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Mineiros – GO
2018
CAROLINA SILVA NAVES
Mineiros - GO
2018
Ficha Catalográfica
Serviço de Documentação Universitária
Biblioteca Central ‘Dom Eric James Deitchman’
Resultado: ____________
BANCA EXAMINADORA
(Autor Desconhecido)
RESUMO
O presente trabalho trata-se de um estudo sobre a cultura do estupro, que atualmente vem
ganhando grande notoriedade, por vários casos de violência sexual estarem sendo divulgados
na mídia. É um tema ainda pouco discutido na sociedade, por assuntos relacionados ao corpo e
a sexualidade ainda serem um tabu. No entanto, o tema estupro ainda continua sendo banalizado
e excluído de discussões perante a sociedade. Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo
demonstrar a contribuição da cultura machista no estupro de mulheres, para promover
discussões e debates sobre o tema, sendo que essa cultura é também disseminada pelas
mulheres. Para o embasamento teórico utilizou-se de alguns autores, como Ash (2015) trazendo
alguns aspectos da história do estupro, Canela (2012) expondo sua concepção do que é estupro,
Leite (2016) demonstrando sua ideia da transferência geracional de valores e atitudes machistas,
Filho e Fernandes (2014) falam sobre naturalização do estupro, Pompermaier (2016) discute
sobre a culpabilização da vítima de estupro, Cerqueira e Coelho (2014) descrevem sobre as
consequências do estupro, assim como é de relevância tratar sobre a lei 13.718, na qual oferece
apoio a vítima de estupro, Bomfim e Andrade (2012) discorrem sobre a importância de uma
escuta empática e uma intervenção psicológica à pessoas que sofreram de violência sexual. Os
métodos utilizados na pesquisa tiveram a combinação de serem exploratória, explicativa e
descritiva. Por fim, a pesquisa constatou que em pleno século XXI a sociedade ainda perpassa
por atitudes de culpabilizar a mulher, vítima, como responsável por ter sido violentada.
The present work deals with a study on the culture of rape, which is currently gaining notoriety,
as several cases of sexual violence are being reported in the media. It is a subject still little
discussed in the society, for subjects related to the body and the sexuality still being a taboo.
However, the topic rape still remains banalized and excluded from discussions with society.
Thus, the research aims to demonstrate the contribution of the macho culture in the rape of
women, to promote discussions and debates on the subject, and this culture is also disseminated
by women. For the theoretical background, some authors, such as Ash (2015) bringing some
aspects of the rape history, Canela (2012), exposing his conception of rape, Leite (2016),
demonstrating his idea of the generational transference of values and attitudes male chauvinist,
Filho and Fernandes (2014) talk about naturalization of rape, Pompermaier (2016) discusses
the blame of the rape victim, Cerqueira and Coelho (2014) describe on the consequences of
rape, just as it is relevant to deal with the law 13,718 , which offers support to the rape victim,
Bomfim and Andrade (2012) discuss the importance of empathic listening and psychological
intervention to people who have suffered from sexual violence. The methods used in the
research had the combination of being exploratory, explanatory and descriptive. Finally, the
research found that in the XXI century society still runs through attitudes of blaming the
woman, victim, as responsible for having been violated.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 10
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................................... 13
2.1 O ESTUPRO AO LONGO DA HISTORIA ........................................................................................ 13
3 METODOLOGIA ............................................................................................................................. 35
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 38
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1 INTRODUÇÃO
liberdade, bem como, o julgamento da sociedade a partir de crenças religiosas morais, que
acabam por culpar a vítima por terem sofrido o ato violento.
Contudo, podemos perceber que a sociedade em geral, é em parte responsável por
transmitir a cultura da permissividade, no qual, as mulheres são ensinadas a serem submissas
ao homem e da violência através do patriarcalismo1, de atitudes machistas e através do
capitalismo, em que a mídia e várias empresas divulgam a exposição do corpo das mulheres,
ou seja, transforma o corpo das mulheres em um objeto.
Diante dessas questões, podemos perceber que a sociedade contemporânea educa
crianças como sendo correto manter mulheres submissas, já que é vista como um ser inferior
ao homem. Assim, deve-se repensar em novas formas de educação, no qual, as crianças devem
estar focadas em ideais diferentes, buscando constructos diferentes do patriarcado, evitando
dessa forma novas transmissões de valores abusivos e perpetuação da cultura patriarcal.
Portanto, DeSouza (2017) afirma que novas gerações devem ser instruídas a uma nova maneira
de pensar, para que assim seja tomado novos caminhos.
Sá, Carvalho e Souza (2018) defendem a necessidade de incluir na sociedade uma
despatriarcalização do Estado, promovendo o debate sobre gênero em todas as esferas de
governo, Legislativo, Judiciário e Executivo. Para que dessa forma, a sociedade se torne mais
crítica, ou seja, enfrente a realidade opressora em que se vive os brasileiros (as).
A realização deste trabalho se deu pelo fato do tema ser pertinente ao momento atual,
trazendo várias discussões referentes ao mesmo, devido surgirem muitos casos na mídia de
mulheres que foram estupradas, envolvendo até mesmo pessoas famosas como sendo
agressoras.
