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CENTRO UNIVERSITARIO DE MINEIROS (UNIFIMES)

CAROLINA SILVA NAVES

MACHISMO E SUA INFLUÊNCIA NO ESTUPRO DE MULHERES

Mineiros – GO
2018
CAROLINA SILVA NAVES

MACHISMO E SUA INFLUÊNCIA NO ESTUPRO DE MULHERES

Monografia apresentado ao Curso de Psicologia do


Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES), como
requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo,
sob a orientação da Professora Esp. Marisangela
Balz.

Mineiros - GO
2018
Ficha Catalográfica
Serviço de Documentação Universitária
Biblioteca Central ‘Dom Eric James Deitchman’

S389m Silva Naves, Carolina


Machismo e sua Influência no Estupro de Mulheres /
Carolina Silva Naves. – Mineiros/GO, 2018.
42 p.

Monografia (Bacharel em Psicologia) – Centro


Universitário de Mineiros/UNIFIMES, 2018.
Orientação: Especialista Marisangela Balz.

1.Cultura do estupro. 2. Violência sexual. 3.


Machismo. 4. Estupro de mulheres. I. Balz,
Marisangela. II. Título.

Bibliotecária responsável pela catalogação da publicação:


Melissa dos Santos Araujo
Carolina Silva Naves

MACHISMO E SUA INFLUÊNCIA NO ESTUPRO DE MULHERES

Monografia apresentada ao Centro Universitário de Mineiros como requisito parcial


para obtenção do título de Psicóloga. Orientada pela: Prof. (Esp.) Marisangela Balz.

Data: 04 de Dezembro de 2018.

Resultado: ____________

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Marisangela Balz UNIFIMES


Assinatura: ____________

Prof(a). José Humberto Rodrigues dos Anjos UNIFIMES


Assinatura: ____________

Psicóloga Fernanda Brito Barbosa


Assinatura: ____________
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me dá forças para seguir em


frente, e superar os obstáculos para alcançar meus
objetivos.
A universidade, aos professores, que estiveram
presentes nesse caminho, em especial a minha
orientadora Marisangela Balz, pelo suporte no pouco
tempo que lhe coube, pelas suas correções e
incentivos.
Agradeço a minha família, aos meus pais, pelo
amor, incentivo, e apoio incondicional.
E a todos que direta e indiretamente fizeram parte
da minha formação, o meu muito obrigado.
EPÍGRAFE

“Alma nua, Carne crua...


A roupa rasgada, A boca amordaçada...
A dor, O despudor...
A perda da inocência Pelas garras da violência...
Após o pesadelo, Sem o mínimo de zelo...
O corpo é abandonado...
Despertando atemorizado...
Noites escuras, Medo das ruas...
E a solidão crescente, A depressão latente...
Uma alma nua, Despida de sonhos e esperança,
Em seu interior só restou à desconfiança...
A carne crua, Amaciada, Devorada...”

(Autor Desconhecido)
RESUMO

O presente trabalho trata-se de um estudo sobre a cultura do estupro, que atualmente vem
ganhando grande notoriedade, por vários casos de violência sexual estarem sendo divulgados
na mídia. É um tema ainda pouco discutido na sociedade, por assuntos relacionados ao corpo e
a sexualidade ainda serem um tabu. No entanto, o tema estupro ainda continua sendo banalizado
e excluído de discussões perante a sociedade. Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo
demonstrar a contribuição da cultura machista no estupro de mulheres, para promover
discussões e debates sobre o tema, sendo que essa cultura é também disseminada pelas
mulheres. Para o embasamento teórico utilizou-se de alguns autores, como Ash (2015) trazendo
alguns aspectos da história do estupro, Canela (2012) expondo sua concepção do que é estupro,
Leite (2016) demonstrando sua ideia da transferência geracional de valores e atitudes machistas,
Filho e Fernandes (2014) falam sobre naturalização do estupro, Pompermaier (2016) discute
sobre a culpabilização da vítima de estupro, Cerqueira e Coelho (2014) descrevem sobre as
consequências do estupro, assim como é de relevância tratar sobre a lei 13.718, na qual oferece
apoio a vítima de estupro, Bomfim e Andrade (2012) discorrem sobre a importância de uma
escuta empática e uma intervenção psicológica à pessoas que sofreram de violência sexual. Os
métodos utilizados na pesquisa tiveram a combinação de serem exploratória, explicativa e
descritiva. Por fim, a pesquisa constatou que em pleno século XXI a sociedade ainda perpassa
por atitudes de culpabilizar a mulher, vítima, como responsável por ter sido violentada.

Palavras-chave: Cultura do estupro. Violência sexual. Machismo. Estupro de mulheres.


ABSTRACT

The present work deals with a study on the culture of rape, which is currently gaining notoriety,
as several cases of sexual violence are being reported in the media. It is a subject still little
discussed in the society, for subjects related to the body and the sexuality still being a taboo.
However, the topic rape still remains banalized and excluded from discussions with society.
Thus, the research aims to demonstrate the contribution of the macho culture in the rape of
women, to promote discussions and debates on the subject, and this culture is also disseminated
by women. For the theoretical background, some authors, such as Ash (2015) bringing some
aspects of the rape history, Canela (2012), exposing his conception of rape, Leite (2016),
demonstrating his idea of the generational transference of values and attitudes male chauvinist,
Filho and Fernandes (2014) talk about naturalization of rape, Pompermaier (2016) discusses
the blame of the rape victim, Cerqueira and Coelho (2014) describe on the consequences of
rape, just as it is relevant to deal with the law 13,718 , which offers support to the rape victim,
Bomfim and Andrade (2012) discuss the importance of empathic listening and psychological
intervention to people who have suffered from sexual violence. The methods used in the
research had the combination of being exploratory, explanatory and descriptive. Finally, the
research found that in the XXI century society still runs through attitudes of blaming the
woman, victim, as responsible for having been violated.

Keywords: Culture of the rape. Sexual violence. Chauvinism. Women's rape.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 10
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................................... 13
2.1 O ESTUPRO AO LONGO DA HISTORIA ........................................................................................ 13

2.2 DEFINIÇÕES DE VIOLÊNCIA E VIOLAÇÃO .................................................................................. 15

2.3 CONCEITUAÇÃO DE ESTUPRO ................................................................................................... 16

2.4 TRANSFERÊNCIA GERACIONAL DE VALORES “MACHISTAS” ................................................... 19

2.5 NATURALIZAÇÃO E BANALIZAÇÃO DO ESTUPRO/OBJETIFICAÇÃO DO CORPO DA MULHER .. 20

2.6 CULPABILIZAÇÃO DA VÍTIMA DE ESTUPRO ............................................................................... 23

2.7 CONSEQUÊNCIAS DO ESTUPRO ................................................................................................ 25

2.8 CASOS DE MULHERES QUE SOFRERAM VIOLÊNCIA SEXUAL ................................................... 27

2.9 LEI DA IMPORTUNAÇÃO SEXUAL/LEI 12.845 ............................................................................ 28

2.10 INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA A VÍTIMA ................................................................................... 30

3 METODOLOGIA ............................................................................................................................. 35
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 38
10

1 INTRODUÇÃO

O estupro da mulher envolve o fato de que um indivíduo do sexo masculino usando da


intimidação sobre a mulher, na qual, é considerada um ser fraco e frágil, torna-a submissa aos
seus desejos, utilizando como meio, o medo e a coerção. Pois de acordo com Saffioti (1987)
por muito tempo a mulher vem sendo considerada um ser inferior ao homem, devido o homem
possuir maior força física do que a mulher. Sendo assim, a considera um ser fraco e frágil. Mas
sua força física menor não impede que ela seja considerada uma mulher forte, aquela que
trabalha de manhã, a tarde e à noite em busca de seu sustento, além de cuidar dos filhos e da
casa.
E é através do medo que leva o indivíduo a ficar preso a algo ou a uma situação
desesperadora, porque pensa-se que caso seja tomada uma decisão ou seja provocado uma
mudança, pode-se ocasionar prejuízos a sua vida. A violência sexual é um crime universal, não
é uma violência acometida somente por um país, sendo ela contra a liberdade sexual da mulher.
Para Santos e Alves (2015) o termo cultura do estupro foi criado pelas feministas em
1970, com o intuito de abordar o estupro, e de como a sociedade e suas formas sociais e culturais
banalizam e normalizam o ato de estuprar. Sendo assim, essas formas sociais e culturais são
enraizadas nessa sociedade por padrões do sistema patriarcal, definindo papeis diferenciados
ao homem e a mulher, no qual o homem é o provedor da família e a mulher tem o papel de
servi-lo, papeis estes que devem ser seguidos.
Sá, Carvalho e Souza (2018) acrescentam que o conceito de normalidade
contextualizado pela sociedade, dá origem a um modelo de heteronormativa, ou seja, definidora
de papeis, lugares e comportamentos que homens e mulheres devem seguir, a partir do órgão
sexual. Sendo neste caso, o órgão sexual do homem possuindo mais valor do que da mulher.
Sousa (2017) coloca o modelo heteronormativo como representação em que os homens
são estimulados a praticarem o sexo desde a adolescência, enquanto que as mulheres são
instruídas do contrário. São instruídas a praticarem sexo somente após o casamento e satisfazer
seu marido, bem como, o papel do sexo somente como um ato reprodutivo.
Dessa forma, produz-se uma educação familiar que condiciona a mulher, para replicar
e aceitar valores que normalizam o estupro, tornando-a um objeto, propriedade do homem, que
tem somente o papel de realizar seus desejos. As atitudes machistas, que envolvem a
diferenciação dos papeis de gênero, impõem grande opressão sobre a mulher, tirando sua
11

