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Um testamento é um documento importante que pode prevenir vários conflitos entre

familiares, principalmente quando existem vários bens para distribuir, e também


garantir que a sua vontade seja cumprida, mesmo após a sua morte.
Para fazer um testamento em Portugal é preciso cumprir algumas regras e
procedimentos, pois este ato está legislado no Código Civil. Neste artigo, falamos de
alguns aspetos que deve considerar.

Posso escrever o meu próprio testamento?


Sim, pode. Em primeiro lugar é preciso saber que um testamento é um ato pessoal
e singular, que não permite testar no mesmo ato mais do que uma pessoa. Todas as
pessoas têm direito a fazer um testamento em vida, excepto os menores não
emancipados e pessoas que tenham incapacidade psíquica.
Em Portugal existem dois tipos de testamento, o público e o cerrado.
O cerrado é aquele que é escrito e assinado pelo testador, a pessoa que pretende
dispor dos seus bens após a sua morte. Este documento pode também ser escrito por
outra pessoa e assinado pelo testador. Após ter sido escrito e assinado, este ato tem
que ser aprovado por um notário. O documento oficial permanece confidencial até
à morte do testador.
Já o testamento público é um documento escrito pelo notário no seu livro de notas.
Ao contrário do cerrado, este documento fica público para consulta.
Se pretender escrever o seu próprio testamento deve saber que não existe nenhum
documento oficial para esse efeito. No entanto, é importante que a sua vontade não
deva dar possibilidade a diversas interpretações. Por isso, é aconselhável que redija
o documento de forma clara e objetiva, podendo recorrer a um advogado para ajuda
ou aconselhamento.
Nota: As pessoas que não sabem ou não podem ler, segundo o artigo 2208.º do
Código Civil, estão inibidas por lei de optar pelo testamento cerrado. Nestas
situações, as pessoas devem dirigir-se a um notário para que este escreva as suas
vontades no seu livro de notas.
Que documentos necessito?
Não é necessário levar muitos documentos, como prova dos seus bens, registo
predial, constituição da propriedade horizontal ou outros.
Para fazer um testamento apenas precisa de agendar o procedimento num notário,
público ou privado, e levar consigo o seu cartão de cidadão ou outro documento que
prove a sua identidade, como o passaporte ou a carta de condução.
Para além do documento de identificação, deve fazer-se acompanhar por duas
testemunhas, que também devem ter na sua posse os seus documentos de
identificação.
Em alguns casos excecionais, também pode ser necessária a intervenção de peritos
médicos que atestem a sanidade mental do testador. Esta intervenção pode ser
pedida pelo notário ou pelo próprio testador.
Quem pode beneficiar num testamento?
Em Portugal não é possível distribuir a totalidade dos seus bens segundo a sua
vontade. Existe um princípio básico na legislação portuguesa que salvaguarda os
herdeiros legitimários, chamada de "legítima".
Segundo o artigo 2157.º do Código Civil, os herdeiros legitimários, o cônjuge, os
descendentes (filhos) e os ascendentes (pais), têm sempre direito a uma parte da
herança, mesmo que o testador assim não o deseje. Por isso, apenas existe
liberdade em atribuir a parte livre da herança a quem desejar.
Em termos legais, a herança deve ser distribuída segundo os seguintes parâmetros:
 O cônjuge tem direito a metade da herança, quando não existem descendentes
ou ascendentes. Neste caso o testador pode atribuir livremente metade dos
seus bens a quem pretender.

 No caso de existirem descentes e cônjuge estes têm direito a dois terços da


sua herança. O testador fica com um terço dos seus bens para atribuir
livremente.

 No caso de apenas existir um único descendente, não existindo um cônjuge,


esse filho tem direito a metade do património, ficando a outra metade livre para
ser distribuída segundo a vontade do testador. Se existir mais que um
descendente, estes têm direito a dois terços da herança, ficando um terço livre
para ser atribuído.

