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MRMORIAM
1939-1992 .
Celso Lafer
TUlcioTUlis do Brasil durante e após a Se por Angela de Castro Gomes, publicado
gunda Guerra Mundial (Rio de Janeiro, em 1991 pela Fundação Getulio Vargas
Ed. da Fundação Getulio Vargas, 1991). CPDOC.
Gerson, que teve no meritório CPDOC Neste estudo Gerson mostrou, com mui
da Fundação Getulio Vargas a base de seu ta sutileza, as mudanças ocorridas no plano
trabalho de investigador, dedicou-se, na internacional, na década de 50, que corroe
sua obra, a uma indagação crítica sobre as ram a rigidez da bipolaridade EUA-URSS,
reais possibilidades e as efetivas limitações típica do imediato pós-guerra. Entre elas a
da capacidade de atuação do Brasil no crise do Suez, a insurreição húngara e a
mundo, tendo como horizonte as relações Conferência de Bandung, matco simbólico
com os Estados Unidos. do process o de descolonização e do início
Duas foram as suas conclusões básicas. do não-aIinharnento. Daí as possibilidades
A primeira foi a de, levando em conta os de um novo relacionamento com OS EUA,
antecedentes da década de 30, mostrar e que o governo Dutra não podia e sobrelUdo
documentar como, durante a Segunda não queria intentar, e o segundo governo de
Guerra, o alinhamento brasileiro aos Esta Getúlio, como mostrou Mônica Hirst, bus
dos Unidos foi ditado pelas condições do cou empreender sem muito sucesso por
sistema inten13cional, realçando, no entan força da rigidez do sistema internacional
to, que o processo foi conduzido pelo pre (cf. MÔ1Úca Hirst, O pragmatismo únpos
sidente Getúlio Vargas com compreensão sível-a polúica exterTUl do segundo gover
dos nichos de oportunidades. Daí a capa fUJ Vargas (1951-1954), (Rio de Janeiro,
cidade que teve a política externa brasileira FGV/CPDOC, \ 990).
de gerar ganhos econômicos, políticos e É neste contexto, de um sistema inter
militares para o país. Este é o significado nacional bipolar com algumas fISSUras, e
da aUlOfUJmia TUl dependência. de um sistema regional interamericano
A segunda foi a de dar evidências que, ainda muito rígido, que vai mover-se a
no pós-guerra, no tempo da presidência política externa de JK. Esta é, como mos
Dutra, o alinhamento foi igualmente im trou Gerson, uma combinação do "novo"
posto pelas circunstâncias da rígida bipo e do "velho". Reproduz, no plano externo,
laridade da vida internacional, mas, ao como disse a ele numa boa conversa, a
contrário do que ocorreu durante a guerra, fónnula deJKno plano interno que estudei
deixou de ser utilizado como instrumento nos meus trabalhos sobre o Progralria de
de ação diplomática brasileira. Daí a sua Metas. Há, em síntese, avanços e recuos
avaliação, para valer-me do título de um nos esforços da política externa do Brasil
trabalho seu publicado em 1990 pelo de JK de ampliar o controle do país sobre
CPDOC, de que a politica externa do go o seu próprio destino. Foi isto que Gerson
verno Dutra caracterizou-se por um ali examinou e documentou, tendo como ob
nhamento sem rec ompensa. jeto de anãlise o desenvolvimentismo, a
Na obra de Gerson, a dicotOInia Getú Operação Pan-Americana, a descoloniza-
,
lio/Dutra, nos moldes em que ele a fornlU ção da Africa e o reatamento das relações
lou conccitualmente, ou seja, autonomia econômicas com a URSS.
na dependência/alinhamento sem recom Creio, em outras palavras, que o ensaio
pellsa, estava sendo ampliada por novas de Gerson sobre a politica externa de JK
,
investigações. E o que se pode vernum dos estava assinalando uma nova etapa de sua
seus últimos trabalhos: o modelar "Avan trajetória, na qual ampliaria, com base nos
ços e recuos: a politica exterior de JK" que documentos, o alcance e a abrangência dos
integra O Brasil deJK, volume organizado conceitos analiticos de avaliação da politi-
GERSON MOURA -IN MFMORlAM 133