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‘TAICI — Revista de Espiritualidade Inaciana” 6 uma publicagao de Edigoes Loyola, sob a responsabilidade do CEL-ITAICL EQUIPE DO CELITAICL (CENTRO DE ESPIRITUALIDADE INACIANA DE ITAICD: Ir, Benedita de Lourdes Massaro, ASC} Pe. Claudio Werner Pires, $} — Viee-diretor Bleio José de Toledo, SI Pe, Francisco Rinaldo Romanelli, S] — Diretor Pe. Luis Gonzilez-Quevedo, S} — Redator Ir, Luisa Maria Barretto Valle, 1S} Ir. Maria de Fétima Carvalho, ASCJ Ir, Maria Fétima Maldaner, SND Ir. Maria,Thereza Thiele, FSC) Pe, Pedro Américo Maia, S} Pe. Raul Pache de Paiva, S) Pe, Rui Melati Alexandrino da Silva, $} EXPEDIENTE Juliana Ferro CAPA Amanda A, Cabrera DIAGRAMAGAO Maurélio Barbosa COMPOSICAO F IMPRI Edigdes Loyola Rua 1822 n° 347 4216-000 — Sao Paulo — SP — Brasil Caixa Postal 42.335, (04299.970 Sao Paulo — SP CENTRO DE ESPIRITUALIDADE INACIANA DE ITAICI Cx, Postal 09 — Vila Kostka 1330-970 — Indaiatuba — SP — Brasil Tel. (019) 894-8555, FAX (019) 894-0866 'SAO: ‘AssINarURA Para 1997 (4 mtimeros): Brasil: US$ 15,00 Brasil Exterior: U USS 4,00 Exterior: USS 8,00 Sociedade Brasileira de Edu Caixa Postal 09 1330-970 Indaiatuba, SP (B go — Vila Kostka sil) Numexos Avuisos: ITAICI REVISTA DE ESPIRITUALIDADE INACIANA 26 dezembro de 1996 no 7) > ITAICL @ EDITORIAL... ‘TEXTO EXERCICIOS ESPIRITUAIS DE SANTO INACIO DE LOYOLA, nn. 91-100 EXERCICIOS ESPIRITUAIS DE SANTO INACIO DE LOYOLA, nn 101-117 EXERCICIOS ESPITIRTUAIS DE SANTO INACIO DE LOYOLA nn.118-134 ARTIGOS : ‘A PESSOA DE JESUS NOS EXERCICIOS DE SANTO INACIO Javier Osuna, 5) REINO DE CRISTO A LUZ DA CONGREGAGAO GERAL 34° Jodo Batista Libanio, S} UM COMENTARIO AOS EVANGELHOS DA INFANCIA Alejandro Bejarano, S} ‘A. ORAGAO NOS EXERCICIOS: REPETICAO E APLICAGAO DOS CINCO. SENTIDOS. Mireya Escalante ‘A PRIMEIRA PARTE DA SEGUNDA SEMANA DOS EXERCICIOS ESPIRITUAIS Claudio Werner Pires, S) INACIO DE LOYOLA EM JERUSALEM J. Ram6n F de la Cigona 2 29 4a 4 44 62 ABATALHA DE INACIO. Armando Cardoso, SJ DA MOGAO A MISSAO. O APOSTOLADO DOS EXERCICIOS E OS EXERCICIOS APOSTOLICOS Ulpiano Vazquez Moro, S} ‘ORAGKO INACIANA ‘© DIA DE RAMOS Pe, Claudio Werner Pires, $} suBsiDI0s ENCONTRO COM JESUS CONTEMPLAGAO INACIANA. APLICACAO DOS SENTIDOS... EXPERIENCIA LUMA PAROQUIA DISCERNE A SUA MISSAO: Pe, Casimiro Irala, SJ. COMUNICAGAO 5° ENCONTRO DE CENTROS INACIANOS DE ESPIRITUALIDADE DA AMERICA LATINA E DO CARIBE Claudio W. Pires, SJ Livros BIBLIOGRAFIA PARA A PRIMEIRA PARTE DA SEGUNDA SEMANA, Claudio Werner Pires, SJ BARREIRO, Alvaro, Acampou no melo de nds (Paiva) NOTAS BIBLIOGRAFICAS, .. INDICES DO ANO 7 (1996) . FPAICK — Resta oe Berwmunsmoe baw (Deseo 7 78 85 1s 32 31 90 94 96 98 99 lot 1006) | Epirortan ENCONTRAR JESUS NOS EXERCICIOS No ano que estamos encerrando, a nossa revista empenhou-se no estudo € divulgagdo do texto dos Exercicios Espi- rituais de Santo Indcio. Este pequeno li- vyro, de ndo fécil leitura, j4 fot apresenta- do como “o segredo dos jesuftas” ou como eficiente manual de formagao de lideres. Neste diltimo sentido, o livrinho foi lido e cuidadosamente anotado pelo pai da revolueao bolchevique, Lenin, para (5 antigos comunistas “o maior revolu- cionério de todos os tempos”. Para nds, no entanto, 0s Exercicios nao sdo um livro esotérico, um manual de for ‘magao de lideres cristdos, nem mesmo um. guia prético de oragao. Nao é um livro para ser ligo, estudado e discutido, mas para ser vivido. Trata-se de um roteiro a ser percorrido por quem busca uma vida nova, ida na fé e na experiéncia crista Antes de ser escrito, o livrinho dos Exerc‘cios foi vivido pelo seu autor. Nele Indcio de Loyola comunicou-nos sua ex: periéncia pessoal, feita proposta de itine. rério prético para quem quiser encontrar caminho que conduza ao Caminho cris: tao, Beste, nés estamos convictos, 56 tem. ‘um nome: Jesus (cf At 4,12). igamo-lo claramente, A grandeza dos Exerefeios ndo vem da sabedoria ou santiade do seu autor, nem da originali- dade da sua metodologia, tantas vezes es- tereotipada ou banalizada por muitos de nds, A verdadeira grandeza das Exercicios EDITORIAL decorre do seu objetivo central: o encon- tro com o Senhor Jesus, o Filho de Deus € Salvador do mundo. Esta experiéncia, quando auténtica, sera necessariamente wansformadora, unificadora e dinamiza- dora de toda a vida do exercitante. Certamente, Inécio ndo queria que fizéssemos uma contemplagao “anacré: nica” (alheia aos problemas e alegrias do nosso tempo) , nem “at6pica” (alienada, fora do lugar). Por isso, para sermos figis, :inspiracao inaciana, queremos ser fiéis, ‘em primeiro lugar, ao Evangelho e, em segundo lugar, a0 nosso contexto hist6- rico, ao “aqui e agora’, em que fazemos 0 Exercicios e buscamos conhecer, amar seguir o Senhor Jesus. Em junho deste ano, realizou-se na Venezuela um Curso-"taller” (Oficina de trabalho) para acompanhantes de Exer icios. O Pe. Javier Osuna, diretor do Centro Inaciano de Reflexao e Exercicios, de Bogoté, apresentou, entre outros es- tudos, um sobre “A pessoa de Jesus nos Exercicios de Sto, Inacio". E 0 artigo qu abre 0 presente ntimero da nossa revista. Pe, Joao B. Libanio estuda o tema do “Reino de Cristo & luz da Congregagao Geral 34.” Alejandro Bejarana faz um bre- vve “Comentario aos Evangelhos da Infain- cia", Ea professora Mireya Escalante apre- ‘a 0s modos de orar inacianos de “Re- peticdo” e “Aplicagdo dos 5 sentidos". Este Uikimo texto, extraido da contrib ampla que a autora fez no Curso-taller tea lizado na Venezuela, refere-se especial- mente aos EVC (Exercicios na Vida Coti diana), Pe, Claudio Werner Pires, Vice-dire: tor do CEL-ITAICI, conhece bem a "Se- gunda Semana dos Exercicios Espi tuais”, que foi objeto de sua tese de dou toramento em Teologia pela Universida de Gregoriana. A ele confiamos o artigo mais sistemstico do presente numero, de- dicado a primeira parte da Segunda Se- mana. E responsavel, também, pelas no- tas da nova traduggio do livro dos Exeref- cios, que 0 CELITAICI esta publicando, € por varias outras contribuigdes. Neste ano, a cidade de Jerusalém completou 3000 anos de existéncia, Nos- so colaborador Pe. José Ramén F. de la ERRAMOS Cigona lembra a data, no seu artigo cio de Loyola em Jerusalém”, além de as sinar breve apreciagao de livro recente sobre 0 assunto, Nossos habituais colaboradores PP. Armando Cardoso e Ulpiano Vizquezenti quecem o presente ndimero, que conta ain- dacom uma"Experiéncia’ do Pe.Casimiro Irala, recenstio de um livro importante do e, Alvaro Barreiro e indices do ano. Os nossos mais de 800 assinantes encontrarao, dentro da revista, boleto bancario, que facilitaré a renovagao da assinatura para 1997. Nas vésperas do Natal e de um novo ano, neste apressado fim de século e de milénio, desejamos a todos “graga e paz", da parte do Senhor Jesus, a quem juntos continuaremos bus: cando e encontrando. [No artigo de Maria Angeles Navarro “Opeto por Cristo pobre, apcio pelos pobres tes graus de humid e" (Hall, n° 25, 77-83), pblcamos que nos trés modos de huldade “nao se trata de preparagao para 4 elega0” (inal da primeira coluna da pig 7, Aatora aliens o contro: A consideragdo dos tres Javier Osuna € dirtor do CIRE: (Centro lgnaciano de Reflecién y Ejercicias) de Bagotd A PESSOA DE JESUS NOS EXERCICIOS DE SANTO INACIO. O texto dos Exercicios e a experiéneia cspiritual que eles proporcionam deve-se, ‘em palavras de Inacio, ao fato de que “al- ‘gumas coisas que observava em sua alma ¢ achava titeis, parecia-Ihe que poderiam ser titeis também aos outros. Entao as co- locava por escrito” (Autobiografia, 9). Assim, com impressionante simpli cidade, Inacio explica a