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Capítulo 1

Complementos de funções reais de


variável real

1.1 Lógica
Definição 1.1. Uma proposição é uma expressão à qual podemos atribuir o valor lógico de
verdadeiro ou falso.

Observação 1.2.

1. Uma proposição não pode ser simultaneamente verdadeira e falsa. (Princípio da não
contradição)

2. Uma proposição ou é verdadeira ou falsa. (Princípio do terceiro excluído)

Exemplo 1.3.

1. A frase “20 é um número grande” não é uma proposição.

2. A frase “20 é um número par” é uma proposição.

3. A frase “amanhã há aula de Análise I” é uma proposição.

Operações lógicas. Dadas proposições p e q, podemos definir as operações lógicas de negação


(não), conjunção (e), disjunção (ou), implicação (se ... então) e equivalência (se e só se).

1. A negação de p é uma nova proposição ∼ p, que se obtém antepondo as palavras “não é


verdade que” a p.

2. A conjunção das proposições p e q é uma nova proposição p ∧ q, que se obtém ligando p e


q com a palavra “e”.

3. A disjunção das proposições p e q é uma nova proposição p ∨ q, que se obtém ligando p e


q com a palavra “ou”.

4. A implicação das proposições p e q é uma nova proposição p ⇒ q, que se obtém ligando p


e q na forma “se p então q”.

5. A equivalência das proposições p e q é uma nova proposição p ⇔ q, que se obtém ligando


p e q com as palavras “se e só se”.

1
Complementos de funções reais de variável real
Os valores lógicos das proposições resultantes podem ser apresentados em tabelas de verdade:
p ∼p
V F
F V

p q p∧q p q p∨q p q p⇒q p q p⇔q


V V V V V V V V V V V V
V F F V F V V F F V F F
F V F F V V F V V F V F
F F F F F F F F V F F V

Exemplo 1.4. Consideremos as proposições p: há nuvens no céu e q: está a chover.

1. A negação de p é a proposição “não há nuvens no céu”.

2. A conjunção p ∧ q é a proposição “há nuvens no céu e está a chover”.

3. A disjunção p ∨ q é a proposição “há nuvens no céu ou está a chover”.

4. A implicação p ⇒ q é a proposição “se há nuvens no céu então está a chover”.

5. A equivalência p ⇔ q é a proposição “há nuvens no céu se e só se está a chover”.

Quantificadores. Quando consideramos expressões que envolvem variáveis, podemos aplicar


ainda três outras operações lógicas: os quantificadores ∀ (para todo), ∃ (existe um) e ∃1 (existe
exactamente um).

Exemplo 1.5.

1. A proposição ∀ x ∈ R, x2 > 0 é falsa.

2. A proposição ∀ x ∈ R, x2 ≥ 0 é verdadeira.

3. A proposição ∃ x ∈ R : x2 > 0 é verdadeira.

4. A proposição ∃ x ∈ R : x2 < 0 é falsa.

5. A proposição ∃1 x ∈ R : x2 > 0 é falsa.

6. A proposição ∃1 x ∈ R : x2 = 0 é verdadeira.

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Complementos de funções reais de variável real

1.2 Conjuntos
Conjuntos. Sejam A, B subconjuntos de R. Então:

1. A ∪ B = {x ∈ R : x ∈ A ∨ x ∈ B};

2. A ∩ B = {x ∈ R : x ∈ A ∧ x ∈ B};

3. A\B = {x ∈ R : x ∈ A ∧ x 6∈ B}.

Diz-se que A está contido em B (e escreve-se A ⊂ B) ou que B contém A (e escreve-se B ⊃ A)


se ∀ x ∈ R, x ∈ A ⇒ x ∈ B.

Definição 1.6.

