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INDISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL

A doutrina clássica classifica o inquérito policial como dispensável, tendo em vista que é
possível o oferecimento de denúncia desacompanhada de IP.
Porém, na realidade vemos que a esmagadora maioria das ações penais são precedidas de
inquérito policial, sendo esta portanto a regra e não a exceção. Neste sentido o inquérito
deveria ser caracterizado pela sua regra, ou seja, a indispensabilidade.
FINALIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL
Doutrina clássica dirá que o inquérito tem por finalidade subsidiar o titular da ação penal
(MP ou querelante)
Doutrina moderna aponta para um caráter dúplice do Inquérito Policial. Serve para
angariar provas e elementos informativos para uma possível ação penal, mas também
serviria como filtro contra ações penais infundadas e temerárias, podendo demostrar que
não há justa causa para a denúncia. A polícia judiciária é órgão imparcial, não tendo
qualquer compromisso com a parte acusadora ou com a defesa.
Não há uma relação de meio e fim entre a investigação policial e a ação penal.
Assim, além da função preparatória, o inquérito também teria a função preservadora,
servindo como meio de se resguardar direitos fundamentais.

CONTRADITÓRIO EM AMPLA DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL


Doutrina clássica dirá que o inquérito policial é inquisitivo, e nesse sentido não há
contraditório ou ampla defesa.
Porém, modificações legislativas começaram a relativizar a inquisitoriedade do IP, o
Estatuto da OAB traz que, é direito do advogado:
O art. 7º XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob
pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes
ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva
apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
a) apresentar razões e quesitos; (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
A partir desta norma a doutrina começou a entender que haveria certa defesa no IP,
porém não seria obrigatória, sendo apenas um direito do advogado e não do investigado.
O Delegado não poderia impedir que o advogado assistisse seu cliente no interrogatório.
Porém, a nova lei de Abuso de Autoridade traz que é crime:
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. (VETADO).
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o
interrogatório: (Promulgação partes vetadas)
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor
público, sem a presença de seu patrono.
E também:
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu
advogado: (Promulgação partes vetadas)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Assim, hoje, se o investigado
optar por ser assistido por um advogado, ele somente poderá ser interrogado na presença
deste. Neste sentido, pode-se dizer que há necessidade de defesa técnica no inquérito
policial, caso o investigado tenha optado por tal.
Hoje então pode se dizer que existe ampla defesa no inquérito policial, mesmo que
mitigada, pois não obrigatória como no processo penal, em que o juiz nomeará advogado
ao réu caso ele não constitua um.
Lembrando que o interrogatório é hoje visto como um instrumento de defesa, e
desdobramento da ampla defesa na sua espécie autodefesa.
Com relação ao contraditório, que é o direito do investigado de conhecer das provas e
elementos de informação que contra eles são produzidos e poder contradizê-los, este será
diferido com relação as provas cautelares e irrepetíveis, ou seja, durante o processo será
oportunizado que a defesa conteste essas provas.
Com relação as provas antecipadas, a prova é produzida com contraditório real, perante o
juiz.
Já sobre os elementos informativos, o contraditório será mitigado, tendo em vista que o
investigado só terá acesso aos elementos já documentados nos autos.
Também vimos pelo EOAB, que ao advogado é permitido apresentar razões e quesitos.
Pode por exemplo apresentar quesitos a um exame de corpo de delito.
Nesse sentido Henrique Hoffman entende que o inquérito policial deveria ser
caracterizado como apuratório e não inquisitivo, pois não há concentração de funções em
uma única autoridade, respeita-se direitos e garantias individuais e não tem um sigilo
absoluto, como veremos.

SIGILO NO INQUÉRITO POLICIAL


O sigilo no IP é dividido em sigilo interno e sigilo externo. O primeiro diz respeito ao
investigado e seu advogado e o segundo ao público em geral. O sigilo externo é a regra, o
interno exceção.
O advogado do investigado tem direito de acessar os autos do IP, de acordo com o EOAB e
a súmula vinculante 14, dentro de certos limites. Segundo o art. 7º do Estatuto da OAB,
advogado tem direito:
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo
sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245, de 2016)
Porém, diz o art. 7º, § 11º:
No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do
advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não
documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da
eficácia ou da finalidade das diligências.
No mesmo sentido a Súmula Vinculante 14:
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Nesse sentido a lei de abuso de autoridade tipifica como crime:
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação
preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento
investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de
cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a
realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível: (Promulgação partes
vetadas)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Cabe ressaltar que, o defensor não pode consultar autos de qualquer investigação. Deve
ser de investigação relacionada ao seu cliente específico, e que se os autos estiverem sob
sigilo será necessário apresentar procuração
Caso se trate de investigação de crime de organização criminosa e o sigilo tenha sido
imposto pelo juiz, será necessária autorização judicial para acessar os atos.

