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Roteiro do rádio doc.

Introdução

Apesar dos avanços feministas na contemporaneidade, a Ciência e Tecnologia ainda são


um tabu quando voltadas para o público feminino./ Pode parecer irreal, mas o machismo
e a misoginia são ainda barreiras encontradas por nós que escolhemos ingressar no meio
acadêmico científico. / E é por isso, muitas vezes que brilhantes meninas, diante desse
ambiente tão hostil, acabam desistindo de suas nascentes carreiras. / / Sendo esse um
grave problema dentro da sociedade, é bom que reflitamos acerca de possíveis soluções.
/ No entanto, para querer solucionar, é preciso conhecer as raízes do problema, sobre as
quais nós falaremos a seguir./ / ALGUMA VINHETA QUE INDIQUE A VIRADA

Várias eram as justificativas para as mulheres, aparentemente, não se interessarem por


Ciência. / Traremos duas dessas aqui, junto de suas respectivas refutações. / / A
primeira delas tem como fundamentação um argumento pseudocientífico, *
ONOMATOPÉIA DE SURPRESA* que explicava a divisão de tarefas com base na
diferença física entre os sexos./ Esses estudos neurossexistas, como ditos pela
neurocientista Cordelia Fine, surgiram, com maior força, nas décadas de 70 e 80. / Eles
sugeriam que, por causa das diferenças hormonais, ainda no feto, as habilidades
femininas e masculinas eram divididas./ Cabendo aos homens as habilidades
consideradas racionais, e às mulheres as habilidades sensíveis *ONOMATOPÉIA DE
REPROVAÇÃO* / / Apesar dessa crença ter sido fortemente teorizada nas décadas
mencionadas, o pensamento data de muito antes, servindo para justificar o machismo
institucional de antes, e de hoje./ / Estudos modernos, no entanto, comprovam a
suspeita: as pesquisas anteriores são cheias de falhas metodológicas e conclusões
precipitadas, que visam a subordinação intelectual feminina./ Dessa forma, nos foi
imposto um atraso que, com algum custo e muito sucesso, vem sendo vencido./ /
(TALVEZ ALGUM OUTRO EFEITO SONORO) Já a segunda justificativa se dá por
um prisma sócio-interacional, onde a sociedade, por se estruturar de forma patriarcal,
cria que as mulheres não poderiam seguir esse tipo de ocupação./ Essa argumentação se
estruturava no seguinte pensamento: caso nossas mulheres comecem a ocupar espaços
exclusivos para homens, logo esquecerão de suas funções domésticas e, em questão de
tempo, a sociedade colapsará./ / Apesar de ainda ser organizada patriarcalmente, as
mulheres, cada vez mais, estão brigando para ocupar esses espaços, como o meio
científico, antes exclusórios na sociedade./ Contudo, não deixaram nunca de serem
filhas, mães e esposas; apenas o são agora com maior liberdade./ / Mas ainda de frente
para essa nova ocupação de espaços, é preciso atentar para o fato de que nem tudo são
rosas./ Ainda existem muitos meios que, por serem majoritariamente masculinos, nos
fazem passar por determinadas situações, no mínimo, desagradáveis./ Sobre essas
situações, e mais algumas coisas, que nos falará Mayara, mestranda em matemática pura
pela UFRJ, área da matemática que, vale ressaltar, é de maioria masculina, chegando a
proporção de 50 para 1 em alguns institutos./ ENTREVISTA DA MAYARA
A fala em vermelho precisa ter alteração de voz para que ela fique mais grossa, com
finalidade de zombar da argumentação frágil

O primeiro bloco começa na Mayara, portanto, continuação do primeiro bloco.

