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GLOBAL E BRASIL
UM PANORAMA E PERSPECTIVA
NOVEMBRO | 2021
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................ 5
Parte I: Panorama e Perspectiva Global .............................................................. 7
1.0 Atividade Econômica Global ........................................................................... 7
1.1 Riscos Globais .................................................................................................... 8
1.2 Tensões Globais ............................................................................................... 10
1.3 Desaceleração da Globalização .................................................................. 12
1.4 Nova Rota da Seda ......................................................................................... 19
1.5 Gargalo Logístico ............................................................................................ 21
1.6 Crise Energética na China .............................................................................. 23
1.7 Inflação Global ................................................................................................ 24
Parte II: Panorama e perspectiva Brasil .............................................................. 28
2.0 Atividade Econômica – Brasil ......................................................................... 28
2.1 Inflação ............................................................................................................. 31
2.2 Gastos do Governo Federal e Dívida Pública .............................................. 32
2.3 Projeções Macroeconômicas ........................................................................ 37
2.4 Investimentos ................................................................................................... 42
2.5 Crédito para Financiamento .......................................................................... 43
2.6 Mercado de Trabalho ..................................................................................... 46
2.7 Reformas ........................................................................................................... 48
3.0 Considerações Finais ...................................................................................... 56
Referências Bibliografias ....................................................................................... 59
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Lista de Gráficos
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Lista de Figuras
Lista de Tabelas
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Introdução
Escrever sobre a perspectiva econômica nunca se mostrou uma tarefa fácil. No contexto atual,
a dificuldade é ainda maior, pois é preciso conciliar os fenômenos que já regiam a geopolítica
global com os efeitos econômicos da pandemia e, com isso, identificar impactos
momentâneos derivados da retomada econômica, bem como aqueles que podem ser
estruturais originados de mudanças que vieram para ficar.
Vale lembrar que alguns problemas estruturais já vinham ocorrendo antes da pandemia, que
geram tensões globais com fortes consequências – imediatas ou mais a médio e longo prazos
– para a economia, entre elas, as tensões bélicas no Mar do Sul da China e sobre Taiwan. A
guerra comercial entre os Estados Unidos da América (EUA) e a China, de forma mais
específica aquela voltada para a tecnologia e para a banda 5G, assim como o arrefecimento
das cadeias produtivas globais. São todos fatores de perturbação com fortes implicações
econômicas.
Embora o mundo tenha revelado um certo padrão nas medidas de combate à pandemia,
desde o início até os atuais níveis de vacinação, sabe-se que a adoção dessas medidas seguiu
as peculiaridades de cada país. Assim mesmo, quando observamos as retomadas econômicas,
em linhas gerais, seguem com suas características em “V” com mais ou menos intensidade,
dependendo do país.
Para essa retomada, sabia-se que haveria alguns efeitos nas demandas por bens, em primeiro
plano, e por serviços, na sequência. Isso acarretaria, quase que necessariamente, o aumento
dos preços dos bens e, portanto, uma pressão inflacionária global, mas, em período curto e
logo se estabilizaria. Ocorre que alguns fenômenos, não exatamente previstos, parecem
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interferir no tempo de ocorrência dessa inflação e sua consequente persistência em períodos
mais extensos que os estimados.
É nesse contexto que, na primeira parte deste artigo serão expostas a atividade econômica
atual e a percepção de riscos globais. Assim mesmo, estão apresentados os temas centrais
anteriores à crise decorrente da pandemia, como as tensões globais e a desaceleração das
cadeias globais de valor. Os impactos da crise agora são explicados, principalmente, pela
inflação e pelo desabastecimento das cadeias globais de suprimento provocados pelos altos
preços da energia, os gargalos logísticos e a crise energética na China.
Na segunda parte do artigo estão um panorama e a perspectiva econômica para o Brasil. Para
além desses fenômenos globais de tensões e inflação, temos as nossas particularidades seja
pela crise energética, pela absorção da subida dos preços global do petróleo, seja pela subida
dos preços dos alimentos. Esses são fatores que afetam a inflação, taxa de juros e produto
interno bruto (PIB) projetados.
Não obstante, precisamos centrar atenções nas questões fiscais, tais como os gastos do
governo e a dívida pública, na intensidade e qualidade dos investimentos geradas ao longo
tempo, bem como na expansão do crédito para consumo e investimentos registrados nessa
trajetória e projetados para os próximos anos.
Atenção, também, às reformas. Nessa linha, estão expostos avanços registrados nas agendas
setoriais e na melhoria do ambiente de negócio. Segue-se com a relação das medidas
legislativas e o que se encontra na pauta da Câmara e do Senado. De forma especial, um breve
comentário sobre a reforma tributária e suas alternativas de encaminhamento.
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Parte I:
Panorama e Perspectiva Global
Na recuperação da economia global, observada nas principais economias – o Brasil será visto
e detalhado mais adiante –, percebe-se o padrão de recuperação em “V” com as
diferenciações de acordo com as características de cada país. O Gráfico 1 descreve essa
trajetória considerando-se a média de 2019 como base 100.
É preciso levar em conta que a retomada das economias guarda suas correlações com a
evolução da vacinação
ECONOMIA GLOBAL no Economias
mundo, não somente pela disponibilidade, como também pela
avançadas
5
105
100 4
95 3
90 jul-21 ag
85
105
80
75 100
T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2
PIB Área Euro
95
T4 2019 = 100
Anualmente, o Fórum Econômico Mundial publica um relatório sobre riscos globais. Na edição
de 2021, são compartilhados os resultados da última Pesquisa de Percepção de Riscos Globais
(GRPS). Um dos resultados mostra que quase 60% dos entrevistados identificaram “doenças
infecciosas” e “crises de subsistência” como as principais ameaças de curto prazo para o
mundo. A perda de vidas e de meios de subsistência aumentará o risco de “erosão da coesão
social”, também uma ameaça crítica de curto prazo identificada no GRPS. A Figura 1 a seguir
apresenta a relação entre a probabilidade e o impacto dos riscos identificados.
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FIGURA 1 – RISCOS GLOBAIS
Fonte: Fórum Econômico Mundial: The Global Risks Report 2021, 16th edition.
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O relatório descreve da seguinte maneira a percepção de riscos globais:
As ameaças mais prováveis para os próximos dois anos: crises de emprego e meios de
subsistência; generalizadas desilusões juvenis; desigualdade digital, estagnação econômica;
danos ambientais causados pelo homem; erosão da coesão social; e ataques terroristas.
No âmbito econômico, para os próximos três a cinco anos: bolhas de ativos, instabilidade de
preços, choques de commodities e crises de dívida; seguidos por riscos geopolíticos, incluindo
relações e conflitos entre nações e geopolitização de recursos.
Em um horizonte de cinco a dez anos: riscos ambientais, como perda de biodiversidade, crises
de recursos naturais e falha na ação climática; armas de destruição em massa; efeitos adversos
da tecnologia; e colapso de Estados ou instituições multilaterais.
Quando se refere à próxima década, as doenças infeciosas estão entre os riscos de maior
impacto, seguidas por falha de ação climática e outros riscos ambientais; bem como armas de
destruição em massa, crises de subsistência, crises de dívida e infraestrutura de tecnologia da
informação (TI).
Importante observar que a inflação global não aparece como risco imediato, pois certamente
não se tinha ideia da extensão dos fenômenos inflacionários. Em contrapartida, vê-se, em
seguida, que várias tensões globais hoje já se referem a muitos dos riscos globais
apresentados, sobretudo aqueles relacionados com conflitos entre nações e geopolitização
de recursos, tal como ocorre no Mar do Sul da China.
Um dos principais pontos das tensões globais ocorre no Mar do Sul da China, em uma área de
confluência e disputa que envolve 3 milhões de km2. Para se ter uma ideia da sua importância,
as principais economias asiáticas se voltam para esse mar, que liga os oceanos Pacífico e
Índico, por onde passa um terço do comércio mundial. Hoje, cada país tem um pedaço da
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área, e o que sobra são águas internacionais. Ocorre que a China reivindica 90% da região. No
entanto, em 2016, a Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia, não acatou os
argumentos da China.
