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Wanderley Codo
José Jackson Coelho Sampaio
(organizadores)
Índice
Á guisa de apresentação......................................................................3
(Alberto H. Hitomi)
(Leny Sato)
jornada de trabalho............................................................................53
Alberto H. Hitomi)
2
Capítulo 7. Professora primária, amor e dor......................................107
(Wanderley Codo)
Nonnenmacher)
3
Capítulo 16.Paranóia e Trabalho....................................................232
Marin Bauer)
Bibliografia.................................................................................264
4
À guisa de apresentação
A montagem que o Dr. Jackson realizara, nos fez perceber que tinhamos
diante de nós um painel, o mais completo possível à época, desta área no Brasil;
5
resolvemos então o pedido das contribuições por escrito, com a mente voltada para
a realização deste livro.
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experiência do NESTH, Núcleo de Estudos sobre Saúde do Trabalhador de Minas
Gerais, ligado à UFMG, na minha opinião um centro interdisciplinar importante e
único do país. Se notará as ligeiras diferenças de abordagem em seus artigos, mas
o que deve ser ressaltado é a unidade de propósitos em cada um dos modos de
atuação.
Não seremos nós a dizer sobre a validade destes estudos para a melhor
compreensão e intervenção na saúde mental no trabalho. Se houver alguma ela se
deve, na minha opinião à uma forma de se engajar na lida científica que vale a
pena explicitar.
Em uma rápida conversa que tive com Christophe Dejours em Paris, ele
pediu que descrevesse o método com que trabalhávamos, quando falava que
costumávamos realizar uma observação detalhada do processo de trabalho, de
preferência com vídeo, ele discordou profundamente ("Nous sommes anti
objetiviste"), me explicava que a observação atrapalha a atenção ao discurso do
trabalhador, que a palavra dele deveria ser a única fonte de dados.
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Pois bem, ouso discordar também deste tipo de miopia: Sei e abuso da
importância de ouvir, cuidadosamente, carinhosamente os trabalhadores, mas não
foi a psicanálise, exatamente os postulados que orientam o trabalho de Dejours
que nos ensinou a todos que não sabemos, ou queremos esquecer as razões do
nosso sofrimento?
O projeto saúde mental & trabalho, cuja parte dos resultados são mostrados
neste livro, busca a objetividade mas desconfia dela, checa com o próprio sujeito a
validade de suas observações, respeita o discurso alheio como critério de verdade,
mas não permite que ele seja o único farol a descortinar o caminho.
Wanderley Codo
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Parte I.
Como Fazer
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saúde e\ou doença mental nos atinge no que temos de mais subjetivo, no
10
inelutavelmente ao que a trama social tem de mais objetivo, a doença mental
escrava do que o sujeito preserva como seu, intransferível, inominável.
Tenho para mim que as telefonistas estão encalacradas em uma linha muito
tenue entre a comunicação e o silêncio, e que não se compreenderá suas neuroses
enquanto não se compreender aqueles mistérios. Mas sabemos tão pouco sobre a
linguagem e sequer temos idéia do que é o silêncio! Como compreender as dores
d'alma que acometem aquelas trabalhadoras postas diante, milhares de vezes por
dia ante um dilema tão velho? Outra vez, como passear entre a árvore e a floresta,
sem perder de vista qualquer um dos dois universos, ou o que é pior, sem se deixar
encantar por um deles, apagando inconscientemente o outro?
11
A primeira parte deste livro é dedicada a este problema.
O primeiro texto foi escolhido por lidar com um rigor raro sobre a questão
da ideologia, apesar de não abordar diretamente a questão da saúde mental no
trabalho. Alberto Hitomi consegue passear com ousadia entre as várias
formulações que o conceito vem sofrendo, exercitando uma crítica aguda e sempre
com um mesmo eixo; como a História é capaz de produzir estórias, ou ainda,
como a organização objetiva da produção produz e reproduz representações, que
apesar de coletivas, ainda trazem a marca da subjetividade do seu tempo. Penso
que Hitomi consegue mapear o problema (ninguém ousaria pedir para resolvê-lo,
retomando escritos de Marx e seguidores a partir deles mesmos, sabendo ler, com
acuidade cada uma das formulações, por mais provisórias que apareçam nos
clássicos. Será inútil, suponho, discorrer sobre a importância do conceito de
ideologia para as pesquisas de Saúde Mental no Trabalho.
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quisermos aprofundar nosso conhecimento sobre a forma como os trabalhadores
adoecem na produção.
Esta seção fecha com um texto que descreve a forma como o projeto Saúde
Mental e Trabalho vem enfrentando a questão do método, propositalmente
esquemático, o texto procurou ser um guia de atuação em pesquisa nesta área, um
"how to do", que não pretende aprofundar em cada uma das direções apontadas.
Além de seu valor intrínsico, para quem se interessa pela área, o texto evita que se
decline a metodologia em cada um dos estudos apresentados a seguir, já que quase
todos seguem os mesmos parâmetros apontados aqui.
Wanderley Codo
13
Capítulo 1.
IDEOLOGIA E REPRODUÇÃO
ALBERTO H. HITOMI
I – INTRODUÇÃO
14
comportamento material (...). Se em toda ideologia os homens e suas relações
parecem estar de cabeça para baixo, como dentro de uma câmara obscura, isto
resulta de seu processo de vida histórica, exatamente como a inversão dos objetos
na retina resulta de seu processo de vida diretamente física.
15
Mas existe um outro modo de se entender essa inversão. Chauí (1984), por
exemplo, diz:
"A ideologia é uma ilusão, necessária à dominação de classe. Por ilusão não
devemos entender 'ficção', 'fantasia', 'invenção gratuita e arbitrária', 'erro',
'falsidade', pois com isto suporíamos que há ideologias falsas ou erradas e outras
que seriam verdadeiras e corretas. Por ilusão devemos entender: abstração e
inversão. Abstração (...) é o conhecimento de uma realidade tal qual ela se oferece
à nossa experiência imediata, como algo dado, feito e acabado, que apenas
classificamos, ordenamos e sistematizamos, sem nunca indagar como tal realidade
foi concretamente produzida por um determinado sistema de condições que se
articulam internamente de maneira necessária. Inversão (...) é tomar o resultado de
um processo como se fosse seu começo, tomar os efeitos pelas causas, as
consequências pelas premissas, o determinado pelo determinante" (pág. 104).
16
materialmente é uma representação invertida porque os resultados do processo de
intercâmbio aparecem como causa dessa relação.
Dizer que ideologia são idéias falsas que o "comércio material inspira aos
homens" (Boudon) ou que são "idéias invertidas" (Durham) é simplesmente perder
este sentido da inversão, a noção de inversão enquanto ilusão e abstração, mas
principalmente enquanto reificação.
Cremos que é este sentido que Marx irá desenvolver, em sua forma
científica, em sua crítica à Economia Política, em "O Capital". Quando Marx diz,
por exemplo, no capítulo do processo de troca que os homens são os guardiões da
mercadoria, os seus representantes (personificações de forças econômicas), e que
esta, como não tem pés, tem de ser levada até o mercado para ser trocada. A
inversão é aí expressa enquanto fetiche da mercadoria. E não é falsa, é verdadeira.
Não queremos afirmar que Marx sempre foi marxista, é evidente. Alguns
poderiam dizer que estamos tomando dois textos qualitativamente diferentes da
produção teórica de Marx, diferentes não apenas cronologicamente: um "pré-
marxista" e outro marxista.
"Aquilo que mediante o dinheiro é para mim, o que posso pagar, isto é, o
que o dinheiro pode comprar, isso sou eu, o possuidor do próprio dinheiro. Minha
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força é tão grande como a força do dinheiro. As qualidades do dinheiro -
qualidades e forças essenciais - são minhas, de seu possuidor. O que eu sou e o
que eu posso não são determinados de modo algum por minha individualidade.
Sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher. Portanto, não sou feio, pois o
efeito da feiúra, sua força afugentadora, é aniquilado pelo dinheiro" (pág. 30).
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Althusser também sustentou a interpretação da inversão como falsidade,
como irrealidade. Em "Aparelhos Ideológicos de Estado" (Althusser, 1983) afirma
que a ideologia aparece, em "A Ideologia Alemã" num contexto positivista e que é
concebida como pura ilusão, puro sonho vazio e vão, bricolage imaginário (cf.
pág. 83). Novamente a realidade da inversão e o seu significado crítico são
ignorados.
Ou que:
"Com efeito, cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes dela
é obrigada, para alcançar os fins a que se propõe, a apresentar seus interesses
como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade, isto é, para
expressar isso mesmo em termos de idéias: é obrigada a emprestar às suas idéias a
forma de universalidade, a apresentá-las como sendo as únicas racionais, as únicas
universalmente válidas. A classe revolucionária surge, desde o início, não como
classe; aparece como a massa inteira da sociedade frente à única classe dominante.
Ela consegue isso porque no início seu interesse realmente ainda está ligado ao
interesse coletivo de todas as classes não-dominantes e porque, sob a pressão das
condições prévias, esse interesse ainda não pôde desenvolver-se como interesse
particular de uma classe particular. Sua vitória é útil, também, a muitos indivíduos
de outras classes que não alcançaram uma posição dominante, mas apenas na
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medida em que coloque agora esses indivíduos em condições de elevar-se à classe
dominante. Quando a burguesia francesa derrubou a dominação da aristocracia,
permitiu que muitos proletários se elevassem acima do proletariado, mas
unicamente na medida em que tornaram-se burgueses" (pag.75) (grifos meus,
A.H.H.)
Diríamos até que a ideologia possui uma estória, pois se funda na biografia
ou numa história de uma subcoletividade, e não na história efetiva.
20
Após a concepção de ideologia expressa em "A Ideologia Alemã", ou
melhor, difundida a partir da compreensão de Marx e Engels sobre ideologia, a
questão da ideologia e da consciência se tornou uma verdadeiro quiproquó - como
diria Marx. Quiproquó: ideologia como erro, como reflexo, falsidade, mistificação,
manipulação. Quiproquó: consciência falsa, reificada, infeliz, desdobrada,
fragmentada, possível, etc. Qual a noção de consciência para Marx e Engels? Há,
na verdade, uma dupla compreensão: enquanto conjunto de representações ou
idéias e enquanto ação. É este segundo sentido que é perdido em todos esses
anexos adjetivadores, essas qualificações da consciência.
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Tipos de definição de ideologia
Tipos de Tradição
Tradição Marxista
Marx: Lenin:
Os teóricos da Althusser:
consciência-reflexo A ideologia, atmosfera
indispensável
à respiração social
Aron: Geertz:
mas indiretamente do
verdadeiro e do
falso
Tradição Não-Marxista
Parsons: Shils:
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Esta não é a classificação final sobre os tipos de definição de ideologia que
Boudon formula. Ele modificará e sintetizará a sua posição mais adiante (cf. pág.
87). Porém, para os nossos objetivos, essa classificação intermediária é mais
importante.
23
III - IDEOLOGIA E REPRODUÇÃO
Este novo sentido pode ser visto em Bourdieu com a noção de habitus, em
Althusser como práticas dos aparelhos ideológicos de Estado, em Habermas como
ideologia enquanto técnica e ciência. O caso extremo, dentro desta ótica, é o
consumo enquanto força produtiva e ideologia, tal como postulado por
Baudrillard.
Gramsci, como bem lembrou Althusser, foi o único que já havia avançado
nessa perspectiva. Essa perspectiva poderia ser encontrada, já em Gramsci, quando
este assinala a mudança na função e na ação dos intelectuais nas sociedades
contemporâneas. Eles passam de uma função retórica para o desempenho de
funções dirigentes e organizativas. Interessante observar que é somente a partir da
década de 60 que Gramsci começa a ser traduzido para o inglês, francês e
português.
24
último item lembramos o célebre estudo de Adorno, nos anos 40, sobre a
Personalidade Autoritária.
25
Para Bourdieu (1983) o habitus é produzido pelas condições de existência
das classes:
26
"Ao que saibamos, Gramsci é o único que avançou no caminho que
retomamos. Ele teve a idéia "singular" de que o Estado não se reduzia ao aparelho
(repressivo) de Estado, mas compreendia, como dizia, um certo número de
instituições da "sociedade civil": a Igreja, as Escolas, os Sindicatos etc.
Infelizmente, Gramsci não sistematizou suas intuições, que permaneceram no
estado de anotações argutas, mas parciais" (pag.67).
"Toda formação social para existir, ao mesmo tempo que produz, e para
poder produzir, deve reproduzir as condições de sua produção. Ela deve, portanto,
reproduzir:
1) as forças produtivas
27
segundo Althusser - é feita pela escola, e que ele entende como um conjunto de
técnicas e conhecimentos e as regras do bom comportamento. Para Althusser a
necessidade de reprodução da qualificação se impõe porque a força de trabalho
deve ser competente, deve ser "apta a ser utilizada no sistema complexo do
processo de produção" (pag. 57), sendo, portanto, uma das condições sociais de
produção. E esta qualificação é reproduzida pela escola, ou melhor, pelo Aparelho
Ideológico Escolar , como designa Althusser. Por Aparelho Ideológico de Estado
(AIE) deve-se entender:
28
Na parte final do trabalho, na qual Althusser formula suas teses e oferece
um exemplo da ideologia religiosa cristã, é onde ele faz suas críticas a Marx. Diz
que a concepção da ideologia em "A Ideologia Alemã" não é marxista (sic!), e
argumenta:
"Na Ideologia Alemã, esta fórmula (a de que a ideologia não tem história)
aparece num contexto nitidamente positivista. A ideologia é concebida como pura
ilusão, puro sonho, ou seja, nada. Toda a realidade está fora dela.
(...)
A ideologia é então para Marx uma bricolage imaginário, puro sonho, vazio
e vão, constituído pelos "resíduos diurnos" da única realidade plena e positiva, a
da história concreta dos indivíduos concretos, materiais, produzindo materialmente
sua existência.
(...)
1) a ideologia não é nada mais do que puro sonho (fabricada não se sabe
por que poder a não ser pela alienação da divisão do trabalho, porém esta
determinação é negativa).
2) a ideologia não tem história, o que não quer dizer que ela não tenha uma
história (pelo contrário, uma vez que ela não é mais que o pálido vazio invertido
da história real) mas que ela não tem uma história sua" (pag.83).
29
Tese 2 (materialidade da ideologia): "A ideologia tem uma existência
material; no aparelho e em suas práticas" (pag. 88)
30
2) do aparato de coerção estatal que asssegura 'legalmente' a disciplina dos
grupos que não 'consentem', nem ativa nem passivamente, mas que é constituído
para toda a sociedade, na previsão dos momentos de crise no comando e na
direção, nos quais fracassa o consenso espontâneo" (cf. I: pág. 11).
31
de cultura do tipo das universidades populares. Outras profissões incorporam em
sua atividade especializada uma fração cultural não desprezível, como a dos
médicos, dos oficiais do exército, da magistratura. Entretanto, deve-se notar que
em todos os países, ainda que em graus diversos, existe uma grande cisão entre as
massas populares e os grupos intelectuais, inclusive os mais numerosos e mais
próximos à periferia nacional, como os professores e os padres" (CDH: pág.29).
32
da qualificação profissional e na hierarquização dos intelectuais em "criadores das
várias ciências, da filosofia, da arte". os "admnistradores" e os "divulgadores" (cf.
I: págs 11-12)
Rouanet (1978) é ainda mais veemente, e diz que não pode ser identificada
qualquer contribuição original de Althusser às formulações gramscianas, "para o
desenvolvimento das observações argutas, mas parciais":
33
"Ao nível do seu desenvolvimento técnico-científico, as forças produtivas
parecem portanto entrar numa nova constelação com as relações de produção: elas
agora funcionam não mais como fundamento da crítica das legitimações em vigor
para os fins de um iluminismo político, mas, em vez disso, convertem-se elas
próprias no fundamento de legitimação. Isso é concebido por Marcuse como uma
novidade na história mundial" (pág. 315).
34
uma política de evitar conflitos, de tal modo que o conflito que, tanto agora como
antes, é incorporado na estrutura da sociedade, com a valorização do capital à
maneira privada, é aquele conflito que permanece latente com uma probabilidade
relativamente maior. Ele recua face a outros conflitos que decerto também
dependem do modo de produção, porém, que não podem tomar a forma de um
conflito de classes (pág.323).
Por outro lado, entendo por agir comunicativo uma interação mediatizada
simbolicamente. Ela se rege por normas que valem obrigatoriamente, que definem
as expectativas de comportamento recíprocas e que precisam ser compreendidas e
reconhecidas por, pelo menos, dois sujeitos agentes. Normas sociais são
fortalecidas por sanções. Seu sentido se objetiva na comunicação mediatizada pela
linguagem corrente" (pág. 321).
35
"O quadro institucional de uma sociedade consiste de normas que guiam as
interações verbalmente mediatizadas. Mas existem subsistemas, tais como o
sistema econômico e o aparato de Estado, para ficarmos com os exemplos de Max
Weber, nos quais são institucionalizadas principalmente proposições sobre ações
racionais-com-respeito-a-fins. Do lado oposto, encontram-se subsistemas, tais
como família e parentesco, que decerto são conectados a um grande número de
tarefas e habilidades, mas que repousam principalmente sobre as regras morais da
interação. Assim, no plano analítico convém distinguir, de modo geral: (1) o
quadro institucional de uma sociedade ou o mundo do viver sócio-cultural e (2) os
subsistemas do agir racional-com-respeito-a-fins 'encaixados nesse quadro
institucional" (págs 321-322).
36
Elabora um genealogia do consumo para demonstrar, o progressivo
movimento de racionalização do sistema industrial, no qual o sistema de
necessidades torna-se "força consumptiva":
37
2. Dominado (pelo constrangimento de produção e do ciclo da produção, na
análise estratégica (sócio-econômica-política)" (págs 93-94).
38
combinação, começaram a firmar-se; foi então, consequentemente, que a estrutura
moderna da indústria e das finanças capitalistas começou a tomar forma. Ao
memo tempo a rápida consumação da colonização do mundo, as rivalidades
internacionais e os conflitos armados pela divisão do globo em esferas de
influência econômica ou hegemonia inauguraram a moderna era imperialista.
Desse modo, o capitalismo monopolista abrange o aumento de organizações
monopolistas no seio de cada país capitalista, a internacionalização do capital, a
divisão internacional do trabalho, o imperialismo, o mercado mundial e o
movimento mundial do capital, bem como as mudanças na estrutura do poder
estatal" (págs 215-216).
(...)
"Desde a última quarta parte do século XIX, nos países capitalistas mais
avançados, duas tendências de desenvolvimento podem ser notadas: (1) um
acréscimo da tendência intervencionista do Estado, que deve garantir a
estabilidade do sistema, e (2) uma crescente interdependência entre a ciência e a
técnica, que transformou a ciência na principal força produtiva. Ambas as
tendências perturbam aquela constelação do quadro institucional e dos
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subsistemas do agir racional-com-respeito-a-fins, pela qual se caracterizava o
capitalismo desenvolvido dentro do liberalismo" (págs 327-328).
40
"No Oriente, o estado era tudo, a sociedade civil era primitiva e gelatinosa;
no Ocidente, entre o Estado e a sociedade civil havia uma justa relação, e em
qualquer abalo do Estado imediatamente descobria-se uma poderosa estrutura da
sociedade civil. O Estado era apenas uma trincheira avançada por trás da qual se
situava uma robusta cadeia de fortalezas e casamatas" (pág. 75).
41
A mesma temática pode ser encontrada em Pollock, associando a passagem
do capitalismo concorrencial para o capitalismo de Estado e a alteração nas formas
ideológicas. Cohn (1986) diz:
42
"As sociedades industrialmente desenvolvidas parecem aproximar-se do
modelo de um controle de comportamento que, em vez de ser guiado por normas,
é antes dirigido por excitantes externos. A direção indireta por estímulos
estabelecidos aumentou, principalmente nos setores da liberdade aparentemente
subjetiva (comportamento nas eleições, no consumo, no tempo livre). A rubrica
social-psicológica da nossa época é caracterizada menos pela personalidade
autoritária do que pela desestruturação do superego. Um aumento do
comportamento adaptativo é apenas o reverso da medalha de um processo de
dissolução da esfera de interação verbalmente mediatizada, dentro da estrutura do
agir racional-com-respeito-a-fins" (Habermas, 1983, págs 332-333).
