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0 Química para um
futuro sustentável
“No primeiro dia, todos apontamos para nossos países. No terceiro ou quarto dia, para
nossos continentes. No quinto dia, víamos uma Terra somente.”
Príncipe Sultan bin Salman Al Saud, Arábia Saudita, 1985.
Uma Terra somente. Visto do espaço, o planeta que chamamos de lar é realmente magnífico – uma
“bola de gude” de água, terra e nuvens. Em 1972, a tripulação da espaçonave Apollo 17 fotografou a
Terra a uma distância de cerca de 28.000 milhas (45.000 quilômetros). Nas palavras do cosmonauta
soviético Aleksei Leonov, “A Terra era pequena, azul clara e comoventemente solitária”.
Estamos sozinhos no Universo? Possivelmente. É claro, no entanto, que não estamos sozinhos
em nosso planeta. Nós o partilhamos com outras criaturas, grandes e pequenas. Os biólogos estimam
que existam mais de 1,5 milhão de espécies, além de nós. Algumas ajudam a nos alimentar e manter,
outras contribuem para nosso bem-estar e outras, ainda, (como os mosquitos) nos irritam e podem
nos causar doenças.
Dividimos, também, o planeta com mais de 7 bilhões de pessoas. Neste último século, a po-
pulação humana da Terra mais do que triplicou, dando um salto de crescimento sem precedentes na
história de nosso planeta. Até 2050, a população pode aumentar outros 2 a 3 bilhões.
Grandes ou pequenas, todas as espécies de nosso planeta estão interligadas de alguma forma.
Como isso acontece, porém, pode não ser muito óbvio para nós. Por exemplo, micro-organismos O Capítulo 6 descreve
invisíveis transferem nitrogênio de uma forma química para outra, fornecendo nutrientes que permi- o ciclo do nitrogênio.
tem o crescimento das plantas. Estas aproveitam a energia luminosa do Sol durante o processo da O Capítulo 4 discute a
fotossíntese. Ao usar essa energia, convertem dióxido de carbono e água em glicose. Simultanea- fotossíntese.
mente, liberam oxigênio no ar que respiramos. Também nós, humanos, somos hospedeiros de inú-
meros micro-organismos que residem em nossa pele e órgãos internos.
Grandes e pequenas, essas ligações estão se quebrando
em uma velocidade alarmante.
Aconteceu uma mudança em nossa perspectiva. Hoje,
estamos acostumados a ouvir relatos sobre populações de-
clinantes de peixes e espécies em perigo de extinção. Você
já se deparou com o termo mudança de referências? Ele
refere-se à mudança, com o passar do tempo, do que consi-
deramos “normal” em nosso planeta, especialmente no que
diz respeito aos ecossistemas. A abundância de peixes e a
vida selvagem outrora consideradas normais não fazem mais
parte da memória das pessoas atualmente. De modo seme-
lhante, muitos de nós não se lembram mais de cidades sem
congestionamento de veículos.
Claramente, os humanos são criaturas trabalhadoras.
Somos agricultores, construímos barragens nos rios, queima-
mos combustíveis, construímos edificações e voamos através
de zonas de tempo. Ao fazer isso com frequência, alteramos a qualidade do ar que respiramos, da
água que bebemos e da terra em que vivemos. Com o tempo, nossas ações mudaram a face do plane-
ta. Como ele era antes? Veja o que você descobre realizando a próxima atividade.
TABELA 0.1 Nosso Futuro Comum (trechos da Introdução) Nosso Futuro Comum
também é conhecido
“Uma agenda global para a mudança” – Isso era o que a Comissão Internacional do Ambiente e do como Relatório
Desenvolvimento das Nações Unidas deveria formular. Era um apelo urgente da Assembleia Geral das Brundtland. Ele foi
Nações Unidas. assim chamado em
Na análise final, resolvi aceitar o desafio de encarar o futuro e de salvaguardar os interesses das futuras homenagem a Gro
gerações. Harlem Brundtland, a
mulher que presidiu a
Após uma década e meia de estagnação ou mesmo deterioração da cooperação internacional, creio que comissão.
o tempo chegou para expectativas maiores, para objetivos comuns perseguidos em conjunto, para maior
vontade política em nos debruçarmos sobre nosso futuro comum.
A presente década ficou marcada por uma redução do interesse social. Os cientistas chamam nossa
atenção para problemas complexos e urgentes que dizem respeito a nossa própria sobrevivência: o
aquecimento global, ameaças à camada de ozônio, desertos substituindo terras aráveis.
A questão da população – da pressão da população e os direitos humanos – e a ligação entre essas
questões e a pobreza, o ambiente e o desenvolvimento foram algumas das preocupações mais difíceis
com que tivemos de lidar.
Contudo, primeiro e mais importante, nossa mensagem é dirigida às pessoas, cujo bem-estar é o objetivo
final de todas as políticas ambientais e de desenvolvimento.
Se não conseguirmos fazer passar nossa mensagem de urgência aos pais e dirigentes de hoje, assumimos
o risco de fragilizar o direito fundamental de nossas crianças a um ambiente saudável que melhore suas
vidas.
Em última análise, é a isso que o problema se reduz: à promoção do entendimento comum do espírito de
responsabilidade tão necessário em um mundo dividido.
Ecossistema
saudável
Zona verde
Economia Comunidade
saudável saudável
FIGURA 0.1 Representação da Linha de Base Tripla. A “Zona Verde” (na qual a Linha de Base Tripla se
encontra) está na interseção dos três círculos.
o custo de enviá-las para o aterro sanitário, o lixo dos jardins custava $1,5 milhão
por ano à prefeitura.
Em 2010, Houston voltou a coletar o lixo dos jardins para compostagem,
mas agora os residentes deixavam o lixo em sacos plásticos compostáveis. Os
sacos eram transparentes, o que permitia que os lixeiros olhassem o interior
para saber se os residentes estavam misturando lixo comum às folhas. Além
de economizar o custo da taxação, a prefeitura recebia $5,00 por tonelada do
material produzido de seu empreiteiro para a compostagem, a Living Earth
Technology. A empresa compostava os sacos juntamente ao resto do lixo e
nenhum procedimento especial era usado.
A experiência de Houston ilustra a utilidade dos plásticos compostáveis.
O uso desses materiais não significa que o problema do lixo plástico irá
desaparecer em um passe de mágica, mas seu objetivo é ajudar as prefeituras
e instituições a desviar o lixo orgânico dos aterros sanitários, tornando a
participação em programas de compostagem conveniente para os consumidores
(C&EN, Mar. 19, 2012).
Os debates sobre como ser “verde” provavelmente continuarão por toda a sua vida. As ques-
Donella Meadows tões não são novas e, possivelmente, não serão resolvidas tão cedo. Química no Contexto irá encora-
(1941-2001) foi já-lo a explorar essas questões, fornecendo o conhecimento necessário para que você possa formular
cientista e escritora. mais criativamente sua própria resposta.
