que a prova de carga em placa não é válida.

a.2) Segundo cuidado

O ensaio de placa requer uma adequada interpretação pois, como já expusemos acima, os
bulbos de tensão da sapata são maiores do que o da placa. Por esta razão a curva tensão x
recalque da placa deverá ser ajustada para as dimensões da sapata. Em primeira aproximação
(Figura 10) esse ajuste na curva tensão x recalque pode-se ser feito pelas expressões abaixo,
respectivamente, para os solos granulares e os argilosos.
6
Figura 11: Relação entre o recalque da fundação (rf) e da placa (rp)

2
 2.B f 
solos granulares (Terzaghi 1955) rf = rp  
B +B 
 f p 

Af Bf
solos argilosos (Timoshenko 1951) r f = rp ≅ rp (sapatas quadradas)
Ap Bp

Exemplo: Calcular os recalques que sofrerá uma sapata quadrada com 2,40 m de lado a partir do
resultado de uma prova de carga realizada em placa circular com 80 cm de diâmetro
cujo resultado é apresentado abaixo:

tensão (kN/m2) 90 180 270 360 450


recalque (mm) 2 4 7 11 20

Admitir duas hipóteses:


O solo é constituído por areia
O solo é constituído por argila rija
Solução:
a) solo arenoso
2
 2 x 2,40 
r f = rP  
 2,40 + 0,8 
tensão (kN/m2) 90 180 270 360 450
recalque placa (mm) 2 4 7 11 20
recalque fundação 4,5 9,0 15,8 24,8 45,0

7
b) solo de argila rija
2,4
r f = rP x
0,8
tensão (kN/m2) 90 180 270 360 450
recalque placa (mm) 2 4 7 11 20
recalque fundação 6 12 21 33 60

b) correlações

Teixeira (1996) apresentou as fórmulas mais usadas entre nós, usando o NSPT, mostrando
sua origem e limitações.

Para os solos argilosos pouco a medianamente plásticos a tensão admissível, deduzida a


partir da fórmula de Skempton, com coeficiente de segurança 3, em relação à ruptura, conduz a:

N SPT N SPT
σs = (kgf/cm2) ou σ s = (MPa) com 5< NSPT < 25
5 50
Para solos arenosos, Teixeira se baseia na fórmula de Terzaghi, também com coeficiente
de segurança 3 e considera fundações quadradas de lado B ≤ 10m assentes em solo com peso
específico γ = 1,8 tf/m3 (18 kN/m3), a uma profundidade H = 1,5 m.

σ s = 0,5 + (0,1 + 0,04 B )N (kgf/cm2) 1 kgf/cm2 = 100 kN/m2 = 0,1 MPa


com 5< NSPT < 25 e B ≤ 10m

Esta equação, em que B é expresso em metros, foi obtida a partir da correlação empírica
entre o ângulo de atrito interno das areias ϕ e o índice de resistência à penetração NSPT:

ϕ = 150 + 20.N SPT

Para os solos com NSPT <5 deve-se tomar cuidado verificando-se se são porosos (portanto
sujeitos a excessivos recalques) e, principalmente se são colapsíveis, Cintra (1998). Nestes casos,
a fundação rasa não é recomendável, conforme se mostra na Figura 12.

8
Figura 12: Danos causados à estrutura apoiada em fundação rasa

Analogamente também deve ser cuidadosamente analisada a possibilidade de se utilizar


fundação rasa em solos expansivos

Quando se dispõe de ensaios de cone pode-se adotar σs = qc/10 ≤ 8 kgf/cm2 (800 kN/m2)

d) métodos teóricos

Os métodos teóricos baseiam-se nos valores da coesão e do ângulo de atrito interno do solo.

1 σ rup
σ rup = c.N c .S c + γ .B.N γ S γ + q.N q S q σs =
2 3
Tabela 1: Fatores de capacidade de carga
Forma da sapata Sc Sq Sγ
Corrida 1,0 1,0 1,0
Retangular 1+(B/L)(Nq/Nc) 1+(B/L)tgφ 1-0,4(B/L)
Quadrada/circular 1+(Nq/Nc) 1+tgφ 0,6

Tabela 2: Fatores de carga


φ Nc Nq Nγ φ Nc Nq Nγ
0 5,14 1,00 0,00 28 25,80 14,72 16,72
29 27,86 16,44 19,34
5 6,49 1,57 0,45 30 30,14 18,40 22,40

10 8,35 2,47 1,22 31 32,67 20,63 25,99


32 35,49 23,18 30,22
15 10,98 3,94 2,65 33 38,64 26,09 35,19
34 42,16 29,44 41,06
16 11,63 4,34 3,06 35 46,12 33,30 48,03
17 12,34 4,77 3,53
18 13,10 5,26 4,07 36 50,59 37,75 56,31
19 13,93 5,80 4,68 37 55,63 42,92 66,19
20 14,83 6,40 5,39 38 61,35 48,93 78,03
39 67,87 55,96 92,25
21 15,82 7,07 6,20 40 75,31 64,20 109,41
22 16,88 7,82 7,13
23 18,05 8,66 8,20 41 83,86 73,90 130,22
24 19,32 9,60 9,44 42 93,71 85,38 155,55
25 20,72 10,66 10,88 43 105,11 99,02 186,54
44 118,37 115,31 224,64
26 22,25 11,85 12,54 45 133,88 134,88 271,76
27 23,94 13,20 14,47
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No caso de solos puramente coesivos (φ = 0) Skempton apresentou a expressão:

σrup = c.Nc + q para sapataas quadradas, circulares e corridas.