Não obstante, a China vem reforçando sua presença militar na área, construindo ilhas
artificiais e bases militares na região. Como consequência, os EUA enviam cada vez mais navios
de guerra e também aumentam sua presença militar na região. A Figura 2 apresenta os países
que reivindicam suas posições na região e uma síntese das informações relativas a área,
comércio e reservas de petróleo e gás.
Outro ponto de tensão está em Taiwan. Um dos temas mais antigos e tensos da diplomacia
internacional. O confronto entre China e Taiwan ocorre há mais de setenta anos e nunca
houve conflito bélico. Os EUA, como potência hegemônica, sempre permaneceram próximos
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aos dois lados. No entanto, essa nova escalada de tensões pode ser diferente do passado, uma
vez que a China já desenvolveu capacidade militar que, segundo os especialistas, pode
permitir uma invasão da ilha nos próximos anos.
A China afirma que Taiwan é seu território e sempre afirmou que a ilha seria recuperada em
algum momento da história. No entanto, recentemente, EUA, Austrália e Reino Unido
anunciaram o maior acordo histórico de segurança, conhecido como “Aukus”. Esse pacto
militar tem como principal objetivo conter o avanço da China. Permite, por exemplo, à
Austrália construir submarinos de propulsão nuclear a partir da tecnologia americana. O
acordo envolve, também, compartilhamento de conhecimento, vigilância, inteligência
artificial.
Outro ponto de tensão global é uma espécie de guerra fria tecnológica entre os EUA e a China.
Os EUA vêm acusando a Huawei, empresa chinesa e maior fornecedora de equipamentos de
telecomunicações do mundo, de ser instrumento de espionagem do governo chinês.
Exatamente no epicentro dessa crise está o Brasil, com o leilão da tecnologia 5G. Segundo a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), trata-se do maior
leilão de 5G feito até então no mundo.
No entanto, os Estados Unidos não estão sozinhos nessa guerra. Países como Reino Unido,
França, Itália, Japão, Austrália e Nova Zelândia também baniram o uso de equipamentos da
Huawei em seus territórios de forma total ou parcial. Isso porque, em 2017, a China aprovou
uma lei de segurança nacional que permite que o governo requisite dados de companhias
privadas caso seja importante para a soberania do país. Portanto, apesar de ser uma empresa
privada, a Huawei está submetida a essa lei.
Neste artigo, sigo com os estudos que apontam tal movimento, entre eles, o estudo sobre o
impacto da pandemia na globalização intitulado “The Pandemic Adds Momentum to the
Deglobalization Trend”. Nele, Douglas A. Irwin – do Peterson Institute for International
Economics e professor de Economia Dartmouth College – afirma: “A pandemia do COVID-19
está levando a economia mundial a se afastar da integração econômica global. Os
formuladores de políticas e os líderes empresariais estão agora questionando se as cadeias de
suprimentos globais foram muito ampliadas”.
Fontes: primária: Our World in Data; secundária: Peterson Institute for International Economics (PIIE).
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Conforme observado na Figura 3, no processo de globalização, dividido em quatro eras pelos
fluxos comerciais, pode ser percebido que, na quarta era, a intensidade da globalização parece
ter atingido o pico em 2008. Desde então, a partir da Grande Recessão, a relação comércio
mundial/PIB vem em queda.
Segundo Douglas A. Irwin, estamos agora em um quinto período histórico, às vezes chamado
de "slowbalization". Embora o comércio tenha crescido mais rapidamente que a produção
mundial, esse não é mais o caso. Em vez disso, o crescimento do comércio tem sido
anormalmente fraco nos últimos anos. O volume do comércio mundial realmente caiu em
2019, embora a economia mundial tenha crescido de maneira constante.
Agora, o processo de globalização pode ser ainda mais desacelerado quando se verificou a
extrema dependência das indústrias com relação às cadeias globais de suprimento, sobretudo
daquelas localizadas na Ásia e de forma especial na China. Assim, quando a China entrou em
bloqueio horizontal, verificou-se um choque de ofertas para as indústrias inseridas nas cadeias
globais de suprimentos. Com a China recuperando a oferta, o mundo entra em choque de
demanda.
Os impactos da pandemia de Covid-19 nos principais setores inseridos nas cadeias globais de
valor resultam da alta integração econômica que levaram autores a argumentar sobre a
limitação de os Estados-nações regerem suas economias e, por conseguinte, os fatores de
bem-estar de suas populações. Não obstante, críticos desses processos há tempos
argumentavam sobre suas fragilidades.
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A rápida evolução do processo de globalização ocorrido em suas diversas fases, tal como visto,
levou Kenichi Ohmae, em 1995, a escrever o livro O fim do estado-nação, no qual argumenta
que os Estados-nações eram dinossauros esperando a morte, pois se tornaram ineficientes na
distribuição de riquezas, e seus destinos eram cada vez mais determinados pelas escolhas
econômicas feitas em outros lugares.
No artigo “How the Economy Will Look after the Coranavirus Pandemic”, autores como Joseph
Stiglitz – Prêmio Nobel de Economia em 2001 –, entre outros, tratam dos principais impactos
econômicos e sociais da crise e seus efeitos futuros.
Joseph Stiglitz – que já escreveu uma extensa obra sobre a globalização, entre elas, Os
malefícios da globalização – argumenta que a crise causada pela pandemia de Covid-19 tem
sido um lembrete poderoso de que a unidade política e econômica básica ainda é o Estado-
nação, ao contrário de uma linha de pensamento que considera um mundo globalizado em
que as fronteiras não importam e que sempre poderíamos recorrer a outros países se algo
acontecesse. Agora, as fronteiras de repente importam, à medida que os países se apegam
firmemente a máscaras e equipamentos médicos e lutam para obter suprimentos.
Assim mesmo, continua argumentando esse autor, para construir cadeias de suprimentos
aparentemente eficientes, são pesquisados em todo o mundo o produtor de menor custo de
todos os elos da cadeia. Mas essa é uma visão míope. Foi construído um sistema que
claramente não é resiliente e é insuficientemente diversificado e vulnerável a interrupções. A
produção e distribuição just-in-time, com estoques baixos ou inexistentes, podem ser capazes
de absorver pequenos problemas, mas agora vimos o sistema esmagado por uma perturbação
inesperada.
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meio. A Figura 4 demonstra o deslocamento da produção de semicondutores desde a década
de 1990.
Fonte: Statista.
Note-se que na década de 1990, os EUA e Europa produziam 80% dos semicondutores. As
projeções para 2030 é exatamente inversa, ou seja, a Ásia passa a produzir 80% dos
semicondutores utilizados pelas cadeias globais de valor. Em contrapartida, deve ser
observado que, para a produção de semicondutores é utilizado o insumo de “terras raras” e
existe uma grande concentração desse insumo na China. Existe, portanto, um
desbalanceamento da distribuição de insumos. O Gráfico 2 apresenta a evolução do
Philadelphia Stock Exchange Semiconductor Index.
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400 392
(Jan
Custos Inter
200
3500
Índice Semicondutores
3000
2500
(Dez 1993 = 100)
2000
1500
U CN IN 1000
500
0
set-96 set-01 set-06 set-11 set-16 set-21
Semicondutores = Philadelphia Stock Exchange Semiconductor Index
11
Fontes: primária: Bloomberg; secundária: Banco Central.
A situação se agrava para a China, por conta de os EUA proibirem a compra de chips
americanos por empresas chinesas. Isso levou a China em uma corrida desesperada por chips
estrangeiros. Já abordamos as tensões bélicas entre China e Taiwan. Portanto, alguns
especialistas acreditam que essa condição de dependência da China e do mundo do chip
produzido em Taiwan gera um “escudo de proteção” com o qual Taiwan se protege da China.
É nessa linha que o jornalista americano Craig Addison cunhou o termo “escudo de silício”
quando lançou seu livro Silicon shield – Taiwan’s protection against China attack. Nele, o autor
narra como seria prejudicial para China e para o mundo um ataque dessa natureza.
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§ O Brasil na Periferia das Cadeias Globais de Valor
O Brasil não está devidamente inserido nas cadeias globais de valor. No início da década de
1990, a economia brasileira era relativamente fechada e a participação do Brasil no comércio
mundial e, tal como a China, representava algo em torno de 1% do comércio mundial. Segundo
relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em 2014, o Brasil participava com
1,4% do comércio mundial total. Isso representa menos da metade de sua participação no PIB
mundial, na ordem de 3%. Em contrapartida, no mesmo período, a China respondia por 10%
do comércio mundial. Significa também que, diferentemente das expectativas, depois da
abertura do comércio internacional, a taxa de crescimento não só deslanchou, como também
o mercado interno cresceu lentamente comparativamente com o resto do mundo. A Figura 5
demonstra claramente a desconexão do Brasil das cadeias globais de valor.