Seus livros incluem The
Limits to Growth e The “Uma sociedade sustentável é aquela que olha bem à frente e é suficientemente flexível
Global Citizen. e sábia para não prejudicar seus sistemas físico ou social”.
Donella Meadows, 1992
0.4 Do-berço-até-onde?
Talvez você já tenha ouvido a expressão do-berço-até-o-túmulo, um método de análise do tempo
de vida de um item, começando com os insumos nele usados e terminando com seu descarte final
em algum lugar, presumivelmente na Terra. Essa frase enganadora oferece uma base a partir da qual
podemos formular questões sobre itens de consumo. De onde vieram? O que acontecerá com eles
Busque mais
informações sobre
quando você os descartar? Mais do que nunca, as pessoas, comunidades e corporações estão reco-
baterias no Capítulo 8 nhecendo a importância de fazer perguntas desse tipo. Do-berço-até-o túmulo implica pensar em
e sobre plásticos no cada etapa do processo.
Capítulo 9. As companhias deveriam assumir as responsabilidades – você também – pelos itens de con-
O Capítulo 4 explica sumo, desde o momento em que os recursos usados em sua fabricação foram tirados do solo, ar ou
como e por que o óleo água até o momento em que eles são definitivamente “descartados”. Pense em itens como baterias,
cru é separado em garrafas plásticas, camisetas, material de limpeza, tênis de corrida, celulares – qualquer coisa que
frações. você comprou e que, um dia, descartará.
O Capítulo 9 explica Pensar do-berço-até-o-túmulo tem, é claro, suas limitações. A título de ilustração, vamos
como o polietileno é acompanhar uma sacola plástica, uma dessas fornecidas em supermercados para carregar suas com-
feito a partir do etileno
pras. O material original dessas sacolas é o petróleo. Logo, seu “berço” muito provavelmente foi
(e por quê).
óleo cru de algum lugar do planeta, por exemplo, dos campos petrolíferos do Canadá. Imaginemos
que o óleo foi retirado de um poço em Alberta e transportado para uma refinaria nos Estados Unidos.
Na refinaria, o óleo cru foi separado em frações, uma das quais foi craqueada até etileno, o material
de partida para um polímero. O etileno foi, então, polimerizado e o polietileno formado, usado para
fazer as sacolas plásticas. Elas foram empacotadas e transportadas por caminhão (queimando óleo
diesel, outro produto da refinaria) até o supermercado. Por fim, você foi ao mercado e usou uma para
carregar suas compras para casa.
Como foi descrito, esse não é um cenário do-berço-até-o-túmulo. Na verdade, foi do-berço-
-até-sua-cozinha, definitivamente bem longe de qualquer túmulo. Então, o que aconteceu com esse
saco plástico depois que você o usou? Foi para o lixo? O termo túmulo descreve o lugar em que um
item eventualmente acaba. Um trilhão de sacos plásticos, mais ou menos, é usado anualmente nos
supermercados e somente cerca de 5% são reciclados. O resto termina em nossos armários, em nos-
sos aterros sanitários ou é espalhado pelo planeta afora. Esses últimos começam um ciclo de 1.000
anos, mais ou menos, de decomposição lenta em dióxido de carbono e água.
Do-berço-até-o-túmulo-em-algum-lugar-do-planeta é um cenário mal planejado para um saco
de supermercado. Se cada um dos trilhões de sacos plásticos pudesse servir como material de par-
tida para um novo produto, teríamos uma situação mais sustentável. Do-berço-até-o-berço, um O termo do-berço-até-
termo que surgiu nos anos 1970, refere-se a uma metodologia regenerativa das coisas, no qual o fim o-berço ficou popular
de um ciclo de vida de um item está amarrado ao começo do ciclo de vida de um outro, de modo com a publicação, em
2002, de um livro com
que tudo é reutilizado e não vira lixo. No Capítulo 9, veremos diferentes cenários de reciclagem-
esse título.
-e-reúso para garrafas plásticas. Por ora, você pode pensar seu próprio do-berço-até-o-berço na
próxima atividade.
Sua Vez 0.3 A lata que contém sua bebida As atividades Sua Vez
aparecem em todos os
As pessoas tendem a pensar que a lata de alumínio começa na prateleira do supermercado e termina capítulos. Elas são uma
na lixeira de reciclagem. A história é mais complicada! oportunidade para que
a. Onde se encontra o minério de alumínio (bauxita)? você pratique uma nova
b. Após ser retirado do solo, o minério é usualmente refinado até virar alumina (óxido de alumínio) habilidade ou cálculo
em uma instalação próxima à mina. A alumina é depois transportada até uma planta de apresentados no texto.
produção. O que acontece então na produção do metal alumínio? As respostas são dadas
c. O que acontece com a lata depois de ser jogada no lixo de reciclagem? após cada Sua Vez ou
no Apêndice 4.
Respostas
a. A bauxita é minerada em vários lugares, incluindo a Austrália, a China, o Brasil e a Índia.
b. O minério tem de ser refinado eletroliticamente para produzir o metal alumínio. Esse processo é
intensivo em energia e é feito em vários lugares do mundo.
Como você pode ver nesses exemplos, não são só as decisões dos fabricantes que importam.
As suas também são parte do processo. O que você compra, descarta e como o faz, tudo isso merece
atenção. As escolhas que fazemos – individual e coletivamente – são importantes.
Correndo o risco de nos repetirmos, lembramos que a situação atual na qual consumimos os
recursos não renováveis de nosso planeta e emporcalhamos nosso ar, nossa terra e nossa água não é
sustentável. Na próxima seção explicaremos por quê, preparando o terreno para os tópicos em quí-
mica que você explorará neste texto.
FIGURA 0.2 Comparação das pegadas ecológicas globais, em hectares por pessoa.
Fonte: The Ecological Footprint Atlas, 2010
Imagine a metáfora de uma pegada. Você pode ver as que você deixa na areia ou na neve.
Você pode ver também o rastro de lama que suas botas deixam no chão da cozinha. Do mesmo
modo, pode-se argumentar que sua vida deixa uma pegada no planeta Terra. Para entender essa
pegada, é preciso pensar em unidades de hectares ou acres. Um hectare é um pouco mais do
Pegadas ecológicas dobro da área de um acre. A pegada ecológica é um modo de estimar a quantidade de espaço
consideram o consumo biologicamente produtivo (terra e água) necessária para suportar um determinado padrão ou estilo
de recursos baseado no de vida.
uso da terra e da água;
Para o americano médio, a pegada ecológica foi estimada em 2007 como sendo cerca de 8,0
as pegadas de carbono
baseiam-se na liberação
hectares (20 acres). Em outras palavras, se você vive nos Estados Unidos, são necessários, em mé-
de gases de efeito dia, 8,0 hectares de terra para produzir as matérias-primas para alimentá-lo, vesti-lo, transportá-lo
estufa associados à e dar-lhe uma residência com o conforto ao qual está acostumado. O povo americano tem pegadas
queima de combustíveis relativamente grandes, como você pode ver na Figura 0.2. A média mundial em 2007 foi estimada
fósseis. Veja mais sobre em 2,7 hectares por pessoa.
as pegadas de carbono Quanto de terra e água biologicamente produtivas dispõe o nosso planeta? Podemos estimar
na Seção 3.9.
isso incluindo regiões agriculturáveis e pesqueiras e omitindo desertos e regiões cobertas de gelo.
