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Gestão precisa priorizar "quem faz"

No lean, o que agrega mesmo valor aos clientes são as pessoas. No caso, aquelas que
“fazem o trabalho”, que estão, digamos, na “linha de frente”. Aquelas que produzem e
entregam aquilo que os consumidores querem e pagam para ter

As pessoas que realizam os trabalhos que agregam valor se tornam o centro de tudo (Foto: pixelfit via Getty Images)

Por atuarem em contexto complexos, as empresas não avançam porque algumas coisas que
deveriam ser óbvias por vezes não são.

Uma delas é como a companhia “vê” a criação do valor que ela entrega aos seus clientes,
em produtos ou serviços. Algumas priorizam a tecnologia, enquanto outras acham que seu
diferencial está nos equipamentos, e assim por diante.

No lean, o que agrega mesmo valor aos clientes são as pessoas. No caso, aquelas que
“fazem o trabalho”, que estão, digamos, na “linha de frente”. Aquelas que produzem e
entregam aquilo que os consumidores querem e pagam para ter.

São elas, as “pessoas que fazem”, que podem ou não agregar mais ou menos valor para os
clientes e, consequentemente, para a empresa.

Numa companhia que segue o sistema lean, isso fica claro, e toda a gestão vai para esse
sentido, muitas vezes de forma até natural. E uma série de fenômenos passam a ocorrer a
partir dessa visão.

As pessoas que realizam os trabalhos que agregam valor se tornam o centro de tudo. Elas
começam a ser mais fortemente apoiadas para que suas atividades ocorram da melhor
forma possível, gerando qualidade, entregas e prazos que os clientes querem e valorizam.

O papel da liderança também se reconfigura. Os líderes começam a atuar como “mentores”


que precisam entender de forma mais aprofundada como os processos agregadores de valor
ocorrem. E assim, apoiam as pessoas que trabalham neles para que atuem de maneira
também cada vez melhor.

Cria-se, por exemplo, a chamada “cadeia de ajuda”, um conceito e prática lean que, falando
em termos práticos, visa ajudar, como o próprio nome diz, as pessoas “que fazem” a
resolverem problemas e a fazerem melhor.

Fábricas e escritórios são naturalmente redesenhados. Layouts, posicionamentos de


máquinas e estações de trabalhos são reconfigurados para evitar desperdícios e para que as
pessoas se apoiem umas nas outras.
Enfim, tudo o que pode ser programado para ocorrer na empresa passa a ter, como base
principal, a ideia e a prática de melhorar o trabalho de “quem faz”.

A forma como o trabalho é realizado é totalmente revista, eliminando-se desperdícios,


dividindo de maneira balanceada o trabalho entre as pessoas das equipes, resolvendo, com
toda prioridade, as questões de ergonomia e segurança, estabelecendo dispositivos à prova
de erro, conectando os processos de forma que ocorram num ritmo estável e alinhado com a
demanda, sem sobressaltos ou esperas etc.

Ou seja, tornando o trabalho mais seguro e simples para quem executa. É isso que traz alta
qualidade e produtividade, resultando em clientes satisfeitos e ganhos para a empresa.

Trata-se de algo que deveria ocorrer naturalmente em todas as companhias, não é mesmo?

Porém sabemos que, por motivos diversos, muito da energia, do tempo, do trabalho…
enfim, dos investimentos feitos em muitas organizações não são direcionados para quem
realmente, no dia a dia, cria “o valor” que interessa ao cliente.

É uma reflexão importante a se fazer. Quem atua no mundo corporativo sabe que, nesse
universo, o que deveria ser óbvio, por vezes, acaba passando despercebido.

*Flávio Picchi é presidente do Lean Institute Brasil e Prof. Dr. da Unicamp

Fonte:
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Publicado em 13/08/2020

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