O Brasil está na periferia das cadeias globais de
valorGLOBAIS DE VALOR
FIGURA 5 - O BRASIL NA PERIFERIA DAS CADEIAS
Nota: Um circulo maior reflete uma economia cujos setores participam mais em cadeias globais de valor.
Como pode ser observado na Figura 5, diferentemente do Brasil, a Ásia se inseriu nas cadeias
globais de valor, e a globalização transferiu para lá milhões de empregos nesse período de
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rápido avanço. De forma mais específica, a China e a Índia foram beneficiadas por essa
inserção demonstrada pelos crescimentos significativos de suas economias.
A nova Rota da Seda é hoje um tema recorrente na geopolítica global, seja por se tratar de um
projeto originado na China com alocações de recursos gigantescos, seja pelo número de países
envolvidos e por seus impactos no comércio e, consequentemente, no poder hegemônico
global. Consiste em uma enorme malha de conexões de infraestrutura, transporte de
produtos e intercâmbio de tecnologia. Os critérios para a formação dessa malha são os países
que fazem fronteira com a China, ou banhados pelo Oceano Pacífico ou que estejam no
caminho por terra para o Ocidente. A Figura 6 mostra o traçado da Nova Rota da Seda.
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FIGURA 6 - NOVA ROTA DA SEDA
Portanto, a crescente preocupação do ocidente com a China não surpreende, uma nova rede
chinesa está em construção estendendo-se pelo globo. Os imensos recursos que estão sendo
alocados no programa one belt one road sugerem fortemente o que a China está planejando
para o futuro.
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1.5 Gargalo Logístico
O gargalo logístico provocado pela crise dos contêineres para o transporte marítimo é algo
singular na economia provocado pela crise causada pela pandemia de Covid-19. Tal como eu
já havia explicado no meu primeiro artigo, “Visão Sistêmica da Crise, Gestão e Perspectivas de
Saída”, tratava-se de uma “retração econômica” com provável saída em “V”, com repiques na
saída. Complementarmente, descrevi as principais intervenções governamentais para
enfrentamento da pandemia.
Pois bem, a retomada da atividade econômica global tem sido forte e demanda logística em
igual intensidade. Ocorre que, durante o processo de combate à pandemia, os países
adotaram variadas e distintas medidas que afetaram não somente a produção como também
a operação dos principais portos do mundo. Com isso, na retomada econômica, os
contêineres estão espalhados pelos diversos portos do mundo sem nenhuma lógica
subjacente de otimização de carregamento. Como resultado, são gerados grandes
congestionamentos, tal como pode ser observado na Figura 7.
Fonte: BBC.
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Por exemplo, barcos originados da China com milhares de contêineres deixaram suas
mercadorias nos portos da Europa e da América, mas não retornaram carregados com novos
produtos por conta das restrições impostas pela pandemia e, assim, muitos contêineres se
acumularam nesses portos. Em contrapartida, a temporada de tufões no Pacífico fez com que
vários portos chineses fechassem temporariamente interferindo no fluxo marítimo.
Esses fenômenos combinados interferem nos preços dos fretes em escala global. Para se ter
uma ideia, em setembro de 2020, um frete marítimo entre a China e os EUA custava cerca de
US$ 4 mil; um ano depois, esse mesmo frete está custando mais de US$ 20 mil. Assim, mesmo
os fretes entre a China e a Europa foram ainda mais impactados, em um ano o preço subiu de
US$ 2 mil para cerca de US$ 14 mil. Na América Latina, o custo de transporte marítimo saiu
de US$ 2 mil para mais de US$ 7 mil. No Brasil, o preço está em torno de US$ 10 mil. A
consolidação da variação desses preços pode ser observada na Figura 3.
1000
Custos Internacionais de Frete
860
800 783
Global Container Index
(Jan 2018 = 100)
200
3500
Fontes: primária – Bloomberg; secundária – Banco Central do Brasil.
Semicondutores
3000
2500
Dez 1993 = 100)
2000 | 22 |
1500
1000
Como cerca de 80% de tudo que se consome no mundo é transportado pelo mar, o impacto
sobre os preços dos produtos ao consumidor será relevante em todo o mundo. Ainda não se
sabe a extensão e duração desses impactos, mas é certo que, em curto prazo, já influenciarão
na inflação global e na ruptura de fluxo de mercadorias.
A crise energética na China se relaciona diretamente com o meio ambiente. Sabe-se que a
matriz energética chinesa está fortemente baseada no carvão e, com isso, o país ocupa o
primeiro lugar nas emissões no mundo. Pois bem, no 14º Plano Quinquenal do governo chinês
ficou estabelecido que a emissão de carbono deve cair 15% em comparação com 2020 e
realizado em 2025. Assim, várias minas de carvão foram fechadas, diminuindo a oferta interna
do insumo. O que o governo chinês não esperava era a forte retomada da sua economia e do
resto do mundo.
Em contrapartida, parece que a importação de carvão por parte da China encontra problemas.
Grandes produtores de carvão, como a Indonésia, estão priorizando o abastecimento interno.
A Austrália, cuja exportação de carvão para China e Taiwan representa 25% do total
exportado, encontra-se com relações estremecidas com a China, depois de ter questionado
as origens do vírus da Covid-19.
Não só isso. Já foi visto que, recentemente, a Austrália fechou o pacto “Aukus”. Isso se
relaciona com os conflitos do Mar do Sul da China, bem como com a questões voltadas para a
reivindicação da China sobre Taiwan.
Essa crise energética chinesa combinada com a forte alta dos preços do petróleo impacta nas
cadeias globais de suprimento e na subida da inflação global. Ademais, a diminuição da
atividade econômica chinesa também pode impactar a economia brasileira, dada a
importante relação comercial entre os países. Hoje, a China representa um terço de toda a
exportação brasileira.
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1.7 Inflação Global
Há uma hipótese sobre a inflação global que considera que a alta de preços ocorrerá por conta
da forte demanda da retomada da economia e, posteriormente, em um tempo curto, os
preços se estabilizarão. Isso porque, na pandemia, a inflação ocorre primeiramente em bens.
Como os preços dos serviços são mais rígidos, depois da reabertura da economia, os serviços
demoram mais a aumentar preços enquanto os preços de bens se estabilizam.
Ocorre que, pelos motivos já expostos, os tempos de entrega de vários componentes não se
regularizarão em curto prazo. A dúvida consiste em saber o quanto disso é uma mudança
estrutural. Parece que não se trata de ruptura de produção, porque se constata que a
produção dos principais itens, tais como os semicondutores, tem aumentado. Resta, portanto,
entender que algo estrutural ocorre que causou o aumento da demanda por esses
componentes e que será normalizado em um tempo mais lento, o que poderá fazer a inflação
persistir por mais tempo.
Esse aumento da inflação ocorre de forma global, como pode ser visto no Gráfico 4, nas
economias avançadas. Portanto, as surpresas de inflação têm sido um tema que vem
dominando mercadosGLOBAL
ECONOMIA e governos. Inflação
6
consumidor (% a.a.)
Índices de preço ao
2
4
0
-2 3
ago-15 ago-16 ago-17 ago-18 ago-19 ago-20 ago-21
EUA Japão Reino Unido Área do Euro Austrália
2
Fontes: primária – Bloomberg; secundária: Banco Central.
%
ao produtor
16
| 24 | 1
12
% a.a.)
8
0
Da mesma forma, os países emergentes seguem com a inflação em alta (ver Gráfico 5).
97 9797 98 98 98
fev-20 mai-20 ago-20 nov-20 fev-21 mai-21 ago-21 fev-20 mai-20 ago-20 nov-20 fev-21 mai-21 ago-21
Fonte: Bloomberg. 16
De uma maneira geral, essas subidas de preços estão correlacionadas com o aumento do custo
de energia. Nos primeiros momentos da crise, a demanda por energia despencou e, como
resultado, os investimentos arrefeceram. Em contrapartida, os principais países produtores
de petróleo não aumentaram a oferta para elevar os preços e compensar os períodos de
preços baixos, sobretudo na pandemia. Tudo isso com uma forte demanda pela retomada da
atividade econômica global. No Gráfico 6, pode ser observada essa elevação dos preços de
energia nos países emergentes e nos avançados.