PRINCÍPIO DO DELEGADO NATURAL


Tendo em vista as regras definidoras de competência, entende-se que há um princípio do
juiz natural, ou seja, um juiz competente para julgar aquele caso conforme regras de
competência previamente determinadas. Isso preservaria a imparcialidade do julgador.
Em decorrência do princípio do juiz natural haveria também um promotor natural com
atribuição para aquela causa.
A definição da autoridade policial que presidirá o IP é feita, via de regra, por critério
territorial, ou seja, será responsável a autoridade do local onde se consumou a infração ou
onde foi praticado o último ato de execução no caso de tentativa. Nada impede, porém,
que seja feita a divisão pela natureza da infração conforme existam delegacias
especializadas.
Assim, pode-se dizer que também existiria um princípio do delegado natural, o que vai ao
encontro da imparcialidade que se exige de todos os atores da persecução penal em um
estado democrático de direito. Neste sentido veda-se a indicação “ad hoc” de Delegados
para atuar em casos específicos, sob pena de o Estado-Investigação falhar no seu dever de
atuar de forma célere e imparcial.
Porém, este princípio é relativizado, no sentido de que a lei 12.830, em seu art. 2,
parágrafo 4º permite a redistribuição ou avocação o IP:
§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá
ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado,
por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos
previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação.
PRISÃO EM FLAGRANTE COMO MEDIDA PRÉ-CAUTELAR
Após a edição da Lei. 12.403 de 2011 a prisão em flagrante não pode mais se perpetuar
durante a investigação ou durante de processo, de forma que após recebido o auto de
prisão em flagrante o juiz deve analisar sua legalidade, devendo então converter o
flagrante em preventiva ou liberar o preso, com ou sem a imposição de medidas
cautelares alternativas a prisão. Nesse sentido a prisão em flagrante teria se transformado
em uma prisão de natureza pré-cautelar
Segundo Aury Lopes Jr. a prisão em flagrante “não é uma medida cautelar pessoal, mas
sim pré-cautelar, no sentido de que não se dirige a garantir o resultado final do processo,
mas apenas destina-se a colocar o detido à disposição do juiz para que adote ou não uma
verdadeira medida cautelar.
Esta é a mesma posição de Renato Brasileiro e Luiz Flavio Gomes.
Assim, a prisão em flagrante tem o propósito de fazer encerrar a prática delitiva que está
sendo cometida naquele momento, e de colocar o preso à disposição da autoridade
judiciária para que contra aquele seja imposta alguma media cautelar diversa da prisão ou
mesmo uma prisão preventiva.
PRISÃO EM FLAGRANTE DE AUTORIDADES
Algumas autoridades e profissionais possuem imunidade relativa com relação à prisão.
Trata-se de uma imunidade formal com relação a prisão. Ao lado desta também existem
imunidades formais com relação ao processo e imunidades materiais.
Segundo art. 52, §º da CF: “Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo
voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão”.
Assim, deputados federais e senadores não podem ser presos em flagrante, salvo no caso
da prática de crime inafiançável. Nestes casos, deve o Delegado remeter o auto de prisão
em flagrante em até 24h à casa respectiva para que esta decida sobre a prisão.
Essa imunidade formal é estendida aos deputados estaduais, porém os vereadores não
possuem o mesmo direito.
Com relação ao Presidente da República, a CF em seu artigo 86 diz que:
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente
da República não estará sujeito a prisão.
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.
Assim, o presidente possui imunidade material com relação a crimes estranhos ao
exercício da função, não podendo ser responsabilizado por eles, durante o mandato. E
com relação a crimes praticados no exercício da função, somente poderá ser preso após
sentença condenatória, não podendo ser preso em flagrante em nenhum caso.
Magistrados também somente podem ser presos em flagrante no caso de crimes
inafiançáveis. É o que diz o art. 33, inciso II, da Lei Orgânica da Magistratura: II - não ser
preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do Órgão Especial competente para o
julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará
imediata comunicação e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal a que
esteja vinculado
O mesmo ocorre com membros do Ministério Público, segundo art. 40, inciso III da Lei
Orgânica do MP:
III - ser preso somente por ordem judicial escrita, salvo em flagrante de crime inafiançável,
caso em que a autoridade fará, no prazo máximo de vinte e quatro horas, a comunicação e
a apresentação do membro do Ministério Público ao Procurador-Geral de Justiça
Assim, em caso de flagrante de crime inafiançável de juiz ou promotor, deve o Delegado
de Polícia, após lavratura do auto, remete-lo ao tribunal competente ou ao procurador
geral de justiça, juntamente com o preso.
Já com relação a advogados, o Estatuto da OAB diz em seu art. 7º, §3º que:
§ 3º O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de exercício da
profissão, em caso de crime inafiançável, observado o disposto no inciso IV deste artigo.
Por sua vez, o inciso IV diz que:
IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo
ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade
e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB;
Assim, o advogado possui imunidade formal com relação a prisão, somente podendo ser
preso em flagrante, quando cometer um crime por motivo de interesse profissional, se
este crime foi inafiançável. Nestes casos terá direito da presença de representante da OAB
durante a lavratura do auto.
No caso da prática de crimes que não guardem relação com o exercício profissional o
advogado não possui imunidade formal. Nestes casos basta a comunicação da prisão à
seccional da OAB.
Lembrando que o advogado possui imunidade material com relação aos crimes de injúria e
difamação, no exercício da atividade.
Cabe ressaltar que no caso da prática de crimes afiançáveis por deputados, senadores,
juízes ou promotores, estes podem ser capturados e conduzidos até a autoridade policial,
para fazer cessar a prática criminosa e para que os fatos sejam documentados. Porém
contra eles não se imporá a prisão em flagrante, não havendo lavratura do auto.

FALSA IDENTIDADE PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL


Ao ser conduzido perante a autoridade policial, o conduzido não pode atribuir a si mesmo
falsa identidade para, por exemplo evitar a prisão, havendo contra ele mandado de prisão
em aberto.
A jurisprudência entende que a atribuição de falsa identidade não está abarcada pelo
direito de não produzir prova contra si mesmo. A identificação correta do conduzido é
essencial para que não se produzam injustiças e para que a persecução penal não recaia
contra um inocente.
É neste sentido a súmula 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante
autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.
Assim caso a pessoa se atribua falsa identidade, obtendo vantagem ou causando prejuízo a
outrem, responderá pelo crime de falsa identidade do art. 307 do CP.
Caso para este fim se utilize de documento falso, haverá o crime de uso de documento
falso, art. 304 do CP
Além disso, o conduzido não pode se calar com relação a seus dados qualificativos, se o
fizer responderá pelo art. 68 da Lei de Contravenções Penais:
Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, justificadamente solicitados ou exigidos,
dados ou indicações concernentes à própria identidade, estado, profissão, domicílio e
residência:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA (norma suspensa)


