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EXCELENTÍSSIMO (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA __ VARA

DA FAMÍLIA DA COMARCA DE FORTALEZA /CE

“Aplicar a Lei é fácil, difícil é fazer Justiça”

nome, brasileira, casada, cozinheira, inscrita no CPF sob o nº XXX,


portadora da Cédula de Identidade nº XXX SSP/CE, residente e domiciliada a Rua
Felipe Camarão, n.º 1108, Cristo Redentor, Fortaleza, Ceará, CEP: 60337-620, e-mail:
vem à presença de Vossa Excelência, por intermédio de sua advogada in fine, com
fundamento no art. 1.768 do CC, combinado o art. 747 e seguintes do novo CPC, propor
a presente

AÇÃO DE INTERDIÇÃO C/C PEDIDO DE CURATELA PROVISORIA COM


TUTELA DE URGENCIA INAUDITA ALTERA PARTE

em face de seu irmão, NOME INTERDITANDO, brasileiro, solteiro,


incapaz, portador do RG XXX SSPDS/CE, residente e domiciliado no mesmo
endereço da Requerente, pelos motivos de fato e de direito que passo a expor:
BENEFÍCIOS DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA (CPC, ART. 98, CAPUT)

 Inicialmente, requer os benefícios da gratuidade da justiça na sua


integralidade, face sua Insuficiência de recursos, não tendo a mínima condição de arcar
com o pagamento das custas, despesas processuais e os honorários advocatícios,
conforme reza o art. 5º, LXXIV da Constituição Federal e arts. 98 e 99, do Código de
Processo Civil, (declaração de hipossuficiência em anexo).

DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO DO FEITO - PARTE AUTORA INCAPAZ


PORTADORA DE DOENÇA GRAVE.

O Interditado tem 22 (vinte e dois) anos e possui diagnóstico de


ESQUIZOFRENIA HEBEFRENICA, fazendo jus a prioridade de tramitação do
presente feito, conforme aduz o art. 1.048, do Código de Processo Civil.

DA INEXISTÊNCIA DE E-MAIL

A parte Requerente informa que o Interditando não possui endereço


eletrônico, destarte, não há infringência ao inciso II, na forma do § 3º do art. 319 do
Código de Processo Civil.

DA DISPENSA DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO/MEDIAÇÃO

A Requerente dispensa, com fulcro no art. 319, inciso VII, do CPC, a


realização da audiência de conciliação ou de mediação.

DOS FATOS

A Requerente é irmã do Interditando, conforme se ver na Cédula de


Identidade anexada, este recebe um benefício junto ao INSS sendo que em tal órgão a
representante legal era sua genitora LIDUINA MARIA GOMES DE SOUZA, que
veio a óbito no dia 28/08/2021, conforme certidão de óbito em anexo, após o óbito de
sua genitora, foi comunicado pelo órgão que se fez necessário a constituição de novo
curador, sob pena de cancelamento do benefício do interditando.

O referido incapaz tem como familiar a Requerente sua irmã, ora


Requerente e seu genitor para assumir tal encargo, e o pai não demonstrou interesse na
tutela do interditando, sendo, portanto, a Requerente a única interessada na sua tutela. O
Interditado por sua vez é pessoa portadora de Esquizofrenia Hebefrênica CID-10
F20.1, vivendo totalmente dependente dos familiares, que o auxiliam em tudo o que é
relacionado à vida prática.

São os pais e a irmão que levam o interditado para as consultas medicas, são
responsáveis pela sua alimentação, administração de medicação e fazem a sua higiene,
tais fatos demonstra que o interditado requer cuidados especiais, que somente um
parente próximo é capaz de fazê-lo com amor e zelo e como já vinha fazendo e sua mãe
e a Requerente de fato há alguns anos, com a morte da genitora de ambos, a Requerente
é agora a única responsável pelo mesmo.

