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ARQUITETURA MODELANDO A PAISAGEM

Quantos arquitetos podem ser reconhecidos por seu estilo? Como seu colega de geração
Álvaro Siza e o mais jovem Tadao Ando, entre outros, Paulo Mendes da Rocha é um
dos grandes arquitetos que desenvolvem uma linguagem personalizada,
independentemente de tipologia ou escala de intervenção arquitetônica. Sua obra é de
imediato reconhecimento, capaz de arquiteturas com impressionante inserção na
paisagem, de maneira criativa e provocadora.

Preservou, à sua maneira, suas afinidades com a arquitetura brasileira dos anos 1950/60.
Daí sua polêmica posição no atual quadro arquitetônico : avesso ao oportunismo das
grandes revisões de pensamento geradas pela polêmica do pós-moderno, criticado pelos
racionalistas ortodoxos e funcionalistas pragmáticos, e desalinhado com as correntes
mais nítidas da arquitetura internacional.

A visão arquitetônica de Paulo Mendes da Rocha está impregnada de uma necessidade


de modernidade condizente de um ideal de Brasil. Mas modernidade sem a perda de
uma identidade universal, ou o que a modernidade tem em comum com todas as
culturas ocidentais.

O domínio tecnológico como processo emancipador, a elaboração de estéticas que


contenham níveis de racionalidade, dando expressão de beleza às necessidades, o olhar
e o pensar o cotidiano e a vida em suas dimensões essenciais são utopias que permeiam
o trabalho do arquiteto brasileiro.

Esse essencialismo é uma das chaves de entendimento da obra de Paulo Mendes da


Rocha: uma intuição que busca apreender não só as características estruturais comuns
da coisas, mas a unidade superior que relaciona a arquitetura, a arte, a política, a vida. É
um antinominalismo explícito.

(Hugo Sagawa)
Texto de Hugo Sagawa, revista Projeto - Março 1995

O Mube está num bairro de São Paulo cuja normativa urbanística deriva de alguns
princípios das cidades-jardins : são terrenos para construção de residências isoladas no
lote, com previsão de generosa arborização.

A avenida Europa (uma das ruas que definem o lote triangular do museu) tem um
significado peculiar : ela atravessa a cidade do seu centro até o rio Pinheiros, um dos
vales importantes na geomorfologia de São Paulo. Uma grande viga protendida de 60
metros de vão livre situa-se exatamente perpendicular a essa via, assinalando a presença
do museu e fazendo-se referência na paisagem.

Referência necessária porquanto a solução dissolve por completo não só a noção de


edifício como também a de lote.

O Museu Brasileiro da Escultura não emerge no sítio como uma caixa fechada. A viga
não é o edifício; as fachadas desdobram-se em múltiplos planos - não há elevação
principal, lateral, frontal. O território é definido por uma elaboração de superfícies em
sucessão ou interrompidas, um continuum estabelecendo a concordância entre as duas
ruas adjacentes como um passeio, ou um singelo parque-jardim público.

O museu é tanto uma esplanada externa formado por uma praça alta e outra baixa, como
também dependências semi-enterradas, com grande salões que obedecem a um princípio
de continuidade exterior-interior mediante rampas, escadas e luz natural zenital e lateral.
Uma gentileza urbana e penetrável, enfim.

O museu é em si uma paisagem modelada, estabelecendo referências urbanas, visuais e


de escala em contraste com seu entorno, e que não se atém a noção convencional de um
volume elevado sobre um terreno.

O Museu é peculiar em seu funcionamento : o terreno, de pequenas dimensões


(cerca de 6900 metros quadrados) para uma instituição dessa natureza, não permite
abrigar tantas obras escultóricas, qualquer que seja seu porte e independentemente de
quanto se construa. Uma de suas finalidades é gerenciar o conhecimento sobre a criação
escultórica,registrar, orientar e promover eventos relacionados a atividade artística em
geral.

Com exceção das dependências técnicas (para as quais há a previsão de um anexo,


projetado mas ainda não construído) toda a parte expositiva do museu foi concebida
com espaços amplos, livres, destinados aimprovisação e criatividade museológica.

As visuais e os espaços são sequenciais e neutros, mas não desprovidos de intenções -


num difícil equilíbrio entre atribuir um caráter marcante à arquitetura sem renunciar à
adequada apresentação da obra de arte, qualquer que seja seu suporte ou materialidade :
pintura, escultura, instalação, papel, aço....

Veja as plantas do MuBE.





 

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