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SENADO FEDERAL

SF/22901.04640-37
REQUERIMENTO Nº , DE - CPI da Pandemia

Senhor Presidente,

Requeremos, nos termos do art. 58, § 3º, da Constituição Federal e dos arts.
74, III, e 145 do Regimento Interno do Senado Federal, a constituição de uma Comissão

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Parlamentar de Inquérito composta de 11 (onze) membros titulares e 7 (sete) membros
suplentes, para, no prazo de 90 (noventa) dias, com limite de despesas de R$ 90.000,00
(noventa mil reais), apurar as ações e omissões do Governo Federal no enfrentamento
da pandemia da Covid-19 no Brasil a partir de novembro de 2021 e, em especial, nos
seguintes tópicos: atraso e insuficiência na vacinação infantil; insuficiência de provisão
para doses de reforço em 2022; ataques do Presidente da República aos técnicos da
Anvisa e à vacinação da população adulta e infantil; a insuficiência da política de

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testagem; e o apagão de dados do Ministério da Saúde com as suas consequências no
correto monitoramento da evolução da pandemia.

JUSTIFICAÇÃO

A pandemia de Covid-19 continua assolando o Brasil. Após mais de 620 mil


mortes, o País, agora, convive com uma nova superonda de infectados, em meio à
disseminação comunitária da variante Ômicron e dos casos de coinfecção entre o
coronavírus e a influenza, no que os especialistas têm chamado de “flurona”1.

Além disso, o Brasil ainda convive com um apagão de dados oficiais sobre a
Covid-192, que, somado à baixa testagem para a doença no país, leva a um quadro em

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que não se sabe número exatos sobre a evolução de casos, internações, mortes e
vacinação, inviabilizando o trabalho da comunidade científica em obter um retrato fiel
da pandemia e tornando impossível que políticas públicas efetivas sejam
implementadas.

Ainda, no mês de dezembro, o Ministério da Saúde noticiou ter sofrido ataques


hackers em seus sistemas de informação, que atingiram especialmente o aplicativo
ConecteSUS, utilizado pela população para a emissão de certificado de vacinação,
exigido para o exercício de determinadas atividades e para o ingresso em certos
estabelecimentos, como medida de contenção do novo coronavírus.

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No mesmo mês, o Supremo Tribunal Federal, diante da inércia do Governo
Federal, precisou deferir medida cautelar, na ADPF nº 913, para que fossem adotadas
as medidas sanitárias recomendadas pela Anvisa quanto ao controle de fronteiras
nacionais, exigindo-se, para a entrada no País, o comprovante de vacinação.

Outra recomendação técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ainda


ignorada durante muito tempo pelo Ministério da Saúde foi a imediata vacinação de

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crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19. Desde 16/12/2021, a utilização da vacina da
Pfizer já se encontra aprovada para imunização dessa faixa da população, mas as
autoridades competentes do Governo preferiram, antes, adotar medidas protelatórias,
como a realização de uma consulta pública a respeito, o que foi alvo de severas críticas
por especialistas, que alertaram para a desnecessidade de tais procedimentos, para o
risco de desinformação e para o perigo na demora da vacinação de crianças. Estima-se

1 Disponível em: https://oglobo.globo.com/saude/casos-de-flurona-coinfeccao-por-coronavirus-influenza-ja-sao-


comuns-no-brasil-afirma-especialista-25339721
2 Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/12/29/brasil-vive-apagao-de-dados-oficiais-

sobre-a-covid.ghtml
que a vacinação infantil vai se iniciar apenas na segunda quinzena de janeiro, ou seja,
perdeu-se uma janela de oportunidade de quase 1 mês.

Ainda a respeito da pandemia de Covid-19, restam dúvidas sobre as estratégias


e as políticas traçadas pelo Governo Federal sobre a suficiência do quantitativo de

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vacinas adquiridas pelo Brasil para aplicação em 2022 (nas diversas doses de reforço
porventura necessárias), assim como o respectivo cronograma de distribuição e
aplicação de doses nas crianças, na população adulta não vacinada e naquela em que
será necessária a aplicação de doses de reforço.

Quanto às primeiras ondas da pandemia, é preciso que se diga que a Comissão


Parlamentar de Inquérito sobre a Pandemia, instalada no dia 27 de abril de 2021 e cujo
relatório final foi aprovado no dia 26 de outubro de 2021 cumpriu a imprescindível
tarefa de responder às difíceis perguntas: por que o Brasil, a despeito do seu sistema
público de saúde e da sua tradição em combater epidemias, falhou gravemente no

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enfrentamento do maior desafio do nosso século? Quais autoridades públicas e privadas
foram responsáveis pelo incremento no número de mortes pela covid no Brasil? Quais
lacunas e problemas na organização do sistema de saúde precisam ser corrigidas pelo
Legislativo e Executivo? O que precisaria ter sido feito para evitar o colapso de nossos
hospitais e a perda desnecessária de vidas?