Contudo, na sociedade contemporânea, a violência sexual ainda é considerada um tabu,
por se tratar de um assunto que as pessoas tem receio de falar. Sendo um problema na vida de
muitas mulheres. Por isto a importância de abordar este assunto, fazendo com que o tema esteja
presente na sociedade e no diálogo entre as pessoas, pois quanto mais informadas estejam as
pessoas sobre a problemática, mas elas se sensibilizam e tornam-se dispostas a buscar soluções
para tal questão, até para que as mulheres busquem seus direitos.
Diante da violência sexual, surgem consequências como, contrair doenças sexualmente
transmissíveis, danos psicossociais, apresentando transtornos de comportamento, estresse pós-
1 Patriarcalismo é um sistema social em que homens adultos mantêm o poder primário e predominam em funções
de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades. No domínio da família, o pai (ou figura
paterna) mantém a autoridade sobre as mulheres e as crianças.
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traumático, ou até mesmo transtornos sexuais. Vale ressaltar que os danos causados, sendo
graves ou não, sua superação irá depender da resiliência de cada indivíduo.
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar como a cultura do machismo
influencia no estupro de mulheres. Entre as características principais desta cultura estão a
culpabilização da vítima, banalização e normalização da violência sexual contra a mulher, a
transferência geracional de valores e atitudes machistas e a objetificação do corpo da mulher.
Durante o desenvolvimento deste trabalho se fez importante discorrer sobre algumas
das consequências físicas e psicológicas do estupro e como a psicologia poderia intervir com a
vítima dessa violência, para melhor entendimento utilizou-se a abordagem analítico-
comportamental. Para abordar estes assuntos, serão referenciados alguns autores, como Nobre
(2015), Freitas (2016), Leite (2016), Martins (2016), Priore (2017), Peixoto e Maia (2017),
entre outros.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Na revista Guia Mundo em Foco (2016) na Idade Média, na Inglaterra, o estupro era
considerado um crime, mas não entre casais. Nessa época, entre os séculos XII e XIII ocorreram
as Cruzadas, período em que houveram milhares de mortos, momento também em que houve
grande parte de mulheres judias e mulçumanas violentadas sexualmente, como forma de poder
e dominação. Nem as freiras foram poupadas do ato violento. Na época da Idade Média, a
mulher considerava que ser estuprada era o mesmo que ser assassinada, pois era um motivo de
desonra, era tida como culpada, alegando, que ela teria seduzido o homem, que não pode resistir
aos seus encantos.
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o estupro era usado como arma para
aterrorizar a população inimiga. Ash (2015) revela que existem registros em um diário de um
oficial soviético judeu, Vladimir Gelfand, de que soldados do Exército Vermelho de Stálin
estupraram milhares de mulheres alemãs. Uma das revelações mais marcante é a de sua chegada
em Berlim, na qual relata seu encontro com um grupo de mulheres alemãs. Sendo assim, ele
perguntou a elas onde estavam indo e o motivo de terem saído de casa. E uma delas respondeu:
"Eles cutucaram aqui a noite toda. Eles eram velhos, alguns estavam cobertos de espinhas e
todos eles montaram em mim e me cutucaram, não menos do que 20 homens” (sic). Outra falou:
“Eles estupraram minha filha na minha frente e eles ainda podem voltar e estuprá-la de novo”
(sic).
Para Ash (2015), os alemães estavam distante de uma imagem de disciplina. Já que
judias eram violentadas pelos soldados alemães. Estima-se que o número de mulheres
estupradas em Berlim é de 100 mil e 2 milhões em território alemão.
Ainda segundo a revista Guia Mundo em Foco (2016), em um resgate histórico podemos
passar por várias culturas e tempos e veremos a mulher sendo tratada como um objeto, tendo
como papel servir o homem, atender aos seus desejos, sendo assim, submissa a ele. Textos
mitológicos comprovam que o estupro existe muito antes de Cristo. Como a lenda de Zeus, um
dos deuses gregos, que estuprou Leda, uma mortal, enquanto tomava banho. Outro caso, foi de
Medusa, linda e conhecida por seus belos cabelos. Foi violentada sexualmente no templo de
Athena, e condenada a virar um monstro com serpentes no lugar de seus cabelos, transformando
em pedra todos que a olhavam em seus olhos.
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De acordo com o mesmo autor as histórias como essas contribuíram para que fosse
cristalizada na sociedade a ideia de que a mulher poderia ser violentada e o agressor sairia ileso,
e que muitas vezes a vítima sairia como culpada. Não muito diferente do que ocorre na
sociedade contemporânea. Antes de Cristo e na Antiguidade já se existia assuntos relacionados
ao estupro. Como referenciado na Bíblia, no capitulo de Gênesis, relatando a história de Diná,
filha de Lia, na qual fora estuprada por Siquém. O seguinte capítulo declara: “E saiu Diná, filha
de Lia, que está dera a Jacó, para ver as filhas da terra. E Siquém, filho de Hamor, heveu,
príncipe daquela terra, viu-a, e tomou-a, e deitou-se com ela, e humilhou-a” (sic).