 Por fim, caso existam apenas os ascendentes estes têm direito a metade da
herança, podendo a outra metade ser atribuída a quem pretender. Se existirem
apenas ascendentes de segundo grau, os avós, estes têm direito a um terço
dos bens do testamento, ficando dois terços dos bens para atribuir segundo a
vontade do testador.

Caso pretende escrever o seu testamento deve ter em consideração estas regras
para as suas vontades não serem consideradas nulas.
Que custos tenho?
O custo de um testamento varia consoante tenha escolhido o registo num notário
público ou privado. No caso de ter optado por um cartório notarial público, o valor de
um testamento público ou do instrumento de aprovação do testamento cerrado é de
159 euros.
Caso queira optar por um cartório privado o valor final é variável consoante o cartório
que escolher, podendo também aumentar caso precise de ajuda para escrever o
mesmo ou ainda consoante o número de certidões que sejam emitidas.
Nota: existem alguns cartórios notariais que não procedem ao registo deste ato. Pode
consultar a lista de exclusões no portal ePortugal, através dos serviços, selecionando
a opção fazer um testamento.

Posso fazer alterações depois de ter ido a um notário?


Sim, pode. Segundo o Código Civil o testamento é um ato livremente revogável, não
podendo o testador renunciar à faculdade de o revogar, seja num todo ou em parte.
Se a determinada altura pretender alterar o seu testamento, poderá fazê-lo e a
revogação tem sempre um custo associado.

Se eu não fizer um testamento, o que acontece aos


meus bens?
Caso opte por não fazer um testamento, os seus bens são atribuídos aos seus
herdeiros legítimos. Os herdeiros legítimos englobam os herdeiros legitimários e a
distribuição dos bens varia consoante cada caso, podendo na falta de parentes
acabar por ser entregue ao Estado.
Após a morte de uma pessoa e na falta de um testamento, os bens são atribuídos aos
herdeiros legítimos, segundo os seguintes escalões:

 Em primeiro lugar: Aos descendentes e cônjuge;


 Segundo lugar: caso não existam descendentes, ao cônjuge e ascendentes;
 No caso de não existir cônjuge, descendentes nem ascendentes, os bens
passam a ser atribuídos aos irmãos. Se algum dos irmãos tiver falecido, os
filhos do mesmo recebem a parte da herança que seria dada ao seu
ascendente.
 No caso de não existir a possibilidade de atribuir a nenhum dos parentes
anteriormente referidos, os bens passam para os familiares colaterais até ao
4.º grau, ou seja primos, sobrinhos-netos, tios-avós;
 Por fim, caso não exista nenhum parente referido anteriormente, os bens são
entregues ao Estado português.

IMPOSTOS POR RECEBER UMA HERANÇA


Os herdeiros legitimários não pagam qualquer imposto para receber a parte da
herança a que têm direito.
Todos os outros herdeiros, no entanto, deduzem 10% de todo o património que
receberem, e entregam ao Estado 10,8% do valor dos imóveis que herdarem.

É importante salientar que as pessoas que tenham vivido em união de facto não são
consideradas herdeiros legítimos, nem herdeiros legitimários. O único direito legal
que existe é o outro membro da união poder continuar a viver na casa de família
durante um período mínimo de 5 anos, caso não tenha habitação própria. Por isso, se
quiser que a pessoa com quem vive em união de facto tenha direito a uma parte livre
da herança, terá que fazer um testamento.
Nota final: Embora os herdeiros legitimários não tenham que pagar qualquer tipo de
imposto associado a uma herança, se for herdeiro de um testamento deve informar-
se sobre os impostos que pode ter que pagar.

28 julho 2020

Após a morte de um familiar, há que tratar da burocracia, formalizar a transmissão da herança


e partilhar os bens deixados. Ajudamos a seguir as regras, passo a passo.

É fácil sentir-se perdido perante a perda de um ente querido, numa altura em que há
um conjunto de obrigações a cumprir. A primeira coisa a tratar é do registo de óbito.
O delegado de saúde ou outro médico emite um certificado da morte, que permitirá
solicitar, no prazo de 48 horas, o pedido de registo junto da Conservatória do Registo
Civil. Este procedimento é gratuito e muitas agências funerárias encarregam-se desta
obrigação, em substituição dos familiares do falecido.