43
"Toda crise de coerção unilateral no campo sexual acarreta um delírio
"romântico" que pode ser agravado pela abolição da prostituição legal e
organizada. Todos estes elementos complicam e tornam dificílima qualquer
regulamentação do problema sexual e qualquer tentativa de criar uma nova ética
sexual que esteja de acordo com os novos métodos de trabalho e de produção. Por
outro lado, é necessário criar essa regulamentação e uma nova ética. Deve-se
destacar o relevo que os industriais (especialmente Ford) se interessaram pelas
relações sexuais dos seus dependentes e de suas famílias; a aparência do
'puritanismo' assumida por este interesse (como no caso do proibicinismo) não
deve levar a avaliações erradas; a verdade é que não é possível desenvolver o novo
tipo de homem solicitado pela racionalização da produção e do trabalho, enquanto
o instinto sexual não for absolutamente regulamentado, não for também ele
racionalizado" (MPE: págs 391-392, grifos meus, AHH).
44
e o esgrimismo galhofeiro que se autoproclama ação, mas só modifica o
vocabulário, não as coisas; o gesto exterior, não o homem interior. A primeira está
criando um futuro que é intrínseco à sua atividade objetiva e sobre a qual prefere
silenciar. O segundo apenas cria fantoches aperfeiçoados, moldados sobre um
figurino retoricamente prefixado, e que cairão no nada quando forem cortados os
fios externos que lhe dão a aparência de movimento e de vida" (págs 401-402).
45
Outra questão a ser investigada também é histórica: os contextos
semelhantes em que Gramsci e A Escola de Frankfurt elaboram suas teorias:
regimes totalitários, fascista e nazista.
Agir-racional-com-respeito...==> Interação
46
Gramsci: a hegemonia vem da fábrica e os intelectuais são os funcinários da
hegemonia do grupo dominante.
* * *
Mas e agora, dada essa rica totalidade? Que fazer com ela? O que fazer com
"tantas mediações" e, o mais importante, como compatibilizá-las? Será um novo
quiproquó?
47
Capítulo 2.
O CONHECIMENTO DO
TRABALHADOR E A TEORIA DAS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
LENY SATO(1)
48
NORIEGA(1987), BERLINGUER E BIOCCA(1987) E MALLET(1988).
Particularmente LAURELL e NORIEGA(1989), LAURELL(1984) e
BERLINGUER e BIOCCA(1987) procuram analisar criticamente os pressupostos
e os desdobramento do Modelo Operário. Dentre as questões por eles abordadas,
focalizaremos especialmente aquela, expressa mais claramente por LAURELL e
NORIEGA(1989), quanto às características e modos de expressão da experiência-
subjetividade operária e as categorias que possibilitam organizar e analisar os
achados obtidos a partir dela. Quanto às características experiência-subjetividade
operária, esses autores identificam que "a concepção que se perfila mais
claramente nos textos <sobre o Modelo Operário> é a subjetividade-experiência
operária, como conhecimento latente acumulado, resultado do viver e atuar numa
determinada realidade, cujo portador é o grupo homogêneo, ou seja, a coletividade
que compartilha dessa realidade" (LAURELL e NORIEGA, 1989:88).
49
Entendemos que não. GRIMBER(1988), preocupada em estudar a
construção social dos processos de saúde e doença nos trabalhadores gráficos
entende que as representações dos trabalhadores com respeito à relação saúde e
trabalho "...conforma um saber que não se reduz ou se esgota nos aspectos comuns
às categorias médicas, tampouco nos parece que pode ser pensado em termos de
limitação ou de versão empobrecida do saber médico - ainda quando efetivamente
nos casos individuais este saber possa adotar essa forma" (p.10). HARRISON
(1988), por sua vez, estuda as representações de risco entre operários e entende
que elas dependem tanto do contexto social onde ela se constrói como da natureza
do risco.
50
Há dois processos básicos de contrução das representações sociais: o
primeiro, a ancoragem, "refere-se à inserção orgânica do que é estranho no
pensamento já construído, Ancoramos, portanto, o desconhecido em
representações já existentes" (SPINK, 1989:7) o que contempla a necessidade de
tornar o estranho em familiar; o segundo processo, a objetivação, refere-se à
cristalização de uma representação, ou seja " a constituição formal do
conhecimento. A objetivação é essencialmente, uma operação formadora de
imagens..."(SPINK, 1989:8). Ainda quanto ao processo de sua construção, embora
as representações sociais se cristalizem, isto não quer significar que sejam
imutáveis, pois sofrem modificações.
51
SPINK(1989) classifica os estudos da área da saúde que utilizam-se da
teoria das representações sociais e aponta a sua fertilidade no campo de estudos
sobre o processo saúde-doença "porque permitem explorar a interface entre o
senso comum e o pensamento científico, seja este concebido como corpo de
conhecimentos ou como relações sociais com um grupo definido corporativamente
como detentor do saber" (p.11).
52
importante no estudo das representações sociais pois libera o pesquisador da
quantificação e experimentação prematura.
53
estudos empíricos, filiados à Fisiologia do Trabalho e Ergonomia, para os quais o
trabalho é penoso quando demanda esforço físico; a segunda onde os estudos
adjetivam como penosas as condições de trabalho que geram esforço e sofrimento
mental e, por último, alguns estudos que entendem ser o trabalho penoso quando
gera sofrimento físico e mental (SATO, 1991).
54
como os de DEJOURS(1986), GUSTAVSEN(s.d.) e de HARRISON(1988).
Porém através do conhecimento prático pudemos identificar quais são os
requisitos necessários para o exercício do Controle por parte do trabalhador. São
eles: Familiaridade, que diz respeito à intimidade e conhecimento sobre a tarefa
realizada; Poder, que diz respeito à possibilidade de o trabalhador interferir e
mudar o trabalho de acordo com suas necessidades; Limite Subjetivo, que diz
respeito ao quanto, quando e como é possível suportar as estimulações dos
contextos de trabalho. Quando não estão simultaneamente presentes estes três
requisitos que sustentam o Controle dá-se a Ruptura - ruptura do equilíbrio sendo
justamente aí que os problemas de saúde são sentidos pois o Limite Subjetivo não
é respeitado. Aparecem então as doenças, os acidentes e o sofrimento é
demasiado.
55
diariamente(2). São formas de se relacionar com o trabalho apesar dos limites por
ele impostos e, ao mesmo tempo, respeitar o próprio limite subjetivo.
56
paliativas e pouco eficazes pois não estão sendo tomadas em conta as
possibilidades concretas de trabalhadores "reais" trabalharem e conviverem em
determinados tipos de contextos de trabalho também "reais". O entendimento
dessas motivações foi possibilitado pela leitura da realção saúde e trabalho na
perspectiva das representações sociais, pois são formas de conhecimento que
informam as práticas e as relações interpessoais.
57
intoxicações por exemplo, que talvez as representações sociais tenham pouco
acesso ao que diz respeito à sua identificação; elas podem, genericamente, nos
informar sobre a existência de substâncias químicas no local de trabalho e
sensações de mal-estar, cuja associação causal tem sido procedida pela medicina e
pela toxicologia, não significando, portanto, que as representações sociais venham
a ser uma perspectiva epistemológica que substitua o conhecimento acumulado e
em deselvolvimento pela ciência formal, dado que conforma e adota recortes
distintos da realidade.
58
Capítulo 3.
I – INTRODUÇÃO
59
Pensamos que a construção pelo trabalhador de um saber sobre o seu
sofrimento diferencia-o e o inscreve num campo subjetivo: a elaboração de um
saber sobre si mesmo, de um saber que o localiza. O trabalhador pretende
significar a estranheza do mal que lhe acomete, assim como tenta dar significados
na construção de um saber sobre aquilo que desconhece do processo de produção e
trabalho. A economia psicissomática de cada trabalhador expressa normas
diferenciadas de sofrimento que no entanto revelam um único produto: a
subordinação aos processos organizacionais de gestão em busca de um maior
controle. A dominação e a produção de corpos úteis só é possível a partir de uma
estratégia concernente ao aparelho mental, pela criação do condicionamento
produtivo, do comportamento estereotipado que se constitui como auto-violência,
além de fonte de mais valia.
60
Temos buscado em nossas pesquisas duas orientações metodológicas
básicas:
61
Objetivamos ao mesmo tempo, abrir um novo campo de atuação para o
psicólogo e estabelecer indicadores de ação por parte deste profissional, a nível
das relações que se estabelecem entre o Trabalho e Saúde Mental.
62
participação dos trabalhadores é voluntária, mediante contrato psicológico e
estabelecido coletivamente.
A questão é saber o que o sujeito diz e como diz, para falar da implicação
do trabalho com seu sofrimento e mesmo adoecimento representações são
compartilhadas no grupo.
63
Perguntamos, no modo como o trabalho é organizado, é possível trabalhar
sem sintoma?
64
lhe acomete. O trabalhador alienado de seu desejo torna-se sujeito em si mesmo,
automático em sua ação que está subordinada, e não referenciada, no desejo do
outro. No caso das categorias supra-citadas, o trabalhador sempre está em deficit
com a organização do trabalho, que lhe pede sempre mais, e esta relação vai
determinar também uma falta do trabalhador consigo próprio: ele está excêntrico
ao seu desejo, que não lhe pertence e o seu desejo se torna a própria organização.
Queremos chamar atenção para a dimensão bivalente do sofrimento, que nos
aponta uma resistência no sintoma quando o trabalhador para poder continuar
trabalhando, faz dele o desejo da organização, introjeta o "modus operandi" da
máquina que se revela no seu modo operatório e o modelo mental. Torna-se
então, artífice do seu próprio sofrimento.
65
A consideração da prática com Grupos possui extensa literatura, que ao
mesmo tempo que nos suporta, nos inquieta dada a complexidade do objeto.
Psicopatologia do Trabalho, mas enfrentamos os riscos desta práxis quando
escutamos uma telefonista: "é bom eu estar aqui prá saber que não estou louca".
66
Capítulo 4.
SAÚDE E TRABALHO:
UMA ABORDAGEM DO PROCESSO E
JORNADA DE TRABALHO
JOSÉ JACKSON COELHO SAMPAIO
INTRODUÇÃO
Partindo-se da premissa de que alguém trabalhe apenas oito horas por dia, o
trabalho ocuparia diretamente metade do nosso tempo de vigília, um terço de
nossas vidas, servindo de equivalente universal para nos identificarmos uns
perante os outros (- "Quem é voce?" - "Ah, sou mecânico"). Mas o trabalho é
mais, é força, tempo e habilidade que se vende para obter condições de morar,
vestir, comer. Como se isso não bastasse, o trabalho nos situa na hierarquia social
de valores, visível no prestígio social de algumas profissões frente a outras
(médicos e garis, advogados e borracheiros, metalúrgicos e crecheiras etc). Assim
67
o trabalho nos remete para possibilidades diferentes de consumo, felicidade,
adoecimento e morte.
68
novo agente social na construção de identidades, valores e normas. A presença
física constante da mãe desaparece, a figura materna é multifacetada nas
recreacionistas e na mãe biológica.
69
natureza do trabalho pode ser chamada de trabalho concreto, expresso através do
processo de trabalho.
Médico - "Ah, nenhuma. Nada do que eu fiz, sugestões que dei, decisões
que tomei, foram questionadas. Tenho toda liberdade."
Quer dizer, a liberdade que ele dizia ter, no início do diálogo, era apenas a
liberdade de fazer o que a empresa quer. A lógica de qualquer empresa é dada pelo
lucro. As transformações possíveis são aquelas que aumentem ou pelo menos não
afetem a escala de lucro. A maioria das políticas de recursos humanos e
organização do trabalho visaram até hoje a implementação de produtividade com
redução de custos. As virtuais melhorias obtidas para a preservação da força de
trabalho foram secundárias, não eram objetivo primordial, a não ser quando ficava
70
claro que investimentos em melhorias de condições de trabalho se refletiriam na
qualidade e competitividade do que era produzido. A lógica do capital subverte
toda e qualquer lógica humanista.
71
O processo de trabalho não se restringe aos elementos mais concretos. É
preciso ver qualificações, funções, cooperação, hierarquia, sociabilidade, marca,
disciplina. É preciso ver a relação entre um trabalhador e outro, tanto no que se
refere aos objetivos do trabalho, como para a possibilidade do papo camarada, da
sociabilidade civil, leiga. É preciso ver a hierarquia, correia de transmissão das
ordens: interesse econômico se transformando em norma, orientação técnica e
disciplina. É preciso ver a acumulação de competência humana dentro de uma
máquina, transformando trabalhador em fiscal de visores, alavancas, tomadas,
botões. É preciso ver o ajuste do trabalhador a cada tarefa.
72
fracasso das esperanças. É preciso que as pesquisas científicas transponham o
limite da quantidade à qualidade, significando as expressões numéricas obtidas
pelos instrumentos de coleta.
73
É preciso que o trabalhador, enquanto cidadão e consumidor, possa gozar de todos
os bens sociais produzidos; possa entender que não há realização no átomo
especializado de trabalho que lhe compete, mas na massa organizada do trabalho
humano, voltada para a satisfação de quem trabalha e não só dos que detêm os
meios de produção.
74
gesto criativo e mal paga que quase todos experimentam. E então, em vez de
lutarmos pela qualificação do trabalho desejamos licenças, pequenas idenizações
pelos riscos que corremos e a aposentadoria, nem que seja a morte em vida da
aposentadoria por invalidez do marceneiro que direciona a mão de encontro a serra
elétrica.
Processo de Trabalho
Neste momento, para efeitos didáticos, nós também vamos dividir o
trabalho. Deixaremos de lado as questões de salário e jornada, migração pendular
casa-trabalho-casa, tempo livre, uso do tempo livre e quanto de mês ainda sobra ao
fim do dinheiro. Vamos nos concentrar na discriminação dos elementos que
compõem o processo de trabalho, segundo a concepção do Projeto Saúde Mental e
Trabalho (Sampaio, Hitomi & Codo, 1990; Codo, Sampaio & Hitomi, np).
I. POSTO E LOCAL
75
POSTO - Área de realização da função. Pode ser fechada ou aberta, real
(presença permanente do trabalhador) ou virtual (atenção em determinados
momentos, intervalos regulares ou irregulares, com liberdade de ambulação),
realizando corpo coletivo real de trabalho (presença de todos os trabalhadores da
função em mesma área, interagindo para além das necessidades do processo de
trabalho) ou corpo coletivo virtual (isolamento do trabalhador, perda até do
contacto visual com seus pares).
76
anódino x tóxico) e outras, como ser real (algo que se materializa) ou virtual (a
materialização se dá como serviço). A questão do produto fica muito complicada,
principalmente no setor de serviços da economia. Qual é o produto de uma
prostituta, de um caixa bancário, de um psicólogo? Se não há produto, o que há?
Se não há produto, há trabalho? Se o produto é desconhecido ou virtual, como
pode o trabalhador encontrar nele a marca de sua mão? Vinicius de Morais, grande
poeta carioca, fez um operário olhar o mundo e em tudo ver sua marca, porém em
coisas não mais acessíveis, desde que sobre elas foi aposta a impressão digital do
capital, a lógica da mercadoria.
77
apertando parafusos, movendo alavancas, batendo solas além de um certo período
de tempo.
78
DISCIPLINA - Juntamente com decisões referentes à produção e normas
técnicas, o sistema de seleção de pessoal, a administração de pessoal, os
treinamentos e a hierarquia passam disciplina. O capital se acha investido da
missão civilizadora de educar e instruir os trabalhadores, estes bárbaros. Disciplina
é treinamento moral, regulação das condutas, atitudes, comportamentos. Junto
com as normas técnicas também passam orientações sobre modo de vestir, uso dos
cabelos, horários e temas de conversa, sociabilidade ideologizada, aquela que o
capital considera melhor para todos, por ser melhor para ele. Todos sabem do
número de vezes que podem ir ao banheiro e que os fiscais não intervêem apenas
nos impositivos da produtividade mas também na vida privada. Neste item entram
desde a impessoalidade das fardas até os concursos de operário-padrão.
79
"commodities", são mercadorias sem qualquer diferença de um fabricante para
outro: aço, gasolina, álcool, açúcar e sal são "commodities", por exemplo. A
diferença fica por conta do nome do distribuidor.
80
cúmplices ou escravos. A hierarquia é a correia de transmissão dos objetivos do
interesse dominante, é instrumento de poder.
Jornada de Trabalho
Se trabalho abstrato não se expressa diretamente, pela sua própria natureza,
podemos surprendê-lo de modo transverso através da jornada de trabalho. Mas é
necessário ousar incluir aqui a questão da remuneração do trabalho, como
elemento constituinte da categoria analítica "jornada de trabalho", não como item
a ser analisado em separado. Impõe-se enfatizar que, tanto para "processo" como
para "jornada", a discriminação dos elementos serve para fins analíticos, ajudam a
identificar que dados coletar na realidade de cada categoria profissional, deste
modo permitindo o entendimento, a explicação do que pode estar acontecendo na
vida, na saúde, na doença e na morte bancárias, metalúrgicas, borracheiras,
sapateiras, severinas.
81
MAIS VALIA ABSOLUTA - Forma de valor excedente, além do
suficiente para remuneração do trabalho necessário. Caracterizada pela extensão
absoluta da jornada de trabalho.
II. JORNADA
82
FÉRIAS - Data fixa ou a escolher, gozo individual ou coletivo,
possibilidades de parcelamento, possibilidades de acréscimo de folgas permitidas
no correr do ano.
III. SALÁRIO
83
ao recebimento podendo ser integral ou parcelado, com permissão ou não de
saques através de vales.
84
Discussão Final
Associações entre os elementos componentes do processo de trabalho,
ligadas a associações entre os elementos componentes de jornada de trabalho e
assalariamento, resultam, historicamente, em modos bem diversos de organização
da produção. No Brasil é possível encontrar todos convivendo simultaneamente. A
economia brasileira tem destas surpresas.
85
TAYLORISMO/FORDISMO - Divisão extrema do trabalho, convertendo o
trabalhador em objeto na produção. As tarefas são fracionadas em gestos simples,
otimizados, automatizados. Introdução de técnica de gerenciamento que amplifica
o estímulo financeiro e introduz a dedicação ideológica do trabalhador à empresa.
Introdução das linhas de montagem que fragmentam ainda mais as tarefas,
desqualificando a força de trabalho e facilitando o controle disciplinar e de
qualidade da produção. O incremento da produtividade acarreta a diminuição dos
preços finais e aumento do consumo.
86
Entre as doenças mentais, transtornos associados a tensão psico-social, sobretudo
vinculados ao desenvolvimento da personalidade, além de distúrbios ligados a
ansiedade, depressão, hipocondria e alcoolismo.
Não temos resposta para isso. Além do que transcende os objetivos desta
série de conferências, para fins de treinamento.
87
legitimar nossas organizações, da CIPA aos Sindicatos, demonstrando que não é
só salário que qualifica o trabalho e o trabalhador.
Nada daquilo que temos falado acontece sem vitórias e derrotas, sem luta.
A lógica da valorização da mercadoria está em permanente guerra civil com a
lógica da valorização do trabalho. Há um Líbano em cada empresa, tão
quotidiano, tão difuso, tão sem grandes lances, tão fragmentado que a gente nem
percebe o tamanho do Líbano. A greve é ponto a nosso favor. A inflação é contra.
A constituição de uma CIPA é ponto a nosso favor. A taxa de acidentes de
trabalho é contra, pois representa baixa em nossas fileiras.
88
Capítulo 5.
WANDERLEY CODO
89
diferentes de uma mesma realidade; em qualidades diferentes de uma mesma
realidade; agora em um processo dinâmico, com historicidade revelável, totalidade
complexa a ser explicada. O aumento da esperança de vida; a redução dos
sofrimentos mais diretamente traumáticos sobre o corpo físico; a tercialização da
economia; o surgimento e crescimento de automatização e informatização; a
redução da duração da jornada de trabalho, substituida por exploração do ritmo e
transferindo conflitos da ordem da produção para a ordem do consumo; estão
deslocando o lugar preferencial de expressão dos problemas, das fragilidades, dos
mal estares, das doenças, do físico para o psíquico. A temática é nova enquanto
busca a compreensão de um processo crítico entre saúde e doença, assentado sobre
o chão da história. Também é nova enquanto uso do marxismo como matriz
teórica de um método científico, entendido como o mais capacitado a dar conta de
objeto tão sutil, tão extraordinariamente problemático.