origem de um ins- trumento destinado a produzir transfor- mages decisivas na vida de muitos ho- mens e mulheres, ao longo de mais de 50 anes. O proprio Inacio escreverd, em 1536, a um sacerdote portugues, conv: dando-» a fazer os Exercicios: "Duas, trés, emuitas outras vezes pego-Ihe, por amor de Deus nosso Senhor, (que faga os Exer Cicios Espirituais)... por serem o melhor que eu posso, sentir entender nesta Vida, tanto para a pessoa tirar proveito para si mesma, como para dar fruto, aju- dando aos outros” (16.11.1536) 0 que foi que Inacio experimentou na sua alma e pensou que poderia ajudar também a outros? A inefavel experiencia do amor de Deus, que o envolveu e trans- formou radicalmente sua vida, Seus olhos Javier Osuna, SJ se abriram “com tamanha iluminagao que Ihe pareciam novas todas as coisas, Recebeu grande clareza no entendi mento, ficando iluminado, de tal manei: a que the parecia ser outro homem” (Autob,, 30) Karl Rahner descreve-o com forga: “Encontrei-me com Deus; experi mentei o préprio Deus... A partir de Manresa, comecei a experimentar a ine: fével incompreensibilidade de Deus, de forma cada vez mais intensa e mai pura... O proprio Deus. Era Deus mesmo {que eu experimentei, nao palavras huma: nas sobre Ele. Deus e a surpreendente liberdade que o caracteriza s6 pode ser experimentado por sua iniciativa"! Esta experiéncia divina do encontro transformante com a imediatez de Deus ficou finalmente expressa no texto dos Exereicios, naquilo que considero a me- Ihor definigao do que eles so e preten- dem, a Anotagao 15: “que o mesmo Cria- dor ¢ Senhor se comunique & pessoa es- piritual, abragando-a em seu amor e fou- vor e dispondo-a para o caminho em que melhor podera servi-lo depois” (EE 15). mods le humildade prepara par a elegaa No préxima nimero dda Segunda Semana”, trstaremos amplamente da “elegto Ee) revista, dedicado A “segunda pate alanas de Inicio de Loyola a um esta de hoje (Col Ignatana’, 18) FTAICI —Rewsi oe Exemunmr wae (Dezaan — 1998) | ARTrIGOS, A rave vc fue noe Batons oe Samo bic fee] Aqui, nesta anotacao, aparece o pré- prio Deus como protagonista da expe- riencia. Nela encontramos os elementos cessenciais do proceso dos Exercicios: = Oser humano que se dispae e pre- para para este abrago, totalmente gratuito, e que parte da iniciativa de Deus; = amor de Deus que invade o cora- ‘cao humano, aquecendo-o no seu amor ¢ louvor; ~ a propria pessoa que se sente atin- gida (abracada ou abrasada) pelo ‘Amor ese dispoe a responder, orde- nando sua vida, integrando-a no projeto divino, para doravante ser- vir a Deus (a Jesus) da melhor ma- heira possivel ("buscar e encontrar a vontade divina na disposigao de sua vida”, segundo a Anotacao 1) ra, 0 Amor de Deus se manifesta e se comunica ao ser humano, segundo 0 Novo Testamento, na pessoa de Jesus. Ninguém jamais viu a Deus. O Verbo en: carnado € quem no-lo deu a conhecer, escreve Sao Joao no prélogo do seu Evan- gelho. E em sua primeira carta: "Deus nos demonstrou 0 amor que nos tem, envian- do seu Filho tinico para que todos tenha- mos vida" (1Jo 4.9). "Nisto consiste o amor. Nao que nés tenhamos amado a Deus, mas Ele nos amou primeiro ¢ nos enviou seu Filho” (4,10)... "Nés conhecemos o amor que Deus nos tem e cremos nele” (4,16) ‘A mesma coisa diz Paulo: “fez-se vist vel para nds bondade de Deus e seu amor pelos homens (filantropia)" (Tito, 3,4). Por isso, a pessoa de Jesus ocupa 0 eixo central, 0 fio condutor de todo 0 iti- nerdrio dos Exercicios. Nenhuma outra ‘contemplagao poderd substitui-la, se for- ‘mos fiéis ao projeto inaciano. Buscamos © encontramos a vontade de Deus sobre nossa vida e a melhor maneira de servi lo, através da contemplagao dos misté Irate tios da vida de Jesus, organizados por Santo Inécio segundo um plano, e “co: mhecidos" em nosso coracio pela luz e consolagao do Espirito Santo, COMO SE APRESENTA A PESSOA DE JESUS NOS EXERCICIOS? Os Exercicios compreendem dois grandes momentos: 1° Um momento de entrada, que abrange o Principio e Fundamento ea Pri- meira Semana, Tem por finalidade que o exercitante se experimente como criatura, ‘Tome consciéncia de que sua vida esta to talmente em referéneiaa Deus, que o criou 0 continua criando; que colocou toda a ctiagao nas suas mdos, para alcangara ple. nitude de vida, O exercitante compreende que deve integrar sua vida neste projeto divino, ordenando todo o seu ser, sua rela Glo com as coisas criadas, de maneira li vre, de modo que busque somente o fim para o qual foi criado. Nele encontraré, fi nnalmente, sua plenae inteiralibertacio, sua Felicidade completa (a sua “salvacio") Na Primeira Semana, o exercitante compreende também que deve re: esta tarefa situado num mundo e numa hist6ria de pecado, que rejeitou Deus, Ele proprio se sente envolvido nesta corren- te de pecado. Contudo, “conhece” 0 amor-misericérdia de Deus, que leva adiante a hist6ria da salvagao em Jesus, Cristo, enviado a0 mundo para que todo fo que nele cré tenha vida e ninguém pe- rega. Descobre 0 amor que faz supera- bundar a graca onde abundou o pecado. Aqui a pessoa de Jesus faz sua entra: dda explicita. O primero encontro do exer citante é com o Jesus da paixio, com Cris to na cruz, morto por ele. Experiéncia de Jesus como Salvador. Diante de Cristo cru- cificado, sente-se abismado de admiragao e gratidao. Pergunta-se o que ele deve fa- zer em troca para responder a tanto amor. Rosa be Esrmunuoabe Insc (Dezoaaao — 1996) 2 A partir deste momento, os Exer cicios conduzirao a uma mudanga de vida, impulsionada pelo dinamismo que suscte a contemplagao dos mistérios da vida histérica de Jesus. Este dinamismo salvitico, conduzido pelo Espirito Santo, constitu aforga de todo o processo sub~ jacente as quatro semanas. Dai a centra- lidade do discernimento para conhecer as lzes e as consolagoes do Espirito. £ a txperiéneia do amor de Deus que cri, € refetalo, se encara, partiha nossa vida anuncia@ Boa Nova do Reino, nos liberta Com sua morte eressurreigao e nos envia 4 cooperar com Ble, presente e atuante na Igrja.e no mundo pelo seu Espitito, Taxlas as contemplagdes da Segunda Semara sio precedidas por uma petigao ser feita no inicio de cada exercicio, Na Terceira e Quarta Semana continua a mesma petigfo com as devidas adapta des: “conhecimento interno do Senhor, {que par mim se fez homem, para que mais o ame e o siga” (EE 104), Jesus (Consuelo Bordas, Cas ARTIGOS, A reson oe Jee soe Bases Sar Ie (Geral da Companhia de Conhecimento interno 6 uma expe- riéncia vital de comunhao. Em dupla di- recdo: a) penetrar além da contemplagio dahumanidade de Jesus, apresentada no texto que se contempla, até os sentimen: {os do seu coragao, seus valores, suas ati- tudes... b) voltar @ mim mesmo ("refle- tir"), para que a vida de Jesus me penetre interiormente, néo apenas meu entendi: ‘mento, como também meus sentimen- tos, meus valores, minhas atitudes ‘Amor crescente e seguimento, na pers- pectiva das “oferendas de maior valor e importancia” (EE 97,2). Seguimento que, or sua vez, permite conhecer melhor € amar ainda mais, Santo Indcio fala de imitagao, termo referido. mais a um modelo estético, do qual se faz. uma c6pia; de seguimento, referindo-se mais a um lider a caminho, ‘cujos passos se seguem, reproduzindo sua vida a partir das proprias circunstan- cias; e de servigo, que € dedicagio em a. Teresa, Roma), colaborar com Jesus na missao recebida do Pai Nacantemplagao da encarnagao, com a qual se inicia propriamente a Segunda Semana, o terceiro predmbulo pede o co- nnhecimento interno do Senhor...