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DISPOÉTICA
Manifesto dispoético
gritos partidos/tidos/idos e havidos no paladar da palavra
requebrada/quebrada/brada seu look feito suor do samba
desvencilhando do ramerrão inteiriço da ideia como as montanhas se
desvencilham do chão
corpus lugar do desvencilhamento
uma rima vem dos rins outra recorrente/corrente/ente recorte
outrora corte
atrás de montanha tem montanha
tem montanha tem Minas tem mim
repetidamente/idamente/ente aldrabado
minha palavra/lavra essas mudas de martelos
e esses pregos tristes explodindo cabeças
servidas numa caveira chapada de sexo droga e dispoesia
uma palavra entrando pra dentro de outra palavra
demolindo ideias fatiando a verve
entre um sample e grifos andróginos
quebrando/ando e cago pro mundo
2
que para os outros sou eu e para mim são os outros
audiovisual no sangue (y)nquieto
o qual escrevinho aqui e ali como se fosse aqui e ali
Online
ronca rouca
minha cuica na roda
da garganta de arrimo/rimo/imo
sentindo o swing da voz veloz no vão
repetir repetindo quebrando tudo repetindo na repetição repetindo
repetindo e repetindo
e um repique de atabaque/baque/que ata e desata baque
nas repartidas lanhas da noite
cadafalso da minha cabeça
batendo de um lado pro outro
percutindo pedaços alógenos
beatbox da incerteza
sambando pro rumo
arranhando fora do prumo
das entranhas ao largo
do largo ao epicentro/centro/entro e saio
descentralizando o samba alegorizando o flow
ao vivo e em cores
tal qual maior ou igual ao grito
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No front
bandeiras/eiras/iras e beiras
reciclam nasaladas de vício e solid-
ão de tão ão quão dá ãos no sólido ão da boca nariz e garganta
numa fedaputagem otorrinolaringológica
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BANG BANG
5
TIRO CERTO
No entanto
nenhuma bala pressente
nem o gradiente certeiro
numa refração/fração/ação de segundos
o metálico calafrio da espinha
discado nas vértebras feito hérnia
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POR HUM TRIZ
Online
invoco/oco um beijo de batom acaju
o qual rejeito seco e molhado
na dubiedade
invoco o cigarro amarrotado/arrotado
no profundo/fundo/do baú
ao lado um corpo nu e cru
exala tabaco e vodu
No front
jogado num canto sem contorno
hum par de coturnos rotundo e desbeiçado
sorrindo/rindo/indo de si mesmo
no indeciso rangido de sucupira
do assoalho de tábua corrida
de lá pra cá e de cá pra lá
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POR HUM TRIZ E DOIS DEDOS DE DISPOESIA
No front
jogado num canto sem contorno
do casario colonial pendurado numa vetusta ladeira de Ouro Preto
um par de coturnos rotundos e desbeiçados
sorrindo/rindo/indo de si mesmo
dança hum bolero incidental
hum rangido de sucupira/pira
no assoalho de tábua corrida
pra lá e pra cá
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TE DIREI
Hoje
desde hoje de manhã a caminho de ontem
mirando a irada madrugada
eu te buscarei no rebuscado paradoxo de sussurros/urros e silêncios
e por mais paradoxal que pareça dentro da minha cabeça
somente o remix de hum baticum restar
corações batendo acelerados coração com coração
hum coração dentro do outro
hum só coração
madrugada adentro
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De repente bem menos que de repente
um sol inverso há de brilhar outrora
com toda a aurora que lhe presta/resta/esta dispoesia
única chama acima embaixo ao derredor e ao redor
nosso amor de madrugada
Oh bem-aventurada amada
bendita brasileira/eira/ira e beira de mim
quando afinal ontem vier
de algum déja vu chegar
misturando a minha carne fraca à sua palavra fêmea
ontem de madrugada
eu morrerei de amor
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AQUARELA
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CAVALO
Eu sou deus
no entanto quando eu entro na túnica/única da luz do teu olhar
tônica do meu sobreviver mais que nunca do meu viver impreciso ver
e no infinito de mil e uma noites tu vieste ficar comigo
na ousadia me levitei nas nuvens de uma nova Bagdá
embriagado no teu olhar penetrante como o olho de Hórus que a tudo vê
ali eu refluí/fluí e desfrutei a tua pele química com língua alquímica
trejeitos carnudos entre tapas e beijos a pino
simples assim
Online
coabitei com a sagrada ginga do teu ventre
como um cavalo árabe sangue bom puro-sangue
cavalguei nas tuas ancas
somente comparadas às potrancas de hum sheikh de Abu Dabi
peão do teu balanço funkeado
onde eu me perdi
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E do alto dessa
olhando a voluptuosa vibe da terra prenhe de amassos de amor
como se fosse a nós que ela amasse
enquanto isso selando a selva de estrelas rolava de tudo
teus mamilos do mal esguichando haxixe e mel
corações a mil
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O OUTRO CAVALO
Eu sou a luz
porém quando me transmutei
na luz alquímica do teu olhar
energia de ti
mais que nunca de ti
impossível de ti
quem sabe deste tu
quiçá quase tu
decerto nem tão minha assim
que ataviada como noiva para mim
tu vieste como hum sol da manhã em mim
feliz eu me embriaguei de ti em mim
no demiúrgico desenho que desenha a luz do acaso
e me acampei com os anjos
que me serviram luzes do céu e iguarias da corte
na mesa quadrangular medindo doze mil estádios
sendo comprimento largura e altura iguais
como Noel eu fiz hum samba em feitio de oração
me levitei numa nuvem
de boceta e cuzinho e peitinhos carnavalescos
onde rola a pérola rara
assinada por Joãozinho Trinta
eu sou povão gosto de luxo e riqueza
quem gosta de miséria é intelectual
alhures eu alisei o vermelho encarnado
sorvendo cada molécula das línguas de um beijo borrado
printei na ponta da língua a auréola safada
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dos teus divinos mamilos
ao arrepio os deuses
Entanto
levitando ao luar a 118 km de altitude
fronteira final do planeta azul
coabitei com o fogo boate-azul do teu ventre nas alturas
como hum Pégaso minha pegada sangue bom puro-sangue
na volúpia das tuas ancas volumosas
somente comparadas às potrancas dos carros do faraó
ali então naquela fagulha do tempo
eu vi a completude eu pude sacar a sincera imortalidade da alma
eu me enchi de júbilo
sentindo a voluptuosa curvatura da Terra
prenhe de amor como se fosse a nós que ela amasse
num layout de completa felicidade
me sentindo eterno/terno/no menos que daquele instante
mais do que deus
eu fui cavalo
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UM TANTO
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SE É PRA FALAR DE AMOR - Lado A
Dispoesia rastejante
em palhas de buriti
teus pés de rasteirinhas
tamborilando no crepúsculo
através do prana
da inflamada cama
onde reclama a pegada
da mais bonita história de amor
ora tu não existes
nem a teia dos teus beijos
numa textura viúva
de tão negra trama
com requinte de aranha
Eu vivo assim
nas insuaves bordas do vinho vitrificado na dispoesia do tempo
quando de uma talagada tu não existes
Apenso/penso/só em ti
logo eu que nem existo
de fato o batom desdiz
esse oblongo matiz
vermelho dispoético
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nele o espargir do inexistente
onde tudo começou
Ora
eu já desisti de tudo
por pura subsistência ou muita fantasia
apenso/penso/só
logo eu que nem existo
pensando bem eu sou batom/tom sobre tom
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explícito/cito esse matiz
e a madrugada desdiz
por um triz
no colarinho do peito puído
gritando por sua extraviada chama
nela o inexistir
onde tudo começou
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SE É PRA FALAR DE AMOR- Lado B
Girando pra esquerda sou o mestre-sala do teu giro que gira comigo
no entanto no entremeio das tuas pernas a leveza e o gracejo de porta-bandeira
enquanto quebra as cadeiras girando pra direita
e canta hum Samba com timbre de tamborim
que mais se assemelha ao não existir
Eu vivo assim
elétrico atrás do teu corpo elétrico
entre tuas pernas torneadas meias-voltas e mesuras tu não existes
apenso/penso/só em ti
logo eu que nem existo
diz aí
oblongo matiz
vermelho espalhado
sentindo falta da batida de hum beijo
naquela mesma escola de samba
onde tudo começou
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Se é pra falar de amor ah eu te amo ainda que tu existisses
eu falo da bala palavra
abrindo aspas no coração
na indagada/da vida batendo forte como uma borboleta de aço
indagando as palhas rastejantes
dos teus pés de rasteirinhas
arrastando a madrugada
na existente dispoesia do bar