Um hectare é igual Hoje, a estimativa é de cerca de 12 bilhões de hectares (cerca de 30 bilhões de acres) de terra, água e
a 10.000 metros
mar. Isso corresponde a cerca de um quarto da superfície da terra. Será que é suficiente para susten-
quadrados ou 2,471
acres. tar todos os humanos do planeta com o estilo de vida que os americanos têm? A próxima atividade
permitirá que você veja por si mesmo.
Respostas
a. Em 2012, a população da Terra estava entre 7,0 e 7,1 bilhões.
b. Cerca de 1,7 hectare ou ~4 acres por pessoa.
Por que isso é importante? Nós estamos excedendo a capacidade da Terra de atingir nossas
demandas desde os anos 1970. Uma nação cujo povo tem uma pegada média superior a cerca de
1,7 hectare está ultrapassando a “capacidade suportável” da Terra. Usando os Estados Unidos como
exemplo, façamos mais um cálculo para saber quanto.
Resposta
b. Estimando a população americana em 315 milhões e usando a estimativa de 8,0 hectares por
pessoa, os Estados Unidos necessitam de 2,5 bilhões de hectares (6,2 bilhões de acres).
Digamos agora que todo mundo no planeta viva como o cidadão americano médio. Eis o cálculo
baseado na população do mundo em 2012.
Isso quer dizer que, para manter o mesmo padrão de vida para todos os humanos do planeta, seriam
necessários mais 4 Terras além da que já temos!
“Somente uma Terra.” O número de pessoas na Terra cresceu dramaticamente nos últimos
séculos. O mesmo aconteceu com o desenvolvimento econômico. Como resultado, a pegada ecoló-
gica global estimada também está aumentando, como se vê na Figura 0.3. Em 2003, estimamos que
a humanidade usava 1,25 Terra. Lá pelos anos 2030, a projeção é que estaremos usando 2 Terras. É
claro que essa taxa de consumo não pode ser sustentada.
Esperamos que seu estudo da química permita que você aprenda modos de reduzir sua pegada
ecológica ou de mantê-la baixa se já for assim. A próxima seção descreve como os químicos podem
ajudar a fazer o processo funcionar de maneiras inesperadas.
3,0
1960–2008
Pegada ecológica
2,5 Cenários 2005-2050
Deixando como está
Redução rápida
Número de planetas Terra
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050
Ano
FIGURA 0.3 A pegada ecológica atual e projetada dos humanos. As estimativas correntes colocam a pe-
gada acima de 1,0 Terra, isto é, acima do que ela pode sustentar. Nota: A projeção superior assume que
estamos “deixando como está”. A projeção inferior implica mudanças para práticas sustentáveis.
Fonte: Adaptada de dados fornecidos pela Global Footprint Network.
6. É melhor desenvolver materiais que se degradam a produtos inócuos no fim de sua vida útil.
Fonte: Adaptado de The Twelve Principles of Green Chemistry, de Paul Anastas e John Warner.
cluindo fármacos, plásticos e pesticidas. Ela economiza dinheiro, usa menos matérias-primas e reduz VOC significa composto
os resíduos. A ligação entre a química verde e a Linha de Base Tripla é evidente! orgânico volátil. Veja
Muitos processos químicos industriais estão usando metodologias inovativas de química ver- mais sobre VOCs
ligados à poluição do
de. Por exemplo, você verá aplicações de química verde que levaram à produção mais barata, menos ar no Capítulo 1, “O ar
poluidora e menos tóxica de tintas com baixo VOC (Capítulo 1). Você também verá as ideias funda- que respiramos”.
mentais da química verde aplicadas a processamento de algodão, métodos de limpeza a seco (Capí-
tulo 5) e maneiras mais econômicas e saudáveis de processar óleos vegetais (Capítulo 11).
Os esforços em prol da química verde têm sido premiados! Um grupo seleto de pesquisadores
químicos, engenheiros químicos, pequenos comerciantes, grandes corporações e laboratórios do go-
verno já receberam o Prêmio Presidencial Desafios de Química Verde. Iniciado em 1995, este prêmio
de nível presidencial é dado a químicos e à indústria química por inovações destinadas a reduzir a
poluição. Os prêmios reconhecem inovações em “química mais limpa, mais barata e mais inteligente.”
Questões
1. Este capítulo abriu c. Explique o que “túmulo” significa nesse contexto.
com uma afirmação d. Sugira, para os itens listados na parte b, possíveis “tú-
famosa feita por um mulos”.
astronauta saudita, 8. Escolha um item que você usa na escola e descreva o mé-
o príncipe Sultan. todo do-berço-até-o-túmulo para suas matérias-primas.
Depois, em uma en- Descreva como você poderia mudar o ciclo das matérias-
trevista, em 2005, ele -primas para “do-berço-até-o-berço”.
observou: “Ser um as-
9. A Figura 0.1 mostra uma representação possível da Linha
tronauta teve forte im-
de Base Tripla. Aqui está outra. Comente as semelhanças e
pacto em mim. Olhar
diferenças entre as duas figuras.
o planeta da perspec-
tiva da escuridão do
espaço faz você imaginar...” O príncipe Sultan prosseguiu
descrevendo o que o preocupava. Não imprimimos suas
palavras. Gostaríamos, porém, que você escrevesse suas
próprias.
a. Escreva um ensaio de três parágrafos. No primeiro,
apresente-se brevemente. No segundo, descreva o que
Economia
é importante para você ao começar seu estudo da quí-
mica. No terceiro, descreva o que mais o preocupa em
Sociedade
relação à Terra.
b. Compartilhe sua apresentação com outros de sua tur-
ma, como indicado pelo professor. Ambiente
18. Proponha alguns modos de reduzir sua própria pegada 24. O lema da Sociedade Americana de Química, a maior
ecológica. sociedade científica mundial, é “Promover o avanço das
19. Que ideia fundamental da química verde você consi- atividades químicas e de seus praticantes para o benefício
dera ser a mais importante. Por quê? da Terra e de seus habitantes.” Explique como as sete pala-
vras finais do lema ligam-se à definição de sustentabilida-
20. Escolha uma empresa, visite sua página na rede e procure
de usada neste capítulo.
informações sobre os esforços feitos no que diz respeito à
sustentabilidade e à responsabilidade corporativa. Possibi-
lidades incluem Coca-Cola, Supermercado Pão de Açúcar,
Ligth, Petrobras e Burger King. Faça um relatório sobre o
que descobriu.