90
Alguns saberes têm se constituído na tentativa de dar conta destes
problemas. Mas em rápido vôo rasante, pelas tendências dominantes, o que
podemos ver?
A Medicina do Trabalho tem longa história, pode ter seu surgimento datado
do séc. IV A.C., quando Hipócrates escreveu sobre doença de mineradores. Com o
peso de sua longa história e da grande influência sobre a legislação, toma a doença
como individual e biológica, toma o trabalho como simples (separa os elementos
posto, local, matéria prima, natureza do produto) desenvolvendo as categorias
analíticas "insalubridade", "periculosidade", "doença profissional". Entende a
relação imediata entre aqueles elementos do trabalho com o corpo físico do
trabalhador idiossincrático. A Medicina do Trabalho tem buscado desvelar
ambiente físico do trabalho, ajuste territorial população/espaço, natureza físico-
química de matérias primas e produtos. Louve-se o esforço, a real contribuição
que tem possibilitado avanços e melhorado o entorno próximo do trabalhador,
embora apenas enquanto presente na empresa.
91
natural, pairando por sobre a história dos homens. Contenta-se com o intestino
sistêmico das empresas, desconhecendo a questão do poder e das determinações
externas.
92
recentemente, começa a tematizar a doença. No campo do psíquico introduz a
categoria explicativa "carga mental".
93
coisa, o significado da coisa, o sujeito que significa, a capacidade de representar, a
representação da coisa, a representação do sujeito e a representação da capacidade
de representar - tantas mediações, tantas contradições.
94
1ª Esfera - PRODUÇÃO = Onde o sujeito se consome (trabalho alienado) e
se produz (relações sociais, bens para a esfera do consumo, pedagogia de uma
visão de mundo).
Aqui é necessário uma pausa para definir saúde mental, e nos acode a
clássica proposta de Pichon Rivière: "Saúde Mental é o aprendizado da realidade,
através da compreensão, enfrentamento e manejo criador/integrador dos conflitos".
95
possibilidades vitais expressáveis no campo da saúde; e que se expressa por
sintomas. O sintoma sendo a ponta empírica deste iceberg de expressões.
Que método pode apreender este processo - com passado, expressão atual e
futuro - trajetória não necessariamente predeterminada pelas partes ou pelos
momentos ? Que método pode dar conta das partes sempre entendidas como
produtos de um vínculo com a totalidade ? Que método pode partir do empírico e
despregar-se dele, não se tornando apenas empiricismo ? Que método pode dar
conta do fenomênico sem volver-se apenas fenomenologia ? Que método pode
incorporar e superar a indução e a dedução, a análise e a síntese, a lógica formal ?
Que método pode articular o uso de instrumentos teóricos (conceitos, hipóteses,
96
categorias analíticas), instrumentos de investigação (inventários, questionários,
entrevistas, testes, que possam detectar, destacar, mensurar e/ou qualificar os
fenômenos a serem estudados) e instrumentos de interpretação ( interpretações e
estatística); sem perder de vista objetivos do estudo, natureza da população cuja
história fornecerá significado aos dados, e natureza do fenômeno estudado?
Além de tudo isso, o método foi tornado metafísica pelas exegeses políticas
dos últimos 70 anos. Impõe-se reconstituí-lo, realizar uma recuperação
97
epistemológica do marxismo e desdobrá-lo para a produção científica de
conhecimentos, com atenção e rigor: método de investigação - método de
interpretação - método de exposição. A empreita passa pela releitura do Hegel de
"A Ciência da Lógica" e do Marx dos "Grundrisse", pela releitura de Lucien
Goldmann, Karel Kosik, George Lukacs e Pavel Kopnin. É óbvio que uma
posição, pelo menos, pode ser assumida: nossa posição na galáxia metodológica
pode ser localizada nas coordenadas, no espaço da dialética.
98
E é deste modo que, tomando trabalho como construtor da subjetividade e
da sociedade; tomando categoria profissional como população significativa, classe
social expressa no quotidiano de trabalho; tomando alienação como característica
básica de sociedades capitalistas; e tomando saúde/doença como qualidades
diferentes do fenômeno vital, fenômeno histórico, expressão do que acontece na
esfera da produção e do consumo, principalmente do que acontece na esfera da
produção e do consumo de significados no que diz respeito à questão específica da
saúde/doença mental; poderemos começar a esboçar uma teoria sobre a gênese do
sofrimento psíquico, deste mais estável, paralizador, incapacitante, denominado
doença mental.
INSTRUMENTOS TEORICOS
A categoria "categoria profissional" permite operacionalizar, através de
uma construção intelectual, o conceito "classe social", e articular os três principais
saberes postos em confronto. Para a Sociologia do Trabalho lidaremos com a
hipótese de ser classe social expressa no quotidiano dos agentes de produção (não
é segmento de classe, é expressão de classe); para a Psicologia do Trabalho
lidaremos com a hipótese de ser unidade conformadora de identidade
pessoal/social (considerando outras unidades - p.ex.: família, escola - que lugar
ocupa na rede hierarquizada de determinações de fenômenos psíquicos
concretos?); e para a Epidemiologia lidaremos com a hipótese de constituir
população significativa, configurando condições idênticas de existência.
99
A categoria "perfil de produção" sintetiza um conjunto específico de formas
pelas quais os sujeitos daquele grupo significativo ("categoria profissional")
produzem suas condições de existência. O "perfil de produção" sintetiza as
expressões da dupla e contraditória natureza do Trabalho. Trabalho se expressa
através de duas variáveis: trabalho abstrato = inexpressível por sua natureza, pode
ser apreendido através de indícios, de modos de comparecimento como por
exemplo a equação jornada/salário; trabalho concreto = expresso por sua vez
através do processo de trabalho. Esta categoria, para os fins de nossos estudos, é
explicativa, independente.
100
nos seus produtos. Somente na condição de considerarmos trabalho como essência
do homem, alienação seria o estranhamento entre o homem e sua essência.
Para além das distinções apontadas, o pano de fundo deste debate estará
colocado pela distinção doença mental X alienação. O processo saúde/doença
mental é entendido como processo social articulador das possibilidades de
recuperar a unidade conflitual entre objetividade e subjetividade, rompida pela
alienação. A contradição sujeito objeto (s-o) permite a constituição da
subjetividade. O estranhamento do sujeito com seus produtos, do sujeito com a
sociabilidade e do sujeito consigo mesmo torna aquela contradição antagônica e
permite a ruptura s-o. O vazio pressiona por preenchimento, por finalidades e
significações. As tentativas de recuperar a unidade conflitual perdida são de vários
tipos: ideologia, religião, hobbies, militância política, dedicação familiar, doença
mental, o próprio trabalho etc. Em que condições a forma "doença mental"
aparece ? De que modos, por sua vez, esta forma se expressa?
101
concretiza em cada indivíduo, marcado por sua especificidade histórica, através de
vetores pessoais, sociais e culturais, forma quadros ajustados a expectativas,
portanto designáveis como personalidade, apresentando padrões de respostas
expressos por representações, opiniões, atitudes, prontidões para ação, preditas
como aceitáveis, normais, identificáveis como frequentes. Ou podem, a partir de
determinados limites, extrapolar para dentro do inaceitável, do não normal, do
identificável como não frequente, aí podendo se inserir dentro de categorias
descritivas como desvio, marginalidade, doença. Três ordensde necessidade se
impõem: 1a) Distinguir padrões de resposta psicológica às exigências da vida. 2a)
Distinguir o normal do não normal, através do estudo de distribuição, em
contraponto com noção coletiva de adequação. 3a) Distinguir personalidade de
sintoma, através do estudo de distribuição, em contraponto com noção coletiva de
bem estar. Ora, para a primeira necessidade, tanto a Psiquiatria como a Psicanálise
vêm oferecendo o conceito de mecanismo de defesa, que, na dependência do uso
mais ou menos especializado, mais ou menos cristalizado, vai configurando
padrões de resposta, padrões que podemos chamar "escalas". Para a segunda
necessidade, os instrumentos existentes de mapeamento psicológico já trazem
embutidos, por causa de seus pré-testes, de suas hipóteses, de suas matrizes
teóricas, algumas expectativas traduzíveis por intensidade de resposta, por "nível"
quantidade de resposta. Por algum enviesamento, provavelmente ligado a questões
ideológicas, os instrumentos confundem normal com saúde, não normal com
patológico. Portanto, o nível deve ser aceito enquanto poder descritivo , e posto
sob suspeita seu poder qualificador. Pensando em termos de "escalas", acataremos
provisoriamente a seguinte classificação = Obsessividade, Depressão,
Hipocondria, Histeria, Mania, Ambivalência, Síndrome de Introversão/extroversão
social, Psicopatia, Paranóia, Masculino/Feminino. Em termos de "níveis"
acataremos, num primeiro momento = frequente X não frequente, normal X risco
X problemático, e deixaremos o julgamento saúde X doença, para etapa posterior
de aprofundamento.
102
OBJETO
(categoria profissional)
(empresa)
(trabalhadores selecionados)
Objetivos
103
No plano mais estrito da investigação científica pretende-se explicar o
perfil de características psicológicas e psicopatológicas desenvolvido por
determinada população significativa. A pergunta fundamental é: qual o lugar que
trabalho ocupa na hierarquia de determinações do perfil
psicológico/psicopatológico de um grupo ?
Hipótese
104
Folha salarial. Estabelece o perfil de remuneração da empresa, sua política
salarial, a existência ou não de um plano de cargos e salários, os ganhos
secundários embutidos e as indenizações de danos (periculosidade, insalubridade,
penosidade).
105
futuro, migração etc) e a representação que cada sujeito construiu sobre seu
quotidiano de trabalho.
Etapas de Campo
106
necessário lembrar que em setores oligopolizados, 2 ou 3 empresas podem dar a
lógica de todo o setor ou subsetor da economia.
107
prática, pois, no mínimo a empresa tem de autorizar a entrada dos pesquisadores,
se não quisermos pesquisar na ilegalidade.
108
produção X processo de trabalho), visando construção do perfil de produção.
Todos os indicadores de processo de trabalho podem ser obtidos através da
checagem do organograma real e formal da empresa, através da montagem do
fluxograma da processo de produção e de entrevistas de organização de trabalho
aplicadas a todos os trabalhadores situados na hierarquia de decisão da empresa. O
que se levanta aqui é o processo de trabalho objetivo e seu significados, tanto para
o capital como para a produção de um produto específico. O processo de trabalho
como aparece na consiência dos trabalhadores, sob forma de representação, será
obtido quando da aplicação das entrevistas de aprofundamento, após a aplicação
do inventário psicológico.
109
de trabalho, o protocolo de observação direta do processo de trabalho e a
observação por vídeo do processo de trabalho.
O corte a ser dado, obrigatoriamento o será pela localização dos sujeitos frente à
finalidade do processo de produção.
110
O instrumento aqui é extenso, aberto e para aplicação individual. Estes indivíduos
para entrevista são localizados amostralmente, em processo de estratificação o
mais exaustivo possível: classificação ligada à organização do trabalho + sexo +
idade + classificação segundo padrão de respostas ao inventário psicológico +
inserção no grupo que contenha as escalas prevalentes. Os aplicadores e os
entrevistados não de qual estrato o entrevistado foi retirado, o que configura esta
etapa como estudo duplo cego.
111
explicativos, hierarquizando-os. Neste ponto tem-se a possibilidade do
estabelecimento de leis gerais e da projeção de resultados para populações que
partilhem das características definidoras da população estudada.
Instrumentos de Interpretação
Computação:
112
1a etapa = Usar um critério empírico (legítimo de todo modo, mais
legítimo ainda neste caso porque o próprio MMPI foi construido deste modo) para
definir como Normal as escalas com escore na faixa 30-70 (inclusão dos
extremos), e como Não Normal as escalas com escore abaixo de 30 e acima de 70.
Quando estivermos lidando com o sujeito e o escore de suas escalas, a
classificação se dará canonicamente: Normal, Border Line ( 61-70 ), Patológico (
acima de 70 ). Quando estivermos descrevendo população, a classificação se dará
de outro modo: Normal (conjunto de sujeitos que apresentam todas as escalas na
faixa 30-70, mais os sujeitos que apresentarem apenas uma escala Border Line ),
Risco ( conjunto de sujeitos que apresentarem mais de uma escala Border Line ) e
Problemático ( conjunto de sujeitos que apresentarem pelo menos uma escala
Patológica ). Esta etapa do estudo busca dimensionar a probabilidade de
ocorrência de problemas psicológicos no grupo, as proporções segundo as
classificações, a distribuição destas proporções segundo atributos (demográficos e
de trabalho) e as tendências expressivas. Acatar o cânone para a análise escala por
escala dos sujeitos se dá para que não se perca o diálogo com as publicações que
se utilizam do MMPI, e por estarmos ligados a cada sujeito, onde se permite
leitura clínica provisória, a ser confirmada ou não quando do corte de
aprofundamento. Introduzir o critério normal X risco X problemático se justifica
pelo abandono dos sujeitos, pois passou-se a pensar suas inserções em populações,
acatando o poder descritivo das escalas mas rejeitando seu poder qualificador. Por
exemplo, reconhece-se a existência de um problema naquele grupo de sujeitos,
mas qual o problema?
113
encontráveis, através de testes não paramétricos. O corte que estabelece as escalas
prevalentes, prevalência solitária de uma escala ou prevalência associada podendo
sugerir síndrome, é empiricamente definido a cada grupo de estudo.
Estatïstica:
114
estamos tratando com a interrelação complexa entre variáveis, nos leva a bandonar
a tentativa de uma relação direta entre uma variável dependente e uma variável
independente, buscando a construção de curvas de regressão logística, onde cada
uma das variáveis aparece com um peso, determinável mas não exclusivo na
construção da rede de determinações.
Formas de Exposição.
115
Parte II
Mulher e Trabalho
116
O projeto Saúde Mental & Trabalho, por aspirar a realização de pesquisa
aplicada, muitas vezes foi solicitado a observar o trabalho da mulher. Por sorte
contávamos com uma pesquisadora inciciante, com uma apacidade de trabalho
rara e uma perspicácia igualmente rara, falo (homenageio) de Izabel Cristina, a
qual conduziu com brilho e tenacidade a maior parte das pesquisas publicadas
aqui.
Se verá em cada um dos textos a tensão entre a produção e a reprodução na
vida da mulher contemporânea. Textos que iniciam uma discussão importante e
que esbarram na impossibilidade de esgotá-la.
Ao considerar a divisão de trabalho sexualmente definida, em uma história
antiga e que se arrastou até poucos anos atrás, é possível concluir que à mulher se
destinava os haveres da reprodução , dos filhos, do lar, do marido.
O que fazia a dona-de-casa, com o avental todo sujo de ovo, a rainha do
lar? Era responsável pelo cuidado. Ora, sabe-se que a conquista do mercado de
trabalho formal pela mulher se deu, prioritariamente, em profissões nas quais o
cuidado ainda comparece. Professoras, enfermeiras, recreacionistas em creches,
por exemplo, profissões que são consideradas preconceituosamente como
(femininas), de dedicam fundamentalmente ao cuidado.
Se o trabalho, como venho afirmando, é importante na configuração da
identidade, a divisão de trabalho homem-mulher na História deve ter tido um
papel importante na diferenciação psicológica entre o homem e a mulher,
compondo o que hoje é objeto de estudo de uma psicologia do gênero. Quaisquer
que sejam aquelas diferenças, deve ajudar uma compreensão mais aprofundada do
que é a atividade de cuidar.
O cuidado enquanto atividade é imediato: importa para quem cuidad a
necessidade do outro, independente da racionalidade que subjaz à quixa. Assim, a
mãe em relação com o pimpolho apresnde a adivinhar seus desejos, antecipar seus
pedidos, olho no olho, os psicanalistas sabem da dificuldade do pai, ou qualquer
outro, penetrar nesta relação simbiótica. Mal comparando, quando a enfermeira,
117
vestida com suas obrigações profissionais, se dedica a cuidar do enfermo, precisa,
por dever do ofício, aliviar seu sofrimento, compreender seus dramas. Se o
paciente sente dor é preciso intervir com um analgésico. Mas as comparações
param aqui. O uniforme branco é portador de outras obrigações: o paciente sente
dor, mas a prescrição médica impede o consumo do analgésico agora, e a
enfermera, o que fará: profissional doo cuidado deve antender à necessidade,
prócere da medicina, deve deixá-la bradar sem assistência?
É que, enquanto atividade, o trabalho é mediado, ou melhor, se define pelo
fato de que é portador de uma racionalidade externa aos sujeitos que estão
envolvidos nele, entre a necessidade do outro e a realização da tarefa se impõe
uma outra lógica.
A velha dona-de-casa, se sabe, carregava consigo os seus conflitos, e a
mulher engajada no meraco formal de trabalho?
– Ainda carrega o peso da herança histórica.
– Seu trabalho, nos casos que examinamos à frente, ainda traz o cuidado como
distinção, e com ele as marcas de qualquer trabalho, se definindo pelo salário,
pela função explicitada por outro, o cargo, o departamento de pessoal.
Esta seção abre com o artigo de Cristina Borsoi sobre a inserção histórica
do trabalho da mulher, servindo como introdução a alguns estudos de caso, onde
se avaliam profissões que, em sua esmagadora maioria, são exercidas por
mullheres.
Se verá, poucos são os anos que separam o arquétipo da “rainha do lar” da
mulher contemporânea, engajada irreversivelmente no mercado de trabalho. Pouco
tempo se as contas fossem feitas por um historiador, tempo suficiente para marcar
a personalidade das mulheres que trabalham no mercado formal, objeto de nossas
investigações.
Se verá, novos tempos, novas manifestações de doença mental.
Wanderley Codo
118
Estranho movimento, o feminista, aquele que teve o seu auge nas décadas
de 50 e 60. Em uma época em que poder-se-ia dividir o mundo em esquerda e
direita, defensores do capital os primeiros, do trabalho os segundos: a mesma
necessidade eclodia dos dois lados, o regime capitalista precisando da mulher
como força de trabalho, e as mulheres denunciando o trabalho doméstico como
opressor, repetitivo, escravizador. En passant, para quem está sobrevive como
"voyeur do trabalho alheio", como eu, raramente encontrei nas organizações um
trabalho mais variado e criativo, não rotineiro, do que o de preparar o mais frugal
almoço.
Pelo bem e pelo mal, pela ideologia da esquerda e/ou pelas necessidades do
capital, o fato é que as mulheres entraram massissamente no mercado de trabalho,
muitas vezes sendo convocadas a fazer o que a História lhes ensinara a fazer: o
cuidado.
O projeto saúde mental & trabalho, por aspirar a realização de pesquisa
aplicada, muitas vezes foi solicitado a observar o trabalho da mulher. Por sorte
contávamos com uma pesquisadora iniciante, com uma capacidade de trabalho
rara e uma perpicácia igualmente rara, falo (homenageio) de Isabel Cristina, a qual
conduziu com brilho e tenacidade a maior parte das pesquisas publicadas aqui.
Se verá em cada um dos textos a tensão entre a produção e a reprodução na
vida da mulher contemporânea. Textos que iniciam uma discussão importante e
que esbarram na impossibilidade de esgotá-la.
O cuidado enquanto atividade é imediato: importa para quem cuida a
necessidade do outro, independente da racionalidade que subjaz a queixa.
Enquanto atividade, o trabalho é mediado, entre a necessidade do outro e a
realização da tarefa se impõe uma outra lógica. Assim, o enfermo sente dor, mas a
prescrição médica impede o consumo do analgésico agora, e a enfermeira, o que
fará: profissional do cuidado deve atender à necessidade, prócere da medicina,
deve deixa-lá bradar sem assistência.