“paraque ‘mais oameeo siga’ (EE 104).Sugere-se um ccoléquio para pedir a graca de "mais seguir ¢ imitar o Senhor nosso novamente encar- nado” (EE 109). Em uma das notas que se- sguem o final do primeito dia (EE 130), fala- se em desejar conhecer 0 Verbo eterno en. camnado "para mais servir e seguir O seguimento, convite de Jesus nos Evangelhos, € uma forma de imitagao, Corremos na competigio que se nos apre senta, com 0s ollos fixos em Jesus, pio neiro e consumador da fé (Hb 12,1-2) Neste caminho, guia-nos 0 Espirito, que nos vai ditando e pondo no coragao a di reco conereta para a qual 0 Senhor nos move. Est muito claro para Inacio 0 de- sejo de imitar a Jesus, de conformar sua vida com a dele, em pobreza, ultrajes, hhumithacdes. Mas esta imitagao ¢ sempre discernida, porque em tltima andlise é “sua divina Majestade” € nao eu quem determina a forma conereta para seu maior servio e louvor e ajuda ao préximo. O absoluto 6 "o Reino de Deus e sua justiga’ Tudo o mais, inclusive meus mais inten- 808 desejos de imitar 0 Senhor, deve sujet tar-se a isto. Imitagao e seguimento sao ordenados ao servico do reinado de Deus, de sua maior gloria, Por isso, as petigoes ‘que expressam 0 desejo da mais estreita imitagio vao sempre acompanhadas de uma condigao: “contanto que seja vosso maior servigo e louvor” (EE 98), “se sua divina Majestade for servido e me quiser eleger e receber” (EE 147). Um texto do atual Superior Geral dos Jesuitas, Pe. Peter-Hans Kolvenbach,ilus: tra bem esta dialética propria da espiri tualidade inaciana: “Existen, realmente, e devem existir, tensoes na Companhia. Nao me refiro as tensdes normais entre jovens e adulios, en- treconservadores e progressistas, entre cen- tro-esquerda e centro-direita. Isto traz es- clarecimento e ajuda a crescer. Também 1ndo me refiro as tensoes nascidas de nossa espiritualidade e vocagao de jesuttas... HO- ‘mens da Encarnagao, tal como Sto. Indcio quer que sejamos, deveriamos suportar as tensoes da Encarnagao. F assim, na Segun- da Semana dos Exercicios, imediatamente nos apresenta a tensio de nossa prépria vida, quando de um lado pedimos suma pobreza espiritual e, de outro, dizemos ao Senhor: ‘agora, a forma de realizar esse desejo 6 coisa tua’. Cada ano nos Exercicios nos colocamos nesta tensii”. PRESENGA DE JESUS AO LONGO DAS DIFERENTES ETAPAS. 1. No Principio e Fundamento, Jesus nao aparece explicitamente. No entanto, penso que Inécio, ao descrever 0 destino dda pessoa humana, sua vocagao de lou: vor, servigo e reveréncia, ao tracar sua ati tude diante da ctiacao, teve presente Jesus Cristo, cuja vida ¢ prototipo e modelo do humano. Sua pessoa esta implicita no projeto divino de toda humanidade. Neste texto Indcio condensou sua experiencia mistica em Manresa, onde contemplou a ‘Trindade e Ihe foi mostrada a forma como actiagao sai de Deus e volta para Ele, atra- vés de Jesus Cristo, Neste texto nao pode- ria estar ausente a memdria de Jesus. Por que nao aparece, entio, quando poderia se fazer uma bela contemplacao global de sua vida, para mostrar como devemos glorificar, servir e reverenciar a Deus Pat; como relacionar-se na liberdade com Ele, com os outros e com toda a cria- (40? Talvez por razdes pedagogicas. Neste primeiro momento dos Exercicios, o exer- citante deve concentrar-se, levarasério sua vida, para aceitar sua criaturidade e sua TTAICI — Resta Esrmrunipane Teac (Desnan0 — 1996) ro necessidade de ordenar a propria vida, integrando-a no projeto de Deus. 2, Na Primeira Semana, como foi dito, aparece pela primeira vez. Jesus ‘como Salvador, pregado na cruz, morren- do pelos meus pecados. Aqui nao se fala de imitar nem de seguir. Busca-se que 0 exercitante se sinta abismado pelo amor salvador e, chelo de admiragao e grati- dao, pergunte-se 0 que deve fazer em troca para corresponder a tanto amor: que fiz por Cristo, que fago por Cristo, que devo fazer por Cristo? ( EE 53), 3. Na contemplagao inicial da Segun- da Semana (0 chamado do Rei eterno), 0 exercitante se encontra com Jesus ressusci- tado, Senhor de todas as coisas. Ele o cha- mae convida a segui-lo ea colaborar com Ele na missao de levar todas as coisas ao Pai, Jesas convoca ao seguimento, O exerci tante responde com o clesejo e determina: ‘gio de segui-lo imitando-o, passando por {odas as injirias e todo o desprezo e toda a pobreza... (FE 98). E a primeira opgio: comprometer-se com Jesus Cristo para a isso, conformando sua vida com a dele. [Embora ainda ignore a forma concreta de servico ao qual 0 Senhor o chama. Esa experiéncia evoca a experiéncia 1p6s-pascal dos primeiros discfpulos, con: vocades pelo Ressuscitado para prosse- ‘guir a missao, Também nos Evangelhos 6s rela:os da vida de Jesus sao poster: res aos da paixao e da ressurreicao. Lem- bra igualmente a experiencia de Paulo. Atingico por Cristo no caminho de Da: asco, corre atras dele, para ver se 0 al: canga, solidarizando-se com seus sofri rmentos e sua morte, para participar com Ele na ressurreigao (ct Fl 3,10-12), 4, Toda a Segunda Semana, a mais longa éas etapas, dedica-se a contempla. io dos mistérios da vida historica de Jesus. Experiéncia do amor solidrio que, sendo rico, se fez pobre por nés, para nos enriquecer com a sua pobreza (2 Cor 8,9) Indcio propoe uma selecao, propria dele, dos mistérios de Jesus, para contemplar durante doze dias. Porém, dé liberdade para alongar ou encurtar, segundo o exer- citante se sinta guiado pelo Espitito. Para tanto, no final, ele apresenta os mistérios de toda a vida de Jesus, distribufdos em Pontos para a contemplacao, Na contemplagao, 0 exercitante “faz: se presente” ao mistério, vendo as pes- soa, ouvindo o que dizem, olhando o que fazer. Este ato de presenga 6 bisico na contemplagao. Nao se trata do esforco dificil de voltar vinte séculos atrés, para imaginar © que entao aconteceu, Jesus, por meio do seu Espirito, também me “tomna presente” o mistério que contem- plo, trazendo-o até mim, Como muito bem explica um autor: ‘0 Senhor ressuscitado, por estar além do tempo, entra em nosso tempo... Cristo pode fazer presente (re-presentar) 0s mis: {érios de sua vida, assim como torna pre- sente o Mistério Pascal na Eucaristia...As- sim também, de modo semelhante, pode- mos estar presentes nos mistérios que contemplamos. O Senhor pode fazer isto porque em sua vida ressuscitada e cheia de gloria transcende o tempo eo espago. £0 Senhor da historia e do universo”® Nesta forma de oragiio hé, pois, uma lembranga (“ver” com a vista imaginati vva) e uma presenca (o Senhor "novamen- te encamado"), Pretende-se uma triplice atitude do exercitante: I) fazer-se presente ao aconte- cimento que contempla; 2) querer e pedir imitar, seguir e servir ao Senhor, que se fez 2 John English, SJ, "Spiritual Freedom, from an experience of the Ignatian Exercies tothe aft of spkitval direction” ARTIGOS, A miso o¢ less 90s Bincaos Siro Ie fay homem por ele; 3) deixar-se “afetar” pela pessoa de Jesus, até desejar intensamente identificar-se e configurar-se com Ele na pobreza, na humilhagao, no desprezo. ‘As contempla tribuem assim: - Primeiro dia: Encarnagao e nasci mento, com repetigdes e aplicagao dos sentidos. ~ Segundo dia: Apresentacao no tem: plo e fuga ao Egito “como exilado”. ‘Terceiro dia: Vida em Nazaré ¢ epi sédiodaperdaeencontrono templo. ~ Quarto dia: (unto com a contem- plagao da propria vida), Duas Ban- deiras e Trés tipos de pessoas. Quinto dia: Partida de Jesus de Nazaré e Batismo no Jordiao. ‘bes cla Semana se dis- Sexto dia: Tentagdes no deserto, ‘Sétimo dia: Chamado e seguimen- to dos primeitos discipulos, itavo dia: 0 sermao da montanha as bem-aventurangas. Nono dia: Aparicio aos diseipulos sobre as ondas do mar Décimo dia: Como 0 Senhor pre~ gava no templo, Décimo