liberdade, bem como, o julgamento da sociedade a partir de crenças religiosas morais, que
acabam por culpar a vítima por terem sofrido o ato violento.
Contudo, podemos perceber que a sociedade em geral, é em parte responsável por
transmitir a cultura da permissividade, no qual, as mulheres são ensinadas a serem submissas
ao homem e da violência através do patriarcalismo1, de atitudes machistas e através do
capitalismo, em que a mídia e várias empresas divulgam a exposição do corpo das mulheres,
ou seja, transforma o corpo das mulheres em um objeto.
Diante dessas questões, podemos perceber que a sociedade contemporânea educa
crianças como sendo correto manter mulheres submissas, já que é vista como um ser inferior
ao homem. Assim, deve-se repensar em novas formas de educação, no qual, as crianças devem
estar focadas em ideais diferentes, buscando constructos diferentes do patriarcado, evitando
dessa forma novas transmissões de valores abusivos e perpetuação da cultura patriarcal.
Portanto, DeSouza (2017) afirma que novas gerações devem ser instruídas a uma nova maneira
de pensar, para que assim seja tomado novos caminhos.
Sá, Carvalho e Souza (2018) defendem a necessidade de incluir na sociedade uma
despatriarcalização do Estado, promovendo o debate sobre gênero em todas as esferas de
governo, Legislativo, Judiciário e Executivo. Para que dessa forma, a sociedade se torne mais
crítica, ou seja, enfrente a realidade opressora em que se vive os brasileiros (as).
A realização deste trabalho se deu pelo fato do tema ser pertinente ao momento atual,
trazendo várias discussões referentes ao mesmo, devido surgirem muitos casos na mídia de
mulheres que foram estupradas, envolvendo até mesmo pessoas famosas como sendo
agressoras.
Contudo, na sociedade contemporânea, a violência sexual ainda é considerada um tabu,
por se tratar de um assunto que as pessoas tem receio de falar. Sendo um problema na vida de
muitas mulheres. Por isto a importância de abordar este assunto, fazendo com que o tema esteja
presente na sociedade e no diálogo entre as pessoas, pois quanto mais informadas estejam as
pessoas sobre a problemática, mas elas se sensibilizam e tornam-se dispostas a buscar soluções
para tal questão, até para que as mulheres busquem seus direitos.
Diante da violência sexual, surgem consequências como, contrair doenças sexualmente
transmissíveis, danos psicossociais, apresentando transtornos de comportamento, estresse pós-

1 Patriarcalismo é um sistema social em que homens adultos mantêm o poder primário e predominam em funções
de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades. No domínio da família, o pai (ou figura
paterna) mantém a autoridade sobre as mulheres e as crianças.
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traumático, ou até mesmo transtornos sexuais. Vale ressaltar que os danos causados, sendo
graves ou não, sua superação irá depender da resiliência de cada indivíduo.
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar como a cultura do machismo
influencia no estupro de mulheres. Entre as características principais desta cultura estão a
culpabilização da vítima, banalização e normalização da violência sexual contra a mulher, a
transferência geracional de valores e atitudes machistas e a objetificação do corpo da mulher.
Durante o desenvolvimento deste trabalho se fez importante discorrer sobre algumas
das consequências físicas e psicológicas do estupro e como a psicologia poderia intervir com a
vítima dessa violência, para melhor entendimento utilizou-se a abordagem analítico-
comportamental. Para abordar estes assuntos, serão referenciados alguns autores, como Nobre
(2015), Freitas (2016), Leite (2016), Martins (2016), Priore (2017), Peixoto e Maia (2017),
entre outros.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 O ESTUPRO AO LONGO DA HISTORIA

Na revista Guia Mundo em Foco (2016) na Idade Média, na Inglaterra, o estupro era
considerado um crime, mas não entre casais. Nessa época, entre os séculos XII e XIII ocorreram
as Cruzadas, período em que houveram milhares de mortos, momento também em que houve
grande parte de mulheres judias e mulçumanas violentadas sexualmente, como forma de poder
e dominação. Nem as freiras foram poupadas do ato violento. Na época da Idade Média, a
mulher considerava que ser estuprada era o mesmo que ser assassinada, pois era um motivo de
desonra, era tida como culpada, alegando, que ela teria seduzido o homem, que não pode resistir
aos seus encantos.
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o estupro era usado como arma para
aterrorizar a população inimiga. Ash (2015) revela que existem registros em um diário de um
oficial soviético judeu, Vladimir Gelfand, de que soldados do Exército Vermelho de Stálin
estupraram milhares de mulheres alemãs. Uma das revelações mais marcante é a de sua chegada
em Berlim, na qual relata seu encontro com um grupo de mulheres alemãs. Sendo assim, ele
perguntou a elas onde estavam indo e o motivo de terem saído de casa. E uma delas respondeu:
"Eles cutucaram aqui a noite toda. Eles eram velhos, alguns estavam cobertos de espinhas e
todos eles montaram em mim e me cutucaram, não menos do que 20 homens” (sic). Outra falou:
“Eles estupraram minha filha na minha frente e eles ainda podem voltar e estuprá-la de novo”
(sic).
Para Ash (2015), os alemães estavam distante de uma imagem de disciplina. Já que
judias eram violentadas pelos soldados alemães. Estima-se que o número de mulheres
estupradas em Berlim é de 100 mil e 2 milhões em território alemão.
Ainda segundo a revista Guia Mundo em Foco (2016), em um resgate histórico podemos
passar por várias culturas e tempos e veremos a mulher sendo tratada como um objeto, tendo
como papel servir o homem, atender aos seus desejos, sendo assim, submissa a ele. Textos
mitológicos comprovam que o estupro existe muito antes de Cristo. Como a lenda de Zeus, um
dos deuses gregos, que estuprou Leda, uma mortal, enquanto tomava banho. Outro caso, foi de
Medusa, linda e conhecida por seus belos cabelos. Foi violentada sexualmente no templo de
Athena, e condenada a virar um monstro com serpentes no lugar de seus cabelos, transformando
em pedra todos que a olhavam em seus olhos.
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De acordo com o mesmo autor as histórias como essas contribuíram para que fosse
cristalizada na sociedade a ideia de que a mulher poderia ser violentada e o agressor sairia ileso,
e que muitas vezes a vítima sairia como culpada. Não muito diferente do que ocorre na
sociedade contemporânea. Antes de Cristo e na Antiguidade já se existia assuntos relacionados
ao estupro. Como referenciado na Bíblia, no capitulo de Gênesis, relatando a história de Diná,
filha de Lia, na qual fora estuprada por Siquém. O seguinte capítulo declara: “E saiu Diná, filha
de Lia, que está dera a Jacó, para ver as filhas da terra. E Siquém, filho de Hamor, heveu,
príncipe daquela terra, viu-a, e tomou-a, e deitou-se com ela, e humilhou-a” (sic).
Ainda na bíblia em Êxodo, capitulo 20, versículo 17, a revista Guia Mundo em Foco
(2016), conta como as mulheres eram vistas naquela época, consideradas como objetos e
propriedades, incluindo-as em uma lista de coisas que não devem ser cobiçadas. O estupro ainda
não era considerado um crime, como algo forçado, classificavam-no como adultério ou
fornicação, caso a mulher fosse casada, ou virgem, respectivamente, ou seja, as mulheres
sempre eram consideradas culpadas e criminosas enquanto os homens, vítimas.
O autor traz que na Babilônia, se a mulher fosse estuprada por um homem, não sendo o
homem prometida a casamento, o estuprador era executado. Mas caso a mulher fosse casada, a
mesma poderia ser condenada por adultério. Em alguns casos o marido ou o pai da vítima de
estupro poderia estuprar a esposa do criminoso. Isto é, gerava-se mais sofrimento a outras
mulheres e não culpava-se o homem, sendo ele próprio responsável pela violência e não sua
mulher.
Para a revista Guia Mundo em Foco (2016), em Israel, se o estupro ocorresse no
perímetro urbano, a vítima deveria gritar e pedir socorro, evitando assim o crime. Nesse caso,
o homem agressor e a mulher vítima eram apedrejados até a morte. Agora, caso o estupro
ocorresse na área rural, a mulher era considera inocente, no entanto, precisava casar-se com o
agressor. E caso estivesse comprometida o casamento era cancelado, pois a consideravam um
produto danificado, sem utilidade.
Conforme a revista Guia Mundo em Foco (2016), na Grécia ou Roma Antiga, não havia
uma definição de violência sexual, não era considerado um crime de propriedade, mas a mulher
era julgada como sendo culpada pelo ato violento. A Roma considerava o estupro como uma
relação sexual ilícita, punindo o sequestro das mulheres, e não o estupro. Na Grécia Antiga, o
estupro de mulheres estrangeiras ou escravas não era punível.
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Diante do que foi discutido neste tópico, percebemos a utilização do termo violência,
além de pautar sobre este viés, devemos também discutir sobre a importância de se definir o
termo violação, sendo eles assuntos que estão intimamente ligados ao estupro.