119
O quadro se parece com o de Anna O, a famosa paciente de Freud,
encalacrada entre a necessidade de cuidar do seu pai e a dor que deveria
manifestar. Freud, já se sabe, foi por outro caminho. No entanto, é pelo menos
intrigante notar que os resultados são identicos; histeria lá e aqui. Enfim, esta é
uma tentativa de abordar os problemas de saúde mental da mulher trabalhadora,
sem feminismo, mas com um profundo senso de justiça.
Wanderley Codo
120
Capítulo 6.
A SAÙDE DA MULHER
TRABALHADORA
121
Ser mulher trabalhadora implica em carregar problemas relativos ao
trabalho que necessariamente não são os mesmos enfrentados pelo trabalhador do
sexo masculino.
Uma questão que vem sendo discutida atualmente por muitos estudiosos é a
jornada de trabalho feminina, que começa em casa, continua na empresa e termina
(quando termina) novamente em casa. Isto é, a jornada de trabalho de uma mulher
assalariada normalmente se desdobra em duas ou mais, se estende além da fábrica,
do escritório, em função das tarefas domésticas, cuja realização é repetitiva e
indispensável.
122
fato de ser uma atividade desvalorizada socialmente, não ajudando, portanto, a
elevar a auto-estima da trabalhadora.
Essa atitude por parte das operárias é justificada com base no fato de que
não ocorre repartição ou remodelação dos papéis familiares. A vida familiar e a
vida no trabalho são vividas de forma inconciliável, manifestando-se então na
forma de conflito entre os papéis das trabalhadoras-mulheres-mães.
123
As operárias dão a impressão de que confundem o espaço de trabalho com
o espaço doméstico. Agem no ambiente de trabalho com se estivessem em suas
próprias casas. A esse respeito Pacifico afirma que:
"A persistência nos locais de trabalho do peso do lar, como elas costumam
dizer, é a manifestação de uma impossibilidade real, da parte delas, de separar
nelas próprias, os dois mundos que são o lar e o trabalho. A assimilação desses
dois mundos exprime-se, igualmente, por certos comportamentos externos como,
por exemplo, suas presenças nos locais de trabalho como uma atitude que pertence
mais ao mundo da dona-de-casa da operária" (l986, p. 159).
124
A jornada de trabalho é apenas um dos aspectos discutidos quando se trata
da saúde do trabalhador e, especialmente, da mulher trabalhadora.
125
envelhecimento precoce decorrente das longas jornadas na usina, que quase
sempre se estendem à vida doméstica. Afirma a autora:
126
além disso, algumas particularidades: menarca, gravidez, aleitamento e
menopausa.
127
Baetjer justifica essa diferença de absenteismo-doença entre os sexos com o
argumento de que as mulheres dão maior atenção às doenças de pequena
gravidade do que os homens, assumem o trabalho com menor seriedade do que os
homens e tendem a fazer duas atividades ao mesmo tempo, o trabalho na indústria
e as atividades domésticas, sofrendo interferências no repouso adequado.
Com base numa enquete realizada numa usina têxtil, na França, o autor
chega a conclusões relevantes.
128
depressão. No segundo caso, aparecem irritabilidade e distúrbios de conduta.
Sendo assim, a explicação parece estar fundamentada no fato de que as mulheres
casadas e com filhos dormem menos de seis horas por noite.
129
categoria de trabalhadoras, a análise de Le Guillant parece continuar valendo
também para a França.
130
apresentadas pelas telefonistas. Uma ressalva é feita à atitude dessas trabalhadoras
em relação à vida doméstica. Se antes eram preocupadas e ordeiras em se tratando
da própria casa, passaram a ser completamente desinteressadas.
Com base nos estudos de Begoin, o autor afirma que "o 'nervosismo' (um
dos elementos essenciais no quadro de sua neurose) é uma doença necessária, nas
condições atuais, para a realização de suas tarefas profissionais" (1987, p. 103).
131
Pensando sob este prisma, o quadro da saúde da mulher trabalhadora se
complica. É necessário considerar a jornada de trabalho de forma específica. Além
do que é preciso não desconsiderar a concepção dos instrumentos e equipamentos,
projetados, na maioria das vezes, de acordo com a estrutura morfo-fisiológica do
indivíduo do sexo masculino.
Aqui não vai uma crítica a Le Guillant e a Dejours por não considerarem a
categoria gênero, mesmo porque o objetivo de ambos os autores é claro: discutir a
relação entre trabalho e psicopatologia sem uma preocupação específica com o
fato de que a categoria é composta de mulheres.
Para estudar a psicodinâmica do trabalho e a relação que este possa ter com
a saúde mental de telefonistas, é preciso considerar não apenas o aspecto formal
do trabalho, mas também o que ocorre fora dele, afinal estamos tratando de uma
categoria específicamente de mulheres. Para tanto, foi necessário fazer um
levantamento, ainda que suscinto, da situação da saúde da mulher trabalhadora,
conhecer um pouco do que tem sido apontado como pano de fundo para os
problemas encontrados no trabalho e na vida familiar.
132
No caso das telefonistas, torna-se necessário inclusive um estudo cuidadoso
da jornada de trabalho, uma vez que elas se submetem a jornada em turnos
alternados, além de uma análise criteriosa do processo de trabalho.
CONCLUSÃO
Apesar dos avanços da nova Constituição há ainda muito que fazer para que
a mulher trabalhadora brasileira tenha seus direitos garantidos enquanto mulher e
enquanto trabalhadora.
133
Saúde no trabalho tem sido uma "bandeira" da classe trabalhadora no Brasil
e em todos os paises desenvolvidos ou em desenvolvimento, com a diferença de
que em alguns deles algumas conquistas nesse sentido já se concretizaram.
Essa conquista depende tanto das mulheres quanto dos homens que vendem
sua força de trabalho.
134
Capítulo 7.
135
educação estendeu-se à "toda a população", ficando sob a responsabilidade de
instituições públicas e/ou privadas.
A mão de obra feminina sempre foi utilizada pela produção capitalista, desde os
seus primórdios, tanto na manufatura como na indústria; todavia, uma boa parcela
de mulheres, especialmente as da pequena burguesia, não trabalhavam como
operárias. Durante as primeiras fases do capitalismo, ou eram simples donas de
casa, cuidando da reprodução da força de trabalho, ou exerciam atividades cujas
características assemelhavam-se às daquele papel, tais como cuidar de doentes - as
enfermeiras, ou cuidar de crianças pequenas - as professoras primárias.
136
professores eram, em sua maioria, do primeiro grau; do sexo feminino; casadas;
situavam-se, em geral, na faixa dos 30 aos 49 anos; eram readaptadas, quase
sempre, para a função de Auxiliar de Secretaria ou de Biblioteca; e que os motivos
que as levavam a mudar de função, ou seja, os problemas diagnosticados, eram,
em primeiro lugar, os distúrbios da voz (39,3%), vindo a seguir os transtornos
mentais -neuroses e psicoses (20,3%) e, em terceiro lugar, os problemas alérgicos
(18,9%).
As Escolas
137
ESCOLA-1: Estadual; Central; 90 anos desde a fundação; 1719 alunos; 62
professores em regência de classe, dos quais 28 trabalhando com 1a. a 4a. séries;
oferece ensino pré-escolar, primeiro grau menor e supletivo primeiro grau (1a. a
4a. etapas), atendendo em 4 turnos de 4 horas cada -manhã, intermediário, tarde e
noite.
Foram sujeitos desta pesquisa 104 professoras que lecionavam 1a. a 4a.
séries do primeiro grau (21 na escola-1, 35 na escola-2, 19 na escola-3, e 29 na
escola-4), as diretoras das escolas, as supervisoras escolares (quando havia), e um
diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Estado do Pará
(SINTEP).
138
A FIG pedia dados demográficos, bem como de identificação profissional e
funcional. A Entrevista com as diretoras e supervisoras, abordava basicamente
questões relativas à organização do trabalho e administração de recursos humanos.
A entrevista com a liderança sindical versava essencialmente sobre a história de
lutas dos professores, e suas principais reivindicações. Já a entrevista com as
professoras, tratava de condições e organização do trabalho, condições de vida e
moradia, participação sindical, representações sobre o trabalho, relações no
trabalho, e relação saúde-trabalho.
139
As diferenças entre escolas públicas estaduais e municipais parecem
encontrar-se nos salários e gratificações pagos, que nas escolas municipais
possuem um valor e um percentual mais elevados; nos critérios para progressão
funcional, que nas escolas estaduais são mais flexíveis; na programação e
implementação de reciclagens, que nas escolas municipais é anual, enquanto que
nas estaduais raramente acontece; no relacionamento com as diretoras, que nas
escolas municipais parecia ser mais democrático; e nas solicitações de licença-
saúde, que as estaduais referiram muitos casos por problemas mentais, enquanto as
municipais apontaram poucos, e por outros motivos.
As professoras
140
emprego, a esmagadora maioria possui apenas um emprego a mais, onde também
exerce a função de professora.
A análise dos dados da FIG, por organização, ou seja, por grupo de escolas,
estaduais e municipais, mostrou todavia alguma diferença em relação a número de
filhos, tempo de profissão e grau de instrução, além de uma enorme diferença
quanto a ter ou não ter outro emprego. Entre as professoras das escolas estaduais,
embora a maioria (44,6%) possua entre 1 a 2 filhos, há uma percentagem
expressiva (25%) delas que não têm filhos, e igual percentagem com 3 a 4 filhos.
Já entre as professoras das escolas municipais, o percentual das que não têm filhos
e das que têm entre 1 e 2 filhos é idêntico (41,7%), abrangendo a maioria. Quanto
ao tempo de profissão, embora os dois grupos revelassem uma maioria entre 11 a
20 anos de profissão (67,9% nas estaduais, e 66,7% nas municipais), há um dado
que vale ressaltar; enquanto nas escolas estaduais, o percentual de professoras com
mais de 20 anos de profissão corresponde a 12,5%, nas escolas municipais atinge
25%; por outro lado, o percentual de professoras com 10 anos ou menos de
profissão é maior nas escolas estaduais (19,6%) que nas escolas municipais
(6,2%). Em relação ao grau de instrução, embora a maioria, nos dois grupos, só
possua o segundo grau (64,3% nas estaduais e 43,7% nas municipais), nas escolas
municipais há um percentual significativo de professoras com estudos adicionais
(29,2%), bem como com curso superior (25%).
A grande diferença se deu entre possuir ou não outro emprego, além da escola
alvo. Coincidentemente, o mesmo percentual de professoras que não têm outro
emprego nas escolas estaduais, o têm nas escolas municipais (62,5%). Entre as que
têm outro emprego, nos dois grupos, embora a grande maioria possua apenas um a
mais, onde também exerce a função de professora, nas escolas municipais 23,3%
atua em outra função diversa da de professora, enquanto que nas escolas estaduais,
este percentual é de 9,5%.
141
Analisando-se os resultados do MMPI, por escola (ver Tabela 3), percebe-
se que a escola-1, que representa 20,6% dos casos estudados (escola-2 = 36,1%;
escola-3 = 16,5% e escola-4 = 26,8%) e efetivamente validados(5), foi a que
apresentou maior Prevalência de Suspeita de Sofrimento Psíquico (PSSP),
apontando um percentual de 40%, enquanto que nas outras escolas o PSSP foi de
20%, 6,3% e 26,9%, respectivamente para as escolas 2, 3, e 4. Foi também a
escola-1 que evidenciou maior grau de afetação nas escalas clínicas do MMPI.
Nas escalas que compõem a tétrade neurótica (Hs, Hy, D e Pt), por exemplo,
apresentou escores "t" elevados (60 ou acima) para 60% dos afetados (grupo de
"não-normais"), em todas elas. Nas escalas que integram a tétrade psicótica (Pa,
Ma, Sc e Si), o grupo de afetados mostrou escores "t" elevados para 60% em Pa e
50% em Sc. Nas escalas que formam a díade ideológica (PD e MF), exibiu escores
"t" elevados para 50% e 60% dos afetados, respectivamente. A elevação dos
escores "t", em quase todas as escalas, era quase sempre, em termos proporcionais,
mais a nível patológico do que a nível de border-line.
142
em cada uma delas, respectivamente. De modo análogo, não houve afetação
significativa para quaisquer das escalas integrantes da tétrade psicótica, mantendo-
se também a díade ideológica PD-MF, com igual porcentagem de afetados
(54,5%) em cada uma delas. Prosseguindo as comparações entre as escolas-2 e 4,
percebe-se que as diferenças existentes quanto aos resultados do MMPI
encontram-se no fato de a escola-4 apresentar um percentual maior de afetados em
Hs, enquanto que na escola-2 o maior percentual de afetados foi em PD. Outra
diferença importante, é que na escola-4, a elevação dos escores "t", em quase todas
as escalas, tendia proporcionalmente mais para o nível border-line do que para o
nível patológico, enquanto que na escola-2, ocorria exatamente o contrário. Vale
lembrar que a escola-2 é estadual, e a escola-4, municipal; mas ambas estão
localizadas na periferia da cidade.
143
apontando as escolas estaduais como bem mais afetadas que as municipais (ver
Tabela 4).
144
avaliando como mais "estressantes" aqueles que implicavam em imposição sobre
eles, e que eram usualmente de responsabilidade do diretor. O trabalho de nossas
professoras, apesar de não ser fragmentado como o de um operário que trabalha na
linha de montagem de uma fábrica, foge em muito ao seu controle, já que questões
fundamentais como a decisão do conteúdo a ser ensinado e do livro-texto a ser
adotado, por exemplo, são tomadas à sua revelia, restando-lhe tão somente
ratificá-las.
Alguns autores (RUSSEL et.al., 1987; LITT & TURK, 1985; ABBEY &
ESPOSITO, s.d.) encontraram forte correlação entre o grau de "stress" dos
professores e o montante de apoio social recebido de supervisores e/ou diretores,
e o estilo de liderança destes. Nossas professoras das escolas municipais, que
revelaram-se menos afetadas no MMPI, relataram relacionamento mais
democrático com suas diretoras do que as das escolas estaduais, por sua vez mais
afetadas.
145
estudo específico, encontrem suas determinações no modo como trabalha e como
tem seu trabalho explorado.
146
possibilidades reais de resolução dos problemas, pelo menos a médio prazo,
conduzindo assim ao sofrimento psíquico.
147
Capítulo 8.
ENFERMAGEM, TRABALHO E
CUIDADO
IZABEL CRISTINA FERREIRA BORSOI (1)
WANDERLEY CODO
148
primordial a caridade. As convulsões sociais deste período incorporam também as
prostitutas que buscavam a própria salvação e cuidar dos doentes tornou-se para
elas forma de expiação.
Pires (1989) vai afirmar que na Europa, até o início do séc. XIX, esse
trabalho não era reconhecido como ofício e sequer exigia treinamento específico
para sua realização. É a partir principalmente da Guerra da Criméia (1854) que
começa a tomar caráter profissional com Florence Nightingale, que serviu como
voluntária nos hospitais militares ingleses em pleno campo de guerra. Em 1860,
Nightingale, a pedido do governo, organiza a primeira escola de formação de
trabalhadores de enfermagem, já estabelecendo separação entre enfermeiras
administradoras e prestadoras de cuidados. No Brasil, o quadro não foi muito
diferente. A enfermagem como profissão também começa a ser organizada como
esforço de guerra durante o conflito com o Paraguai (1864) tendo o nome de Ana
Neri como expoente. Mas, é somente nas últimas décadas do séc. XIX que se
inicia o processo de instrução formal de enfermagem, inicialmente visando treinar
enfermeiras psiquiátricas.
149
especializando os trabalhadores em executores de funções específicas. Assim,
enquanto um trabalhador realiza cuidados básicos de alimentação e higiene do
paciente, p. ex., o outro se especializa em administrar medicamentos. Uma divisão
de trabalho semelhante a uma linha de montagem na qual quem circula é o
trabalhador. Dessa forma, os trabalhadores se transformam em força de trabalho a
ser objetivada e comprada de acordo com a demanda da função e, por decorrência,
o trabalho de cuidar adquire o caráter de mercadoria.
150
trabalho de cuidar e o que ela pode estruturar a nível do psiquismo de quem nela
está inserido?
151
A idade da população em questão pode ser observada nos seguintes
intervalos: > 30 anos - 40 sujeitos; 31-39 anos - 101 sujeitos; e > 40 anos - 58
sujeitos.
1o grau - 61 sujeitos
Univers.- 39 "
Cuidado e Histeria
152
como mais frequente em mulheres, o caráter eminentemente feminino da profissão
de enfermagem, o baixo percentual de homens na população investigada (13.5%) e
o fato de o sexo não ter marcado diferença na elevação da escala histeria, levamos
em conta aqui apenas as mulheres envolvidas na pesquisa.
153
Não encontramos na literatura revisada referências sobre influência da
idade no surgimento da histeria. Os casos relatados por Freud, em sua maioria, são
relativos a mulheres mais jovens. No nosso caso, os trabalhadores mais velhos,
como é de se esperar, são também os que têm mais tempo de trabalho no hospital.
O grupo que trabalha há 18 anos ou mais apresenta o maior índice de casos com
este perfil (35.7%)
É o turno diurno fixo mais uma vez que revela o maior índice de casos. Isto
contraria a literatura na medida em que esta vem apontando os turnos alternado e
noturno como mais prejudiciais à saúde. Para a nossa hipótese, este resultado faz
sentido na medida em que é no turno diurno que se concentram a maior parte dos
cuidados (banho, troca de lençóis dos leitos, alimentação, recepção de pacientes,
altas, maior frequência de verificação de sinais vitais e de administração de
medicamentos etc.) e também maior pressão sobre a realização das tarefas.
154
primeiro, a paciente dava assistência de enfermagem aos pobres e enfermos,
passando a ser enfermeira do próprio pai quando este cai doente. As crises de
histeria começam a aparecer a partir deste momento. No segundo, uma jovem mãe
se vê impossibilitada de amamentar o filho recém-nascido e só consegue fazê-lo
após, por hipnose, Freud tê-la induzido a responsabilizar também sua família pela
sua incompetência enquanto nutriz.
155
o domínio da histeria: fenômenos "pitiáticos", caracterizados por simulacros,
dramatizações, que podem ser reproduzidos pela sugestão ou persuasão.
156
O que a literatura tem apontado até hoje é que a histeria é um fenômeno por
demais complexo, caracterizando-se como uma neurose específica e ao mesmo
tempo apresentando alguns sintomas inespecíficos que invadem outros quadros
psicopatológicos. Sob o jargão da histeria, estão expressões fóbicas, de angústia,
de conversão, de defesa etc. Os estudos atuais não tem avançado em direção de
uma nova nosologia e/ou etiologia e, quando discutem aspectos teóricos do
fenômeno, se remetem a Freud (Bliss, 1988; Mac Millan, 1990). Na tentativa de
delimitar o quadro caótico em que se encontra a concepção de histeria, o CID-10
adota, no lugar de histeria, neurose de conversão e neurose dissociativa.
A histeria tem como base a angústia gerada por alguma forma de conflito.
Pode ser tomada como dramatização de sintomas, se expressando a nível de
reações musculares e expressões corporais difusas. Revela uma espécie de falência
ou fragilidade corporal frente conflitos geradores de angústia.
157
alimentando os pacientes, banhando-os, administrando medicação, ouvindo suas
queixas, confortando-os etc. Não importa se o paciente é adulto, ou criança,
homem ou mulher, se sua doença é visível ou não, se é contagiosa ou não, enfim, o
cuidado tem que ser prestado considerando as especificidades dos quadros
clínicos, mas não a aparência ou o caráter do paciente enquanto pessoa, o que
significa que não deve haver discriminação de espécie alguma. O paciente, seja ele
quem for, deve ser cuidado como alguém que busca alívio e/ou cura para seu
sofrimento. Para isso, o cuidado de enfermagem é revestido de técnicas específicas
que buscam facilitar a atividade e tornar a estadia do paciente num hospital menos
extensa e dolorosa, enfim, cabe à enfermagem a dedicação e o zelo pelo bem estar
físico e espiritual desse paciente durante sua permanência.
158
2- Os pacientes se instalam num hospital por tempo determinado, ora mais,
ora menos tempo, mas o fato é que sempre recebem algum tipo de alta.
