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Resumo: A experiência de simplesmente encarar uma foto de uma pintura facial indígena
no museu, na escola ou na internet está longe de descortinar uma rede complexa de
intencionalidades que essa “prática artística” suscita para seu povo. Por outro lado,
classificar as pinturas corporais indígenas como “arte” pode ser visto como uma
sobreposição autoritária de categorias de análise de uma cultura sobre a outra, ou um
desencontro entre dois regimes de conhecimento. A fim de problematizar a atual prática de
ensino do que chamamos “Arte indígena” na Escola, parte-se da noção da difundida
Abordagem Triangular, indo ao encontro do pensamento de antropólogos e educadores que
sugerem os equívocos e da cegueira da cultura científica - e, por extensão, escolar -, ao
trabalhar outras culturas e cosmologias.
Introdução
1 Doutorando da linha Artes e experiências interartes na educação. Orientado pelo prof. Dr. Evandro
José Lemos da Cunha. E-mail: talesgerais@gmail.com.
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A expressão “modelo de criatividade” ou “estilo de criatividade” é usada por Wagner para substituir a
expressão “tipos de sociedade”, uma vez que esta última é tributária de conceitos muito particulares à
nossa cultura e não poderiam ser aplicados a outros agrupamentos dos povos indígenas (WAGNER,
2012, p. 88).
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Como explica Wagner (2012), um “ambiente” de significados ou contexto, articula uma série de
elementos, que por sua vez são reunidos por partilharem de qualidades em comum. Esta questão
sera abordada a seguir.
A relativização e o epistemicídio
O que pode parecer óbvio, afinal de contas, desde sempre soubemos que
pertencemos a uma cultura, nem sempre foi tão evidente para os cientistas. É
possível explicar melhor. Para Wagner, o antropólogo deve incluir a si mesmo e seu
próprio modo de vida em seu objeto de estudo (WAGNER, p. 39). Avançando sobre
essa ideia, defende que não se pode fugir do fato de que ele usa a sua própria
cultura para estudar as outras. O autor explica que o trabalho do antropólogo é
“inventar” uma cultura para os povos não-ocidentais – mesmo que eles não tenham
a palavra “cultura” –, supondo que eles fazem o mesmo que nós, a saber, cultura
(WAGNER, p. 89). Em um trabalho de campo, ele vivencia um “choque cultural” por
meio da sua inadequação ao mundo que passa a habitar, tornando-se apto a
descrever semelhanças e discrepâncias que ela apresenta em relação à sua cultura.
Por conseguinte, ele cria uma representação compreensível dessa “cultura”, que, por
sua vez, é endereçada a seus compatriotas e colegas antropólogos, pois não faria
sentido de outra maneira. Trata-se, portanto, de uma construção, que parte de seus
próprios pressupostos culturais e cujo resultado é “uma automática extensão
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Ao citar Stengers e sua referência ao “caso Galileu”, “[...] „uma cena primordial‟ onde nasceu a
singularidade do que chamamos „as ciências modernas‟”, Joana Cabral de Oliveira alega que a
“experimentação a que a autora se refere, consiste na reprodução dos acontecimentos em
laboratórios, de modo a dar voz à Natureza. Nesse momento o cientista sai de cena e quem fala é a
Natureza”. E conclui: “A empiria apaga, assim, as marcas da fabricação humana de um conhecimento
e lhe confere a autoridade necessária” (OLIVEIRA, 2012, p. 57).
Referências
FONSECA, Mário Geraldo Rocha da; ALMEIDA, Maria Inês de. A cobra e os poetas:
uma mirada selvagem na literatura brasileira. 2013. 334 f., enc Tese (doutorado) -
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/1843/ECAP-97NH6D>. Acesso em : 09 set. 2013.
GELL, Alfred. 1998 Art and Agency. An Anthropological Theory. Oxford: Clarendon
Press
OLIVEIRA, Joana Cabral. “Vocês não sabem porque não viram!”: reflexões sobre
modos de autoridade do conhecimento. In: Revista de Antropologia. V. 55, n. 1. São
Paulo. USP. 2012.
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010. 253 p. ISBN
9788575039212.