Ainda na bíblia em Êxodo, capitulo 20, versículo 17, a revista Guia Mundo em Foco
(2016), conta como as mulheres eram vistas naquela época, consideradas como objetos e
propriedades, incluindo-as em uma lista de coisas que não devem ser cobiçadas. O estupro ainda
não era considerado um crime, como algo forçado, classificavam-no como adultério ou
fornicação, caso a mulher fosse casada, ou virgem, respectivamente, ou seja, as mulheres
sempre eram consideradas culpadas e criminosas enquanto os homens, vítimas.
O autor traz que na Babilônia, se a mulher fosse estuprada por um homem, não sendo o
homem prometida a casamento, o estuprador era executado. Mas caso a mulher fosse casada, a
mesma poderia ser condenada por adultério. Em alguns casos o marido ou o pai da vítima de
estupro poderia estuprar a esposa do criminoso. Isto é, gerava-se mais sofrimento a outras
mulheres e não culpava-se o homem, sendo ele próprio responsável pela violência e não sua
mulher.
Para a revista Guia Mundo em Foco (2016), em Israel, se o estupro ocorresse no
perímetro urbano, a vítima deveria gritar e pedir socorro, evitando assim o crime. Nesse caso,
o homem agressor e a mulher vítima eram apedrejados até a morte. Agora, caso o estupro
ocorresse na área rural, a mulher era considera inocente, no entanto, precisava casar-se com o
agressor. E caso estivesse comprometida o casamento era cancelado, pois a consideravam um
produto danificado, sem utilidade.
Conforme a revista Guia Mundo em Foco (2016), na Grécia ou Roma Antiga, não havia
uma definição de violência sexual, não era considerado um crime de propriedade, mas a mulher
era julgada como sendo culpada pelo ato violento. A Roma considerava o estupro como uma
relação sexual ilícita, punindo o sequestro das mulheres, e não o estupro. Na Grécia Antiga, o
estupro de mulheres estrangeiras ou escravas não era punível.
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Diante do que foi discutido neste tópico, percebemos a utilização do termo violência,
além de pautar sobre este viés, devemos também discutir sobre a importância de se definir o
termo violação, sendo eles assuntos que estão intimamente ligados ao estupro.
Guimarães e Pedroza (2015) afirmam que a violência e a violação são conceitos que
estão intimamente ligados ao estupro, pois são uma das características inerentes ao estupro,
devido estar envolvendo o excesso de algum ato, ou seja, excesso que ultrapassa os limites do
que é estabelecido pela sociedade como sendo norma, regra e permitido. O indivíduo é sujeito
a negação de sua igualdade se tornando, o diferente, discriminando seu desejo. Dessa forma, o
mesmo se torna objeto do outro, retirando sua capacidade de desejar e sua singularidade, sendo
assim um ato de violação de seus direitos.
Segundo Marques e Souza (2018), violência neste contexto refere-se ao controle que o
homem exerce sobre a vida da mulher. No entanto, quando falamos em violência, logo
pensamos em um ato de violência física. A partir disso, a autora sugere que não se deve
conceituar violência somente como o uso de força física, bem como, também fatores
psicológicos, sociais, econômicos, políticos e ideológicos, realizando uma análise diversificada
do contexto.
Existe uma ligação entre o conceito de Saffioti2 (2011), Marques e Souza (2018), pois
esta autora considera que a violência está interligada as integridades física, psicológica, moral
e sexual, e para Saffioti (2011) há a existência de uma característica subjetiva do indivíduo, ou
seja, para cada mulher ocorre a distinção do significado de violência. Em que a violência refere-
se a todo ato que viola os direitos humanos.
Devido ao processo de banalização e naturalização da violência, muitas situações de
violência que as mulheres vivenciam acabam fazendo parte do cotidiano, deixando de ser
identificada.
Para Hanada, Oliveira e Schraiber (2010),
2 Heleieth Saffioti (1934-2010) foi uma socióloga, professora, escritora e pensadora feminista, uma das prestigiadas
pesquisadoras sobre a questão de gênero no Brasil. Em 1995, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz, juntamente com 51
brasileiras. Em 2012, criou-se o Prêmio Heleieth Saffioti, lançado no dia 19 de março de 2013, este Prêmio destina-se às
mulheres e entidades de classe que tenham se destacado no combate à discriminação social, sexual e racial.
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Diniz e Queiroz (2018) neste contexto consideram que a violação é o ato de infringir o
direito da mulher a liberdade sexual, e o direto a uma vida digna. Contudo, podemos entender
que a violência refere-se ao ato de usar de forma desproporcional o poder e a força para ferir a
integridade da mulher. E a violação menciona o desrespeito aos direitos da mulher.