primeira dia: A ressurrei- ‘gao de Lazaro, = Décimosegundodia: Odiade Ramos, 5. A Terceira Semana esta centraliza- da na contemplagio da paixio. O Cristo na cruz da Primeira Semana, morto “por ‘meus pecados’, é proposto novamente a0 exercitante, que novamente se pergunta sobre 0 que “deve fazer” por Ele, com ui verbo a mais: “fazer e padecer’. No entan- to, hd uma mudanga de perspectiva. Ago: ra'a contemplagao se centraliza mais em Jesus que morre, demostrando-me seu amor, e que desperta sentimentos de com paixdo por Ele. A petigao é de “dor com Cristo doloroso, angistia com Cristo an- col ‘gustiado, lagrimas, pena interna de tanta pena que Cristo passou por mim” (EE 203) 0 movimento das contemplagées leva a considerar 0 que Cristo nosso Senhor pa- dece na humanidade e a caminhar, passo ‘a passo, com dor, sentimento e confusdo, 0 lado do Senhor que entra na paixo por mim (EE 193, 195). Aeleigdo, provavelmen- te jd concluida na Segunda Semana, fir ma-se em um movimento de solidarieda: de, identificagao e confusao com Jesus humilhado e cheio de desprezos. Seu des- tino é nosso destino, segundo as palavras, do proprio Jesus: "se alguém quiser me servir, siga-me. Onde eu estiver estard tam bém meu servidor” Jo 12,26), 6. A Quarta Semana acentua ainda mais a contemplacdo desinteressada do Senhor ressuscitado e glorioso. O exerci tante, esquecido de si mesmo, fixa 0 sew ‘olhiar e os seus sentimentos no que acon- tece com Jesus e busca “alegrar-se e gozar intensamente com tanta gloria e gozo de Cristo nosso Senhor” (EE 221). A edigao latina sugere, na petigao desta Seman: que se suplique a graga de "participar do imenso gozo de Cristo e de sua Mae". exercitante contempla “o offcio de consolador” que Cristo nosso Senhor exer- ce (EE 224). E um exercicio dirigido, nao apenas @ olhar Jesus ressuscitado em bus- ‘ca dos discipulos, para tiré-los da situagao fem que se encontram: perda de f, triste za, medo, desencanto, arrependimento, depois da tragédia da cruz, como nos mos- tram as diversas apat mais além: contemplar a nova presenga consoladora do Ressuscitado na Igreja, até 0 fim do mundo, como Jesus prometera na ditima cela. Ele, presente no meio de riés, todos os dias, atua por meio do seu Espirito, o Consolador ou Pardclito, que é irradiagao de sua presenca, Fungo de “paraclesis", que significa: exortar, impulsionar,excitar, convidar, con: solar, comunicar forga. Ha aqui, sem duvi- Resta nr Retutnane: aca (Deze — 1996) dda, uma clara referencia a “consolaczo do Espirito” queatravessa todooitinerdtiodos Exercicios. Aconsolagao ouunciioconstan- tementerastreada através do discernimen- to, para buscar e encontrar a vontade de ‘Deus na disposi¢ao de nossa vida, que Sto. Indcio descreve tao ricamente: “Chamo consolagao quando se pro- duz na pessoa alguma mogao interior, com a qual vem a inflamar-se de amor ‘par seu Criador e Senhor, e por conseguin- te quando nenhuma coisa criada sobre a face da terra pode amar em si mesma, sendo no Criador de todas elas. Assim ‘mesmo, quando derrama lagrimas moti vadas pelo amor de seu Senhor... Final: ‘mente, chamo consolacao todo 0 aumen- to de esperanca, fé e caridade, e toda ale- ria interna, que chama e atrai as coisas celestiais e a propria salvagao da alma, tranqtilizando-a e pacificando-a em sew Criador e Senhor" (EE 316). u ainda: ‘Paz interior, gozo espiritual, espe- ranca, fé, amor, ldgrimas e elevacao da ‘mente, dons todos do Espirito Santo” (Di- ret6rio autégrafo). 7. Na contemplagao para aleangar ‘amor, desaparece novamente a pessoa de Jesus, para tornar a considerar 0 Amor da ‘Trindade que se doa, habita em ns, traba- Iha por nds e transparece em todas as col: sas. Porém, nao podemos esquecer que 0 exercitante chegou a essa experiencia con: duzido pela pessoa de Jesus, que mantém aqui uma presenca silenciosa. Por Ele se chega a contemplacao de Deus, que se nos ‘manifestou pela vida e mensagem de Jesus. “Cristo éa condigao de possibitidade deste dialogo de amor e de miitua entrega. Se esta contemplacdo pretende que o exerci tante ‘possa em tudo amar e servir a sua divina Majestade’(EE 223), devemos reco- mhecer que & Cristo quem 0 devotvew ao servigo e 0 fez apto para 0 amor". Mais ainda, é possivel desdobrar esta contem: plagao, para considerar em cada ponto as ‘Trés Pessoas “doando-se, habitando, traba- Ihando, transparecendo” em todas as coi sas, e fazer coléquios com cada uma de- las, conforme o exereitante “sentir em si 4. Ls Marta Armendata I, Manresa, vl. 6, 1991, p. 156 ARTIGOS, A reso nt ne Retr ne Seta Ison Continuamos @ publicagdo da nova tradugdo do texto autdgrafo dos wrccos. A tad & do Pe, Paiva, com a colaboragdo de outrs membros do CEL-ITAICL. O responsive peas notas & 0 Pe. Claudio W. Pies, EXERCICIOS ESPIRITUAIS DE SANTO INACIO DE LOYOLA, NN. 91 - 100 ‘SEGUNDA SEMANA [911 (1) © CHAMADO DO RE! TEMPORAL AJUDA A CONTEMPLAR A VIDA DO REI ETERNO' (2) ORAGAO A oracao preparatoria seja a de cos- (8) 1" preambulo, composigao vendo lugar Set aqui ver, com os olhos da imaginagZo, as sinagogas, cidadezinhas e povoados por onde Cristo Nosso Senhor (4) 2° preambulo, pedir a graga que quero, Pedirei a Deus nosso Senhor a graca de nao ser surdo a seu chamado, ‘mas pronto e diligente para cumprir sua santissima vontade!, (921 1° ponto Imaginar, diante de mim, um rei hu- mano, escothido pela mao de Deus Nos- so Senhor, a quem reverenciam obe- decem todos os governantes © povos cristaos' (93) (1) 2° ponto Reparar como este rei fala a todos os (2) “Minha vontade é conquistar a ter- 1a dos inimigos’. Portanto, quem quiser vir comigo hd de contentar-se com imi- tar-me no comer, beber, vestr, eassim por diante. 3) Do mesnio modo, hd de trabathar comigo de dia e vigiar de noite, (4) a fim de que tenha depois parte comigo na vité- ria, como a teve nos trabalhos, {941 (1) 3" ponto Considerar 0 que os bons stiditos dever responder a um rei tao generoso e humano. (2) E, pelo contrario, quanto seria digno de ser censurado por todos e tido por mau cidadao® quem recusasse 0 apelo de um ret como ele. [951 () 2" parte Consiste em aplicar este exemplo do rei deste mundo a Cristo Nosso Senor. conforme os trés pontos seguintes: (2:1 ponto Se julgamos esta convocagao do rei deste mundo digna de ser tida em conta, {G) quanto mais serd digno de considera- ‘Gao ver Cristo Nosso Senhor, Rei eterno, com 0 mundo inteiro diante dele, que ‘chama todos e cada um em particular, € diz: () "Minha vontade conquistar 0 ‘mundo inteiro, vencendo todos os meus ini- ‘migos, e assim alcangar a gléria do meu Pai. (4) Portanto, quem quiser vir comigo hd de trabathar comigo, a firn de que, se- ‘guindo-me na tuta’ também me siga na ‘loria’.” [961 2° ponto Considerar como todos os que tive- rem juizo e bom senso se oferecerao teiramente para esse trabalho. (971 (1) 3° ponto Os que quiserem afeigoar-se ¢ dis ‘inguir-se mais em todo servigo do seu Rei eterno e Senhor universal, nao ape- 1s se oferecerao intelramente para esse trabalho, (2) mas ainda, agindo contra sua sensualidade e contra o seu amor carnal mundano”, farao oferendas"® de maior valor e importancia, dizendo: [98] (1) “Eterno Senhor de todas as coisas, eu me oferego, cam vossa graca & ajuda, diante de vessa infinita bondade, de vossa Mae gloriosa e todos os santos € santas da corte celestial: (2) Quero.edeseja!', e6 minha determi- nagao deliberada’, desde que seja para 0 vaso maior servic e louvor, (3) imi- 5. Uteralmente: “oda a terra dos inf” Isto 6, dos nt erents, que, no tempo de Santo indcio const regava’ seus, dizendo: 1, um exerieio que procura uma transcao da experiécia dle amor salvador, que perdoa, para uma ‘experiacia do Salvador, qu continua atuando na bites. ( exercciocoloea dante de quem o faz Histria da Salvo em suas grandes perspecivasdlvinas € ‘edsmieas Abarea 0 mundo intra ea humanidade toda Tudo deve ser suelo a0 senhorio de Crs, que nao veo para dominar, mas par libertar a todos ea tudo do dominio das foras do ml. 2.0 predmbulo para Imaginagio prope Jesus pregando em virios lugares. A pergunta da Primelra maha, "O que devo fazer por Cristo” EE 53), vem a resposta da Segunda Semana: €preeso escuao e abragar 0 que propde 3H nao se tata de tor presente apenas o que Deus quer para todos (ieldade & vocaclo gerl), mas ‘assocarse a Jesus na lta pelo Reino através do que ele pede em particular de cada umn (oeagao especiia. 