1. O conjunto vazio, ∅, é o conjunto que não contém elementos.

2. O conjunto dos números naturais, N, é o conjunto {1, 2, . . .}.

3. O conjunto dos números inteiros, Z, é o conjunto {. . . , −2, −1, 0, 1, 2, . . .}.


na o
4. O conjunto dos números racionais, Q, é o conjunto : a, b ∈ Z ∧ b 6= 0 .
b
5. O conjunto dos números irracionais, I, é o conjunto dos números que não podem ser
a
exprimidos na forma , com a, b ∈ Z, b 6= 0.
b
6. O conjunto dos números reais, R, é o conjunto Q ∪ I. (Note-se que I = R\Q.)

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1.3 Propriedades dos números reais


Lei do anulamento do produto. Um produto de dois números é nulo se e só se um dos
factores é nulo, isto é,
x · y = 0 ⇔ x = 0 ∨ y = 0.
Equações. Uma equação é uma condição da forma

A = B,

onde pelo menos uma das expressões A ou B envolve uma variável x. Observemos que, para
quaisquer expressões C e D 6= 0, A = B ⇔ A + C = B + C e A = B ⇔ D · A = D · B.
Inequações. Uma inequação é uma condição da forma

A < B, A ≤ B, A > B ou A ≥ B,

onde pelo menos uma das expressões A ou B envolve uma variável x. Observemos que, para
qualquer expressão D > 0, A > B ⇔ D · A > D · B e para qualquer expressão D < 0,
A > B ⇔ D · A < D · B.
Observação 1.7. Observemos que o produto x · y é positivo se e só se x, y são ambos positivos
ou ambos negativos.
3 1
Exemplo 1.8. Consideremos a equação + = x. Temos que:
x−1 1−x
3 1 3 1 3 −1 x(x − 1)
+ =x ⇔ + −x=0⇔ + − =0
x−1 1−x x−1 1−x x−1 x−1 x−1
3 − 1 − x2 + x −x2 + x + 2 −(x − 2)(x + 1)
⇔ =0⇔ =0⇔ =0
x−1  x−1 x−1
⇔ x = 2 ∨ x = −1 ∧ x 6= 1.
3 1
Para resolver a inequação + ≥ x, temos que:
x−1 1−x
3 1 3 1 −(x − 2)(x + 1)
+ ≥x ⇔ + −x ≥ 0⇔ ≥ 0.
x−1 1−x x−1 1−x x−1
Para obtermos as soluções, temos que estudar o sinal de cada um dos factores:

−∞ −1 1 2 +∞
−(x − 2) + + + + + 0 −
x+1 − 0 + + + + +
x−1 − − − 0 + + +
f (x) + 0 − s/s + 0 −

Assim, o conjunto solução da inequação é ] − ∞, −1]∪]1, 2].

Definição 1.9. Chama-se módulo ou valor absoluto do elemento x ∈ R ao número |x| definido
por 
x se x ≥ 0
|x| = .
−x se x < 0