2.2 DEFINIÇÕES DE VIOLÊNCIA E VIOLAÇÃO

Guimarães e Pedroza (2015) afirmam que a violência e a violação são conceitos que
estão intimamente ligados ao estupro, pois são uma das características inerentes ao estupro,
devido estar envolvendo o excesso de algum ato, ou seja, excesso que ultrapassa os limites do
que é estabelecido pela sociedade como sendo norma, regra e permitido. O indivíduo é sujeito
a negação de sua igualdade se tornando, o diferente, discriminando seu desejo. Dessa forma, o
mesmo se torna objeto do outro, retirando sua capacidade de desejar e sua singularidade, sendo
assim um ato de violação de seus direitos.
Segundo Marques e Souza (2018), violência neste contexto refere-se ao controle que o
homem exerce sobre a vida da mulher. No entanto, quando falamos em violência, logo
pensamos em um ato de violência física. A partir disso, a autora sugere que não se deve
conceituar violência somente como o uso de força física, bem como, também fatores
psicológicos, sociais, econômicos, políticos e ideológicos, realizando uma análise diversificada
do contexto.
Existe uma ligação entre o conceito de Saffioti2 (2011), Marques e Souza (2018), pois
esta autora considera que a violência está interligada as integridades física, psicológica, moral
e sexual, e para Saffioti (2011) há a existência de uma característica subjetiva do indivíduo, ou
seja, para cada mulher ocorre a distinção do significado de violência. Em que a violência refere-
se a todo ato que viola os direitos humanos.
Devido ao processo de banalização e naturalização da violência, muitas situações de
violência que as mulheres vivenciam acabam fazendo parte do cotidiano, deixando de ser
identificada.
Para Hanada, Oliveira e Schraiber (2010),

A violência configura-se como uma "dramática vivência de negação do humano",


evocando sentimentos de vergonha, humilhação, medos, que caracterizam a tensão e
as dificuldades de falar sobre a situação vivida. Trata-se de uma experiência de

2 Heleieth Saffioti (1934-2010) foi uma socióloga, professora, escritora e pensadora feminista, uma das prestigiadas
pesquisadoras sobre a questão de gênero no Brasil. Em 1995, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz, juntamente com 51
brasileiras. Em 2012, criou-se o Prêmio Heleieth Saffioti, lançado no dia 19 de março de 2013, este Prêmio destina-se às
mulheres e entidades de classe que tenham se destacado no combate à discriminação social, sexual e racial.
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violação de direitos e de conflitos interpessoais que envolve rompimentos nas relações


de intimidade e confiança, permeados de julgamentos morais e modelos de
masculinidade e feminilidade que desqualificam as mulheres no exercício de suas
subjetividades (HANADA; OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2010, p. 34).

Diniz e Queiroz (2018) neste contexto consideram que a violação é o ato de infringir o
direito da mulher a liberdade sexual, e o direto a uma vida digna. Contudo, podemos entender
que a violência refere-se ao ato de usar de forma desproporcional o poder e a força para ferir a
integridade da mulher. E a violação menciona o desrespeito aos direitos da mulher.
Martins (2010) sugere que a violência é baseada na força e no poder que o homem impõe
sobre a mulher, e que o ato violento é uma forma de se impor diante da vítima e sua capacidade
de liberdade de escolha. Diniz e Queiroz (2018) entram em concordância com Martins (2010),
ou seja, que a violência se refere ao ato de violar a liberdade sexual da mulher e da imposição
de força e poder sobre a mesma, ferindo sua integridade.
Araújo (2002) também está em consonância com esta mesma perspectiva, dizendo que
violência é uma violação do direito de liberdade, ou seja, é destituído do indivíduo a capacidade
de construir sua própria história de vida.
Para Minayo (2006) o termo violência é de origem latina, vindo da palavra vis o que
significa força, ações de constrangimento e de superioridade física sobre o outro. O termo vis
pode até parecer neutro, no entanto, quem analisa os conteúdos violentos verificam que há
conflitos de autoridade autoritária, lutas pelo poder e o desejo pelo domínio sobre o outro,
aniquilando sua subjetividade.
Após ter realizada uma definição de dois termos importantes relacionados ao estupro,
surge-se a necessidade de se falar sobre o tema principal, o estupro, trazendo conceitos de
alguns autores sobre o mesmo.

2.3 CONCEITUAÇÃO DE ESTUPRO

Para Canela (2012), o termo estupro vem da palavra latim stuprum, que significava
possuir uma relação sexual imprópria. Brasil (2009) declara que de acordo com a lei nº 12.015,
sancionada no dia 7 de agosto de 2009, no artigo 213, estupro é definido como: “Constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir
que com ele se pratique outro ato libidinoso.”
De acordo com Diniz (2015), o estupro tem uma definição mais ampla do que só um
artigo de lei, envolvendo a integridade física, mental e moral, como também a liberdade sexual
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e a dignidade da vítima. Consequentemente, esse abuso pode levar ao comprometimento de


todo a vida futuro dessa vítima, principalmente quando se fala de aspectos psicológicos.
Penteado (2009) considera estupro como sendo um ato privado, no qual, só se há
procedimento policial se houver queixa por parte da vítima, para a autora o estupro consiste em
constrangimento ou ameaça diante da mulher, possuindo qualquer idade ou condição financeira
para o ato sexual violento. No entanto, a lei 13.718, sancionada em 24 de setembro de 2018,
dispõe que o procedimento policial poderá ocorrer independentemente do consentimento da
vítima. Isto é, independentemente se houve ou não a prestação da queixa contra o agressor.
Portanto, a definição de estupro citada pelo Código Penal e por Penteado (2009), o
estupro não envolve somente a conjunção carnal, em que há a penetração vaginal, abrange-se o
constrangimento como uma forma de estupro. Como casos em que os agressores filmam seus
atos de violência sexual em relação as mulheres, e transmitem esses vídeos pela internet. Ou
até mesmo casos em que por meio de conversas em redes sociais, a vítima manda fotos de partes
de seu corpo expostas, e por meio dessa foto o agressor passa ameaça-la para conseguir mais
fotos ou vídeos, e chega ao ponto do agressor repassar essas imagens para outras pessoas. Casos
estes que definem o constrangimento em que a vítima vivencia, por ter seu corpo exposto sem
sua permissão. O constrangimento surge devido as vítimas desenvolverem o sentimento de
medo, pois a sociedade ainda possui estigmas, culpabilizando e rejeitando-a socialmente.
Martins (2010, p. 52), sugere que o estupro “são atos de força em que a pessoa agressora
obriga a outra, a manter relação sexual contra sua vontade, é uma frequente modalidade de
abuso sexual, que inclui, apenas penetração vaginal pelo pênis”.
Para Taquette (2007, p. 70), o estupro, “configura-se como uma cópula violenta, sem
consentimento de uma das partes; coito forçado; ou violação. Pode ser através de relações
sexuais orais (felação), vaginais (estupro) ou anais (atentado violento ao pudor)”.
Diante da conceituação de Taquette (2007) e Martins (2010) sobre estupro, podemos
perceber que são ideia contrarias, em que a segunda autora considera que estupro se trata
somente de uma violência com penetração vaginal, e a primeira trata o estupro como qualquer
ato sexual que seja contrário a vontade da mulher, sendo penetração vaginal, anal, sexo oral,
entra outras, bem como, tratado por muitos outros autores, inclusive no código penal.
Conforme Santos (2015), estupro é o ato de obrigar alguém por meio de violência física
ou psicológica à praticar sexo. Dessa forma, essa prática ocorre contra sua vontade. Muitas
pessoas acreditam que só é considerado estupro se ocorrer penetração vaginal ou anal, como
afirmado por Santos. Entretanto, a legislação brasileira considera que seja estupro todo ato
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libidinoso realizado por meio da coerção física ou moral, de acordo com a lei 12.015 acima.
Também se faz necessário conceituar o termo cultura do estupro, cunhado pelas primeiras
feministas no ano de 1970, para abordar o estupro perante a sociedade.
Ortolan et al. (2016) afirmam que o termo cultura do estupro faz referência a um
conjunto de práticas culturais representadas por comportamentos de indivíduos em grupo.
Práticas essas mantidas por reforçamento e passadas para próximas gerações, contingências que
reforçam e ensinam os indivíduos a não punir e não extinguir o comportamento violento e
abusivo frente as mulheres, mas sim manter a prática dos comportamentos agressivos. Logo, a
cultura do estupro se enquadra no terceiro nível de seleção do comportamento, esse nível recebe
o nome de seleção cultural, pois várias práticas que são perpetuadas na nossa cultura fazem
parte dos comportamentos presentes no estupro.
A cultura do estupro pode ser definida como sendo a normalização da violência sexual
contra a mulher na sociedade e na mídia. Para Freitas (2016) a expressão “cultura do estupro”
é utilizado para representar à violência sexual que é percebida pela sociedade como sendo usual
e rotineira, ou seja, faz referência a tolerância e normalização de uma atitude desprezível, como
o estupro. Atitude essa em que a mulher é vista como um objeto, propriedade do homem,
devendo exercer o poder sobre ela, poder esse que se trata de um processo de intimidação
provocado pelos homens para manterem as mulheres em um estado de medo permanente. Em
concordância, DeSouza (2017) define estupro como uma intimidação que torna por meio do
medo o mais fraco submisso.
Para Santos e Alves (2015),

A saber, a expressão “cultura do estupro” de forma geral, sucedeu basicamente pela


normalização de costumes que banalizam a violência, ao se considerar “norma”
mesmo que informal, ensinar a não estuprar, e sim a não ser estuprado. As pioneiras
na criação e utilização do “termo” foram feministas dos anos 70 (SANTOS; ALVES,
2015, p. 52).