apesar de nada existir
Ora
eu já vivi de tudo um pouco da rua do funk ao meio da lua sentado no lado oculto
por pura subsistência
ou muita fantasia
apenso/penso/só
logo eu que nem existo
penso e nada sou
mesmo assim
a madrugada contradiz
por hum triz
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esse beijo colado
no colarinho do batom puído
gritando por sua extraviada chama
nela o espargir de todo o elixir
do não existir
onde tudo começou
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FAROFA DISPOÉTICA
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A TRISTEZA DURARÁ PARA SEMPRE
De vez em quando
das plagas de ferro de Minas
minha palavra/lavra/a dispoesia
veio dispoético talhado em rocha bruta
proposta estética de ideias filosofia e arte
de vez em quando/ando/do lado de lá
no fio talvez da velha navalha amarela
que no pez dessa navalha
uma webcam de girassóis
girando em incomum/comum/um lugar paradoxo cibersexo meu quarto virtual
dependendo de quem o vê
Outras vezes
o despetalamento/lamento/ento da orelha
no dia 23 de dezembro de 1888
semelhante ao despetalar de hum cuzinho cheio de tesão
na noite de 23 de dezembro de 1988
em que subjaz a flor de um girassol interior
cheirando um verso maníaco-depressivo
que despetala os poetas e quebra as rimas
ali toda dispoesia exclama/clama/ama e odeia no incógnito
o incógnito unicórnio da alma
onde somente os não resignados sobreviverão
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aspergindo raios fúlgidos
porque senão eu morreria
ou ficaria louco
na lua cheia que ora me cheira
que ora ricocheteia
no desângulo
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RETRATO
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MADREPÉROLA - O VÍDEO
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CU
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ALMAS GÊMEAS
Oh distante metade
alma gêmea de mim
tu e eu repartidos/tidos/idos e havidos
em partes dessemelhantes
compartimos nossas imagens únicas
sob o alumbramento da Lua
nas terras de Adão e Eva
nesta uivante noite de inverno
que solidão animal dos desejos
somente a alma diz
Além disso
espargido amor
tu bem sabes de mim
o quanto ainda sei de ti
porquanto ainda podemos pressentir
a arquejante química que lateja
nessa enluarada conjunção
em que tão somente nos basta fixar aquele solitário ponto de luz
onde somos uma só carne no carnaval do firmamento
inseparáveis como amor e dor
compatíveis como a fogueira e o fogo da madeira
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PRÓLOGO
Esta palavra
Entrama/trama/rama e raiz do bem e do mal
à flor da pele
impele química
No entanto
a palavra/lavra/a fonte
de toda lágrima que há
entrecortada no engasgo
parada na garganta
feito nós
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NOITE BRUTA
Entretanto
incapaz de dizer por onde andas
a noite fecha o seu pez de uma vez por todas
talvez porque aqui todos os passos são pardos
de vez em quando um gosto amargo de betume
e o cume de cabo de guarda-chuva
no volume segunda-feira na boca
Update
pergunte àquele pé de ipê ao sopé daquela espécie de Via Láctea
meio que derramando leite no céu numa noite montanhosa passando por Ouro Preto
rumo às estrelas
ora direis ouvir um funk das esferas/feras/eras
ondeadas na cibercabeça
que bem sabe do que eu seria capaz
para te entrever/rever/ver e reaver
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MEU BRASIL DISPOÉTICO
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DEUS
Então
foi assim
ao sabor de uma fogosa caipirinha
fronteira final da Terra planeta cachaça
coabitei com os quatro elementos do teu sagrado ventre em fogo
como hum habilidoso mestre-sala entre meneios meias-voltas mesuras e torneados
e na volúpia abusada das tuas ancas
somente comparadas às passistas da escola de samba do Largo do Estácio
naquela fagulha de hum imenso Carnaval
eu vi a completude eu revivi/vivi/vi e desvi a cadência do Sol
eu me enchi de esplendor
sentindo a voluptuosa curvatura da Terra
prenhe de amor leveza e gracejo
num micronésimo de segundo em completa felicidade
me sentindo eterno/terno/no menos que hum instante
mais do que feliz
eu fui deus
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APARENTEMENTE
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OUTRA VEZ APARENTEMENTE OUTRA VEZ
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SALAAM ALEIKUM
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FADO DISPOÉTICO
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ÃOS
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TODA NUDEZ
Dispoesia encorpada
eu sou a harpa metafórica
na calada/alada/da noite
arrastando toda nudez
pelo salão ensanguentado de vinho
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DISPOEMA DA SOLIDÃO
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GUIMBA
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DIZ AÍ
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PARALELOGRAMOS
Aquelas línguas
entrelaçadas/relaçadas/laçadas ali feito aço
já foram beijos estrelados no enlace de nós dois
hoje são restos abandonados
depois daquela esquina
dispoesia no silêncio opaco da noite
naquela mal traçada rua
à direita de quem sobe
a esquerda avenida
com jeito de beco sem saída
e descaso de terreno baldio
sob a abóboda adúltera
do céu de lua nova pensando na lua cheia
onde a rua libertina e os cães vadios
ainda são o meu signo
porque eu também clandestino/destino/tino de sobrevivente
apenas picho um blues debaixo do muro
curtindo o riff da rouca ventania
espalhando folhas secas nos paralelogramos
de algum universo sem paralelo
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QUIÇÁ
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DESDOBRO/DOBRO/OBRO DE JOELHOS
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SABONETE
Cadência aconchegante
entre flores de vapores
roçando a rosa dos grandes lábios
o grelo eriçado/riçado/içado
debaixo do chuveiro
faceado de ondinas
e um sabonete exala
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ÃOS
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DEUS NEGRO
Eu sou o samba
o meu andar é quebrado
nada requebra senão por mim
requebrado/quebrado/brado até o fim
e quando/ando
há sempre hum deus
algum deus negro
quebrando nos quadris
que mesmo parado
levanta capoeira/poeira/eira e beira - gingando brasis
eu sigo seguindo
se liga no meu canto
cantar é papo reto
e quando eu falo
hum sotaque nagô fala mais alto
que mesmo calado
baque do tambor atabaque e bongô
é hum grifo é hum grito é hum rito
e tanto assim tanto faz tantamente
desata baque atabaque/baque/que ata e desata baque
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CLARIVIDÊNCIA
Eu lobo-guará
pastor notívago do exílio
abrindo a noite bicho solto
na clarividência canina dos dentes
em que também pastoreia
a pele espinhosa da lobeira
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MINÚCIAS
Entretanto
é o que lhe olhifica o olfato
acentuado à caça e ao caçador
por condição de instinto
No entreolhamento
há um minucioso gato na gente
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QUILHA
Além disso
o que está em cima assim como o que está embaixo
todas as coisas por dentro e por fora seguem desnorteadas
como o remix da escuma
na máquina da arrebentação
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OUTROSSIM
Outrossim
você que me mata/ata e desata
não do tango certeiro
porque dele eu não morreria tanto
mas atingido
pela vivida/vida/ida em vão
por não estarmos juntos e misturados
pelo não vivido remix
de morrermos adjuntos
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PALAVRA BRUTA
Quanto a mim
a única certeza que tenho
é a palavra bruta
tocando punheta
treta ofegante
quebrando insone
na noite complacente como hímen
comendo o cuzinho da amada amante primeiro e único item
em quem me amarro
e sempre preciso dizer alguma coisa
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NAVALHA NO CIO
Nem afrouxa
o talante autoerótico da bem urdida corda
com manha de cânhamo
prazer maligno
talento/alento/lento nó
gozo intenso de morte
acochando a fauce ofegante
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FILOSOFIA
Os melhores momentos
ensinam o tempo a passar
isso é dispoesia
Os melhores marinheiros
ensinam o mar a navegar
isso é dispoesia
As melhores aves
ensinam o vento a voar
isso também é dispoesia
As melhores reflexões
adversos/versos/sós
nascem na adversidade da solidão
isso é filosofia
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TUDO IGUAL
Por quê?