A audiência de custódia que até então estava somente regulamentada pela Resolução 213
do CNJ, foi positivada na Lei 13.964, Pacote Anticrime. A necessidade de uma audiência de
apresentação do preso já constava da Convenção Americana de Direitos Humanos e do
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de Nova York.
A audiência tem uma dupla finalidade: permite o contato direto do juiz com o preso, de
maneira que o juiz pode analisar a higidez física do preso e constar se este sofreu ou não
violência física. O contato direto também permite uma melhor análise das circunstâncias
subjetivas do preso para que o juiz possa decidir melhor sobre a possível imposição de
medidas cautelares
A Lei trouxe a obrigatoriedade da audiência de custódia somente para a prisão em
flagrante, porém a Resolução do CNJ determina sua realização após qualquer espécie de
prisão.
Cabe ressaltar que o preso atribui ao agente público responsável por sua prisão
falsamente a prática de tortura ou lesão corporal, pode incorrer nos crimes de calúnia ou
denunciação caluniosa.
Segundo o art. 310, § 4º, do CPP se a audiência de custódia não for realizada após 24h do
recebimento do auto de prisão em flagrante a prisão se tornará ilegal. Considerando que a
autoridade policial tem o prazo de 24h para remeter os autos de prisão em flagrante ao
juiz após a prisão, a audiência de custódia deve ser realizada em até 48h da prisão.
(DES)NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PARA
INSTAURAÇÃO DE IP
O STJ, no RHC 77518/RJ de Rel do Min. Ribeiro Dantas, decidiu que o Inquérito Policial
pode ser instaurado de ofício ou mediante requisição do Ministério Público, sem
necessidade de submissão do pleito ao poder judiciário.
Segundo o Min: “Nas hipóteses de haver previsão de foro por prerrogativa de função, seja
por disposição do poder constituinte, do constituído reformador ou decorrente, pretende-
se apenas que a autoridade, em razão da importância da função que exerce, seja
processada e julgada perante foro mais restrito, formado por julgadores mais experientes,
evitando-se, pois, persecuções penais infundadas. Da prerrogativa de função, contudo,
não decorre qualquer condicionante à atuação do Ministério Público, ou da autoridade
policial, no exercício do mister investigatório, sendo, em regra, despicienda a
admissibilidade da investigação pelo Tribunal competente”.
Porém, segundo a corte, existem exceções legais que necessitariam de autorização judicial
prévia.
O Regimento Interno do STF, em seu art. 21, inciso XV, atribui ao relator a determinação
instauração de inquérito a pedido do Procurador Geral, da autoridade policial ou do
ofendido.
Assim, enquanto o STJ não exige mais autorização judicial para investigação de pessoas
com foro neste tribunal, entendendo que o mesmo se aplica as autoridades com
prerrogativa de foro nos Tribunais de Justiça, o STF continua a exigir, pois previsto em seu
Regimento Interno.
Assim sendo, não é necessária autorização judicial para instauração de inquérito contra
governadores de estado, prefeitos ou deputados estaduais. Porém será necessária no caso
de deputados federais e senadores.
Exceção também seriam o caso dos juízes e promotores. Segundo este julgado, nestes
casos também seria necessário autorização judicial do tribunal competente para
instauração de investigação. Sendo uma exigência indireta da lei.
No caso dos juízes a Lei Orgânica da Magistratura diz que havendo indícios da prática de
crime por parte de magistrado, deve a autoridade policial remeter os autos ao Tribunal
competente para que este prossiga na investigação.
Já a lei orgânica do ministério público diz que no caso de indício de pratica de crime por
parte de membro de MP, a autoridade policial deve remeter os autos ao Procurador Geral
de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento na apuração.
CONDUÇÃO COERCITIVA
O código de processo penal permite a condução coercitiva perante a autoridade policial ou
judicial, de investigados, peritos, testemunhas e até do próprio ofendido.
Ocorre que o STF ao julgar as ADPFs 395 e 444 deu interpretação conforme a constituição
ao art. 260 do CPP para proibir a condução coercitiva do investigado para interrogatório.
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou
qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar
conduzi-lo à sua presença.
Segundo a Suprema Corte a possibilidade de condução coercitiva do investigado para
interrogatório ofende o princípio do “nemo tenetur se detegere” que é o direito de não
produzir prova contra si mesmo, no caso, o direito de permanecer em silêncio. O STF
ponderou que sendo o interrogatório um meio de defesa, e havendo o direito do
investigado de permanecer em silêncio, não respondendo ao que lhe for perguntado, não
haveria sentido em realizar sua condução coercitiva para interrogatório.
Cabe ressaltar, porém, que o STF apenas proibiu a condução coercitiva do investigado para
interrogatório. A condução coercitiva, após prévia intimação descumprida, de peritos,
testemunhas e do ofendido ainda são permitidas. Além disso, a condução coercitiva do
investigado para outros atos, que não o interrogatório, e que não estão protegidos pelo
direito de não produzir prova contra si mesmo, continuam possíveis. É o caso da condução
coercitiva do investigado para realização de reconhecimento pessoal, que apenas exige do
investigado um ato passivo, e por isso não protegido pelo “nemo tenetur se detegere”.