Outra área em que também não vemos muita representatividade é a das ciências
naturais, representada aqui pelo curso de Física./ Para essa graduação, a porcentagem de
mulheres aprovadas chega até 50% na USP, número que não se mantém ao longo do
percurso, com as garotas sendo menos de 20% dos formandos./ / Segundo Márcia
Barbosa, professora titular da disciplina na UFRGS, são poucas as que entram nos
cursos de exatas, e o número das que se formam é ainda menor./ Para essa ciência, em
específico, a estimativa é de que apenas 5% delas cheguem ao topo da carreira./ É como
se houvesse um vazamento de mulheres pelo caminho, diz a professora./ De frente para
esse quadro, conversamos com a professora Idmaura Calderaro, que leciona a matéria
numa escola em Cunha, interior de São Paulo, motivo pelo qual não pode ceder a
entrevista presencialmente./ / Perguntamos então o porquê de ter escolhido esse curso e
a resposta que obtivemos foi a de que é uma área extremamente interessante da ciência,
pois nos permite compreender os modelos propostos para a explicação dos diversos
fenômenos existentes./ Questionamos também acerca da quantidade de alunas na turma
e qual o tratamento que elas recebiam, ao que recebemos a seguinte resposta: a sala
possuía apenas 4 mulheres, dentre 36 homens, no entanto todas eram tratadas com
muito respeito e igualdade./ / No decorrer da conversa, a professora também nos disse
que nunca se sentiu intimidada ou pressionada dentro do ambiente acadêmico, pois
todos os colegas eram muito acolhedores, de modo que nunca chegou a pensar em
desistir./ Por fim, quisemos saber se ela passou por alguma situação em que o machismo
a afetasse diretamente, porém obtivemos uma negativa como resposta, seguida da
reafirmação de que os alunos da classe não faziam essa distinção de gênero./ / Nós
achamos válido ressaltar que, embora a situação de Idmaura fosse muito favorável para
sua permanência, as coisas, na mesma época, em outras áreas, eram um tanto
complicadas para as meninas./ Podemos contrastar, por exemplo, a situação das colegas
de classe da nossa entrevistada com a situação de graduadas em farmácia, como
veremos a seguir, que precisavam da autorização de seus maridos, caso fossem casadas,
para conseguir seu registro no Conselho Regional de Farmácia./ / Indo agora em direção
a áreas mais interdisciplinares, temos o núcleo farmacêutico como representante.
*ONOMATOPÉIA DE ALGO BORBULHANDO* / A atividade farmacêutica, como
era de se esperar, é uma das mais antigas do mundo./ Isso acontece pois, desde sempre,
houve-se a necessidade de achar, na natureza, algo que curasse as mazelas humanas,
prolongando, desse modo, a vida. / / A história dessa atividade no Brasil começou por
volta do século 16, ainda no período colonial, quando a Coroa Portuguesa autorizou que
viessem boticários para cá, tendo em vista as necessidades dos colonos que aqui
moravam e o raro acesso que eles tinham aos medicamentos produzidos pela Capital./
Dessa forma, então, teve-se o deslanche da profissão em território brasileiro./ / O estudo
acadêmico, como conhecemos, no entanto, só se deu a partir do ano de 1832, quando foi
criada a graduação em Farmácia, vinculada às faculdades de medicina da Bahia e do
Rio de Janeiro; datando do mesmo ano a lei que dava somente aos diplomados o direito
de exercer a profissão./ / A mão de obra dessa profissão, como esperado, começou
predominantemente masculina. No entanto, rapidamente as mulheres dominaram o
cenário: nos anos 70, elas já ocupavam, em São Paulo, metade das vagas de ingresso no
curso./ Junto desse fato animador, porém, encontra-se outro muito mais desagradável: a
maioria das moças que entravam, logo saíam, no segundo ou no terceiro ano, isso
porque nessa faixa etária muitas se casavam e a dupla jornada não era vista com bom
bons olhos na sociedade./ / Contudo, muito se foi feito diante dessa revoltante situação:
houveram diversas campanhas e incentivos, dentre os quais debates em faculdades
públicas, palestras e cursos de aperfeiçoamento, para que as mulheres conseguissem
firmar sua permanência./ Essas ações, logicamente, surtiram efeito, de modo que, na
última estatística feita pelo Conselho Federal de Farmácia, 67,5% dos atuantes eram
mulheres, cenário bem diferente do de evasão, citado anteriormente./ / Todavia, ainda
hoje existem disparidades de gênero na área: apesar das mulheres serem maioria
numérica, são os homens que possuem maior média salarial, além de serem,
majoritariamente, os ocupantes da área de pesquisa./ Conversamos com Paloma,
estudante de graduação em Farmácia da UFRJ, para sabermos mais a respeito de sua
vivência feminina no meio./ ENTREVISTA DA PALOMA

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