4-4 parabola do rel temporal, muito sugertiva nas épocas medieval, ¢ Imagem simboliea pars ajudar 0 ‘eercitante a encarar a realidade do Hel Eterno.E um meio para que o exeritante possaverfcar 0 seu estado de oferecimento e lspoaiiidade com seus dinamisias hurmanos.Ealguém capaz de empolga Se por uma propesta humana que vale a pena? Ate que pontot VTALCI — ones Esvmrusuoane Inna (Deseo — 1906) 6 Literaimente:"perversocavaleio", Conforme a "Versio Vulgata” ea “Versio (soldado) 7. Outras tadagbes possives “trabalho” e"pena” No texto AntOgrafo dos EE 6 wsadla a express "pena antes, “wabalar comigo™ CConfonmeo Pe Gz, hi delta comigo”é uma expressto que sinttiza.o mistétio dvino da Encarago ‘todo 0 seguimento de Cristo (Kenoss),“Ocrstto que segues Cristo deve “levara sua cuz", morrer para Si mesmo, incorparanl-se a Cristo” (Pe Giza, p73) 4.0 chamido de Cristo para‘ restauragio do mundo na plenitude de Dews 6 um convite para 8 partic Pago pessoal na vida dvina (grag santiicante)e na sua miss apostlica (ef. Pe. Gra, p75) 8. "Agindo contra sa sensalidade e conta seu amor carnal e mundano":sio obsticuos que detém tyagae a ao do Espirito Santo. Sigicam o amor préprio 0 eu endeusado,preso a intresses terrenos (chsPe, Geen, p26) 10."Ofererdas de maor valor eimportnca”:Iteratment, Yablaciones de mayor estinay mayor momento”, Ese ofererimento supde a ago da gaa vindo em soca da pessoa qu fz 11. "Queroe desjo" leva em conta o chamado de Devs ea sua praa. A nossa concagragdo generosa supe ‘com de Deus, pelo qual somos movidos, nsprados © ajudados. 12, "Minna determinagio deliver supae un deesdo pessoal ssumida levando em conta o que im Ley TEXTO, Beaccws Farmar Sao Ison oe Lots, 2, 91-100 tar-vos!! em passar todas as injtirias, 10- das as afrontas e toda a pobreza — tanto ‘material quanto espiritual — (8) se vossa santissima Majestade me quiser receber nesta vida ¢ estado.” {99} 1° Nota Este exercicio se faré duas vezes no dia: de manha, ao se levantar, e uma hora antes do almogo ou da refei- cao da noite, [100] 2+ Nota Da Segunda Semana em diante, muito aproveita ler, em alguns mo mentos, trechos de livros como “A Imita~ (fo de Cristo’, 05 Evangelhos ou Vidas de santos" SuBSiDIO ‘Traducimos e adaptamos substio para 0 Exerc do Reino, produida na América Central e puslicado em: Isidro Pées, SI, “Peregrnacén interior para un mayor seroio™. Coeicién IRE, Indo-Amerian Press Service, Bogld, 1987, 2, Bjeniios, p. 25-26, Porta de Santo Estevio ou dos Ledes, Jerusalém 13. “Imltar-vos" Santo Indio ndo insist anto na grandeza da obra, mas em como reali. Como Cristo cm sua expressgo mar de amore compromisso, Trata-e de abracar 0 processo de configuracto com Jesus pobre e humilde, que nfo velo em busca de segurancas paras, mas para assegurar-nosagrandeza de inosiasqueridos pelo Pa ste ofeecimento, tendo presente dante de Jesus, sua mie e todos os santos e santa da corte celestial, fevoca quern se ditingulu no-smor. Na América Latina pode ser felfo tendo presente também tantos bhomens e mulheres que deram testemunho especial de consagragao pea cause do Reino. 1A, Nao Se trata de fazer leturas exaustvas, mas aimentat 0 espito com o testemunho de homens & mulheres (e do proprio Jesus), eapazes de soliariedade e amor sem reservas, FE bom lembrar aqua sabedoria popula, quando afima: °As paavras comovem, mas os exemplos ars 4 PATCH — Resta or Esrmtunoane baci (Deznsno — 1996) ENCONTRO COM JESUS DO EXERCICIO DO REINO (Cf EE 91-98) 1. Coloca-te na presenga de Deus que te chama por teu nome, que co- nhece tua histéria e o momento histéri- co em que vives; o Deus que tem um projeto a respeito da histéria e ao teu respeito, 2. Acolhe em tua imaginacdo os dife- rentes rostos latino-americanos (do po- bre, do indio, do operstio...). Depois, aco- The em breves tracos, como cenas de um filme, tua situacao familiar, comunitéria € profissional, e teus desejas.. 3, Pede ao Senhor a graca de nao ser surdo a0 seu chamado, mas atento e ge heroso para cumprir sua vontade. 4, Medita 0 tema a seguir: 8) 0 EXEMPLO a) Imagina-te diante de um lider re conhecido por todos como tal, por sua ca pacidade, honestidade e demais qualida- des pessoais, Ele propde a todos, neste final de século, uma campanha mundial, um plano conereto e realista para reno- var toda a sociedade, em nivel pessoal e estrutural, como base para criar um mun- do novo, mais justo ¢ fraterno. SUIRSIDIO, Pecos cou Jee b) Este lider se apresenta diante de 1, precedido por sua justa fama, ¢ te ex- poe seu plano. Ele pede voluntarios em diversos nivel ~ simpatizantes (que déem apoio ‘moral ~ colaboradores (que dediquem par- te do seu tempo); ~ e engajados (plenamente compro- metidos). ©) Diante deste chamado, como de- verias responder? Que serias, se nao res- pondesses positivamente? B) A REALIDADE a) Jesus 6 0 Filho de Deus feito homem, solidétio com todos os seres humanos, especialmente com os mais pobres e ne- ccessitados. Fle propde a todos seu plano de salvagdo e verdadeira libertagao da humanidade, com a instauragao do Reino de Deus: Construir uma nova realidade, na qual todos se reconhegam filhos e filhas de Deus e se amem como irmaos e irmas. b) Jesus se dirige diretamente a ti, para chamar-te e dizer-te: “Minha von- tade 6 construir 0 Reino de Deus. Convi do-te para que me sigas. Eu estarei conti go e tu estards comigo em todos os mo- (sy ‘mentos. Passaremos juntos alegrias e tris- tezas, esperancas e dores". ©) Se, além de jutzo e bom senso, ti- veres coragdo, acaso nao (e oferecerés sem reserva, e colocards tua vida e toda tua pessoa ao servigo do Reino, seguindo 1 Jesus? Nao estards disposto a lutar con: tra 0 proprio egofsmo e contra toda difi- culdade que se te apresente. E, superan do todo medo e acanhamento, dirés a0 Senhor estas ou semelhantes palavras: Senhor Jesus Cristo, eu me comprometo, contando com tua graga e ajuda, diante de Deus Pai e da Virgem Maria e de todos os santos, a colocar toda a minha vida a servigo do Reino de Deus, € a seguir-te e imitar-te em todos os momentos: nas coisas féceis e nas empresas mais dificeis, nna abunddincia e na pobreza, nna calma e nas perseguigaes, enfim, em tudo 0 que seja tua vontade. Aceita-me como teu fiel seguidor WW EXERCICIO DO REINO COM AJUDA DE UM TEXTO BIBLICO (Le 19,1-10) 1, Le © encontro de Jesus com Zaquee. a) Sublinhao quemais teimpressiona, b) Contempla a cena com calma, de- tendo-te nos pontos que mais te tocam. ©) Identifica-te com algum dos per: sonagens, comparando sua situacao com acontecimentos vividos por ti 2. Diante de Jesus Cristo, que te con- vida a segui-lo, que te chama pes: soalmente a participar de sua ‘issdo, o que deves responder? ‘Termina a oragao dialogando com Jesus, especificando mais o teu ‘compromisso e pedindo forgas para que Le ajude a segui-lo mais e melhor. TTAICT — Rewsta ne Bormmntmane burina (Dezeemn — 1996) © autor € professor de Teologia no Centro