CONCESSÃO DE FINAÇA PELO DELEGADO DE POLÍCIA


Segundo a doutrina majoritária, a fiança concedida pelo Delegado de Polícia tem a
natureza jurídica de contracautela, substituindo a prisão em flagrante, tendo em vista que
esta não pode persistir após a apresentação do preso ao juiz, devendo este conceder ao
preso liberdade provisória ou decretar a prisão preventiva.
Já a fiança concedida pela autoridade judicial pode ter natureza de contracautela ou de
medida cautelar autônoma, imposta pelo juiz como condição da liberdade provisória.
Segundo o CPP:
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja
pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48
(quarenta e oito) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 323. Não será concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes de racismo; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos
definidos como crimes hediondos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático
Assim, o delegado pode conceder fiança aos delitos cuja pena máxima não superem 4
anos, independentemente de serem punidos com reclusão ou detenção. Para fazer esta
análise deve o Delegado levar em consideração causas de aumento e diminuição, fazendo
incidir a maior causa do aumento e a menor causa de diminuição, para se chegar a pena
máxima cominada ao delito, e também o concurso de crimes. O Delegado deve arbitrar a
fiança entre 1 e 100 salários mínimos, podendo reduzir em até 2/3 ou aumentar em até
1000 vezes. Segundo a doutrina majoritária somente caberia ao juiz dispensar a fiança
caso o preso não tenha condições financeiras de arcar com ela.
Cabe ressaltar que não se concede fiança em caso de prisão civil.
Além disso, poderia o Delegado deixar de arbitrar a fiança, caso o Delegado entenda
presente os motivos que autorizem a prisão preventiva (Art. 312), segundo o art. 324, IV.
Porém esta possibilidade não é pacifica na doutrina, de forma que alguns entendem
somente ser cabível ao juiz esta hipótese.
A Lei Maria da Penha também veda a concessão de fiança pelo Delegado de Polícia na
hipótese do crime previsto no art. 24-A daquela lei:
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas
nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 13.641, de
2018)

SUSPEIÇÃO DO DELEGADO DE POLÍCIA


Segundo o Código de Processo Penal:
Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas
deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.
Neste sentido ao contrário do que ocorre com as autoridades judiciais e ministeriais não é
possível a arguição de suspeição da autoridade policial. Porém esta deveria se declarar
suspeita, havendo motivo legal.
A doutrina e jurisprudência majoritária entendem nesse sentido, tendo em vista que o
inquérito policial seria um procedimento inquisitivo, sem contraditório, e que as
informações levantadas no inquérito teriam que ser novamente produzidas durante o
processo.
Porém uma moderna doutrina advoga que o Delegado deve ser tão imparcial quanto o juiz
ou o promotor, em um Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, se aplicaria ao
Delegado as mesmas causas de suspeição e impedimento que ao juiz.
Assim, caso o Delegado não se declare suspeito, deveria ser possível recurso ao Delegado
Geral de Polícia.

PRAZO PARA CONCLUSÃO DO IP


O Pacote Anticrime trouxe um conflito de normas no CPP entre os prazos de conclusão do
IP. O art. 10 diz que o prazo no caso de investigado preso seria de 10 dias, sem
prorrogação. Ocorre que o art. 3-B, parágrafo 2º do CPP agora dispõe que no caso de
investigado preso poderia haver uma prorrogação de 15 dias, sendo assim um prazo de 10
+ 15 dias. Sendo esta norma mais recente deve prevalecer tendo em vista o princípio da
posteridade, porém esta norma encontra-se suspensa pelo STF, valendo, por enquanto a
regra dos 10 dias improrrogáveis.
Por outro lado, o prazo no caso de réu solto seria de 30 dias, podendo ser prorrogado
diversas vezes, devendo respeitar somente uma duração razoável de investigação.
Além disso existem prazos diferentes em leis especiais. Na justiça federal o prazo é de 15
+15 para investigados presos. Usando a regra geral para investigados soltos.
Na lei de drogas o prazo é de 30 dias para investigados presos e de 90 dias para
investigados soltos.
Nos crimes contra a economia popular o prazo é de 10 dias tanto para investigados presos
quanto para soltos.
Havendo prisão temporária, entende a doutrina que o prazo para a conclusão do inquérito
passa a ser o prazo da prisão temporária, visto que esta prisão tem por finalidade
exatamente proteger e ajudar a investigação. Assim, no caso de prisão temporária por
crimes hediondos ou equiparados o prazo para conclusão do IP será de 30 dias, podendo
ser prorrogado por mais 30 com a prorrogação da prisão.

JUÍZO DE PROGNOSE E DIAGNOSE DO DELEGADO DE POLÍCIA


Segundo o professor Henrique Hoffman deve o Delegado de Polícia realizar juízos de
prognose e diagnose durante seu trabalho investigativo. O juízo de prognose seria feito no
momento de instauração do inquérito e durante o curso das investigações, buscando
realizar diligências que possam demonstrar a autoria e materialidade de determinado
crime. Assim, o juízo de prognose teria um olhar para o futuro, para “frente”. O Delegado
elege, de forma discricionária, através deste juízo quais diligências são necessárias para
formar sua convicção.
Já o juízo de diagnose é feito ao final do inquérito policial, no relatório final. Neste
momento o Delegado de Polícia olha para “trás”, para todos os elementos de informação e
provas colhidas na investigação e decide se indicia, não indicia ou desindicia o investigado.
Neste sentido, durante a condução do inquérito cabe apenas ao Delegado decidir sobre
quais diligências serão realizadas, não devendo haver qualquer interferência de outra
autoridade. Após o Delegado relatar o inquérito e antes do oferecimento da denúncia
pode o Ministério Público requisitar diligências que entender imprescindíveis para a
denúncia, porém não antes.

PROCEDIMENTOS NA LEI MARIA DA PENHA


Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
imediato, as providências legais cabíveis.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida
protetiva de urgência deferida.
No atendimento a uma mulher vítima de violência doméstica ou familiar, esta terá direito
a atendimento policial especializado, preferencialmente por servidora do sexo feminino. A
vítima, familiar ou testemunha, em nenhuma hipótese terá contato direto com o suspeito.
Deve-se evitar a revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições, bem como
questionamentos sobre a vida privada.
Além disso:
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a
autoridade policial deverá, entre outras providências:
I - Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério
Público e ao Poder Judiciário;
II - Encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;
III - Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro,
quando houver risco de vida;
IV - Se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do
local da ocorrência ou do domicílio familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis,
inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo
competente da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
dissolução de união estável.
Caso a ofendida queira requerer medidas protetivas de urgência ao juiz, cabe ao Delegado
de Polícia tomar a representação a termo e enviar ao juiz no prazo máximo de 48h.
Além disso deve ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras
ocorrências policiais contra ele e verificar se o agressor possui registro de porte ou posse
de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como
notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão
do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da
violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente.
Além disso, verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física
da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o
agressor pode ser imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida pelo Delegado de Polícia, caso o munícipio não seja sede de comarca
Também segundo a lei:
Art. 12- A, § 3º: A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos necessários à
defesa da mulher em situação de violência doméstica e familiar e de seus dependentes.