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ECONOMIA GLOBAL Energia
GRÁFICO 6 - VARIAÇÃO DOS PREÇOS DE ENERGIA EM ECONOMIAS
Preços de energia
EMERGENTES E AVANÇADAS
95
110 109
108
103 90
100 101
85
90
80
80 75
dez-19 abr-20 ago-20 dez-20 abr-21 ago-21 ago-19 fev-20 ago-20 fev-21 ago-21
Brasil Turquia Peru
EUA Reino Unido Área euro Japão Canadá
Índia África do Sul Rússia
Chile Colômbia México
Fonte: Bloomberg. 14
Fontes: primária – Bloomberg; secundária: Banco Central do Brasil: Apresentação AP_ RCN_ ACSP_.
Para se ter uma ideia da variação dos preços de energia, nos EUA, o preço da gasolina já subiu
50% no ano e o do gás dobrou de valor no mesmo período. Na Europa, o gás e o petróleo são
responsáveis por 77% do fornecimento de energia à população. O problema central está na
Rússia, que fornece 65% do gás e do petróleo consumidos no continente. Embora tenha
aumentado a demanda por causa da retomada da economia, a Rússia não aumentou a oferta
e a consequência é a subida dos preços. Alie-se a isso o aumento da demanda por gás pela
China, por motivos já explicados anteriormente. Nos países emergentes, o impacto se dá na
mesma intensidade.
Por sua vez, os preços das commodities, de uma forma geral, subiram em 2020 mais que 28%,
de acordo com o Índice de Commodities Brasil (ICB) do Banco Central, tendo as commodities
metálicas alcançado valores ainda maiores, em torno de 54%. Isso se deveu, sobretudo, à
demanda crescente da China, considerando-se os investimentos em infraestrutura e mercado
imobiliário. A China também tem demandado commodities agrícolas, isso combinado a uma
queda da oferta, sobretudo no Brasil, por conta da escassez de chuvas e das geadas. O Gráfico
7 apresenta essa evolução dos preços das commodities.
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ECONOMIA GLOBAL Commodities
Preços de commodities
200
175
Minério de ferro
150
Metais
Jan 2020=100
125
100
Grãos
Brent
75
50
25
jan-20 abr-20 jul-20 out-20 jan-21 abr-21 jul-21 out-21
Observa-se uma certa estabilização nos preços de grãos e uma acentuada queda de minério
de ferro. Essa queda tem relação com medidas restritivas do governo chinês por conta da
descarbonização, redução da produção de aço e consequente desaceleração da economia,
conforme já comentado. Deve-se considerar que a crise no mercado imobiliário chinês,
provocada pela Evergrande, também contribui para a redução do consumo de aço.
Esse é, portanto, o contexto global do aumento dos preços e pressão inflacionária global que,
por certo, influenciará as atividades econômicas futuras, inclusive do Brasil.
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Parte II:
Panorama e Perspectiva Brasil
Em março de 2020, portanto no início da crise, publiquei um artigo intitulado “Visão Sistêmica
da Crise, Gestão e Alternativas de Saída”. Nele, a alternativa de retomada em “V” era
considerada a mais provável, dadas as características de retração econômica da crise e do
prenúncio das medidas epidemiológicas e econômicas que estavam por vir. É exatamente esse
ECONOMIA DOMÉSTICA Atividade Econômica
ECONOMIA DOMÉSTICA
o cenário agora posto, conforme pode ser observado no Gráfico 8.
Brasil: PIB e mercado de trabalho
GRÁFICO 8 - ATIVIDADE
Recuperação forte do PIBECONÔMICA – BRASIL
e emprego em 2021.
56
PIB
População ocupada
(2019=100) 55
104
54
(milhões)
102 2020 2021 53
-4,1% +5,04%
100 52
Projeção para o Formal
51
PIB 2021
98 (mediana das Informal (eixo da di
expectativas de
50
mercado - Focus) jul-18 jan-19 jul-19
96
360
(empregos líquidos, milhares)
Novos empregos formais
94 160
-40
92
-240
90 -440 jan-ago:
2018: 608
-640 2019: 614
88 2020: -920
-840
I II IIIIV I II IIIIV I II IIIIV I II IIIIV I II IIIIV I II IIIIV I II IIIIV I II 2021: 2.202
-1040
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 ago-18 fev-19 ago-1
Fontes: [1] IBGE e Relatório Focus. [2] Fontes: PNAD Contínua IBGE (ajuste sazonal pelo BCB); [3] Ministério do Trabalho.
Fontes: primária: IBGE e Relatório Focus; secundária: Banco Central.
| 28 |
No geral, retraímos 4,1% do PIB e retornamos, em 2021, com cerca de 5%. Isso tudo com um
forte ritmo de retomada em 2021. No entanto, fatores inflacionários globais e domésticos
podem demandar política monetária mais restritiva para o crescimento em 2022. Isso é o que
será visto mais adiante. Antes, entretanto, será desdobrada a atividade econômica por região.
Assim como a retomada da atividade econômica não é igual por setor, também não é igual
por região. O Banco Central produz o Boletim Regional, um estudo trimestral da economia
brasileira por região. Nele, são apresentados indicadores como: produção, vendas, emprego,
preços, comércio exterior, entre outros. A síntese da atividade econômica por região pode ser
observada no Gráfico 9.
165 NE
155 CO
145 SE
135 S
125
115
105
95
jun 05
jun 06
jun 07
jun 08
jun 09
jun 10
jun 11
jun 12
jun 13
jun 14
jun 15
jun 16
jun 17
jun 18
jun 19
jun 20
jun 21
| 30 |
2.1 Inflação
Tal como vimos, em que pese o fato de o problema da inflação ser global, no Brasil surgem
algumas surpresas com índices que superam as expectativas do mercado e do Banco Central.
Isso se deve, sobretudo, aos preços de energia elétrica, dos combustíveis e dos alimentos. A
crise hídrica enfrentada pelo país hoje é uma das maiores dos últimos vinte anos. Isso acarreta
o aumento do custo de energia. Em contrapartida, a subida dos preços do petróleo e derivados
se combina com a alta nos preços dos alimentos. Nos gráficos a seguir, é possível observar as
surpresas e as contribuições desses itens para a variação da inflação.
1,4
Surpresas no IPCA (% M/M) 1,4 Contribuição para a variação mensal (em p.p.)
1,2 1,2
1,0 1,0
Monitorados
0,8 0,8
0,6 0,6
Serviços
0,4 0,4
Bens
industriais
0,2 0,2
Alimentação
0,0 0,0
no domicílio
set/20 out/20 nov/20 dez/20 jan/21 fev/21 mar/21 abr/21 mai/21 jun/21 jul/21 ago/21
Proj. em Set/20 Proj. em Dez/20 Proj. em Mar/21 Proj. em Jun/21
-0,2
IPCA observado Previsão BCB Expectativas de mercado (Focus)
A data das projeções (em setembro, dezembro, março e junho correspondem à data de corte para o Relatório de
ago-20 out-20 dez-20 fev-21 abr-21 jun-21 ago-21
Inflação do BCB.
Nota-se que, sobretudo nos meses de julho e agosto de 2021, o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) supera as previsões do Banco Central e as expectativas de mercado.
Ainda que seja, em grande parte, por motivos gerados por contingências climáticas, essa
condição impõe uma política monetária restritiva à frente. Nesse sentido, o Banco Central já
informou que colocará a taxa Selic nos patamares que forem necessários para conter a
inflação.
| 31 |
No âmbito regional, a inflação incide de forma diferenciada. A Figura 8 apresenta essa
distribuição regional.
IPCA
Jul 2021 (Var. 12 meses)
19
metropolitanas e municípios; secundária: Banco Central – Boletim Regional
Portanto, a alta da inflação induz a uma política monetária mais restritiva e impacta o
crescimento. É nesse contexto que a taxa de juros, provavelmente, deve encerrar o ano em
entre 9,0% e 9,25 %. No entanto, a inflação projetada em torno de 4% para 2022 parece
explicar a incidência temporária dos fenômenos apresentados e um controle efetivo dos
gastos e da dívida pública. É o que veremos a seguir.