O valor de Nc é fornecido em função do “embutimento D” da sapata na argila (Tabela 3)

Tabela 3: Fatores Nc para sapatas quadradas, circulares e corridas

Para sapata retangular: σrup = c.Nc*.Sc.dc + q sendo:]

Nc* = 5
b
S c = 1 + 0,2 (b = menor dimensão da sapata)
a
D
1 + 0,2 para D/b ≤ 2,5
b
dc =
1,5 para D/b > 2,5

No método de Skempton, ao contrário do método teórico, o fator de segurança é aplicado


apenas ao termo devido à coesão. Para a parcela devido ao peso efetivo do solo Skempton aplica
FS = 1.

c.N c
Sapatas quadradas, corridas e corridas: σ s = +q
FS

c.N c* .d c
Sapatas retangulares: σ s = +q
FS

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1o Exemplo: Calcular o fator de segurança da sapata quadrada de lado 2 m indicada abaixo
usando o método teórico e o método de Skempton.

Solução:

a) Método teórico:
φ = 0o Nc = 5,14 (Cuidado! O valor de φ refere-se ao solo onde se apoia a sapata)
Nγ = 0
Nq = 1
Sc = 1 + (1/5,14) = 1,2
Sq = 1 + tg 0o = 1

σrup = 1,2x80x5,14 + 0 + 49x1 = 542 kN/m2 FS = 542/250 = 2,2

b) Método de Skempton:
D/b = 1/2 = 0,5 Nc = 7,1

80 x 7,1
250 = + 49 FS = 2,8
FS

2o Exemplo: Determinar o lado de uma sapata quadrada usando o método teórico com FS = 3.
Desprezar o peso próprio da sapata.

Solução:
c=0 c.Nc .Sc = 0

Nγ = 35
φ = 33o
Nq = 26

Sγ = 0,6

Sq = 1 + tg 33o = 1,65
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σrup = 3 x σs 3σs =0 + 0,3x17,5xbx35 + 1,65x17,5x26 σs = 61,25.b + 250

P 4 x550 700
Por outro lado, σ s = = σs ≅
A π .b 2 b2
700
Portanto: = 61,25.b + 250 ou 61,25.b3 +250.b2 = 700
b2
A solução desta equação é feita por tentativas chegando-se ao valor b = 145 cm.
b (m) 61,25*b^3 250*b^2 SOMA
1 61 250 311
1,3 135 423 557
1,4 168 490 658
1,5 207 563 769

3o Exemplo: Lembrete: Em um prédio de concreto armado tradicional a carga total (característica


e não de projeto) é obtida multiplicando-se a ára total do edifício pela carga unitária
média de 1,2 tf/m2 (12 kN/m2). Sempre é importante avaliar se as cargas informadas
pelo calculista atendem a este critério. E caso de dúvida esclarecer junto ao
projetista. Este é o objetivo deste exercício.
Para a construção de um edifício de dez pavimentos foram realizadas sondagens à
percussão SPT cujo resultado é mostrado abaixo. Admitindo que a carga média de um edifício de
concreto armado seja de 12 kPa por pavimento e que a área de influência de cada pilar seja da
ordem de 4 m x 4 m, estimar a tensão admissível para o caso de se adotar sapatas na cota – 2m.

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Solução:

Estimativa da carga por pilar: P = 12 x 10 pavimentos x 4 x4 = 1.920 kN

Conhecida a ordem de grandeza da carga por pilar, há necessidade de investigar a tensão


admissível do solo, adotando-se o valor médio do NSPT em uma profundidade da ordem de
grandeza de duas vezes o lado da sapata (valor ainda desconhecido).

Analisando a sondagem, verifica-se que o valor médio do NSPT, na profundidade de 2 m, da


ordem de 15, ou seja:

15
σz = = 0,3 MPa = 300 kN/m2
50

A área da sapata será A = 1920/300 = 6,4 m2, ou seja, b ≈ 2,50 m e, portanto, 2xb = 5 m.
Como pode ser visto na sondagem, até a profundidade (5 + 2) = 7 m vale a média NSPT = 15,
portanto o valor σs = 300 kN/m2 é a resposta.

3) Referências Bibliográficas

Cintra, J.C.A. “ Fundações em Solos Colapsíveis” – EESC-USP.


Teixeira, A.H. (1996) “Projeto e Execução de Fundações” – SEFE III – vol 1, p. 33 a 50
van Langendonck “ Cálculo de Concreto Armado” – 1º volume – editado pela Associação Brasileira
de Cimento Portland – 2ª Edição – 1954.

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