INAMOVIBILIDADE RELATIVA DO DELEGADO DE POLÍCIA


Os juízes e promotores possuem inamovibilidade. Isso quer dizer que somente serão
removidos de sua comarca caso queiram, ou por decisão colegiada. Para que haja a
remoção de juízes, por interesse público, é necessário que haja o voto da maioria absoluta
do respectivo tribunal ou do CNJ. No caso de promotores, voto da maioria absoluta do
Conselho Superior do Ministério Público.
Isso protege os magistrados e promotores contra pressões políticas e institucionais,
garantindo sua imparcialidade.
O art. 2, parágrafo 5º da Lei 12.830 diz que:
§ 5º A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.
Nesse sentido existe uma inamovibilidade relativa do Delegado de Polícia, que não pode
ser removido por ato discricionário sem fundamentação, porém, não tem a mesma
proteção de juízes e promotores, já que não é uma garantia constitucional, e não há
obrigatoriedade que a decisão seja tomada por órgão colegiado.

VERIFICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DAS INFORMAÇÕES (VPI)


Segundo o art. 5º, parágrafo 3º, do CPP:
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em
que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade
policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
Assim, em caso de dúvidas em relação a ocorrência de crime apresentada por “notitia
criminis”, deve o delegado realiza uma verificação de procedência das informações antes
de instaurar o IP. Nesta VPI não será possível medidas mais invasivas como interceptações
telefônicas ou quebras de sigilo.
Segundo a jurisprudência não é possível instaurar inquérito diante de noticia criminis
apócrifa ou anônima, porém, será possível a instauração de VPI.

APLICAÇÃO DO PIRNCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PELO


DELEGADO
Delitos insignificantes são aqueles que não causam uma efetiva lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico. Nesse sentido, segundo o princípio da lesividade, o direito penal somente
deve reprimir condutas que causem essa efetiva lesão ou perigo de lesão.
A análise desta lesividade ao bem jurídico se encontra dentro da chamada tipicidade
material. Segundo a doutrina uma lesão ineficaz, que não é capaz de danificar ou em por
em risco o bem jurídico, não deve ser considerada crime, sendo um irrelevante penal por
atipicidade material da conduta.
Parte da doutrina entende que caberia ao Delegado, no momento da realização do auto
de prisão em flagrante, apenas a análise da tipicidade formal, ou seja, a subsunção do ato
praticado à norma.
Uma moderna doutrina, porém, neste sentido Guilherme Madeira, Gustavo Badaró, entre
outros defendem que o Delegado pode e deve ir além de uma mera análise de tipicidade
formal.
Neste sentido também, Cleber Masson defende que se o fato é atípico para a autoridade
judiciária, também o será para a autoridade policial, de forma que esta não está obrigada a
realizar a prisão em flagrante. O doutrinador lembra que o Direito Penal deve respeitar os
princípios da intervenção mínima, da subsidiariedade, da proporcionalidade e da
lesividade.
Ora, ninguém deve ser preso salvo em flagrante delito, assim o Delegado de Polícia
somente deve lavrar o auto de prisão em flagrante se a pessoa cometeu um delito, um
crime. O crime por sua vez é formado de tipicidade, formal e material, ilicitude e
culpabilidade. A falta de qualquer destes elementos faz com que a ação não se traduza em
crime.
A falta de tipicidade material é muitas vezes de fácil constatação pelo Delegado no
momento do flagrante, de forma que se for possível essa análise no momento, deve o
Delegado realizá-la, se abstendo de lavrar o auto de prisão em flagrante e recolher a
pessoa ao cárcere, podendo de toda forma iniciar o Inquérito Policial através de portaria.
O STF já definiu quais os pressupostos para a aplicação do referido princípio, tendo o
Delegado um norte de atuação. Estes são: a mínima ofensividade da conduta, ausência de
periculosidade social da ação, reduzido grau da reprovabilidade do comportamento,
inexpressividade da lesão jurídica causada (mnemônico MARI).

INDICIAMENTO
Segundo o art. 2º, parágrafo 6º da Lei 12.830:
§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado,
mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e
suas circunstâncias.
Sendo o indiciamento ato privativo do Delegado de Polícia, não pode o juiz ou promotor
determinar ao Delegado o indiciamento de investigado, como já decidiu o STF.
O indiciamento é ato pelo qual o Delegado indica que a autoria de determinado crime
recai sobe determinada pessoa, havendo nesse momento da persecução penal uma
probabilidade de autoria. A certeza da autoria deve vir com a condenação.
• • A doutrina chama de indiciamento coercitivo aquele praticado no auto de prisão
em flagrante, pois quando o delegado decide pela lavratura do auto, ele está entendendo
que aquela pessoa é autora de determinado crime.
• • Indiciamento indireto seria aquele que é feito sem que o investigado seja
encontrado, estando ele em local incerto.
• • O delegado de polícia pode proceder ao desindiciamento, se com a descoberta
de novas informações, acreditar que o indiciado não é o provável autor do crime.

Cabe ressaltar que segundo o art. 17-D da lei 9.613, Lei de Lavagem, no caso de
indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e
demais direitos previstos, até que o juiz competente autorize seu retorno.
Existe contra esse artigo uma ADI no STF, questionando que não caberia ao Delegado de
Polícia impor através do indiciamento uma medida cautelar de afastamento do servidor
público e que isto caberia apenas ao juiz.