Alguns pacientes retornam, outros nunca. A contradição agora pode ser entre
querer estabelecer vínculos afetivos e a impossibilidade de fazê-lo tendo em
vista o fantasma constante da perda. Uma enfermeira que lida com pacientes
oncológicos admite que seu trabalho "é uma experiência que proporciona
emoções alternadas de satisfação e angústia...é uma atividade desgastante
para o profissional de saúde, pois o envolvimento emocional é intenso".
Sobre o paciente que permanece maior tempo internado, uma Diretora de
Serviço afirma: "você acaba se ligando mais a ele, porque voce vê as
condições dele, fica sabendo se tem família se não tem etc, o pessoal se
envolve mais".
159
tidos como "únicos". A padronização rígida das técnicas uniformiza o
cuidado e de certa forma os pacientes. Menzies afirma que há uma "ética"
implícita de que os pacientes devam ser tratados de igual modo e que não há
doentes ou doenças que se individualizem e personifiquem (apud. Pitta,
1990).
O corpo do paciente não é apenas veículo que expressa morbidade, pode ser
também expressão da sexualidade que media simbolizações eróticas no paciente e
no trabalhador. O conflito que se instaura aqui é que as virtuais simbolizações
eróticas não podem assumir o plano da sexualidade explícita do trabalhador em
relação ao paciente, mas, ao mesmo tempo, a afetividade implícita à prática da
enfermagem não pode encarar o corpo com repulsa ou atração. P.ex, o simples ato
de banhar um paciente requer do profissional que genitálias sejam "deserotizadas",
ao mesmo tempo que virtuais traços repressivos do trabalhador não podem ser
traduzidos em "repulsa" pelo corpo do paciente. É Menzies que novamente afirma
que "O contato íntimo com os pacientes mobiliza fortes desejos e conteúdos
libidinosos e eróticos que podem ser difíceis de controlar" (apud. Pitta, 1990:62-
63)
160
As contradições apontadas até aqui parecem expressar uma lógica que o
trabalho de cuidar impõe. Esta lógica traz em si mecanismos de conflito e tensão
em torno da afetividade expressos em polos como posso/não posso, gosto/não
gosto, devo/não devo e que podem ser sintetizados na contradição
necessidade/impossibilidade de expressão de afeto. Esta tensão, quando não
resolvida, parece levar os trabalhadores de enfermagem a desenvolverem, a nível
psicológico, uma lógica histérica, embutida no trabalho que realizam e que
aparece no MMPI como histeria.
161
Capítulo 9.
TRABALHO E IDENTIDADE EM
TELEFONISTAS (6)
IZABEL CRISTINA FERREIRA BORSOI
6Estetema foi desenvolvido no Projeto Saúde Mental e Trabalho, sob a orientação do Dr.
Wanderley Codo e a participação de Alberto H.Hitomi, Antonio Alvaro Soares Zuin,
Rosa Virgínia Pantoni e Lúcia Helena Sorato.
162
No entanto há uma contradição que parece clara. Se mencionamos
indivíduo, como falar de igualdade, se indivíduo quer dizer único, singular, por
decorrência diferente?
163
como homem. Passa então a considerar Paulo - com pele, cabelos, em sua
materialidade paulina - a forma em que se manifesta o gênero humano."
Se o homem não se faz sozinho, mas pela relação com o outro, significa
dizer que ele é produto e produtor do processo de apropriação do outro.
Entendemos apropriação como atividade especificamente humana através da qual
o homem se descobre ao descobrir o mundo objetivo e subjetivo, fazendo-o seu.
Dessa forma podemos recorrer a Leontiev (1964): "Assim o desenvolvimento
espiritual, psíquico, dos indivíduos é o produto de um processo de apropriação,
que falta ao animal, tal como, aliás, o processo inverso de objetivação das suas
faculdades nos produtos objetivos de sua atividade."
164
A cadeira na qual sentamos, para trabalhar ou descansar por exemplo,
submete-se mais ou menos rigorosamente às formas do corpo e algumas vezes é
projetada com requintes ergonômicos. Significa dizer que ela não só é portadora
da história individual de quem a produziu, mas também da história de toda
humanidade, na medida em que, para alcançar esse estágio, foi preciso o trabalho
de muitos que viveram antes do produtor e de outros que compartilham sua
contemporaneidade. Como reporta Ciampa (l987), "A história é a progressiva e
contínua hominização do homem a partir do movimento em que este,
diferenciando-se do animal, produz suas condições de existência, produzindo-se a
si mesmo consequentemente."
165
A nível da Psicologia Social, categoria profissional expressa relação de
igualdade entre trabalhadores, ou seja, fornece elementos que permitem afirmar
que há semelhança tanto no processo de trabalho como na forma de consumo de
determinado grupo de trabalhadores. Sendo assim, a categoria profissional pode
estruturar e exprimir identidade individual e social.
166
As revoluções produtivas e as crescentes modificações nos processos de
trabalho, trazidas por elas, levam a um cotidiano redimensionamento da identidade
dos homens. O crescente remanejamento da força de trabalho determina a
construção de novas identidades que se justapõem e contradizem as anteriores. Os
novos lugares ocupados no mundo da produção determinam salários, prestígio
social, apreensão e destruição de saberes. A complexa interrelação desses fatores
determina como o indivíduo trabalha, consome e pensa. Se ganha mais dinheiro
pode comer algumas vezes em bons restaurantes e comprar roupas mais caras em
boutiques. A crescente expropriação do saber poderá expô-lo a níveis salariais
menores o que determinará um redimensionamento do agir social. Os restaurantes
serão substituidos pela lanchonete, as roupas caras pela grife popular num grande
magazine.
167
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua."
"Vemos nas telas de televisão coisas que se querem parecer com as mais
habituais e familiares e, entrementes, o contrabando de senhas, como a de
que todo estrangeiro é suspeito ou de que o êxito e a carreira são as
finalidades supremas da vida, já está dado por aceito e posto em prática
desembaraçadamente e para sempre."
168
saúde/doença mental. A pesquisa destacou a Seção de Comutação Manual
(Tráfego) porque nela se concentram as telefonistas responsáveis pelos serviços
que praticamente definem a finalidade da empresa.
- a história da empresa;
investigada (Tráfego);
169
3- 16 entrevistas com telefonistas do serviço de Interurbano (IU) e de Informações
(IF), realizadas a partir de roteiro semi-estruturado visando levantar dados sobre
os seguintes aspectos do trabalho das telefonistas:
- jornada de trabalho;
170
informatizado, acabam sendo informados todos os números solicitados pelos
clientes, exceto os que, a pedido de alguns assinantes, estão proibidos de sê-lo. O
processo de informação é efetuado através de terminais de computadores e de
fones. A telefonista, ao receber uma chamada, digita os dados fornecidos pelo
cliente e, após encontrar a informação solicitada, a transmite ao solicitante. Finda
essa sequência, inicia-se outra imediatamente, porque um novo cliente já ocupa a
sua linha.
171
respectivamente. Neste caso, as telefonistas são distribuidas por turnos e o número
delas varia de acordo com a demanda de produção.
172
1- "Lá (IF) é mais agitado, porque o sinal é contínuo. Você não pode isolar muito
(impedir que a ligação caia na mesa), só por necessidade. Tem sempre uma
monitora que está te ouvindo" (Entrev. 13);
2- "As monitoras ficam vigiando a gente. Na IF, elas entram na linha escondidinho
e ficam ouvindo a gente o tempo todo. A gente não sabe que elas estão ouvindo
você. Simplesmente entram na linha, você está conversando com o usuário, elas
ficam quietinhas pra pegar você. Se você pisa na bola, ela levanta de lá e te chama
a atenção" (Entrev. 4).
1- "É quando tem muito sinal chamando e você não pode fazer nada. Você está
atendendo ali, você tem um limite de atendimento. O máximo que você pode fazer
é mandar o cliente esperar, mas mesmo assim você vê aquele monte de sinal na
mesa e não pode fazer nada, você fica impotente" (Entrev. 9);
2- "O ritmo é tumultuado, porque se você fosse atender todo mundo, você ficaria
doida, mas não dá pra gente fazer porque cansa demais (...) Tem dia que a gente dá
vontade de pegar o aparelho e jogar longe e sumir dali, porque nem todo dia você
173
está com aquela disposição prá trabalhar, qualquer barulhinho está te irritando. (...)
Quando as monitoras estão por perto, pressionam pra aumentar o ritmo" (Entrev.
11);
4- "É apertadíssimo e é irritante porque a gente trabalha e não faz nada, não
produz praticamente nada, porque não há circuito vago, é horário de
congestionamento. Então às vezes você atende o mesmo cliente umas dez vezes
porque não completa. Acho que ele fica enjoado de 'ver' a gente. A gente fica
rezando prá ele falar, pra não atender ele mais" (Entrev. 2)
174
no trabalho está relacionada à satisfação do cliente. Para efeito de demonstração,
citaremos alguns depoimentos:
1- "É importante porque estou dando alguma coisa para as pessoas, estou
informando, estou servindo" (Entrev. 11);
2- "Não tenho condições de responder isso, porque não consigo ver isso" (Entrev.
12);
3- "Se você faz alguma coisa que agradou, eu gosto, fico satisfeita se satisfaz
alguém. Agora quando não consigo atender é chato, porque o cliente fica
aborrecido" (Entrev. 13);
5- "Prá mim não tem nenhuma (importância). Tem prá empresa (...) Prá mim? Eu
continuo a mesma coisa, meu salário é a mesma coisa. É a empresa que tem lucro"
(Entrev. 4)
1- "De noite não foi feito prá trabalhar não, foi feito pra você se divertir, passear.
Por isso aqui ninguém arruma namorado. Sábado, ao invés de você ir namorar, ir
numa festa, você tem que vir trabalhar. Só tem solteirona aqui" (Entrev. 4);
2- "O turno alternado é muito cansativo, seu organismo não acostuma. Você não
tem horário prá almoço, não tem horário prá jantar, não tem prá tomar banho, você
não tem horário prá nada. Você não consegue se organizar" (Entrev. 5);
175
3- Sobre o turno das 23:30h, "eu acho um dos piores. Eu fico doente se eu ficar
fazendo (trabalhando) à noite. Não consigo dormir de dia, fico tensa, prá mim não
dá (...) Quando faço, eu chego em casa coloco um pano bem escuro na janela prá
ver se eu consigo dormir. Se tiver um barulhinho sequer eu não durmo, fico
nervosa, fico com os nervos super abalados, perco a noção de tempo. Levanto lá
pelas quatorze horas, almoço, vejo televisão, tento dormir outra vez, às vezes saio,
mas é horrível" (Entrev. 7);
4- "Você não sabe se vai chegar viva ou morta, se vai ser estuprada ou cair num
bueiro, dependendo do horário. Isso é horrível" (Entrev. 16).
1- "Eu estou com problemas de nervos, mas estou fazendo tratamento. Toda vez
que eu venho trabalhar aqui eu fico me sentindo mal. Tenho dificuldade prá
dormir. Estou tomando um remédio prá relaxar porque eu estou muito tensa,
descontrolada emocionalmente" (Entrev. 4);
2- "Tenho dor de cabeça, dor nas pernas, um monte de coisas, insônia, dor nas
costas. Está ligado ao trabalho em si. Você tem que trabalhar de acordo com quem
está trabalhando. Tudo isso são coisas que você tem que está ligado numa hora só.
Acho que isso desgasta muito a mente. Acho que o trabalho mental cansa mais que
o trabalho físico" (Entrev. 8);
3- "Eu tive problemas de insônia depois que eu comecei a fazer de 19:00h até o
00:45, porque antes era esse horário. Eu fiz muito esse horário. Foi aí que voi
vindo a insônia" (Entrev. 1).
176
Do exposto até aqui, podemos destacar alguns aspectos relativos ao
trabalho da telefonista:
177
vem das chamadas domésticas, não é fruto do conflito amoroso de um casal
resolvido pelo telefone, nem das trocas de receitas de bolo entre donas de casa. Na
realidade a maior parte do faturamento é fruto da comunicação humana
transformada em mercadoria para realizar transações econômicas. Esse
faturamento começa com a comercialização do direito de uso de linhas telefônicas,
concomitante à venda de ações. O restante é captado a partir da ocupação de linha
propriamente dita. Dessa forma uma infinidade de circuitos eletrônicos são
mobilizados para que multinacionais transmitam comandos que determinarão a
tática para a distribuição de mercadorias em qualquer setor do país ou fora dele.
Executivos realizam extensas reuniões telefônicas para determinarem a estratégia
de marketing a ser seguida ou quais as novas necessidades de mercado. As linhas
de Fax são "oferecidas" por verdadeiras fortunas. Os modens interligam extensos
sistemas informatizados. Esse contexto econômico é extremamente complexo,
pode expressar-se no mais singelo diálogo, passando pela transmissão de áudio de
uma partida de futebol até às disputas das redes de televisão pelas informações,
via satélite, sobre os acontecimentos de uma guerra.
178
necessidade sua, falar com alguém à distância, mas possui valor de uso portador
de valor para a empresa de telecomunicações porque se converte em lucro. Aqui a
telefonista assume o lugar de agente mediador na transferência de capital do
mercado para a empresa.
179
serviço de IF um número de telefone é porque vai efetuar a chamada, portanto vai
pagar pela ocupação do sistema telefônico. E a telefonista onde fica? Mais uma
vez intermediária da captação financeira, mas agora intermediária indireta e quase
invisível. Seu trabalho não aparece como produtor de mercadoria, mas como
"cartão de visita" da empresa, dá margem a afirmações como: "Na IF, eu acho
aquilo ali uma perda de tempo, às vezes uma perda de dinheiro. A gente trabalha
de graça" (Entrev. 2).
180
como no IU onde os números são mais definidos e é possível saber quantos
clientes atendeu e quantos deixou de fazê-lo - o resultado serve como advertência.
Uma telefonista quando perguntada sobre formas de controle de produtividade
reporta o seguinte:
"Eles sabem qual a sua posição, quantas ligações você fêz, sua capacidade, o
computador mostra tudo. Têm as monitoras também que te fiscalizam,
principalmente na IF, lá é mais rigoroso. No IU tem a estatística que passa de hora
em hora pra você saber quantos assinantes você atendeu. Na IF fiscalizam sem
você saber, elas ficam no sigilo" (Entrev. 13).
181
exigências de gentileza com o cliente sem entretanto encorajá-lo a permanecer na
linha além do estritamente necessário. A função da linguagem nesse contexto é
econômica, sendo também um dos mediadores da captação financeira.
182
os clientes, a telefonista deve racionalizar o tempo de atendimento adotando
expressões calculadas e pouco afetivas. Ora, aqui se faz presente a contradição
racionalidade-afetividade. A telefonista deve estruturar, ao menos no trabalho,
identidade contraditória, ora trazendo o que aprendeu desde a infância, ora
repondo o que aprendeu no trabalho. Sente-se satisfeita se o cliente se sentiu
satisfeito com o trabalho que prestou. Atende com delicadeza o cliente que lhe
cumprimentou com um sonoro "bom dia" ou "boa noite". Demonstra agressividade
na voz se do outro lado da linha a voz é autoritária. Sente-se gratificada quando
pode auxiliar um cliente que lhe relata um infortúnio antes de lhe pedir uma
informação ou uma chamada a cobrar, porém não pode ser confidente porque não
é essa a sua função e o tempo corre. Age como a empresa pede e a supervisora
cobra. Trabalha no ritmo do equipamento e da demanda e, quando termina a
jornada, continua agindo como se precisasse correr sob a urgência do tempo como
demonstra um dos depoimentos:
"É horrível, se eu vou na sala do meu chefe eu converso em dois segundos, tudo é
rapidíssimo, urgente, correndo, voando. Aí é a paranóia que voce tem. Chega no
final voce tá cansada, doida. Voce adquire isso no serviço 102 (IF). Esperar um
ônibus? Esperar um ônibus você morre, você precisa ver. Eu acho que se gravar
ou filmar o que passa na sua cabeça quando você está esperando qualquer coisa,
você morre. Deve ser uma coisa horrível, você gravar aquilo que você faz. Você
pega uma paranóia total, é tudo rápido, rápido, falo rápido, tem coisa que ninguém
entende o que eu falo. Horrível...isso tudo depois do sistema (informatizado), eu
não tenho nem dúvida. Tudo tem que ser voando, todo mundo que trabalha lá é
assim. Quando você está num lugar que depende dos outros aí você se aborrece"
(Entrev. 16).
183
pelo significado realizador que ele possa ter, mas porque a escala de turnos a
obriga a cronometrar e delimitar as atividades extra-empresa.
Conclusão
184
mesmo fora do trabalho. Isso pode ser notado quando dentro do próprio processo
de trabalho busca formas alternativas de atendimento, mudança de turnos na escala
ou mesmo arriscar a possibilidade de escamotear o controle das monitoras
torcendo para que as mesmas não estejam na escuta do seu terminal.
185
Capítulo 10.
RELAÇÕES CRECHE-FAMíLIA
WANDERLEY CODO
Estas notas visam contribuir para a discussão do locus que a creche ocupa
em nossa estrutura social, partindo de um pressuposto singelo: se quisermos
compreender os problemas que se apresentam nas creches, devemos nos perguntar
que demanda concreta atendem; que tensões são geradas na relação com a
instituição família; qual a inserção social obtida.
186
heterogeneidade ou homogeneidade das demandas? Nosso objeto é mais singelo.
Trata-se de revelar uma questão anterior: que mudanças no conjunto da sociedade
impuseram as creches ao tecido social urbano?
187
prole, bastante susceptível aos julgamentos morais, arrimo afetivo da sociedade,
afeita a tarefas repetitivas e privadas, sensível, recatada, enfim, culpável. Paralela
e complementarmente foi se desenvolvendo o estereótipo masculino. Nada disto
representa mera "ideologia" ou preconceito social sobre homem e mulher, mas, e
principalmente, exigência da divisão de trabalho que a sociedade engendrou.
Como um trabalhador da construção civil deve ter músculos fortes, ou não
sobrevive, também a mulher deveria levar em conta primeiramente o afeto pelos
filhos ou não sobreviveria.
Há mais ou menos três mil anos a divisão de trabalho entre os sexos foi
esta. Mas, somente no capitalismo, esta divisão veio propiciar verdadeira batalha
campal, autêntica guerra civil. Ao inaugurar o reinado masculino (o produtor de
mercadorias); ao inventar o indivíduo livre; ao destacar a demanda feminina pela
cidadania, como se vê no movimento sufragista dos Estados Unidos, no
movimento feminista dos anos 60, empurrados e empurrando uma nova divisão de
trabalho produzida pela entrada maciça da mulher no mercado de trabalho e
produzindo a ideologia de igualdade entre os sexos.
188
A velha estrutura familiar entrou em um verdadeiro caleidoscópio onde é
possível encontrar qualquer coisa, menos um modelo definido. Aumenta o número
de separações, crescem as cohabitações, uniões sem casamento, ou famílias
agregadas, pais separados que voltam a se reunirem. A virgindade deixa de ser um
valor inquestionável. A sexualidade antes do casamento passa a ser prática
aceitável.
189
intermedeia autêntico tiroteio afetivo. Do ponto de vista psicológico, a
escrivaninha do advogado cumpre o papel de permitir que se exponha o até agora
implícito, a luta pelo que até hoje só se sofreu.
Declinemos com mais vagar esta questão. Existem duas famílias em luta de
vida e morte convivendo hoje dentro de cada família.
190
aliando-se com eles enquanto trabalhadores iguais nas tarefas e na posição de
oprimidos.
Se o nosso objeto de estudo não fosse a família e sim cada mulher concreta,
veríamos os dois ideais de mulher em conflito dentro de sua subjetividade, guerra
civil interiorizada. Culpa nascendo da luta contra a culpa. Corpo e atenção na
fábrica, mas o coração na creche. Aliviada pelo que a creche representa de
possibilidades para o novo papel e morrendo de medo de perder o afeto para a
instituição creche, experenciada de modo paranóide, como mãe sem rosto,
madrasta dos velhos contos de terror.
191
Agora é o momento de perguntar: Com quais problemas a creche convive?