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1.4 Noções topológicas em R


Definição 1.10. Seja A um subconjunto não vazio de R. Diz-se que:
1. M ∈ R é um majorante de A se x ≤ M, ∀ x ∈ A;
2. m ∈ R é um minorante de A se m ≤ x, ∀ x ∈ A.
Exemplo 1.11. Seja A =]1, 2]. Então 2 é um majorante de A, e 1 é um minorante de A. Mais,
o conjunto dos majorantes de A é [2, +∞[, e o conjunto dos minorantes de A é ] − ∞, 1].
Definição 1.12. Seja A um subconjunto não vazio de R. Diz-se que:
1. s ∈ R é o supremo de A, s = sup A, se s é o menor dos majorantes de A;
2. i ∈ R é o ínfimo de A, i = inf A, se i é o maior dos minorantes de A.
Exemplo 1.13. Seja A =]1, 2]. Então sup A = 2 e inf A = 1.
Observação 1.14. Se s = sup A ∈ A, diz-se que s é o máximo de A, e escreve-se s = max A;
se i = inf A ∈ A, i diz-se o mínimo de A, e escreve-se i = min A.
Definição 1.15. Seja a ∈ R. Chama-se vizinhança de a (de raio ε) ao intervalo ]a − ε, a + ε[,
para algum ε > 0.
Definição 1.16. Seja X ⊆ R um conjunto não vazio. Um ponto a diz-se:
(a) interior a X se existe uma vizinhança de a que está contida em X;
(b) exterior a X se é interior a R\X;
(c) fronteiro a X se toda a vizinhança de a intersecta X e R\X.
Chama-se interior de X, int(X), ao conjunto dos pontos interiores a X; exterior de X, ext(X),
ao conjunto dos pontos exteriores a X; fronteira de X, fr(X), ao conjunto dos pontos fronteiros
a X.
Exemplo 1.17.
1. Se X =]0, 1[, então int(X) =]0, 1[, ext(X) =] − ∞, 0[∪]1, +∞[ e fr(X) = {0, 1}.
2. Se X = [0, 1], então int(X) =]0, 1[, ext(X) =] − ∞, 0[∪]1, +∞[ e fr(X) = {0, 1}.
3. Se X = [0, 1[, então int(X) =]0, 1[, ext(X) =] − ∞, 0[∪]1, +∞[ e fr(X) = {0, 1}.
Definição 1.18. Um conjunto X ⊆ R não vazio diz-se aberto se X = int(X), e diz-se fechado
se X = int(X) ∪ fr(X).
Exemplo 1.19.
1. X =]0, 1[ é aberto.
2. X = [0, 1] é fechado.
3. X = [0, 1[ não é aberto nem fechado.
Definição 1.20. Seja X ⊆ R um conjunto não vazio. Um ponto a ∈ R diz-se um ponto de
acumulação de X se qualquer vizinhança de a contém um elemento x ∈ X, x 6= a. O conjunto
dos pontos de acumulação de X denota-se por X ′ .
Exemplo 1.21.
1. Seja X =]0, 1[. Então X ′ = [0, 1].
2. Seja X =]0, 1[∪{2}. Então X ′ = [0, 1].
3. Seja X = {0, 1, 2}. Então X ′ = ∅.

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1.5 Conceitos gerais de funções reais de variável real


Definição 1.22. Dados dois conjuntos X e Y , chamamos função de X em Y a uma corre-
spondência que a cada elemento x ∈ X associa um e um só elemento y ∈ Y .
Observação 1.23. Se f : X −→ Y é uma função, dizemos que X é o domínio de f (denotamos
por Df ou D) e Y é o conjunto de chegada de f . Chama-se contradomínio de f ao conjunto
CDf = {y ∈ Y : y = f (x) para algum x ∈ X}.
Exemplo 1.24. Seja f : R −→ R a função definida por y = sin x. Então o domínio de f é R, o
conjunto de chegada é R, e o contradomínio é [−1, 1].

Definição 1.25. Seja f uma função. Diz-se que f é:


1. injectiva se ∀ x, y ∈ D, f (x) = f (y) ⇒ x = y;
2. sobrejectiva se CD é igual ao conjunto de chegada;
3. bijectiva se é injectiva e sobrejectiva.
Exemplo 1.26.

1. f (x) = x é injectiva e sobrejectiva. 1


2. f (x) = é injectiva mas não é sobrejectiva.
x

y y

x x

3. f (x) = sin x não é injectiva nem sobrejectiva.


y

4. f (x) = tan x é sobrejectiva mas não é injectiva.


y

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Complementos de funções reais de variável real

Definição 1.27. Seja f uma função. Diz-se que f é:

1. crescente se ∀ x, y ∈ D, x < y ⇒ f (x) ≤ f (y);

2. decrescente se ∀ x, y ∈ D, x < y ⇒ f (x) ≥ f (y).


1
Exemplo 1.28. A função f (x) = x é crescente, e a função f (x) = é decrescente. A função
x
f (x) = x2 é decrescente em ] − ∞, 0] e crescente em [0, +∞[.

Definição 1.29. Seja f uma função e a ∈ D. Diz-se que f tem:

1. um máximo local em a se existe uma vizinhança de a, V , tal que f (x) ≤ f (a) ∀ x ∈ V ∩ D;

2. um mínimo local em a se existe uma vizinhança de a, V , tal que f (x) ≥ f (a) ∀ x ∈ V ∩ D.