Quem fica como cabeça-de-casal?


A gestão da eventual herança deixada pelo falecido tem de ser conduzida pelo
cabeça-de-casal, até que os bens sejam partilhados. A pessoa chamada a assumir
esta função será, pela seguinte ordem:

 o cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e bens, se for herdeiro ou


tiver direito a metade dos bens do casal (meação);
 o testamenteiro, salvo declaração do falecido em contrário;
 os parentes, desde que herdeiros legais. A atribuição é feita ao mais próximo (filho, por
exemplo). E, entre os mais próximos, ao que vivia com o falecido há, pelo menos, um
ano;
 os herdeiros testamentários, ou seja, aqueles que são abrangidos pelo testamento,
sendo dada preferência ao mais beneficiado e, em caso de igualdade, ao mais velho.

Se nenhum dos herdeiros quiser esta responsabilidade, é preferível entregar a


administração da herança a outra pessoa (mesmo que não seja herdeiro), mas tem de
haver unanimidade. Na falta de acordo, a escolha pode ser feita pelos tribunais. Só em
condições especiais o herdeiro designado poderá recusar o cargo. Por exemplo, se
tiver mais de 70 anos ou uma doença que impossibilite tais funções.

Caso um herdeiro se sinta lesado com a atuação do cabeça-de-casal e pretenda


afastá-lo, poderá propor o seu afastamento, desde que comprove que ele:

 ocultou bens ou doações feitas pelo falecido e/ou indicou doações ou encargos
inexistentes;
 administrou o património hereditário sem prudência nem zelo;
 é incompetente para o exercício do cargo.

Certidão de óbito em papel ou versão online


A certidão de óbito comprova o falecimento. Pode requerê-la numa conservatória do
registo civil, numa loja do cidadão ou num dos mais de 80 Espaços Registos. Custa 20
euros. Se tiver como finalidade requerer prestações sociais, o preço desce para
metade.

Se não quiser ou não puder deslocar-se a um destes serviços, pode requerer uma
versão online da certidão, que custa 10 euros. O pedido é feito na plataforma Civil
Online, que fornece um código de acesso à certidão. Durante seis meses, o
documento fica disponível para consulta e tem os mesmos efeitos legais que a versão
em papel.

Quem é herdeiro?
Quando se pretende deixar a herança aos chamados herdeiros
legitimários (cônjuge, descendentes e ascendentes), não é preciso fazer testamento.
Mas para beneficiar mais alguém, como a pessoa com quem vive em união de facto
ou um irmão (no caso de o falecido deixar cônjuge, descendentes ou ascendentes),
deve expressar a sua vontade por escrito. É também o meio adequado para
reconhecer uma dívida, substituir um testamento anterior, perfilhar ou deserdar e
nomear um tutor para um filho menor (substituto dos pais, caso estes morram), fixar
legados ou indicar substitutos para os herdeiros, caso estes não possam ou não
queiram aceitar a herança. O testamento permite ainda determinar o tipo de cerimónia
fúnebre, entre outras.

O mais comum é não haver testamento e os bens serem divididos pelos herdeiros
definidos pela lei, por esta ordem: cônjuge e descendentes, cônjuge e ascendentes,
irmãos e seus descendentes, outros parentes na linha colateral até ao 4.º grau e o
Estado.

Os herdeiros mais chegados ao falecido são os primeiros a ser chamados à sucessão,


excluindo o direito de herdar dos mais afastados. Se, por exemplo, o falecido deixar
cônjuge e filhos ou só estes últimos, os seus pais não serão chamados à sucessão. Se
não deixar filhos, mas os pais sobreviverem, os seus irmãos não herdarão e assim
sucessivamente.

Dentro de cada classe, os parentes mais próximos têm prioridade. Ou seja, os pais
excluem os avós; os filhos afastam os netos e os parentes de 3.º grau impedem os de
4.º grau de receber algum bem. Se não sobreviver nenhum parente até ao 4.º grau da
linha colateral (primo, sobrinho-neto), a herança vai para o Estado.