As condições fiscais do país se refletem nas projeções de inflação para 2022 em torno de 4%
e 3% para 2023. Isso se efetiva pela independência do Banco Central e sua disposição de
| 32 |
enfrentamento da situação, mas, também, e principalmente, considerada a política fiscal com
o controle de gastos do Governo Central, conforme pode ser observado no Gráfico 11.
Evolução dado
Evolução Despesa
Resultado Primária dodo
Primário Governo
GovernoCentral
Central--%
GRÁFICO 11 - GASTOS DO GOVERNO EM RELAÇÃO AO PIB
% do
do PIB
PIB
28,0%
1 2010 não inclui capitalização da Petrobrás;
2 Dados da programação para 2021 (Decreto nº 10.760) e 2022 (PLOA 2022).
26,0%
24,0%
22,0%
14,0%
12,0%
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
Fonte: Resultado do Tesouro Nacional, Programação Financeira e PLOA 2022. 2
O gráfico aponta que, na comparação com o terceiro bimestre, houve redução de 1,8% para
1,6% do déficit em relação ao PIB para 2021, o equivalente a R$ 15,9 bilhões. A queda nas
despesas com proporção do PIB é consequência da melhoria da receita impulsionada pela
retomada da economia. Também deve ser considerado o controle das despesas.
| 33 |
Outra grande desconfiança do mercado advinha do rompimento do teto de gastos pela
necessidade de cumprir as decisões judiciais dos precatórios. No entanto, o Governo Federal
enviou uma PEC para parcelamento desses precatórios e parece que tem conseguido conciliar
bem a negociação com o Congresso e com o Poder Judiciário.
Isso é possível mediante um acordo com o Supremo Tribunal Federal e posterior projeto de
lei complementar. Isso já ocorreu no passado, com a negociação da dívida dos estados e,
também, para solução da Lei Kandir. Portanto, este pode ser, também, o caminho para os
precatórios. Parece que a solução segue esse curso.
| 34 |
Evolução12da
Evolução
GRÁFICO Dívida
do Bruta
Resultado
- RELAÇÃO -BRUTA/PIB
% do PIB
DÍVIDAPrimário do Governo Central - % do PIB
Os desafios futuros para a perenidade da regra fiscal dizem respeito a fatores como despesas
obrigatórias e indexação das contas orçamentárias. O Brasil deve ser o país com maior rigidez
orçamentária. Ou seja, 94% do orçamento constitui-se de despesas obrigatórias. Isso significa
que o Congresso passa seis meses discutindo 6% do orçamento, porque o restante já foi
previamente alocado. Isso implica dizer que as decisões alocativas do Congresso, que faz a
representação da população, são extremamente reduzidas.
Considerando-se que, na parte não obrigatória, os cortes já vêm sendo realizados há muito
tempo - basta que se observe a capacidade de investimento cada vez mais reduzida - as
reduções devem ocorrer na parte obrigatória e isso conversa diretamente com a Reforma
Administrativa em trâmite no Congresso. Em contrapartida, deve ser considerada a discussão
sobre a desindexação do orçamento. Nesse aspecto, o Brasil também se diferencia do resto
do mundo porque em torno de 60% das despesas em seu orçamento são indexadas. Isso
implica distorções, a exemplo do projeto social mais bem avaliado, o Bolsa Família, que não é
indexado, enquanto outros programas sociais de impactos discutíveis são indexados.
§ Arrecadação do Governo
| 35 |
O aumento da atividade econômica pode ser observado pela arrecadação federal. A Tabela 1
mostra a evolução da arrecadação de setembro de 2020 até agosto de 2021, juntamente com
o comparativo com o Prisma Fiscal, com o qual se definem mínimo e máximo previstos para a
arrecadação.
UNIDADE: R$ MILHÕES
MÊS/ANO PRISMA FISCAL (A) ARRECADAÇÃO (B) DIFERENÇA (C = B - A) DIFERENÇA (%) (C/A)
set/20 108.237 119.825 11.588 10,7%
out/20 135.770 153.938 18.169 13,4%
nov/20 129.772 140.101 10.329 8,0%
Pelo 13º
dez/20 150.222 159.065 8.843 5,9%
jan/21 170.740 180.221 9.481 5,6%
a arrec
fev/21 118.867 127.747 8.881 7,5% acima d
mar/21 117.739 137.932 20.193 17,2% mercado
abr/21 135.776 156.822 21.046 15,5% arrecada
mai/21 117.970 142.106 24.136 20,5% ficou ac
jun/21 129.032 137.169 8.137 6,3% máxima
jul/21 146.436 171.270 24.833 17,0% mercado
ago/21 134.185 146.463 12.278 9,2%
Fontes: RFB
Fonte: RFBe ePrisma
PrismaFiscal – SPE,
Fiscal-SPE, Ministério
Ministério da Economia.
da Economia
Portanto, observa-se que pelo 13º mês consecutivo, a arrecadação total foi acima do esperado
pelo mercado. Em particular, a arrecadação de agosto ficou acima da projeção. Deve ser
| 36 |
considerado que esse quadro de aumento de arrecadação também se revela nos estados. Isso
favorece os indicadores que os habilitam à captação de recursos para fins de investimentos.
| 37 |
TABELA 3 - PROJEÇÕES MACROECONÔMICAS – BRADESCO
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021* 2022* 2023* 2024* 2025*
ATIVIDADE
Crescimento Real do PIB (% aa.) -3,54 -3,28 1,32 1,80 1,20 -4,10 5,20 0,75 3,00 2,75 2,75
Agropecuária (%) 3,30 -5,20 14,20 1,30 0,40 2,00 2,00 5,00 3,50 3,50 3,50
Indústria (%) -5,80 -4,60 -0,50 0,70 -0,70 -3,50 5,40 -1,00 3,00 3,00 3,00
Serviços (%) -2,70 -2,30 0,80 2,10 1,50 -4,50 4,60 0,60 3,00 3,00 3,00
PIB Nominal (R$ bilhões) 5.995,8 6.269,3 6.585,5 7.004,1 7.389,1 7.447,9 8.667,2 9.228,9 9.928,9 10.631,0 11.382,6
População - milhões 204,45 206,08 207,66 209,19 210,66 212,08 213,44 214,75 216,00 217,19 218,33
PIB per capita - R$ 29.326,3 30.421,6 31.712,7 33.482,7 35.076,3 35.118,6 40.607,1 42.975,6 45.967,6 48.947,1 52.135,0
Vendas no varejo - Restrita (%) -4,30 -6,20 2,00 2,30 1,90 1,20 3,70 1,80 3,20 3,20 3,20
Produção Industrial (%) -8,30 -6,40 2,50 1,00 -1,10 -4,50 4,60 -1,80 3,00 3,00 3,00
Taxa de desemprego (% - média) - Pnad Contínua 8,51 11,50 12,74 12,26 11,87 13,51 13,24 12,18 11,94 10,89 9,53
Taxa de Crescimento da Massa Salarial - IBGE (%) 0,35 -4,07 2,55 2,66 2,50 -4,94 12,52 6,29 4,96 3,12 3,12
Rendimento médio real - IBGE (%) 0,12 -2,29 2,60 1,20 0,60 4,30 3,00 2,00 2,00 2,00 2,00
INFLAÇÃO E JUROS
IPCA (IBGE) - % aa. 10,67 6,29 2,95 3,75 4,31 4,52 9,42 4,49 3,25 3,00 3,00
IGP-M (FGV) - % aa. 10,54 7,17 -0,52 7,54 7,30 23,14 18,53 4,99 3,80 3,50 3,50