sim
por que comentário?
se fui otário
bem mais do que eu fiz
meu coração não contradiz
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VOIL
Comemos e bebericamos
no dois mil e hum em uma noite morna de verão
pra comemorar a ancestral amizade
sorridentes/dentes/entes da claridade animal
rangando meio a meio marguerita e quatro-queijos
numa orgia vegetariana
regada com trejeitos de bicho
e azeite de lua cheia
Vínhamos
de todos os sexos de muitos povos de toda cor de toda parte
daqueles campos sem amor
onde enterraram nossas cinzas em cruz
Sozinhos
nas trincheiras de Minas
testemunhamos caras e bocas
gemendo e chorando de tanto engano
Perto de nós
uma fonte decorativa borbulha entre borboletas
cores insípidas aos borbotões
espalhando gotículas de voil
gotejando cabeças cortadas
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como cortinas esvoaçantes
mas de hum véu tão simples
que já começava a esgarçar-se
simples assim
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DISPOESIA DA SOLIDÃO
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BUQUÊ
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GARRAFA QUEBRADA
De algum modo
aquela garrafa frisante
de controverso destino
tanto conserva o sabor que mata a dor quanto fere de morte e mata de amor
entretanto aquela garrafa requebrada/quebrada/brada na quebrada do balcão
tange meu abdômen retinto
concebido pelo instinto
por onde escorre o homem
das vísceras em desalinho
ritual dispoético
na calada/alada/da noite
arrastando minha roupagem
pela garrafa quebrada de sangue
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DA JANELA
62
HUM
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BOA NOITE
No entanto
pela fresta/resta/esta janela
somos línguas de suor no mundo que incendiamos
serpenteio de salamandras
enxame de chamas nas fibras dos lençóis
acender as cinzas com a pele em brasa
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NARANJO AMARGO
Finalmente
minha íntima canção
meu amor
minha Bhagavad Gita
meu yin-yang
lança-me hum lenço de linho branco
para a mesura das mãos
que o soberano equador teceu
só para me lembrar de ti
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no dia da grande travessia
nas entrelinhas duma cápsula
via whatsapp
amuleto que batalha em nós
com intenção de morte
aquilo que é amor
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GRITO VIGENTE
Elucubro
na escalada/calada/da noite
substância partida no paroxismo
que circunda a praça
dispoema místico
nas ruínas do id
beijo hip hop
que joga comigo
num beijo da morte
amuleto que batalha em nós
com intenção de morte
aquilo que é morte
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ENIGMA
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SÓ PRA DIZER QUE TU ÉS MINHA
Água na boca
matéria do caos
o poder da terra/erra no diáfano
ejaculando especiarias das índias ocidentais
aflorada picante vermelha negra branca amarela
mestiçando a cor
Diz aí
florada do amarelo
esperando o ipê e o açafrão
Me estende a língua
que ensaia o óbvio
na ampola pop dos lábios
onde eu me predestino/destino/tino do bem e do mal
como se fosse hum beijo
vindo de algum bem do mal ou de algum mal do bem
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Finalmente me toca com mão delicada
rasga o meu peito bruto
e arranca-me o coração
só pra dizer que tu és minha
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AMOR/OR NOT LOVE
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SÓ EU SEI DAS SEMENTES DO AMANHÃ
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BALÍSTICA
O temperamento mira
longamira/mira/ira métrica
no aro aquilo e aquilino da retina
riscando as vértebras sem morfina
arguindo a fria geometria da bala
no calafrio encurvado da espinha
alinhada com a irreversível trajetória
que transfixa o instante
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JOIO
74
HUM
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FACA
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O ELEMENTO CINZA
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MELODIA DA NOITE
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O CENTRÍFUGO
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ARANHA METAFÍSICA
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MADREPÉROLA - O VÍDEO
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CARAMUJO
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NULO
Acordes rastejantes
em palhas de buriti
teus pés de rasteirinhas
tamborilando no crepúsculo
através do prana
da inflamada cama
rebusco rumores
de hum passado inexistente
Tu não existes
nem a teia dos teus beijos
numa urdidura viúva
de tão negra trama
com requinte de aranha
Ah eu vivo nulo a teus pés
entre as nesgas em organza do teu vestido
no caimento da noite
que mais se assemelham ao não existir
Assim nas bordas do vinho
vitrificado na vertigem dos copos
quando de uma talagada
tu não existes
apenso/penso/só em ti
logo eu que nem existo
de fato a língua não desdiz
por hum triz esse beijo insípido
nele o espargir do vazio
onde tudo começou
83
SÍLVIA
Entanto
nesta noite
em ti penso/só/ó Sílvia/via desta selva canção
que eu faço muito louco de saudade
olhos que bem sabem olhar nos meus
álamo de lábios na terra dos meus
que também são teus
e um sorriso criança
que balança as palmeiras
espalmadas na alameda enluarada do céu
onde eu te entrevistei hum dia
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VIOLÃO DANINHO
85
QUÍMICA
No entanto
antevejo na química dos lençóis
uma carne grifada na paixão
até o fundo estalado dos ossos
o quanto teríamos somente a nós
nossos/ossos/sós/os ossos a sós
e a noite pródiga por testemunha
Que nada nos dividiria
nenhum butim nenhum desterro/erro nenhum
nenhum serafim nem Odin nem Putin nem o muro de Berlim antes de 1989
seríamos o rock’n’roll hum do outro
enfim
num fim de noite de ciúmes com gim
num clarão de clarim numa noite a fim do que for
até o fim do mundo
menos da metade de uma noite inteira
valeria por mil e uma noites
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CACHAÇA
Nesta sexta-feira sem festa ainda me resta a falta que fala de você
sou hum resto de homem que ainda anda e acho que não te verei jamais
a Lua vem surgindo/urgindo/indo índigo de bar em bar
instar os tempos de hum banquinho e hum violão
tempos de amar na rua na praça no banco da praça
hoje esta cidade é uma enorme flor negra pontilhada de luzes negras
imensa tulipa negra de tiros roubos e prisões sem fim
homens chutando cabeças de homens
homens perdendo a cabeça quaresma de homens sem cabeça
impressas/essas falas fotografando charutos
numa garrafa de havana digitalizada na encruzilhada
mãos falantes/antes prensando cigarros viciados em fumaça
