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Introdução
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vinculam formas a novos sentidos, possibilitando a geração de novas unidades no
inventário da língua.
(02)”Uno de los que me habían invitado a robar me alcanzó y me dijo: «Córrele que
ahí viene la tira».”
Estes dados guardam usos não são previstos pela norma culta e nos mostram
que, nestes contextos, „le‟ é uma forma completamente desprovida de âncora
referencial e se apoia em nuances da práxis discursiva, isto é, está a serviço da
interação entre os partícipes da situação comunicativa. Em (01) e (02), como
podemos observar, o locutor visa influenciar o comportamento do interlocutor,
interpelando-o. Em (03), o processo de gramaticalização se encontra em um nível
ainda mais avançado, pois não é apenas um sufixo que registra uma relação de
intersubjetividade como nos exemplos anteriores, mas, tornou-se, depois de um
processo de formação analógica, uma parte integrante da palavra “híjole”. Sua base
nominal, “hijo”2, está distante dos valores atribuídos a “híjole” nos diversos
contextos em que é utilizada.
Na realização deste estudo, parte de nossa tese de doutoramento3, utilizamos
225 dados provenientes do corpus “El Habla de Monterrey” (ALFANO, 2000) e 249
da página da Organização Editorial Mexicana (2009)4. Convém elucidar que, por
uma questão de coerência metodológica, não comparamos os dados orais e os
escritos, apenas analisamos as especificidades do emprego não referencial de „le‟
nos contextos apresentados.
Para melhor refletir sobre as questões trazidas a baila, produzimos um artigo
que baseado em duas questões fundamentais: na leitura funcionalista da
gramaticalização do item „le‟ na variante mexicana e na apresentação das etapas
do fenômeno. Não obstante, observaremos, ao longo destas páginas, a
importância da subjetividade em sua compreensão.
1
(01) “Vamos! Essa...”; (02) “Um dos que tinham me chamado para roubar me alcançou e disse: Corre
que aí vem a policial”; (03) “Ih! O que será?”.
2
“Filho”.
3
Programa de pós-graduação (UFRJ, 2009): estudos linguísticos neolatinos.
4
Coleta de dados autorizada e realizada em 2009 a partir do site: www.oemenlinea.com.mx.
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We defined grammaticalization as the process whereby lexical items and constructions
come in certain linguistic contexts to serve grammatical functions, and, once
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Definimos gramaticalização como o processo em que itens lexicais e construções aparecem em certos
contextos linguísticos para servir a funções gramaticais, e uma vez gramaticalizados, continuam a
desenvolver novas funções gramaticais.
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No caso da despronominalização do item „le‟ acoplado a bases verbais, houve a necessidade de marcar
na língua, através de um afixo pragmático, a influência do emissor nas atitudes tomadas pelo ouvinte.
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2. A gramaticalização do „le‟ mexicano
(05)“... para luego decirle a Miguel Angel que "ya sabes de qué se trata ¿no?, si no
quieres que te remitamos al MP, éntrale con 500 mil pesos"...”7
Así, entenderemos reanálisis como una regla de cambio que modifica la configuración
morfosintáctica de las unidades linguísticas mediante procesos de naturaleza
7
“...para depois dizer a Miguel Angel que “ já sabes de que se trata, não?, se não quiseres que te
enviemos ao MP, entra com 500 mil pesos.”
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Neste caso, „órale‟ assinala certa chateação por parte do locutor. Tradução: “fui e disse a minha
senhora, oh minha velha...”.
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abductiva9. Dicha modificación conlleva una alteración categorial de la pieza o piezas
afectadas, cambios en el alcance de las palabras que se gramaticalizan, así como
Quando um item passa a ser usado em contextos que previamente não era
solicitado, se dá o processo de extensão. Depois de gramaticalizado, o item tende
se tornar cada vez mais divergente, a ser recuperado em contextos mais
diversificados. Em decorrência desse processo, perde propriedades de cunho
categorial (descategorização) e, por conseguinte, além de passar a ser mais
frequente e previsível, pode perder substância fonética (erosão). A
descategorização leva uma forma linguística a fazer parte de um espaço categorial
mais fechado e, geralmente, é responsável pela perda de autonomia da
mencionada forma. Acompanhemos a figura 1 e verifiquemos os mecanismos que
tornaram possível a formação da construção „jíjole‟11.
9
A abdução aqui é concebida como um mecanismo lógico essencial aos modelos culturais e às
vicissitudes da linguagem.
10
Assim, entenderemos reanálise como uma regra de mudança que modifica a configuração
morfossintática das unidades linguísticas mediante processos de natureza abdutiva. Tal modificação
implica uma alteração categorial da peça ou peças afetadas, mudanças no alcance das palavras que se
gramaticalizam, assim como assim como mudanças em sua mobilidade sintática. Todas estas mudanças
repercutem diretamente na estrutura dos constituintes e nas relações gramaticais entre os elementos
que entram nas construções gramaticais que se gramaticalizam. Com efeito, frequentemente se produz
uma reorganização dos limites entre os constituintes da expressão gramatical e pode chegar inclusive a
produzir-se fusão de duas ou mais formas.
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Expressão que assinala surpresa, espanto.
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Julgamos preponderante, neste momento, tratarmos, mesmo que
rapidamente, da coalescência, porque é algo que caracteriza as construções
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século XVIII: as ocorrências do leísmo mexicano12, nesta época, conforme assinala
COMPANY (2002, p.44), dependem mais de condicionamentos baseados nas
- A duplicação é quase
categórica no mundo
hispano-falante.
12
Uso do átono „le‟ na retomada de sintagmas acusativos.
13
Uso de „le‟ em alusão a entidades dativas no plural.
14
Não seria possível traçar esta trajetória sinóptica sem a contribuição dos trabalhos de FERNÁNDEZ-
ORDÓÑEZ (1993, 1999), TORRES CACOULLOS (2002) e COMPANY (2004, 2006).
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intransitivos, adquirindo grande subjetividade e pragmaticidade (em dados
como ándale, póngale...);
15
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Base: COMPANY (2006).
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expressões de „base nominal+le‟ se acham mais gramaticalizadas que as de base
verbal.
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5. Considerações finais
Referências Bibliográficas
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______. Sintaxis histórica de la lengua española. Primera parte: La frase verbal.
Fondo de Cultura Económica-Universidad Nacional Autónoma de México. México:
_____. Leísmo, laísmo y loísmo. In: BOSQUE, Ignacio e DEMONTE, Violeta (dirs.).
Gramática Descriptiva de la Lengua Española. Madrid: Espasa Calpe, 1999, p.
1317-1397.
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