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A doutrina clássica classifica o inquérito policial como dispensável, tendo em vista que é
possível o oferecimento de denúncia desacompanhada de IP.
Porém, na realidade vemos que a esmagadora maioria das ações penais são precedidas de
inquérito policial, sendo esta portanto a regra e não a exceção. Neste sentido o inquérito
deveria ser caracterizado pela sua regra, ou seja, a indispensabilidade.
FINALIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL
Doutrina clássica dirá que o inquérito tem por finalidade subsidiar o titular da ação penal
(MP ou querelante)
Doutrina moderna aponta para um caráter dúplice do Inquérito Policial. Serve para
angariar provas e elementos informativos para uma possível ação penal, mas também
serviria como filtro contra ações penais infundadas e temerárias, podendo demostrar que
não há justa causa para a denúncia. A polícia judiciária é órgão imparcial, não tendo
qualquer compromisso com a parte acusadora ou com a defesa.
Não há uma relação de meio e fim entre a investigação policial e a ação penal.
Assim, além da função preparatória, o inquérito também teria a função preservadora,
servindo como meio de se resguardar direitos fundamentais.
INDICIAMENTO
Segundo o art. 2º, parágrafo 6º da Lei 12.830:
§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado,
mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e
suas circunstâncias.
Sendo o indiciamento ato privativo do Delegado de Polícia, não pode o juiz ou promotor
determinar ao Delegado o indiciamento de investigado, como já decidiu o STF.
O indiciamento é ato pelo qual o Delegado indica que a autoria de determinado crime
recai sobe determinada pessoa, havendo nesse momento da persecução penal uma
probabilidade de autoria. A certeza da autoria deve vir com a condenação.
• • A doutrina chama de indiciamento coercitivo aquele praticado no auto de prisão
em flagrante, pois quando o delegado decide pela lavratura do auto, ele está entendendo
que aquela pessoa é autora de determinado crime.
• • Indiciamento indireto seria aquele que é feito sem que o investigado seja
encontrado, estando ele em local incerto.
• • O delegado de polícia pode proceder ao desindiciamento, se com a descoberta
de novas informações, acreditar que o indiciado não é o provável autor do crime.
Cabe ressaltar que segundo o art. 17-D da lei 9.613, Lei de Lavagem, no caso de
indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e
demais direitos previstos, até que o juiz competente autorize seu retorno.
Existe contra esse artigo uma ADI no STF, questionando que não caberia ao Delegado de
Polícia impor através do indiciamento uma medida cautelar de afastamento do servidor
público e que isto caberia apenas ao juiz.
AÇÃO CONTROLADA
A ação controlada foi definida pela Lei 12.850
8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa
à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob
observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais
eficaz à formação de provas e obtenção de informações.
Assim, o instituto permite a postergação do flagrante pelas autoridades policiais ou
administrativas, que de outa forma não seria possível, tendo em vista que o art. 301 do
CPP diz ser dever das autoridades policiais prender quem estiver em flagrante delito.
A ação controlada permite que o flagrante seja realizado em momento mais propício para
a colheita de provas, e para identificação dos autores e participes da ação delituosa.
A ação controlada na lei 12.850 não exige autorização judicial, apenas prévia comunicação
ao juiz, que se for o caso, estabelecerá seus limites. Esse regramento é condizente com a
dinâmica da investigação policial, fazendo com que a necessidade de prévia autorização
judicial prejudicasse determinada diligência.
Não obstante, as outras leis que possuem previsão de ação controlada (Lei de Drogas e Lei
de Lavagem), mesmo que com outra nomenclatura, exigem prévia autorização judicial.
A Lei de Lavagem traz ainda que não somente a prisão de pessoas pode ter seu flagrante
retardado na ação controlada, sendo também possível suspender medidas assecuratórias,
quando sua execução imediata puder comprometer as investigações.
INFILTRAÇÃO POLICIAL
A Infiltração policial foi definida pela Lei 12.850
Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo
delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do
delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de
circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.
Cabe ressaltar incialmente que a infiltração de agente policial deve ser precedida de
autorização judicial. Também que a infiltração somente pode ser realizada por agente
policial, não podendo ser realizada por exemplo, por agente da ABIN.
Ela pode ser requerida pelo MP, mas nesse caso dependerá de prévia manifestação
técnica por parte do Delegado de Polícia, que é a autoridade capaz de determinar a real
plausibilidade da medida para obtenção de provas.