ACS TM
Chemistry for Life
21. Mel George, um professor aposentado de matemática e um
dos arquitetos de Construindo o Futuro: Novas Expecta-
tivas para a Educação das Ciências, das Tecnologias, das 25. Thomas Berry, teólogo e historiador de culturas (1914-
Engenharias e da Matemática para a Graduação (National 2009), descreveu em seu livro Os Grandes Trabalhos
Science Foundation) observou: “Não precisei fazer nada (1999) como a humanidade está encarando o trabalho de
para que colocassem um homem na Lua. Por outro lado, mover-se da presente era geológica, o Cenozoico, para a
todos devemos fazer alguma coisa para salvar o planeta.” próxima era. Ele chama esta última de “Ecozoico”, o que
Descreva cinco ações que você poderia tomar, dada sua reflete o imenso poder dos humanos de mudar a face do
personalidade e área de estudo. mundo. “As universidades devem decidir se continuarão
22. Embora as ideias fundamentais da química verde tivessem a treinar pessoas para sobreviver temporariamente no
sido escritas para guiar os químicos, você pode achar que Cenozoico em declínio ou se vão começar a educar os
esses conceitos são relevantes para você também. Talvez estudantes para o nascente Ecozoico... Embora não seja
você estude economia ou esteja planejando tornar-se um este o tempo para que as universidades continuem em
enfermeiro ou um professor. Talvez você use seu tempo negação ou para que se atribua culpa a elas, é tempo para
em jardinagem ou goste de andar de bicicleta. Escolha que as universidades repensem a si próprias e o que estão
duas das ideias fundamentais da química verde e descreva fazendo.”
como elas se ligam à sua vida ou à sua futura profissão. a. Como você vê a próxima era? Descreva-a. Se você não
23. Os anúncios de jornais e revistas frequentemente procla- gosta do termo Era Ecozoica, sugira outro.
mam o quanto um negócio ou empresa é “verde”. Sele- b. Como o que estudou até agora está preparando você
cione um e leia-o com atenção. O que você acha – é um para o futuro no qual você viverá?
caso de “lavagem-do-verde”, com o qual uma corporação c. De que modo você acha que o estudo da química po-
está tentando usar como argumento de venda uma pequena deria prepará-lo?
gota de verde em um mar de detritos? Ou trata-se de uma 26. Selecione uma ideia deste capítulo que tenha chamado sua
melhoria real que reduz significativamente o fluxo de atenção.
lixo? Nota: Pode ser difícil classificar. Por exemplo, elimi- a. Que ideia você selecionou? Descreva-a em algumas
nar 7 toneladas de resíduos pode parecer enorme, exceto frases.
se você souber que o fluxo de lixo é da ordem de bilhões b. O que chamou sua atenção nessa ideia? Explique.
de toneladas.
1 O ar que respiramos
“Os antigos gregos viam o ar como um dos elementos básicos da natureza, juntamente com a terra, o
fogo e a água. Os californianos o veem... Ah! Talvez seja necessário explicar melhor essas palavras. Os
californianos veem muito de algo que deveria ser menos visível. Eles também sentem seus efeitos quando
respiram, o que muito frequentemente traz à atenção o ato rotineiro de respirar.”
David Carle, Introduction to Air in California, 2006, página xiii
As pessoas sempre perceberam o ar que respiram e foram curiosas a respeito dele. Juntamente com
a terra, o fogo e a água, os antigos gregos consideravam o ar como um elemento fundamental da
natureza. Centenas de anos depois, os químicos fizeram experimentos para aprender mais sobre a
composição do ar. Hoje, podemos ver a atmosfera da Terra do espaço sideral. E, diariamente, como
os antigos, podemos perscrutar o ar noturno para entrever o brilho fugaz das estrelas cintilantes.
Nossa atmosfera é o fino véu entre nós e o espaço sideral. Este capítulo descreve os gases que
sustentam a vida na Terra. O próximo capítulo descreverá o ozônio da estratosfera, que nos protege
da perigosa radiação ultravioleta emitida pelo Sol. O terceiro capítulo descreverá os gases de efeito
estufa de nossa atmosfera, que nos defendem do extremo frio do espaço sideral. Com certeza, nossa
atmosfera é um recurso natural sem preço. Nosso objetivo é colocar em evidência sua beleza, gran-
deza e fragilidade.
Como você verá neste capítulo, nós, humanos, alteramos a composição da atmosfera. Isso não
surpreende, já que mais de 7 bilhões de humanos vivem no planeta. Em algumas décadas, a popu-
lação pode atingir 9 ou 10 bilhões. A próxima atividade convida a pensar sobre como nossas ações
individuais e coletivas podem mudar o ar que respiramos.
Respostas
a. Manter plantas, acender velas e pintar um objeto deixam uma pegada no ar
interior das residências.
b. As plantas verdes removem o dióxido de carbono do ar e fornecem oxigênio,
melhorando a qualidade do ar. Algumas plantas polinizam. Para algumas pessoas,
isso piora a qualidade do ar. Acender velas leva à emissão de gás carbônico e
fuligem, que pioram a qualidade do ar. Certos tipos de tinta emitem compostos
orgânicos voláteis que poluem o ar. Ambos levam à piora da qualidade do ar.
Como Homo sapiens que somos, temos a responsabilidade especial de proteger a qualidade
do ar do planeta. Assumir essa responsabilidade não é tarefa fácil. Na verdade, cometemos alguns Em 1948, a poluição
erros trágicos que mataram pessoas, animais e a vegetação. Em última análise, como justificamos no da neblina matou
Capítulo 0, nossa responsabilidade é viver de modo a não comprometer nossa própria saúde ou a das 20 pessoas e deixou
doentes mais de 5.000
gerações futuras. Manter o ar limpo é parte dessa responsabilidade.
residentes e vizinhos de
Neste capítulo, você verá mais sobre o ar que respira e sua importância para seu bem-estar. Donora, Pensilvânia.
Esperamos que você aprenda como é importante fazer escolhas sobre a qualidade do ar – como Em 1952, a Grande
indivíduo e como membro de uma sociedade mais ampla – que sejam sensatas hoje e nos próxi- Neblina Suja de
mos anos. Londres matou milhares
de pessoas.
Ficou surpreso com a quantidade de ar que você respira? Para um adulto, o valor típico é supe-
rior a 11.000 litros de ar por dia. Esse número seria ainda maior se você tivesse passado o dia usando
uma bicicleta ou remando uma canoa.
Algumas misturas são Embora você não possa saber só de olhar, o ar que você respira não é uma substância pura. Ele
compostas por gases. é uma mistura, isto é, uma combinação física de duas ou mais substâncias em quantidades variadas.