Taxa Selic Meta (% aa.) 14,25 13,75 7,00 6,50 4,50 2,00 9,25 10,25 8,00 8,00 8,00
CDI (% aa.) - Taxa dezembro 14,14 13,63 6,99 6,40 4,59 1,90 8,76 10,32 7,90 7,90 7,90
Taxa Selic nominal (acumulado 12 meses) % 13,29 14,03 9,96 6,42 5,95 2,75 4,40 11,07 8,31 7,97 7,93
Taxa Selic real / IPCA (acumulado 12 meses) % 2,36 7,28 6,81 2,58 1,57 -1,69 -4,59 6,30 4,90 4,82 4,78
Taxa Selic real / IGP-M (acumulado 12 meses) % 2,48 6,40 10,53 -1,04 -1,27 -16,55 -11,92 5,79 4,34 4,31 4,28
TJLP (% aa.) - acumulado no ano 6,25 7,50 7,12 6,72 6,20 4,87 5,55 5,80 5,80 5,80 5,80
EXTERNO E CÂMBIO
Câmbio (R$/US$) - (Média Ano) 3,33 3,49 3,19 3,65 3,95 5,15 5,34 5,55 5,62 5,69 5,74
Câmbio (R$/US$) - (Final de período) 3,90 3,26 3,31 3,87 4,03 5,20 5,50 5,70 5,77 5,83 5,88
Exportações (em US$ Bilhões) 190,09 184,31 218,00 239,52 225,80 210,71 286,15 284,01 249,77 262,26 275,37
Importações (em US$ Bilhões) 172,42 139,68 160,68 196,15 199,25 178,34 243,04 219,91 212,49 223,11 234,27
Balança Comercial (em US$ Bilhões) 17,67 44,63 57,33 43,37 26,55 32,37 43,12 64,10 37,28 39,14 41,10
Saldo em Trans. Correntes (% do PIB) -3,1 -1,4 -1,1 -2,7 -3,5 -1,8 -1,0 0,3 -3,5 -3,5 -3,4
Saldo em Trans. Correntes (US$ bilhões) -54,79 -24,48 -22,03 -51,46 -65,03 -25,92 -15,79 4,18 -61,67 -64,76 -67,99
Reservas Internacionais (em US$ bilhões) 368,74 372,22 381,97 386,96 356,88 355,62 362,02 368,54 375,17 381,92 388,80
Investimento Direto no País (em US$ bilhões) 64,74 74,29 68,89 78,16 69,17 44,66 49,00 58,23 67,32 71,42 73,57
Resultado Primário (% do PIB) - Fim do período -1,86 -2,48 -1,68 -1,55 -0,84 -9,44 -0,32 -1,11 -0,39 0,20 0,82
Déficit nominal sem câmbio (% PIB) 10,22 8,98 7,77 6,96 5,81 13,63 4,75 7,30 6,17 4,92 4,22
Dívida bruta (% PIB) 65,50 69,84 73,72 75,27 74,44 88,83 81,11 87,70 90,29 90,99 91,25
Taxa de Câmbio - US$/Euro - Fim do Período 1,09 1,05 1,20 1,15 1,12 1,22 1,16 1,17 1,18 1,20 1,25
Taxa de Câmbio - US$/Euro - Média ano 1,11 1,11 1,14 1,18 1,12 1,14 1,18 1,17 1,18 1,19 1,23
Taxa de Câmbio - R$/Euro - Fim do Período 4,24 3,43 3,97 4,44 4,52 6,35 6,38 6,67 6,81 6,99 7,36
Taxa de Câmbio - R$/Euro - Média ano 3,68 3,87 3,63 4,30 4,41 5,90 6,33 6,47 6,61 6,77 7,06
CRÉDITO
Crédito Geral (Cresc. em % aa.) 7,03 -3,46 -0,40 5,14 6,50 15,64 13,53 9,56 9,73 9,90 10,06
Índice de Inadimplência Pessoa Física (em %) 6,18 6,05 5,23 4,80 5,01 4,16 4,30 4,80 4,50 4,50 4,50
Índice de Inadimplência Pessoa Jurídica (em %) 4,42 5,17 4,52 2,73 2,12 1,45 1,80 2,30 2,00 2,00 2,00
Crédito Livres total (Cresc. em % aa.) 4,19 -4,86 1,92 10,90 14,02 15,43 16,11 12,72 12,78 12,83 12,89
| 38 |
TABELA 4 – PROJEÇÕES MACROECONÔMICAS – SANTANDER
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 Longo Prazo
Atividade
Crescimento do PIB -3,5 -3,3 1,3 1,8 1,4 -4,1 4,9 1,0 0,0 1,5
PIB per capita 8,8 8,7 9,9 9,2 8,9 6,8 7,6 7,9 9,3 11,7
Desemprego - final de período 9,6 12,7 12,4 12,2 11,6 14,8 13,4 14,0 14,0 11,0
Desemprego - média 8,5 11,5 12,8 12,3 11,9 13,2 13,8 14,0 14,0 11,0
Inflação (%)
IPCA-IBGE 10,7 6,3 2,9 3,7 4,31 4,5 9,6 5,2 3,3 3,0
IGP-M 10,5 7,2 -0,5 7,5 7,30 23,1 17,5 5,7 3,3 3,0
Taxa de Câmbio
R$/US$ - final de período 3,90 3,26 3,31 3,87 4,03 5,20 5,35 5,70 5,20 4,80
R$/US$ - média 3,33 3,49 3,19 3,65 3,95 5,16 5,36 5,64 5,36 4,90
Balança de Pagamentos
Exportações (US$ bi) 186,8 179,5 215,0 231,9 221,1 209,2 274,3 289,9 290,4 302,1
Importações (US$ bi) 173,1 139,3 159,0 185,3 185,9 158,8 212,1 216,4 232,8 243,4
Saldo Comercial (US$ bi) 13,7 40,2 56,0 46,6 35,2 50,4 62,2 73,5 57,6 58,2
Conta Corrente (US$ bi) -54,8 -24,5 -22,0 -51,5 -65,0 -25,9 -0,5 -0,4 -28,5 -43,1
Conta Corrente (% PIB) -3,1 -1,4 -1,1 -2,7 -3,5 -1,8 0,0 0,0 -1,6 -1,9
Contas Fiscais
Resultado Primário (% PIB) -1,9 -2,5 -1,7 -1,5 -0,8 -9,4 -0,5 -1,3 -1,1 0,0
Dívida Pública Líquida (% PIB) 35,6 46,1 51,4 52,8 54,6 62,7 58,0 60,5 64,1 69,5
Dívida Pública Bruta (% PIB) 65,5 69,8 73,7 75,3 74,3 88,8 80,7 83,8 87,8 92,1
| 39 |
TABELA 5 - PROJEÇÕES MACROECONÔMICAS – ITAÚ
Data de modificação: 29/10/2021
| 40 |
CHAPTER 1 GLOBAL PROSPECTS AND POLICIES
2.4 Investimentos
No que diz respeito aos investimentos, a SPE observa que a prevalência do capital privado
liderou a retomada econômica 2020-2021. O crescimento robusto da Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF) representa ampliação considerável do estoque de capital, aumentando,
portanto, a capacidade produtiva do país no futuro, inclusive em 2022. O Gráfico 13
demonstra essa evolução.
| 42 |
GRÁFICO 13 - RETOMADA DO INVESTIMENTO (ÍNDICE 100
quarta-feira, 22 =de4T19)
setembro de 2021 ̶ Nota Informativa
De forma semelhante à metodologia de análise dos gastos públicos, é possível decompor a FBCF em gastos
Fonte: Nota Informativa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, set. 2021.
de investimento do setor privado e público4. O gráfico abaixo apresenta o crescimento interanual do
investimento e como esses setores contribuíram para a expansão. Deve-se observar que, no primeiro
Esclarece
semestre de 2021, oainda a SPE que,público
investimento enquantocaiuoePIB retomouapresentou
o privado ao nível pré-pandemia
crescimentono começo deste
significativo, liderando o
processo da
ano,retomada econômica.
o investimento, apesarDiante
da fortedasretração,
mudanças recentes,
recobrou já éanterior
o valor possívelà notar que,
recessão noao contrário do
último
que ocorria até 2013, quando o investimento no Brasil tinha grande participação de obras públicas e no
trimestre do ano passado. Apesar do recuo na margem no 2T21 – que ocorreu no trimestre
financiamento estatal, atualmente é movido pelas decisões privadas em busca de melhor alocação. Nesse
contexto, com o maiordenúmero
o processo de óbitos
consolidação pornão
fiscal Covid-19
impediu no oBrasil
avanço–, odo
nível do indicadoraodecontrário,
investimento; investimento
abriu espaço
para novascalculado
inciativas.
pela SPE está cerca de 8% acima do nível pré-pandemia.