Para beneficiar outras pessoas, deverá fazer um testamento. Outra possibilidade é a


utilização de uma convenção antenupcial, que, como o nome indica, é feita antes do
casamento. Nesta, os futuros cônjuges também podem renunciar reciprocamente à
herança do outro. Mas pode não ser livre de distribuir os bens a seu bel-prazer. A lei
protege o cônjuge, os ascendentes e os descendentes (herdeiros legitimários),
garantindo-lhes uma quota do património. Trata-se da “quota indisponível” ou
“legítima”, parte da herança que foge à livre disposição do seu titular, e que varia
consoante os herdeiros.

Para calcular esta quota, há que ter em conta o valor dos bens na data do óbito e dos
doados, as despesas sujeitas a colação (correspondem às doações feitas em vida a
descendentes que sejam herdeiros - e somente a eles - sendo somadas ao quinhão da
pessoa em causa) e as dívidas da herança. O capital proveniente de um seguro de
vida é exceção a estas regras, pois qualquer pessoa pode ser beneficiária. É até
possível que esse capital ultrapasse o valor do património deixado em herança.

Apurados todos os herdeiros, o cabeça-de-casal deve proceder à habilitação de


herdeiros num cartório notarial ou Balcão Heranças. Serve para identificar os
herdeiros do falecido. Só quem consta da habilitação de herdeiros tem direito a parte
da herança.

Dívidas também são herdadas


Ninguém é obrigado a aceitar uma herança, mas se a aceitar, tem de recebê-la por
inteiro, incluindo eventuais dívidas. Ainda assim, as dívidas do falecido só têm de ser
pagas até se esgotar o valor correspondente ao da herança, mas cabe ao herdeiro
provar que já não há mais bens para saldá-las. Por isso, poderá ser interessante
proceder a uma aceitação a benefício de inventário: só respondem pelas dívidas os
bens que constem do inventário. Ao herdeiro está vedada a possibilidade de impor
condições para a aceitação.

Se, após o falecimento, um herdeiro passou a utilizar os bens do falecido como se


fossem seus ou a residir na casa dele, entende-se que aceitou a herança. Trata-se da
“aceitação tácita”. Mas esta também pode ser “expressa”, quando o beneficiário
declara por escrito que é essa a sua intenção. Para tal, basta enviar uma carta ao
cabeça-de-casal ou ao testamenteiro (representante do falecido). Este direito
de aceitar ou repudiar os bens caduca 10 anos após ter conhecimento de que é
beneficiário da herança.

Já se o herdeiro quiser rejeitar a herança, deve manifestar o repúdio sempre por


escrito e seguindo as regras para a alienação da herança. Por outras palavras, se a
herança contiver bens imóveis, deve fazê-lo por escritura pública ou documento
particular autenticado. O cônjuge do herdeiro tem de dar o consentimento, exceto se
forem casados no regime de separação de bens. Do documento de repúdio deve
constar se tem ou não descendentes. Estes podem querer aceitar a herança. Se os
descendentes forem menores, os pais devem pedir autorização ao Ministério Público
para repudiar. Para os bens móveis, basta assinar um documento particular.
Recusada a herança, o quinhão vago será disputado pelos restantes herdeiros,
privilegiando-se o “direito de representação”. Se, por exemplo, o pai repudiou a
herança do avô, o neto é chamado a aceitá-la.

Animais não podem herdar


Apesar de os animais de companhia já não serem considerados "coisas", não têm
capacidade sucessória. De acordo com o Código Civil, tal está reservado ao Estado e
a todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da sucessão (ou
seja, no momento da morte do seu autor). Também têm capacidade sucessória, por
exemplo, as pessoas coletivas e as sociedades.

Assim, os animais de companhia não podem receber heranças. No entanto, nada


impede que o dono deixe, por testamento, uma parte da herança a uma determinada
pessoa, sob a condição de esta cuidar do seu animal de companhia (alimentar, levar
ao veterinário, levar à tosquia, entre outros cuidados).