A gasolina, porém, é As misturas são uma de duas formas de matéria que encontramos em nosso planeta (Figura 1.1). A
uma mistura de líquidos
outra é a substância pura. Nesta seção, trataremos das substâncias puras que são os componentes
(Seção 1.10), e o solo é
uma mistura de sólidos
principais do ar: nitrogênio, oxigênio, argônio, dióxido de carbono e vapor de água. São todos gases
e líquidos. incolores, invisíveis a olho nu.
Matéria
Substâncias Misturas
puras
FIGURA 1.1 A matéria pode ser classificada como uma substância pura ou uma mistura.
A composição da mistura a que chamamos “ar” depende de onde você está. Existe menos oxi-
gênio em um quarto fechado e mais poluentes na área urbana. O ar que exalamos tem composição
ligeiramente diferente do ar que inalamos. Quantidades traço de substâncias podem também variar
no ar. Por exemplo, o perfume de flores pode permear o ar do exterior. Dentro de casa, o aroma do
café recém-passado pode atraí-lo para a cozinha. O nariz humano é um detector extremamente sensí-
vel de odores. Em alguns casos, basta uma quantidade muito pequena da substância para disparar os
receptores olfatórios responsáveis pela detecção do odor. Por isso, pequenas quantidades de substân-
cias podem ter um efeito poderoso em nossos narizes, assim como em nossas emoções.
A composição de
nossa atmosfera
nunca foi constante
durante os milênios.
A Figura 1.2 usa um gráfico tipo pizza e um gráfico de barras para representar a composição
A concentração de do ar. O gráfico tipo pizza enfatiza as frações do total e o gráfico de barras, as quantidades relativas
oxigênio, por exemplo, de cada substância. Não importa o modo de representação, o ar que você respira é primariamente
variou. nitrogênio e oxigênio. Mais especificamente, a composição do ar por volume é cerca de 78% de
80
70
60
50
Percentagem
Outros gases (1%) 40
30
Oxigênio (21%)
20
Nitrogênio (78%) 10
0
Nitrogênio Oxigênio Outros gases
nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de outros gases. Percentagem (%) significa “partes por cem”.
Neste caso, as partes são moléculas ou átomos.
As percentagens da Figura 1.2 são de ar seco. O vapor de água não é incluído porque a concen-
tração varia com a localidade. No ar seco do deserto, a concentração de vapor de água pode chegar
a 0%. Em contraste, pode atingir 5% por volume em uma floresta tropical úmida e quente. Em con- Vapor de água é o gás
centração elevada ou baixa, o vapor de água é um gás incolor invisível a olho nu. Como você pode a que chamamos de
ver a neblina e as nuvens, elas não são formadas por vapor de água, mas por pequenas gotas de água “umidade”.
líquida ou por cristais de gelo (Figura 1.3).
O nitrogênio é a substância mais abundante no ar e corresponde a cerca de 78% do que respira- A Seção 6.9 descreve o
mos. Esse gás é incolor, inodoro e relativamente inerte, entrando e saindo de nossos pulmões sem ser ciclo de transformação
alterados (Tabela 1.1). Embora ele seja essencial para a vida e faça parte de todas as formas de vida, do nitrogênio
atmosférico em parte
muitas plantas e animais o obtém de fontes diferentes do nitrogênio da atmosfera.
de plantas e animais.
FIGURA 1.3 As nuvens são formadas por minúsculas gotas de água que permanecem em suspensão devi-
do às correntes ascendentes de ar quente. As nuvens podem pesar milhões de quilos.
O Capítulo 11 traz mais Embora o oxigênio seja menos abundante do que o nitrogênio em nossa atmosfera, ele ain-
informações sobre o da tem um papel essencial em nosso planeta. O oxigênio é absorvido pelo sangue nos pulmões e
conteúdo de energia reage com os alimentos que comemos para liberar a energia necessária aos processos químicos
dos alimentos.
que ocorrem em nosso corpo. Ele é necessário também para muitas outras reações químicas,
Explicaremos o termo incluindo a combustão e a formação de ferrugem. Na forma do “O” em H2O (água), o oxigênio é
elemento na Seção 1.6. o elemento mais abundante por massa no corpo humano. Presente em muitas rochas e minérios,
também é o elemento mais abundante na crosta terrestre. Em razão de sua larga distribuição, é
de certo modo surpreendente que o oxigênio só tenha sido isolado como uma substância pura
em 1774. Uma vez isolado, porém, ele provou ser de grande importância no desenvolvimento da
incipiente ciência da química.
A cada vez que exalamos, adicionamos dióxido de carbono à atmosfera. A Tabela 1.1 apresen-
A respiração também ta a diferença entre o ar seco inalado e exalado. É obvio que algumas mudanças ocorreram, usando
fornece a energia parte do oxigênio e liberando dióxido de carbono e água. No processo da respiração, os alimentos
necessária a outras que comemos são metabolizados para produzir dióxido de carbono e água. A cada vez que respira-
reações químicas em
mos, um pouco da água de nosso corpo evapora a partir do tecido úmido que existe no interior de
nossos corpos. Saiba
mais sobre ela no
nossos pulmões.
Capítulo 4. Existem também outros gases em nossa atmosfera (veja a Figura 1.2). O argônio, por exemplo,
representa 0,9% do ar. O nome argônio, significando “preguiçoso” em grego, reflete o fato de que
ele é quimicamente inerte. Como você pode ver na Tabela 1.1, todo argônio inalado é exalado.
As percentagens que usamos para descrever a composição da atmosfera baseiam-se no volu-
1 litro ⫽ 1,06 quartos me, isto é, a quantidade do espaço que cada gás ocupa. Se quiséssemos, poderíamos produzir 100
O Apêndice 1 contém litros (L) de ar seco sintético misturando 78 L de nitrogênio, 21 L de oxigênio e 1 L de argônio (78%
esse e muitos outros de nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de argônio).
fatores de conversão.
A composição do ar também pode ser representada em termos do número de moléculas e áto-
mos presentes. Isso é válido porque volumes iguais de gases contêm o mesmo número de moléculas
quando os gases estão na mesma temperatura e pressão. Assim, se você tomasse uma amostra de 100
moléculas e átomos de ar (uma quantidade pequena irrealista), 78 seriam de nitrogênio, 21 de oxigê-
nio e 1 de argônio. Em outras palavras, quando dizemos que o ar contém 21% de oxigênio, queremos
Descubra mais sobre dizer que existem 21 moléculas de oxigênio por 100 moléculas e átomos de ar. Veremos adiante por
átomos e moléculas na que nitrogênio e oxigênio existem como moléculas e o argônio, como átomo.
Seção 1.7 Agora você já sabe que o ar contém nitrogênio, oxigênio, argônio, dióxido de carbono e, usu-
almente, um pouco de vapor de água. Ainda assim, como você pode imaginar, a história é mais
complicada.