de Estudos Superiares da Companfia de Jesus, em Belo Horizonte. Entre seus muitos esritos, destacamos: “A Valta & grande dscplina’ "Teolagia da revelago a partir da modernidade lagi esta Esato REINO DE CRISTO A LUZ DA CONGREGAGAO GERAL 34¢ (0s textos fundacionais sio inesgoté: veis. Assim os Exercicios Espirituais de Santo Inécio (EE) continuam até hoje sendo objeto de estudos, Eles constituem para a tradi¢ao inaciana a fonte insupe- ravel, ccmpletada e matizada pelos ou- (ros escritos de Santo Inacio. Hé duas abordagens principais de um texto fundamental. Uma de natureza gené- tico-estrutural, outra de carter hermenéu- tico. A andlise genético-estrutural privile- gia o texto e seu tempo!. Procura enten- der-Ihe « estrutura interna, a relagao entre as partes e 05 eixos fundamentais. Ao mes- ‘mo tempo, situa tal estrutura no momen- {o s6cio-cultural do autor de modo que 0 leitor possa seguir, de certo modo, a gesta- (Gio do texto em sua estruturagao interna. Muitos especialistas em Santo Indcio estudaram nesses quatro séculos, de todos Joo Batista Libénio, SJ ‘8 modos, © conjunto dos Exercicios ou ‘suas partes importantes, A meditagao do Reino, sendo uma das pecas centrais dos EE, tem sido objeto de infinitos estudos. Nao me aventurarei por esses cami hos trilhados por pessoas muito mais competentes e especialistas. O leitor in- teressado dispoe de amplissima biblio- gratia, teses doutorais, ete O outro veio de acesso é a hermentu- tica, Procura-se a partir de outra situagao s6cio-cultural diferente ler um texto ant 0, estabelecendo destarte novo circulo hermenéutico. Descobrem-se novos sen: tidos. Faz-se o texto falar novos significa dos para a situacao em questao. A partir da nossa situagao latino: americana, {@m-se feito muitas e interes santes interpretagdes". Abriu-se assim um, novo caminho hermenéutico, 1.1. Goldmann, Marxsmes et Seiences Humaines, Pais, Gallimard, 1968 2.A gusadeexemplo, ver: Chapelle eal Les Exercices Spritues Ignace de Loyola, Un commentaire lige! et heologgue, Broselles, Ed, c'nstiut Etudes Taeoloiques, 1990; J Lewis, Connalssance des Fxereices Sprites destin Ignace, Montréal, Bellarmin, 190 5.1. Maga, Jesus, ibertador dos aprimidos, Uma esprtalidade comprometida cam os pabres, Sto Paulo, Loyola, 1990, eo. Fxperiénca Ineclana,n. 9. ARTIGO. Reno oF Chto A en concnscaco ci. 34¢ Este pequeno artigo envereda-se pelo caminho da hermeneutica, esco- Ihendo, porém, um ponto de leitura bem recente, a saber, os Decretos da Congre- ‘gacdo Geral 34 (CG34) da Companhia de Jesus. Hi varias razdes que justificam essa escolha e credenciam um lugar numa re- vista de espiritualidade. O tema central da altima CG dos jesuitas foi uma reatualizagao de sua missao para o mun- do de hoje. Os padres congregados natu: ralmente fizeram o duplo movimento de volta as fontes inacianas, especialmente as dos BE e de mergulho na realidade ‘tual com seus desafios. Ao fazerem isso, no fundo, praticaram uma hermenéutica também dos EE Mais, Nessa hermenéu- tica, ocupa lugar central a tematica do Reino. Vasculhando, portanto, essa refle: xdo, encontramos, sem diivida, elemen: tos excelentes para uma reatualizagao da meditagao do Reino. Mesmo que os Decretos sejam ex- clusivamente dirigidos ao publico in temo da Companhia de Jesus, no entan- to, por causa do nivel de reflexio e de uso de fontes amplas, eles servem, ‘mutatis mutandis, para outras expetién- cias, mesmo de cristaos leigos. Por isso, nesse artigo nossa rellexao nao se orien: ta exclusivamente aos jesuftas, mas pre- tende servir a todo cristdo e cristé que aspira a seguir 0 Cristo no espirito da tradigao e catisma inacianos. Por isso, quando o texto da CG falar de jesuita, 0 leitor nao-jesufta pode dar-se por aludi- do na devida proporcao, 4. Bahortationes, 5 Direct 147, 6 J Lewis, 0. et 86 7. Nas etagdes da CG, ‘io da publicaco oficial 8.C. Palacio, Para uma teologla do exist cto (0 rspetiva Teologiea 16 (198): 167 ce) 1; FN 1, 3608, ‘CENTRALIDADE DO EXERCICIO DO REINO As meditagoes do Reino e das Duas: Bandeiras, segundo o testemunho de companheiros de Inacio, ocupavam-lhe principalmente a meditagao desde sua conversao’, e aparecem no Diret6rio dos Exercicios como o nticleo inicial e funda- mental ‘A meditagao do Reino, em particular, 60 “cume € 0 ndcleo dos Exercicios e a chave maior de sua interpretagao™. Nessa meditagao aparecem duas caracteristicas fundamentais e centrais da espiritualida- de inaciana: Profundo amor pessoal a Jesus Cristo e a busca permanente do “Magis” mais’, EE 23,7). Elementos que a CG 34 coloca entre as “Caracteristicas de nosso modo de proceder” (26: 3.27). A contemplagao dos mistérios da vida de Jesus na seqiéncia da Segunda Semana traga, de um lado, o quadro con- creto de quem 6 0 "Rei Fterno e Senhor Universal”, diante de quem o exercitante 6 convidado a fazer “oferendas de maior valor e maior importancia” e, de outro, | “poe em questio a historia concreta da liberdade do exercitante", dando inicio assim ao “processo da eleicao: a busca da verdadeira liberdade na histéria”. © PONTO DE PARTIDA DO EXERCICIO DO REINO O exerciecio do Reino é a ponte entre duas experiéncias teologais fundamen- tais: uma de-onde e uma para-onde. Ela se situa entre a Primeira Semana e as contemplagdes dos mistérios da vida de primero nimero indica 0 Decret #0 segundo 0 parigato, segundo a numer ura da Seyunda Semana dos Exorciios Espiritu, FTAICK — Revsta ne Bonen fucus (rzsunan — 196) Jesus. Interessa-nos vera experiencia de- onde se parte para entender 0 sentido deste exercicio na releitura da CG 34. 6 s2 pode vir de onde se esta. Mas infelizmente, pensa-se que se esté numa situagio e de fato se estd em outra. As: sim ha uma falsa inteleceao do ponto de partida dessa meditagao através de uma Teitura superficial, apressada ea modo de cliché do voluntarismo inaciano. A maditagao do Reino nao nasce do desejo grandioso de conquista, que assu me na idade moderna limites imprevist veis, simplesmente transposto do campo politico-social para o religioso. A parabola do Rei Temporal poderia induzir a esse equivoce. Existe uma generosidade prometeica, moderna que nasce, paradoxalmente, de duas sitvagoes opostas. Numa encontra se 0 homem moderno, feliz e auto-satis- feito corsigo mesmo. E dessa sua auto- sulici@neia pode dar-se ao luxo de ser igeneroso e assumir a nobre causa da jus- tiga, do Reino. Ou, pelo contrario, insa- tisleito € softido por causa da situagdo social atzal de injustiga. Desde um grito Gtico de protesto, investe-se com todas as energias nessa mesma causa. No primeiro caso, esconde-se uma auto-satisfagao alegre de si mesmo, a ponto de poder-se assumir a causa de Cristo, E uma generosidade convencida de sie, por isso mesmo, freqiientemente exigentecom os beneficiados e facilmen: te decepcionavel. Muitos, que se deram a0 trabalho em causas justas e nobres durante um tempo, recuaram desiludidos com 0 pouco fruto. “Os necessitados & pobres nao mereceram nossa generosi: dade”. Decepcionaram-se, porisso, aban: donaram tudo e continuaram na sua boa da ju No outro caso, com frequienecia, sub jaz ao compromisso certo amargor e res: sentimento, unidos a algum complexo de culpa que se descarrega na luta contra a injustiga, Faz-se uma opcao estritamente ideol6gico-politica, travestida com voi buldtio espiritual. E quando falham as condigoes de realizacao, descamba-se para situagdes de violencia ou de desani- ‘mo, pasando, nao raramente, para a hoste oposta, A hist6ria recente tem demonstrado a falha fundamental de tais “opgoes pelo Reino", que nao suportaram a crise da ideologia socialista ou cujos resultados ‘escass0s