flutuando acima de dedos instáveis numa euforia alcoólica inexatidão da vida
matemática escravidão matemática dias úteis
sentimentos inúteis amores mortos mortes sentimentais
apenso/penso/só na cidade que me transforma em solidão
que desbarata desbaratina desmata/mata/ ata e enlata
que não tem aonde ir que não consegue ou não sabe
ou porque não se lembra mais
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AXIOMA
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O INTERIOR DA VOZ
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À PROCURA DA SÍLABA PERFEITA
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TE DIREI
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CASUAL
Boa noite
noite boa
ainda pressinto/ressinto/sinto al dente
o misterioso cheiro de lua cheia
no feno-de-cheiro colgado de sereno da roça
92
QUÍMICA
No entanto
antevejo na química dos lençóis
uma paixão grifada/fada/da profunda alma da pele
até o fundo estalado dos ossos
o quanto teríamos somente a nós
nossos/ossos/sós/os ossos a sós
e a noite pródiga por testemunha
Que nada nos dividiria
nenhum butim nenhum desterro/erro nenhum
nenhum serafim nem odin nem o muro de berlim antes de 1989
seríamos o rock’n’roll um do outro
Mas antes do fim de noite
a varada madrugada a fim de nós dois
até o fim do mundo
menos da metade de uma noite inteira
valeria por mil e uma noites
93
TE DIREI
94
ALIÁS
Aquelas línguas
entrelaçadas/relaçadas/laçadas ali feito aço
são os mesmos beijos estalados
no enlace de nós dois
depois daquela esquina
escrita em off
naquela mal traçada rua
à direita de quem sobe
a esquerda avenida
com jeito de beco sem saída
e descaso de terreno baldio
sob a abóboda adúltera
do céu de lua nova cobiçando a lua cheia
onde a rua libertina e os cães vadios
são os meus signos
porque eu também clandestino/destino/tino de sobrevivente
apenas picho hum blues debaixo do muro
curtindo o riff da rouca ventania
espalhando folhas secas nos paralelepípedos
de algum universo paralelo
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E POR FALAR DE AMOR
96
logo eu que nem existo
penso e não existo
mesmo assim
cá dentro de mim essa madrugada/rugada/ugada contradiz
por hum triz
esse beijo explícito
nele o espargir do nosso amor
onde tudo começou
97
POR HUM TRIZ E DOIS DEDOS DE PROSA
98
ARBOR
99
TÃO MINHA
100
LÁBIA
101
entre danças do ventre e um certo céu de balangandãs
curtindo floreios no couro de um lascivo derbak
pela noite de mil e uma bagdás
de onde jorraria/ária rara de leite e mel
102
KOI
Pudera eu ser o samurai dos teus sonhos nesse repuxado olhar que mexe comigo
que cultiva um solitário bonsai através da noite oriental do meu viver
103
A TRISTEZA DURARÁ PARA SEMPRE
Às vezes
eu sinto falta da velha navalha amarela
e uma gang de girassóis no aço da órbita
quem me dera a orelha rasgada sangrando o amarelo-vangogh
Outras vezes
um sol atado ao girassol da noite interior
rebuscando o atilho de um sol maníaco-depressivo
que lapida o poeta e quebra as rimas
que exclama/clama/ama e odeia no deserto
o desconhecido deserto da alma
De vez em quando i love you
talvez a falta da orelha dependurada no amarelo pálido ou
de uma exangue carta de amor
e um cigarro aceso
aspergindo raios fúlgidos
porque senão eu morreria
ou ficaria louco
na lua cheia
que ora ricocheteia
no desângulo
104
APARENTEMENTE
Minha querida namorada morena abraçada comigo num abraço moreno e apertado
através da madrugada escura e fria que mais parece um beco sem saída
somos o rock’n’roll um do outro
em queda livre no caos
comendo o pão da morte e bebendo o vinho profano
enquanto contuso/uso e abuso da inspiração cortante como bala
eu sou o revólver da palavra
anjo do apocalipse
numa elipse de choq/
em queda livre no caos
oh tu que vives do lúcifer que habita em mim
minha triste namorada que vaga aqui e ali como se fosse aqui e ali
aparentemente tu crês em mim
aparentemente tu pensas que me tens
quando eu projeto teus seios intumescidos de prazer na minha desbocada jaqueta jeans
ou quando tu sentes a morna ilusão dos meus beijos trêmulos
realmente ouvindo lil wayne dizendo how to Love
aparentemente tu crês em mim
aparentemente tu pensas que me tens
mas eu não existo
nem pra mim
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ENQUANTO A MÚSICA NÃO PARA
106
A PÓLVORA DA PALAVRA
107
LA BARCA
108
batuqueiros mestre-sala e porta-bandeira a ala das bahianas e o candombe uruguaio
pecados mortais falsos profetas e guerras santas
entre côvados de alcovas trôpegas trompas de falópio e alcunhas
na palma das mãos sete palmos de profecia
bagulhos agulhas de bússolas e parábolas paraguaias
muambas muambeiros do mal e misturas destroçadas
derivam sem ancoradouro
Que o destino o além-mar além disso o leste e o oeste
o que está em cima assim como o que está embaixo
todas as coisas por dentro e por fora seguem embaçadas
como o cinturão da escuma na máquina da arrebentação
109
LÁGRIMAS/RIMAS/MÁS
110
MIRA
Entretanto
é o que lhe olhifica o olfato
no tempo apto
por condição de rapto
No entreolhamento
há uma grife de alcateia no olho no olho
111
MARE LIBERUM
112
AUTORRETRATO
Contempla em ti
todo o desmilinguir que insinua esse eclipse lunar
contempla então aquilo que não podes ver
impelido pela tua terrestre condição
migras de vitrine em vitrine como gafanhoto
então vendes a alma ao bom e velho diabo
quem te dá a ciência da maçã
para aumentar a tua manha inata
de sexo droga e dispoesia
parâmetro nas malditas/ditas/itas selvas
sob um céu em chamas chamuscado de vaidade drogas e aquecimento global
essa coisa que não vês
é hum viés
através do qual
tu quebras em convicção
e é algo assim
o qual não ouves
não podes cheirar nem podes crer
é o vazio que anda contigo
que por não o sentires
não te percebes também mas te aceitas
de aceitar todas as coisas
esse vácuo soberano em sua natureza és tu
113
porque também é vazio de nascença
assim como tu és
114
LÁBIA
Oh quem me dera teus seios de tâmaras das planícies férteis do sagrado rio nilo
para irrigar a sede profana da minha boca
115
PEDRA
116
A SAGA DO POETA MORTO
117
Folhas flores pedúnculos e raízes viram pedras de sal
cabeças cortadas não olham para trás
aquíferos flagelados
são meus olhos assinados de angústia
a te dizer toda intolerância do mundo
entre as nuvens do apocalipse
sob o signo da desilusão me despeço de ti
118
Finalmente minha bela cheia de graça
como o voo das garças
eu preciso te dizer da Serra do Curral
levando o cerrado no lombo do moribundo Velho Chico
e o chio amadeirado do último carro de boi
em dueto com a espiritual viola de cocho
de Zé Coco do Riachão
119
VERTIGEM
Luz marrom desse olhar que reluz nos meus olhos atônitos
permeando a dor das notívagas/vagas daqui em diante
estilhaços/aços enavalhados na carne do meu olhar