Na revista Guia Mundo em Foco (2016) as feministas no ano de 1970 criaram a


expressão cultura do estupro com o intuito de comprovar que o estupro era um crime comum e
frequente, no entanto, pouco discutido e divulgado. Dessa forma, começaram a divulgar
informações sobre esse tipo de violência, tentando promover a conscientização da sociedade.
No entanto, mesmo que informações sejam transmitidas sobre o estupro para promover
a conscientização da sociedade, muitas gerações foram criadas com valores machistas e diante
o sistema patriarcal.
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2.4 TRANSFERÊNCIA GERACIONAL DE VALORES “MACHISTAS”

A violência sexual é uma das manifestações da violência de gênero. Dessa forma, para
Saffioti (2011) a violência de gênero é uma violência global formada pela sociedade patriarcal,
que estabelece o direito aos homens a dominação sobre a mulher. Sendo está uma representação
do estupro.
A dominação do homem sobre a mulher se dá através de algumas atitudes machistas que
estão presentes de forma velada ou expostas na rotina de grande parte das mulheres, gestos que
são considerados inofensivos, que vão aos poucos contribuindo para que a cultura do estupro
seja disseminada e enraizada na sociedade contemporânea, limitando dessa forma as
oportunidades das mulheres. O machismo se torna a norma, é o filtro por onde passa os
comportamentos e assim assimilados e acomodados. Esse vulgariza a mulher, diminui sua
autoestima e distorce sua imagem.
Conforme Leite (2016), a cultura do estupro se dá por comportamentos e valores sociais
atribuídos aos papéis do homem e da mulher, que acabam regendo a naturalização de
comportamentos machistas, tomando como base o patriarcado, assim sendo introduzida na
sociedade.
De acordo com Martins (2016), na cultura do estupro, o estupro praticado contra as
mulheres não tem relação com os homens possuírem distúrbios psicológicos, serem agressivos
ou por ingerirem bebida alcoólica, mas sim referente aos sintomas da sociedade, pois os pais
passam para seus filhos valores e atitudes do patriarcado, em que os homens devem demonstrar
sua virilidade, enquanto que as mulheres devem ser subordinadas ao homem.
No entanto, em uma entrevista para Abakan (2015), a psiquiatra Sahika Yuksel entra
em discordância com Martins (2016), pois considera que os homens, que tiveram algum fator
estressor e traumático, como serem filhos de mães que apanharam de seus maridos tem
predisposição a serem abusivos. Sendo assim, percebemos que Sahika Yuksel não concorda na
afirmação de Martins (2016), de que o estupro não tem relação com homens possuírem
distúrbios psicológicos, já que a psiquiatra traz que as mães ao se sujeitarem a violência acabam
permitindo a instalação de distúrbios psicológicos em seus filhos.
Contudo, de acordo com as concepções dos autores acima citados, dentro da perspectiva
da psicologia, o homem é constituído por uma subjetividade, na qual é influenciada pela sua
história, em que o homem torna-se predisposto a ter distúrbios psicológicos e repetir seus
modelos, ou seja, pais que agridem, dão modelo de agressão e podem desenvolver filhos
agressores.
20

Saffioti (2011) afirma que a opressão das mulheres se dá a partir da naturalização da


sociedade patriarcal que permite aos homens privilégios nos seus relacionamentos sociais e
afetivos com as mulheres. Já Leite (2016) afirma que a sociedade impõe valores em que coloca
a mulher em posição de sexo frágil, enquanto o homem está relacionado ao sexo forte e
provedor responsável pela família e manutenção da estrutura patriarcal, como centro da
dominação masculina em relação à mulher. E a partir dessa visão DeSouza (2017), diz que em
nossa cultura foram estabelecidos padrões que levam as mulheres construírem críticas contra
outras mulheres, levando a conservação do patriarcado. A mesma autora afirma que a mulher
que defende as leis do patriarcado tem essa atitude pela necessidade de sua sobrevivência.
Conforme Priore (2017),

Mulheres continuam a educar seus filhos e tratar os maridos, reforçando a ideia


de superioridade do sexo masculino. Filhos não lavam louça. Maridos não fazem a
cama. Em casa, elas devem agradá-los. Só gostam de ser chamadas do que for
comestível, tipo “gostosa” e “docinho”. Mulher inteligente? “É sapatona!” Mulher
fruta? “Linda” – as outras querem ser iguais a ela. Palavrões e pancadas? Algumas,
acham que tal forma de demonstrar zelo e ciúmes “é boa” (PRIORI, 2017, p. 1).

Neste sentido, Priori (2017) diz que o problema não é só na rua, mas também em casa,
pois é em casa que as mulheres escondem os sentimentos machistas. Muitas protegem filhos
que abusam outras mulheres. Elas tornam o marido e filhos dependentes delas em assuntos
domésticos, por muitas serem dependentes financeiramente deles. Outras se calam sobre
comentários machistas dos companheiros, incentivam piadas e estereótipos sobre a “burrice”
feminina, cultivam cuidadosamente o mito da virilidade. Gostam de se mostrar frágeis, pois
acreditam, que dessa forma, sentem-se mais potentes. São coniventes com a propaganda sexista
e com a vulgaridade da mídia. Há uma desvalorização das conquistas das mulheres por elas
mesmas.
A desvalorização do corpo da mulher também é mostrado na mídia, nas propagandas e
na indústria pornográfica, trazendo o corpo da mulher como um objeto, tratando-se assim o
estupro um ato banalizado e natural, ou seja, sem importância, fazendo parte do cotidiano.

2.5 NATURALIZAÇÃO E BANALIZAÇÃO DO ESTUPRO/OBJETIFICAÇÃO DO CORPO DA MULHER

Para Ortolan et al. (2016, p. 1) a “violência e o sexo são diretamente associados pela
indústria da pornografia, intrinsecamente ligada à educação sexual dos homens na nossa
sociedade”. Ocorrendo a associação entre o sexo e violência, mas não somente na indústria
21

pornográfica, bem como na mídia, nas propagadas de televisão, nos livros, nos quadrinhos, no
cinema, na moda e na música. Também é perceptível essa associação na linguagem do
cotidiano, nas piadas, como se fala da mulher, como os homens se relacionam com a mulher.
Em muitas propagandas as mulheres são objeto de desejo dos homens. E a mulher se
compara a modelos e atrizes que são colocadas como exemplos de um corpo perfeito e de
sexualidade. Sendo assim, a busca por padrões físicos e estéticos de beleza pela mulher mostra
que a mesma está se submetendo ao machismo, pois uma sociedade machista não aceita e não
respeita a mulher, seus direitos, ideais e seu corpo natural. A mídia tem grande responsabilidade
na formação de estereótipos, ditando tendências, assim, também possuem a capacidade para
quebrarem alguns tipos de crenças.
Os anúncios que colocam a mulher somente como um corpo com o intuito de agradar o
homem favorecem sua objetificação, tendo como meios de disseminação, as imagens, vídeos,
músicas que reforçam a banalização. Outra questão importante é sobre a indústria da
pornografia que contém livre acesso a grande parte da sociedade, colocando a mulher em um
papel de objeto e submissa.
Para Queiroz, Folgueira e Bellini (2015), os homens levados pela cultura capitalista e
machista, de que o homem tem que pegar o maior número de mulheres e não perder nenhuma
chance de ter relação sexual, acabam ignorando os consentimentos não dados ou resistências.
Assim, quando se tem a concepção de tratar a mulher como objeto, na qual é responsável
por satisfazer sexualmente o homem, o estupro é visto simplesmente como um ato sexual. E a
partir disso, a psiquiatra Sahika Yuksel em entrevista para Abakan (2015, p. 1), refere-se que
“o estupro não é um ato sexual, é um ataque. Trata-se de vencer, de conseguir um objeto, e a
mulher é objetificada neste caso. Trata-se de poder”.
DeSouza (2017) afirma que por muito tempo as mulheres fingiram que prazer era ter
dor, e ter dor era prazer, relacionando sofrimento com prazer, bem como a consideração de tudo
como parte da natureza humana, levando a aceitação de valores violentos, passando a tê-los
como naturais.
De acordo com Filho e Fernandes (2014),

A tolerância social na qual este delito está imiscuído inverte o ônus da culpa do
agressor para a vítima, o que não evidencia o trauma vivenciado, implicando na
dificuldade de prestar queixa, no processamento do crime e imposição de pena eficaz.
Consolida-se, assim, a dita cultura de estupro (FILHO; FERNANDES, 2014, p. 6).
22