1
Exemplo 1.30. As funções f (x) = x e f (x) = não têm extremos locais. A função f (x) = x2
x
um mínimo local em 0.

Definição 1.31. Uma função f diz-se:

1. par se f (−x) = f (x) para x ∈ D;

2. ímpar se f (−x) = −f (x) para x ∈ D;

3. periódica com período p ∈ R se f (x) = f (x + np), para n ∈ Z e x ∈ D.


1
Exemplo 1.32. As funções f (x) = x, f (x) = e f (x) = sin x são ímpares. As funções
x
2
f (x) = x e f (x) = cos x são pares. As funções f (x) = sin x e f (x) = cos x são periódicas.

Definição 1.33. Sejam f e g duas funções. Chamamos função composta de g com f à função
g ◦ f , com domínio D = {x ∈ Df : f (x) ∈ Dg }, definida por g ◦ f (x) = g(f (x)).

Exemplo 1.34. Se f (x) = x2 +1 e g(x) = sin x, então g◦f (x) = sin(x2 +1) e f ◦g(x) = sin2 x+1.

Definição 1.35. Seja f uma função injectiva. Chamamos função inversa de f à função f −1 ,
com domínio CDf , definida por x = f −1 (y) ⇔ y = f (x).

Exemplo 1.36. Se f : R −→ R é definida por f (x) = ex , então a função inversa f −1 : R+ −→ R


é definida por f −1 (y) = ln y.

Polinómios e funções racionais. Um polinómio (de grau n) é uma função que pode ser escrita
na forma
a0 + a1 x + a2 x2 + a3 x3 + · · · + an xn ,
com a0 , a1 , a2 , . . . , an ∈ R, an 6= 0, n ∈ N.
Por exemplo, p(x) = 2, q(x) = x + 1, r(x) = x2 + x − 1 e s(x) = x3 + 2x2 − x + 1 são
polinómios (de grau 0, 1, 2 e 3, respectivamente), com gráficos:

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Complementos de funções reais de variável real

y y
p(x)
q(x)

x x

y y
r(x) s(x)

x x

Observe-se que o domínio de um polinómio é R.


Todo o polinómio p(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + a3 x3 + · · · + an xn de grau n pode ser escrito na
forma
p(x) = an (x − α1 ) · · · (x − αn ),
onde α1 , . . . , αn são todas as raízes (reais ou complexas) de p(x). Chama-se multiplicidade da
raíz α ao número de vezes que o factor x − α aparece naquela factorização.
Chama-se função racional a uma função da forma

n(x)
d(x)

onde n(x) e d(x) são polinómios.


x x+2
Por exemplo, são funções racionais f (x) = e g(x) = 2 , com gráficos:
x−1 x +1
y y
f (x)
g(x)

x x

n(x)
Observe-se que o domínio de é D = {x ∈ R : d(x) 6= 0}.
d(x)

Funções exponenciais. Chama-se exponencial (de base a) à função definida por f (x) = ax ,
com a ∈ R+ \{1}.  x
x x 1
Por exemplo, são exponenciais as funções f (x) = e , g(x) = 3 e h(x) = .
2
Para qualquer a ∈ R+ \{1}, a função ax tem domínio R, contradomínio R+ e é injectiva.
Para a > 1, a função é crescente,

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e para 0 < a < 1, a função é decrescente,


y

Funções logarítmicas. Chama-se logaritmo (de base a) à função definida por f (x) = loga x,
com a ∈ R+ \{1}, tal que y = loga x ⇔ x = ay (ou seja, a função loga x é a inversa da função
ax ).
Por exemplo, são logaritmos as funções f (x) = ln x, g(x) = log5 x e h(x) = log 1 x.
2
Para qualquer a ∈ R+ \{1}, a função loga x tem domínio R+ , contradomínio R e é injectiva.
Para a > 1, a função é crescente,
y

e para 0 < a < 1, a função é decrescente,


y

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Complementos de funções reais de variável real