Decomposição do Investimento (var.% interanual)
Outro importante fator a ser considerado e apresentado pele SPE está na alocação de recursos
para financiamentos, ou seja, crédito. A SPE afirma:
Nota-se grandeFonte:
expansão do mercado
Nota Informativa de capitais
da Secretaria nestes últimos
de Política Econômica 30 da
do Ministério meses. Essa
Economia, set.capitalização
2021. se dá pel
abertura do capital das empresas com lançamento de ações na Bolsa de Valores, assim como pel
Outro importante indicador está na expansão do mercado de capitais, sobretudo nos últimos
trinta meses.
| 44 |
quarta-feira, 22 de setembro de 2021 ̶ Nota Informativa
financiamento privado por meio de debêntures e outros títulos e por meio dos fundos especializados. O
aumento expressivo das emissões no primeiro semestre de 2021, quando comparado ao mesmo período de
2020, demonstra a rápida recuperação da economia e o grande potencial de investimento futuro por meio
dessas companhias. As debêntures de investimento têm registrado nas emissões aumento na medida em
GRÁFICO 15 - EMISSÃO PRIMÁRIO NO MERCADO DE CAPITAIS
que tem ocorrido o destravamento do marco regulatório de setores como o saneamento, gás e logística.
(R$ MILHÕES, ACUM. 12 MESES)
Emissão Primário no Mercado de Capitais (R$ milhões, acum. 12 meses)
Fontes: primária: Anbima; secundária: Nota Informativa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da
De uma formasignificativamente
mais ampla, nas empresas médias.
o indicador de expectativas dos empresários (FGV) também sinaliza boas
perspectivas para continuidade da expansão do investimento na economia brasileira. Dados preliminares do
3T21 (julho e agosto) mostram a continuidade da perspectiva favorável dos empresários em relação aos
negócios, com o indicador ultrapassando a linha de neutralidade e mostrando otimismo, o que favorece a
continuidade da expansão dos investimentos ao longo de 2021.
Nota-se a preparação dos empresários em termos de investimentos com expansão e melhoria da capacidade
produtiva de forma a fazer frente ao avanço da atividade econômica e manter o crescimento de forma
sustentada.
| 45 |
25%
18,8% 24%
(%
Taxas
21%
15,9% 19%
14% 14%
12,2%
9%
GRÁFICO 16 - PARTICIPAÇÃO
ago-17 NOago-18
SALDO PJ POR PORTE
ago-19DE EMPRESA
ago-20 ago-21
24,2%
Participação no saldo PJ
20% 62%
60%
15%
12,1%
58%
10% 7,8% 8,5%
6,7% 56% 55,3%
5% 54%
ago-21
0% 52%
otal Micro Pequena Média Grande
Ago 19 Ago 21
29
Fonte: Banco Central.
Isso pode ser percebido no âmbito da FDC, na operação do Programa Parceiros para
Excelência (Paex), que congrega mais de quinhentas empresas distribuídas em todas as
regiões do Brasil. Com a pandemia, a expansão da liquidez derivada das medidas do Banco
Central e da expansão monetária promovida pelo governo, houve uma mudança significativa
no acesso ao crédito por parte das empresas médias, tanto no crédito para capital de giro
quanto no para expansão. O desafio agora consiste em atravessar uma fase de juros mais altos
e ainda assim manter os investimentos em determinados níveis favoráveis aos crescimentos
presente e futuro.
No mercado de trabalho, pode ser observado, também, a singularidade desta crise atual.
Diferentemente das crises anteriores, em que os trabalhadores informais compensam as
perdas dos empregos, nesta crise, em 2020, a principal fonte de desemprego se deu pela
retração dos trabalhadores informais. Em uma parte significativa desse efeito está a
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quarta-feira, 22 de setembro de 2021 ̶ Nota Inform
trabalhadores informais. Uma parte dessa diferenciação se deve à implementação do Programa Emerge
de Manutenção do Emprego (Bem), que limitou a queda dos empregos com carteira assinada.
implantação, por parte do governo, do Programa Emergencial de Manutenção de Emprego.
No 2T21, de acordo com a PNAD contínua, houve recuperação de quase 2 milhões de empregos info
Mas não
quando comparado aosomente por isso.
1T21, com altaAsde
próprias
5,4% características do emprego
com ajuste sazonal. informal
Antes da mais
crise,concentrado
em fev/2020, o tot
trabalhadores informais
em serviçosera de 40,4damilhões
e o impacto desetor
crise nesse pessoas. Noboa
explicam pior momento
parte da crise,
desse fenômeno. Nohouve
Gráfico redução d
milhões de empregos informais,
17, a evolução totalizandofica
dessa composição 33,5 milhões de trabalhadores. Já no 2T21, há 38,2 milhõ
clara.
trabalhadores informais, recuperando 4,7 milhões em relação ao vale de 2020.
GRÁFICO 17 - COMPOSIÇÃO DA VARIAÇÃO TOTAL DA POPULAÇÃO OCUPADA
Composição da variação total da população ocupada
Fontes: primária – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged); secundária – Banco Central:
Boletim Regional.
Importante observar que, embora esteja prevista uma retomada mais intensa do setor de
serviços com o avanço da vacinação, com o crescimento mais lento em 2022, também será
mais lento o padrão de ocupação.
2.7 Reformas
O primeiro indicador, exposto no Gráfico 18, apresenta uma série histórica do crescimento do
PIB desde 1947, portanto, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
12,0
Média: 7,3%
9,5
7,0
Média: 2,2%
4,5
2,0
-0,5
-3,0
-5,5
1947
1950
1953
1965
1968
1971
1983
1986
1989
2001
2004
2007
1956
1959
1962
1974
1977
1980
1992
1995
1998
2010
2013
2016
Fonte: IBGE
Analisando o gráfico fica claro que o modelo de desenvolvimento que permitiu mais de trinta
anos de crescimento médio acima de 7% não poderia ser o mesmo para o período posterior.
Vale lembrar que, para fazer essa jornada, criamos um Estado grande, mecanismo de proteção
ao setor produtivo, e conciliamos diversos grupos de interesse. Com isso, já geramos alta
dívida externa, depois alta dívida interna, hiperinflação e alta carga tributária. Em síntese,
precisamos reformar o Estado brasileiro porque não há mais alternativas possíveis de
continuar defendendo interesses específicos e sacrificando o crescimento e o atendimento
social aos que mais necessitam. A Figura 10 demonstra claramente a relação entre o tamanho
do Estado e a qualidade da entrega dos serviços essenciais à sociedade.
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O modelo de desenvolvimento adotado e que se mostra estagnado privilegiou a formação de
Estado grande, com forte ênfase na infraestrutura. Não que tenha sido totalmente ruim. As
médias apresentadas revelam que isso valeu para um certo período. O que não fizemos foi
desarmar esse modelo no tempo certo. Portanto, esse Estado grande hoje custa caro e é
ineficiente, como pode ser observado na Figura 10.
Vale notar que, dos países observados, o Brasil é aquele que mais gasta com a máquina pública
em percentual do PIB e o que menos entrega valor para a sociedade em qualidade de
infraestrutura, de segurança pública, dos sistemas de saúde e educação. Embora sejam dados
de 2015, não há evidências de que tenhamos melhorado, ao contrário, houve piora em muitos
aspectos.
§ A produtividade
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Outro tema relevante e que se relaciona com a necessidade das reformas em curso é a
produtividade. Trata-se de um tema que demanda vários estudos econômicos. Apesar da
crescente dificuldade de sua medição, dada a participação cada vez mais relevante dos
serviços e da tecnologia na economia, a produtividade tem importância crucial para o
desenvolvimento. Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, assim se refere ao tema: “A
produtividade não é tudo, mas, no longo prazo é quase tudo. A capacidade de um país para
melhorar o seu nível de vida ao longo do tempo depende quase que inteiramente da sua
capacidade de produção por trabalhador”.
No caso do Brasil, a produtividade se mantém estagnada desde a década de 1980. Isso tem
correlação com o Gráfico 18, que demonstra o fraco crescimento do PIB nesse mesmo
período. No Gráfico 19, pode ser observada essa trajetória.