O Interditando possuindo Esquizofrenia Hebefrênica CID-10 F20.1, o que o


impede de exteriorizar sua vontade, o que configura a sua incapacidade para exercer atos
civis, sendo que neste sentido dispõe o parecer médico Fábio Henrique Queiroz Pereira,
CRM:15.145 conforme em anexo. Ademais o Interditando precisa de auxílio para
administrar os valores oriundo do seu benefício assistencial, concedido pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), conforme extrato em anexo.

Com efeito, a Requerente compareceu à agência bancária onde é feito o


recebimento do benefício, portando os documentos pessoais do interditando, para fazer
aprova de vida do mesmo, vez que ele está impossibilitado de se locomover e de se
expressar, no entanto, pôde realizar o procedimento, sendo informado de que precisa do
título de curadora do interditando para que esta comece a receber o seu benefício, caso não
seja feito, o benefício poderá ser cancelado.

Assim, posto os fatos acima narrados, a Requerente ajuíza o presente pedido de


interdição com pedido de curatela provisória em antecipação de tutela, pretensão ao qual faz
jus, conforme os argumentos de Direito a seguir expostos.
Por todo exposto se faz urgentemente que seja providenciado a sua
representação, a fim de nomear como curadora provisória para o Interditado, a pessoa
de NATHALY GOMES SOUZA, que é Sua irmã sendo a pessoa que revelou a mais
indicada para assumir tal múnus.

DO DIREITO

Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Assim, liga-se à


pessoa a ideia de personalidade, que é consagrado nos direitos constitucionais de vida,
liberdade e igualdade.

É cediço que a personalidade tem a sua medida na capacidade de fato ou de


exercício, que, no magistério de DINIZ:

"é a aptidão de exercer por si os atos da vida civil, dependendo,


portanto, do discernimento, que é critério, prudência, juízo, tino,
inteligência, e, sob o prisma jurídico, da aptidão que tem a pessoa
de distinguir o lícito do ilícito, o conveniente do prejudicial".

Todavia essa capacidade pode sofrer restrições legais quanto ao seu


exercício, visando a proteger os que são portadores de uma deficiência jurídica
apreciável, sendo que a legislação gradua a forma de proteção, a qual assume a feição
de representação para os absolutamente incapazes e a de assistência para os
relativamente incapazes.

A incapacidade cessa quando a pessoa atinge a maioridade, tornando-se,


por conseguinte, plenamente capaz para os atos da vida civil. Entretanto, pode ocorrer
que a pessoa, apesar da maioridade, não possua condições para a prática dos atos da
vida civil, ou seja, para reger a sua pessoa e administrar os seus bens. Persiste, assim, a
sua incapacidade real e efetiva, a qual tem de ser declarada por meio do procedimento
de interdição.
A nossa legislação discorre de forma clara a respeito da Capacidade de uma
pessoa. Para tanto, o artigo 1º do Código Civil de 2002 determina que:

“Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”.


Apenas são considerados inaptos para o exercício da vida civil, ou
seja, absolutamente incapazes de exercê-la, dentre outros, “os que,
por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos” (inciso II do artigo 3º,
CC).

E são essas pessoas que o instituto da Curatela visa proteger. Vejamos os


ditames do artigo 1767 do Código Civil Brasileiro, in verbis:

Estão sujeitos a Curatela:

I – Aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não


tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil;

No caso em analise, não subsistem dúvidas acerca da legitimidade da Requerente


para intentar a presente interdição com pedido de curatela, nem para ocupar a função de
curadora, fato este que é ratificado pelo art. 747, II, do Novo Código de Processo Civil
Brasileiro (estava: art. 1.177, II, do Código de Processo Civil Brasileiro), in verbis:

Art. 1768. A interdição deve ser promovida:

II - Pelo cônjuge, ou por qualquer parente;

Art. 747. A interdição pode ser promovida:

II – Pelos parentes ou tutores;

Como demonstrado no relato fático, a Requerente é irmã do Interditado e é a


pessoa que provê a sua subsistência e todos os cuidados com sua saúde física e mental.
Desta forma, visando cuidar dos interesses do Interditado, recorre ao Estado-Juiz para
que esse, constando a veracidade dos fatos declinados, decrete a interdição pleiteada.
DA CURATELA PROVISÓRIA EM TUTELA DE URGÊNCIA

A prova inequívoca do déficit intelectual advindo da esquizofrenia do


interditando, deflui dos documentos anexos e dos fatos já aduzidos, os quais
demonstram a incapacidade do interditando para reger a sua pessoa.