É meio de produção subsidiário, somente devendo ser utilizado na impossibilidade da
produção probatória por outros meios.
A Infiltração de agentes policiais será autorizada pelo prazo de até 6 meses, sem prejuízo
de eventuais renovações. Assim, nesta espécie de infiltração não há prazo máximo de
duração.
A lei trouxe uma excludente de culpabilidade para o agente policial que comete crimes no
curso de sua infiltração: “Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo
agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa”. Podendo
responder, porém, pelos excessos praticados.
O Pacote Anticrime trouxe para a Lei 12.850 a possibilidade da infiltração virtual de
agentes de polícia, que já constava do Estatuto da Criança e Adolescente. Na lei 12.850 o
prazo para esta infiltração virtual é de até 6 meses, sem prejuízo de eventuais
renovações, não podendo exceder o prazo máximo de 720 dias.
Já no ECA, a infiltração virtual será autorizada pelo prazo de até 90 dias, sem prejuízo de
eventuais renovações, não podendo exceder o prazo máximo de 720 dias.
Cabe ressaltar que ambas as leis trazem uma hipótese de excludente de ilicitude para o
policial infiltrado virtualmente, no sentido de que não comete crime o policial que oculta a
sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria e materialidade dos
crimes previstos na lei.
Além das infrações penais descritas no post anterior, segundo o Art. 144, parágrafo 1°,
inciso I da CF, cabe a PF a apuração de outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei. Essa
lei é a Lei 10.446.
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Segundo a lei, pode a PF apurar os crimes de:
I - seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro, se o agente foi impelido por
motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;
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II - formação de cartel
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III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se
comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais
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IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em
operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha
ou bando em mais de um Estado da Federação.
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V - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição do
produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado
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VI - furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou
caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de
um Estado da Federação.
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VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede mundial de computadores que
difundam conteúdo misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão
às mulheres.
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Alem desses crimes, a PF poderá investigar qualquer outro que tenha repercussão
interestadual ou internacional e que exigia repressão uniforme com autorização ou
determinação do Ministro da Justiça
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Em muitos desses casos a competência para processar e julgar o crime será da justiça
estadual. Demostrando que a atribuição da PF é mais ampla que a competência da Justiça
Federal
Ainda segundo o Art. 144 da CF cabe a Polícia Federal prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência
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A previsão sobre o descaminho e contrabando seria desnecessária porque se tratam de
crimes federais por afetarem interesse da União, porém note que a norma diz que a Polícia
Federal atua na prevenção e repressão do tráfico de drogas, do contrabando e
descaminho. Isso quer dizer que a PF, nesses casos, não atua apenas na apuração destes
crimes mas também na prevenção. Isso demonstra que a Polícia Federal é uma polícia de
ciclo completo
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Também segundo o Art. 144, cabe a PF exercer as funções de polícia marítima,
aeroportuária e de fronteiras. O ciclo completo também está presente nestas funções, de
forma que a PF reprime e investiga crimes que ocorrem nestas áreas.
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Além disso, na região de fronteiras e nos aeroportos a PF faz o trabalho de polícia
migratória, analisando a licitude da entrada e saída de indivíduos do país.
Por fim, o Art. 144, parágrafo 1°, inciso IV, nos diz que cabe a PF exercer com exclusividade
as funções de polícia judiciária da União.
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Note que a norma diz "com exclusividade". Assim, apesar da PF eventualmente poder
investigar crimes estaduais, a Polícia Civil não deve investigar crimes federais. Porém,
segundo os tribunais superiores eventual falta de atribuição da autoridade policial não
tem o condão de macular o processo.
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Exercendo a função de polícia judiciária da União a PF deve investigar todos os crimes de
competência dos juízes federais, previstos no art. 109 da CF.
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Além dos crimes políticos e contra bens, serviços e interesses da União, também crimes
transnacionais, previstos em tratados. Como tráfico de drogas e de armas transnacional.
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Crimes contra a organização do trabalho, e nos casos previstos em lei, crimes contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.
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Crimes que envolvam violação de direitos humanos, quando houver deslocamento de
competência para justiça federal
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Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, ressalvada a competência da justiça
militar
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Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, e crimes envolvendo a
disputa sobre direitos indígenas.