Relação de bens nas Finanças


O cabeça de casal tem até ao terceiro mês após a morte do familiar para participar a
ocorrência ao serviço de Finanças, apresentando o modelo 1 do Imposto do Selo.
Deverá levar a certidão de óbito e os documentos de identificação da pessoa falecida
e de cada um dos herdeiros. Se existir um testamento ou uma escritura de doação,
estes terão de ser também apresentados. Simultaneamente, deve ser entregue o
Anexo 1, com uma listagem dos bens do falecido (relação de bens) e o respetivo
valor.

Por lei, a transmissão de bens para cônjuges e para descendentes ou ascendentes


diretos (filhos ou pais) é gratuita. O mesmo já não acontece quando os herdeiros são,
por exemplo, irmãos ou sobrinhos do falecido. Neste casos, é cobrado imposto de selo
à taxa de 10% sobre o valor total dos bens declarados.

Partilhar os bens
A partilha dos bens pode ser pedida por qualquer herdeiro. Se houver acordo entre
todos, basta dirigirem-se a um cartório notarial ou ao Balcão Heranças. Não havendo
acordo, não sendo possível contar com a participação de, pelo menos, um dos
herdeiros ou ainda em caso de incapacidade de um deles, procede-se ao inventário
dos bens, que pode avançar num cartório notarial ou num tribunal. É necessário
apresentar a certidão de óbito e a relação dos bens, bem como identificar todos os
herdeiros.

Também quando existam herdeiros menores, é natural que o Ministério Público, para


salvaguarda dos interesses destes, requeira a abertura de inventário. Se os herdeiros
acabarem por chegar a acordo na distribuição dos bens, não precisam de licitar os
bens que integram a herança. Caso contrário, ainda no processo de inventário, os
herdeiros devem licitar os bens, isoladamente ou em lotes. A licitação segue o
procedimento típico de um leilão. Quem oferecer mais dinheiro, garante o bem para si,
sendo que o valor final integra o “bolo” a distribuir por cada herdeiro. Durante o
processo, qualquer herdeiro pode requerer a avaliação dos bens que fazem parte da
herança.

A partilha pode ser impugnada, por exemplo, se incidiu sobre bens que não faziam
parte da herança. Neste caso, o beneficiário a quem foram distribuídos os bens
alheios é indemnizado pelos restantes na proporção dos quinhões recebidos.

E os bens doados?
Não é possível em vida procurar alterar as regras sucessórias, procurando, por
exemplo, oferecer bens a um dos filhos, de forma a beneficiá-lo em relação aos
demais. A lei obriga a que o montante correspondente a doações feitas a
descendentes, e somente a eles, seja somado ao quinhão da pessoa em causa (a
chamada “colação”). Se o total prejudicar a quota dos restantes herdeiros legitimários,
poderá ser reduzido. Assim, presume-se que o falecido pretendia apenas adiantar-lhe
uma parte dos bens e não beneficiá-lo em detrimento dos outros herdeiros. No
entanto, pode, no momento da doação ou por testamento, dispensar a colação,
deixando a um dos herdeiros a parte correspondente à quota disponível. Este acabará
eventualmente por receber mais do que os outros.

A colação não se aplica a despesas com casamentos, prestação de alimentos e, por


exemplo, auxílio de um filho no início da sua vida independente, de acordo com o que
seja normal tendo em conta a condição social da família.

02 setembro 2020
Quando alguém morre, o Estado não fica automaticamente com uma parte do dinheiro
que estava depositado nas contas bancárias do falecido.
Quando alguém morre, o Estado tem direito a ficar com uma parte ou todo o dinheiro
dessa pessoa que esteja depositado no banco? A resposta é “não”, mas muitos
cidadãos ainda acreditam que sim, por isso vamos desmistificar esta ideia.

Os cônjuges (casados ou unidos de facto), os filhos, os netos, os pais ou os avós de


uma pessoa falecida estão isentos do pagamento de imposto de selo, aplicável às
heranças, quer sobre as contas quer sobre outros bens que venham a herdar. Para
movimentar o dinheiro depositado nas contas, o cabeça-de-casal tem de apresentar
ao banco a comunicação do falecimento, tal como a relação de bens entregue nas
finanças. Fica assim registado o montante que estava depositado na data de
falecimento.