Além de apurar as responsabilidades pela má gestão da pandemia, a CPI de 2021


foi fundamental para pressionar o governo brasileiro a comprar e avançar a oferta de

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vacinas para a população. A comissão desvendou os caminhos tortuosos que nos
levaram a essa situação catastrófica. Inúmeras provas reveladas comprovaram omissões
e ações deliberadas em torno de uma falsa imunidade de rebanho, com a promoção de
tratamentos ineficazes e boicotes às medidas não farmacológicas como o uso de
máscaras, distanciamento social e álcool em gel. Isso tudo apoiado por uma extensa
rede de fake news alimentada por autoridades públicas.

Somam-se as falhas na estratégia de comunicação, nas ações de vigilância e


mapeamento da pandemia, na gestão das necessidades de leitos de UTIs no país e,
principalmente, no planejamento de fornecimento de insumos básicos como oxigênio,
medicamentos, EPIs, testes e respiradores.

Não restam dúvidas de que foi a CPI mais importante da história da República
do Brasil. O Senado e a sociedade brasileira, desde o final da CPI, têm cobrado das

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autoridades judiciais o aprofundamento das investigações e a responsabilização dos
indiciados. Os diversos crimes apurados não podem passar impunes.

Bastou o término da CPI da Pandemia para que o presidente Jair Bolsonaro


retomasse a política negacionista, boicotando novamente as ações para o enfrentamento
da pandemia no Brasil.

Os ataques à vacinação voltaram a fazer parte do cotidiano dos pronunciamentos


presidenciais. A nova fronteira do absurdo tem sido o boicote do presidente à vacinação
das crianças, afrontando os direitos inscritos na Constituição e no Estatuto da Criança e

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do Adolescente. No dia 06 de janeiro de 2022, o Presidente da República, na sua
interminável campanha de desinformação da população brasileira e de propagação de
fake news, voltou a atacar a Anvisa e a vacinação infantil contra Covid-19, em uma
entrevista amplamente repercutida pela mídia:

— O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás
disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina? É pela sua
vida? É pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras
doenças no Brasil, que não estão.

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Ignorando dados do próprio governo, Bolsonaro questionou se existem
mortes de crianças causadas por Covid-19:

— Eu pergunto: você tem conhecimento de uma criança de 5 a 11 anos


que tenha morrido de Covid? Eu não tenho. Na minha frente tem umas
10 pessoas aqui, se alguém tem levante o braço. Ninguém levantou o
braço na minha frente. Então, converse, vê se é o caso de você vacinar o
teu filho ou não. É um direito teu vaciná-lo, está autorizada a vacinação
e ela é voluntária.

(...)
— A Anvisa, lamentavelmente, aprovou a vacina para crianças entre 5 e
11 anos de idade. A minha opinião, quero dar para você aqui: a minha
filha de 11 anos não será vacinada. E você tem que ler o que foi feito
ontem no Ministério da Saúde, o encaminhamento disso daí, para você
decidir se vai vacinar o seu filho de 5 a 11 anos ou não.

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Em meio a tantas e tantas falas absurdas e condenáveis vociferadas quase
diariamente pelo Presidente da República, não se pode perder de vista a gravidade dos
impactos e consequências das fake news, dos ataques e das campanhas difamatórias e
desinformativas movidas pelo Sr. Jair Messias Bolsonaro. Segundo dados da Câmara
Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI-COVID)3, órgão
vinculado ao próprio Ministério da Saúde:

● Em 2020, 10.356 crianças entre 0-11 anos foram notificadas com diagnóstico de SRAG
por COVID-19, das quais 722 evoluíram para óbito. Em 2021, as notificações se
elevaram para 12.921 ocorrências na mesma população, com 727 mortes, totalizando

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23.277 casos de SRAG por COVID-19 e 1.449 mortes desde o início da epidemia;
● Dentre esses casos, 2.978 ocorreram em crianças de 5-11 anos, com 156 mortes, em
2020. E em 2021, já foram registrados 3.185 casos nessa faixa etária, com 145
mortes, totalizando 6.163 casos e 301 mortes desde o início da epidemia.

A cada dia em que não são vacinadas e imunizadas, crianças são contaminadas
por Covid-19, podendo, posteriormente, desenvolver sequelas ou vir a óbito. Ademais,
a vacinação de crianças é importante para que a circulação e o desenvolvimento do novo

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coronavírus sejam, finalmente, controlados e reduzidos. O conjunto de ataques e
boicotes à vacinação, por parte do presidente Bolsonaro e da rede de fake news
negacionista, ameaçam os esforços de enfrentamento da covid-19, custando mais vidas
e aprofundando o custo econômico da pandemia.