Martins (2010) sugere que a violência é baseada na força e no poder que o homem impõe
sobre a mulher, e que o ato violento é uma forma de se impor diante da vítima e sua capacidade
de liberdade de escolha. Diniz e Queiroz (2018) entram em concordância com Martins (2010),
ou seja, que a violência se refere ao ato de violar a liberdade sexual da mulher e da imposição
de força e poder sobre a mesma, ferindo sua integridade.
Araújo (2002) também está em consonância com esta mesma perspectiva, dizendo que
violência é uma violação do direito de liberdade, ou seja, é destituído do indivíduo a capacidade
de construir sua própria história de vida.
Para Minayo (2006) o termo violência é de origem latina, vindo da palavra vis o que
significa força, ações de constrangimento e de superioridade física sobre o outro. O termo vis
pode até parecer neutro, no entanto, quem analisa os conteúdos violentos verificam que há
conflitos de autoridade autoritária, lutas pelo poder e o desejo pelo domínio sobre o outro,
aniquilando sua subjetividade.
Após ter realizada uma definição de dois termos importantes relacionados ao estupro,
surge-se a necessidade de se falar sobre o tema principal, o estupro, trazendo conceitos de
alguns autores sobre o mesmo.
Para Canela (2012), o termo estupro vem da palavra latim stuprum, que significava
possuir uma relação sexual imprópria. Brasil (2009) declara que de acordo com a lei nº 12.015,
sancionada no dia 7 de agosto de 2009, no artigo 213, estupro é definido como: “Constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir
que com ele se pratique outro ato libidinoso.”
De acordo com Diniz (2015), o estupro tem uma definição mais ampla do que só um
artigo de lei, envolvendo a integridade física, mental e moral, como também a liberdade sexual
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libidinoso realizado por meio da coerção física ou moral, de acordo com a lei 12.015 acima.
Também se faz necessário conceituar o termo cultura do estupro, cunhado pelas primeiras
feministas no ano de 1970, para abordar o estupro perante a sociedade.
Ortolan et al. (2016) afirmam que o termo cultura do estupro faz referência a um
conjunto de práticas culturais representadas por comportamentos de indivíduos em grupo.
Práticas essas mantidas por reforçamento e passadas para próximas gerações, contingências que
reforçam e ensinam os indivíduos a não punir e não extinguir o comportamento violento e
abusivo frente as mulheres, mas sim manter a prática dos comportamentos agressivos. Logo, a
cultura do estupro se enquadra no terceiro nível de seleção do comportamento, esse nível recebe
o nome de seleção cultural, pois várias práticas que são perpetuadas na nossa cultura fazem
parte dos comportamentos presentes no estupro.
A cultura do estupro pode ser definida como sendo a normalização da violência sexual
contra a mulher na sociedade e na mídia. Para Freitas (2016) a expressão “cultura do estupro”
é utilizado para representar à violência sexual que é percebida pela sociedade como sendo usual
e rotineira, ou seja, faz referência a tolerância e normalização de uma atitude desprezível, como
o estupro. Atitude essa em que a mulher é vista como um objeto, propriedade do homem,
devendo exercer o poder sobre ela, poder esse que se trata de um processo de intimidação
provocado pelos homens para manterem as mulheres em um estado de medo permanente. Em
concordância, DeSouza (2017) define estupro como uma intimidação que torna por meio do
medo o mais fraco submisso.
Para Santos e Alves (2015),
A violência sexual é uma das manifestações da violência de gênero. Dessa forma, para
Saffioti (2011) a violência de gênero é uma violência global formada pela sociedade patriarcal,
que estabelece o direito aos homens a dominação sobre a mulher. Sendo está uma representação
do estupro.
A dominação do homem sobre a mulher se dá através de algumas atitudes machistas que
estão presentes de forma velada ou expostas na rotina de grande parte das mulheres, gestos que
são considerados inofensivos, que vão aos poucos contribuindo para que a cultura do estupro
seja disseminada e enraizada na sociedade contemporânea, limitando dessa forma as
oportunidades das mulheres. O machismo se torna a norma, é o filtro por onde passa os
comportamentos e assim assimilados e acomodados. Esse vulgariza a mulher, diminui sua
autoestima e distorce sua imagem.
Conforme Leite (2016), a cultura do estupro se dá por comportamentos e valores sociais
atribuídos aos papéis do homem e da mulher, que acabam regendo a naturalização de
comportamentos machistas, tomando como base o patriarcado, assim sendo introduzida na
sociedade.
De acordo com Martins (2016), na cultura do estupro, o estupro praticado contra as
mulheres não tem relação com os homens possuírem distúrbios psicológicos, serem agressivos
ou por ingerirem bebida alcoólica, mas sim referente aos sintomas da sociedade, pois os pais
passam para seus filhos valores e atitudes do patriarcado, em que os homens devem demonstrar
sua virilidade, enquanto que as mulheres devem ser subordinadas ao homem.