ndo corresponderam aos proje- tos azuis Esta meditagao nasce de uma verda- deira experiéneia de Primeira Semana, Bstd-se nana quando se vive em profundidade a dupla realidade: ser pe- cador, de um lado, e, de outro, ser mise- ricordiosamente perdoado. Assim se superam os dois ingredien- tes deformantes da opcao prometeica: A auto-suficiéncia, pois a pessoa se perce- be pecadora, e 0 ressentimento amargo contra a situacao, porque se vivencia a misericérdia de Deus. Por isso, a CG 34 leva o jesuita, em sua reflexo e compromisso com a mis sto, a imitagio e, na seqiiela de Inacio, a fazer a experiéncia da passagem de “peca- dor amado e perdoado a discipulo chama: do a trabalhar na vinha e a sofrer com Cristo” (1:5), ou, ainda de modo mais for te, a experiéncia de orar “com remorso, _gatidao e assombro, mas sobretudo com amor apaixonado... diante de Cristo Nos- ‘80 Senhor posto na cruz” ede colocar-se a triplice pergunta: “que tenho feito, que Fago, que devo fazer por Cristo?” (EE 53,2). Nunca se salienta suficientemente a importancia dessa dupla consciéncia de “pecador", de um lado, e de outro, de ‘amado e perdoado” para entrar na expe- riancia do Reino. $6 assim se afastam de- ARTIGO. Rano 0¢ Custo 4 ue bconcaucach cen 34* finitivamente os perigos to modernos da “sociedade de abundancia generosa paternalista” ou de “critica acerba e amar- ga”. A experiéncia do Reino enquadra-se em outro horizonte bem diferente. ‘A SITUAGAO DO MUNDO EM QUE SE FAZ O CHAMADO DO REI ETERNO Na linguagem dos EE., Indcio faz Cristo Nosso Senhor propor-nos “con- quistar o mundo inteiro, vencendo todos ‘os meus inimigos" (EE 95,4). A CG 34, com linguagem diferente, nao tem outra preocupagdo que a de enfrentarse com 6s inimigos de hoje. ‘© Documento de Puebla talveztenha sido o (exto mais contundente, produzi do por uma instancia oficial, em que se descreve com enorme realismo a situa: ‘¢40 adversa de nosso Continente. Com palavras fortes, afirma sem ambages que ‘a atual situacao é um escandalo e con- tradigdo com 0 ser cristao do nosso Con- tinente (n. 28). Opde-se & nossa indole crista e as exigencias do Evangelho (n, 1257), contrario ao Plano do Criador (n. 28). Situagao de pecado social (nn. 28, 487) que atesta que a nossa [6 "no teve a forga necessaria para penetrar 0s crité rios € as decises dos setores responsé: veis da lideranga ideol6gica ¢ da organi: zagio da convivencia social e econdmica de nossos povos” (n. 437). Ao olhar para todo © mundo, a CG 34 manifesta semelhante conviecio rea- lista de que se vive num mundo dilacera- do pelo pecado, pela injustica. Antes de tudo, somos nés mesmos habitados pelo pecado (2:1; 3:2; 4:12) e encontramos em 1n6s mesmos até mesmo a impulso a des- renga (4:20). ‘Tr@s parecem ser os inimigos maio- res do Reino de Cristo nos dias de hoje: A exclusio, os contra-valores da cultura contemporiinea e a descrenca radical. ce) A exclusdio manifesta-se sobretudo pela forma como 0 Capitalismo continua © proceso de concentragao de rendas consegiiente exclusaio até de Continen- tes, Mencionam-se os milhdes de exclut- dos e, de modo especial, todo 0 conti- nente da Altica (3:12.15). Mas mesmo nos paises desenvolvidos, ha grupos sociais vitimas de exclusdo: Desempregados du rante anos, jovens sem possibilidade al guma de emprego, meninos e meninas de rua explorados e abandonados, an. ciaos solitarios e sem protecao social, ex reclusos, vitimas do abuso de drogas, enfermos de AIDS, ete. (3:15). Evidente- ‘mente os pobres so os primeiros exclul- dos, de modo que o pecado do mundo & a injustiga em relagio a eles com as es truturas sociais que os excluem (2:9), 0 outro desafio gigantesco para o se- guidor de "Cristo Nosso Senhor, Rei eter no e Senhor universal", vem dos males da atual cultura de morte. Esta tem muitos nomes: aborto, suicidio, eutandsia, guer- ra, terrorismo, violencia, pena de morte, consumo de drogas, AIDS, pobreza (3:8), Ela vem envolvida em contra-valores, di- fundidos sobretudo pela midia: hedo- nismo, erotismo, consumismo, falta de solidariedade, auto-realizagao pessoal ‘egoista, competitividade, eficacismo e éxi to a qualquer preco (9:5; 26:5), ganancia, sede de poder, luxo, prestigio, vida como: da, auto-suficiéncia. Neste contexto cultu ral urgem outros males como: desintegra ‘cao social, modernizacao homogeneizante da cultura, fome, perseguigao religiosa racial, desordenado desenvolvimento eco- nomico e cultural, falta de liberdade pol tica e justiga social, discriminagao e explo: ragao s6cio-econdmica amplamente esten- dida, exploracao e abuso sexual, especial- mente de mulheres e criangas,frio despre- zo ao precioso dom da vida, anonimato social e alienagio das grandes cidades modernas, dissolugdo da farnilia (11:10), PATCH — Ressea oe Bostunuoane Ici (Drzzaao — 1996) Uma terceira onda de adversérios para os seguidores do Reino afeta direta mente 2o andincio da fé crista. A CG 34 reconhece que se deve fazer frente a de- safios especiais em vista de estabelecer tum didlogo com a cultura secular con: temporinea. Esta, “que, em parte, se desenvelveu em oposigao a Igreja, exclui com freqtiéncia a fé religiosa dentre seus valores reconhecidos. Por conseguinte, culturas outrora moldadas pela 16 erista afastaram-se, em graus diversos, do cris ‘ianismo rumo a estilos de vida que mar ginalizam os valores evangélicos. Muitas vores se descarta a Ié religiosa por consi derar-se uma fonte de confrontos sociais destrutivos para a sociedade e como algo que a familia humana ja superou. Aos alhos de muitos de nossos contempors: neos, a Igteja carece de eredibilidade, quando fala de assuntos humanos" (4:5) ‘cultura critica pés-moderna considera 0 Cristienismo e qualquer outro compro: isso religioso como algo superado, “Al: sgumas culturas contemporaneas tendem a reduzir a fé religiosa ao Ambito do pri: vado, do individual e até mesmo do ex- céntrico, a ponto de torar-se dificil que © Evangelho seja principio inspirador, normativo ¢ unificador da cultura secu: Jar contempordnea’, Reconhecemos que para muitos contempordneos nossos nem a {6 cristd nem qualquer outra crenga religiosa 6 boa para a humanidade" (4:19) © MOTIVO DE NOSSA ESPERANGA Inicio é escatologico na meditacao do Reino. Na parabola do Rei temporal, aponta ao stidito a esperanga de tomar parte ccm o Rei na vitoria assim como a {eve nos trabathos. Na aplicagio ao Rei eterno, a esperanga concentra-se em se- guir a Cristo na gloria, 18,531; cltagao:p. 6) ARTIGO, Rao of Cus 4 Lue on conanscncto Ge 3 A CG 34 apresenta dois tipos de motivagao para alentar os seguidores de isto em refrega tao dificil, como emer- ‘ge da pintura de um mundo “demasiado mau” (2:11), Retoma a mesma perspectiva de Ind- cio da promessa de um Deus que aguar- da a familia humana como seu destino ‘iltimo (4:14). No entanto, essa perspec: tiva da vida futura é apenas mencionada enquanto a presenga triunfante de Cristo pelo poder do Espirito jé na historia é a tonica fundamental, Mesmo quando menciona a vida futura como meta tilti- ma do Reino de Deus, faz questio de insistir na sua dimensao presente (2:3). Atravessa os Decretos a conviegao fi- me e inabalavel da presenga atuante de Cristo Ressuscitado que "Ionge de estar ausente da historia do mundo, inicio uma nova presenga no mundo pelo Espirito. ‘Agora esta presente a todos os homens ¢ mulheres e os trai para o interior de sew Mistério Pascal, Continua a mediar a obra de Deus: trazer a salvagao, a justiga e a reconciliagao a um mundo ainda quebran: tado por seus pecados" (2:5.1). Cristo Res- suseitado convoca "todos os povos para criarem uma humanidade nova no Esp: to, unindo-os num 86 