REQUISIÇÃO DE DADOS PELO DELEGADO


Segundo a lei 12.850:
Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de
autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem
exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça
Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e
administradoras de cartão de crédito.
E a lei, 9.613, lei de lavagem:
Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério Público terão acesso, exclusivamente, aos
dados cadastrais do investigado que informam qualificação pessoal, filiação e endereço,
independentemente de autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas
empresas telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas
administradoras de cartão de crédito.
Nesse sentido o Delegado pode ter acesso direito a dados cadastrais de identificação, sem
necessidade de prévia autorização judicial. (Dados de identidade, nome, sobrenome, data
de nascimento, RG, CPF, filiação, endereço).
O Delegado também poderia ter acesso direito a dados telefônicos pretéritos, como
chamadas efetuadas e recebidas e informações pretéritas de ERBs (Estação Radio Base).
Todavia, para obtenção de dados de localização em tempo real, será necessária
autorização judicial, segundo o art. 13-B do CPP. Esses dados serão fornecidos por prazo
não superior a 30 dias, podendo ser renovado uma única vez por igual período. Essa
autorização especifica não dará acesso ao conteúdo da comunicação.
No caso dos crimes previstos no art. 13-A, em geral, relacionados a restrição de liberdade
da vítima, o IP deve ser instaurado em até 72h.
Caso o juiz não responda ao pedido de informações da ERBs em até 12h, o Delegado de
polícia poderá requerer diretamente as empresas de telecomunicação que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos que permitam a localização da vítima ou suspeitos. A
doutrina chama esta hipótese de cláusula de reserva de jurisdição temporária.
Além disso, com relação a dados telemáticos contidos em aparelhos telefônicos, a
jurisprudência entende que é necessária previa autorização judicial para acessá-los. Não
sendo possível acessar esses dados telemáticos na hipótese de prisão em flagrante.
Para acesso a dados bancários ou fiscais também se faz necessária autorização judicial.
Porém, com relação aos relatórios de inteligência do UIF, antigo COAF, decidiu o STF: “É
constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da
íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil, que define o
lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal, para fins criminais, sem a
obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das
informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle
jurisdicional.
O compartilhamento pela UIF e pela Receita Federal do Brasil, referente ao item anterior,
deve ser feito unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo,
certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e
correção de eventuais desvios.”

COLABORAÇÃO PREMIADA CONDUZIDA PELO DELEGADO DE


POLÍCIA
A lei 12.850, Lei de Organização Criminosa, trouxe um procedimento previsto para a
chamada colaboração premiada, permitindo que o Delegado de Polícia formalize o acordo
de colaboração premiada.
Parte da doutrina se revoltou contra essa possibilidade, no sentido de que o dispositivo
ofenderia a titularidade da ação penal pelo Ministério Público.
Porém, o STF no julgamento de ADI 5508, entendeu que o Delegado de Polícia pode
formalizar acordos de colaboração premiada, na fase de inquérito policial, respeitadas as
prerrogativas do Ministério Público, o qual deverá se manifestar, sem caráter vinculante,
previamente à decisão judicial.
Segundo o Min. Marco Aurélio, a possibilidade de o Delegado propor ao juiz o perdão
judicial não é um assunto que esteja diretamente relacionado com o modelo acusatório.
Não há, portanto, ofensa ao art. 129, I, da Constituição Federal. Essa possibilidade está sim
relacionada com o “direito de punir do Estado”. Embora o Ministério Público seja o titular
da ação penal de iniciativa pública, ele não é o titular do direito de punir. O direito de
punir é uma manifestação do Poder Judiciário. A representação pelo perdão judicial, feita
pelo Delegado de Polícia, por conta da colaboração premiada, não impede que o MP
ofereça denúncia contra o investigado. Ocorre que, uma vez comprovada a eficácia do
acordo, o juiz irá extinguir a punibilidade do delator.
Ainda segundo o Ministro, definir quais benefícios serão propostos não se confunde com a
propositura ou não da ação penal. “O argumento segundo o qual é privativa do Ministério
Público a legitimidade para oferecer e negociar acordos de colaboração premiada,
considerada a titularidade exclusiva da ação penal pública, não encontra amparo
constitucional”.
Não se pode centralizar no Ministério Público todos os papéis do sistema de persecução
criminal, atuando o Órgão como investigador – obtenção do material destinado a provar
determinado fato –, acusador – titular da ação penal – e julgador – estabelecendo penas,
regimes e multas a vincularem o Juízo –, em desequilíbrio da balança da igualdade de
armas. Desse modo, não é indispensável a presença do Ministério Público desde o início e
em todas as fases de elaboração de acordos de delação premiada. De igual forma, o
parecer do parecer do MP sobre o acordo celebrado pelo Delegado não é vinculante. (Info,
907 Comentado, Dizer o Direito).
Neste sentido cabe ao Delegado ou ao MP apenas a indicação dos benefícios, porém cabe
ao Judiciário concede-los ou não, podendo o juiz adequar o resultado da colaboração aos
resultados mínimos exigidos em lei.
A verdade é que a Colaboração Premiada, como meio de obtenção de prova, deve ser
manejada prioritariamente pelo Delegado de Polícia, pois é a autoridade que preside a
investigação, e, portanto, a que tem mais conhecimento sobre quais provas são ainda
necessárias para a elucidação do fato e de sua autoria.
Por obvio, o Delegado de Polícia não pode oferecer prêmios no acordo que não estão a
sua disposição, como a hipótese de deixar de oferecer a denúncia, que somente pode ser
feita pelo MP. Os outros prêmios, porém, não guardam relação com a titularidade da ação
penal.
Cabe ressaltar que caberá ao juiz das garantias homologar os acordos de colaboração
premiada realizados durante a investigação (Dispositivo suspenso).