No entanto, em uma entrevista para Abakan (2015), a psiquiatra Sahika Yuksel entra
em discordância com Martins (2016), pois considera que os homens, que tiveram algum fator
estressor e traumático, como serem filhos de mães que apanharam de seus maridos tem
predisposição a serem abusivos. Sendo assim, percebemos que Sahika Yuksel não concorda na
afirmação de Martins (2016), de que o estupro não tem relação com homens possuírem
distúrbios psicológicos, já que a psiquiatra traz que as mães ao se sujeitarem a violência acabam
permitindo a instalação de distúrbios psicológicos em seus filhos.
Contudo, de acordo com as concepções dos autores acima citados, dentro da perspectiva
da psicologia, o homem é constituído por uma subjetividade, na qual é influenciada pela sua
história, em que o homem torna-se predisposto a ter distúrbios psicológicos e repetir seus
modelos, ou seja, pais que agridem, dão modelo de agressão e podem desenvolver filhos
agressores.
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Neste sentido, Priori (2017) diz que o problema não é só na rua, mas também em casa,
pois é em casa que as mulheres escondem os sentimentos machistas. Muitas protegem filhos
que abusam outras mulheres. Elas tornam o marido e filhos dependentes delas em assuntos
domésticos, por muitas serem dependentes financeiramente deles. Outras se calam sobre
comentários machistas dos companheiros, incentivam piadas e estereótipos sobre a “burrice”
feminina, cultivam cuidadosamente o mito da virilidade. Gostam de se mostrar frágeis, pois
acreditam, que dessa forma, sentem-se mais potentes. São coniventes com a propaganda sexista
e com a vulgaridade da mídia. Há uma desvalorização das conquistas das mulheres por elas
mesmas.
A desvalorização do corpo da mulher também é mostrado na mídia, nas propagandas e
na indústria pornográfica, trazendo o corpo da mulher como um objeto, tratando-se assim o
estupro um ato banalizado e natural, ou seja, sem importância, fazendo parte do cotidiano.
Para Ortolan et al. (2016, p. 1) a “violência e o sexo são diretamente associados pela
indústria da pornografia, intrinsecamente ligada à educação sexual dos homens na nossa
sociedade”. Ocorrendo a associação entre o sexo e violência, mas não somente na indústria
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pornográfica, bem como na mídia, nas propagadas de televisão, nos livros, nos quadrinhos, no
cinema, na moda e na música. Também é perceptível essa associação na linguagem do
cotidiano, nas piadas, como se fala da mulher, como os homens se relacionam com a mulher.
Em muitas propagandas as mulheres são objeto de desejo dos homens. E a mulher se
compara a modelos e atrizes que são colocadas como exemplos de um corpo perfeito e de
sexualidade. Sendo assim, a busca por padrões físicos e estéticos de beleza pela mulher mostra
que a mesma está se submetendo ao machismo, pois uma sociedade machista não aceita e não
respeita a mulher, seus direitos, ideais e seu corpo natural. A mídia tem grande responsabilidade
na formação de estereótipos, ditando tendências, assim, também possuem a capacidade para
quebrarem alguns tipos de crenças.
Os anúncios que colocam a mulher somente como um corpo com o intuito de agradar o
homem favorecem sua objetificação, tendo como meios de disseminação, as imagens, vídeos,
músicas que reforçam a banalização. Outra questão importante é sobre a indústria da
pornografia que contém livre acesso a grande parte da sociedade, colocando a mulher em um
papel de objeto e submissa.
Para Queiroz, Folgueira e Bellini (2015), os homens levados pela cultura capitalista e
machista, de que o homem tem que pegar o maior número de mulheres e não perder nenhuma
chance de ter relação sexual, acabam ignorando os consentimentos não dados ou resistências.
Assim, quando se tem a concepção de tratar a mulher como objeto, na qual é responsável
por satisfazer sexualmente o homem, o estupro é visto simplesmente como um ato sexual. E a
partir disso, a psiquiatra Sahika Yuksel em entrevista para Abakan (2015, p. 1), refere-se que
“o estupro não é um ato sexual, é um ataque. Trata-se de vencer, de conseguir um objeto, e a
mulher é objetificada neste caso. Trata-se de poder”.
DeSouza (2017) afirma que por muito tempo as mulheres fingiram que prazer era ter
dor, e ter dor era prazer, relacionando sofrimento com prazer, bem como a consideração de tudo
como parte da natureza humana, levando a aceitação de valores violentos, passando a tê-los
como naturais.
De acordo com Filho e Fernandes (2014),
A tolerância social na qual este delito está imiscuído inverte o ônus da culpa do
agressor para a vítima, o que não evidencia o trauma vivenciado, implicando na
dificuldade de prestar queixa, no processamento do crime e imposição de pena eficaz.
Consolida-se, assim, a dita cultura de estupro (FILHO; FERNANDES, 2014, p. 6).
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Ainda mesmo que denúncias sejam realizadas, muitas destas no momento de sua
realização, as mulheres sofrem mais um tipo de agressão, a agressão de serem consideradas
culpadas do ato sexual que não desejaram.
Conforme Peixoto e Nobre (2015), é devido a sociedade cultuar que a mulher tem culpa
pela violência, ela acaba se sentindo responsável por tal ato, tornando passiva aos abusos.