filmando essa mecha de cabelo que mexe comigo
e hum lânguido olhar escrito nos seus olhos
duas luzes deixando a estação rumo incerto amor em vão
descarrilando meu coração num desastre fatal
lágrimas surradas na face pela vertigem deste adeus
canção gotejando sem direção
e por ser sem direção eu vivo mesmo perdido num precipício escuro
onde a poesia não me conforta
ao invés disso
vem como um trem
atropelando meu peito/eito dilacerado
Poesia poesia
arte nossa de cada dia
o pão da palavra não me serve para nada
estou morrendo à míngua
suicídio de amor
120
DEDO
Um rastilho de furo
serigrafado no enchimento sentimental da camiseta
aberta ao peito
a saga da pólvora
devaneios de pirilampos
onde pululam resíduos de sangue pingando fogo
a vida colorida/ida em vão
cada passo descrevia/escrevia/revia/via/ia e vinha num compasso zãibo
até cair caindo ao chão
121
POR PURO ACASO
Calafrio/frio/rio de lágrimas
diante de toda fragmentação
debalde invoco a sua presença
a qual rejeito do mesmo jeito
Na dubiedade
um narguilé das arábias
esfuma hum seminu em posição de lótus
projetado entre doze colunas
sob a lua candelabro pendente das rachaduras do teto
abduzindo o pensamento
122
DO CAIS AO CAOS
Nau rediviva
que irá me apresentar
no cais do caos
no dia do juízo final
123
DISPOESIA MORTA
Moldes de vida
arremedos de gente trejeitos de lama morro abaixo
ar e morte último suspiro numa demiurgia de asfixia
a lama moldando a paisagem juízo final
o não sopro
o antissopro da vida
é de lama a agulha
que pigmenta aquelas prisioneiras peles
em mortalha teimosa de ferruginosa tatoo
era hum lugarejo de portas abertas e jardins de gente florida
No final
onde some toda luz toda cor todo luar
palmilha/milha/ilha de lama
após a curva acentuada da estrada
contorcendo na argila do tempo
que simplesmente derruiu
tudo é presságio
e a própria Barragem do Fundão
empurrada para a eternidade
deslizou com toda a humanidade
124
VINHA
125
VOIL
Comemos
no dois mil e um em uma noite morna de verão
pra comemorar a ancestral amizade
sorridentes/dentes/entes esquisitos
por demais estrangeiros
rangando meio a meio marguerita e quatro-queijos
numa orgia vegetariana
regada com trejeitos de bicho
e azeite de lua cheia
Vínhamos
de todos os sexos
de muitos povos
de todas as cores
de toda parte
daqueles campos sem amor
onde enterraram nossas cinzas em cruz
Sozinhos
nas trincheiras de minas
testemunhamos caras e bocas
gemendo e chorando de tanto engano
126
Perto de nós
uma fonte decorativa borbulha entre borboletas desbotadas
cores insípidas e inodoras aos borbotões
espalhando gotículas de voil
gotejando cabeças cortadas
como cortinas esvoaçantes
mas de um véu tão roto
que já começava a rasgar-se
127
PROFUNDA DISSOLIDÃO
Essas mesmas lágrimas são estrelas brilhando no vesgo espelho azul do mar
ao sabor de uma nesga de cabuloso luar fragmentado na beira do mar
que insiste em seu debuxo
através do qual eu vejo as marcas dispoéticas da solidão
128
POETA BOM É POETA MORTO
129
NOTURNO
130
COMICHÃO DE LÁGRIMAS
E eu ainda a me enganar
dispoesia enveredada
te espero a cada segundo te espero mais
samba da meia-noite
uma saudade imensa batuca
te procuro dentro do quarto escuro
um calafrio/frio/rio de lágrimas perpassa como um sabre os meus testículos
alcança os óculos jogados no chão autista do quarto
através das lentes quebradas vejo hum comichão de lágrimas
as mesmas lágrimas/rimas/más
porque você não está aqui
apenas os lençóis de uma cama virtual
onde eternamente posso vê-la
através da luz da saudade
131
ENTREVADA NO CÓRTEX AINDA
Na ambiguidade do abajur
entre a última canção y hum bolero lilás
como se fosse entre
me pega de surpresa/presa fácil
às vezes o absinto da saudade
estou sem chão
caindo no vazio de mim mesmo
apenso/penso/só em você
você
você
você
você
você
você
você
você
você
você
você
você
desgraçado à meia-luz
sinto falta do seu cheiro
num vestido com fenda
debruado de chiffon vermelho
solamente una vez
De vez em quando
eu não sou cachorro não
meu pensamento em torturas de amor
na penumbra uma canção do Waldick
faca de dois signos
entrevada no córtex
132
Daqui a pouco vou tomar hum copo de cerveja estupidamente
vou deitar na cama olhando pro teto rachado
gotejando raios de estrelas misturados com pipoca
ficarei olhando para o teto infinito do quarto até o fim
133
FIM DE NOITE
Resto de noite
ora de ir embora
hum clima de tapas e beijos
visto minha rasgada jaqueta jeans
entreaberta no peito/eito da dor
o fim de noite ynquieto de ciúmes com gim
ácido ípsilon dentro de mim
onde reverso/verso/só
a lágrima distinta
instinto de canto triste
e uma desesperada marca de tecnobatom/batom/tom sobre tom
no coração puído gritando por sua extraviada chama
134
APENAS HUM BLUES
Adiante baloiçam
réstias de allium sativum
numa legião de balas de prata
viajantes do espaço exterior
vociferando com os vampiros
e dançando com as bruxas
135
POR SINAL
Devias ouvir
os rumores do raiar do dia
amanhando o cântico altivo
E o seu galo
alegando um novo território
onde tudo se renova/nova/ova ovário da manhã
Cindir a parábola
com novidade de um sinal
fazendo outro
136
O AMOR É TUDO
Enquanto isso
divagando/vagando/ando cabisbaixo
leio nos meus olhos a solidão espalhada na solidão das ruas
cumprimento pessoas que nunca vi
que reconhecem em mim um subterfúgio
137
DEPOIS DA CHUVA
O jornal me lê
a olho nu
e o chá me toma
um tanto amargo
em sua chávena final
O telefone toca
vou correndo atender
deve ser ela
138
ENTRUDO
139
CONTRASTE
140
LUAREJO
Na mesa exaltada
assenta-se um poema zambo
declinado com banzo
oh exílio de mim
mandinga de tesão
eriçando os pelos
beijos sápidos
latejante baticum
No entanto
cabelos/belos/elos de luanda
ancas largas e lábios carnudos
debuxo de oxum
reluz brasil afora
141
Destarte
uma rede range na noite
tangida de luar
uma ponta enganchada em angola
outra no gancho da saudade
então hum rangido de tucum
quebra na noite como incêndio decaído/caído/ido em tando seco
142
VIVO OU MORTO
Nau rediviva
que irá me representar
à ira do caos
no dia do juízo final
143
LAMA LAMA
Perímetro empilhado/pilhado/ilhado
barro motriz e barragem/agem sem diretriz
morro abaixo ritmo acima
caminhos de ninguém
barreiro marrom
indiferente marrom
parâmetro amarronzado
variados tons de marrom
alguns marrom-escuros
outros obscuros ou mesmo escuros
rapto de rios no curvilíneo alagamento
para além da terra do céu e do mar
Lama lama que direi às terras de mariana de maria maria e do meu cavalo alazão?
daquela ferradura pregada atrás da porta
do meu rancho ferrado numa ferrenha mortalha de lama
qual é a tua sorte qual é?
que direi àquela criança trêmula emergindo
com seu cãozinho apertado ao peito
pintados de marrom-minério?
enfim que será de mim
que direi ao submerso vilarejo de bento rodrigues?