Se os herdeiros são irmãos, sobrinhos ou tios do falecido ou quaisquer outras pessoas


beneficiadas, por exemplo, através de testamento, têm de pagar 10% de imposto
sobre o valor dos bens recebidos. Para que a conta possa ser movimentada
legalmente, sem prejudicar o fisco ou os herdeiros, o cabeça-de-casal também tem de
apresentar a comunicação de falecimento e a relação de bens, tal como os
comprovativos do pagamento do imposto.

Não interessa se houve partilha ou não, porque o cabeça-de-casal é o responsável


pelas declarações. Caso a partilha não seja imediata, ficam registados para o futuro os
valores que estavam na ou nas contas à data do óbito. Desde 2008, é possível saber
se um falecido tinha ativos financeiros em bancos. O cabeça-de-casal pode pedir a
informação gratuitamente no portal do cliente bancário.
 
29 outubro 2020

Extratos bancários, recibos de seguros ou correspondência ajudam a identificar


os bens de alguém que morreu. Se a estratégia falhar, há outras formas de
obter estas informações. Saiba quais.

A lei garante a transmissão dos bens para o cônjuge, descendentes e


ascendentes. Quando não existem familiares próximos, está prevista a
sucessão até ao 4.º grau da linha colateral (primo “direito”). Por isso, muitos
portugueses não fazem testamento. O testamento revela diversos aspetos,
como os herdeiros, o património do falecido e as disposições a seguir quanto
aos restos mortais. Indicamos os passos a seguir para saber se foi
contemplado e receber sem problemas a sua parte.
Comece por procurar o testamento
Para apurar se consta do testamento, faça o pedido online da certidão sobre
existência de testamento. As informações podem ser prestadas a qualquer
pessoa, sem autenticação, depois do falecimento do testador. Para que a
certidão possa ser emitida, deverá indicar o maior número de elementos
relativos à pessoa que fez o testamento, como, por exemplo, nome, data de
nascimento, naturalidade e/ ou filiação. A data e o lugar do óbito também
devem ser indicados e, se for do seu conhecimento, a Conservatória do
Registo Civil Português onde foi registado o óbito e o respetivo número e ano.
O pedido online de certidão sobre a existência de testamento custa 25 euros.

Em alternativa, pode fazer o pedido através da Conservatória dos Registos


Centrais, em Lisboa (213 817 600 ou registos.centrais@irn.mj.pt). Este serviço
é responsável pela organização e manutenção do índice geral de testamentos
e informa sobre a data e cartório em que foram realizados.

Deve acompanhar a entrega do requerimento com a certidão de óbito do


testador. Pode pedi-la numa Conservatória do Registo Civil. As conservatórias
do registo civil podem servir de intermediárias com a Conservatória dos
Registos Centrais, podendo os requerimentos, declarações e documentos para
a instrução de atos e processos daquela conservatória ser apresentados em
qualquer conservatória do registo civil.

Em vida, só o próprio ou um procurador com poderes especiais têm acesso


ao testamento.

Identificar seguros e investimentos do falecido


Os beneficiários de seguros de vida, acidentes pessoais ou capitalização são
os identificados na apólice. Moradas nem sempre existem, pelo que as
seguradoras podem não conseguir informar os interessados. Se suspeita de
um seguro a seu favor, contacte a Autoridade de Supervisão de Seguros e
Fundos de Pensões.

Os ativos financeiros também podem ser alvo de busca. Se tem dúvidas sobre
contas e produtos bancários, contacte o Banco de Portugal. Através do site
desta instituição, na área da “Base de Dados de Contas”, chega à página do
supervisor bancário destinada a ajudar os beneficiários de heranças a localizar
ativos financeiros. O pedido de localização é gratuito, mas apenas pode ser
solicitado pelo cabeça-de-casal, ou seja, a pessoa que está encarregada da
administração da herança. A consulta pode ser realizada através da internet,
presencialmente em qualquer posto de atendimento ao público do Banco de
Portugal ou através do envio pelo correio de um formulário próprio, também
disponibilizado na página do supervisor.

