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História da Magia ‘através dos séculos’: uma análise do Ensino de História na

narrativa ficcional de Harry Potter.

Jenifer Cabral Silva1

A série infanto-juvenil Harry Potter criada pela autora britânica J.K. Rowling
povoa a imaginação de crianças, jovens e adultos há quase duas décadas. A série,
composta por 7 livros (Harry Potter e a Pedra Filosofal; Harry Potter e a Câmara
secreta; Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban; Harry Potter e o Cálice de Fogo; Harry
Potter e a Ordem da fênix; Harry Potter e o Enigma do Príncipe e Harry Potter e as
Relíquias da Morte.), narra as aventuras de um menino órfão chamado Harry Potter, que
ao completar onze anos de idade descobre que ao contrário do que pensava, não é um
menino comum e sim, um bruxo, que a partir daquele momento estaria apto a entrar para
a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, um dos lugares onde, pessoas como ele
ingressam para aprender sobre o mundo mágico do qual fazem parte e, aprender sobre a
magia e o uso dela.

Os livros com mais de 400 milhões de exemplares vendidos, traduzido para 69


idiomas, se tornou um dos maiores fenômenos da história literária mundial e esse sucesso
chamou atenção da indústria cinematográfica e a narrativa fantástica do menino bruxo foi
parar nas telonas e rendeu oito filmes de grande bilheteria. Além de gerar também uma
fortuna em produtos derivados a série, de bonecos, roupas e até doces inspirados nas
guloseimas existentes no mundo bruxo.

A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts é o grande cenário que permeia a


narrativa ao longo dos sete livros e a mesma, apresenta as mesmas configurações
organizacionais das escolas do mundo não ficcional, como por exemplo, um currículo
pré-definido contendo o que os alunos deverão aprender de acordo com cada ano dos

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Graduanda do Curso de História/UFRRJ/IM, bolsista de Iniciação Científica CNPQ.

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quais ele passa no internato de Hogwarts, assim como nosso sistema de séries e anos
(SILVA e PARAISO, 2012, p.109):

Nesse sentido, ao longo dos sete anos que dura o curso de magia em Hogwarts,
os/as jovens cursam várias disciplinas que variam de acordo com o ano de
escolarização. Assim, nos dois primeiros anos, os/as alunos/as estudam sete
disciplinas: Herbologia (estudo das plantas mágicas), História da Magia,
Transfiguração (ou Transformação), Feitiços, Poções, Defesa Contra as Artes
das Trevas e Astronomia. Além disso, eles/as aprendem no primeiro ano a
pilotar vassouras, na disciplina de voo. 6 A partir do terceiro ano, os/as
alunos/as devem escolher no mínimo mais duas disciplinas optativas entre as
seguintes: Trato das Criaturas Mágicas, Adivinhação, Estudos dos Trouxas,
Aritmancia e Runas Antigas. No quinto ano, os/as alunos/as realizam um teste
para obtenção dos Níveis Ordinários em Magia (NOM’s). Esse teste define as
matérias que deverão ser cursadas nos dois anos seguintes, de acordo com as
profissões as quais os/as alunos/as pretendem se dedicar após deixarem a escola
e em função da nota obtida no exame.

Dentro deste currículo banhado em concepções tradicionalistas da educação,


existe como disciplina compulsória a História da Magia, que é ministrada pelo professor
Cuthbert Binns, único professor fantasma da instituição, responsável por ensinar os
alunos sobre os momentos históricos do mundo bruxo.

Para tal fim, Binns lança a mão primeiramente do uso de um livro didático
chamado “A História da Magia”, da historiadora do Mundo bruxo Batilda Bagshot, de
aulas expositivas e de exercícios feitos em aula ou como atividade para casa e claro, de
exames periódicos propostos pela instituição (ROWLING. J.K., 2000, p.226):

O último exame foi de História da Magia. Uma hora respondendo a perguntas


sobre velhos bruxos gagás que inventaram caldeirões automexíveis e estariam
livres, livres por uma semana maravilhosa até saberem os resultados dos
exames. Quando o fantasma do Professor Binns mandou-os descansar as penas
e enrolar os pergaminhos, Harry não pôde deixar de dar vivas com os colegas.
— Foi muito mais fácil do que pensei — comentou Hermione, quando eles se
reuniram aos numerosos alunos que saíam para os jardins ensolarados. — Eu

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nem precisava ter aprendido o Código de Conduta do lobisomem de 1637 nem
a revolta de Elfric, o Ambicioso.

A narrativa histórica construída por Binns dentro de sua disciplina na grade


curricular de Hogwarts segue uma linha cronológica e ,é baseada nos grandes
acontecimentos do mundo bruxo (ROWLING. J.K., 2000, p.7):

Era quase meia-noite e Harry estava deitado de bruços na cama, as cobertas


puxadas por cima da cabeça como uma barraca, uma lanterna em uma das mãos
e um grande livro encadernado em couro (História da Magia de Batilda
Bagshot), aberto e apoiado no travesseiro. Harry correu a ponta da caneta de
pena de águia pela página, franzindo a testa, à procura de alguma coisa que o
ajudasse a escrever sua redação, "A queima de bruxas no século XIV foi
totalmente despropositada — discuta".