144
Ao fundo
uma abelha rainha faz moribundo zum-zum
lembranças de encantos/cantos/antos de néctar
violeiros contando causos rodas de viola
onde um dia janelas perfumadas de roça e urucum
e algum fruto do café
torrado e moído fora de hora
145
AUSÊNCIA
146
FACA
147
AQUELAS PALAVRAS
Vívida/vida/ida bandida
like a rolling stones
de qualquer jeito
no leito seco do rio
secura abaixo
segue feroz
na boca solitária
onde a voz é lobo voraz
em pele de cordeiro
148
DOMINGO À PARTE
No entanto
dia de festa domingo à parte
o metal que canta na garganta
degolando o cântaro/aro cantar
profanando a pedra filosofal
manchando o sagrado fôlego da terra
onde o canto se esvai
149
DA JANELA
150
ESPECTRO
Opus nº 1
Lá onde evanesce
a plumagem do último cisne
uma grande língua
lambe o mel azul do céu
meu coração sobrevivente/revivente/ente
das potestades da solidão
onde engaiolaram o voo
cooptaram a inocente algazarra do vento
nas reentrâncias de um curso cego
151
Opus nº 2
Quando enfim
o canto secar como o indomável saara
e não houver amanhecimentos de gorjeios
que clamavam pelo bálsamo extinto da zedoária
porque o oásis desistiu de nós
afrontado pela omissão retornou aos arcanos do alfa e do omega
152
VIADUTO
153
APESAR DO TIROTEIO
Quanto ao pós
nada pressente/ressente/ente vulgar
nem o gradiente encurvado
numa refração/fração/ação de segundos
metálico calafrio da espinha
discado nas vértebras feito hérnia
Porém
eu fui mais além
Tive incertezas
apesar do tiroteio
154
SÓ EU SEI DAS SEMENTES DO AMANHÃ
155
OUÇA-ME
Ouça-me
ainda sinto sua lágrima retinta de rímel
borrando as intrínsecas rugas do linho branco dos lençóis
dizendo-me eu te amo
e uma desesperada marca de luar
no desenhado crayon da noite
156
DIZ AÍ
157
NAVALHA NO CIO
Nem afrouxa
o talante da corda dominante
com manha de cânhamo
no talento/alento/lento nó
acochando a fauce ofegante
158
SLOGAN LAMBUZADO
Tocando a vida
como meu violão me toca
ele é o meu pacto
é só o prenúncio
do meu diabo
depois a gente se toca
se corta se mata se beija
e fica o slogan lambuzado
159
FRAGMENTOS
Hum poeta morto aqui e ali se apresenta com seu trabalho inspirado em suas mais
profundas e psicológicas memórias frações sanguíneas filmando relatos selvagens e os
submundos de plutão
Versos viscerais a voz veloz no vão roucos traços urbanos cheios de ódio e paixão
impactos imprevistos e becos sem saída de tudo um pouco conceito de separação e
aglutinação
Esquinas anômalas muros pichados onde o piche é mais forte do que a cidade inteira
Supondo assim neologismos metafísicos e novos quistos numa estética fragmentária de
um transverso/verso/só e mal acompanhado
Lobos solitários rondando a cidade desamparada lobos vorazes à solta nos destroços de
nossas mentes ocidentais danificando a estrutura de um futuro imediato
Sardas repetitivas na cidade onde a pólvora ganha espaço onde o medo onde em
negrito/grito/rito e os sinais despedaçados
Script sem pontos dois pontos três pontos ponto e vírgula outros apontamentos na
gráfica esquizofrenia da noite
160
Onde não há sinais de pontuação por traduzir a ideia da devastação dentro e fora do
significante onde o ser é um corpo esquartejado ganhando significados no
insignificante
Morte e sangue coagulados na garganta embriagada com sumo de amor cego a cegueira
sem fim o fim do mundo em cada fim de noite de ciúmes com gim numa noite a fim de
qualquer direção
Na verdade não estou querendo dizer mas digo diz aí octavio paz o poeta não quer dizer
o poeta diz dizendo tanto quanto é possível dizê-lo
Minha pegada aponta para algo mais sério que uma simples brincadeirinha fácil com a
ortografia logrando sugerir um desejo sutil de danificação da matéria linguística
estabelecida
161
As barras aqui e ali interpostas danificam e expandem o sexo a imagem e o som e a cor
da palavra
Construindo assim uma nova personalidade com inevitáveis traumas que herdamos de
infelizes incidentes e temores deste inferno nosso de cada dia
Este poema sem poesia é cheio de malícia como a serpente que anda no deserto o
desconhecido deserto da alma onde tudo é muito nu e cru
Nestes versos esquizoides com status de palavra dada eu me recriei sem uma ordem
cronológica/lógica/cá ou lá ou seja lá o que for
Plantas dos pés palmas das mãos palavras santas juras de amor o plexus sacro orgias e
anjos decaídos e bacanais regados ao som de mijos misturados com uvas trituradas
fermentadas vertendo geladas nos copos ávidos em meio a outros quebrados da mesma
cepa num determinado espaço-tempo
Meu coração balança com medo da poesia extrema e sofrendo de solidão sem limite
sem ter para onde ir
Além disso eu trago cenas de terror e cabeças cortadas nas sombras nos templos nas
162
casas nas ruas e avenidas num nostálgico boteco do maletta nas canções que eu faço ou
nas músicas de um motel vagabundo que ouço agora mas nunca de boa nunca de paz
nunca de amor nunca de boa
Trata-se do que está vivendo hoje neste tempo esquartejado na cidade cinza o
urbanóide híbrido de gente e monstro cujos referenciais humanos e não humanos se
confundem cada vez mais numa categoria de pedaços aglutinados
Uma zona responsável mais do que qualquer outro aspecto pela conversão do meio
social em meio paradoxalmente/mente/ente infernal lugar de uma insuportável inversão
a qual paradoxalmente insistimos em suportar
O poeta aqui e ali acolá alhures transita à maneira baudelairiana pelo ofício de nossa
carnificina cotidiana
Pelo menos como tem sido como tudo está amareladamente agonizando à queima-roupa
chumaços de merla e um bicho-poeta ferido de morte cambaleia cracolândias afora em
meio à multidão indiferente a qualquer dor e desumanizada de tanto medo de se
comprometer
Uma imagem recicla nas veias deste livro que padece de uma positiva
hiperdeficiência/deficiência/ciência de uma imagem que não larga nossos sentidos
163
Como dizia olavo bilac e eu na dividida faço pasticho
Inculta florisbela/bela/ela e tão bela
a última flor do lácio inculta e bela
é isso aí
164
GRITO VIGENTE
Elucubro
Na escalada/alada/da noite
a voz atroz contumaz
que circunda a praça
poema feroz
entre as ruínas de um beijo
ferido de morte
dessa boca infiel
que joga comigo
165
DESÍGNIOS
166
COM UM PEQUENO DESIGN DE SANGUE
167
PRÓLOGO
Coração/oração/ação
lobo solitário
prólogo das hierarquias da solidão
vaga ciganamente
pela noite giratória
desta sodoma ofegante
em diante/ante este e aquele instante
farejando o cheiro de pele a fim de outras peles
te amando como bicho solto
nas veredas da poesia
um retrato mal falado
168
BOA NOITE
169
ENIGMA
170
TÁ NA MESA
171
POR QUEM HERDAREMOS A TERRA
Água na boca
matéria do caos
o poder da terra/erra
no diáfano
ejaculando especiarias
das terras tropicais