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mais sob o nosso domínio e capacidade de alterá-los, parece que prevalecem. Com a demora
na adoção de medidas que mudem significativamente esse estado de coisas, quando
comparados, por exemplo, com os EUA, praticamente retomamos a posição anterior da
década de 1960. Isso pode ser observado no Gráfico 20.
Sabe-se que a produtividade está relacionada aos fatores de longo prazo. No entanto, fatores
de curto prazo também interferem nessa condição, como as alterações do arcabouço legal de
vários setores da economia e melhorias do ambiente de negócio. Nesse sentido, os avanços
já registrados e a agenda de medidas legislativas em curso conversam com essas demandas.
São todos esses aspectos, portanto, que nos levam à premência de reformar o país e avançar
no programa de privatização. É preciso ter em conta a necessidade de privatizar não somente
pela geração de resultados das estatais e sua eficiência em gestão, mas sobretudo pelas
demandas crescentes de investimentos. São exemplos claros os Correios e a Eletrobras. Em
que pesem todas as dificuldades – dadas a atuação de grupos de interesse e a complexidade
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política brasileira –, avanços foram registrados em reformas, como a da previdência, e em
medidas legislativas.
§ Medidas legislativas
Fonte: Fonte: Nota Informativa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, set. 2021.
- PL Cambial – 5.387/2019
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apresentarei uma breve consideração sobre a Reforma Tributária, suas características e
possibilidades de destravamento para fins de aprovação da reforma.
§ Reforma Tributária
A necessidade de uma reforma no sistema tributário brasileiro é justificada por vários motivos.
No entanto, entre tantas motivações, propostas e debates, parece que o impacto da reforma
na melhoria do ambiente de negócio é tema de convergência das distintas visões.
Isso diz respeito ao efeito das complexidades do nosso sistema tributário no ambiente de
negócios. Embora no bojo da reforma se discuta o Imposto de Renda, a verdadeira
complexidade deriva dos impostos sobre o consumo de bens e serviços ou impostos indiretos.
Estamos falando, basicamente, de cinco impostos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) geridos por três
entes da Federação. A União com PIS, Cofins e IPI, estados com o ICMS e municípios com o
ISS.
Pois bem, para exemplificar essa complexidade, somente no âmbito de PIS e Cofins existem
centenas de regimes tributários diferenciados e uma legislação de mais de duas mil páginas.
Suas intepretações geram litígios de toda natureza. Por sua vez, o ICMS também sofre
centenas de alterações por ano em cada estado. Tudo isso gera uma enorme insegurança
jurídica, deteriora o ambiente de negócio e diminui o fluxo de investimentos.
Não só isso. Para além da complexidade, o sistema tributário brasileiro se apresenta: caro;
desigual; regressivo e; como um dos fatores de desequilíbrio do sistema federativo. É caro
porque representa 32% do PIB. No entanto, é preciso levar em conta que a atual reforma não
reduz a carga tributária. O que possibilitará reduções será a sua combinação com a Reforma
do Estado e o avanço do programa de privatização. Significa que um Estado menor será menos
custoso, assim como exigirá menos investimentos. Portanto, criará possibilidade para
reduções de impostos.
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Em contrapartida, a desigualdade gerada pelos incentivos fiscais concedidos pelos estados
pode ser ajustada pela adoção do princípio de destino na aplicação do imposto. Tal como a
progressividade pode ser minimizada, em parte, pela devolução de impostos pagos para
famílias até dois salários-mínimos.
Todas essas soluções referentes à Reforma Tributária estão previstas no Substitutivo 192,
elaborado pelo Comsefaz (Comitê de Secretários de Fazenda dos Estados e Distrito Federal),
que concilia e aperfeiçoa as propostas da Câmara (PEC 45) e do Senado (PEC 110). Propõe,
também, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dividido em duas partes. Um IVA para os
tributos federais e um outro IVA para os impostos de estados e municípios.
Em síntese, o Governo Federal propõe que a implementação seja em partes, ou seja, primeiro
se consolidam os impostos federais (proposto na PL 3.887), depois se consolidará com os
estados e por fim com os municípios. Parece ser uma solução razoável, uma vez que minimiza
os conflitos e acelera a implementação. Pode-se perguntar se há algum país com IVA tríplice.
De fato, não há, mas nada impede que seja considerado como mecanismo de transição para
a reforma plena.
Começamos este artigo relatando as tensões globais existentes antes da pandemia e que
podem interferir na economia de forma estruturadora. São tensões bélicas no Mar do Sul da
China e em torno de Taiwan. Assim como a guerra comercial entre EUA e China, de modo
específico aquela que envolve a venda de tecnologia de comunicação para a implementação
da banda 5G. Nesse aspecto, o Brasil está no epicentro dessa disputa pelo leilão, a princípio
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marcado para novembro de 2021, de sua banda 5G. Segundo a OCDE, trata-se do maior leilão
de 5G no mundo.
Entre os aspectos da retomada da economia nos países avançados, bem como nos
emergentes, está uma perspectiva de crescimento para o mundo em torno de 4,9 % em 2022,
segundo projeções do FMI. São padrões acima do período anterior a pandemia, porém
concentrando a demanda por bens e elevando a inflação global. Embora já fosse esperado tal
fenômeno, outros fatore parecem interferir no tempo de incidência dessa inflação. Isso se
revela na subida dos preços de energia, no gargalo logístico gerados pela dispersão dos
contêineres, pela crise energética na China.
O desafio está em identificar o impacto causado por esses fenômenos na inflação global e sua
persistência, que por certo já está sendo observada como bem maior do que se esperava. De
forma especifica a desaceleração do crescimento da China, que seja pela crise energética ou
desaquecimento do mercado imobiliário, preocupa mais de perto a economia brasileira. Isso
já se reflete na queda dos preços de minério de ferro.
No âmbito da perspectiva para o Brasil vimos que durante a pandemia, 2020, o PIB caiu 4,1%.
Menos que o esperado e com retomada por volta de 5% projetados para final de 2021. Isso se
deu por conta de uma forte expansão dos gastos do governo durante a pandemia associado
com a capacidade de reação por parte das empresas brasileiras. Claro que, com a abertura de
gastos dessa natureza, se podia esperar um descontrole nas contas do governo em suas
despesas e uma elevação significativa da relação dívida/PIB.
No entanto, os diversos números apresentados revelam uma situação fiscal sob controle com
gastos decrescentes e relação dívida/PIB projetada para fina de 2021 em torno de 80%. Ainda
que existam problemas para serem contornados com as questões dos precatórios e aumento
do valor do Auxílio Brasil para R$ 400,00 parece no geral o rumo está mantido. Mas o risco
fiscal aumenta e cabe ao Ministério da Economia demonstrar que se trata de um ajuste isolado
e que futuras medidas, ainda que sejam de natureza social, não deteriorem as contas públicas
em médio e longo prazos.
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Por outro lado, embora exista uma subida global na inflação, no caso do Brasil as surpresas
com a subida da inflação puxada pelos preços de combustíveis energia e alimentos chamaram
a atenção do Banco Central e do mercado. Isso implica na adoção de uma política monetária
mais restritiva com taxas de juros mais altas e, portanto, com um crescimento menor
projetado para 2022.
Vimos, por diversas instituições, que o crescimento do PIB projetado no mês de novembro de
2021 varia entre 0,75% e 1,0%. A exceção foi a projeção do Itaú, de - 0,5%. O Ministério da
Economia, por meio da Secretaria de Políticas Econômicas, rebate as possibilidades de
projeções abaixo de 1% em 2022, dada a influência do carrego estatístico de 1,2% para 2022
(considerando um crescimento de 5,3% em 2021) e a necessidade de haver uma queda
significativa do PIB em 2022 ou uma nova recessão no próximo ano. Segundo a Secretaria esse
quadro de queda significativa ou recessão se revela pouco provável dado o contexto fiscal, o
avanço da vacinação e ausência da crise hídrica.
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Referências e Bibliografia
ADDISON, CRAIG – Silicon shield – Taiwan’s protection against Chinese attack. Fusion Pr. set.
2001.
BANCO MUNDIAL. Global productivity trends, drivers, and policies, jun. 2021.
MENDES, GILMAR. As mudanças essenciais na crise Covid-19 – impactos para o futuro. FDC, maio,
2020.
MENDES, GILMAR. Visão sistêmica da crise, gestão e perspectivas de saída. FDC, mar. 2020.
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