corpo vivo (EF 2,15: 16). Em Cristo encontram remédio todos as hostlidades humanas (25.3), Deus atua através do amor de Cristo e do poder do Espirito Santo para destruir as estruturas de pecado que alligem os corpos e os co: ragdes de seus filhos” (2:11). No processo de crescimento, as formas humanas rel: ‘giosas, sociais, morais e culturais “levam o selo da obra silenciosa do Espirito, Nas ccategorias mentais, nos habitos do cora: ¢20, nas metaforas-rafzes, nos valores de todas as culturas e, poderiamos até dizer, no processo mesmo pelo qual nossos cor 8. Arup Pedro: Carta e documento sobre ainculturagio, AR 17 (1978) 229-25 (be: Colegio “Ignatian, By pos se tornam capazes de uma experiéncia spiritual intensa, Deus jé est preparan- do em suas criaturas as condigdes para um reconhecimento amoroso de sua verdade, dispondo-as para a transformagao prome- tida em Cristo, “Todos so chamados a um destino comum, que é a plenitude de vida em Deus" (4:18). £ esta certeza que ani mao trabalho no Reino de Cristo. Por isso, 10s jesuftas exercem seu sacerdécio mini terial num profundo respeito pelas formas em que Deus ja atua na vida das pessoas. “A acio de Deus nao comega com 0 que 1nés realizamos; a graca da criagao jé con: tém em sio fundamento do que Deus teal zard com a graga da redengio. Em conse- ‘iencia, no exercicio de seu sacerdécio mi nisterial, 0s jesuitas tratam de detectar 0 {que Deus jé realizou na vida das pessoas, sociedades e culturas, e de discernir como Deus continuaré sua obra, Ao chamar a tengo & dimensao de graga em toda vida humana, este modo de ver as coisas influi na forma em que nosso ministério presbi- teral de jesuitas se realiza em diferentes “reas” (6:20). Alasta-se assim qualquer pre- tensdo voluntarista e pelagiana de uma au- tonomia absoluta de nossa acio. A CERTEZA DO CONVITE Pertence & estrutura tiltima do exer cicio do Reino outra convicgao profun- da, N4o somos nés que escolhemos a Cristo, 6, antes e primeiro, Ele que nos escolhe. Pede-se a graga de nao ser sur do ao chamado de Cristo. A cena central do exercicio ¢ “ver Cristo Nosso Senhor, Rel eterno, com © mundo inteiro diante dele, que chama todos e cada um em particular” (EE 95,3). Os jesuftas na CG 34, como Indcio e como todo ctistdo pelo batismo, sente-se chamado com "incessante afa por levar 10, Didlogo e antici, 28 homens e mulheres a reconciliagao com 0 Pai e ao amor do Espirito, em seu cuidado comprometido pelo pobre, pelo marginalt- zado e pelo abandonado (1:5). £ um cha- ‘mamento que, como jesuitas comprometi- dos com a agao do Espirito Santo no cora- gio humano e no mundo, nao podemos rechagar: em nossa vida pessoal e com tiria e em todo apostolado que empreen- damos (pastoral, académico, intelectual, spiritual ou educacional) buscaremos a plenitude do Reino, onde reina a justiga e 100 pecado humano” (2:10). “O compro: ‘isso da Companhia com essa misao no foi movido nem por um otimismo superfi- ialcom relagao ao progressodahistétiado ‘mundo nem por um programa social espe- cific, endo pelo modesto desejo de part cipar na obra de Cristo que reconeiliou 0 mundo com Deus mediante sua morte sa- cerdotal. Nossos mértites, que morreram por sua fé e seu povo em muitas partes do ‘mundo, tornam patente que os jesuftas vi- ‘vemos sob o estandarte da Cruz, Ba Cruzé osinal de que, como seguidores de Cristo, estamos dispostos a perder tudo: nossa ‘missao de jesuftas se orienta pela f@ na res surreicao, ja que s6 Deus resolve os en ‘masdosoftimentoedamortenotempopre- sente”. (6:15) NATUREZA DO REINO © ponto mais importante dos Decre- tos foi discernir sobre a maneira concre. ta de comprometer-se com “Cristo Nos: so Senhor, Rei etemo e Senhor univer- sal” e que atitudes fundamentais cultivar Enquanto decistio de governo,trata-se ‘de uma questio interna da Companhia de Jesus, Noentanto, aotentarcompreendero ‘momentoatuale, asualuz,relero significa do para hoje da presenga do Reino, os De- cretos adquirem uma validade m — Rewsta oe Esrrruainae baci (Deano — 1996) Levar-se-d esta reflexdio em trés mo- :mentos. Num primeiro momento, buscar- se-4 perceber a compreensdo mais ampla do Reino de Deus no conjunto dos Decre- tos. Num segundo momento, estudar-se-4 a tradugZo que 0s jesuitas fizeram desde a (0G 32 (1974-1975) do empenho pelo Rei- no como “servigo da fé e promogao da pliada e abrangente assumida pela CG 34, , por fim, aparecem nos Documentos al- gumas outras solicitagdes do Reino que hoje merecem maior atencao, ‘A, COMPREENSAO DO REINO DE DEUS © Reino de Deus entende-se a partir dda missii de Cristo. Os textos privilegiam. dduas imagens queridas por Inécio na com- preensdo dessa missao de Cristo: Peregri- hhagao e rabalho, Com o termo "peregri- nnacao”, quer-se chamar a atengo ao "Cris {fo em movimento viajando por vilas, visi- tando sinagogas, para pregar o Reino, acu- dindo lé onde as pessoas vivem e traba- tham’ (17). Pelo termo “trabalho”, enter esse toco tipo de obras, de sofrimentos, de fadigas, de empreendimentos que Cris. to assumiu e suportou na sua missao, Outio ponto importante é a idéia de “ir l4 onde as pessoas vivem e trabalham”, Cristo nos chama a situar-nos no mais intimo da experiéncia humana, quando ‘omunde recebe a promessa do Reino e é levado a reeeber 0 dom de Deus em sua plenitude (2:6). A presenga do Reino se realiza no meio das pessoas. "Tanto em nossa vida pessoal de f€ como em nossas atividades apostélicas, nunca se coloca uma disjuntiva entre Deus ou 0 mundo; sempre se trata de Deus no mundo, tra- balhando para levé-lo a plenitude, de modo que o mundo chegue finalmente a ser plenamente em Deus’ (4:7) Quando os decretos falam de “mun- do”, quesem traduzir uma realidade muito ARTIGO, Rano ot Gusto A wos coseaucaco cebu. 34 complexa,ricae questionadora. Trata-sedo mundo de hoje (1:8), das pessoas, cheio de chances e desatios (1:3; 26:20), onde eris- tio 6 chamado a viver sua vida, sua voca- (Go. Eles indicam algumas caracteristicas, sem emitirlogo um juizo ético ou religioso. Eum mundo complexo e dividido, 26:16), desconcertanteeinquieto (16:20), muito di versificado (3:18) pelas culturas (4:1), em processo de urbanizacio (4:5.3),fascinado por significativas e répidas mudangas s6- cio-politicasetecnologicas, muitasvezesde cardterrevolucionatio (11:5; 16:3), sobretu- do caracterizado pelo desenvolvimento exponencial dos instrumentos de comuni- cacao (152). £ um mundo da pluralidade Gtnica, cultural, religiosa (5:1.3.6.17) Os deeretos fazem uma avaliagao éti- cado mundo, Num momento, referem-se a seus valores sécio-culturais, Percebem tum crescimento na consciéncia dos direi- tos humanos, na luta pela justiga, no pro- cesso de modemizagio e desenvolvimen- to (1155), na busca de um mundo de paz, iberdade, justiga social e valores morais (63), Esse mundo contemporéneo tornou- se consciente dos direitos das culturas. Mudou notavelmente o sentido da sexua- lidade nas relagdes humanas, permitindo uma concepgao mais livre, madura e res- ponsével da relagao homem e mulher (8:2) Apesar desses valores, ele esta repleto de ambigidades (152). A verdadeira compreensio do Reino de Deus se explicita nos Decretos ao trata- rem da realidade do mundo na perspecti- va (eol6gica, como palco da historia da salvagdo, onde a verdadeira luta se trava entre a graca salvadora de Deus e a rejei- Go aela pelo pecado nas suas mais diver- sas formas, De um lado, esta o mundo de peca- do, de injustica, de maldade, de cruelda- de, de sofrimento (2:4). De outro lado, ele esté habitado por Deus (4:7), Cristo Res- suscitado estd presente (2:5), caracteriza- (2J

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