Tendo em vista a existência da prática do Ensino de História na série Harry Potter,


ainda que de uma história ficcional , mas que, através de sistemas e métodos tão similares
as escolas não ficcionais do mundo contemporâneo, nos leva então a questionamentos
tais como:

1. Para que se ensina História na série Harry Potter?


2. Como se ensina História na série?
3. Como a forma de ensinar História na série poderia ser útil as discussões acerca
das formas de ensinar história nas escolas do nosso mundo contemporâneo?

Pensando nas respostas destas perguntas, nasceu a pesquisa “História, memória e


ensino de história na série Harry Potter”, idealizada pela professora Doutora Patrícia
Bastos Azevedo e um de seus desdobramentos, nos levou a pensar no trabalho do
personagem Professor Binns e deu origem a este trabalho.

Para responder estas perguntas, utilizamos o paradigma indiciário como apoio


metodológico para que pudéssemos compreender e analisar a fundo o enredo de Harry
Potter e mais especificamente o funcionamento do Ensino de História da Magia e os seus

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reflexos na narrativa de Harry Potter, influenciando a vida de personagens de maneiras
inúmeras.

O Paradigma funciona a partir de uma análise minuciosa de daquilo que


conhecemos como indícios, que são na verdade, as pistas que não estão em evidência nas
situações nas quais estamos interessados em analisar, mas que, fazem toda a diferença na
completude de uma análise, podendo trazer a nosso conhecimento fatos cruciais para uma
análise mais próxima do que chamaríamos de completa.

Para conseguir categorizar e analisar os indícios, foi preciso primeiramente uma


leitura atenta de nosso objeto de estudo, os sete livros da saga Harry Potter: Harry Potter
e a Pedra Filosofal, Harry Potter e a Câmara Secreta, Harry Potter e o prisioneiro de
Azkaban, Harry Potter e o Cálice de Fogo, Harry Potter e a Ordem da Fênix, Harry
Potter e o Enigma do Príncipe e por fim, Harry Potter e as Relíquias da morte.

A leitura foi feita de forma observadora, esmiuçada, similar a postura de um


médico que procura por sinais que possam ajuda-lo em seus diagnósticos. Isso ocorre
porque, durante a leitura, a cada nova página, cada novo indício, há um elemento a mais
que ajuda na formação do diagnóstico final para este médico e em nosso caso, nas
conclusões acerca desta pesquisa.

A leitura longa, dedicada a aproximadamente 300 páginas ao total de todos os sete


livros da saga, nos levou de encontro a diversos indícios extremamente importantes para
a construção de nossas análises, inclusive, fazendo com que percebêssemos novos fato,
encontrássemos novos sentidos e percebêssemos os momentos de Ensino aprendizagem
de História em Harry Potter sob novas perspectivas.

Esta análise parte de uma pesquisa ainda em andamento e que terá como fruto
também uma monografia, ainda não pode tecer análises conclusivas, visto que, está em
sua reta final de investigação.

Mas, ainda sim, já podemos perceber algumas coisas: Primeiramente, como a


História tem de fato um papel crucial na saga Harry Potter e que, ainda que possua uma
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narrativa fictícia se aproxima demasiadamente dos sistemas e modos operacionais que
nos esbarramos no cotidiano das escolas contemporâneas de nosso mundo não ficcional.

Além disso, percebemos também a função que a História cumpre ao se tornar um


conhecimento indispensável para a compreensão de fatos pelos quais os personagens irão
passar ao longo da saga.

Ao fim destas análises, teceremos nossas conclusões definitivas e então


poderemos assim, entender as relações entre Ensino de História e Harry Potter,
perpassando pela metodologia de Binns e, contribuir para posteriores trabalhos acerca
deste mundo mágico e ficcional criado por J.K.Rowling.

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Bibliografia

GINZBURG, C. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In. GINZBURG, C. Mitos,


emblemas e sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

ROWLING. J. K. Harry Potter e a pedra filosofal. Rio de Janeiro: Rocco, 2000

_______. Harry Potter e a câmara secreta. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

_______. Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

_______. Harry Potter e o cálice de fogo. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

_______. Harry Potter e a Ordem da Fênix. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

_______. Harry Potter e o enigma do príncipe. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

_______. Harry Potter e as relíquias da morte. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

SILVA, M. C. da. PARAISO, M. A. O Currículo de Harry Potter: representações de


escola e currículo na literatura infanto-juvenil. In. Educação: Teoria e Prática – Vol.
22, n. 39, Período jan/abr, 2012.

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