Respostas
a. 0,0009% b. 780.000 ppm
Alguns dos componentes encontrados em baixas concentrações são poluentes do ar. Embora
sejam encontrados em todo o globo, provavelmente estarão em maior concentração em grandes áreas
metropolitanas. A Figura 1.4 mostra a neblina suja perto das montanhas em Santiago, Chile, uma
cidade de mais de 6 milhões de habitantes. Outras grandes cidades como Los Angeles, Cidade do
México, Mumbai e Pequim têm o ar frequentemente poluído. Anteriormente, notamos que as ativi- Hoje, cerca da metade
dades humanas deixam “pegadas no ar” dentro e fora de casa. Quando muitas pessoas cozinham ou dos habitantes do
dirigem veículos, elas tendem a sujar o ar. planeta vive em
cidades. Em 1900,
Nosso foco, neste capítulo, está em quatro gases que contribuem para a poluição do ar na super-
eram apenas 10-15%.
fície da Terra. Um deles, o monóxido de carbono, é inodoro. Os outros três, ozônio, dióxido de enxofre
e dióxido de nitrogênio, têm odores característicos. Quando o tempo de exposição é alto, todos são
*N. de T.: Título da obra de Robert Boyle The Sceptical Chymist: or Chymico-Physical Doubts & Paradoxes, publicada
em Londres, em 1661, em que ele apresenta sua hipótese de que a matéria é formada por átomos. Por isso, Boyle é
considerado por alguns como o fundador da química moderna.
perigosos para a saúde, mesmo em concentrações bem abaixo de 1 ppm. Juntamente à matéria
particulada (PM), são os poluentes do ar mais perigosos. Eis mais algumas informações sobre eles.
䊏 O monóxido de carbono (CO) merece o apelido de “matador silencioso” porque não tem
cor, sabor ou cheiro. Quando você inala monóxido de carbono, ele entra na corrente san-
FIGURA 1.5 Estufa de acam- guínea e interfere na capacidade da hemoglobina de transportar oxigênio. No começo você
pamento a propano. pode sentir tontura e náusea, ou ter dor de cabeça, sintomas que podem ser facilmente
confundidos com os de outras doenças. A exposição prolongada, entretanto, pode fazê-lo
Na estratosfera, o muito doente ou matá-lo. Automóveis e churrasqueiras são fontes de monóxido de carbono.
ozônio absorve alguns Estufas de acampamento que usam propano (Figura 1.5) também o são e, se usadas, dentro
comprimentos de das tendas, exigem ventilação adequada.
onda da radiação UV. 䊏 O ozônio (O3) tem um odor forte que você talvez já tenha sentido perto de motores elétricos
Procure por mais sobre ou equipamentos de soldagem. Mesmo em concentrações muito baixas, ele pode afetar o
isso no Capítulo 2.
funcionamento dos pulmões. Os sintomas incluem dor no peito, tosse, espirros ou congestão
pulmonar. O ozônio também mancha as folhas de colheitas e amarela as agulhas dos pinhei-
ros (Figura 1.6). Na superfície da Terra, o ozônio é definitivamente um mal. Em grandes alti-
tudes, porém, ele cumpre um papel essencial ao filtrar a radiação ultravioleta.
䊏 O dióxido de enxofre (SO2) tem um odor forte e desagradável. Se você inalá-lo, ele se dis-
solverá no tecido úmido de seus pulmões, formando um ácido. Os mais velhos, jovens e
indivíduos com enfisema ou asma são muito suscetíveis ao envenenamento com dióxido de
enxofre. Atualmente, o dióxido de enxofre do ar é proveniente principalmente da queima de
carvão. Por exemplo, a neblina suja de Londres, em 1952, que matou mais de 10.000 pessoas,
FIGURA 1.6 Agulhas amare- foi causado, em parte, pela emissão de fogões a carvão. As causas de morte incluíram dificul-
ladas de pinheiros danificadas
dade respiratória, falhas do coração (no caso de doenças de coração preexistentes) e asfixia.
por ozônio.
Alguns sobreviventes sofreram danos permanentes nos pulmões.
(Cortesia do Missouri Botanical
Garden PlantFinder) 䊏 O dióxido de nitrogênio (NO2) tem cor marrom característica. Como o dióxido de enxofre,
pode se transformar em ácido quando em contato com o tecido úmido dos pulmões. Em
SO2 e NO2 dissolvem-se nossa atmosfera, o dióxido de nitrogênio é produzido a partir do monóxido de nitrogênio,
no tecido úmido dos um gás poluente incolor. O monóxido de nitrogênio forma-se no ar quando em contato com
pulmões para formar
qualquer coisa quente, incluindo motores de automóveis e usinas termoelétricas a carvão.
ácido sulfuroso e ácido
nítrico, respectivamente. Óxidos de nitrogênio, NO e NO2, podem se formar naturalmente em silos de grãos e podem
Saiba mais sobre eles e ferir ou matar fazendeiros que inadvertidamente inalem os gases.
sobre a chuva ácida no 䊏 Matéria particulada (PM) é uma mistura complexa de pequenas partículas sólidas e gotas
Capítulo 6. microscópicas de líquidos e é o menos entendido dentre os poluentes que listamos. A ma-
FIGURA 1.7 Um incêndio perto de San Jose, Califórnia, em 2004. O fogo está liberando matéria particu-
lada, parte da qual é visível na forma de fuligem.
téria particulada é classificada por tamanho, não pela composição, porque ele determina as
consequências para a saúde. PM10 inclui partículas com diâmetro médio de 10 m ou menos.
PM2,5 é um subconjunto do PM10 e inclui partículas de diâmetro médio inferior a 2,5 m. Es- Um micrômetro (m)
sas partículas menores e mais letais são chamadas às vezes de partículas finas. A matéria par- é um milionésimo de
ticulada tem origem em muitas fontes, incluindo motores de veículos, termoelétricas a carvão, metro (m). Ele é, às
vezes, chamado de
incêndios e poeira em movimento. Às vezes, a matéria particulada torna-se visível na forma de
mícron.
fuligem ou fumaça (Figura 1.7). Entretanto, a maior preocupação é causada pelas partículas
muito pequenas para serem vistas: PM10 e PM2,5. Quando inaladas, elas entram na corrente
sanguínea e podem causar doenças do coração.
Terminamos esta seção com um fato que pode surpreendê-lo. Todos os poluentes do ar que
acabamos de listar podem ocorrer naturalmente! Por exemplo, um incêndio (veja a Figura 1.7) pro-
duz matéria particulada e monóxido de carbono. Raios produzem ozônio e óxidos de nitrogênio, e
vulcões liberam dióxido de enxofre. Os poluentes representam os mesmos perigos, vindos de fontes
naturais ou humanas. Quais são os riscos para sua saúde? Passaremos agora a esse tópico.
soa em cada milhão que viaja 50.000 km morreria em um acidente. Essa previsão não é uma escolha
aleatória, mas o resultado de uma avaliação de risco, o processo de avaliação de dados científicos e
elaboração de previsões de forma organizada sobre as probabilidades de um acontecimento.