Conforme Peixoto e Nobre (2015), o machismo já se constitui como uma violência


contra a mulher, pois trata-se de uma cultura de diferenciação dos direitos e deveres entre os
gêneros, levando a misoginia e à violência mais exposta. Essa violência atenta contra a
liberdade feminina de se expressar, e se portar como ela bem entender, sem ser importunada,
além de colocar em risco sua integridade física, moral e psicológica.
Leite (2016), percebe que o machismo reproduz a violência sexual, tornando a mulher
propriedade do homem, perpetuando e alimentando a naturalização do estupro contra a mulher.
Peixoto e Nobre (2015) afirmam, que ao se falar em estupro, logo se pensa em um crime
cometido por alguém desconhecido e de comportamento anormal, que tenha problemas
psicológicos, no entanto, não ocorre sempre dessa forma. O marido ou companheiro de uma
mulher pode ser seu agressor da mesma forma que um estranho, sendo que o marido ou
companheiro tem mais chances do que um estranho de se aproximar da vítima para lhe abusar,
devido estarem convivendo sob a mesma casa.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) (2014), 70% dos
estupros são cometido por parentes, namorados, amigos ou conhecidos da vítima, mostrando
que o inimigo está dentro de casa e que a violência nasce nos lares.
Maior parte dos casos de violência sexual ocorrem dentro de casas, casamentos, festas,
encontros, em relações sexuais que começaram consensuais, entre pessoas que já se conheciam
e com agressores que não tem perfil de estupradores.
Sá (2014), afirma que em uma pesquisa realizado pelo IPEA revela que ocorrem 527
mil estupros por ano no Brasil, mas somente 10% deles são registrados na polícia, ou seja,
equivale a 50 mil estupros notificados. Diante desse dado percebemos a dificuldade da mulher
de denunciar o abuso, por não entender o que é considerado estupro, ou por medo do julgamento
da sociedade, ou até mesmo por se sentir culpada pelo ato, e ainda existem policiais que não
investigam as acusações, famílias que ignoram os pedidos de ajuda e instituições que não
entregam os criminosos.
Queiroz, Folgueira e Bellini (2015), versam que é muito difícil achar instituições que
não tenham abafado casos de estupro, para evitar escândalos maiores. Exércitos, empresas,
famílias, universidades encobertam estupros rotineiramente. Outra categoria eficiente em
abafar casos de estupro é a figura do homem bem sucedido. Se tem uma personalidade
respeitada, dificilmente a denúncia de violência sexual irá pra frente.
23

Ainda mesmo que denúncias sejam realizadas, muitas destas no momento de sua
realização, as mulheres sofrem mais um tipo de agressão, a agressão de serem consideradas
culpadas do ato sexual que não desejaram.

2.6 CULPABILIZAÇÃO DA VÍTIMA DE ESTUPRO

Conforme Peixoto e Nobre (2015), é devido a sociedade cultuar que a mulher tem culpa
pela violência, ela acaba se sentindo responsável por tal ato, tornando passiva aos abusos.
Portanto, Maia (2017, p. 41) afirma “que muitas vezes ocorre uma espécie de “vitimização do
criminoso”, e uma “criminalização da vítima” em casos de estupro”.
Para Leite (2016),

A culpabilização da vítima ocorre no contexto provocado pela desigualdade de


gênero, onde perpassa a desumanização da mulher, sem reconhecimento sobre seu
corpo e suas regras de desejos, ou seja, os seus direitos são postos em regras na
sociedade e do moralismo. Outro fator, é a objetificação do seu corpo, sendo visto
apenas para o desejo sexual masculino (LEITE, 2016, p. 6).

Peixoto e Nobre (2015) inferem que apesar de ser a mulher vítima de estupro, acaba que
a sociedade impõe de alguma forma que ela é culpada pelo ato de violação a sua dignidade.
Mesmo que ela não tenha uma responsabilidade direta sobre a conduta de violência, a maioria
das pessoas acreditam que haja uma justificativa para tal atitude, e que seja devido à algum
comportamento anterior da mesma.
Portanto, Peixoto e Nobre (2015) concordam que a responsabilização recai sobre a
mulher, sendo ela considerada como culpada, seja por sua maneira de se comportar, ou pela
forma que se veste, alegando que essas atitudes instigam o homem a cometer o delito. Estaria,
então, a mulher objeto diante da falta de respeito de um homem ao vê-la usando roupas curtas
e justas, ou andando desacompanhada de outro homem em certos horários. Segundo Maia
(2017), na cultura machista, existe o julgamento da mulher como culpada do delito, a vítima é
rotulada de “fácil”, “sedutora”, devido seu comportamento, como se a vítima “merecesse” ou
“pedisse” para ser estuprada, por não se “vestir decentemente”, ou não ser “recatada”,
“honesta”, “comportada”.
De acordo com Pompermaier (2016),

Atitudes de culpabilização da vítima inscrevem-se em um tipo de postura que tem sido


chamada de “Aceitação do Mito do Estupro”, que consiste basicamente em um
conjunto de argumentos e atitudes no sentido de atribuir a responsabilidade pela
24

violência a alguma característica que pode ser ou não física, e que implica,
geralmente, em julgamentos de cunho moral (muito provavelmente você já deve ter
lido ou ouvido absurdos como: “Se ela realmente quisesse, poderia ter escapado”, ou
“Mas também, vestida assim, estava pedindo pra acontecer algo”, ou ainda “Ela está
exagerando, não foi tudo isso. Está mentindo só porque se arrependeu depois.”)
(POMPERMAIER, 2016, p. 1).

Sá (2014) diz que a partir de dados de uma pesquisa realizada pela IPEA, em que foram
entrevistadas algumas pessoas, perguntando-as se concordavam ou não com as seguintes frases,
"mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas" e "se as mulheres
soubessem como se comportar, haveria menos estupros". A pesquisa revelou que 65% dos
entrevistados disseram concordar totalmente ou parcialmente com a primeira frase. E 58,5%
concordaram totalmente com a segunda frase. Logo, podemos perceber diante desses dados,
como a sociedade tem o padrão de culpabilizar a vítima por atos de violência sexual.
De acordo com Peixoto e Nobre (2015), após ter sofrido um ato violento, tornando-se
vítima, a mulher é vitimada e constrangida pela segunda vez pelo menosprezo de policias que
não são preparados para oferecer o acolhimento adequado às poucas mulheres que conseguem
ter coragem para enfrentar seu medo e denunciar os abusos sexuais, logo, os quais deveriam
acolhê-las da melhor forma possível, tratam de culpá-las pelo ato, do qual elas são vítimas e,
muitas vezes, chegam até ridicularizá-las, dando margem a esse tipo de discriminação aos
demais cidadãos.
Para Queiroz, Folqueira e Bellini (2015), muitas mulheres ao relatarem suas histórias
para alguém são recebidas com desconfiança. As pessoas perguntam que roupa ela vestia, onde
ela estava, que horas eram, se estava bêbada, se já não haviam ficado com o agressor antes, se
deu a entender que queria ter relação sexual e até se já teve muitos namorados.
Portanto, Peixoto e Nobre (2015 afirmam que não cabe ao crime de estupro culpar a
vítima, retirando a responsabilidade do estuprador, não cabendo nem a culpabilização da mulher
por tal conduta. A admissão dessas questões dão margem ao desenvolvimento das condutas
machista de que “a mulher deve se dar ao respeito” quando, na verdade, o respeito deve vir da
outra parte, independentemente da existência ou não do que se entende por “se dar ao respeito.”
Contudo, Maia (2017) afirma que,

[...] compreendendo que não há motivo algum capaz de justificar atos tão vis, e que o
comportamento da vítima em nada influencia na conduta do agressor, que, para
satisfazer sua torpe libido, acaba por perpetrar condutas tão desumanas como estas,
violando aquilo que de mais íntimo possui a mulher que, tem o direito de ter liberdade
sobre seu corpo, e seu decoro respeitados, independente da roupa que esteja trajando,
do lugar que frequenta ou do horário em que se encontra fora de sua casa (MAIA,
2017, p. 45).
25

Com relação aos capítulos discorridos até o momento, notamos muitas influencias para
que o estupro ocorra. Necessita-se ainda elucidar que este deixa consequências a vítima, o que
será discutido com maior profundidade no capitulo a seguir.