Portanto, Maia (2017, p. 41) afirma “que muitas vezes ocorre uma espécie de “vitimização do
criminoso”, e uma “criminalização da vítima” em casos de estupro”.
Para Leite (2016),
Peixoto e Nobre (2015) inferem que apesar de ser a mulher vítima de estupro, acaba que
a sociedade impõe de alguma forma que ela é culpada pelo ato de violação a sua dignidade.
Mesmo que ela não tenha uma responsabilidade direta sobre a conduta de violência, a maioria
das pessoas acreditam que haja uma justificativa para tal atitude, e que seja devido à algum
comportamento anterior da mesma.
Portanto, Peixoto e Nobre (2015) concordam que a responsabilização recai sobre a
mulher, sendo ela considerada como culpada, seja por sua maneira de se comportar, ou pela
forma que se veste, alegando que essas atitudes instigam o homem a cometer o delito. Estaria,
então, a mulher objeto diante da falta de respeito de um homem ao vê-la usando roupas curtas
e justas, ou andando desacompanhada de outro homem em certos horários. Segundo Maia
(2017), na cultura machista, existe o julgamento da mulher como culpada do delito, a vítima é
rotulada de “fácil”, “sedutora”, devido seu comportamento, como se a vítima “merecesse” ou
“pedisse” para ser estuprada, por não se “vestir decentemente”, ou não ser “recatada”,
“honesta”, “comportada”.
De acordo com Pompermaier (2016),
violência a alguma característica que pode ser ou não física, e que implica,
geralmente, em julgamentos de cunho moral (muito provavelmente você já deve ter
lido ou ouvido absurdos como: “Se ela realmente quisesse, poderia ter escapado”, ou
“Mas também, vestida assim, estava pedindo pra acontecer algo”, ou ainda “Ela está
exagerando, não foi tudo isso. Está mentindo só porque se arrependeu depois.”)
(POMPERMAIER, 2016, p. 1).
Sá (2014) diz que a partir de dados de uma pesquisa realizada pela IPEA, em que foram
entrevistadas algumas pessoas, perguntando-as se concordavam ou não com as seguintes frases,
"mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas" e "se as mulheres
soubessem como se comportar, haveria menos estupros". A pesquisa revelou que 65% dos
entrevistados disseram concordar totalmente ou parcialmente com a primeira frase. E 58,5%
concordaram totalmente com a segunda frase. Logo, podemos perceber diante desses dados,
como a sociedade tem o padrão de culpabilizar a vítima por atos de violência sexual.
De acordo com Peixoto e Nobre (2015), após ter sofrido um ato violento, tornando-se
vítima, a mulher é vitimada e constrangida pela segunda vez pelo menosprezo de policias que
não são preparados para oferecer o acolhimento adequado às poucas mulheres que conseguem
ter coragem para enfrentar seu medo e denunciar os abusos sexuais, logo, os quais deveriam
acolhê-las da melhor forma possível, tratam de culpá-las pelo ato, do qual elas são vítimas e,
muitas vezes, chegam até ridicularizá-las, dando margem a esse tipo de discriminação aos
demais cidadãos.
Para Queiroz, Folqueira e Bellini (2015), muitas mulheres ao relatarem suas histórias
para alguém são recebidas com desconfiança. As pessoas perguntam que roupa ela vestia, onde
ela estava, que horas eram, se estava bêbada, se já não haviam ficado com o agressor antes, se
deu a entender que queria ter relação sexual e até se já teve muitos namorados.
Portanto, Peixoto e Nobre (2015 afirmam que não cabe ao crime de estupro culpar a
vítima, retirando a responsabilidade do estuprador, não cabendo nem a culpabilização da mulher
por tal conduta. A admissão dessas questões dão margem ao desenvolvimento das condutas
machista de que “a mulher deve se dar ao respeito” quando, na verdade, o respeito deve vir da
outra parte, independentemente da existência ou não do que se entende por “se dar ao respeito.”
Contudo, Maia (2017) afirma que,
[...] compreendendo que não há motivo algum capaz de justificar atos tão vis, e que o
comportamento da vítima em nada influencia na conduta do agressor, que, para
satisfazer sua torpe libido, acaba por perpetrar condutas tão desumanas como estas,
violando aquilo que de mais íntimo possui a mulher que, tem o direito de ter liberdade
sobre seu corpo, e seu decoro respeitados, independente da roupa que esteja trajando,
do lugar que frequenta ou do horário em que se encontra fora de sua casa (MAIA,
2017, p. 45).
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Com relação aos capítulos discorridos até o momento, notamos muitas influencias para
que o estupro ocorra. Necessita-se ainda elucidar que este deixa consequências a vítima, o que
será discutido com maior profundidade no capitulo a seguir.
Diante dos estupros ocorridos, Gesse e Aquotti (2009) dizem que a mulher sofre de
algumas consequências sendo elas físicas, aquelas sequelas que são visíveis, que ficam
marcadas no corpo da vítima, como gravidez indesejada, lesões corporais doenças sexualmente
transmissíveis (DST), como AIDS, sífilis, HPV, gonorreia, herpes genital, crista-de-galo, entre
outras, e consequências psicológicas, podendo também ter distúrbios no sono e mudanças nos
hábitos alimentares.