Que relações eles estabelecem com o quadro esboçado acima?
192
as fraldas, alguém cravando fita crepe nas fraldas, um último alguém inserindo
mamadeiras na boca de uma estridente e voraz esteira de carnes rosadas e
lágrimas.
193
era tão ou mais insistente. Após as férias, mãe e funcionária retornam cada uma
delas com uma lembracinha para a outra, devidamente acompanhada de troca de
elogios. Passadas três semanas, retorna o mesmo quadro, reclamações mútuas,cada
vez mais irritadas.
A creche aparece hoje, e não poderia ser de outra forma,como uma síntese
mágica entre o amor e o ódio. O depositário dos conflitos não ditos, que sempre
povoou o universo familiar. O palco privilegiado do combate moral com o qual
194
convivemos desde a proibição do incesto. Se ela é a herdeira da nova família, a
viabilizadora da nova mulher, a possibilidade de garantia da sobrevivência, da
reprodução material e espiritual, fatalmente se transformará no desaguadouro
institucional de todos os conflitos que sublinhavam até ontem a estrutura familiar.
Aquela família, onde o pai era a força e a mãe o afeto, onde o pai era a
brutalidade da vida e a mãe a doce fantasia, onde o pai era a autoridade da
produção e a mãe o encanto da ternura, aquela família desapareceu.
195
Capítulo 11.
HISTERIA EM CRECHES
WANDERLEY CODO
196
de TNC (trabalhadoras "não creche"), com idade variando de 22 a 43 anos (média
= 30.3) tendo as mesmas garantias institucionais e salários similares àqueles do
grupo TC.
As recreacionistas
1. Condições Sócio ecônomicas
197
estabilidade no emprêgo, o que é incomum no Brasil. Em certo sentido tratam-se
de trabalhadores privilegiados, levando-se em conta a realidade brasileira.
3. Função
198
mães deveriam fazer alguns dos cuidados que elas realizam (sobre esta
ambiguidade, vide artigo anterior)
199
pelas escalas clínicas, nos levaram a apresentar os percentuais de sujeitos que
mostraram T score maior ou igual a 60 em cada escala clínica (vide tabela 2).
Assim Chama a atenção a alta prevalência de Histeria no grupo TC quando
confrontado com TNC (31.7% para TC e 8.7% para TNC), outro dado que chama
a tenção é o percentual obtido para HS em TC (21.0%) quando comparado a TNC
(8.7%). As maiores porcentagens obtidas para NTC encontram-se em torno de
21.0% (Escalas "MF" e "MA"). Comparações pelo X2 revelaram diferença
significativa apenas para a escala "HY" em TC ( p=0.05).
PREVALÊNCIA (%)
TNC TC
HS 8.7 21.0
D 4.3 5.3
HY 8.7 31.6
PD 8.7 10.5
MF 21.7 10.5
PA 17.4 5.3
PT 4.3 0
SC 8.71 5.8
MA 21.7 5.3
SI 13.0 10.5
200
diferenças em HS (Hipocondria), poderiam ser atribuídas à contaminação já
detectada entre as escalas HS e HY (Graham, J.R. 1987).
RECREACIONISTAS
É possível dizer que o objeto afetivo desta mãe era portador de uma
contradição: amava muito seu filho, seu filho precisava dela para alimentar-se, no
entanto não podia alimentar seu filho.
201
aquisição seria, de outro modo, proibida. Ela pode tornar possível um 'escape' de
uma situação intolerável; pode fornecer os recursos para uma exoneração de si
mesma, uma desculpa para as próprias fraquezas, serve como expediente para
obter a atenção ou possibilita à pessoa fugir de algum dever, evitar uma
responsabilidade, expressar algum despeito ou rancor ou realizar algum propósito
que não seria suportado num exame de consciência." (p. 396)
202
As recreacionistas precisam parecer com as mães e não podem. Precisam
também e em igual proporção, ter uma relação "fria", profissional e também não
podem. Sem outras formas de expressão deste conflito, sua única alternativa é a de
desenvolver uma "quase-histeria", lido pelo MMPI como uma manifestação
"borderline" ou uma "tendência histérica".
203
deslocamento das frustações afetivas que tinham lugar a cada vez que as mães
viessem retirar as crianças no final do dia.
204
Isto não significa que devamos abrir mão da necessidade de generalização,
apenas buscar outras maneiras de atingi-la, neste caso comparando este estudo de
caso com todas as suas particularidades com outros desenvolvidos alhures. Até o
momento não os encontramos, resta esperar que este estudo permita que outros
semelhantes, em outros países e instituições possam ocorrer.
205
PARTE III
206
Esta terceira e última parte do livro reune pesquisas sobre Saúde Mental &
Trabalho, realizadas pelo projeto SM&T, direta ou indiretamente sobre minha
coordenação, evidentemente cada um dos estudos e/ou categorias profissionais
abordadas tem razão por si só de comparecem neste trabalho. No entanto há
também outras razões que talvez valesse a pena apontar:
207
quem já tenha estudado o assunto no meio sindical, mas não faltam dirigentes dos
trabalhadores que ainda se baseiam na velha equação salário/risco de acidentes no
trabalho, e que naturalmente se encontram desarmados exatamente quando as
condições de trabalho melhoram um pouco.
Ainda há outra razão para que estes estudos venham a compor um livro, e
redigidos desta forma, com um rigor que por vezes parecerá cansativo ao leitor: É
que de médico, louco e analista de saúde mental no trabalho cada um tem um
pouco.
208
Nestes vários anos em que me didico ao tema, sempre que vou ministrar
uma aula, conferência ou asssemelhados, cada debate que se trava, nos congressos
ou nas esquinas, sempre alguém tem hipóteses, quiçá convicções de porque este ou
quele trabalho ocasiona sofrimento. No entanto, quão diferente é o quadro, quando
alguém tenta estudar o assunto com o rigor que ele merece.
Por ora. o que quero destacar neste esforço, na minha opinião bem
sucedido, é que as relações entre SM&T são muito mais difíceis de detectar do
que se poderia imaginar. Não podemos ainda ter certeza de que nossos resultados
se relacionam, e como se relacionam com o trabalho propriamente dito.
Não poderia ser diferente, o trabalho é o modo de ser do Homem, como tal
invade e se permeia com todos os níveis de sua atividade, seus afetos, sua
consciência, torna o problema díficil de pesquisar, porque permite que os sintomas
se escondam por todos os lugares: Quem garante que os desafetos familiares, o
chute no cachorro ao retornar à casa, não se deve a razões de ordem profissional?
Por ser onipresente, o trabalho e seus efeitos são díficeis de detectar.
209
mais abrangente; é muito difícil reconstruir os nexos indivíduo- sociedade,
particularmente quando falamos de sofrimento psíquico, que por definição se
esconde, do portador e do outro.
Wanderley Codo
210
Capítulo 12.
211
- A empresa realizou processo de substituição de tecnologia tradicional por
tecnologia moderna, considerada de ponta, apresentando dois nítidos momentos de
mudança: Anos 50 (Plano de Metas) e Anos 70 (Proalcool)
A POPULAÇÃO
212
seria impeditivo do uso do inventário psicológico. b) Nos setores agrícolas o
processo de trabalho obrigaria a intervenções fora da jornada de trabalho e a uma
equipe de pesquisadores muito grande. c) O setor industrial apresenta rotatividade
baixa e inclui parte de operação e parte de manutenção, permitindo constituição de
grupos-comparação.
Todos estes trabalhadores são homens. A idade média geral é de 32.5 anos.
As modas de idade diferem: para DOI e DMM = 33 anos, para DME e DCQ = 21
anos. Também quanto à amplitude de variação há nítida diferença: para DOI e
DMM = 41 anos, para DME e DCQ = 19 anos. Estas medidas de idade
acompanham linearmente, em relação diretamente proporcional, as medidas de
tempo de profissão e tempo de empresa.
213
onde há variação sazonal e o investimento tecnológico ainda não permite mínimo
estável de trabalhadores, seja safra ou não.
PERFIL DE PRODUÇÃO:
Histórico.
214
sua rotina uma redução no nº de manutenções, por exemplo. Sua principal
preocupação produtiva parece centrar-se nos subprodutos (energia elétrica,
bagaço, acetato etc), pois os produtos básicos, com valor agregado muito grande,
não podem deixar de ser produzidos.
215
Em qualquer dos casos, as especificidades dos produtos são dadas
independentemente do produtor, portanto são commodities.
Início e fim de safra são dados por decisão que alia considerações
meteorológicas (regime de chuvas), organizacionais (estado da manutenção),
econômicas (otimização da sacarose na cana, recursos financeiros disponíveis,
pressão dos compradores) e políticos (política federal de abastecimento). A
margem de decisão é pequena, dado o ritmo de crescimento da cana e o regime de
chuvas.
216
normais, podendo chegar a variação de 20%. O sistema de pagamento ocasiona
dificuldades na negociação, pois o teor é relativo, mas a contagem é absoluta. No
início da safra o teor é sempre mais baixo, então o fornecedor tende a retardar a
entrega da cana, prejudicando a moagem.
Custos e Lucro
217
O custo da cana é de 8 a 12 dólares por tonelada, 20 a 30 toneladas de
faturamento e 2.0 a 2.5 de agregação de valor. O capital fixo é de 40 a 50 milhões
de dólares. Cerca de 40% do faturamento vai para impostos, no caso do açúcar. O
item Pessoal consome de 20 a 25% do faturamento, a compra de cana consome 25
a 30 % e os impostos consomem 20 a 30 %.
Salários
218
70%) e oferecendo condições mais favoráveis que as obtidas pelos trabalhadores
na data-base anterior.
Indicadores: Admissão - 95% do efetivo está sendo admitido por baixo, nos
graus 1 e 2. Promoções - Em alguns meses tem havido até 15 promoções de um
grau salarial a outro. Tempo médio de permanência - 7 a 8 anos. Rotatividade -
15% ao ano.
Jornada de Trabalho
219
A jornada de trabalho na DI é diferente na safra e na entre-safra. Na safra, a
usina funciona durante 24 horas por dia e existem 4 turnos diferentes, sendo um o
horário administrativo (fixo das 07:30 às 17:30 h) e três turnos - A, B e C - que
compõem dois tipos fixos de revezamento, AB e BC. Os horários A, B e C são
respectivamente: 05:40 às 14:00; 13:40 às 22:00; 21:40 às 06:00.
Sindicalização
220
empresa (financiamento para remédios, material de construção, transporte,
refeição etc).
221
condições ambientais e manutenção da segurança, dispõe de equipamentos de
medição, como explosímetro, decibelímetro, luxímetro e termômetro.
222
Não há política de segurança planejada, normalizada e manualizada. A
SHST só é cobrada em caso de grande prejuizo. Esse ponto parece indicar que a
questão da segurança interessa à empresa quando está envolvido o patrimônio,
ficando para segundo plano a segurança da força de trabalho.
O exame demissional tem por objetivo garantir que o trabalhador não esteja
saindo com saúde inferior à que entrou na empresa. Somente é dada autorização,
pelo médico do trabalho, para demissão de trabalhador que esteja com as mesmas
condições de saúde da admissão.
223
queimaduras (água fervente) e cargas suspensas na Moenda; a suspensão de açúcar
e queda de pesos no Salão de Açúcar; a possibilidade de perder dedos ou até a
mão em bombas, esteiras e prensas; dermatoses por descamação (corrosão);
intoxicações (benzeno); e, de modo geral, o aparecimento de corpo estranho no
olho e no trato respiratório ou cortes e quedas provocados pelos pisos
escorregadios de tela trançada.
224
açúcar e álcool. As soluções acabam sendo sempre rotineiras e recaindo sobre o
uso de equipamentos de proteção individual. Há desconhecimento e coação se
aliando para a permanência desta situação. A prática da CIPA parece oscilar entre
extremos, indo da fiscalização autoritária, nos inícios do mandato, à existência
puramente formal, nos fins de mandato.
PERFIL DE FUNÇÕES:
225
mecânico e soldador ou são lubrificadores ou pintores, que não têm carreira
específica. As carreiras são compostas por meio oficial e oficiais I, II e III.
O torneiro III sabe desenhar, tem o controle das medidas para o mecânico.
Torneiro incorpora a tarefa de mecânico. É fácil para o torneiro ser mecânico, mas
não a recíproca. Os torneiros ficam com Bip, de sobreaviso, nos plantões de fim
de semana.
226
Pintor também não tem carreira particular e há dois pintores. Quando não
há pintura para fazer, ou por pressão da demanda de serviços, os pintores são
incorporados aos auxiliares de caldeiraria ou de mecânica.
Não existe dia igual ao outro pois a rotina depende dos problemas que
surgem a cada dia. Em condições normais, na tarde do dia anterior, o encarregado
faz a distribuição das tarefas do setor. A prioridade dos serviços a serem
executados é dada pelo tamanho do prejuizo possível por parada da produção.
227
Na safra o DEM funciona 24 horas por dia, em 4 turnos, todos os dias da
semana. Trabalham 20 homens, 8 na operação de cabine de força e 12 na
manutenção propriamente dita. Neste período, trabalha-se mais nas urgências da
produção. Quando acontece, por exemplo, a queima de um motor ou de um painel
de comando na Destilaria, a ação tem que ser imediata. Quando possível, as tarefas
do dia são programadas a partir dos relatórios feitos durante o turno da noite, pelo
eletricista, pelo encarregado da Seção de Produção de Açúcar e pelo encarregado
da Geração de Energia.
Para o chefe do DME, a equipe está no tamanho certo, sem excesso mas
com certa tensão. O que tem resolvido é a experiência, pois enquanto há
228
auxiliares com apenas dois meses de casa, a média de tempo de serviço a partir da
função de oficial está por volta dos 8 anos.
A) Laboratório de Cana
229
Auxiliar de Laboratório: recebe, pesa, prensa, pesa e entrega. Pesa cada
amostra para deixá-la no peso padrão de 500 gr. Os excessos são desprezados. A
amostra padrão é prensada numa prensa hidráulica, visando extração de caldo a ser
enviado ao analista e pesagem do bolo úmido resultante da prensagem. O peso do
bolo úmido é anotado no boletim de análise a ser enviado, junto com o caldo, ao
analista. O tamanho do bolo úmido é indicador da qualidade da cana (maior peso =
maior fibra = menor qualidade = menor ágio). Depois o bolo úmido é desprezado.
Analista: recebe o caldo. Separa parte para ser clarificada com Subacetato
de chumbo, daí então submete o material à leitura sacarimétrica. Separa parte não
clarificada para determinação de sólidos totais. Os dados são registrados no
Boletim de Análise que é encaminhado ao encarregado do laboratório. O
encarregado confere e o encaminha ao CPD.
B) Laboratório de Açúcar
230
Analista: recebe as amostras e os dados prévios, estabelece procedimentos
de análise visando classificar o açúcar em Superior, Especial e Standard. O
analista também procede à qualificação de todos os insumos industriais. Os dados
finais são transcritos num boletim de análise emitido a cada 24 horas.
Auxiliar de laboratório para água: Realiza coleta e análise das águas das
caldeiras. Prepara as substâncias para o teste das águas. Colhe amostra de água na
saída das caldeiras, duas vezes por dia. Cada procedimento de análise dura por
volta de duas horas. De hora em hora é feito um preteste, com amostra retirada na
entrada da caldeira. Tem cargo de auxiliar, mas realiza coleta e análise.
Encaminha resultados para a Seção de Caldeiras.
C) Laboratório de Alcool
231
qualidade da levedura e a existência de bactérias contaminantes. Destes estudos
saem relatórios que indicam os melhores insumos para fermentação.
A) Seção Moenda
É onde se extrai a sacarose da cana. Entra cana, sai caldo e bagaço. Antes
bagaço era um problema, porque era lixo, mas hoje o seu uso vem sendo objeto de
programa especial de pesquisa. Dos 23 trabalhadores, 11 são auxiliares e 12 se
dividem pelas carreiras de:
B) Seção Utilidades
232
Operador de caldeira (um por turma): Lê pressão, realiza as anotações e
controla o painel da caldeira.
Turbineiro (dois por turma): Operação das centrífugas que separam cristal
de açúcar dos méis. Na centrífuga, tudo é automático, tipo batelada (descontínuo).
O turbineiro vigia este processo automático descontínuo.
233
D) Seção Produção de Alcool
234
manual o carregamento, lavagem e descarregamento da cana, necessitando de
força física e exposição a vapor quente. Com aquisição de turbina centrífuga, o
trabalho que antes era feito por quatro pessoas, hoje é feito por uma, e sem esforço
físico e exposição ao calor. O trabalho necessário é basicamente de supervisão e
controle.
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO:
235
Foi utilizada a forma de aplicação coletiva do CEPA. Os grupos de
aplicação foram formados por seis pessoas e realizadas duas sessões diárias, uma
pela manhã e outra pela tarde, totalizando 29 sessões. A ausência de 11 ocorreu
por desinformação, desinteresse ou dificuldade para deixar o posto de trabalho.
Estes 11, mais os 27 da baixa escolaridade, correspondem a uma perda de 19.1%
frente à PE.
No
K 11 14.1
L 30 38.4
F 08 10.3
? 02 02.6
236
LK 18 23.1
. 09 11.5
78 100,0
ESCALAS N.º %
K 11 14.1
L 30 38.4
F 08 10.3
? 02 02.6
LK 18 02.6
outr.assoc. 09 11.5
TOTAL 78 100.0
237
DOI 55,0c. 45,0 100,0
238
Do total de inventários respondidos 32.9% apresentaram TR maior ou igual
a quatro. Entre os 48.4% invalidados pelo critério canônico e os 32.9%
invalidados por randomização, existe uma intersecção de 15 questionários.
Levando em consideração os resultados obtidos, optou-se por excluir das análises
posteriores apenas os inventários duplamente invalidados.
CLASS N R P TOTAL
NUM 97 15 34 146
239
subgrupo Não Normal (NN), constituído pela soma de R e P? Uma pergunta
possível então é a seguinte: quantas e quais as escalas afetadas em número igual
ou maior que 20.0% dos sujeitos da população de validados efetivos?
ESCALAS COMPR.S/PIVE(%)
PA (Paranóia) 23,3
HS (Hiponcodria) 21,2
HY (Histeria) 19,4
SC (Esquizofrenia) 11,7
MA (Mania) 11,6
240
Procedendo a análise em separado do DOI, observa-se a exacerbação de
todas as proporções e intensidades, polarizando com DCQ: invalidação,
andomização, intersecção invalidados/randomizados, suspeita de sofrimento
psíquico, número de escalas acima do cut off (quatro escalas ultrapassam 60% dos
sujeitos não normais do DOI - Pa, Hs, Hy, Pd) e intensidade dos
comprometimentos.
241
Capítulo 13.
CLEIDE CARNEIRO
242
1978; Leontiev, 1978; Politzer, 1965; Rey, 1989; Séve, 1979) que considera o
trabalho como principal atividade humana, de natureza complexa e contraditória,
para estabelecer o lugar que ocupa na rede hierarquizada de determinações do
processo saúde/doença mental.
243
Após 10 semanas de avaliação de casos novos (média de 3/semana), o caso
estudado aqui foi identificado e escolhido. Após 07 de um total de 12 consultas
psiquiátricas foi solicitada sua colaboração a pesquisa e, após a aceitação, foi
encaminhada ao Serviço Social para aplicação da Entrevista de Aprofundamento
Clínico e Representação do Trabalho (EART), instrumento criado e testado pelo
PSM&T.
O Caso clínico
244
mínimos vigentes (8). Recebe pensão para os filhos, do ex-marido, em valor
equivalente a 1/2 salário mínimo vigente. Pai vivo, 62 anos, bagageiro aposentado.
Mãe viva, 60 anos, do lar. É primogênita e única mulher, numa irmandade de 3.
Reside em casa própria dos pais, de 5 cômodos, com eles e os próprios filhos (6
moradores). É católica, não praticante. Não é filiada a partido político, clubes,
associações comunitárias e sindicato. Não revela ter qualquer hobby. Além do
INSS, previdência pública compulsória, contribui para cooperativa privada de
atenção médica, a UNIMED.