AÇÃO CONTROLADA
A ação controlada foi definida pela Lei 12.850
8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa
à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob
observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais
eficaz à formação de provas e obtenção de informações.
Assim, o instituto permite a postergação do flagrante pelas autoridades policiais ou
administrativas, que de outa forma não seria possível, tendo em vista que o art. 301 do
CPP diz ser dever das autoridades policiais prender quem estiver em flagrante delito.
A ação controlada permite que o flagrante seja realizado em momento mais propício para
a colheita de provas, e para identificação dos autores e participes da ação delituosa.
A ação controlada na lei 12.850 não exige autorização judicial, apenas prévia comunicação
ao juiz, que se for o caso, estabelecerá seus limites. Esse regramento é condizente com a
dinâmica da investigação policial, fazendo com que a necessidade de prévia autorização
judicial prejudicasse determinada diligência.
Não obstante, as outras leis que possuem previsão de ação controlada (Lei de Drogas e Lei
de Lavagem), mesmo que com outra nomenclatura, exigem prévia autorização judicial.
A Lei de Lavagem traz ainda que não somente a prisão de pessoas pode ter seu flagrante
retardado na ação controlada, sendo também possível suspender medidas assecuratórias,
quando sua execução imediata puder comprometer as investigações.

INFILTRAÇÃO POLICIAL
A Infiltração policial foi definida pela Lei 12.850
Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo
delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do
delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de
circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.
Cabe ressaltar incialmente que a infiltração de agente policial deve ser precedida de
autorização judicial. Também que a infiltração somente pode ser realizada por agente
policial, não podendo ser realizada por exemplo, por agente da ABIN.
Ela pode ser requerida pelo MP, mas nesse caso dependerá de prévia manifestação
técnica por parte do Delegado de Polícia, que é a autoridade capaz de determinar a real
plausibilidade da medida para obtenção de provas.
É meio de produção subsidiário, somente devendo ser utilizado na impossibilidade da
produção probatória por outros meios.
A Infiltração de agentes policiais será autorizada pelo prazo de até 6 meses, sem prejuízo
de eventuais renovações. Assim, nesta espécie de infiltração não há prazo máximo de
duração.
A lei trouxe uma excludente de culpabilidade para o agente policial que comete crimes no
curso de sua infiltração: “Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo
agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa”. Podendo
responder, porém, pelos excessos praticados.
O Pacote Anticrime trouxe para a Lei 12.850 a possibilidade da infiltração virtual de
agentes de polícia, que já constava do Estatuto da Criança e Adolescente. Na lei 12.850 o
prazo para esta infiltração virtual é de até 6 meses, sem prejuízo de eventuais
renovações, não podendo exceder o prazo máximo de 720 dias.
Já no ECA, a infiltração virtual será autorizada pelo prazo de até 90 dias, sem prejuízo de
eventuais renovações, não podendo exceder o prazo máximo de 720 dias.
Cabe ressaltar que ambas as leis trazem uma hipótese de excludente de ilicitude para o
policial infiltrado virtualmente, no sentido de que não comete crime o policial que oculta a
sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria e materialidade dos
crimes previstos na lei.

INVESTIGAÇÃO DE HOMICÍDIO PRATICADO POR SERVIDOR DE


SEGURANÇA PÚBLICA
Segundo dispõe o art. 14-A do CPP, trazido pelo Pacote Anticrime, na investigação de fato
relacionado ao uso de força letal praticado no exercício profissional, de forma consumada
ou tentada, incluindo as situações de excludentes de ilicitude, por servidores dos órgãos
listados no art. 144 da CF, o investigado deverá ser citado da instauração de procedimento
investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48h a contar da citação.
Esgotado este prazo, a autoridade responsável pelas investigações deverá intimar a
instituição a que estava vinculado o investigado à época dos fatos, para que esta, no prazo
de 48h, indique defensor para representar o investigado.
Essa regra também vale para militares das forças armadas, quando os fatos investigados
digam respeito a missões de garantia da Lei de da Ordem. Nesses casos, porém, trata-se
de crime militar, devendo ser investigado pelas próprias forças armadas.

LIBERAÇÃO DE COISAS APREENDIDAS PELA AUTORIDADE


POLICIAL
Segundo o CPP:
Art. 118. Antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não
poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo.
Art. 120. A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial ou
juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do
reclamante.
§ 1o Se duvidoso esse direito, o pedido de restituição autuar-se-á em apartado, assinando-
se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a prova. Em tal caso, só o juiz criminal
poderá decidir o incidente.
§ 2o O incidente autuar-se-á também em apartado e só a autoridade judicial o resolverá, se
as coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, que será intimado para
alegar e provar o seu direito, em prazo igual e sucessivo ao do reclamante, tendo um e
outro dois dias para arrazoar.
Nesse sentido objetos apreendidos que não sejam produto ou proveito do crime ou que
não sejam instrumentos que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito, podem ser restituídos pela própria autoridade policial,
desde que não haja dúvida com relação ao direito do reclamante ou o bem não tenha sido
apreendido em poder de terceiro de boa-fé. Nesses casos caberá ao juiz decidir pela
restituição ou não do bem, através de instauração de um incidente
BUSCA EXPLORATÓRIA
Segundo o CPP a busca e apreensão domiciliar deve ser realizada durante o dia, mediante
autorização judicial. Para sua realização os policiais devem mostrar o mandando de busca
ao morador, ordenando que este permita a entrada dos policiais na residência.
Ocorre que nem sempre é de interesse da investigação apreender objetos em
determinado local, e fazer saber que determinada pessoa está sobre investigação. Neste
sentido a polícia tem se utilizado da chamada busca exploratória, que consiste na entrada
domiciliar sem a apreensão de nenhum objeto que lá se encontra, havendo apenas a
documentação, por meio de fotos e vídeos, de objetos de interesse da investigação. Assim,
se relativizaria a necessidade da ciência do morador com relação à busca realizada.
Nesse sentido os tribunais superiores permitiram a busca exploratória realizada em
escritório de advocacia, que apesar de contar com proteção constitucional como se
domicílio fosse, em absoluto sigilo, tendo em vista que havia investigação em curso contra
um dos advogados do escritório. Foi consignado que o escritório de advocacia não poderia
servir como reduto inexpugnável da criminalidade.
Segundo o Estatuto da OAB
Art. 7º São direitos do advogado:
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus
instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e
telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia; (Redação dada pela Lei nº
11.767, de 2008)
(...)
§ 6o Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de
advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade
de que trata o inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada, expedindo mandado
de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de
representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos,
das mídias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos
demais instrumentos de trabalho que contenham informações sobre clientes. (Incluído
pela Lei nº 11.767, de 2008)
Também foi permitido que a autoridade policial ingressasse no escritório em período
noturno para realizar a instalação de equipamentos de captação ambiental, já que tal
diligência seria impossível durante o dia.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL (norma suspensa)