Funções trigonométricas. São funções trigonométricas as funções seno, co-seno, tangente e


co-tangente.
A função sin x tem domínio R, contradomínio [−1, 1], não é injectiva nem sobrejectiva, é
ímpar e periódica (com período 2π).

y
1

−π − π2 π π x
2
−1

−2
A função cos x tem domínio R, contradomínio [−1, 1], não é injectiva nem sobrejectiva, é par
e periódica (com período 2π).

y
1

−π − π2 π π x
2
−1

−2
sin x n π o
A função tan x = tem domínio x ∈ R : x 6= + kπ, k ∈ Z , contradomínio R, não é
cos x 2
injectiva mas é sobrejectiva, é ímpar e periódica (com período π).

y
1

−π − π2 π π x
2
−1

−2
cos x
A função cot x = tem domínio {x ∈ R : x 6= kπ, k ∈ Z}, contradomínio R, não é injec-
sin x
tiva mas é sobrejectiva, é ímpar e periódica (com período π).

y
1

−π − π2 π π x
2
−1

−2
1
Chama-se secante à função sec x = .
cos x

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Complementos de funções reais de variável real

h π πi
Funções trigonométricas inversas. A função sin x, considerada no intervalo − , , é
2 2
bijectiva, e portanto é invertível. A sua inversa é a função arco seno,
h πarcsin x, definida por
π i
y = arcsin x ⇔ x = sin y, que tem domínio [−1, 1], contradomínio − , , e é injectiva e
2 2
ímpar.

π
2

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4

− π2

A função cos x, considerada no intervalo [0, π], é bijectiva, e portanto é invertível. A sua
inversa é a função arco co-seno, arccos x, definida por y = arccos x ⇔ x = cos y, que tem domínio
[−1, 1], contradomínio [0, π], e é injectiva.

π
2

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4

− π2
i π πh
A função tan x, considerada no intervalo − , , é bijectiva, e portanto é invertível. A
2 2
sua inversa é a função arcoitangente, arctan x, definida por y = arctan x ⇔ x = tan y, que tem
π π h
domínio R, contradomínio − , , e é injectiva e ímpar.
2 2

π
2

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4

− π2

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Complementos de funções reais de variável real

Funções hiperbólicas. São funções hiperbólicas as funções seno hiperbólico, co-seno hiper-
bólico, tangente hiperbólico e co-tangente hiperbólica.
ex − e−x
A função sinh x = tem domínio R, contradomínio R, é injectiva, sobrejectiva e
2
ímpar.

ex + e−x
A função cosh x = tem domínio R, contradomínio [1, +∞[, não é injectiva nem
2
sobrejectiva, e é par.

sinh x
A função tanh x = tem domínio R, contradomínio ] − 1, 1[, é injectiva mas não é
cosh x
sobrejectiva, e é ímpar.

cosh x
A função coth x = tem domínio R\{0}, contradomínio ] − ∞, −1[∪]1, +∞[, é injectiva
sinh x
mas não é sobrejectiva, e é ímpar.

1
Chama-se secante hiperbólica à função sech x = .
cosh x

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Complementos de funções reais de variável real

A função sinh x√é invertível, e a sua inversa é a função argumento do seno hiperbólico,
arg sinh x = ln(x + x2 + 1), que tem domínio R, contradomínio R, e é injectiva e sobrejectiva.

A função cosh x, considerada no intervalo [0, +∞[, é √invertível, e a sua inversa é a função
argumento do co-seno hiperbólico, arg cosh x = ln(x + x2 − 1), que tem domínio [1, +∞[,
contradomínio [0, +∞[, é injectiva e não é sobrejectiva.

A função tanh x é invertível, e a sua inversa é a função argumento da tangente hiperbólica,


1 1+x
arg tanh x = ln , que tem domínio ] − 1, 1[, contradomínio R, e é injectiva e sobrejectiva.
2 1−x

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Complementos de funções reais de variável real

1.6 Limite
Definição 1.37. Seja f : D ⊆ R → R uma função real de variável real e seja a ∈ D ′ . Diz-se
que o limite de f no ponto a é b ∈ R, e escreve-se b = lim f (x), se
x→a

∀ δ > 0 ∃ ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ |f (x) − b| < δ.