Desse modo, consubstanciada está a verossimilhança da alegação, a


plausibilidade do direito invocado (fumus boni juris), ante a proteção exigida pelo
ordenamento jurídico pátrio aos interesses do incapaz.

Ademais, conforme exposto anteriormente, o interditando vive sob a


vigilância da Requerente e lhe foi concedido pelo INSS o benefício de auxílio a
pessoa, razão pela qual seria necessário fazer aprova de vida, e o Interditado deveria
ter comparecido à agencia bancária indicada com seus documentos pessoais para
provar que estava vivo, o que logicamente não pode realizar.

Posto que a Requerente compareceu à agencia bancária, mas não pode


realizar o procedimento para o interditando, sendo-lhe exigida a posição de curadora
do mesmo, até a presente data ele encontra-se ameaçado de ter “cortado” o benefício
pois não pode comparecer para fazer a prova de vida, nem dispõe de curador para
proteger seus interesses e assim permanecerá até a Requerente conseguir a sua
curatela.

Ademais, como o interditando não detém o elementar discernimento para a


prática dos atos da vida civil, torna-se temerária e incerta a adequada gestão dos
recursos fundamentais à sua manutenção. Assim, demonstrado está o fundado receio
de dano de difícil reparação (periculum in mora) ao patrimônio do Interditando, até a
efetivação da tutela pleiteada.

DOS PEDIDOS

Perante o acima exposto, requer-se:


I) Seja deferida a Requerente da presente demanda assistência judiciária gratuita,
com fulcro no art. 5º, LXXIV da Constituição da República e na Lei nº 1.060/50,
por se tratar de pessoa pobre na acepção da lei, de forma que o valor das custas
irão onerar em muito seu orçamento mensal, uma vez comprovada a insuficiência
de recursos;

II) Seja deferido o benefício de Prioridade de Tramitação, com fulcro nos


art. 1.048, I do CPC c/c o art. 71 da Lei 10.741/03, uma vez que o interditando é
pessoa esquizofrenica, sendo determinada à secretaria da Vara a devida
identificação dos autos e a tomada das demais providências cabíveis para
assegurar, além da prioridade na tramitação, também a concernente à execução
dos atos e diligências relativos a este feito;

III) A concessão da Tutela de Urgência, com base no art. 300 do CPC, nomeando a


Requerente como curadora provisória do Interditando, a fim de que possa
representá-la nos atos da vida civil, sobretudo na adequada gestão dos recursos
fundamentais à sua manutenção, convertendo-se em Curatela definitiva ao
julgamento final da presente Ação;

IV) Sejam os pedidos da presente Ação de Interdição com pedido de Curatela


Provisória em Tutela de Urgência julgados procedentes, confirmando-se a tutela
de urgência para nomear em definitivo a Requerente como curadora do
interditando, que deverá representá-la e assisti-la em todos os atos de sua vida
civil, de acordo com os limites da curatela prudentemente dispostos em sentença,
nos termos do art. 755 do CPC;

V) A citação do interditando, no endereço descrito no preâmbulo desta peça, para


que, em dia a ser designado, seja efetuado o seu interrogatório, nos termos do
art. 751 do CPC;

VI) A representação do interditando na presente lide pelo digno membro do


Ministério Público, nos termos dos arts. 178, II e 752, § 1º, ambos do CPC;

VII) O deferimento da produção de todos os meios de prova em Direito admitidos, em


especial a documental, juntada posterior de documentos, expedição de ofícios,
depoimentos pessoais das partes e outras que se façam necessárias, bem como a
oitiva de testemunhas.

Dá a causa o valor de R$ 1.100,00 (hum mil e cem reais) para fins de alçada.

Termos em que,
Pede Deferimento.
Fortaleza, 31 de agosto de 2021.

Ana Célia Magalhães Carvalho


OAB– Ce. 23.106

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