245
como expressão do desgaste sofrido num determinado modo de viver e produzir as
próprias condições de existência.
DISCURSO
Representação de si mesma:
Não dou muita importância a aparência: não me pinto, não gosto de enfeite,
brincos, colares, estas coisas. Não me acho inteligente, tenho dificuldade de
aprender coisas novas. Minha vida de namoro e casamento foi uma vida infeliz.
Não sinto nenhuma necessidade de sexo, o único homem que tive foi meu marido
e deu no que deu... acho sexo uma bagunça. Alguma felicidade eu tive antes do
trabalho e de me casar, depois, só dificuldade9. Há uns dois anos que, realmente,
sinto que estou cansada de viver. Meu casamento fracassou e o trabalho é difícil,
são muito exigentes sem oferecerem condições.
246
2. O destaque em negrito de palavras e frases é de responsabilidade dos autores,
visando arrolar os principais elementos utilizados na Discussão.
Eu me acho até uma pessoa saudável, para ter vivido tudo o que vivi. Penso
que saúde é ausência de dor e capacidade de ficar em pé, trabalhando. Penso
que prazer seria viver sem nervosismo. Meu apetite é razoável, dá pra passar, mas
quando estou nervosa só consigo tomar café.
Representação da família:
Sou muito dependente de minha família. Meu pai, minha mãe... ai de mim
se não gostasse deles. Mas tem problema. Minha mãe sempre foi muito distante.
Ela funcionava como uma fiscal: fazia as coisas da casa e observava a gente,
quando papai chegava ela contava tudo para ele decidir se merecia ou não ter
castigo, e que tipo de castigo. Minha mãe é mulher seca, nervosa, eu aprendi o
jeito mas não acho certo. Ajudei a criar os meus irmãos e eles acabavam confiando
em mim. Quer dizer, eu já tinha responsabilidade de mãe antes de ser mãe.
Mas não tenho grandes reclamações da minha infância: uma coisa é certa, além da
bagunça costumeira nunca houve perturbação de bêbado lá em casa, antes do
marido.
247
Adoro meus filhos, mas não tenho paciência. Grito muito, reclamo muito.
O pouco tempo que eu estou com eles acaba sendo de briga e reclamação. Meu pai
tem os defeitos dele mas nunca foi alcoólatra, cachaça é algo que eu não posso
suportar, não suportei a de meu marido. ële não bebia quando nos casamos. Era
mecânico da indústria onde trabalho, depois de 14 anos largou para trabalhar por
conta própria.
Não aprovo o que vejo as pessoas falarem e fazerem sobre sexo hoje em
dia. Acho que fui uma moça normal, uma mulher normal, mas fiquei embotada.
Trabalho danado, preocupação com os filhos e cachaça de marido... não dá para
aguentar. Não tenho vontade de sexo, não estou disposta para experiências novas,
não quero mais saber de bagunça na minha vida.
Acredito na Igreja, é o melhor caminho pra nossa vida, mas não tenho
tempo para me dedicar. Acho que Partido Político é necessário, pois junta quem
tem as mesmas idéias, mas acaba servindo de meio de vida para alguns políticos.
Nunca participei de movimento de bairro, nem conheço, não tenho opinião
formada.
A situação do país está muito difícil, muito ruim, não dá pra entender. Me
sinto no escuro e não vejo saída.
248
Representação do trabalho:
Não tenho a menor idéia sobre como a empresa planeja suas atividades,
quando decide contratar mais gente ou demitir, mudar de máquina, aumentar ou
diminuir a produção.
Não tenho a menor idéia, a menor idéia mesmo, sobre o ganho da firma.
A iluminação até que é boa, mas é atrapalhada pela poeira. O espaço é bom,
as máquinas não ficam amontoadas, o prédio é novo. Mas a temperatura, o ruído e
a ventilação são péssimos. Quente, barulhento e abafado. Nunca me dei conta de
mau cheiro por lá. Mas o nariz fica irritado o tempo todo por causa do pó que fica
no ar. Eu tenho um tímpano perfurado por uma infecção. Eu penso que foi da
mistura de poeira e barulho. Mas o problema não é só esse, não. A gente fica
nervosa por causa da chefia, da fiscalização no pé, cobrando produção.
249
inspeciono as máquinas que foram ocupadas por outra tecelã no turno anterior.
Vejo o trabalho que ficou para ser executado e ligo as máquinas, são 10 teares e eu
devo ficar inspecionando os fios e mantendo as máquinas limpíssimas. Dou uma
parada 1/2 hora para jantar, na própria firma. Eles descontam a refeição por mês.
Aí volto para as máquinas até encerrar o período, as 21 horas. A diminuição do
tempo pra jantar eu ganho saindo mais cedo.
Objetos que eu cuido: os 10 teares, os fios, uma tesoura, pano para limpeza
e aparelho de proteção dos ouvidos. Eu conto com outras pessoas no meu trabalho:
a passadeira, o mecânico e a supervisora (uma para 4 tecelãs).
Só realizo tarefas técnicas. Tomo conta de teares que trançam os fios para
fazer tecidos. Entra fio de um lado, sai tecido do outro. Cuido para que os fios não
se sujem, não se quebrem, não se embaralhem.
250
Espaço físico:
251
definida entre tarefa e tempo. As dificuldades são relacionadas com os tipos de
panos a serem tecidos: tem panos mais ou menos difícil.
Não sei como a firma é organizada, os setores, quem cuida de que. Meu
negócio é o meu setor, minhas tarefas. Nem tenho tempo pra conversar com outras
pessoas que não sejam as companheiras da oficina, que cuidam de máquinas perto
das minhas. Sei que é uma pirâmide de cabeça pra baixo: muita gente manda
e pouca gente trabalha e quem mais trabalha menos ganha.
252
As desvantagens são inúmeras: salário péssimo, poucos intervalos, fiscais
abusados, ausência de possibilidade de crescimento. Nascer, viver e morrer
tecelã - oh desgraça. Há pó no ar, em suspensão, o tempo todo. O vapor das
máquinas é grande, deixa o chão úmido, escorregadio, podendo causar acidente.
As máquinas são altas e compridas, quem for baixa tem que se esticar. O calor é
grande, só o pessoal de escritório usufrui do ar condicionado.
Lá nós temos uma boa CIPA, eles estão sempre presentes, fiscalizando o
ambiente. O que eu não vejo é resultado. Eu faço a contribuição sindical
obrigatória mas nunca me filiei. Mas já participei de uma greve, por aumento de
salário. Não conheço sequer os diretores do sindicato, não sei nem os nomes. Na
verdade eles não fazem muito pelo trabalhador.
Se o trabalho interfere na minha vida fora de lá? Sabe... acho que não...
Procuro separar problema de trabalho e problema de casa, mas... pensando
bem... sempre sobra pra lá e pra cá.
253
Diário de Campo
Trabalho e Tormento
Inúmeros são os caminhos possíveis de análise crítica desta história
pessoal. Aqui podemos apenas privilegiar alguns tópicos:
1. Os tempos.
254
2. A lógica.
3. As transferências.
255
jovens trabalharem. Receptadora de todas as transferências, só as pode devolver
parcialmente e em conflito, pois não concorda com o jeito como a mãe educa.
256
- A vivência do trabalho é marcada pela consciência da insalubridade
(""eles" mesmo sabem que a vida é dura... que a aposentadoria é aos 25 anos de
trabalho, para homens e mulheres") e da periculosidade ("a gente vai se
defendendo da máquina e aprendendo a sair inteira") - o ambiente é quente,
barulhento, abafado, úmido, escorregadio, cheio de pó em suspensão e o processo
de trabalho é sujeito a risco de ferimentos e perdas corporais. O sujeito sabe que
vai adoecer e não pode impedir isto, não tem sequer renda que lhe permita acesso
a tecnologia sanitária de recuperação dos danos.
257
opressiva rotina presente, resvala diante de um produto concreto porém mais ou
menos impensável e fragmentário, constrange-se com a presença esmagadora de
exigências, assim construindo uma prontidão ansiógeno-depressiva.
Conclusão
Algo lhe ameaça, seu corpo está em falência e sua mente se espedaça - é o
tormento do trabalho tecelão. Não intoxica, não mutila extensamente, não invalida
a força de trabalho de modo evidente, não se cristaliza em padrões nosológicos
clássicos, mas extende um desgaste penoso que invade toda a vida e os sonhos
("sonho que caio em buracos, tropeço, sinto as carnes tremerem, pesos, sombras").
258
que realiza habilidade constituinte da força de trabalho da cliente, é ameaça direta
à sobrevivência. O fracasso dos modos de reapropriação abrem para a emergência
dos sintomas.
259
Falta capitudo 14- o
trabalho na clínica
psicológica
260
Capítulo 15.
261
importância para os trabalhadores e suas organizações, em especial ao movimento
sindical. Que o texto seja lido com esta ressalva.
262
reivindicações históricas dos trabalhadores. Portanto, o problema de cooptação não
se coloca "intrinsecamente" ao modelo, mas sim na forma de entendimento do
mesmo por parte dos trabalhadores que baseia-se no padrão tradicional de vida e
de trabalho de onde está situado tal modelo e por que não dizer, do padrão de
atuação sindical. Não se trata da contratação do "coração e a mente dos
trabalhadores" (Jornada & Lápis, p. 27) dada a já venda histórica da força de
trabalho. Trata-se sim da incompreensão do modelo por parte do movimento
sindical e conseqüentemente, da falta de uma estratégia que faça os trabalhadores
compreenderem alguns avanços como conquistas históricas suas, que ao invés de
serem anuladas pela não participação, deveriam ser radicalizadas ao máximo,
colocando em "xeque" estas estratégias do Capital e assim aumentando os seus
limites.
263
evidente que as conquistas do movimento sindical até o momento foram muito
poucas (12).
Vários autores das mais diversas tendências (Selene & Antunes, 1990;
Antunes, Kliemann & Fensterseifer, 1989; Lima, 1988; Jornada & Lápis, 1990;
Conceição et alii, 1990; Faria, 1991; Storch, 1985) vem alertando através de seus
trabalhos para algumas mudanças em curso em várias empresas, tanto a nível
nacional como internacional. As causas destas mudanças são complexas e
encontram em autores diferenciados, explicações muitas vezes também
diferenciadas. Conceição et alii (1990) faz a seguinte observação:
264
onde todos estão convencidos da harmonia que reina no mundo econômico. Isto,
então permite ao capital a sua reprodução contínua.
265
adequadas de lucro, deverá agora também procurar minimizar seus custos"
(p. 05).
266
reorganização da produção em novas bases. Ambas as estratégias não
apresentam características excludentes, se bem que são processos que
alimentam peculiaridades marcantes. Para o empresariado (13) a questão da
diminuição dos custos é um fator fundamental que norteará a sua escolha,
principalmente no R.S., pela reorganização do trabalho. Este processo de
escolha se dá em função de vários fatores, entre eles: alto custo da
automação, dado o atraso do parque industrial gaúcho; baixo nível de
formação do trabalhador e suas limitações para operar em máquinas mais
sofisticadas; atuação mais fraca do movimento sindical, se comparada com o
centro do país; etc.(14)
Aqui vai ser apresentado o modelo japonês representado pelo “just in time”.
Há modelos interessantes à discussão, como o italiano e o sueco. Consultar
FERREIRA el alii e LEITE & SILVA (1991). Uma discussão envolvendo a
questão da qualidade de forma mais ampla poderia ser vista em CAMPOS (1989)
267
Características Básicas do Sistema "Just-in-Time "Breve contraposição ao "Just-
in-Case".
Mercado capitalista “ justo a tempo dew Mercado capitalista regido pela demanda
vender” de oferta de produtos. “Justo a tempo de
vender”
268
"O Just in Time (JIT), entendido em seu conceito mais global, pode ser
definido como uma estratégia de competição industrial, desenvolvida inicialmente
no Japão, cujo objetivo é capacitar a empresa para responder rapidamente às
flutuações do mercado, através de instrumentos e técnicas que visam atingir um
elevado padrão de qualidade, associados a uma significativa redução no custo do
produto e grande elevação da produtividade. Assim, o JIT vincula qualidade,
produtividade, custo e evidentemente, circulação mais rápida do capital" (Ruas,
Antunes & Roese, 1989. p. 02)
Selene & Antunes vão afirmar que o JIT se caracterza ao nível da produção
por:
269
que parem de forma automática sempre que uma peça defeituosa seja fabricada ou
que possam avaliar a qualidade das matérias-primas que chegam às máquinas" (p.
04).
17É útil observar que uma grande parte das indústrias no RS iniciou seus processos
de reorganização da produção através de reuniões de grupos trabalhadores para a
melhoria da qualidade e aumento da produtividade, principalmente através dos
Círculos de Controle de Qualidade-CCQs, diferentemente do próprio Japão, como
atesta Schonberger (1988): "A maior parte das empresas (japonesas) com que tenho
entrado em contato já fabricava produtos famosos pela qualidade ao adotar os
círculos de CQ"(p.218).
270
O CCQ é basicamente um pequeno grupo de funcionários (6 a 10) que se reúne
voluntária e periodicamente (geralmente uma vez por semana ou quinzena), para
propor, analisar e discutir idéias e projetos no que se referem a modificações na
produção, visando fundamentalmente o aumento dos índices de qualidade e de
produtividade dos produtos e processos. Segundo estudo de Salerno (1987) em
1762 trabalhos analisados em 18 empresas, os CCQs desenvolveram os seguintes
temas:
- Outros........................... 3%
271
Ambos os estudos foram feitos por Lima & Nonnenmacher (1991). A
empresa 1 teve o estudo realizado nos meses de março a dezembro/90, enquanto a
empresa 2 no período de setembro/90 a dezembro/91. A metodologia baseou-se
em três pontos principais:
272
partir daí se retirou uma amostra intencional de cerca de 10% dos trabalhadores
para serem entrevistados, segundo roteiro padrão.
273
A rotatividade de pessoal é alta, bem como o absenteísmo. A grande
maioria dos trabalhadores (mais de 50%) tem menos de 01 ano de trabalho. O
padrão salarial é baixo, conforme a média da categoria. Os aumentos de salário
não são homogêneos, causando uma grande incerteza nos trabalhadores, que nunca
sabem qual vai ser o percentual que ganharão. A empresa prima pela falta de
repasse de informações aos trabalhadores. O que mais funciona ao nível de busca
de informações é a "rádio corredor".
274
pressuposto gerencial é que depois de dois anos os trabalhadores se "atiram" nas
cordas, não mais sendo motivados.
275
Em termos de saúde mental os dados são alarmantes. Aplicou-se o
Inventário Multifásico de Personalidade (MMPI) para o estudo epidemiológico do
processo saúde/doença mental nos vários setores. Tem-se como referência para os
estudos em saúde mental no Brasil - segundo o Ministério da Saúde (1990)(20) -o
índice de 18,9% da população apresentando algum tipo de problema psicológico,
excluídos deste percentual os psicóticos, visto que dificilmente estes estariam na
produção. No estudo epidemiológico feito chegou-se aos seguintes percentuais:
PRENSAS: 52%
ACABAMENTO: 54%
CQ: 70%
21Aqui mais uma ressalva deve ser feita. Apesar de colocarmos os percentuais
estatísticos resultantes da tabulação feita a partir do MMPI, estes dados devem
sempre ser relativizados. E diríamos mais: o que de importante há na apresentação
dos resultados é o próprio cruzamento que se possa fazer entre as duas pesquisas.
Assim, poderíamos fazer outra leitura dos dados de ambas pesquisas, dizendo
simplesmente que o resultado geral do estudo epidemiológico da empresa 1 é 2,15
vezes maior que a empresa 2. Este é o fato a ser ressaltado por hora.
276
perguntava sobre os sonhos na empresa, a grande maioria das respostas era clara:
continuar trabalhando mais um pouco e receber o salário, ou seja, não haviam
sonhos propriamente ditos. O que se colocava era a questão da sobrevivência,
principalmente às mulheres(22), cuja aceitação incondicional das normas era maior.
277
grandemente suas vendas e, a opção foi a exportação viabilizada por dois motivos:
primeiro o fato de contarem com ao apoio da matriz na abertura de mercados e,
segundo, a própria qualidade do produto que está entre os melhores do mundo.
278
1987 - Programa ALAS - Arrumação e Limpeza;
279
treinamento e da administração, além é claro de toda a produção. Este programa
institui uma premiação semestral de até 65% do salário do trabalhador para todas
as mini-fábricas que atingem determinados objetivos definidos para aquela área,
naquele semestre. Este programa criou o envolvimento e um interesse muito
grande de parte dos trabalhadores.
280
O recrutamento é sempre que possível realizado primeiro internamente e só
esgotado essa possibilidade é que fazem recrutamento externo.
Assim fica evidenciado que o índice em termos gerais ainda é maior que o
da população como um todo (sem levantar aqui a discussão da metodologia e do
nível de aprofundamento do estudo epidemiológico nacional). Porém este dado
pode ser relativisado e ficar a espera de outras pesquisas com metodologias de
estudo semelhantes. Contudo, o que parece ser certo é que o nível de satisfação
281
com o trabalho é bem maior, evidenciando um não querer sair da empresa, tendo
ademais a possibilidade concreta de "crescimento", ascensão funcional, o que
motiva os trabalhadores a permanecerem ali e não irem procurar outras empresas.
282
seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que
determina a consciência" (Marx e Engels, 1986. p. 37).
283
uma diretoria formada totalmente por pessoas indicadas, não se fazia um colegiado
com poderes deliberativos, que dessem os rumos à administração?".
Desde o início de suas atividades só ocorreu uma greve e ainda assim com
menos de 1/3 de participação dos trabalhadores e somente por um dia. Contudo, o
nível cultural dos trabalhadores da empresa 2 é bem superior ao da 1, o que
tenderia a incliná-los para uma participação mais efetiva, visto um grau de
formação maior. Mas, o que acontece aí então?
284
que os da região, programas de participação e envolvimento na produção
(PROFIT, ALAS, CCQ,JIT) multi-sistema de benefícios (rancho, refeitório com
duas refeições por dia, assistência social, médica, odontológica, empréstimos,
auxílios e convênios diversos, etc) e com a possibilidade do trabalhador ascender
(plano de carreiras) há o dito envolvimento para/com a empresa, e é isto
efetivamente que preocupa o movimento sindical.
Ora, o que estamos tentando dizer neste texto - e para isto usamos uma
expressão que ainda não é a mais precisa - é que o sistema intrinsecamente não
coopta os trabalhadores, pois a relação de cooptação só pode ser entendida se
analisada a relação que o movimento sindical demonstra para com o sistema e o
padrão das outras empresas. Assim, para explicar que o modelo não coopta por
razões intrínsecas temos que analisar pelo menos três padrões
diferenciados/interdependentes: DE VIDA, DE TRABALHO E SINDICAL.
Por outro lado o sindicato dos trabalhadores sabe muito bem como trabalhar
ali, pois o padrão de discurso sindical é adequado àqueles trabalhadores, da mesma
forma que para o restante da categoria. O sindicato sabe fazer os trabalhadores
reagirem quando o grau de exploração passa dos limites aceitáveis daquele
padrão. Isto é fundamental para o entendimento da tese aqui proposta.
285
dádiva da empresa), faz com que os trabalhadores trabalhem melhor, com mais
qualidade e produtividade. Mas, o que é interessante é que os trabalhadores estão
gostando das mudanças. Mas, teoricamente sabemos que este gostar é baseado na
lógica das relações. Eu gosto ou desgosto sempre na relação com algo.(27)
286
responder acusações de que o sistema que estava propondo era por demais
desumano? Pois, onde então está o novo com seu dito poder de cooptação?(28)
287
O que parece ser certo é que a atual estratégia de combate meramente por
fora, cada vez mais afasta os trabalhadores da luta sindical, fazendo com que eles
se acomodem aos ganhos diários dentro da empresa a que fazem parte. Mas, qual o
valor estratégico para o movimento sindical destas novas formas de reorganização
da produção? Julgamos que pelos menos dois aspectos tem que ser levados em
conta:
1º Que pelas conquistas históricas nas empresas que se utilizam das novas
formas de organização da produção (e não podemos esquecer que para o sistema
funcionar as empresas são obrigadas a alimentar estas conquistas como forma de
negociação e apaziguamento de conflitos) pode-se ampliá-las para outras empresas
com gerenciamentos tradicionais da produção. Assim, em um processo de
negociação por parte do movimento sindical da empresa 1, este pode utilizar como
parâmetro outra empresa de borracha que se utiliza do modelo Just in Time e
exigir àquelas melhorias também para aquela fábrica. Joga uma empresa contra a
outra pela confrontação de realidades, o que é um estímulo ao trabalhador lutar;
288
Não estamos falando sempre da reunião de trabalhadores, da criação da união
coletiva, fato fundamental à organização dos trabalhadores?(29)
30Sobre a própria formação dos dirigentes sindicais para o entendimento das novas
formas de organização do trabalho, ver experiência italiana em GOMES (1991).