aflorada picante
vermelha negra branca amarela
mestiçando a cor
Diga-me do fim
é do fim que eu falo
matemática errática próxima safra
antes do dilúvio universal
curtir o trigo
estocar o pão e envasar o mel
172
Alguém
me estende a língua bifurcada
onde eu me predestino/destino/tino do bem e do mal
como se fosse um beijo sacana ou um beijo apenas
vindo de algum bem do mal ou de algum mal do bem
173
PALAVRA BRUTA
Quanto a mim
tocando terror
174
PASSADO PRESENTE E FUTURO
175
INSTANTE
O temperamento mira
desmira/mira/ira métrica
no aro aquilo e aquilino da retina
riscando as vértebras sem morfina
arguindo a fria geometria da bala
no calafrio encurvado da espinha
alinhado com a irreversível trajetória
que transfixa o instante
176
HUM
177
FACA
178
ROLETA-RUSSA
Às vezes
terrorismo no íntimo dos tímpanos
algumas vezes
lágrimas/rimas/más
talvez
borboleta-bomba
ou roleta-russa
explodindo
entre a vida/ida em vão e a morte certa
179
FIRMEZA
Sinta firmeza
em quem te dá a alma
como se fosse um funk
desenhado no pacto
Sinta firmeza
neste alguém que sempre vai estar lá
segurando seu coração aflito
que bem sabe talvez
que no pez desta noite
este mundo é feito de maldade e ilusão
como cantava caymmi
enquanto eu declamo/clamo/amo replicar aqui
Mas
sinta firmeza
somente se houver troca
180
AXIOMA
De algum não-lugar
aquela amante vagabunda
fagulha/agulha intensa
tinha em seu olhar
a saga da hulha bruta
que guarda a brasa viva
como um axioma transcendental
onde tudo pode ser e não ser
e não ser ao mesmo tempo
181
LUA MOURISCA
182
ISMOS A ESMO
183
AUTORRETRATO
Contempla em ti
todo o desmilinguir
que insinua esse eclipse lunar
contempla então
aquilo que não podes ver
impelido pela tua terrestre condição
migras de vitrine em vitrine
como gafanhoto
então vendes a alma
ao bom e velho diabo
quem te dá a ciência do sexo da dança e da moda
para aumentar a tua manha inata
em devorar roubar e enganar
parâmetro nas malditas/ditas/itas selvas
sob um céu em chamas chamuscado
de vaidade drogas e aquecimento global
essa coisa que não vês
que não ouves não podes cheirar nem podes crer
é o vazio que anda contigo
que por não o sentires
não te percebes também mas te aceitas
de aceitar todas as coisas
esse vácuo soberano em sua natureza és tu
184
porque também é vazio de nascença
assim como tu és
185
A CANA DO CORTE
Desbatucando/batucando/ando
maracatu dispoético
trago nos calos da destra
a sinistra em voz alta
as fibras do batuque
o duro nó da cana que também é doce e solidão
cana decepadeira
no centro do coração
macerando o bagaço da rima
palha espalhada aos quatro ventos
faca de lágrimas sulcando a face
onde batuca meu maracatu amaro
e uma palha da palavra incendeia a cabeça
inspiração moldada no amor e na morte
parte/arte imitando a vida
parte vida imitando a arte
186
PERCURSO
Plataforma de despedida
beira/eira/ira da palavra
maquinando o imenso desabrigo do mundo
porque uma locomotiva/motiva love in vain
num viridário de ferro
declarando toda contradição
tão letargicamente snob
num percurso óbvio
187
TÊNIS
188
BELORIZONTE BELORIZONTE
189
ENQUANTO OS DESERTOS LADRAM
190
FEIJOADA
191
VIADUTO
192
A BALADA DE JOHNNY PIXOTE
Maria baladeira
deu agora pra arrepiar na balada
rebolando até o chão no meio do salão
pichou de amor o coração de johnny pixote poeta picareta e pichador
entre um passo e outro
suores tremeluzindo amor à primeira vista
descompassos/compassos/passos e passinhos
suores jateados no rebolado dela
193
URUBU REI
194
DEPOIS DA CHUVA
O jornal me lê
a olho nu
e o chá me toma
um tanto amargo
em sua chávena final
O telefone toca
vou correndo atender
deve ser ela
195
DISSOLIDÃO OUTRA VEZ
Enquanto isso
divagando/vagando/ando cabisbaixo
leio nos meus olhos a solidão oblíqua espalhada na dissolidão das ruas
cumprimento pessoas que eu nunca vi
que reconhecem em mim um subterfúgio
196
A OUTRA FAROFA MECÂNICA
197
FELIZ NATAL
Amados poetas
inesquecíveis parceiros de copo sedentos da impecável cachaça da palavra
Fogos de artifício
o furta-cor crocante que reluz amendoado
trocas de castanhos olhares
entre castanholas de beijos
e abraços estalando caras e bocas afora
Informo-vos ainda
de que logo voltaremos ao ângulo da realidade
daqui a pouco a casa caiu
tudo será cinzas
como o final de uma partida de futebol
como a quarta-feira/eira e beira de cinzas
e nada mais
198
Que nada sobreviverá
à matéria escura das vaidades
alguém virá dizer
um derradeiro clip
no improvável eclipse
do fundo de algum baú
É que eu me enovelo
numa poção de cauim com demanda de benjoim
sangrando um bongô brasileiro
embebido em flechas com zanga de curare
talhado restrito/estrito/rito no venerável alfanje
da minha querida mãe iansã mulher de xangô
199
AMOR/OR NOT LOVE Nº1
200
AMOR/OR NOT LOVE nº2
Depois
amarelo
maduro
amarás maturado
amor agridoce amar
amor ódio amado amor
Na guerra e no carnaval
vale tudo aval volátil
valor da carne amor mortal
beijo carnívoro carnal carne carmesim
ente oral encarnado
201
ARCO
Todavia se eu pudesse
faria um escrachado crochê
na fronha do seu travesseiro
guardado com sachê de capim-limão
202
FACE
Às vezes
eu sinto falta da velha navalha amarela
e uma gang de girassóis
em órbita na orelha fugaz
sangrando o amarelo-vangogh
Outras vezes
um sol atado ao girassol da noite interior
rebuscando o atilho de um sol maníaco-depressivo
que lapida o poeta e negreja as rima/imã
magnetizando a orelha dependurada num outro amarelo atraindo o fio do corte
de uma exangue carta de amor
e um cigarro aceso no escuro de um cubículo
aspergindo raios fúlgidos
porque senão eu morreria
ou ficaria louco
na lua cheia
que ora ricocheteia
no desângulo
203
A OUTRA FACE
204
FACE A FACE
205
PUNHAL
No entanto
você que me mata
não do golpe certeiro
porque dele eu não morreria tanto
mas atingido
pela vivida/vida/ida em vão
por não estarmos juntos e misturados
pela não vivida experiência
de morrermos adjuntos
206
BATOM
207
CHAMA
Abençoada lingerie
escrita nas curvas
os sentidos da calcinha acesos
em cada retalho/talho e detalhe do corpo
Porém
de rescaldo
louvo-te oh alcova que incendeia
eu já o disse nas páginas da vida
mas não custa nada repetir
e não me canso de repetir
serpenteio de salamandras
enxame de fogo na essência dos lençóis
acender as cinzas com a pele em brasa
208
E POR FALAR DE AMOR
209
ORA ORA
Eu já vivi de tudo
por pura púrpura
ou por muita fantasia ou por falta d’água
apenso/penso/só me resido em você
somente em você existo
logo eu que nem existo também
penso logo não existo
mesmo assim
cá dentro de mim essa madrugada/rugada/ugada contradiz
e nada desdiz
esse beijo explícito
nele o espargir do inexistir
onde tudo começou
210
SÓ EU SEI DAS SEMENTES DO AMANHÃ
211
SUICIDAS ERRANTES