Por fim, é preciso que se pontue que, desde o início da pandemia de coronavírus,
o Brasil deixou a desejar quanto à mais importante estratégia para acompanhar o avanço
da Covid-19: a testagem. Vista por especialistas como a melhor opção em termos

3 Disponível em: https://www.conass.org.br/wp-content/uploads/2021/12/Nota-vacinacao-de-


criancas.pdf
sanitários e econômicos conforme a vacinação avança no país, quando se trata da
proporção de testes por milhão de habitantes, o Brasil ocupa a 125ª posição no mundo.4

A Organização Mundial da Saúde (OMS), desde março de 2020, insiste que a


estratégia de testar, isolar e rastrear são atitudes primordiais para lidar com a covid-19.

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Num discurso realizado em 16 de março daquele ano, o biólogo Tedros Adhanom
Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, classificou essas três ações como "a espinha dorsal
da resposta à pandemia" e explicou que a melhor forma para prevenir infecções é
quebrar as cadeias de transmissão, ou seja, testar e isolar.5

Adotados em diferentes lugares do mundo, os autotestes são proibidos no


território brasileiro devido à RDC nº 36, de 26 de agosto de 2015 desta Agência de
Vigilância Sanitária. Ocorre que outros testes, como o de gravidez e de diabetes são
comercializados em farmácias e podem ser feitos sem a presença de um profissional
especializado.

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Segundo Evaldo Stanislau, infectologista no Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da USP, o que se busca saber com o autoteste é “se a pessoa, naquele
momento, está transmitindo a doença ou não. Não é um teste de diagnóstico, mas de
contagiosidade.”

Na Inglaterra, de forma gratuita, os moradores podem retirar os autotestes em


diversos lugares. Com orientação do governo para diferentes situações, uma pessoa que

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tem contato com alguém que testou positivo pode receber um kit com sete testes para
realizar durante a semana. Nos Estados Unidos é possível encontrar o autoteste em
qualquer farmácia.

Na Alemanha é possível realizar testes gratuitamente em cabines espalhadas nas


cidades. Eles são feitos por profissionais e o usuário recebe uma mensagem de texto

4 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2021/11/21/testagem-covid-19-


paises-brasil.amp.htm Acesso em 07/01/2022.
5 Disponível em: https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-

at-the-media-briefing-on-covid-19---16-march-2020 Acesso em 07/01/2022.


com o resultado. Além disso, os testes também são disponibilizados em supermercados
e farmácias por um preço acessível que vai de 1 a 5 euros (6 a 30 reais).

Em todos esses países há centros de testagem, caso a população não queira fazer
o teste por conta própria. Pelo que se observa até agora, os casos de covid causados pela

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variante ômicron parecem ser mais leves e até assintomáticos. Sendo assim, há o risco
de uma "epidemia silenciosa" no país, se os testes de indivíduos assintomáticos não
forem ampliados.

O professor Pedro Hallal, epidemiologista e professor da Universidade Federal


de Pelotas afirma que “estamos vivendo uma onda silenciosa de infecções de ômicron
e nem notamos isso, porque não temos uma política de testagem adequada".

A Dasa, empresa de laboratórios e medicina diagnóstica, que conta com mais de


900 unidades laboratoriais no país, divulgou que houve um aumento importante na taxa

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de positividade dos testes de covid-19 nas últimas semanas. Em 4 de dezembro, 1,3%
dos exames realizados traziam resultado positivo. Já no dia 26/12, essa porcentagem
subiu para 11,4%. Já a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias
(Abrafarma) revelou que essa taxa de positividade dos testes realizados em cerca de 3
mil estabelecimentos saltou de 5% no início de dezembro para 20% após o Natal.

Apesar da importância do tema, vê-se uma inércia do Governo Federal na sua


condução, o que também coaduna com a postura negacionista do Presidente da

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República.

Diante do recrudescimento negacionista no enfrentamento da pandemia, assim


como diante da inércia do governo em conter as novas ondas de infecções provocadas
pelas novas variantes do vírus, cabe ao Senado Federal retomar o cumprimento do seu
dever de monitoramento e fiscalização dos crimes, ações e omissões do governo federal
no enfrentamento da pandemia. Dessa forma, pedimos o apoio dos nobres pares para
que se instaure uma nova CPI da Pandemia.

Sala da Comissão,
NOME DO SENADOR
REDE/AP

PARTIDO/ESTADO
Senador RANDOLFE RODRIGUES

ASSINATURA

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NOME DO SENADOR
PARTIDO/ESTADO
ASSINATURA
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