Exemplo 1.38.

1 1
1. Para provar que lim x sin = 0, consideremos δ > 0 tal que x sin − 0 < δ. Tomando

x→0 x x
1
ε = δ, se |x − 0| = |x| < ε, então x sin ≤ |x| < δ, como pretendido.
x
δ
2. Vejamos que lim x2 = 4. Para δ > 0, consideremos ε = . Então, se |x−2| < ε, |x−2| < 1
x→2 5
2
e |x − 4| = |x − 2| · |x + 2| = |x − 2| · |x − 2 + 4| < 5ε = δ, como pretendido.

Propriedade. Sejam f e g funções reais de variável real. Então, caso existam,

1. lim (f + g)(x) = lim f (x) + lim g(x);


x→a x→a x→a

2. lim (f · g)(x) = lim f (x) · lim g(x);


x→a x→a x→a

3. lim |f (x)| = | lim f (x)|;


x→a x→a

f lim f (x)
4. lim (x) = x→a , se lim g(x) 6= 0;
x→a g lim g(x) x→a
x→a

5. lim |f (x)| = 0 ⇔ lim f (x) = 0.


x→a x→a

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Complementos de funções reais de variável real

1.7 Continuidade
Definição 1.39. Seja f : D ⊆ R → R uma função real de variável real e seja a ∈ D. Diz-se que
f é uma função contínua no ponto a se lim f (x) = f (a), isto é,
x→a

∀ δ > 0 ∃ ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ |f (x) − f (a)| < δ.

Diz-se que f é contínua se é contínua em todos os pontos do seu domínio.


Exemplo 1.40.
1. As funções 2x2 + 3, sin(x), ex e ln(x) são contínuas.

x se x ≥ 0
2. A função f (x) = é contínua.
−x se x < 0

y
4
3
2
1

x
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1


2x + 1 se x ≥ 1
3. A função f (x) = não é contínua.
−x se x < 1

y
4
3
2
1

x
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1
−2

x se x > 0
4. A função f (x) = é contínua.
−x se x < 0

y
4
3
2
1

x
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1

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Complementos de funções reais de variável real

x
5. A função f (x) = é contínua.
x−1

y
4
3
2
1

x
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1
−2
−3
−4
−5

Propriedade. Sejam f e g funções contínuas em a ∈ D ⊆ R. Então f + g, f · g, |f | e −f são


f
contínuas em a. Se g(a) 6= 0, então é também contínua em a.
g
Propriedade. Sejam f : D → R e g : E → R funções tais que f (D) ⊆ E. Se f é contínua em
a e g é contínua em f (a), então g ◦ f é contínua em a.

Observação 1.41. Se a ∈ D ′ \D e existe lim f (x), a função g(x) definida por


x→a
(
f (x) se x ∈ D
g(x) = lim f (x) se x = a
x→a

é contínua. A esta função dá-se o nome de prolongamento (por continuidade) de f .

Exemplo 1.42. A função do Exemplo 1.40.4 é prolongável por continuidade ao ponto 0. As


funções dos Exemplo 1.40.3 e 1.40.5 não são prolongáveis por continuidade.

Teorema 1.43 (Bolzano). Seja f uma função contínua em [a, b] e k ∈ R compreendido entre
f (a) e f (b). Então ∃ c ∈]a, b[: f (c) = k.

f (b)
k
f (a)

a c b

Exemplo 1.44. Seja f (x) = x2 + 4x − 3. Existe k ∈] − 3, 2[ tal que f (k) = π.

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Complementos de funções reais de variável real

y
5
4
3
2
1
x
−5 −4 −3 −2 −1
−1 1 2 3 4
−2
−3
−4
−5
−6
−7
Corolário 1. Se f é uma função contínua em [a, b] tal que f (a) · f (b) < 0, então f admite pelo
menos um zero em ]a, b[.

Exemplo 1.45. Seja f (x) = x2 + 4x − 3. Então f tem um zero em ] − 3, 2[.

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Complementos de funções reais de variável real

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