O Pacote Anticrime mudou totalmente a forma de promoção do arquivamento do
Inquérito Policial, não havendo mais controle judicial sobre o arquivamento. O judiciário
não faz mais controle do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.
Hoje, ordenado o arquivamento pelo MP, este deve apenas comunicar a vítima, o
investigado e a autoridade policial.
O controle será feito será feito pelo próprio MP, já que os autos devem ser enviados a
instância de revisão ministerial para fins de homologação do arquivamento.
Também será feito pela vítima, ou seu representante legal, já que, se não concordar com o
arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da
comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial,
conforme dispuser a respectiva lei orgânica.
Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e
Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela
chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.

Atribuições da Polícia Federal!


Em primeiro lugar temos que ter em mente que quando falamos de Polícia ou de MP não
se fala em competência. Só o poder judiciário possui competência. Polícia e MP possui
atribuição!
.
Segundo o art. 144, parágrafo 1°, inciso I da CF, cabe a PF apurar infrações penais contra a
ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas.
.
Esse inciso primeiro vai ao encontro do inciso IV do Art. 109, que diz caber aos juízes
federais processar e julgar os crimes políticos e as infrações penais praticadas em
detrimento da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e Justiça Eleitoral.
.
Assim, cabe a polícia federal a investigação de crimes políticos. Segundo a doutrina
majoritária estes crimes seriam os previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83).
.
Note que a a constituição fala em empresas públicas, porém silenciou com relação a
sociedade de economia mista. Desta forma, crimes cometidos, contra sociedades de
economia mista federal, como Banco do Brasil e Petrobrás serão de competência da
justiça estadual, com atribuição de investigação da Polícia Civil.
.
A Justiça Federal, via de regra, não julga contravenções. Assim também não cabe a polícia
federal a investigação de contravenções.
.
A Justiça Eleitoral também é uma justiça da União. Assim, crimes eleitorais devem ser
investigados pela Polícia Federal. Porém quando no local da infração não existir órgão da
PF, a Polícia Civil terá atuação supletiva. (Resolução 23.396 TSE)
.
Crimes de competência da Justiça Militar da União serão investigados pelas próprias forças
armadas.

Além das infrações penais descritas no post anterior, segundo o Art. 144, parágrafo 1°,
inciso I da CF, cabe a PF a apuração de outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei. Essa
lei é a Lei 10.446.
.
Segundo a lei, pode a PF apurar os crimes de:
I - seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro, se o agente foi impelido por
motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;
.
II - formação de cartel
.
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se
comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais
.
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em
operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha
ou bando em mais de um Estado da Federação.
.
V - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição do
produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado
.
VI - furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou
caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de
um Estado da Federação.
.
VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede mundial de computadores que
difundam conteúdo misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão
às mulheres.
.
Alem desses crimes, a PF poderá investigar qualquer outro que tenha repercussão
interestadual ou internacional e que exigia repressão uniforme com autorização ou
determinação do Ministro da Justiça
.
Em muitos desses casos a competência para processar e julgar o crime será da justiça
estadual. Demostrando que a atribuição da PF é mais ampla que a competência da Justiça
Federal
Ainda segundo o Art. 144 da CF cabe a Polícia Federal prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência
.
A previsão sobre o descaminho e contrabando seria desnecessária porque se tratam de
crimes federais por afetarem interesse da União, porém note que a norma diz que a Polícia
Federal atua na prevenção e repressão do tráfico de drogas, do contrabando e
descaminho. Isso quer dizer que a PF, nesses casos, não atua apenas na apuração destes
crimes mas também na prevenção. Isso demonstra que a Polícia Federal é uma polícia de
ciclo completo
.
Também segundo o Art. 144, cabe a PF exercer as funções de polícia marítima,
aeroportuária e de fronteiras. O ciclo completo também está presente nestas funções, de
forma que a PF reprime e investiga crimes que ocorrem nestas áreas.
.
Além disso, na região de fronteiras e nos aeroportos a PF faz o trabalho de polícia
migratória, analisando a licitude da entrada e saída de indivíduos do país.
Por fim, o Art. 144, parágrafo 1°, inciso IV, nos diz que cabe a PF exercer com exclusividade
as funções de polícia judiciária da União.
.
Note que a norma diz "com exclusividade". Assim, apesar da PF eventualmente poder
investigar crimes estaduais, a Polícia Civil não deve investigar crimes federais. Porém,
segundo os tribunais superiores eventual falta de atribuição da autoridade policial não
tem o condão de macular o processo.
.
Exercendo a função de polícia judiciária da União a PF deve investigar todos os crimes de
competência dos juízes federais, previstos no art. 109 da CF.
.
Além dos crimes políticos e contra bens, serviços e interesses da União, também crimes
transnacionais, previstos em tratados. Como tráfico de drogas e de armas transnacional.
.
Crimes contra a organização do trabalho, e nos casos previstos em lei, crimes contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.
.
Crimes que envolvam violação de direitos humanos, quando houver deslocamento de
competência para justiça federal
.
Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, ressalvada a competência da justiça
militar
.
Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, e crimes envolvendo a
disputa sobre direitos indígenas.

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