Se a dúvida se prende com Certificados de Aforro ou do Tesouro, a solução


passa por questionar a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida
Pública - IGCP. Os herdeiros têm de solicitar ao IGCP uma declaração de
valores à data do óbito não só para impedir a prescrição, mas também porque
os montantes têm de ser declarados ao fisco, mesmo que os beneficiários
estejam isentos.

Se o falecido investia em ações e obrigações através de um corretor, a tarefa


pode ser mais difícil. Caso desconheça o corretor, pode tentar obter
informações junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ou de
instituições financeiras com as quais o falecido trabalhasse para saber se tem
bens mobiliários à sua guarda. Os extratos bancários podem ser uma ajuda.

Como transferir os bens para os herdeiros


Para que os bens sejam partilhados ou transmitidos aos herdeiros, estes precisam de
alguns documentos: certidão de óbito e habilitação de herdeiros. Devem apresentá-
los em conjunto à instituição que detém os ativos financeiros. Para além destes dois
documentos, os herdeiros também têm de demonstrar que se encontra pago o imposto
de selo relativo à transmissão desses depósitos ou, caso se verifique a isenção deste
imposto, que se encontra cumprida a obrigação de declaração da transmissão junto do
serviço de finanças competente. Na falta de um herdeiro, todos têm de esperar pela
partilha. Para valores mobiliários (por exemplo, ações e obrigações), deve ser ainda
obtida uma certidão da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a entregar às
Finanças.

As ações cotadas em bolsa e as obrigações ao portador são registadas na


conta dos herdeiros e depois na entidade emissora ou intermediário financeiro.

Os valores em contas a prazo ou à ordem podem ser transferidos para


depósitos de que os herdeiros sejam titulares. É necessário o documento de
habilitação. O mesmo acontece com os capitais contratados nos seguros, que
devem ser resgatados e atribuídos aos beneficiários.

Para transferir Certificados de Aforro e outros títulos da dívida pública, os


herdeiros têm de apresentar um requerimento à Agência de Gestão da
Tesouraria e da Dívida Pública. Atenção aos prazos: série A e B prescrevem
5 anos a contar do óbito, se tiver ocorrido antes de 4 de maio de 1997, ou 10
anos, depois desta data. Os da série C prescrevem em 10 anos.

Declarar herança em 7 questões

O cônjuge, unido de facto (transmissões após 1 de janeiro de 2009), pais e


filhos não pagam imposto de selo sobre os bens recebidos. Mas são obrigados
a declará-los. Saiba como dominar o modelo 1 e os seus anexos.

Os contribuintes que precisam de entregar a declaração do modelo 1 do


imposto de selo e respetivos anexos deparam-se com inúmeras dificuldades. O
preenchimento é complicado. Veja as nossas recomendações.

Herdeiros isentos

As transmissões a favor do cônjuge, unido de facto (transmissões após 1 de


janeiro de 2009), filhos, netos, pais e avós, etc. estão isentas de imposto de
selo. Se estiver nesta situação, passe para o item Quem declara o quê. Estes e
outros beneficiários, independentemente do grau de afinidade ou parentesco,
incluindo irmãos, têm de pagar 10% sobre os bens recebidos, exceto os não
sujeitos a imposto. 

Valor do imposto
A taxa de imposto de selo é sempre de 10 por cento. Imaginando que a
herança é composta apenas por um imóvel com um valor patrimonial tributário
de € 200 mil, pagaria € 20 mil (200 mil × 10%) de imposto de selo.

Bens sem imposto


É o caso de dividendos de ações; bens pessoais (roupa, calçado, relógios, etc.)
ou domésticos (eletrodomésticos, mobílias, etc.); fundos de poupança-reforma
e educação, de poupança em ações, de pensões ou de investimento mobiliário
e imobiliário; créditos provenientes de seguros de vida, de pensões e de
subsídios da Segurança Social.