Quando é arriscado respirar o ar? Felizmente, os padrões de qualidade do ar existentes ofere-
cem uma orientação. Dizemos orientação porque os padrões são gerados por uma interação com-
plexa entre cientistas, especialistas médicos, agências governamentais e políticos. As pessoas não
precisam necessariamente concordar sobre quais deles são razoáveis e seguros. Os padrões também
mudam com o tempo, na medida em que novos conhecimentos científicos são gerados.
Nos Estados Unidos, os padrões de qualidade do ar foram estabelecidos em 1970 pela Lei do
Ar Limpo. Se os níveis de poluentes estão abaixo desses padrões, o ar é presumivelmente saudável.
Dizemos “presumivelmente” porque os padrões de qualidade do ar mudam com o tempo, geralmente
tornando-se mais rígidos. Se você analisar o mundo todo, verá que os regulamentos sobre a qualida-
de do ar variam em sua rigidez e no grau em que são aplicados.
Os riscos de um poluente do ar são função da toxicidade, o perigo intrínseco de uma substân-
cia para a saúde, e a exposição, a quantidade da substância a que se é exposto. A toxicidade é difícil
de avaliar por várias razões, inclusive porque não é ético conduzir experimentos em pessoas. Mes-
mo se os dados estivessem disponíveis, ainda teríamos de determinar os níveis de risco aceitáveis
para grupos diferentes de pessoas. Apesar das dificuldades, agências governamentais conseguiram
estabelecer limites de exposição para os principais poluentes do ar. A Tabela 1.2 mostra os Padrões
Nacionais da Qualidade do Ar Ambiente, estabelecidos pela Agência Nacional de Proteção Ambien-
A EPA americana foi tal dos Estados Unidos (EPA). Aqui, ar ambiente refere-se ao ar que nos rodeia, usualmente o ar
formada em 1970 pelo externo. À medida que nosso conhecimento cresce, modificamos esses padrões. Por exemplo, em
presidente Richard 2006, eles tornaram-se mais exigentes, para PM2,5. Em 2008, foram reduzidos para o ozônio e, em
Nixon. Senadores
2010, um novo padrão para o dióxido de nitrogênio foi incluído.
em anos anteriores
também tiveram
A exposição é mais fácil de avaliar do que a toxicidade porque depende de fatores que pode-
papéis importantes na mos medir mais facilmente. Eles incluem:
legislação.
䊏 Concentração no ar
Quanto mais tóxico é o poluente, mais baixa deve ser estabelecida sua concentração. As con-
centrações são expressas em partes por milhão ou em microgramas por metro cúbico (g/m3),
como se vê na Tabela 1.2. Antes, usamos o prefixo micro-, como em micrômetros (m), para
1 g é indicar um milionésimo de um metro (10⫺6 m). Semelhantemente, um micrograma (g) é um
aproximadamente igual milionésimo de um grama (g), ou 10⫺6 g.
à massa de um ponto 䊏 Tempo de exposição
impresso nesta página.
Altas quantidades de um poluente só podem ser toleradas por pouco tempo. Um poluente deve
ter um padrão para cada tempo de exposição.
䊏 Velocidade de respiração
As pessoas fisicamente ativas, como atletas ou trabalhadores braçais, respiram em uma taxa
mais elevada. Se a qualidade do ar é ruim, reduzir a atividade é um modo de diminuir a expo-
sição.
Suponha que você coletou uma amostra de ar de uma das ruas da cidade. A análise aponta que
ela contém 5.000 g de monóxido de carbono (CO) por metro cúbico de ar. Será que é perigoso res-
pirar ar com essa concentração de CO? Podemos usar a Tabela 1.2 para resolver essa questão. Dois
padrões foram especificados para o monóxido de carbono, um para um período de 1 hora de expo-
sição e o outro para 8 horas. O primeiro é mais alto (4 ⫻ 104 g CO/m3) porque uma concentração
mais elevada pode ser tolerada por um tempo mais curto.
As duas concentrações estão expressas na notação científica, um sistema de escrita de núme-
ros como o produto de um número por 10 elevado a uma potência apropriada. A notação científica
permite que evitemos ter de escrever um número muito grande de zeros antes ou depois do ponto
decimal. Por exemplo, o valor 1 ⫻ 104 é equivalente a 10.000. Para entender a conversão, basta
Se você precisa de
auxílio com a notação contar o número de zeros à direita do 1 em 10.000. Existem quatro. O número 1 é, então, multi-
científica, consulte o plicado por 104 para dar 1 ⫻ 104 g CO/m3. Do mesmo modo, 4 ⫻ 104 g CO/m3 é equivalente
Apêndice 2 a 40.000 g CO/m3. A notação científica é ainda mais útil para números muito grandes, como as
monóxido de carbono
média de 8 horas 9 10.000
média de 1 hora 35 40.000
dióxido de nitrogênio
média de 1 hora 0,100 200
média anual 0,053 100
ozônio
média de 8 horas 0,75 147
particulados*
PM10 – média de 24 horas – 150
PM2,5 – média anual – 15
PM2,5 – média de 24 horas** – 35
dióxido de enxofre
média de 1 hora 0,075 210
média de 3 horas 0,50 1.300
5 ⫻ 103 é inferior a 1 ⫻ 104. Para o período de 1 hora, 5 ⫻ 103 também é inferior a 4 ⫻ 104. As uni-
dades são g CO/m3.
A Tabela 1.2 também permite avaliar as toxicidades relativas dos poluentes. Por exemplo,
podemos comparar os padrões do monóxido de carbono e do ozônio para 8 horas de exposição: 9
ppm para 0,075 ppm. A matemática nos diz que o ozônio é cerca de 130 vezes mais perigoso para
respirar do que o monóxido de carbono! Apesar disso, o monóxido de carbono pode ser muitíssimo
perigoso. Como “matador silencioso”, ele pode prejudicar seu discernimento antes que você possa
reconhecer o perigo.
Resposta
a. O3. Essa é uma pergunta difícil, porque não há período de exposição comum que permita a
comparação direta. Claramente, CO não é o mais tóxico porque todos os seus padrões são mais
elevados. Não é NO2, porque SO2 tem um padrão mais baixo para 1 hora. Entre SO2 e O3, o
ozônio tem o padrão mais baixo porque o padrão de 8 horas é mais baixo do que o padrão de
3 horas do dióxido de enxofre.
Embora os padrões dos poluentes do ar estejam expressos em partes por milhão, as concentra-
ções de dióxido de enxofre e dióxido de nitrogênio poderiam ser sido dadas em partes por bilhão
(ppb), unidade que corresponde a um bilionésimo, ou seja, concentração 1.000 vezes inferior a uma
parte por milhão
dióxido de enxofre 0,075 ppm ou 75 ppb
dióxido de nitrogênio 0,100 ppm ou 100 ppb
Como se pode ver, a conversão de partes por milhão para partes por bilhão envolve o movimento da
vírgula três casas para a direita.