Para Gesse e Aquotti (2009), dependendo do grau de violência utilizada pelo agressor a
vítima pode ter sequelas graves, como reconstituição da vagina e do hímen, do ânus, lesões
permanentes, problemas crônicos, como por exemplo, dores de cabeça, dores abdominais,
infecções vaginais e também doenças cardíacas, hipertensão e artrite, além do que, as vítimas
de estupro, têm mais chances de ter um aborto natural.
Enquanto que as consequências psicológicas para Gesse e Aquotti (2009), são aquelas
sequelas que não são percebidas ao se olhar, ou seja, não está visível no corpo da vítima, mas
sim no seu psicológico, como os transtornos sexuais, depressão, e o estresse pós-traumático,
influenciando a qualidade de vida da mulher, na sua vida social, profissional, sexual e afetiva.
As vítimas podem desenvolver disfunções sexuais como vaginismo (dor gênito-
pélvica/penetração), e transtornos parafílicos, como exibicionismo, voyeurismo, entre outros.
Cabe salientar que nem todas as vítimas irão apresentar algum tipo de transtorno sexual, vai
depender da subjetividade de cada uma.
Será explicitado mais além sobre alguns danos psicológicos, como a depressão que de
acordo com o DSM-5 (2014), a característica comum desse transtorno é a apresentação de
humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas (insônia ou hipersonia,
perda ou ganho de peso) e cognitivas (pensamentos de morte) que afetam a vida do indivíduo.
Para Gesse e Aquotti (2009), a depressão é uma consequência gravíssima, pois uma vítima de
um estupro que entra em estado depressivo, poderá tentar praticar até mesmo o suicídio, pois
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perde-se a vontade de viver, e se vê em uma situação, em que a morte é o único caminho para
se livrar do sentimento de vazio que encontra-se.
Conforme o DSM-5 (2014), o Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) deve
atender aos seguintes critérios,
fantasias, impulsos ou comportamento, e colocar em prática tais impulsos sexuais com uma
pessoa que não consentiu.
De acordo com Gesse e Aquotti (2009), além dos vários traumas psicológicos advindos
dos crimes sexuais, temos ainda sentimento de culpa, baixa autoestima, angústia, sentimento de
menos-valia, de raiva, de medo, perda da confiança, perda de controle e a vítima pode também
passar a ter condutas antissociais. É de grande relevância ressaltar sobre a importância do apoio
social e a compreensão da família e amigos para que a vítima supere as dificuldades
relacionadas a violência.
Para Cerqueira e Coelho (2014),
[...] as consequências sofridas pelas vítimas do estupro, em que se pode observar que
as mais prevalentes são estresse pós-traumático (23,3%), transtorno de
comportamento (11,4%) e gravidez (7,1%). Deve-se salientar, entretanto, que a
proporção de vítimas que ficaram grávidas com consequência do estupro cresce para
15,0% quando consideramos apenas os casos em que houve penetração vaginal e a
faixa etária entre 14 e 17 anos. Segundo essa norma técnica do Ministério da Saúde,
a chance de uma vítima de violência adquirir DST é de 16 a 58%. O risco de infecção
dependeria do tipo de penetração, do número de agressores, a frequência da agressão,
idade e suscetibilidade da mulher. Segundo a nota técnica do MS, o risco de gravidez
decorrente do estupro varia entre 0,5 e 5% e depende da idade da vítima, coincidência
com o período fértil, se a violência foi um caso isolado ou se é uma violência
continuada e se a vítima estava utilizando métodos anticoncepcionais (CERQUEIRA;
COELHO, 2014, p. 14,15).
resolveu segurar suas pernas com força, apertar seu pescoço e penetra-la analmente, tudo
ocorrendo enquanto Emma dizia “não, para!” (sic).
Alisson Huguet e seu amigo Beau resolveram ir a uma festa na casa de um conhecido e
encheram a cara, fazendo com que Alisson resolvesse dormir por lá mesmo em vez de voltar
de carro. Ela dormiu sozinha no sofá, acordando duas horas depois com as calças e a calcinha
na altura dos pés e seu melhor amigo Beau, gemendo por cima dela. Aterrorizada, ela fingiu
que estava dormindo.
Kelsey Benalp resolveu sair com uma amiga. As duas foram ao apartamento do
namorado de uma amiga, onde estavam quatro rapazes do time de futebol da faculdade. Todos
estavam bebendo, quando os rapazes desafiaram as moças a ver quem tomava mais doses de
destilados. Kelsey virou uns oito copos antes de capotar em um dos quartos. Quando acordou,
percebeu que um dos meninos estava colocando seu pênis em sua boca, ela tentou se
desvencilhar, mas não conseguiu. Nas próximas horas enquanto acordava e voltava a
consciência, todos os quatro rapazes se revezavam para penetrá-la. Ela só ficou sabendo o que
havia ocorrido quando estava no hospital, depois que a enfermeira a examinou.