2.7 CONSEQUÊNCIAS DO ESTUPRO

Diante dos estupros ocorridos, Gesse e Aquotti (2009) dizem que a mulher sofre de
algumas consequências sendo elas físicas, aquelas sequelas que são visíveis, que ficam
marcadas no corpo da vítima, como gravidez indesejada, lesões corporais doenças sexualmente
transmissíveis (DST), como AIDS, sífilis, HPV, gonorreia, herpes genital, crista-de-galo, entre
outras, e consequências psicológicas, podendo também ter distúrbios no sono e mudanças nos
hábitos alimentares.
Para Gesse e Aquotti (2009), dependendo do grau de violência utilizada pelo agressor a
vítima pode ter sequelas graves, como reconstituição da vagina e do hímen, do ânus, lesões
permanentes, problemas crônicos, como por exemplo, dores de cabeça, dores abdominais,
infecções vaginais e também doenças cardíacas, hipertensão e artrite, além do que, as vítimas
de estupro, têm mais chances de ter um aborto natural.
Enquanto que as consequências psicológicas para Gesse e Aquotti (2009), são aquelas
sequelas que não são percebidas ao se olhar, ou seja, não está visível no corpo da vítima, mas
sim no seu psicológico, como os transtornos sexuais, depressão, e o estresse pós-traumático,
influenciando a qualidade de vida da mulher, na sua vida social, profissional, sexual e afetiva.
As vítimas podem desenvolver disfunções sexuais como vaginismo (dor gênito-
pélvica/penetração), e transtornos parafílicos, como exibicionismo, voyeurismo, entre outros.
Cabe salientar que nem todas as vítimas irão apresentar algum tipo de transtorno sexual, vai
depender da subjetividade de cada uma.
Será explicitado mais além sobre alguns danos psicológicos, como a depressão que de
acordo com o DSM-5 (2014), a característica comum desse transtorno é a apresentação de
humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas (insônia ou hipersonia,
perda ou ganho de peso) e cognitivas (pensamentos de morte) que afetam a vida do indivíduo.
Para Gesse e Aquotti (2009), a depressão é uma consequência gravíssima, pois uma vítima de
um estupro que entra em estado depressivo, poderá tentar praticar até mesmo o suicídio, pois
26

perde-se a vontade de viver, e se vê em uma situação, em que a morte é o único caminho para
se livrar do sentimento de vazio que encontra-se.
Conforme o DSM-5 (2014), o Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) deve
atender aos seguintes critérios,

Exposição ao trauma concretamente ou ameaça de morte, lesão grave ou violência


sexual (critério A). A presença de lembranças angustiantes involuntárias referentes ao
trauma, sonhos angustiantes no qual os conteúdos e sentimentos são relacionados ao
trauma, flashbacks, nos quais o indivíduo sente ou age como se o trauma estivesse
acontecendo novamente, sofrimento psicológico intenso ou prologando a sinais
internos ou externos que se assemelham ao trauma, e reações fisiológicas intensas a
sinais internos ou externos que se assemelham ao trauma, apresentando um ou mais
desses (critério B). Evitação de estímulos que estão associados ao trauma, como de
recordações, pensamentos ou sentimentos associados ao trauma, ou evitação de
pessoas, lugares, conversas, atividades evitar lembranças relacionadas ao trauma,
apresentando um ou mais desses (critério C). Alterações cognitivas e de humor
negativos, associados ao trauma, como a incapacidade de relembrar alguma parte do
trauma, crenças negativas de si mesmo, dos outros e do mundo, sentimentos de
culpabilização de si ou dos outros, estado emocional negativo, interesse diminuído
por atividades, sentimentos de distanciamento em relação aos outros, e incapacidade
de sentir emoções positivas, apresentando dois ou mais desses (critério D) (DSM –
IV, 2014, p. 265).

Alterações de comportamento associados ao trauma, como comportamento irritado,


comportamento imprudente ou autodestrutivo, hipervigilância, resposta de espanto exagerada,
problemas de concentração e perturbação no sono, apresentando dois ou mais desses (critério
E). Os critérios B, C, D e E duram por mais de um mês.
Referente as disfunções sexuais, o transtorno da dor gênito-pélvica/penetração é
abordado pelo DSM-5 (2014), com apresentação de um ou mais dos seguintes itens por um
período mínimo de seis meses para ocorrer o diagnóstico, penetração vaginal, dor vulvovaginal
ou pélvica intensa durante a relação sexual ou nas tentativas de penetração, medo ou ansiedade
intensa de dor vulvovaginal ou pélvica antes, durante ou após a penetração, tensão ou contração
dos músculos do assoalho pélvico durante tentativas de penetração.
Dentro dos transtornos parafílicos foram citados pelo DSM-5 (2014), o transtorno
voyeurista, no qual para que possa ocorrer o diagnóstico o indivíduo deve apresentar por um
período mínimo de seis meses, excitação sexual ao observar uma pessoa nua que não sabe estar
sendo observada, despindo-se ou em meio ao ato sexual, colocar em prática impulsos, fantasias
ou comportamentos sexuais com uma pessoa que não consentiu. E no transtorno exibicionista,
o indivíduo deve apresentar em um período mínimo de seis meses, excitação a exposição dos
próprios genitais a outra pessoa, sendo que esta não espera esse ato, estando relacionado a
27

fantasias, impulsos ou comportamento, e colocar em prática tais impulsos sexuais com uma
pessoa que não consentiu.
De acordo com Gesse e Aquotti (2009), além dos vários traumas psicológicos advindos
dos crimes sexuais, temos ainda sentimento de culpa, baixa autoestima, angústia, sentimento de
menos-valia, de raiva, de medo, perda da confiança, perda de controle e a vítima pode também
passar a ter condutas antissociais. É de grande relevância ressaltar sobre a importância do apoio
social e a compreensão da família e amigos para que a vítima supere as dificuldades
relacionadas a violência.
Para Cerqueira e Coelho (2014),

[...] as consequências sofridas pelas vítimas do estupro, em que se pode observar que
as mais prevalentes são estresse pós-traumático (23,3%), transtorno de
comportamento (11,4%) e gravidez (7,1%). Deve-se salientar, entretanto, que a
proporção de vítimas que ficaram grávidas com consequência do estupro cresce para
15,0% quando consideramos apenas os casos em que houve penetração vaginal e a
faixa etária entre 14 e 17 anos. Segundo essa norma técnica do Ministério da Saúde,
a chance de uma vítima de violência adquirir DST é de 16 a 58%. O risco de infecção
dependeria do tipo de penetração, do número de agressores, a frequência da agressão,
idade e suscetibilidade da mulher. Segundo a nota técnica do MS, o risco de gravidez
decorrente do estupro varia entre 0,5 e 5% e depende da idade da vítima, coincidência
com o período fértil, se a violência foi um caso isolado ou se é uma violência
continuada e se a vítima estava utilizando métodos anticoncepcionais (CERQUEIRA;
COELHO, 2014, p. 14,15).

Como apontado na citação acima, sobre a incidência de algumas sequelas que as


mulheres desenvolvem após a violência, como o estresse pós-traumático e os transtornos de
comportamento, será exposto a seguir alguns casos de mulheres que foram estupradas,
demonstrando o sofrimento dessas mulheres, evidenciando que o estupro se torna um estimulo
estressor para o desenvolvimento do estresse pós-traumático e outros transtornos de
comportamento, como o isolamento social.

2.8 CASOS DE MULHERES QUE SOFRERAM VIOLÊNCIA SEXUAL

Na sequência serão apresentados alguns casos de violação e violência sexual, com o


objetivo de exemplificar a teoria apresentada até aqui. Esses casos foram retirados da revista
super interessante, publicada em julho de 2015, com o título: “Como silenciamos o estupro”.
Emma Sulkowicz estava no seu primeiro dia do segundo ano de faculdade, quando
encontrou Paul, um ex-ficante, em uma festa. Os dois conversaram e começaram a se beijar, e
o encontro acabou indo parar no quarto dela. A relação sexual estava consensual até que Paul
28

resolveu segurar suas pernas com força, apertar seu pescoço e penetra-la analmente, tudo
ocorrendo enquanto Emma dizia “não, para!” (sic).
Alisson Huguet e seu amigo Beau resolveram ir a uma festa na casa de um conhecido e
encheram a cara, fazendo com que Alisson resolvesse dormir por lá mesmo em vez de voltar
de carro. Ela dormiu sozinha no sofá, acordando duas horas depois com as calças e a calcinha
na altura dos pés e seu melhor amigo Beau, gemendo por cima dela. Aterrorizada, ela fingiu
que estava dormindo.
Kelsey Benalp resolveu sair com uma amiga. As duas foram ao apartamento do
namorado de uma amiga, onde estavam quatro rapazes do time de futebol da faculdade. Todos
estavam bebendo, quando os rapazes desafiaram as moças a ver quem tomava mais doses de
destilados. Kelsey virou uns oito copos antes de capotar em um dos quartos. Quando acordou,
percebeu que um dos meninos estava colocando seu pênis em sua boca, ela tentou se
desvencilhar, mas não conseguiu. Nas próximas horas enquanto acordava e voltava a
consciência, todos os quatro rapazes se revezavam para penetrá-la. Ela só ficou sabendo o que
havia ocorrido quando estava no hospital, depois que a enfermeira a examinou.
Esses três crimes ocorreram com meninas que conheciam seus agressores, e depois de
uma festa, como mostra os dados do IPEA de 2014, como já citado no decorrer do texto de que
os casos de estupro ocorrem em sua maior parte por pessoas conhecidas. Das três situações só
o caso de Alisson terminou com o agressor sendo preso, e isso só aconteceu porque ela gravou
um áudio em que ele confessou o ato. Nos outros dois, a credibilidade das meninas foi atacada
depois que fizeram a denúncia e o sexo considerado consensual. No caso de Kelsey, os policiais
acreditaram que uma menina inconsciente teria condições de dar consentimento para quatro
rapazes fazerem sexo com ela. O caso de Kelsey mostra como ainda há uma grande
preponderância na sociedade em culpabilizar a vítima pelo estupro, por pessoas que deveriam
protege-las.
Após esta descrição dos casos, podemos a seguir dissertar sobre a Lei da Importunação
Sexual e a Lei 12.845/2013, nos quais, irão oferecer o apoio a mulher que sofre de violência
sexual, incluindo atendimento apropriado a vítima, bem como, o acompanhamento psicológico.