Para terminar esta seção, notemos que nossa percepção de um risco também tem um papel im-
portante. Por exemplo, os riscos de viajar de automóvel são muito superiores aos de viajar de avião.
A cada dia nos Estados Unidos, mais de 100 pessoas morrem em acidentes envolvendo automóveis.
No entanto, algumas pessoas evitam usar um avião porque têm medo de uma queda. Do mesmo
modo, algumas pessoas têm medo de morar perto de um vulcão adormecido. No entanto, como vá-
rios furacões notórios já provaram, morar em uma área da costa pode ser muito mais perigoso. Per-
cebida ou não como um risco, a poluição do ar é um perigo real para a atual e as futuras gerações.
Na próxima seção, vamos oferecer-lhe ferramentas para a avaliação desses perigos.
40%
20%
O3
padrão nacional
0%
mais recente
PM2,5 24 horas
⫺40% CO
PM10
⫺60%
NO2
⫺80%
SO2
⫺100%
90 92 94 96 98 00 02 04 06 08 10
FIGURA 1.8 Níveis médios de poluentes do ar nos Estados Unidos (em lugares selecionados), em compara-
ção com os padrões nacionais de qualidade do ar, 1990-2010.
Fonte: EPA.
A diminuição da concentração dos poluentes do ar nos Estados Unidos foi dramática (Figura
1.8). Alguma melhoria foi consequência de uma combinação de leis e regulamentos, como os que
acabamos de mencionar. Outras o foram de decisões locais. Por exemplo, uma comunidade pode ter
construído um novo sistema de transporte público, ou uma indústria pode ter instalado um equipa-
mento mais moderno. Outras, porém, ocorreram em razão da inventividade dos químicos, notavel-
mente de uma série de práticas chamada de “química verde”. Procure exemplos de química verde Os exemplos de
neste livro, marcados com o ícone da química verde. química verde
Dados brutos como os apresentados na Figura 1.8 escondem o fato de que as pessoas ainda deste texto
incluem alguns dos
respiram ar poluído. Embora a qualidade do ar tenha melhorado na média, as pessoas em certas áreas
vencedores dos
metropolitanas respiram ar que contém níveis insalubres de poluentes. Veja o que ocorre nos Estados respeitados Prêmios
Unidos na Tabela 1.3. Presidenciais Desafios
de Química Verde.
TABELA 1.3 Dados da qualidade do ar em áreas metropolitanas selecionadas dos Estados Unidos
Número de dias insalubres/ano*
Boston 0 8
Chicago 10 0
Cleveland 10 1 Seattle tem menos dias
Houston 21 0 de ar insalubre devido
Los Angeles 43 0 a seu clima chuvoso.
A Seção 1.12 descreve
Phoenix 11 4
as relações entre o
Pittsburgh 14 1 clima e a formação de
Sacramento 35 13 névoa suja.
Seattle 2 0
Washington, DC 21 2
30 32 30 32
O3 BLUE POINT BOM BOM BOM
22
SOUTH PHOENIX 32 20 15
CO & BOM BOM BOM
WEST PHOENIX
60
52 46 35
PM10 WEST
MODERADO BOM BOM
PHOENIX
141
156 85 42
PM2,5 SOUTH
INSALUBRE MODERADO BOM
PHOENIX
FIGURA 1.9 Previsão da qualidade do ar em Phoenix em Dezembro 25 de 2011. Veja a Tabela 1.4 para
os códigos de cores.
Fonte: Departamento de Qualidade Ambiental do Arizona.
Sol
Ar quente
Poluição retida
Ar frio
(a) (b)
FIGURA 1.10 (a) A inversão do ar pode reter a poluição. (b) Uma inversão do ar retém uma camada de
neblina suja sobre Salt Lake City, Utah.
Os prêmios de química Métodos inovativos de química “verde” já reduziram ou eliminaram substâncias tóxicas usa-
verde são dados em das ou criadas em processos químicos industriais. Por exemplo, temos agora métodos mais baratos
cinco áreas: métodos que produzem menos resíduos para preparar ibuprofeno, pesticidas, fraldas descartáveis e lentes
de síntese mais
verdes, condições de
de contato. Temos novos métodos de limpeza a seco e pastilhas de silício recicláveis para circuitos
reação mais verdes, integrados. Alguns dos pesquisadores que desenvolveram esses métodos receberam o Prêmio Pre-
desenvolvimento de sidencial Desafios de Química Verde. Iniciados em 1995, esses prêmios reconhecem o mérito dos
produtos químicos químicos que inovam buscando um mundo menos poluído. A cada ano, desde 1996, cinco prêmios
mais verdes, pequenos foram dados com o tema “Química não é o problema, mas a solução”.
negócios e academia.
Conclusão: ninguém deseja o ar sujo. Ele faz você ficar doente, reduz a qualidade de sua vida e
pode apressar sua morte. Entretanto, o problema é que muita gente se acostumou a respirar o ar polu-
ído e nem nota mais. Lembre-se do conceito de linha de base variável que mencionamos no Capítu-
lo 0. O nevoeiro é tão comum, agora, que esquecemos os dias claros em que parecia que poderíamos
ver até depois do horizonte. Olhos irritados e problemas de respiração tornaram-se tão comuns que
esquecemos que um dia eles não o foram. Habituamo-nos a morar em megacidades, áreas urbanas
com 10 milhões de pessoas ou mais. Tóquio, Nova York, Cidade do México e Mumbai são exemplos.
Poluentes como fumaça de fogueiras, gases de exaustão de veículos e emissões industriais são fre-
quentemente gerados em áreas populosas e se concentram na troposfera que cobre as megacidades.
Está muito claro que temos alguns problemas! Como prometemos, seu conhecimento da quí-
mica pode levá-lo a melhores escolhas de como lidar com esses problemas, como indivíduo e como
membro de uma comunidade. As próximas duas seções vão lhe dar uma melhor compreensão da
linguagem da química, e usaremos essa linguagem para tratar os problemas da poluição do ar com
mais detalhes.
Matéria
Substâncias Misturas
puras
Elementos Compostos
É razoável que o químico russo do século XIX, Dmitri Mendeleev, tenha seu próprio elemen- Lothar Meyer, um
to (Md), já que a maneira mais comum de arranjar os elementos – a Tabela Periódica – reflete o químico alemão,
sistema que ele desenvolveu. Essa tabela é um arranjo ordenado de todos os elementos, com base também desenvolveu
nas semelhanças de suas propriedades. A contracapa deste livro tem uma cópia para referência fácil. uma tabela periódica
Veremos mais detalhes no Capítulo 2. simultaneamente à de
Mendeleev.
*N. de T.: A União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) recomendou esses nomes em 2011 para os
elementos 114 e 116, respectivamente.