Ah coração/oração/ação
entre suicidas errantes
vertigem nauseabunda
em busca do porto inatingível
velocidade no escuro
amor dispoético
esse coração parte de mim
boa parte dele é trash
o resto é flashback
212
LA BARCA
213
TANGERINA
214
TANGERINA Nº2
Por fim
rasga-me o peito bruto
e colhe o meu coração
só pra dizer que tu és minha
215
A OUTRA TANGERINA
216
Por fim
rasga-me o peito bruto
e colhe o meu coração
só pra dizer que tu és minha
217
NOITE NÍTIDA
Entanto
incapaz de dizer por onde andas
a noite fecha o seu ritmo
script no meu coração
porque aí todos os passos são pardos
Enfim
pergunte àquele pé de ipê cheirando pó
arqueado naquela ponta de rua
que bem sabe do que eu seria capaz
para te ver pela última vez
218
VIOLÃO DANINHO
219
ALQUIMIA
No entanto
antevejo na química dos lençóis
uma paixão grifada/fada/da alquimia da pele
até o fundo estalado dos ossos
o quanto teríamos somente a nós
nossos/ossos/sós/os ossos a sós
e a noite pródiga por testemunha
220
PERDIDO
No entanto
você que me mata
não do golpe certeiro
porque dele eu não morreria tanto
mas atingido
pela vivida/vida/ida em vão
por não estarmos juntos e misturados
pela não vivida experiência
de morrermos adjuntos
221
RUMBAS AO RUM
Entanto
esse clímax de quadris rolando a noite inteira
fogo ardendo no álcool dos olhares
eclosão de ódio e paixão
sumo de tapas e beijos
sem rumo nem rima
nos olhos e no coração
erupção de lábios
Oh diga-me de ti
diga-me assim
desse requebro cubano
encarvalhado na música alta
batidas no solitário tonel da paixão
onde eu me perdi
222
NOTURNO
223
TÃO MINHA
224
ENTREVADA NO CÓRTEX
Na ambiguidade do abajur
entre a última canção e um bolero lilás
como se fosse entre
me pega de surpresa/presa fácil
às vezes o absinto da saudade
estou sem chão
caindo no vazio de mim mesmo
apenso/penso/só em você
você
você
você
você
você
você
você
você
você
você
você
você
desgraçado à meia-luz
sinto falta do seu cheiro
num vestido com fenda
debruado de chiffon vermelho
solamente una vez
De vez em quando
eu não sou cachorro não
meu pensamento em torturas de amor
na penumbra uma canção do waldick
faca de dois signos
entrevada no córtex
225
FIM DE NOITE
226
APENAS O VELHO E BOM BLUES
Adiante baloiçam
réstias de allium sativum
numa legião de balas de prata
viajantes do espaço exterior
vociferando com os vampiros
e dançando com as bruxas
227
POR SINAL
Devias ouvir
os rumores do raiar do dia
amanhando o cântico altivo
E o seu galo
alegando um novo território
onde tudo se renova/nova/ova ovário da manhã
Cindir a parábola
com novidade de um sinal
fazendo outro
228
DISSOLIDÃO MAIS UMA VEZ
Enquanto isso
divagando/vagando/ando cabisbaixo
leio nos meus olhos a solidão espalhada na solidão das ruas
cumprimento pessoas que nunca vi
que reconhecem em mim um subterfúgio
229
DEPOIS DA CHUVA
O jornal me lê
1a olho nu
e o chá me toma
um tanto amargo
em sua chávena final
O telefone toca
vou correndo atender
deve ser ela
230
ENTRUDO
231
O OUTRO CONTRASTE
232
QUASE POR HUM TRIZ E DOIS DEDOS DE DISPOESIA
No front
jogado num canto sem contorno
um par de coturnos rotundos e desbeiçados
sorrindo/rindo/indo e vindo de si mesmo
anda no indeciso rangido de sucupira
do assoalho de tábua corrida
233
A OUTRA CLARIVIDÊNCIA
Eu lobo-guará
pastor notívago do exílio
abrindo a noite bicho solto
na clarividência canina dos dentes
em que também pastoreia
a pele espinhosa da lobeira
234
MINÚCIAS
Entretanto
é o que lhe olhifica o olfato
acentuado à caça e ao caçador
por condição de instinto
No entreolhamento
há um minucioso gato na gente
235
QUILHA
Além disso
o que está em cima assim como o que está embaixo
todas as coisas por dentro e por fora seguem desnorteadas
como o remix da escuma
na máquina da arrebentação
236
OUTROSSIM
237
LÁBIA
Oh quem me dera teus seios de tâmaras das planícies férteis do sagrado rio nilo
para irrigar a sede profana da minha boca
238
PEDRA
239
A SAGA DO POETA MORTO
Oh meu imenso amor já evanesce a plumagem do último cisne e quase morto declaro
aqui minha zanga sem fim onde uma enorme língua lambe o mel azul do céu prefácio
crepuscular supondo que já revivi/vivi/vi e revi este filme antes
Oh minha deusa nem tão minha assim que um dia me enfeitiçou com eflúvios de iansã
minha mulher de fé eu não tenho onde reclinar as minhas palavras análogo aos poetas
sobreviventes/viventes/entes das potestades da solidão ao som ritual de gargantas
cortadas porquanto já secam todos os cantos da terra como o indomável saara
Enquanto meu coração sedento cambaleia sem esperança pelos fragmentos deste
desertificado dispoema desejando o bálsamo extinto das águas certo de que o oásis
afrontado retornou aos arcanos do caos
Folhas e flores despedaçadas entre aquíferos flagelados são meus olhos assinados de
angústia a te dizer toda intolerância do mundo entre nuvens do apocalipse
Enquanto a brisa morna/orna/na tarde dos tempos a mortiça cor ora engaiolando o voo
ora cooptando a inocente algazarra dos ventos nas reentrâncias de um curso cego
Clamo pelas esquinas de boa com a lua abençoando nossos irmãos com seus cds piratas
fazendo scracth ali e peço-te licença para clamar muito mais pelos guerreiros sprays
violentados na 23 de março
Além da lira do lápis químico o lápis do lápis o lápis da poluição o lápis de baal o lápis
da seca o antilápis da criação o sinal dos tempos porque os tabernáculos da terra foram
violados
240
E o paraíso perdeu-se para sempre e sempre na cabulosa cegueira de nós mesmos/esmos
a esmo
241
VERTIGEM
Luz marrom desse olhar que reluz nos meus olhos atônitos
e por ser sem direção eu vivo mesmo perdido num precipício escuro
ao invés disso
Poesia
suicídio de amor
242
CORAÇÃO
Coração/oração/ação
afiado de bruxaria
de corte profundo
e tinge de morte
243
MARE LIBERUM
eu sou o samba
de ondas gigantes/antes
morena do mar
da laia de yemanjá
Oh rainha de minh’alma
244
que nos destroços dessa maré
245
CORPUS
no repique do pé
áfricas pimenta viço pele malagueta Kill Bill malagueña cinema pipoca com guaraná
guarânias guaranis
vívido/ido e bem-vindo
água de coco água viva água mineral água na boca aquarela do Brasil Ari Barroso
escrevinha grassa graça grama oh green grass London London também na dança
requebra/quebra tamborim
em risco de extinção
246
NA QUEBRADA DO SÁBADO
sob as refrações
ou porque já se esqueceu
247
No entanto
248
KOI
Pudera eu ser o samurai dos teus sonhos nesse repuxado olhar que mexe comigo
Assim
no portão de chegada
249
É NÓIS
Eis a palavra
à flor da língua
impele/pele química
comete dispoesia
entrecortada no engano
cortejo de lágrimas
É nós
eis a palavra
à flor da língua
impele/pele química
comete dispoesia
250
RAÇAGEM
rumo ao magarefe
na passageira extensão
251