2.9 LEI DA IMPORTUNAÇÃO SEXUAL/LEI 12.845

A Lei nº 13.718 sancionada em 24 de setembro de 2018, altera a lei nº 2.848/1940 do


código penal, tipificando os crimes de importunação sexual. No artigo 215-A define
importunação sexual como, “praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o
29

objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”, obtendo pena de reclusão de 1 a 5


anos, se não houver crime mais grave.
Há aumento da pena de reclusão em metade se o agressor é ascendente, padrasto ou
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima
ou qualquer outro título que há autoridade sobre ela; aumenta-se a pena em 1/3 a 2/3 se praticado
o crime de estupro coletivo (participação de dois ou mais agentes) ou estupro corretivo (para
controlar o comportamento social ou sexual da vítima); há também o aumento da pena em
metade a 2/3 se o crime tem como resultante a gravidez; e de 1/3 a 2/3 se há transmissão de
doenças sexualmente transmissíveis, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência.
A Lei 12.845 sancionada no dia 1º de agosto de 2013 dispõe sobre o atendimento
obrigatório, integral e multidisciplinar de pessoas em situação de violência sexual. Dessa forma,
deve haver o atendimento médico, psicológico e social, em todos os hospitais do SUS.
Ao citar a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) sancionada em 07 de agosto de
2006, no título III, capitulo III, que dispõe sobre o atendimento pela autoridade policial,
referenciado no artigo 10º A, no qual o atendimento policial e pericial à mulher em situação de
violência deve ser prestado por uma profissional no sexo feminino e que seja previamente
capacitada. Portanto, pode-se afirmar que o atendimento à mulher que vivencia a violência
sexual também deve ser prestada por uma profissional do sexo feminino.
Contudo, atualmente no Brasil em muitas delegacias não se é estabelecido o que é
previsto em lei, pois as mesma são compostas por maioria homens, bem como não são
capacitados para estar à frente desta situação, acabam pelo senso comum, culpabilizando a
mulher pelo ato violento, ou até mesmo pelo fato da mulher não se sentir confortável para falar
do que lhe aconteceu, por estar diante de um profissional do sexo masculino, havendo uma
identificação com o agressor que lhe causou sofrimento.
A denúncia realizada pela vítima é de grande importância para a recuperação
psicológica da mesma diante da situação, pois a liberta do sentimento de culpa. Diante da
situação da denúncia em que a mulher é submetida, a mesma possui a necessidade de relatar os
fatos, proporcionando a ela uma forma de aceitação e ressignificação da situação, e conseguir
seguir a vida, após a ação violenta. Isto, quando é realizada por um profissional que ofereça
uma ambiente seguro e confiável.
No entanto, para Sá, Carvalho e Souza (2018), a falta de capacitação dos profissionais
durante o acolhimentos de mulheres violentadas no ato da denúncia geram atendimentos
30

relacionados a pré-conceitos e conceitos estereotipados, tornando a vítima culpada e


desencorajando sua denúncia.
A partir disso, Martins (2010) entra em divergência com a ideia da importância da
denúncia como forma de libertação do sentimento de culpa, pois existe uma dificuldade da
mulher em denunciar a violência sofrida devido ser permeada por várias questões, como a
vergonha e o medo, em que a denúncia envolve relatar fatos que na maioria das vezes a vítima
quer que seja esquecido. Contudo, há poucas mulheres que realizam a denúncia e quando
realizadas, elas sofrem uma revitimização, sendo atacadas por julgamentos de profissionais.
Dessa forma, a libertação do sentimento de culpa não ocorre, resultando na culpabilização da
vítima.
É direito da mulher violentada o acolhimento e proteção, em muitos casos, quando a
mulher vai prestar queixa, se depara com profissionais despreparados e antiéticos que acabam
colocando a vítima novamente em situação de violência, não oferecendo o acolhimento que a
mesma necessita, trazendo-lhe mais prejuízo psíquico. Dessa maneira, podemos seguir expondo
como pode ser realizada uma intervenção adequada, empática e acolhedora diante da mulher,
não ferindo seus direitos e mantendo a ética profissional.

2.10 INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA A VÍTIMA

Diante das consequências físicas e psicológicas que a vítima sofre em detrimento do ato
de estupro, ela necessita de um acompanhamento psicológico e um tratamento medicamentoso,
contra doenças sexualmente transmissíveis ou para auxiliar no tratamento de transtornos
comportamentais ou sexuais, já citados.
Os procedimentos médicos necessários para o tratamento de DST’s de acordo com
Cerqueira e Coelho (2014), depende do tipo de procedimento, do consentimento da vítima ou
do responsável, das circunstancias do estupro, das características da vítima e do agressor, do
tempo entre a data de ocorrência e a data do atendimento, bem como da infraestrutura física e
humana do centro de saúde, se houve ou não penetração vaginal ou anal.
Bomfim e Andrade (2012) afirmam que o acolhimento e a escuta empática sem valores
de juízo, respeitando a singularidade do sujeito é o primeiro passo para um melhor resultado do
tratamento físico e psicológico, criando um vínculo terapêutico, um ambiente confiável, e de
segurança. O trabalho é mais enriquecido e eficiente quando realizado de forma
multidisciplinar, contando com advogados, e médicos, capacitados para o atendimento as
vítimas.
31

Portanto, o acolhimento também advém do respeito as barreiras e limites da vítima em


relação a violência sexual, e se essa barreira é ultrapassada pode-se causar uma revivência do
trauma, lhe causando um maior prejuízo psíquico, resultando na perda de confiança no(a)
psicólogo(a).
Para Habigzang (2006) o psicólogo irá reverter sentimentos de desamparo, desespero,
impotência, aprisionamento, isolamento e de autoacusação. O resgate da autoestima e da
autonomia é fundamental, pois a violência sexual distorce a visão da vítima de que a vida pode
lhe oferecer algo melhor. O trabalho consiste em transformar o evento como sendo uma
influência em sua vida, para o crescimento, em vez de ser visto como um obstáculo, dessa
forma, vendo o futuro de uma forma diferente.
Silva e Vagostello (2017) inferem que na psicoterapia é de extrema importância
estabelecer metas e objetivos em relação a sua carreira profissional ou afetiva. Pois é a partir
do desejo da paciente em alcançar esses objetivos, que o processo psicoterapêutico tem efeito
sobre ela, trazendo-lhe maior qualidade de vida. Estimula-se as potencialidades que a mulher
possui para se alcançar esses objetivos propostos.
Os mesmos autores concordam que ao longo do processo psicoterapêutico a mulher irá
deixar de olhar e sentir a violência como um perigo eminente, e passa apenas a ser lembrado
por ela, em que a violência não obtém poder algum sobre ela, não determinando suas condutas
e atitudes.
Além da psicoterapia individual Silva e Vagostello (2017) indicam que a psicoterapia
grupal também tem suas vantagens, tornando-se eficaz no tratamento, no qual o grupo vai
permitir a comunicação de histórias de vida de cada mulher, havendo a troca de experiências,
em que resulta na identificação entre as vítimas, de que existem outra pessoas que vivenciam a
mesma situação, causando a ressignificação e elaboração do trauma, revelando uma nova
possibilidade de viver a vida, com novas perspectivas.
Em alguns casos se faz necessária a inclusão dos familiares no processo terapêutico, que
segundo Friedrich (2016), a família apresenta dificuldades emocionais em aceitar a situação,
ou até mesmo possui atitudes de culpabilização e julgamentos em relação a vítima.
E conforme Sá, Carvalho e Souza (2018), o empoderamento das mulheres é capaz de
faze-las perceber a violência sofrida. Sendo, um ponto positivo a ser discutido no processo
psicoterapêutico, em que tem grande influência na reconstrução da vida da vítima. Portanto,
Baquero (2012) versa que o empoderamento individual refere-se a capacidade do indivíduo de
adquirir conhecimento e controle sobre sua própria vida, para assim, agir da forma que achar
32

melhor, melhorando sua situação de vida. Sendo, eles os próprios agentes da construção de sua
história de vida.
Ortolan et al. (2016) coloca que os comportamentos são mantidos por suas
consequências, dessa forma, enquanto, não forem modificadas as contingências em que os
agressores se comportam, o estupro vai continuar acontecendo. E o primeiro passo a se fazer
para a modificação das contingências é identificá-las, descrevê-las e analisa-las.
De acordo com os dados revelados por Cerqueira e Coelho (2014) acima, podemos
observar que a consequência que mais afeta as mulheres é a ocorrência do estresse pós-
traumático. Dessa forma, pode-se utilizar da Análise do Comportamento para uma intervenção
dentro deste aspecto.
Borges, Cassas e Cols. (2012), afirmam que processo clinico analítico-comportamental
utiliza-se da avaliação funcional como uma de suas intervenções, essa técnica tem como
objetivo colher dados, identificar comportamentos-alvos, logo, construa-se um plano de
intervenção, no qual, decide-se quais instrumentos utilizar e como será realizada a intervenção.
A avaliação funcional também ajudará na construção de hipóteses sobre quais os processos
comportamentais, como extinção, reforçamento, punição, que estão envolvidos na queixa
revelada pelo cliente. Entende-se assim, que a avaliação funcional permitirá responder algumas
perguntas sobre o porquê da ocorrência dos comportamentos-alvos, e diante de quais
contingências o comportamento surge.
Ainda segundo Borges, Cassas e Cols (2012), o processo terapêutico tem o intuito de
promover ao indivíduo o autoconhecimento e o autocontrole, ou seja, o mesmo vai se tornar
capaz de observar seus próprios comportamentos e identificar as variáveis que controlam suas
respostas, lhe dando mais autonomia para mudar as contingências negativas que lhe causam
aversão, tornando-as mais positivas, e em consequência, inserindo contingencias positivas.
Garcia e Bolsoni-Silva (2014), afirmam que em casos de mulheres que sofreram
violência sexual e passaram a apresentar sintomas de TEPT, podem também emitir
comportamentos de isolamento social, que junto a história de vida de dificuldade de
relacionamento interpessoal e de comportamento não habilidoso geram maior dificuldade em
apresentar comportamentos que produzam consequências reforçadoras. Sendo assim, é
necessário o treinamento de habilidades sociais (THS), pois se a mulher tiver acesso à
comportamentos habilidosos poderá diminuir a probabilidade de emitir comportamentos
reforçados negativamente.
33