Esses três crimes ocorreram com meninas que conheciam seus agressores, e depois de
uma festa, como mostra os dados do IPEA de 2014, como já citado no decorrer do texto de que
os casos de estupro ocorrem em sua maior parte por pessoas conhecidas. Das três situações só
o caso de Alisson terminou com o agressor sendo preso, e isso só aconteceu porque ela gravou
um áudio em que ele confessou o ato. Nos outros dois, a credibilidade das meninas foi atacada
depois que fizeram a denúncia e o sexo considerado consensual. No caso de Kelsey, os policiais
acreditaram que uma menina inconsciente teria condições de dar consentimento para quatro
rapazes fazerem sexo com ela. O caso de Kelsey mostra como ainda há uma grande
preponderância na sociedade em culpabilizar a vítima pelo estupro, por pessoas que deveriam
protege-las.
Após esta descrição dos casos, podemos a seguir dissertar sobre a Lei da Importunação
Sexual e a Lei 12.845/2013, nos quais, irão oferecer o apoio a mulher que sofre de violência
sexual, incluindo atendimento apropriado a vítima, bem como, o acompanhamento psicológico.
Diante das consequências físicas e psicológicas que a vítima sofre em detrimento do ato
de estupro, ela necessita de um acompanhamento psicológico e um tratamento medicamentoso,
contra doenças sexualmente transmissíveis ou para auxiliar no tratamento de transtornos
comportamentais ou sexuais, já citados.
Os procedimentos médicos necessários para o tratamento de DST’s de acordo com
Cerqueira e Coelho (2014), depende do tipo de procedimento, do consentimento da vítima ou
do responsável, das circunstancias do estupro, das características da vítima e do agressor, do
tempo entre a data de ocorrência e a data do atendimento, bem como da infraestrutura física e
humana do centro de saúde, se houve ou não penetração vaginal ou anal.
Bomfim e Andrade (2012) afirmam que o acolhimento e a escuta empática sem valores
de juízo, respeitando a singularidade do sujeito é o primeiro passo para um melhor resultado do
tratamento físico e psicológico, criando um vínculo terapêutico, um ambiente confiável, e de
segurança. O trabalho é mais enriquecido e eficiente quando realizado de forma
multidisciplinar, contando com advogados, e médicos, capacitados para o atendimento as
vítimas.
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melhor, melhorando sua situação de vida. Sendo, eles os próprios agentes da construção de sua
história de vida.
Ortolan et al. (2016) coloca que os comportamentos são mantidos por suas
consequências, dessa forma, enquanto, não forem modificadas as contingências em que os
agressores se comportam, o estupro vai continuar acontecendo. E o primeiro passo a se fazer
para a modificação das contingências é identificá-las, descrevê-las e analisa-las.
De acordo com os dados revelados por Cerqueira e Coelho (2014) acima, podemos
observar que a consequência que mais afeta as mulheres é a ocorrência do estresse pós-
traumático. Dessa forma, pode-se utilizar da Análise do Comportamento para uma intervenção
dentro deste aspecto.
Borges, Cassas e Cols. (2012), afirmam que processo clinico analítico-comportamental
utiliza-se da avaliação funcional como uma de suas intervenções, essa técnica tem como
objetivo colher dados, identificar comportamentos-alvos, logo, construa-se um plano de
intervenção, no qual, decide-se quais instrumentos utilizar e como será realizada a intervenção.
A avaliação funcional também ajudará na construção de hipóteses sobre quais os processos
comportamentais, como extinção, reforçamento, punição, que estão envolvidos na queixa
revelada pelo cliente. Entende-se assim, que a avaliação funcional permitirá responder algumas
perguntas sobre o porquê da ocorrência dos comportamentos-alvos, e diante de quais
contingências o comportamento surge.
Ainda segundo Borges, Cassas e Cols (2012), o processo terapêutico tem o intuito de
promover ao indivíduo o autoconhecimento e o autocontrole, ou seja, o mesmo vai se tornar
capaz de observar seus próprios comportamentos e identificar as variáveis que controlam suas
respostas, lhe dando mais autonomia para mudar as contingências negativas que lhe causam
aversão, tornando-as mais positivas, e em consequência, inserindo contingencias positivas.
Garcia e Bolsoni-Silva (2014), afirmam que em casos de mulheres que sofreram
violência sexual e passaram a apresentar sintomas de TEPT, podem também emitir
comportamentos de isolamento social, que junto a história de vida de dificuldade de
relacionamento interpessoal e de comportamento não habilidoso geram maior dificuldade em
apresentar comportamentos que produzam consequências reforçadoras. Sendo assim, é
necessário o treinamento de habilidades sociais (THS), pois se a mulher tiver acesso à
comportamentos habilidosos poderá diminuir a probabilidade de emitir comportamentos
reforçados negativamente.
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violência sexual. No entanto, o foco deste trabalho é discutir sobre o atendimento psicológico
a vítima, portanto, não será descrito mais profundamente sobre uma intervenção psicológica ao
agressor.
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3 METODOLOGIA
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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