Quem declara o quê


Cabe à pessoa que gere o património do falecido até à partilha (denominado
“cabeça-de-casal”) declarar bens como apartamentos e terrenos, entre outros
imóveis, automóveis, barcos, motos e todos os bens móveis sujeitos a registo.
Só ficam de fora os bens referidos na questão anterior. Para tal, é necessário
preencher a declaração de modelo 1 do imposto de selo e respetivos anexos.
Os anexos I e II são obrigatórios. Já o III só é necessário quando haja mais de
quatro herdeiros. Poderá encontrá-los nos serviços de finanças, ou imprimi-los
através do site da Autoridade Tributária e Aduaneira. Os bens recebidos pelo
cônjuge, unido de facto, ascendentes e descendentes, apesar de isentos de
imposto de selo (exclui o dinheiro depositado no banco), têm de ser declarados
ao fisco.

Formalidades e prazo
 A pessoa que gere o património até à partilha tem de comunicar o falecimento
ao serviço de finanças. Esta participação é feita no modelo 1 do imposto de
selo, indicando, entre outros, o autor da sucessão, a data e o local do óbito, os
sucessores, o parentesco, o património e o seu valor (a chamada “relação de
bens”). Tem um prazo de 3 meses que, em circunstâncias excecionais, poderá
ser prolongado, no máximo, por 60 dias. Existindo imóveis na herança cujo
valor patrimonial tributário não preveja as novas regras do IMI, será necessário
submetê-los a avaliação do fisco. Só depois o processo terá seguimento. Se
não fizer a participação no prazo legal ou a declaração contiver erros e/ou
omissões, pode ser instaurado um processo de liquidação oficioso. Ou seja, o
fisco tratará de deduzir o imposto ao património deixado, dividindo os quinhões
de cada beneficiário depois de descontado este montante. Isto tendo em conta
a proporção de imposto que cabe a cada herdeiro. Antes de o processo ser
iniciado, os infratores são notificados para participarem ou corrigirem as
omissões, entre 10 a 30 dias. Se a participação não for feita, o fisco avança
para a liquidação oficiosa. Mesmo sem imposto a pagar, estará sujeito a uma
coima de 100 a 2 500 euros.

Calcular o valor dos bens


Para apurar o valor sujeito a imposto, o fisco tem em conta a natureza dos
bens ou direitos transmitidos, entre outros. Nos bens imóveis (casas, etc.), será
tido em conta:

 o valor patrimonial tributário, segundo as regras do IMI, inscrito na matriz na


data da transmissão;
 nos prédios omissos, inscritos sem valor patrimonial ou não atualizado pelas
regras do IMI, o determinado por avaliação ou o declarado, consoante o que for
maior. Nos bens móveis, recorre-se ao seu valor oficial (cotação do ouro, por
exemplo), se existir, ou o declarado, consoante o que for maior, devendo
aproximar-se ao valor de mercado. Mas há exceções. É o caso dos
automóveis, motociclos, aeronaves de turismo e barcos de recreio automóveis.

Para estes, é considerado o maior dos seguintes:

 o valor de mercado;
 o determinado pelo código do IRS. Em caso de dúvida, o fisco recorrerá a
técnicos especializados.

Quem paga o imposto e quando 


O cabeça-de-casal recebe uma notificação para pagar o imposto relativo à
totalidade dos bens da herança. Depois, deverá fazer contas com os restantes
beneficiários. Se não concordar com o valor apurado pelo fisco, pode recorrer.
Tem até ao fim do segundo mês após a notificação para o fazer. Para não se
esquecer, receberá um documento de cobrança um mês antes da data-limite.
Sempre que o valor do imposto de selo for superior a mil euros, o serviço de
finanças irá proceder à sua cobrança em prestações. Podem ser até 10
prestações, com um mínimo de € 200 cada. A primeira, 2 meses após a
notificação e, as restantes, de 6 em 6 meses. Se puder, pague a pronto, pois
beneficia de uma redução de 0,5% sobre o valor das prestações, exceto da
primeira. Para tal, avise o serviço de finanças até 15 dias após receber a
notificação.

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