Sendo assim, o papel do psicólogo torna-se de grande relevância, promovendo a


reintegração da mulher a sua vida normal antes do estupro, devido essa reintegração ser
dificultada pela mulher, pelo fato de que suas atividades rotineiras remetem-se a violência
vivenciada, levando o seu isolamento social.
Para Drezett et al. (2012) para uma melhor eficácia da intervenção é necessário se
utilizar da avaliação psicológica, na qual é parte fundamental para a realização dos
procedimentos de aprovação do aborto relacionado à gravidez por consequência do estupro,
sendo o aborto, legal, e previsto em lei. Contudo, para que ele ocorra é necessário o
consentimento da mulher. Além disso, se faz necessário o acompanhamento psicológico antes
e após a interrupção da gestação, bem como durante o período de internação. Dessa forma,
Cerqueira e Coelho (2014, p. 17) afirmam que “[...] entre as vítimas adultas que ficaram
grávidas como consequência do estupro, 19,3% realizaram o aborto previsto em lei.”
O Ministério Público (2013) dispõe que são utilizadas algumas técnicas durante a
avaliação psicológica, são elas: entrevista, na qual, tem o objetivo de coletar informações sobre
o ocorrido, respeitando a vítima em relação ao seu sofrimento psíquico; testes psicológicos,
objetivando avaliar aspectos psicológicos como, atenção, agressividade, memória, estresse,
ansiedade, relações interpessoais, habilidades sociais e inteligência, cognitivo, emocional e da
personalidade; e observação das pessoas envolvidas em seu meio.
De acordo com Habigzang (2006), a avaliação psicológica permiti compreender a
história e a dinâmica do abuso sexual, bem como identificar sintomas psicopatológicos e
alterações cognitivas, emocionais e comportamentais. Contudo, sabemos que as mulheres que
sofrem da violência sexual não reagem da mesma maneira. Há mulheres que não se encontram
no processo de sintomas e danos causados pela situação que viveram, dando-se o nome a este
processo de resiliência.
Conforme Martins (2010, p. 178), a resiliência é a “capacidade de resistir as
adversidades, bem como a força necessária para saúde mental se estabelecer durante a vida,
após a exposição a riscos”. Sendo assim, resiliência é a capacidade do indivíduo para assimilar
e acomodar situações traumáticas de sua vida, dando a elas um novo significado, levando-a ao
bem-estar.
Em relação ao agressor, Aglio, Moura e Santos (2011) afirmam que para combater a
violência sexual, a responsabilização social e penal sobre o autor, sem dúvida, tem sua
importância, mas há que se ter clareza de que somente a punição não basta. O atendimento
psicológico a este público revela-se um recurso importante para impedir novos casos de
34

violência sexual. No entanto, o foco deste trabalho é discutir sobre o atendimento psicológico
a vítima, portanto, não será descrito mais profundamente sobre uma intervenção psicológica ao
agressor.
35

3 METODOLOGIA

A metodologia dentro de um trabalho cientifico implica na decisão dos procedimentos


realizados, diante da produção da pesquisa. Dessa forma, a pesquisa para Gil (2008) é definida
por ocorrer dentro de um processo com padrões de normas e um método organizado para a
produção de um conhecimento. Contudo, pode-se afirmar que pesquisa é um conjunto de regras
que tem o objetivo desenvolver um novo conhecimento.
De acordo com Gerhardt e Silveira (2009), pesquisa é o ato de investigar e analisar o
porquê da existência de um problema. Consequentemente, pode-se dizer que surgem novas
perguntas diante de um mesmo problema. Para complementar, Aragão, Barros e Oliveira (2005)
definem pesquisa como sendo a busca para se tornar indivíduo crítico. Portanto, cria-se formas
para alterar processos que tornam os indivíduos limitados em sua forma de ação. Diante dos
conceitos já apresentados, podemos concluir que a pesquisa tem o objetivo de construir novas
formas de conhecimento para desconstruir padrões culturais limitados instituídos na sociedade.
A partir do que foi exposto, considera-se que a pesquisa realizada neste trabalho é de
caráter exploratória, descritiva e explicativa. Avaliando-se que uma pesquisa descritiva para
Del-Masso, Cotta e Santos (2014), visa descrever as características de um fenômeno de maneira
detalhada, proporcionando uma nova visão sobre determinado fenômeno, sendo ele já
conhecido. A partir de Oliveira, Ponte e Barbosa (2006), a pesquisa explicativa, contribui para
a explicação do fenômeno estudado, ou seja, possibilita identificar quais as causas para a
ocorrência de algo.
A elaboração deste estudo envolve uma revisão bibliográfica, tendo como bases teóricas
livros, dissertações, e artigos, referenciando autores como, Freitas (2016) expondo sua
concepção do que é estupro, Priore (2017) em que mostra sua ideia da transferência geracional
de valores e atitudes machistas, Ortolan et al. (2016) falam sobre a naturalização e banalização
do estupro, e a objetificação do corpo da mulher, Maia (2017) discute sobre a culpabilização
da vítima de estupro, Cerqueira e Coelho (2014) descrevem sobre as consequências do estupro,
e Bomfim e Andrade (2012) discorrem da importância de uma escuta psicológica empática e
uma intervenção psicológica à pessoas que sofreram de violência sexual.
36

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo apresenta uma revisão bibliográfica, na qual verificou-se que em


pleno século XXI a sociedade ainda perpassa por atitudes de culpabilizar a mulher, vítima de
estupro, como responsável por ter sido violentada. Portanto, pôde ser observado que o
machismo sempre existiu, porém de forma velada, mas que em alguns anos ele veio à tona de
forma aguçada, provavelmente pela mulher ter decidido aceitar e encarar sua condição de
mulher e ir em busca de seus direitos, de uma educação em que o homem não tem poder algum
sobre ela. E a mesma ressurge com novos questionamentos, novas práticas, um gesto para
desvelar à sociedade uma realidade caótica, que insiste em encobrir tal violência. E talvez a
violência enraizada nesta sociedade surge com mais frequência como uma forma de mostrar a
realidade de uma educação que visa a violência, mas que a sociedade insiste em velar.
Com este trabalho pode-se observar por meio de análise e pesquisas que na construção
histórica, a culpabilização frente a própria violentada, compete um mecanismo de defesa em
relação ao agressor para evitar punições físicas, morais, dentre outras. Sendo assim, o machismo
impera como doutrina de segregação para aceitação cultural do estupro.
Autores como Peixoto e Nobre (2015), Leite (2016), Ortolan et al. (2016), Pompermaier
(2016) contribuíram para se chegar a reflexão de que todo material cultural que faça qualquer
tipo de citação do poder sobre a mulher e da objetificação da mesma, desde músicas até a
pornografia, envolvem uma construção social diante do papel da mulher em relação a expressão
de sua sexualidade e de como o homem deve se relacionar com ela, que pode conter, alguma
forma de disseminação da cultura do estupro.
O que também pode-se concluir é que ainda há uma falha perante a lei nº 13.718/2018,
lei nº 12.845/2013 e a lei 11.340/2006, pois nem todos os agressores são penalizados, devido a
mulher não ter o apoio necessário da família e profissionais capacitados, além de serem
culpabilizadas, sendo consideradas responsáveis pela violência. Pois, até quando se é oferecido
o atendimento, a mulher sofre violência, por não ter um profissional competente para tal função,
por estar com sua percepção enraizada a preconceitos e estereótipos de desigualdade de gênero.
Nessa vertente, é necessário repensar em novas formas de educação, no qual as crianças
devem estar focadas em ideais diferentes, buscando constructos diferentes do patriarcado,
evitando dessa forma novas transmissões de valores abusivos e perpetuação da cultura
patriarcal. Bem como, promover o debate sobre gênero tanto em âmbitos escolares quanto
familiares, para que assim a sociedade se torne mais crítica, para enfrentar a realidade opressora
em que se vive.
37

Também foi visualizado a possibilidade de compreender quanto comprovar que a


avaliação psicológica se faz fundamental como procedimento técnico para detectação de
quadros de mulheres estupradas. Além claro, de que por meio da mesma ao identificar as
consequências psicológicas, facilita-se o uso da análise do comportamento como abordagem
intervencionista.
38

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