289
podemos cair no reducionismo de achar que tudo o que se produz dentro das
empresas é ideologia. Seria um simplismo muito grande trabalharmos com tal
afirmativa. E também descartaríamos a importância do estudo formal e da
aprendizagem técnica como elementos importantes aos trabalhadores, no seu
próprio processo de sobrevivência e de negociação de melhores salários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
290
eficiente pelo movimento sindical não traz nenhum efeito à mudança de
crenças que sustentam a representação do modelo aos trabalhadores.
É por isto que concordamos com CATTANI (1991) quando afirma que
cada vez mais assume maior importância os departamentos de formação no
interior dos sindicatos. E diríamos mais, que a questão dos departamentos de
comunicação ou imprensa dos sindicatos, mais do que um papel comunicativo
assumem dimensões estratégicas para a luta dos trabalhadores.
291
Capítulo 14.
PARANOIA E TRABALHO.
OS TRABALHADORES EM UM
CENTRO DE PROCESSAMENTO DE
DADOS.
WANDERLEY CODO,
ALBERTO HITOMI,
292
Três abordagens principais de investigação poderiam ser destacadas na
investigação dos problemas da interrelaçáo entre saúde mental e trabalho:
Ergonomia, v.g. Alan Wisner, Psicopatologia do Trabalho, Le Guillant e Dejours
e os estudos de Laurell e Marque sobre processo de trabalho e padrão de desgaste.
293
deste diminui [ a força do ego ], quer pela doença, quer pela exaustão, ou por
alguma causa semelhante, todos os instintos que até então haviam sido amansados
com êxito, podem reforçar suas exigências e esforçar-se por obter satisfações
substitutivas através de maneiras anormais". Freud prossegue o raciocínio numa
nota de rodapé: "Temos aqui uma justificação do direito à importância etiológica
de fatores não-específicos, tais como o trabalho excessivo, o choque etc. Esses
fatores sempre gozaram de reconhecimento geral, mas foram relegados para
segundo plano exatamente pela psicanálise" (Freud, 1975).
294
doenças dos órgãos internos que acometem o aparelho cardiovascular e digestivo
(palpitações, alterações do ritmo cardíaco, falta de ar, distúrbios gastro-intestinais,
etc) (DIESAT, 1986).
295
pescoço, irritação dos olhos, dor de cabeça, alterações de sono e de humor, e
diversos sintomas psíquicos" (DIESAT, 1986).
Para a categoria a situação é de tal gravidade que surge, nos últimos anos,
na pauta de reivindicações, um item específico sobre automação" (F.E.E.B., 1988).
296
sejam os robôs na linha de montagem, sejam os terminais nos guichês de caixa".
(Fleury e Vargas, 1987).
A Pesquisa
Os dados e resultados apresentados aqui referem-se ao campo Centro de
Processamento de Dados (CPD) de um Banco estatal de Ribeirão Preto.
297
2.3 - Entrevista com direção de entidades de representação de trabalhadores:
sindicato, CIPAs.
2.4 - Entrevista com o trabalhador
2.5 - Entrevista com chefias intermediárias (elaborada para o campo CPD).
03. Roteiro de Observação Direta do Processo de Trabalho
04. Inventário Multifásico de Personalidade Minnesota (MMPI)
05. Explicação Geral Padronizada para o MMPI
06. Anamnese Ampliada - com questões sobre trabalho e seu significado
Os passos seguidos na pesquisa foram os seguintes:
II - Aplicação do MMPI
298
em outro dia. As sessões tiveram a duração média de duas horas. Todos os fatos
significativos foram anotados.
As entrevistas com a chefia geral foram realizadas nas próprias salas dos
entrevistados, as entrevistas com chefias intermediárias e auxiliares foram
realizadas na mesma sala onde foi aplicado o inventário. As entrevistas eram
gravadas com o consentimento dos entrevistas. Tiveram a duração média de duas
horas.
299
O CPD divide-se em seis (6) setores: Apoio (APO), Digitação e
Microfilmagem (DIM), Preparação (PRE), Conferência (CON), Serviço (SER) e
Processamento de Dados (PRO). São quatro turnos de seis horas para funcionários
e oito horas para comissionados. Três setores -Apoio, Processamento de Dados e
Conferência - funcionam os quatro turnos; dois funcionam três turnos, exceto
madrugada - Preparação, Digitação e Microfilamagem - e apenas um dois turnos -
Serviço - manhã e tarde.
B - INVENTÁRIO
300
indivíduos com nível de escolaridade superior. A tabela I sintetiza essa nova
distribuição.
SETOR N NV % I % MV % HV %
CON-E 47 43 91.5 4 8.5 39 90.7 9 9.3
DIM-E 69 58 84.1 11 15.9 29 50.0 29 50.0
PRE-E 52 44 84.6 8 15.4 18 40.9 26 59.1
sub
TOTAL 168 145 86.3 23 15.9 86 59.3 59 40.7
APO-F 25 21 84.0 4 16.0 8 38.1 13 61.9
SER-F 27 24 88.9 3 11.1 18 75.0 6 25.0
DIM-F 39 36 92.3 3 7.7 6 16.7 30 83.3
PRE-F 46 42 91.3 4 8.7 20 47.6 22 52.4
PRO-F 41 34 82.9 7 17.1 4 11.8 30 88.2
CON-F 32 29 90.6 3 9.4 12 41.4 17 58.6
sub
TOTAL 210 186 88.6 24 11.4 68 36.6 118 63.4
TOTAL 378 331 87.6 48 12.7 154 46.5 177 53.5
GERAL
(LEGENDA: CON: Setor de Conferência/DIM: Setor de Digitação e Microfilmagem/PRE: Setor
de Preparação/APO: Setor de Apoio/SER: Setor de Prestação de Serviço/PRO: Setor de
Processamento de Dados/ E : Estagiários F : Funcionários/N : Número de inventários
aplicados/NV: Número de inventários validados /I: Número de inventários invalidados/MV:
Número de inventários validados/mulheres/HV: Número de inventários validados/homens)
301
O setor que mais contribuiu para a invalidação foi o PRO, com 30.4% dos
inventários invalidados, seguido do setor PRE, com 17.4%. Os outros setores
apresentam um percentual de invalidação idênticos, 13.0%.
302
A denominação normal, borderline e patológico serve, em geral, para
indicar os seguintes intervalos nas pontuações do MMPI:
Normal: escore T < 60
Borderline: escore T entre 60 e 70 (pontuações médias)
Patológico: escore T > 70 (pontuações altas)
Funcionários: estagiários
MF: 4 PD: 2
PA: 4 PA: 2
HY: 3 MA: 1
D: 2 SC: 1
PD: 2 HS: 1
SI: 1
HS: 1
303
Estagiários
Funcionários
SER-F 7 29.2 6 25.0 1 4.2
APO-F 7 33.3 6 28.6 1 4.8
DIM-F 12 33.3 8 22.2 4 11.1
PRO-F 12 35.3 7 20.6 5 14.7
CON-F 16 51.7 11 37.9 5 17.2
PRE-F 24 57.1 17 40.5 7 16.7
TOTAL 77 41.4 55 29.6 23 12.4
304
patológico, e o mais comprometido é o CON (17.2%), com sete casos. Entre
estagiários a porcentagem de sujeitos patológicos é semelhante, cerca de 20%.
Estagiários Funcionários
n = 19 n = 23
PA : 17 9
HS : 5 2
PD : 4 4
D : 3 7
PT : 3 3
HY : 2 4
SI : 2 3
SC : 2 2
MA : 2 2
total 40 34
305
prevalência das escalas PA e PD. Este procedimento de análise é parcial, uma vez
que não leva em conta o comprometimento a nível "border-line" dos sujeitos
classificados como patológicos. Por essa razão existe diferença entre os critérios,
pois a análise das escalas prevalentes por setor leva em conta o nível "border-line".
Por outro lado, este artifício é útil para testar as diferenças das escalas prevalentes
por setor no Qui-Quadrado. Será testada distribuição entre normais e
problemáticos (soma de pontuações borderline e patológicos) de cada setor. As
escalas a serem testadas são:
306
b) Estagiários:
1. Escala PA: Setores DIM, PRE e CON. Não apresentaram difereça significativa.
2. Escala PD
2a. Setores DIM, PRE e CON: apresentaram diferença significatica (p = 0.975).
Os problemáticos concentram-se no setor PRE.
2b. Setores DIM e PRE: houve diferença significativa (p = 0.995). Os
problemáticos concentram-se no setor PRE.
3. Escala HS
3a. Setores PRE, DIM e CON: apresentaram diferença significativa (p = 0.95). Os
problemáticos concentram-se no setor PRE.
3b. Setores PRE e CON: foi encontrada diferença significativa (p = 0.975). Os
problemáticos concentram-se no setor PRE.
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
a) Entrevistas:
307
além do conhecimento das especificidades de cada setor, tais como qualificação
técnica, papel dos estagiários, horários de pico de serviço, etc. Além de definir
trabalhadores que serão selecionados para as etapas seguintes, entrevista de
organização do trabalho e anamnese. Através das entrevistas e das observações do
processo de trabalho dos setores foi possível realizar a caracterização dos setores.
308
em microfilme. A outra microfilmagem é para registro do documento, a cópia do
arquivo.
309
listagens impressas pelo setor de processamento. Quando algum erro é encontrado
comunica-se o setor de Digitação e Microfilmagem para efetuar as possíveis
correções. Se não houver tempo hábil para as correções e a impressão de novos
relatórios surge a necessidade de comunicar às agências, através do telex ou do
telefone localizados no setor de Apoio, sobre os erros.
DISCUSSÃO
310
desenvolvimento da tecnologia microeletrônica, um CPD é altamente dinâmico no
que se refere à absorção de serviço de outras agências. Novos serviços são
absorvidos diariamente, o que obriga a criação de novas rotinas de trabalho e
deslocamentos constantes de funcionários entre setores.
311
mais, todos são comissionados, cargos de confiança, portanto. No setor de Serviço
o número de funcionários é aproximadamente o dobro do número de estagiários. A
razão de tal medida ou recomendação deve-se ao fato de estes setores trabalharem
com informações sigilosas. No setor de Processamento essas informações são de
natureza econômica, volume de depósitos, transações financeiras, aplicações,
investimentos, etc. Já no setor de Serviço a confidencialidade dos dados é de
caráter pessoal: transitam informações sobre os funcionários do banco,
remuneração, licenças, promoções, dependentes, licenças de saúde, etc.
312
obtenção de quadro de queixas de saúde. Os resultados obtidos indicaram que, em
comparação com mulheres em outras ocupações essas trabalhadoras apresentavam
alta taxa de sintomas psiquiátricos, bem como alto grau de consumo de drogas
como pilulas para dormir e tranquilizantes. Segundo esses autores os problemas
psiquiátricos encontrados (mais notadamente ansiedade, depressão e irritabilidade)
podem estar relacionados a influência combinada de dois fatores principais:
monotonia e carga de trabalho.
Elias & Cail (1983) relatam que digitadores dos quais são requeridos cada
vez mais procedimentos rígidos relacionados com baixa cognição e alta
produtividade são os trabalhadores mais afetados por queixas visuais e posturais.
O ritmo acelerado, bem como a demanda de trabalho são características das tarefas
realizadas por esses trabalhadores, que não permitem o relaxamento da
musculatura dos olhos decorrente da falta de micropausa ou de variações na tarefa.
313
do pescoço e da cabeça sendo que o principal fator que elevaria a tensão muscular
no pescoço parece relacionar-se com a restrição de movimentos nas articulações e
músculos da coluna cervical.
314
A informática permite um deslocamento do processo de controle sobre o
trabalho para dentro da tarefa realizada, assim, se em uma linha de montagem o
contrôle se dá através de cronometristas e controladores de qualidade, dispostos
paralelamente à linha ou em seu final, durante as tarefas de digitação, por
exemplo, o computador pode controlar a tarefa enquanto a mesma estiver sendo
realizada, informando ou não o operador sobre seus erros e ritmos.
Por ora, os dados apontam para uma hipótese que merece maior
investigação.
315
Capítulo 15.
JOSÉ J.C.SAMPAIO,
MARTIN BAUER
INTRODUÇÃO
316
Saúde Mental e Trabalho. Não encontramos na literatura, nenhum estudo que leve
em conta esta 'variável'.
317
Antes de iniciar o estudo, resolvemos realizar algumas reuniões (a título de
estudo piloto) com um grupo de bancários voluntários, uma grande dificuldade se
apresentava diante da pergunta: o que você faz em seu trabalho? As reações mais
comuns eram de embaraço, surpresa, espanto ou respostas tanto dubidativas como
contraditórias. A seguinte declaração pode sumarizar a dificuldade: "Nós não
fazemos nada. Nos fins de semana, habitualmente, eu limpo meu jardim. No
começo da manhã vejo o jardim sujo e a grama alta, depois do trabalho vejo
sujeira e grama cortada de um lado e jardim limpo do outro. Quando vou para meu
emprego na segunda feira encontro uma pilha de papel em um lado da minha
mesa. Ao fim do dia a montanha de papel mudou de lado na mesa e isto é tudo.
Trabalhei o dia inteiro e não fiz nada, nada". Muitos bancários falavam de
sofrimento por não tirarem satisfação do trabalho. A queixa faz sentido. Na
sociedade moderna construímos identidade social pelo cruzamento do valor de
troca de nosso trabalho com o valor de uso dos nossos produtos. Eu sou pedreiro e
construo casas, este é o principal modo como me apresento e me diferencio dos
outros e, como pedreiro, terei acesso a renda que me permitirá adquirir certa,
específica, qualidade de vida. Há um jeito pedreiro de ser e viver. O trabalho vai
se constituindo no ciclo dinheiro-produto-dinheiro, com o dinheiro posto como
forma de comunicação e interconversão entre agentes, entre produtos, entre
agentes e produtos.
318
O trânsito d-m-d (dinheiro-mercadoria-dinheiro) para d-d (dinheiro-
dinheiro), cria uma situação única do ponto de vista da divisão internacional do
trabalho, particularmente nos bancos: Surge um trabalho e muitos trabalhadores,
que operam em uma situação em que o ponto de partida é exatamente igual ao
ponto de chegada, um caixa bancário, por exemplo parte de um zero e chega a ele
no final da jornada de trabalho. É isto o que chamamos neste contexto, de trabalho
vazio.
A pesquisa
Foi feito estudo preliminar, para teste dos instrumentos e avaliação dos
problemas por surgir, com um piloto de 20 pessoas indicadas pelo Sindicato da
categoria. Em seguida procedeu-se a divulgação de um impresso sobre a pesquisa
e a pequenas reuniões explicativas, com anuência da direção, nos vários postos de
serviço, resultando em plena e ativa aceitação por parte dos trabalhadores.
319
Buscou-se definir grupos de função (GF) que congregassem mais de 30
trabalhadores estáveis, excluindo alta hierarquia. Ficaram de fora gerentes e
subgerentes, trabalhadores contratados por período, trabalhadores de leasing,
pequenos grupos de função, vigilantes, ascensoristas e serventes. A população
epidemiológica do estudo de caso constituiu conjunto de 379 pessoas distribuídas
por sete GF. Foi criado GF extra, para fins de comparação, com os estudantes de
curso para concurso.
320
incorpora uma anamnese, realiza-se um julgamento clínico, avalia-se a
operacionalização concreta das tendências encontradas a nível epidemiológico e
coleta-se dados de inserção no mundo do consumo e de representação sobre o
trabalho. Dos 287, em 29 foram aplicadas as EARTs. Critérios de seleção, modos
de aplicação e modos de análise constam de textos específicos do PSM&T (CODO
et al, 1990).
GF "vazio"
Caixa 37 pessoas
Operação financeira 27 "
preparação 46 "
verificação 31 "
GF "cheio"
depto de pessoal 45 "
G comparação - estagiários 95 "
321
A variável dependente, o perfil epidemiológico, será chamado de
"Depressão Narcísica", definido pela relevância da associação Depressão-Histeria
encontrada pelo MMPI e, embora em outro contexto, já descrito na literatura
(RICHARD, 1989). As variáveis independentes são categóricas e incluem, além
da ausência/presença de produto, idade (IDA), sexo (SEX), educação (EDU),
extensão da jornada de trabalho (EJT), função (FUN), nível de rotina (ROT),
compatibilidade de qualificação tida/exigida (QTE).
HIPÓTESES E RESULTADOS
1. A hipótese principal.
322
Testamos esta hipótese em tres etapas. Primeiro analisando depressão e
histeria em separado, segundo combinando as escalas na "depressão narcísica", e
terceiro pela aplicação de um modelo de regressão logística para testar a relação
postulada.
Quadro I.
TRABALHO> V C T
Porém a influência de outras variáveis, tais como IDA, SEX, EDU, ROT,
EJT e QTE, podem estar confundindo o resultado. Para o controle destas variáveis
aplicamos um modelo de regressão logística (SPSS, v.3.1, 1988).
323
categoricamente em dois valores: 1 para "tendo", 0 para "não tendo", sendo nível
de significância (p) a probabilidade de um indivíduo "ter" o atributo ou condição.
324
Os resultados apresentam diferença estatisticamente significativa entre
"trabalho vazio" e "trabalho cheio". Nenhuma outra variável foi capaz de oferecer
contribuição estatisticamente significativa para predizer "depressão narcísica".
Podemos então concluir pela falsidade da hipótese nula e pela manutenção da
hipótese principal. "Depressão narcísica", medida pela elevação associada das
escalas depressão e histeria do MMPI se encontra relacionada com condição de
trabalho caracterizada pela ausência de produto, ausência que ocorre nas empresas
de serviços financeiros onde o trabalho se realiza no circuito dinheiro-dinheiro,
sem produto mediando. Ao mal estar psicológico assim caracterizado estamos
chamando de "mal estar do trabalho vazio".
2. Hipóteses alternativas.
325
Foi visando controlar minimamente o efeito "seleção prévia" que
constituimos o GF de comparação, composto por estagiários. O grupo foi
constituido com pessoal que vem sendo preparado por escola privada para a
provável realização de futuro concurso. os resultado mostram que não existe
qualquer diferença importante entre o grupo comparação e o grupo "trabalho
cheio" no que se refere ao perfil epidemiológico. Mas a diferença com o grupo
"trabalho vazio" é significativa para depressão, para histeria e para a associação
depressão-histeria. O padrão é confirmado através de regressão logística
controlada. Claramente se demonstra a rejeição da hipótese "seleção prévia".
326
"financeirização" da economia acrescenta novas complexidades aos estudos sobre
saúde mental e trabalho.
327
Os que têm vinculação necessária com família por cuidar ou juventude
cheia de utopias para o futuro, por exemplo, parecem encontrar "identidades
alternativas" para aquelas que o "trabalho vazio" está prejudicando, e assim podem
escapar deste padrão de sofrimento psicológico.
CONCLUSÃO
328
psicológico-psiquiátrica. É como um "clima" de inquietação, de desassossego, um
persistente sentimento de infelicidade no meio dos valores do individualismo, do
sucesso, da vaidade.
329
do padrão ouro, percebe-se nova divisão internacional do trabalho, com os bancos
crescendo de importância. Ao mesmo tempo a automatização das fábricas e
serviços, com computadores e robots, está alterando a experiência produtiva dos
antigos blue e white collars. Pelo final do século XX é possível perceber o
sistema financeiro, e junto com ele o "trabalho vazio", crescendo em "escala
industrial".
330
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